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Leitura básica
• CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário: linguagem e método. 8. ed. São Paulo: Noeses,
2021, Itens 3.3.1 e 3.3.2 da segunda parte.
• CARVALHO, Paulo de Barros. Derivação e positivação no direito tributário. 2.ed. v.2. São Paulo:
Noeses, 2017, Tema XIV (Preços de transferência no direito tributário brasileiro).
Leitura complementar
• BARRETO, Paulo Ayres. O imposto sobre a renda e os preços de transferência. São
Paulo: Dialética. Capítulo IV.
• BARRETO, Paulo Ayres; TAKANO, Caio Augusto. Tributação do resultado de coligadas e
controladas no exterior, em face da Lei n. 12.973/2014. In: ROCHA, Valdir de Oliveira
(Coord.). Grandes questões atuais do direito tributário. São Paulo: Dialética.
• BIFANO, Elidie Palma. Reflexões sobre alguns aspectos da lei nº 12.973/2014. In:
RODRIGUES, Daniele Souto; MARTINS, Natanael (Coord.). Tributação Atual da Renda. São
Paulo: Noeses, 2015.
• BIFANO, Rafael Palma; LONGO, José Henrique Longo. Permuta imobiliária: a nova
contabilidade e os desdobramentos tributários. In: RODRIGUES, Daniele Souto; MARTINS,
Natanael (Coord.). Tributação atual da renda. São Paulo: Noeses, 2015.
• GONÇALVES, José Artur Lima. Imposto sobre a renda – Pressupostos constitucionais.
São Paulo: Malheiros. Capítulo 4, itens 5.3 e 5.4 do Capítulo 5 e Capítulo 7.
• OLIVEIRA, Vivian de Freitas e Rodrigues de. Preço de transferência como norma de
ajuste do Imposto sobre a Renda. São Paulo: Noeses, 2015. Capítulo IV, itens 4.1 a 4.5.
• PACHECO, Ângela Maria da Mota. Ficções tributárias identificação e controle. São Paulo:
Noeses. Capítulo VIII, item 8.1.
• TOMÉ, Fabiana Del Padre. Imposto sobre a Renda: questões polêmicas. In: MARTINS,
Ives Gandra da Silva (Org.). Aspectos polêmicos do imposto de renda e proventos de
qualquer natureza. Porto Alegre: Lex Magister, 2014.
• XAVIER, Alberto. Regime tributário de operações de hedge realizadas em mercado de
balcão: a distinção entre hedge interno e internacional. Revista Dialética de Direito
Tributário, São Paulo, n. 233, fev. 2015.
Questões
1. Quais as formas de apuração e de recolhimento do IRPJ determinados pelo
legislador ordinário? Diferencie-as. Há direito subjetivo do contribuinte ao
arbitramento do lucro, no caso de imprestabilidade de sua contabilidade?
No art. 1º, da lei 9.430/96, ficou estabelecido três formas de apuração
da base de cálculo do IRPJ, quais sejam: lucro real, lucro presumido e lucro
arbitrado.
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Por fim é importante citar que existe ainda uma quarta forma de
apuração e recolhimento do IRPJ, que é o Simples Nacional, criado pela Lei
Complementar 123/2006. O Simples Nacional prevê um tratamento
diferenciado às microempresas e empresas de pequeno porte no que se refere
à apuração e recolhimento dos impostos e contribuições da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, mediante regime único de
arrecadação, conforme art. 1º, inciso I, da Lei Complementar nº 123/2006. A
mesma lei define como microempresa aquelas que possuam receita bruta igual
ou inferior a R$ 360.000,00 e como empresas de pequeno porte aquelas com
receita bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual
ou inferior a R$ 4.800.000,00.
adiantamento é registrado como receita à medida que a obra evolui e sendo utilizada
como contrapartida à venda das unidades de apartamento. Desta forma, abriu-se
espaço para o entendimento de que a permuta de bens de natureza distintas estaria
equiparada à compra e venda, o que foi feito pela Receita Federal.
