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Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário

SEMINÁRIO III - DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA

Matheus Pezzini Backes

Questões
1. Defina o conceito “decadência” no âmbito do direito tributário.
(a) Com base na bibliografia indicada para desenvolvimento deste seminário apresente as
diferentes acepções do conceito “decadência”.

Conforme lecionado por Paulo de Barros Carvalho, uma “breve investigação semântica
revelará nada menos do que seis acepções para o vocábulo "decadência", no campo do
direito tributário: (i) "decadência" como norma geral e abstrata; (ii) como a hipótese
dessa norma, descrevendo o termo final de um lapso de tempo; (iii) como o consequente
da norma geral e abstrata, tipificando o efeito extintivo; (iv) como norma individual e
concreta que constitui o fato de haver decorrido o tempo referido na regra geral e
abstrata, no mesmo instante em que determina, no consequente, o efeito fulminante de
desconstituir uma relação existente; (v) como o antecedente desta última norma
individual e concreta; e (vi) tão só como o consequente, também desta última regra.
(Direito tributário, linguagem e método, p. 560)
E nas lições de Eurico de Santi, a decadência tributária pode se referir ao direito do fisco,
a caducidade do direito de constituir crédito tributário em decorrência de lapso temporal
sem que tenha efetuado a constituição, ou ao direito do contribuinte, quando perde a
possibilidade para pleitear a repetição de indébito administrativamente também em
decorrência de lapso temporal inerte.

(b) Construa a respectiva estrutura normativa para cada acepção (ex. NGA, NIC, antecedente,
consequente...), indicando quai(is) dessa(s) estrutura(s) normativa(s)) são norma em sentido
estrito.
Partindo das diferentes acepções descritas por Paulo de Barros Carvalho:

A decadência como norma geral e abstrata é o regramento jurídico que prevê a


ocorrência do consequente, que nada mais é do que a caducidade do direito de constituir
crédito tributário quando verificado o antecedente, que é o lapso temporal enquadrado
conforme previsto na norma. Veja que o termo decadência também é utilizado na
identificação do antecedente e do consequente da norma.
No plano individual e concreto, a norma “decadência” ocorre quando há o
transcurso de tempo antecedente, prescrito pela norma geral e abstrata, tendo como
consequente a desconstituição da relação existente.
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A decadência do direito do fisco, a norma em sentido estrito circunscreve a perda


da competência administrativa para constituição do crédito tributário no lapso de tempo
de 5 anos contados do evento tributário - esse evento tributário varia conforme a regra
de decadência aplicável, o que varia para os tributos sujeitos a pagamento antecipado,
como será abordado nas questões a seguir.
Quanto à Decadência do direito do contribuinte, a norma em sentido estrito
circunscreve a perda do direito de repetir o indébito administrativamente a contar do
prazo de 5 anos da data de pagamento ou da reforma da decisão que havia motivado o
pagamento.

(c) É correta a afirmação de que a decadência opera-se automática e infalivelmente? Justifique


sua resposta.

Apesar dessa afirmação ser verdadeira para o direito civil, não é correta quanto ao
direito tributário. Isso se dá por conta do disposto pelo art. 173, II, do CTN, que determina
o reinício da contagem do prazo decadencial “[...] na data em que se tornar definitiva a
decisão que houver anulado, por vício formal, o lançamento anteriormente efetuado”.
Em razão de tal dispositivo, a rigor, concede-se à Fazenda, na hipótese de vícios formais
que afetem a higidez do ato constitutivo do crédito.

(d) Quanto aos efeitos da decadência em relação ao crédito tributário (arts. 150 e 173, do CTN),
pode-se afirmar que sejam: (i) extintivos ou (ii) impeditivos? Justifique sua resposta.

A decadência é extintiva, uma vez que faz desaparecer o próprio direito


potestativo. Além disso, o CTN também a classifica como uma causa de extinção do
crédito tributário, extinguindo o próprio direito do fisco.

(e) Diferençar, se possível: (i) decadência do direito de lançar, (ii) prescrição do direito do Fisco
cobrar o crédito tributário, (iii) decadência do direito do contribuinte pleitear a restituição do
indébito tributário e (iv) prescrição do direito de ação do contribuinte repetir o indébito
tributário.
Quanto à decadência do direito de lançar é afeta o direito do fisco de constituir o
crédito tributário; a prescrição do direito do fisco afeta a perda do direito de ingressar
com o processo executivo do crédito tributário. Da mesma forma, a decadência do direito
de restituição de indébito tributário é a perda, pelo contribuinte, da legitimidade para
postular administrativamente restituição de indébito tributário; a prescrição desse
direito, por sua vez, refere-se à legitimidade de ação para postular a restituição do
indébito tributário em âmbito judicial, também em decorrência do decurso do tempo
previsto em lei.
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2. Conjugando o art. 146, III, “b”, da CF e o princípio da autonomia dos entes federativos,
responda: A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, por meio de lei ordinária,
podem estabelecer prazo diverso do constante no CTN para a decadência e prescrição de seus
créditos? E mediante lei complementar estadual ou municipal? (Vide anexo I e Súmula
Vinculante n. 8 do STF).1

