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MÓDULO: EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO

SEMINÁRIO DE CASA

SEMINÁRIO II - SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO,


MANDADO DE SEGURANÇA E TUTELAS PROVISÓRIAS

Aluno: LUCIELLE SILVA NEVES

Questões

1. No art. 151 do CTN, que significa o termo “exigibilidade”? Quando surge


essa “exigibilidade”? E qual o efeito da suspensão da exigibilidade? Impede-
se (i) o lançamento, (ii) a inscrição na dívida ativa, (iii) a execução fiscal; (iv)
todos estes atos?

A expressão “exigibilidade” presente no artigo 151, do Código Tributário


Nacional1 significa característica do crédito tributário constituído, também dotado de
certeza, liquidez, o qual representa direito de crédito do Fisco passível de cobrança.

O surgimento da exigibilidade do crédito tributário ocorre, nas palavras da


professora Fabiana Del Padre Tomé, com o vencimento da prestação tributária. Isso

1 Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário:


I - moratória;
II - o depósito do seu montante integral;
III - as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do processo tributário
administrativo;
IV - a concessão de medida liminar em mandado de segurança.
V – a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras espécies de ação judicial;
(Incluído pela Lcp nº 104, de 2001)
VI – o parcelamento. (Incluído pela Lcp nº 104, de 2001)
significa dizer que, faz-se necessário o descumprimento da obrigação pelo sujeito
passivo, para que, assim, o crédito tributário seja suscetível de cobrança pelo Fisco.

Com efeito, a suspensão da exigibilidade do crédito tributário ocasiona a


interrupção na persecução de medidas a satisfação do crédito constituído. Nesse
sentido, a suspensão da exigibilidade não tem o condão de impedir o lançamento
pela autoridade administrativo, tendo em vista que a constituição do crédito tributário
e seu vencimento fazem surgir, por consequência, sua exigibilidade, não podendo se
falar em suspensão da exigibilidade sem que exista crédito constituído.

No mais, após a constituição do crédito tributário pelo lançamento, eventual


suspensão da exigibilidade do crédito tributário impede a inscrição em dívida ativa e
a propositura de execução fiscal em face do contribuinte.

2. Em que sentido a expressão “crédito tributário” foi utilizada no art. 151 do


CTN? Essa expressão congrega também liames decorrentes da prática de
atos ilícitos (e.g. multa por desrespeito aos deveres instrumentais)

O sentido da expressão “crédito tributário” utilizada no artigo 151 do Código


Tributário Nacional, deve ser entendida como direito do Fisco de perceber o valor da
prestação pecuniária tributária eivada de liquidez, certeza e exigibilidade.

Sobre o assunto, Hugo de Brito Machado2 conceitua o crédito tributário


como “o vínculo jurídico, de natureza obrigacional, pro força do qual o Estado
(sujeito ativo) pode exigir do particular, contribuinte ou responsável (sujeito passivo),
o pagamento do tributo ou da penalidade pecuniária (objeto da relação
obrigacional)”.

Por fim, com fundamento no artigo 3º do Código Tributário Nacional, que


define tributo como: “Art. 3º - Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em

2
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. 38 ed. rev. e atual. – São Paulo : Malheiros,
2017, p. 176.
moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito,
instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.”,
entendo que a expressão “crédito tributário” não guarda relação com a prática de
atos ilícitos, por expressa vedação do CTN. Isto porque, o referido artigo proíbe que
qualquer tributo tenha como hipótese de incidência um ato ilícito.

3. As hipóteses de “-? (vide anexo V). Considerando que não houve


alteração nos art. 151 do CTN, pergunta-se:

Parte majoritária da doutrina e da jurisprudência, também denominada de


corrente tricotómica, entende que as hipóteses de suspensão da exigibilidade do
crédito tributário previstas no artigo 151, do CTN, são taxativas, fixando-se
posicionamento de que a Lei Complementar, e somente esta, é o instrumento apto a
trata sobre normas gerais em matéria tributária.