Com a Lei n. 12.973/2014, observou-se um alargamento do conceito de receita
bruta, que passou a incluir quaisquer outras transações relacionadas ao objeto
principal do contribuinte que se caracterizem como receitas, como é o caso da
permuta de bens de natureza diferentes nos termos da OCPC1. Essa inclusão teria
impacto direto na base de cálculo do IR e da CSLL, das pessoas jurídicas submetidas
ao lucro presumido, conforme Parecer Normativo COSIT/RFB n. 09/14, por meio do
qual a Receita Federal firmou o entendimento de que o valor de imóvel recebido pelo
incorporador, em contrato de permuta, deve ser considerado como receita para fins de
tributação, quando o incorporador for optante do lucro presumido.
Já para as pessoas jurídicas que aplicam o regime de tributação pelo Lucro
Real, o entendimento da RFB em relação às operações de permuta, externado na
Instrução Normativa SRF nº 107/1988, é o de que a tributação nas referidas
operações está vinculada à existência ou não de torna.
Conforme determina a Instrução Normativa em comento, cada uma das
permutantes deverá atribuir ao bem recebido na operação o mesmo valor contábil do
bem baixado, não havendo reconhecimento de receita. Apenas no caso de
recebimento de torna é que a entidade deverá reconhecer esse montante como receita
tributável, oferecendo-o à tributação pelo IRPJ e pela CSLL. Portanto, o regime de
apuração (lucro real ou lucro presumido) influencia no tratamento tributário a ser
dispensado às permutas imobiliárias para fins de incidência do IRPJ. Entendo que
esse tratamento diferenciado é indevido por demonstrar tratamento não isonômico
entre os contribuintes.
A despeito do entendimento da Receita Federal, o STJ, em sede de julgamento
do REsp 1.733.560 de novembro de 2018, acertadamente decidiu que o contrato de
permuta não de equipara ao de compra e venda e que não enseja a cobrança de
contribuição ao PIS, COFINS, IRPJ e nem CSLL. Desta forma, não há que se falar em
equiparação à compra e venda e nem em acréscimo patrimonial. O julgamento em
tela, embora não possua caráter vinculante, representa um importante precedente
para os contribuintes.x
(...) desde que o contribuinte atue conforme a lei, ele pode fazer seu
planejamento tributário para reduzir sua carga tributária. O fato de sua
conduta ser intencional (artificial), não traz qualquer vicio. Estranho seria
supor que as pessoas só pudessem buscar economia tributária licita se
agissem de modo casual, ou que o efeito tributário fosse acidental.
federativos e não das empresas, constituindo mero caixa, cujo destino são os
cofres públicos.
A decisão do STF favorável aos contribuintes deverá influenciar no IRPJ, haja
vista que a receita bruta é base de cálculo tanto das contribuições PIS e COFINS,
quanto do IRPJ e da CSLL no regime do lucro presumido.
Por enquanto, aguarda julgamento pela Primeira Seção do Superior Tribunal de
Justiça o tema repetitivo 1.008, que discute a ilegalidade ou não da inclusão de
valores de ICMS nas bases de cálculo do Imposto sobre a Renda de Pessoa
Jurídica – IRPJ e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL, quando
apurados pela sistemática do lucro presumido. A controvérsia em questão reside na
correta aplicação do conceito de receita bruta, na linha do que já decidido pelo STF,
agora para apuração da base do IRPJ e da CSLL das empresas no lucro
presumido.
declarado inconstitucional pelo STF e que garantiu uma base legal para a tributação
pelo IRPJ da variação do valor do investimento equivalente aos lucros auferidos
pela controlada ou coligada no exterior, que era prevista apenas em uma instrução
normativa.
No que diz respeito às coligadas localizadas fora de “paraísos fiscais”, a Lei
12.973/2014 manteve o entendimento do STF de que a tributação deve ocorrer no
momento da efetiva disponibilização dos lucros por elas auferidos.
Com relação às empresas controladas, a Lei nº 12.973/2014 utilizou o Método
da Equivalência Patrimonial, numa tentativa clara de afastar os acordos de
bitributação quando tenta induzir ao entendimento de que não serão tributados os
lucros, mas o seu reflexo no patrimônio da controladora.
