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Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário

SEMINÁRIO IV - REALIZAÇÃO DA DÍVIDA ATIVA: EXECUÇÃO FISCAL,


MEDIDA CAUTELAR FISCAL E OS MEIOS DE DEFESA DO CONTRIBUINTE

Luiza Purificação Socas

1. Qual a natureza jurídica da execução fiscal e da medida cautelar


fiscal? Identificar o fundamento e os requisitos legais da medida cautelar
fiscal, bem como apontar qual o momento oportuno para a sua propositura.
(Vide anexos I e II)
A natureza jurídica da execução fiscal é exacional, executiva e
expropriatória, uma vez que visa satisfazer o crédito do fisco, e possui, conforme
explica Paulo César Conrado1 duas fases: a preparatória da expropriação e a
expropriação propriamente dita, sendo que a primeira serve, em suma, para
constituir em linguagem competente a relação jurídica (apresenta-se a petição
inicial, na qual narra-se o fato, bem como expede-se a ordem citatória) e a
segunda remonta-se para a designação de atos expropriatórios objetivando
satisfazer o crédito tributário supostamente devido.

Em relação à medida cautelar fiscal explana-se sua natureza jurídica


acautelatória, eis que, segundo Paulo César Conrado: “[...] serve para viabilizar
a satisfação do crédito sob execução, atuando sobre o patrimônio do devedor de
modo a fazê-lo provisoriamente indisponível.”. Deste modo, entende-se a medida
cautelar fiscal como meio de assegurar a satisfação do crédito que se entende
devido.

Para tanto, quanto à medida cautelar fiscal, seu fundamento é o


constante na Lei n. 8.397/92, e além da presença do fumus boni juris e o periculum
in mora, também devem ser observados os requisitos do art. 2º, da mencionada
lei:

Lei n. 8.397/92
Art. 2º A medida cautelar fiscal poderá ser requerida contra o sujeito passivo de
crédito tributário ou não tributário, quando o devedor:

1
CONRADO, Paulo Cesar. Execução Fiscal. 3 ed. São Paulo: Noeses, 2017
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I - sem domicílio certo, intenta ausentar-se ou alienar bens que possui ou deixa de
pagar a obrigação no prazo fixado;
II - tendo domicílio certo, ausenta-se ou tenta se ausentar, visando a elidir o
adimplemento da obrigação;
III - caindo em insolvência, aliena ou tenta alienar bens;
IV - contrai ou tenta contrair dívidas que comprometam a liquidez do seu patrimônio;
V - notificado pela Fazenda Pública para que proceda ao recolhimento do crédito
fiscal:
a) deixa de pagá-lo no prazo legal, salvo se suspensa sua exigibilidade;
b) põe ou tenta por seus bens em nome de terceiros;
VI - possui débitos, inscritos ou não em Dívida Ativa, que somados ultrapassem trinta
por cento do seu patrimônio conhecido;
VII - aliena bens ou direitos sem proceder à devida comunicação ao órgão da Fazenda
Pública competente, quando exigível em virtude de lei;
VIII - tem sua inscrição no cadastro de contribuintes declarada inapta, pelo órgão
fazendário;
IX - pratica outros atos que dificultem ou impeçam a satisfação do crédito.
.

Quanto ao momento oportuno para propositura da medida cautelar


fiscal, em que pese o art. 1º da Lei n. 8.397/92 aduzir que: o procedimento cautelar
fiscal poderá ser instaurado após a constituição do crédito”, entendo que não é
suficiente apenas a constituição do crédito, mas sim a constituição do crédito e
também o exaurimento da discussão no âmbito administrativo, uma vez que tais
situações compreendem a suspensão da exigibilidade do crédito tributário, tal
como preconiza o art. 151, III, do CTN, bem como entendimento exarado pelo STJ
no AgRg no REsp n. 1.326.042/SC (anexo I deste seminário) e REsp n.
1.314.033/RJ (anexo II deste seminário):

Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário:

[...]

III - as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do processo


tributário administrativo.

MEDIDA CAUTELAR FISCAL. IMPROCEDÊNCIA. REQUISITOS LEGAIS.


RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA E INDISPONIBILIDADE DOS BENS.
PECULIARIDADES FÁTICAS. SÚMULA 7/STJ.
1.Improcedente a Medida Cautelar fiscal contra contribuinte que está ainda a
discutir na instância administrativa, pela via recursal, o valor tributário que se
lhe exige.

PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO ART. 535, CPC. MEDIDA


CAUTELAR FISCAL. IMPOSSIBILIDADE DE DEFERIMENTO DA MEDIDA CONTRA O
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DEVEDOR OU TERCEIRO PARA ACAUTELAR CRÉDITO TRIBUTÁRIO JÁ CONSTITUÍDO,


MAS COM EXIGIBILIDADE SUSPENSA.
[...]
2. Não merece subsistir a medida cautelar fiscal proposta contra o devedor quando ao
tempo do ajuizamento os créditos tributários estavam com sua exigibilidade suspensa em
razão da adesão ao REFIS.

Por fim, destaca-se a exceção albergada pelo parágrafo único do art.


1º, da Lei 8.397/92, que traz hipóteses de cabimento da medida cautelar onde
ainda não se teve a constituição do crédito tributário.

2. Ao responder justifique suas respostas. Quanto à exceção de pré-


executividade, pergunta-se:
(a) Em que consiste a exceção de pré-executividade? É uma ação ou meio
de defesa?
(b) Qual seu fundamento legal?
(c) Há limite temporal para o seu oferecimento no processo executivo?
(d) Há limite lógico-processual para o seu oferecimento?
(e) Quais matérias são passíveis de arguição?
(f) A oposição de exceção de pré-executividade tem o condão de suspender
o trâmite do processo de execução?
(g) A oposição de exceção de pré-executividade impede o ajuizamento de
embargos à execução fiscal?

A exceção de pré-executividade consiste em um meio de defesa –


incidental vez que ocorre no âmbito da execução fiscal – ao executado que, após
o ajuizamento da execução fiscal, pretende apresentar matérias que não
demandem dilação instrutória/probatória, nos termos da súmula 393, STJ: “A
exceção de pré-executividade é admissível na execução fiscal relativamente às
matérias conhecíveis de ofício que não demandem dilação probatória.”
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Seus fundamentos legais, conforme ensina Rodrigo Dalla Pria 2são


o art. 5º, inciso LV, da CF/88; e o art. 3º, parágrafo único, da LEF. Quanto ao limite
temporal para oferecimento da exceção de pré-executividade na execução fiscal,
não há um dispositivo que regulamente o prazo para seu oferecimento, no
entanto, entendo que existe, sim, um limite lógico-processual para o seu
oferecimento, qual seja: antes de transitada em julgado a execução fiscal, e
também no prazo de cinco dias após a citação do executado, visando ilidir
possíveis penhoras para garantia do juízo.

As matérias passíveis de arguição na EPE são aquelas de ordem


pública ou de mérito que, conforme exposto, não exigem dilação probatória, a
exemplo, créditos extintos/suspensos, citação nula/indevida, nulidade da CDA,
execução nula, nos termos do art. 803, CPC:

Art. 803. É nula a execução se:


I - o título executivo extrajudicial não corresponder a obrigação certa, líquida e
exigível;
II - o executado não for regularmente citado;
III - for instaurada antes de se verificar a condição ou de ocorrer o termo.
Parágrafo único. A nulidade de que cuida este artigo será pronunciada pelo juiz,
de ofício ou a requerimento da parte, independentemente de embargos à
execução.

A oposição de exceção de pré-executividade por si só não tem o


condão de suspender o trâmite do processo de execução, apenas pode ser
admitido o efeito suspensivo se for apresentada garantia, ou, nos casos previstos
pelo art. 151, CTN. Ademais a oposição de EPE não impede o ajuizamento de
EEF, caso sejam discutidas matérias distintas das apresentadas na EPE.

3. Considerando as alterações relativas ao processo de execução


trazidas pelo CPC/15, pergunta-se:

2
DALLA PRIA, Rodrigo. Direito Processual Tributário. São Paulo: Noeses, 2020.
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a) Aplicam-se os arts. 914 (admite a oposição de embargos à execução


sem garantia da execução), 915 (fixa prazo para oposição de
embargos à execução – 15 dias) e 919 (estabelece que os embargos à
execução não são dotados de efeito suspensivo), todos do CPC/15
nos processos de execução fiscal? (Vide anexo III)
Primeiramente, importante destacar que o Código de Processo Civil
pode complementar, subsidiariamente, naquilo que for silente e não for
incompatível, as disposições previstas na LEF (Lei nº 6.830/80). Neste sentido,
considerando que o CPC é legislação genérica e disciplina questões de direito
privado e que a LEF é lei específica para o processo de Execução Fiscal, bem
como rege direito público, deve-se observar, em se tratando especificamente de
execuções fiscais, primeiro, o que dispõe a LEF, e, em segundo plano, o CPC
naquilo que não contrapor as prescrições da LEF.