Vejamos a jurisprudência pátria sobre o assunto:

APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA. CND/CPD-EN. AUSÊNCIA


DE CAUSA DE SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO
TRIBUTÁRIO.
1. O rol do art. 151 do CTN é taxativo e não admite interpretação ampliativa.
2. A discussão judicial do débito não é causa de suspensão da exigibilidade
do crédito tributário.
3. Inexistência de direito líquido e certo ao fornecimento de CND/CPD-EN.
4. Apelação desprovida.
(TRF 3ª Região, DÉCIMA PRIMEIRA TURMA, Ap - APELAÇÃO CÍVEL -
337160 - 0018040-58.2011.4.03.6100, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL
NINO TOLDO, julgado em 19/02/2019, e-DJF3 Judicial 1 DATA:22/02/2019)

TRIBUTÁRIO. Anulatória de débito fiscal. 1. Decisão de primeiro grau que


indeferiu pedido de liminar, por não entender possível atribuir à fiança a
eficácia de suspender a exigibilidade do crédito tributário, porque tal ato
jurídico não está inserido no rol taxativo do art. 151 do CTN e porque
ausente de plausibilidade o direito da autora. 2. Possibilidade de sustação
dos efeitos do protesto e das inscrições nos órgãos de proteção ao crédito e
CADIN. 3. Art. 151, V, do CTN. Precedentes. 4. Recurso parcialmente
provido.

(TJSP; Agravo de Instrumento 2007019-62.2019.8.26.0000; Relator


(a): Coimbra Schmidt; Órgão Julgador: 7ª Câmara de Direito Público; Foro
de Pindamonhangaba - 3ª Vara Cível; Data do Julgamento: 02/04/2019;
Data de Registro: 02/04/2019)

No mesmo sentido, preceituam os artigos 111, inciso I e 141, do Código


Tributário Nacional:

Art. 111. Interpreta-se literalmente a legislação tributária que disponha


sobre:

I - suspensão ou exclusão do crédito tributário;

Art. 141. O crédito tributário regularmente constituído somente se modifica


ou extingue, ou tem sua exigibilidade suspensa ou excluída, nos casos
previstos nesta Lei, fora dos quais não podem ser dispensadas, sob pena
de responsabilidade funcional na forma da lei, a sua efetivação ou as
respectivas garantias.

Portanto, com fundamento nos dispositivos acima mencionados, e em


consonância com a jurisprudência pátria majoritária, entende-se que as hipóteses de
suspensão da exigibilidade do crédito tributário são taxativas, podendo ser
ampliadas somente por Lei Complementar.

a) A equiparação, prescrita pelo §2º do art. 835 do CPC/15, a dinheiro da


fiança bancária e do seguro garantia, tem o condão de consagrar a hipótese
de suspensão do crédito tributário prevista no art. 151, II, do CTN?

Como já mencionado, as hipóteses de suspensão do crédito tributário são


taxativas, não podendo ser alterado por Lei Ordinária em razão de ser matéria
reservada à Lei Complementar, nos termos do artigo 146, III, alínea b, da CF/19883.

3
Art. 146. Cabe à lei complementar:
Assim sendo, o Código de Processo Civil como Lei Ordinária (Lei nº
13.105/2015), apesar de equiparar o dinheiro a fiança bancária e seguro garantia,
não tem legitimidade para inovar no ordenamento jurídico quanto às hipóteses de
suspensão do crédito tributário, prevista no artigo 151, inciso II, do CTN.

b) As espécies de tutela provisória previstas no CPC/15 se aplicam ao


Processo Tributário? Tais medidas têm o condão de suspender a
exigibilidade do crédito tributário?

O artigo 151, inciso V, co CTN, prevê que o crédito tributário será suspenso
quando da concessão de liminar ou tutela antecipada, em outras espécies de ação
judicial.

Assim, o Código Tributário nacional permite a suspensão da exigibilidade do


crédito tributário nos casos de determinação judicial que conceda a liminar, nos
casos de Mandado de Segurança, ou que defira a tutela antecipada, nas demais
ações judiciais.

4. Sobre o depósito judicial efetuado nos autos de uma ação declaratória


proposta antes da constituição do crédito tributário, pergunta-se:

(a) trata-se de faculdade do contribuinte?