Entendo que a nova sistemática da Lei 12.973/2014 viola o art. 153, inciso III
da Constituição Federal e o conceito de renda nele embutido, bem como o caput do
art. 43 do CTN, visto que não é possível se falar em disponibilidade de renda antes
de sua efetiva distribuição. Desta forma, o legislador fixou o momento da ocorrência
do fato gerador antes de uma real ocorrência de renda previsto no Código Tributário
Nacional, de modo que a tributação automática dos lucros auferidos por controlada
é inconstitucional. A mera contabilização de um eventual lucro pelo Método de
Equivalência Patrimonial representa apenas uma expectativa de renda, pois até no
caso de uma controlada direta existe a possibilidade daquele lucro ser neutralizado
por prejuízos decorrentes de outras controladas da mesma empresa.
refere às coligadas.
Ademais, não se pode
deixar de lado o fato
de que a
legislação brasileira
resguarda a possibilidade
de compensação dos
valores
pagos no e xterior, a
título de tributação da
renda, com aqueles que
seriam
devidos em território
brasileiro, por força do IRPJ
e da CSLL.
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Anexo I
CARF – Acórdão n. 1803-002.463
Publicado em 14/01/2015
(…) LUCRO PRESUMIDO. OMISSÃO DE RECEITAS. Caracteriza-se como
omissão a falta de registro de receita, ressalvada à pessoa jurídica a prova da
improcedência, oportunidade em que a autoridade determinará o valor dos tributos a
serem lançados de acordo com o sistema de tributação a que estiver submetida no
período de apuração correspondente. Os reembolsos de despesas ou de custos
integram a receita bruta, ou seja, a receita bruta é representada pelo valor total
contratado (honorários e reembolsos). DOUTRINA. JURISPRUDÊNCIA. Somente
devem ser observados os entendimentos doutrinários e jurisprudenciais para os quais
a lei atribua eficácia normativa. INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI. O CARF não é
competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária.
LANÇAMENTOS DECORRENTES. Os lançamentos de PIS, de COFINS e de CSLL
sendo decorrentes das mesmas infrações tributárias, a relação de causalidade que os
informa leva a que os resultados dos julgamentos destes feitos acompanhem aqueles
que foram dados à exigência de IRPJ.
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Anexo II
RE n. 582.525/SP - RG
DJ 07/02/2014
CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IMPOSTO SOBRE A RENDA E
PROVENTOS DE QUALQUER NATUREZA DEVIDO PELA PESSOA JURÍDICA
(IRPJ). APURAÇÃO PELO REGIME DE LUCRO REAL. DEDUÇÃO DO VALOR
PAGO A TÍTULO DE CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO.
PROIBIÇÃO. ALEGADAS VIOLAÇÕES DO CONCEITO CONSTITUCIONAL DE
RENDA (ART. 153, III), DA RESERVA DE LEI COMPLEMENTAR DE NORMAS
GERAIS (ART. 146, III, A), DO PRINCÍPIO DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA (ART.
145, § 1º) E DA ANTERIORIDADE (ARTS. 150, III, A E 195, § 7º). 1. O valor pago a
título de contribuição social sobre o lucro líquido – CSLL não perde a característica de
corresponder a parte dos lucros ou da renda do contribuinte pela circunstância de ser
utilizado para solver obrigação tributária. 2. É constitucional o art. 1º e par. ún. da Lei
9.316/1996, que proíbe a dedução do valor da CSLL para fins de apuração do lucro
real, base de cálculo do Imposto sobre a Renda das Pessoas Jurídicas – IRPJ.
Recurso extraordinário conhecido, mas ao qual se nega provimento.
Anexo III
APELAÇÃO CÍVEL Nº 5018422-58.2016.4.04.7200/SC
RELATOR: JORGE ANTONIO MAURIQUE
TRIBUTÁRIO. IRPJ E CSLL. INCLUSÃO DO ICMS NA BASE DE CÁLCULO.