Assim, entendo que quanto aos art. 914 e art. 915 do CPC não se
aplicam nos processos de execução fiscal, eis que a LEF possui disposições
expressas e específicas atinentes ao prazo para oposição de embargos à
execução, bem como sobre a necessidade de apresentação da garantia para opor
EEF, conforme se depreende da leitura dos dispositivos abaixo retirados da LEF:

Art. 16 - O executado oferecerá embargos, no prazo de 30 (trinta) dias, contados:

I - do depósito;

II - da juntada da prova da fiança bancária ou do seguro garantia;

III - da intimação da penhora.

§ 1º - Não são admissíveis embargos do executado antes de garantida a


execução.

Por outro lado, quanto ao art. 919, CPC, entendo que este se aplica
nos processos de execução, uma vez que a LEF, além de ser silente quanto aos
efeitos suspensivos dos embargos à execução, compatibiliza-se com a atribuição
de efeito suspensivo aos EEF do CPC, qual seja: condicionado a apresentação
de garantia; verificação pelo juiz da relevância da fundamentação (fumus boni
juris) e perigo de dano irreparável ou de difícil reparação (periculum in mora).
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Destaca-se, para os pontos acima, o entendimento do STJ no REsp n.


1.272.827/PE (anexo III deste seminário):

PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. RECURSO REPRESENTATIVO DA


CONTROVÉRSIA. ART. 543-C, DO CPC. APLICABILIDADE DO ART. 739-A, §1º,
DO CPC ÀS EXECUÇÕES FISCAIS. NECESSIDADE DE GARANTIA DA
EXECUÇÃO E ANÁLISE DO JUIZ A RESPEITO DA RELEVÂNCIA DA
ARGUMENTAÇÃO (FUMUS BONI JURIS) E DA OCORRÊNCIA DE GRAVE DANO
DE DIFÍCIL OU INCERTA REPARAÇÃO (PERICULUM IN MORA) PARA A
CONCESSÃO DE EFEITO SUSPENSIVO AOS EMBARGOS DO DEVEDOR
OPOSTOS EM EXECUÇÃO FISCAL.
[...] Desse modo, tanto a Lei n. 6.830/80 – LEF quanto o art. 53, §4º da Lei n. 8.212/91
não fizeram a opção por um ou outro regime, isto é, são compatíveis com a
atribuição de efeito suspensivo ou não os embargos do devedor. Por essa
razão, não se incompatibilizam com o art. 739-A do CPC/73 (introduzido pela Lei
11.382/2006) que condiciona a atribuição de efeitos suspensivos aos embargos
do devedor ao cumprimento de três requisitos: apresentação de garantia;
verificação pelo juiz da relevância da fundamentação (fumus boni juris) e perigo
de dano irreparável ou de difícil reparação (periculum in mora).
Em atenção ao princípio da especialidade da LEF, mantido com a reforma do CPC/73,
a nova redação do art. 736, do CPC dada pela Lei n. 11.382/2006 – artigo que
dispensa a garantia como condicionante dos embargos – não se aplica às
execuções fiscais diante da presença de dispositivo específico, qual seja o art.
16, §1º da Lei n. 6.830/80, que exige expressamente a garantia para a
apresentação dos embargos à execução fiscal.

Deste modo, em suma, em meu entendimento, não se aplicam aos


processos de execução fiscal o art. 914 e art. 915 do CPC, no entanto, o art. 919,
CPC se aplica aos processos de execução fiscal, pelas razões acima expostas.

b) Na execução fiscal, ao executado ainda persiste o direito de, no prazo


de 5 dias da sua citação, “garantir a execução”? Justifique sua
resposta.
Conforme entendimento exposto na questão acima, havendo previsão
específica e expressa na LEF, não é possível admitir a aplicação de outros
dispositivos contidos em legislações genéricas, como no caso do CPC, por
exemplo.

Deste modo, tendo em vista que a LEF preconiza, no art. 8º, que: o
executado será citado para, no prazo de 5 (cinco) dias, pagar a dívida com os
juros e multa de mora e encargos indicados na Certidão de Dívida Ativa, ou
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garantir a execução, ao executado persiste o direito de, no prazo de 5 dias da


sua citação, “garantir a execução”, ainda que outras previsões legais instituam
o contrário.