Sim, trata-se de ato voluntário do contribuinte, tendo em vista que o crédito


tributário surge com o lançamento, sendo assim, não havendo constituição do
crédito tributário, logo, não há o que se falar em exigibilidade do crédito. Assim,
entende-se que não é uma obrigação, mas sim uma faculdade do contribuinte.

III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre:


b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários;
(b) Há distinção entre depósito judicial para fins do art. 151, II do CTN e
prestação de caução?

Há distinção nas hipóteses em que a prestação de caução não for feita em


dinheiro, utilizando-se de fiança bancária e do seguro garantia judicial, visto que
estes últimos, como já abordado, não tem o condão de suspender a exigibilidade do
crédito tributário.

Isto porque, o §2º do artigo 835 do CPC/154, equiparou a dinheiro a fiança


bancária e o seguro garantia judicial, desde que em valor não inferior ao do débito
constante da inicial, acrescido de 30% (trinta por cento).

(c) O levantamento do depósito judicial vincula-se ao êxito (com trânsito em


julgado) da ação proposta pelo contribuinte ou o juiz pode a qualquer tempo
autorizar o levantamento? (vide anexo VI).

Da leitura do Anexo IV, o entendimento da jurisprudência é no sentido de


que o depósito efetuado para suspender a exigibilidade do crédito tributário é feito
também em garantia da Fazenda, motivo pelo qual só pode ser levantado após o
trânsito em julgado, nos casos em que seja favorável ao contribuinte, nos termos do
artigo 32, § 2º, da Lei 6.380/805.

Portanto, o levantamento do depósito judicial pelo contribuinte está vinculado


ao êxito e, consequentemente, com o trânsito em julgado, motivo pelo qual não pode
o juiz a qualquer tempo autorizar o levantamento do depósito.

4
Art. 835. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem:
§ 2º Para fins de substituição da penhora, equiparam-se a dinheiro a fiança bancária e o seguro
garantia judicial, desde que em valor não inferior ao do débito constante da inicial, acrescido de trinta
por cento.
5
Art. 32 - Os depósitos judiciais em dinheiro serão obrigatoriamente feitos:
§ 2º - Após o trânsito em julgado da decisão, o depósito, monetariamente atualizado, será devolvido
ao depositante ou entregue à Fazenda Pública, mediante ordem do Juízo competente.
5. A partir da vigência do CPC/15 foi instituído um novo fundamento para a
concessão de tutela provisória, a evidência do direito, tal como preveem os
arts. 294 e 311. Pergunta-se:

a) Identifique a diferença entre tutela antecipada e tutela cautelar. É possível


a concessão de tutela provisória antecipada em mandado de segurança? Ou
em mandado de segurança tão somente é admissível medidas provisórias de
natureza cautelar?

A tutela antecipada e a tutela cautelar são espécies da tutela provisória de


urgência, previstas no artigo 300 e seguintes do CPC. A tutela antecipada busca a
antecipação do provimento jurisdicional, ou seja, a satisfação da pretensão do autor.
Já a tutela cautelar visa assegurar o resultado útil do processo.

O provimento liminar em mandado de segurança é a medida que permite a


suspensão imediata do ato impugnado. Com isso, em que se tratando de mandado
de segurança, fundamenta-se como pedido liminar quando preenchidos os requisitos
autorizadores para sua concessão, nos termos do artigo 7º, III, da Lei 12.016/2009:

Art. 7º Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:

III - que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver
fundamento relevante e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da
medida, caso seja finalmente deferida, sendo facultado exigir do impetrante
caução, fiança ou depósito, com o objetivo de assegurar o ressarcimento à
pessoa jurídica.

Portanto, em mandado se segurança, em que se tratando de matéria


tributária, admite-se tão somente medidas provisórias de natureza cautelar, sem
prejuízo da liminar prevista na Lei 12.016/2009.

b) É cabível o requerimento de liminar em mandado de segurança fundada na


evidência do direito a partir da vigência do CPC/15? Ou diante das
disposições da Lei Federal n. 12.016/09, apenas é cabível o requerimento de
liminares fundadas em urgência, a outra espécie de tutela provisória prevista
no CPC/15?