COMPENSAÇÃO. ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA. 1. O Plenário do STF, no julgamento
do Recurso Extraordinário 574706, com repercussão geral reconhecida, entendeu que o
valor arrecadado a título de ICMS não se incorpora ao patrimônio do contribuinte,
representando apenas ingresso de caixa ou trânsito contábil a ser totalmente repassado
ao fisco estadual. 2. Não se tratando de receita bruta, os valores recolhidos a título de
ICMS não compõem a base de cálculo do IRPJ e da CSLL. 3. A parte autora tem direito
à compensação dos valores indevidamente recolhidos, observada a prescrição
quinquenal, após o trânsito em julgado da presente decisão (art. 170-A do CTN), com
débitos próprios relativos a quaisquer tributos e contribuições administrados pela
Secretaria da Receita Federal, nos termos do art. 74 da Lei nº 9.430/96. 4. O disposto
no art. 74 da Lei no 9.430/96 não se aplica às contribuições sociais previstas nas
alíneas “a”, “b” e “c” do parágrafo único do art. 11 da Lei no 8.212/91, e às contribuições
instituídas a título de substituição, conforme preceitua o art. 26, parágrafo único, da Lei
nº 11.457/2007. 5. A atualização monetária do indébito incide desde a data do
pagamento indevido do tributo (Súmula n.º 162 do STJ), até a sua efetiva restituição ou
compensação, mediante a aplicação da taxa SELIC.
ANEXO IV
CARF - Acórdão n. 107-07.596
Sessão de: 14 de abril de 2004
Acórdão n.: 107-07.596
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1
. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil Comentado, obs. 1 ao art. 102, apud Silvio Rodrigues, Direito civil – parte geral. Vol. 1.
15ª ed. São Paulo: Saraiva, 1985, p. 218.
2
. GOMES, Orlando. Introdução ao Estudo do Direito. 7ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1983, p. 374.
3
. LATORRACA, Nilton. Direito Tributário. 12ª ed. São Paulo: Editora Atlas.
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A simulação relativa seria então a dissimulação, onde nem tudo é ficto, visto que
seu objetivo é o de subtrair ou ocultar a verdadeira natureza do ato executado ou do
contrato que se pretende, sob ato aparente.
Em suma: simular significa aparentar algo que não existe enquanto que dissimular
significa esconder algo que existe.
No caso em exame, estamos diante de uma simulação relativa, uma
dissimulação.
Houve, de fato, uma reorganização societária, mas não aquela que a autuada fez
aparentar. Nem MARBO, nem ARMAZÉNS MARTINS, foram extintos o que era de se
esperar num evento de cisão total seguido de incorporação do patrimônio vertido.
ARMAZÉNS MARTINS continuou operando sua atividade tradicional, no mesmo
endereço, com os mesmos funcionários, com o mesmo ativo operacional. As únicas
alterações foram meramente formais: passou a operar com o número do CNPJ que
pertencia à MARBO e com nova razão social.
MARBO continuou operando sua atividade tradicional, no mesmo endereço. As
únicas alterações foram meramente formais: passou a operar com um número de
CNPJ de filial e com nova razão social, mas mantendo o nome de fantasia MARBO
TRANSPORTES.
Oportunas as lições de Ricardo Mariz de Oliveira, em sua obra “Elisão e Evasão
Fiscal” – Caderno de Pesquisas Tributarias – volume 13, Editora Resenha Tributária,
São Paulo,1988:
“O sistema jurídico brasileiro contém em seu bojo a possibilidade do contribuinte planejar seus atos
e negócios de forma a não pagar imposto, ou incidir na menor carga tributária possível, ou a
postergar o momento em que deve recolher algum tributo. Em outras palavras, ninguém é obrigado
a praticar os atos ou negócios que acarretam incidência de tributos, ou de tributos mais onerosos”.
“É importante frisar, contudo, que o procedimento, além de preventivo, há de ser lícito e não
defeso em lei. Do contrário, mesmo agindo preventivamente, o contribuinte pode cometer fraude,
ato simulado ou abuso de forma jurídica.”
Art. 149. O lançamento é efetuado e revisto de ofício pela autoridade administrativa nos
seguintes casos:
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(...)
VII – quando se comprove que o sujeito passivo, ou terceiro em benefício daquele, agiu com
dolo, fraude ou simulação;
(...)