4. Com relação ao instrumento constritivo do patrimônio do


contribuinte-devedor previsto no art. 185-A do CTN (conhecido como
penhora “on-line”). Pergunta-se:

a) Qual sua natureza jurídica? Trata-se de espécie de penhora ou de


medida cautelar?
Entendo que o instrumento constritivo do patrimônio do contribuinte-
devedor previsto pelo art. 185-A, CTN, possui natureza jurídica cautelar, visando
assegurar a satisfação do crédito tributário, não sendo uma espécie de penhora.
Isto porque, o conceito de penhora on-line, diferente do que se apresenta no CTN,
está disposto no art. 854, CPC:

Art. 854. Para possibilitar a penhora de dinheiro em depósito ou em aplicação


financeira, o juiz, a requerimento do exequente, sem dar ciência prévia do ato
ao executado, determinará às instituições financeiras, por meio de sistema
eletrônico gerido pela autoridade supervisora do sistema financeiro nacional,
que torne indisponíveis ativos financeiros existentes em nome do executado,
limitando-se a indisponibilidade ao valor indicado na execução.

Assim, tem-se, acima, caso de penhora on-line e independente de


prévia comprovação de não terem sido encontrados outros bens à penhora,
diferente do que se aduz no CTN, em que não foram apresentados ou encontrados
bens à penhora, no prazo legal e, considerando o cenário, o juiz determina a
indisponibilidade de bens e direitos no contribuinte-devedor, comunicando a
decisão, preferencialmente por meio eletrônico, aos órgãos e entidades que
promovem registros de transferência de bens.
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b) A decretação da indisponibilidade a que se refere o art. 185-A do CTN


é fato jurídico suficiente à abertura de prazo para apresentação de
embargos?
Não. A decretação de indisponibilidade do art. 185, CTN, não é
suficiente para início do prazo para oposição de Embargos à Execução, uma vez
que além de ser requisito a apresentação de garantia na EF, para oposição de
EEF, o art. 16, LEF, é expresso no que diz respeito à abertura de prazo para
apresentação de embargos:

Art. 16 - O executado oferecerá embargos, no prazo de 30 (trinta) dias, contados:

I - do depósito;

II - da juntada da prova da fiança bancária ou do seguro garantia;

III - da intimação da penhora.

§ 1º - Não são admissíveis embargos do executado antes de garantida a execução.

Deste modo, entendo que a mera decretação de indisponibilidade do


art. 185, CTN, não é suficiente para início do prazo para oposição de Embargos à
Execução, uma vez que para abertura do prazo deve ser observado o (a) depósito,
(b) juntada da prova da fiança/seguro garantia e (c) intimação da penhora, sendo
imprescindível a apresentação de garantia para admissão dos EEF.

c) Quais seus pressupostos e limites legais? É necessária


demonstração por parte da Fazenda de que inexistem outros bens
capazes de garantir a dívida? Ou aplica-se o art. 854 do CPC/15
(admite a constrição de ativos financeiros sem a prévia ciência do
executado)? (Vide anexo IV e V)
Os pressupostos/limites legais para aplicação do art. 185-A, CTN, são
os seguintes:

(i) citação do devedor tributário;


(ii) inexistência de pagamento ou apresentação de bens à penhora
no prazo legal; e
(iii) a não localização de bens penhoráveis após esgotamento das
diligências realizadas pela Fazenda, caracterizado quando
houver nos autos (a) pedido de acionamento do Bacen Jud e
consequente determinação pelo magistrado e (b) a expedição
de ofícios aos registros públicos do domicílio do executado e ao
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Departamento Nacional ou Estadual de Trânsito – DENATRAN


ou DETRAN.

Assim, é necessária a demonstração por parte da Fazenda de que


inexistem outros bens capazes de garantir a dívida, conforme consta no art. 185-
A, CTN, não se aplicando o art. 854, CPC, eis que sua aplicação é subsidiária e
específica para preenchimento de lacunas. De modo que, nos termos do
entendimento exarado pelo STJ no REsp n. 1.377.507 (anexo V desse seminário):

RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO


CPC E RESOLUÇÃO STJ N. 8/2008. EXECUÇÃO FISCAL. ART. 185-A DO CTN.
INDISPONIBILIDADE DE BENS E DIREITOS DO DEVEDOR. ANÁLISE RAZOÁVEL
DO ESGOTAMENTO DE DILIGÊNCIAS PARA LOCALIZAÇÃO DE BENS DO
DEVEDOR. NECESSIDADE.
4. A aplicação da referida prerrogativa da Fazenda Pública pressupõe a
comprovação de que, em relação ao último requisito, houve o esgotamento das
diligências para localização de bens do devedor. 5. Resta saber, apenas, se as
diligências realizadas pela exequente e infrutíferas para o que se destinavam podem
ser consideradas suficientes a permitir que se afirme, com segurança, que não foram
encontrados bens penhoráveis, e, por consequência, determinar a indisponibilidade de
bens.