Conforme o art. 146, III, “b” da CF, cabe exclusivamente à lei complementar federal
estabelecer normas sobre decadência e prescrição.
A finalidade da norma é garantir uniformidade às legislações e impedir que os vários
entes federados tenham métodos diferentes para o lançamento, constituição e cobrança
do crédito tributário.

3. Quando começa a contar o prazo de decadência para o Fisco lançar nos tributos sujeitos ao
lançamento de ofício? E nos tributos sujeitos ao “lançamento por homologação”? Se não
houver o que homologar, o prazo passa a ser o dos tributos sujeitos ao lançamento de ofício
(vide anexos II e III)? E no caso de fraude (vide anexo IV)?

Conforme o art. 173, I, do CTN, o prazo para o lançamento de ofício começa no


primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido
efetuado.

Nos tributos sujeitos ao lançamento por homologação se aplica o disposto no §4 do


art. 150, segundo o qual havendo pagamento antecipado do tributo o prazo de
decadência é de 5 anos contados da ocorrência do fato gerador. Na hipótese de não
haver declaração e ou pagamento antecipado ou, ainda, quando houver fraude, o prazo
de decadência conta-se conforme o art. 173, I.

4. Como deve ser interpretado o parágrafo único do art. 173 do CTN? Que se entende por “medida
preparatória indispensável ao lançamento”? Tal medida tem apenas o condão de antecipar o
termo inicial da contagem do prazo prescrito no inciso I ou pode também postergá-lo? Trata-se de
causa de interrupção do prazo decadencial? (Vide anexo V e VI).
Como medida preparatória indispensável ao lançamento se entendo qualquer ato
prévio e necessário ao lançamento tributário como, por exemplo, lavratura de termo de
início de procedimento fiscal, com a devida notificação do sujeito passivo. Se a
constituição do crédito tributário decorre do lançamento, e se parágrafo único do art.
173 refere medida que seja preparatória ao lançamento, a contagem de prazo a partir da
notificação do sujeito passivo de tal medida aplica-se somente como uma hipótese de
antecipação do prazo decadencial do inciso I, não podendo posterga-la.
Dessa forma, me parece equivocada a interpretação do TST no anexo, em que
postergou a contagem do prazo decadencial a partir de medida preparatória ao
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lançamento, não podendo a medida ser percebida como uma causa interruptiva da
decadência.

5. A Lei n. 11.051/04 trouxe previsão de prescrição intercorrente no processo judicial. Quanto ao


processo administrativo fiscal, existe prescrição intercorrente no seu curso? E no decorrer do
processo executivo fiscal? Qual é o tratamento mais adequado em caso de falta de intimação da
Fazenda Pública sobre o despacho que determina sua manifestação antes da decisão que
decreta a prescrição intercorrente? É possível que a decretação da prescrição intercorrente seja
ilidida? Justificar (vide anexos VII, VIII e IX e X).
Segundo entendimento de Eurico de Santi, não há que se falar em prescrição
intercorrente no processo administrativo porque, uma vez apresentada defesa pelo
contribuinte, o crédito tributário estará com a exigibilidade suspensa, de modo que
estaria impedido o curso de prazo prescricional.
A Súmula n. 11 do CARF também aponta nesse sentido: “(…) não se aplica a prescrição
intercorrente no processo administrativo fiscal”.
Quanto À executivo fiscal há prescriçao intercorrente, que é verificada quando escoado
o prazo de cinco anos contados da decisão de arquivamento, que é determinando
quando decorrido o prazo de 1 ano de suspensão da execução sem que tenha sido
localizado o devedor ou encontrados bens penhoráveis, como prescrito no art. 40, § 4º,
da LEF e na Sumula 314 do STJ
Quanto à falta de intimação da Fazenda Pública do despacho que determina sua
manifestação antes da decisão que decreta a prescrição intercorrente, bem como do ato
de arquivamento, como decidido no EDcl no AgRg no REsp. n. 1271917, o entendimento
no STJ é de que não altera os efeitos da prescrição,. Tendo sido identificada alguma causa
interruptiva ou suspensiva, cabe à Fazenda Pública apelar da decisão.