Art. 116. Salvo disposição de lei em contrário, considera-se ocorrido o fato gerador e existentes
os seus efeitos:
I – tratando-se de situação de fato, desde o momento em que se verifiquem as circunstâncias
materiais necessárias a que produza os efeitos que normalmente lhe são próprios;
II – tratando-se de situação jurídica, desde o momento em que esteja definitivamente
constituída, nos termos de direito aplicável.
Parágrafo único. A autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou negócios jurídicos
praticados com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza
dos elementos constitutivos da obrigação tributária, observados os procedimentos a serem
estabelecidos em lei ordinária.
A nosso ver essa norma, que ainda pende de regulamentação, não trata de
fraude à Lei, nem dos negócios jurídicos indiretos, praticados, via de regra, com
simulação.
Claro também que a “intenção” do legislador não foi somente o de introduzir uma
norma programática, conclamando o fisco a pesquisar e identificar a existência ou não
de matéria tributável, em cada caso concreto. Isso já é da essência do trabalho fiscal.
Sem entrar no mérito se esta é uma verdadeira norma anti-elisão e se o sistema
constitucional brasileiro a comporta, face aos princípios constitucionais da legalidade,
da tipicidade e da capacidade contributiva, que levam à proibição do uso da analogia
com a finalidade de constituição de exigências tributárias, vamos buscar na Exposição
de Motivos os fins visados pelo legislador:
“A inclusão do parágrafo único ao art. 116 faz-se necessária para estabelecer, no âmbito da
legislação brasileira, norma que permita à autoridade tributária desconsiderar atos ou negócios
jurídicos praticados com a finalidade da elisão, constituindo-se, dessa forma, em instrumento
eficaz para o combate aos procedimentos de planejamento tributário adotados com abuso
de forma ou de direito”.
“A precariedade das provas do ato simulado é já, por si só, importante indício para a constituição
dos efeitos probatórios da simulação. Eis porque a presunção goza de tanto prestígio como meio
de prova para os casos de simulação.”
É o caso dos autos em exame, onde se vislumbra, claramente, no relato feito pela
fiscalização, corroborado pelos documentos juntados, um encadeamento lógico de
indícios convergentes.
A legislação do imposto de renda não admite a tributação em conjunto de grupos
econômicos.
Estou convencido, portanto, que a ação engendrada pela autuada teve como fim
deliberado reduzir o montante do imposto de renda a pagar, pela compensação de
prejuízos fiscais gerados por terceiro, mediante o artifício da conhecida simulação por
“incorporação às avessas”.
Passamos agora à análise da multa majorada.
O imposto apurado em procedimentos de fiscalização será punido com as multas
previstas no art. 44 da lei n. 9.430/96:
Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas, calculadas
sobre a totalidade ou diferença de tributo ou contribuição:
I – de setenta e cinco por cento, nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, após o
vencimento do prazo, sem o acréscimo de multa moratória, de falta de declaração e nos de
declaração inexata, excetuada a hipótese do inciso seguinte;
II – cento e cinquenta por cento, nos casos de evidente intuito de fraude, definido nos arts. 71,
72 e 73 da Lei n. 4.502. de 30 de novembro de 1964, independentemente de outras penalidades
administrativas ou criminais cabíveis.
Art. 71. Sonegação é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou
parcialmente, o conhecimento por parte da autoridade fazendária:
I – da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou
circunstâncias materiais;
II – das condições pessoais de contribuinte, suscetíveis de afetar a obrigação tributária principal
ou o crédito tributário correspondente;
Art. 72. Fraude é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou
parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou
modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do imposto devido,
ou a evitar ou diferir o seu pagamento.
Art. 73. Conluio é o ajuste doloso entre duas ou mais pessoas naturais ou jurídicas, visando
qualquer dos efeitos referidos nos artigos 71 e 72.
4
. TÔRRES, Heleno. Direito tributário e direito privado: autonomia privada. Simulação. Elusão tributária. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2003.
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Estou convencido, como dito, de que houve, simulação com fraude à lei, daí o
acerto do lançamento.