5. Na execução fiscal o devedor-executado é citado para pagar ou


indicar bem (ns) em garantia em cinco dias. Na hipótese de oferecimento de
seguro-garantia, terá o devedor-executado que acrescentar 30% do valor do
débito executado ao seguro para que essa modalidade de garantia seja
aceita? Considere em sua resposta o teor do art. 7º, II da Lei n. 6.830/80 e o
§ 2º do art. 835 do CPC/15.
Não. O devedor-executado não terá que acrescentar 30% do valor do
débito executado ao seguro para que essa modalidade de garantia seja aceita,
isto pois, nos termos do art. 7º, II da Lei n. 6.830/80, em deferindo a inicial,
importará ordem, caso não tenha sido garantida a execução, por meio de
depósito, fiança ou seguro garantia, para a penhora. Não havendo qualquer
disposição sobre o acréscimo de 30% do valor do débito para que seja aceita a
garantia.

Na mesma toada, o art. 835. §2º, CPC, preconiza que, em caso de


substituição da penhora, aí sim o executado deverá apresentar garantia
(fiança/seguro), que não seja inferior ao débito e acrescido de trinta por cento.
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6. Qual o termo inicial para consideração da fraude à execução fiscal?


Há alguma divergência entre o art. 185 do CTN e o art. 792 do CPC/15? (Vide
anexo VI)

O termo inicial para consideração da fraude à execução fiscal é a


prevista pelo art. 185 CTN:

Art. 185. Presume-se fraudulenta a alienação ou oneração de bens ou rendas, ou seu


começo, por sujeito passivo em débito para com a Fazenda Pública, por crédito
tributário regularmente inscrito como dívida ativa.

Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica na hipótese de terem sido
reservados, pelo devedor, bens ou rendas suficientes ao total pagamento da dívida
inscrita.

Cabe ressaltar que a redação do artigo supracitado foi alterada pela LC


118/2005, de modo que há de se levar em consideração o critério temporal do
momento em que suscitada a fraude, conforme trecho retirado do REsp n.
1.141.990/PR (anexo VI desse seminário):

(a) a natureza jurídica tributária do crédito conduz a que a simples alienação ou


oneração de bens ou rendas, ou seu começo, pelo sujeito passivo por quantia inscrita
em dívida ativa, sem a reserva de meios para quitação do débito, gera presunção
absoluta (jure et de jure) de fraude à execução (lei especial que se sobrepõe ao
regime do direito processual civil);

(b) a alienação engendrada até 08.06.2005 exige que tenha havido prévia citação
no processo judicial para caracterizar a fraude de execução; se o ato translativo
foi praticado a partir de 09.06.2005, data de início da vigência da Lei
Complementar n. 118/2005, basta a efetivação da inscrição em dívida ativa para
a configuração da figura da fraude;

Assim, para contagem do termo inicial para consideração da fraude à


execução fiscal, em situações até a entrada em vigor da LC 118/2005, é preciso
observância à prévia citação no processo judicial (ajuizamento da execução), por
outro lado, caso o ato tenha ocorrido após a vigência da LC 118/2005, basta a
inscrição em dívida ativa, independente de execução fiscal, para que seja
configurada a fraude.

Não obstante, há divergência entre o art. 185 do CTN e o art. 792 do


CPC no que se refere à aplicabilidade dos dispositivos, eis que o CTN rege fraude
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fiscal de ordem pública, enquanto que o CPC dispõe sobre fraude à execução no
âmbito do interesse civil/privado, nos termos do REsp n. 1.141.990/PR: “A
diferença de tratamento entre a fraude civil e a fraude fiscal justifica-se pelo fato
de que, na primeira hipótese, afronta-se interesse privado, ao passo que, na
segunda, interesse público, porquanto o recolhimento dos tributos serve à
satisfação das necessidades coletivas.”.