É cabível a liminar em Mandado de Segurança com base na tutela de


evidencia, prevista no artigo 311, do CPC, desde que fundamentada em prova pré-
constituída, exclusivamente documental, bem como quando houver tese firmada em
julgamento de recursos repetitivos ou em súmula vinculante.

6. Dado o seguinte caso concreto: Gênesis Waves Ltda. obteve liminar em


Mandado de Segurança para suspender a exigibilidade do crédito tributário
que posteriormente foi “cassada” pela sentença de denegação da segurança.
Pergunta-se:

a) na hipótese de a empresa apelar da sentença que “cassou” a liminar, o


recebimento de sua apelação, nos efeitos suspensivo e devolutivo, tem o
condão de afastar os efeitos da sentença e reconstituir os efeitos da liminar?
Responder a pergunta considerando as disposições do CPC/15 a respeito
dos efeitos da apelação (vide anexo VII).

Na hipótese descrita, o recebimento da apelação, nos efeitos suspensivo e


devolutivo, afasta os efeitos da sentença e restaura os efeitos da liminar
anteriormente concedida, de modo a suspender a exigibilidade do crédito tributário.

Na mesma linha, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça no


julgamento do AgRg no ARESP nº 183.378/SP, afirma que: A jurisprudência deste
Sodalício orienta pela possibilidade de ser concedido duplo efeito à apelação
interposta em face de decisão que denegou a segurança – restabelecendo-se a
liminar anteriormente deferida – quando presentes circunstâncias peculiares na
espécie que autorizem a tomada dessa providência excepcional.”

b) Há incidência de multa e juros moratórios em relação ao período em que o


crédito tributário esteve com sua exigibilidade suspensa, por força de liminar
concedida em Mandado de Segurança, posteriormente cassada por ocasião
da sentença? E se a liminar foi concedida depois de vencido o prazo para
pagamento do tributo? (vide anexos VIII e IX).

Pelo disposto no artigo 63, § 2º da Lei n. 9.430/96, não incidem multa nem
juros moratórios do período de exigibilidade do crédito tributário por força da liminar
concedida em mandado de segurança e, posteriormente, cassada quando proferida
a sentença, pois a incidência da mora é interrompida da data da concessão da
liminar até 30 dias após a publicação da sentença.

Passado o prazo, retroagem-se os efeitos da decisão contrária, conforme


súmula 405 do STF, sendo, portanto, cobrado o valor da multa entra o período entre
a concessão de medida liminar e a denegação da ordem.

7. Antes de responder a esta pergunta aponte a distinção entretutela


antecipada e tutela cautelar tal como colocada na resposta à questão “5. a)”.
Fixados esses conceitos, responda à seguinte pergunta: diante do novo
cenário das tutelas provisórias do código de processo civil de 2015, a ordem
judicial suspensiva da exigibilidade da obrigação tributária, tenha fundamento
na urgência ou na evidência, assume natureza antecipada ou cautelar?

A tutela antecipada e a tutela cautelar são espécies da tutela provisória de


urgência, previstas no artigo 300 e seguintes do CPC. A tutela antecipada busca a
antecipação do provimento jurisdicional, ou seja, a satisfação da pretensão do autor.
Já a tutela cautelar visa assegurar o resultado útil do processo.

A principal diferença entre esses dois tipos de tutelas são os requisitos


necessários para a concessão de cada medida. Os requisitos para concessão da
Tutela Antecipada estão previstos no art. 300, do CPC, que é a demonstração da
probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
Já a Tutela Cautelar, prevista no art. 301, do CPC, é necessário demonstrar que visa
assegurar um direito que está sob iminência de um dano irreparável ou de difícil
reparação, através de medidas como arresto, sequestro, arrolamento de bens,
registro de protesto contra alienação de bem, entre outros.

Assim, a ordem judicial suspensiva da exigibilidade da obrigação tributária,


que tenha fundamento na urgência ou na evidência, assume natureza cautelar, vez
que em matéria tributária não há como antecipar os efeitos do provimento
jurisdicional fim, pois não é possível anular em sede de liminar.

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