No tocante à fraude definida no art. 72, Heleno Tôrres5 chama atenção que esta
figura é diferente da “fraude à lei”, porque esta somente terá lugar quando
determinado sujeito promova uma organização de meios lícitos, com violação indireta
da lei cogente de direito privado, para atingir finalidade que de outro modo não seria
permitida pelo ordenamento.
Entretanto a multa a ser aplicada é a prevista no inciso I do art. 44 da Lei n.
9.430/96 pois não se trata da fraude a que se refere o inciso II do mesmo artigo.
Por isso, voto por dar provimento parcial ao recurso para reduzir a multa de ofício
para 75% (setenta e cinco por cento).
Sala das Sessões – DF, em 14 de abril de 2004
LUIZ MARTINS VALERO
VOTO VENCEDOR
Conselheiro NATANAEL MARTINS
Em que pese o brilho do voto do E.Relator, Conselheiro Luiz Martins Valero, cujas
judiciosas colocações a propósito do instituto da simulação, fraude ou abuso de direito,
delas não discordo, no específico caso em questão, com a devida vênia, ouso
discordar da conclusão a que chegou.
Com efeito, registre, inicialmente, que nas regras que norteiam as operações de
cisão ou de incorporação de sociedades não há nada que proíba que a empresa
detentora de prejuízos fiscais figure na qualidade de incorporadora, vale dizer, não há
nada que proíba a dita “incorporação às avessas”. Igualmente, não há nada que
proíba a adoção do nome comercial e da sede da empresa incorporada.
Aliás, os artigos 32 e 33 do Decreto-lei 2.341/87, reproduzidos nos artigos 513 e
514 do RIR/99:
Art. 508. A pessoa jurídica não poderá compensar seus próprios prejuízos fiscais se entre a data
da apuração e da compensação houver ocorrido, cumulativamente, modificação de seu controle
societário e do ramo de atividade.
Art. 514. A pessoa jurídica sucessora por incorporação, fusão ou cisão não poderá compensar
prejuízos da sucedida.
§ único. No caso de cisão parcial, a pessoa jurídica cindida poderá compensar os seus próprios
prejuízos, proporcionalmente à parcela remanescente do patrimônio líquido, interpretados a
“contrario sensu”, admitem perfeitamente essa modalidade de incorporação, desde que,
efetivamente, a luz do ordenamento jurídico aplicável, esta esteja se operando.
não realizada com o único escopo de economizar tributo, porque, a final, qualquer que
seja a corrente interpretativa do direito tributário, em um ponto todas convergem: o
ordenamento não repudia o planejamento tributário.
Por tudo isso, voto pelo provimento do recurso.
Sala das Sessões – DF, em 14 de abril de 2004.
NATANAEL MARTINS
Anexo V
CARF - Acórdão CSRF n. 01-05.413
CÂMARA SUPERIOR DE RECURSOS FISCAIS
Sessão de: 20 de março de 2006
Acórdão n.: CSRF/01-05.413
IRPJ – INCORPORAÇÃO ÀS AVESSAS – GLOSA DE PREJUÍZOS –
IMPROCEDÊNCIA – A denominada “incorporação às avessas”, não proibida pelo
ordenamento jurídico, realizada entre empresas operativas e que sempre estiveram sob
controle comum, não pode ser tipificada como operação simulada ou abusiva, mormente
quando, a par da inegável intenção de não perda de prejuízos fiscais acumulados, teve
por escopo a busca de melhor eficiência das operações entres ambas praticadas.
Recurso especial negado.
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso interposto pela
FAZENDA NACIONAL.
ACORDAM os Membros da Primeira Turma da Câmara Superior de Recursos
Fiscais, por maioria de votos, NEGAR provimento ao recurso, nos termos do relatório
e voto que passam a integrar o presente julgado. Vencidos os Conselheiros Cândido
Rodrigues Neuber, José Clovis Alves, Marcos Vinícius Neder de Lima e Manoel
Antonio Gadelha Dias que davam provimento ao recurso. O Conselheiro Mário
Junqueira Franco Júnior apresentou declaração de voto.
MANOEL ANTONIO GADELHA DIAS
PRESIDENTE
DORIVAL PADOVAN
RELATOR
VOTO
Conselheiro DORIVAL PADOVAN, Relator.