7. A Fazenda Nacional ajuizou, no ano de 2016, execução fiscal contra a


empresa XPTO, requerendo, na petição inicial, o redirecionamento fiscal
para seu sócio Luis Antônio, com lastro no art. 135, III, do CTN, tendo por
fundamento fático o encerramento irregular da sociedade. Considerando a
vigência do CPC/15, pergunta-se:

a) é necessária, no caso relatado, a instauração do incidente de


desconsideração da personalidade jurídica (IDPJ)? Sendo negativa ou
positiva a resposta, justifique? Se for negativa em que hipóteses o
IDPJ seria cabível?
Não, via de regra a instauração do incidente de desconsideração da
personalidade jurídica no âmbito da execução fiscal não é necessária para que
ocorra o redirecionamento, uma vez que se trata de responsabilidade tributária
dos sócios nas hipóteses do art. 135, CTN, e não configura caso de
desconsideração da personalidade jurídica prevista pelo art. 50, CC e 133, CPC:

CC - Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo


desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da
parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-
la para que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam
estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica
beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso.
CPC - Art. 133. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será
instaurado a pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no
processo.
§ 1º O pedido de desconsideração da personalidade jurídica observará os
pressupostos previstos em lei.
§ 2º Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese de desconsideração inversa da
personalidade jurídica.
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Deste modo, de maneira geral, não há necessidade do IDPJ para o


redirecionamento, pois o art. 135, CTN, dispõe sobre responsabilidade tributária
e não sobre hipóteses albergadas pela desconsideração previstas pelo CC ou
CPC.

Em que pese a desnecessidade exposta acima, existe a aplicabilidade


da instauração do IDPJ quando “fundada, exclusivamente, em responsabilidade
tributária nas hipóteses dos artigos 132, 133, I e II e 134 do Código Tributário
Nacional (CTN), sendo o IDPJ indispensável para a comprovação de
responsabilidade em decorrência de confusão patrimonial, dissolução
irregular, formação de grupo econômico, abuso de direito, excesso de
poderes ou infração à lei, ao contrato ou ao estatuto social (CTN, artigo 135,
incisos I, II e III), e para a inclusão das pessoas que tenham interesse comum na
situação que constitua o fato gerador da obrigação principal, desde que não
incluídos na CDA, tudo sem prejuízo do regular andamento da Execução Fiscal
em face dos demais coobrigados3".

b) uma vez instaurado o IDPJ, a defesa apresentada pelo sócio ou


pessoa jurídica que se pretende atribuir responsabilidade pela
obrigação tributária pode versar sobre o mérito da cobrança
(inexigibilidade do crédito tributário), ou apenas sobre a ilegitimidade
de sua responsabilização patrimonial pela dívida objeto da execução
fiscal?

Entendo que não é possível discussão de mérito no IDPJ, uma vez que
a própria natureza – incidental – do instituto não permite tal discussão. Outro
ponto, é que o sócio ou pessoa jurídica responsabilizada no incidente de
desconsideração da personalidade jurídica não é parte no processo (execução
fiscal), justamente por ser uma ação incidental que depende da tramitação da EF,

3
Disponível em https://www.conjur.com.br/2021-jun-15/opiniao-trf3-fixa-tese-aplicacao-idpj-
execucoes-fiscais
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de modo que é possível apenas a discussão sobre a ilegitimidade de sua


responsabilização patrimonial pela dívida objeto da execução fiscal.

8. Em sua opinião, para que a execução fiscal seja proposta já com o


sócio no polo passivo (seu nome consta na certidão de dívida ativa) é
necessário que tenha participado do processo administrativo para apuração
de sua responsabilidade? Justifique sua resposta indicando o dispositivo
normativo processual (CPC/2015 ou lei de execução fiscal) que confirma ou
infirma a legitimidade passiva do sócio na execução fiscal.
Sim, entendo que é necessária a participação do sócio no processo
administrativo para apuração de sua responsabilidade, uma vez que a execução
fiscal é ação satisfativa e não de conhecimento, de modo que deve ser, em
respeito ao contraditório e ampla defesa, instaurado o processo administrativo
antes do seu manejo, nos termos do art. 2º, § 5º, VI, da LEF:

Art. 2º - Constitui Dívida Ativa da Fazenda Pública aquela definida como tributária ou
não tributária na Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, com as alterações posteriores,
que estatui normas gerais de direito financeiro para elaboração e controle dos
orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal.
§ 5º - O Termo de Inscrição de Dívida Ativa deverá conter:
[...]
VI - o número do processo administrativo ou do auto de infração, se neles estiver
apurado o valor da dívida.

Quanto ao dispositivo normativo processual que confirma a


legitimidade passiva do sócio na EF, cita-se o art. 4º, V, LEF, bem como o art.
790, II, CPC.

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