6. Qual o marco inicial da contagem do prazo para redirecionamento da execução fiscal contra os
sócios? Trata-se de prazo decadencial ou prescricional? É possível compreender que o mesmo
fato jurídico “dissolução irregular” seja considerado ilícito suficiente ao redirecionamento da
execução fiscal de débito tributário e não o seja para a execução fiscal de débito não-tributário.
(Vide anexos XI, XII e XIII)

A 1ª Seção do Superior Tribunal de Justiça estabeleceu entendimento, conforme se extrai


do REsp 1.201.993, no sentido de considerar duas situações como potenciais
demarcadoras do dies a quo do lustro prescricional para redirecionamento da execução
fiscal em face dos sócios: (i) cinco anos contados da citação da pessoa jurídica quando o
ato ilícito previsto no art. 135, III, do CTN, for anterior a esse ato processual; ou (ii) não
havendo o referido ilícito ao tempo da citação, a data da prática de ato inequívoco
indicador do intuito de inviabilizar a satisfação do crédito tributário já em curso de
cobrança executiva promovida contra a empresa contribuinte, eis que inexistente
pretensão contra o sócio gerente ao tempo da citação.
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O prazo para o pedido de redirecionamento é prescricional, justamente porque


pressupõe o curso da execução fiscal contra a pessoa jurídica, e o sócio-gerente apenas
será incluído no polo passivo.
Quanto à dissolução irregular como hipótese de redirecionamento em execução fiscal de
crédito não tributário, o entendimento do STJ, a exemplo do REsp 1371128, é pela
possibilidade, mas fundamentado em outros no art. 10, do Decreto n. 3.078/19 e no art.
158, da Lei 6.404/78.

7. Sobre a decadência/prescrição do direito de repetir o indébito tributário pergunta-se:


a) Quais indébitos estão sujeitos ao art. 3º da LC n. 118/05: todos, independente da data do
pagamento indevido; aqueles cuja restituição seja requerida depois do termo inicial de sua
vigência; ou somente os pagamentos efetuados após iniciada sua vigência? Justificar (vide
anexos XIV e XV).

A Lei Complementar 118/05, art. 3, definiu que, no caso de tributo sujeito a lançamento
por homologação, a extinção do crédito tributário ocorre no momento do pagamento
antecipado, impactando o direito à restituição de indébito que, pelo art. 168 do CTN, é
de 5 anos contado da extinção do crédito tributário.
Uma vez que até o advento dessa lei o STJ interpretava que ocorria a extinção do crédito
tributário com a homologação do lançamento, o art. 3º da LC 118/05 é de natureza
modificativa, não podendo retroagir.
Dessa forma, o art. 3º da LC 118/05 é aplicado apenas para os indébitos cuja restituição
tenha sido requerida após a vigência da alteração legal, isto é, após a vacatio legis de 120
dias contada da publicação. Esse entendimento foi firmado pelo Superior Tribunal de
Justiça pela sistemática de recursos repetitivos especialmente como garantia do direito
adquirido, do ato jurídico perfeito e da segurança jurídica.

b) No caso de lei tributária julgada inconstitucional em ADIN (sem modulação de efeitos), como fica
o prazo para repetir o indébito tributário? Conta-se do pagamento indevido ou o termo inicial
seria a “data da declaração de inconstitucionalidade da lei que fundamentou o gravame”? (Vide
anexos XVI e XVII).
Não há consenso doutrinário e jurisprudencial acerca do termo inicial desse prazo
prescricional.
O CARF entendeu no acórdão 1402-000.481 como termo inicial do prazo prescricional a
data do trânsito em julgado da decisão proferida em ADIN que declare a
inconstitucionalidade de lei tributária.
o STJ entendeu no REsp n. 1.110.578/SP como dies a quo do lustro prescricional para
que o sujeito passivo pleiteie a restituição do gravame pago indevidamente ou a maior,
ainda que diante de lei tributária julgada inconstitucional em ADIN, a data do efetivo
pagamento.
Aplicando o princípio da actio nata, segundo o qual o prazo prescricional apenas deve ter
início com a efetiva lesão ou ameaça do direito tutelado, não entendo como correta a
tese sustentada pelo STJ.
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Note-se que, ao tempo do efetivo pagamento, havia norma individual e concreta


determinando, com imperatividade, o estabelecimento da relação obrigacional entre o
Fisco e o sujeito passivo, a ser constituída pela autoridade administrativa competente
mediante atividade plenamente vinculada. Suscitada pelo contribuinte a
inconstitucionalidade do tributo como óbice ao efetivo pagamento, até que houvesse
decisão judicial que o desobrigasse, estaria este em mora com a Fazenda, sujeito às
possíveis medidas executórias. Daí se nota que apenas estaria nitidamente configurada a
lesão ou ameaça ao direito, in casu, após a decisão declaratória de inconstitucionalidade.

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