O recurso é tempestivo, preenche os pressupostos de admissibilidade, dele tomo
conhecimento.
A questão a ser examinada neste processo refere-se à compensação de prejuízos
fiscais no caso de incorporação de empresa lucrativa (superavitária) por empresa
deficitária, sendo ambas do mesmo grupo empresarial, pesando sobre o lançamento a
pecha da simulação, por ter sido considerado que a incorporação se deu com o único
objetivo de compensar prejuízos acumulados da empresa incorporadora.
Não há como negar que dentro do chamado planejamento tributário, aceito tanto
na doutrina como na jurisprudência, permeia, em se tratando de grupo de empresas, a
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Não há, na lei, qualquer restrição, quer a que sociedade controlada incorpore controladora, quer a
que sociedade deficitária incorpore uma superavitária, quer a que uma sociedade incorpore outra
com patrimônio líquido negativo. Sendo o evento motivado por legítimos desígnios de reorganização
societária, e desde que respeitados os direitos da minoria, não há obstáculos à incorporação. E isso
tanto é mais verdadeiro quando o evento envolve sociedades de um mesmo grupo empresarial,
quando essas modalidades de incorporação, talvez insólitas, trazem vantagens para o grupo.
para dar segurança da operação perante o fisco, sob pena de comprometer o sucesso
do grupo empresarial, conseguido ao longo de quarenta e três anos (1953-1996),
conforme fartamente noticiado nestes autos.
As regras de compensação de prejuízos fiscais têm origem nos 32 e 33 do
Decreto-Lei n. 2.341/87, os quais estão incorporados nos artigos 513 e 514, que
determinam:
Art. 513. A pessoa jurídica não poderá compensar seus próprios prejuízos fiscais se entre a data
da apuração e da compensação houver ocorrido, cumulativamente, modificação de seu controle
societário e do ramo de atividade (Decreto-Lei n. 2.341, de 29 de junho de 1987, art. 32).
Art. 514. A pessoa jurídica sucessora por incorporação, fusão ou cisão não poderá compensar
prejuízos fiscais da sucedida (Decreto-Lei n. 2.341, de 1987, art. 33).
Parágrafo único. No caso de cisão parcial, a pessoa jurídica cindida poderá compensar os seus
próprios prejuízos, proporcionalmente à parcela remanescente do patrimônio líquido (Decreto-
Lei n. 2.341, de 1987, art. 33, parágrafo único).
A fusão, a incorporação pode ser para efeitos meramente fiscais, desde que ela seja uma
operação efetivamente realizada. Então, se incorporo naquela que tem prejuízo uma que tem
lucro, porque a própria lei, o Decreto-lei 2341, coloca as barreiras para compensação do
prejuízo – quando há mudança de ramo de atividade e de controle. Mas, se eu passei pelas
duas barreiras, não há mudança de controle, embora haja mudança de atividade, tenho
adquirido por lei a manutenção do prejuízo, através desta incorporação ou fusão estará mantido
o direito de compensar o prejuízo e estou trazendo, exatamente para a pessoa jurídica titular
dos prejuízos, uma atividade que até então ela não tinha, que é lucrativa e com qual ela espera
aproveitar aqueles prejuízos. Perfeitamente possível, desde que real.
Anexo VI
CARF – Acórdão nº 3401-005.228
Julgamento 27/08/2018
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. DESCONSIDERAÇÃO DE ATOS E NEGÓCIOS
JURÍDICOS. FALTA DE REGULAMENTAÇÃO DO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART.
116 CTN. ERRO DE FUNDAMENTAÇÃO.
O parágrafo único do art. 116 do CTN, introduzido pela Lei Complementar nº
104/2001, tratase de regra antidissimulação, e prevê a possibilidade de
desconsideração de atos ou negócios jurídicos praticados com a finalidade de
dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos
constitutivos da obrigação tributária, observados os procedimentos a serem
estabelecidos em lei ordinária que até o momento não foi editada, não podendo,
portanto, ser utilizado como fundamento da decisão.
Anexo VII
CARF – Acórdão nº 1401-001.621
Julgamento 04/05/16
Voto vencido
(...)
2.2. Subvenções governamentais
A subvenção concedida à Recorrente corresponde a crédito presumido e encontra
fundamento na Lei Estadual RO nº 1.473/2005, a qual, no seu artigo 1º, previa o
seguinte à época da concessão do benefício (fls. 74/75):
Art. 1º. Fica concedido ao contribuinte de ICMS enquadrado no artigo 2º um crédito presumido
de 85% (oitenta e cinco por cento) do valor do imposto devido pela saída interestadual de
mercadoria importada do exterior.
Para saber se esta espécie de subsunção deve compor a base de cálculo do IRPJ
e CSLL é preciso primeiramente analisar alguns conceitos jurídicos, principalmente em
razão das equivocadas interpretações que, a meu ver, têm sido atribuídas ao termos
empredagados pelo legislador tributário ao regular tal matéria.
Pois bem. O § 2º do art. 38 do Decreto-lei nº 1.598/77, alterado pelo Decreto-lei nº
1.730/79, assim determina:
a) registradas como reserva de capital, que somente poderá ser utilizada para absorver
prejuízos ou ser incorporada ao capital social, observado o disposto nos §§ 3º e 4º do artigo 19;
ou (Redação dada pelo Decreto-lei nº 1.730, 1979)
b) feitas em cumprimento de obrigação de garantir a exatidão do balanço do contribuinte e
utilizadas para absorver superveniências passivas ou insuficiências ativas.
Como se vê, o enunciado dispõe que as subvenções para investimento devem ser
excluídas para fins de determinação do lucro real e da base de cálculo da CSLL,
desde que registradas como reserva de capital.
Assim, para delimitar o âmbito de incidência tributária e dar uma correta
interpretação a deste dispositivo (em consonância com as demais normas jurídicas do
sistema do direito positivo), faz-se necessário entender o que é uma subvenção para
investimento, qual sua natureza jurídica, respostas que encontramos numa
interpretação intratextual (dos enunciados supra-citados) e por que a legislação
tributária prescreve sua não computação na determinação do lucro real para fins de
incidência do IRPJ e CSLL resposta alcançada com uma interpretação intertextual
(dos enunciados supra-citados com o demais enunciados que delimitam a
competência tributária e a regra-matriz de incidência tributária de tais impostos).
Recorrendo-nos as lições de DE PLACIDO E SILVA, subvenção é um “auxílio ou
ajuda pecuniária que se dá a alguém ou a alguma instituição, no sentido de os
proteger, ou para que se realizem ou cumpram os seus objetivos” (Vocabulário
Jurídico, 2a. ed. Editora Forense, vol. 1).
O termo é utilizado para definir “auxílio ou ajuda pecuniária prestada pelos
poderes públicos”, que se enquadra perfeitamente no dispsto no art. 538 do Código
Civil, in verbis:
Art. 538. Considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu
patrimônio bens ou vantagens para o de outra.
Isto determina sua natureza jurídica. As subvenções são doações feitas pelo
entes políticos em favor de instituições que prestam serviços ou realizam obras de
interesse público. A diferença de nomenclatura é empregada para diferenciar as
transferência de recursos de poderes públicos (subvenções) para pessoas jurídicas
privadas ou instituições e o negócio jurídico privado de transferência de recursos
(doação em sentido estrito), mas ambas pertencem ao conceito genérico de doação
prescrito no art. 538 do Código Cívil. São, portanto, espécies de doação em sentido
amplo.
Sabemos que nos termos do art. 110 do CTN
“A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos e
formas de direito privado, utilizados, expressa ou implicitamente, pela Constituição Federal,
pelas Constituições dos Estados, ou pelas Leis Orgânicas do Distrito Federal ou dos Municípios,
para definir ou limitar competências tributárias” .
Por esse simples fato, de que a lei tributária não pode alterar a natureza jurídica
de “doação” das subvenções. Qualquer de suas espécies (investimento e/ou custeio)
não estaria sujeita a incidência tributária. No entanto, como Conselheira, segundo
regimento do órgão não posso deixar de aplicar a lei tributária, ainda que ela altere a
definição de conceitos de direito civil.
Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário