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MANUAL DE APOIO AO DIREITO FISCAL

Elaborado pelo DOCENTE:

Hanguima Tchilongo Muteca Saprinho.

Advogado, Mestrando em Direito Fiscal, pela Faculdade de Direito da UAN

Pós-Graduado em Agregação Pedagógica e Docencia Universitária pelo ISCED-Luanda.

Especializado em Consultoria e Assessoria Jurídica e em Direitos Humanos , pela FDUAN e pelo CDHFDUCAN.

NOTA PRÉVIA.

O presente manual, foi elaborado em sede das aulas que lecionei aos Estudantes do 3º
ano dos Cursos de Direito e Gestão de Empresas e Contabilidade, no Instituto Superior
Politécnico Atlântida em Luanda, isto é em 2019.
Vale lembrar que os conceitos constantes deste manual são básicos porque a ideia era
trazer aos estudantes uma linguagem de fácil compreensão , ipso facto, não dispensa a
consulta aos livros dos Fiscalistas com autoridade académica reputada.
Ademais, pelo tempo alguma legislação eventualmente terá sofrido alguma alteração,
pois como é consabido, a legislação fiscal é das mais voláteis dado que depende muito
dos factores económicos e políticos , daí que se faça uma leitura contextualista e pela
urgência com que o mesmo material foi concebido, tenho certeza que encontrarão
alguns erros ortográficos, e falta de rigor técnico-científico , que serão sanados porque
este é um projecto embrionário, por isso “miserer meia”, tenham piedade de mim.
Por fim, importa referir que por não serem originariamente meus os conceitos ali
constantes, permito que este material seja partilhado , sem prejuízo de não retirar a
minha identidade, porque afinal foi sempre fruto de algum esforço ainda que seja
mínimo.

INTRODUÇÃO.

A Constituição angolana é a fonte directa e primária do Direito Tributário latus


senso, nela estão patentes os princípios, valores e normas, que regulam e estabelecem o
poder de exigir tributos, o dever fundamental de pagar impostos, a organização

1
económica, financeira e fiscal do Estado angolano, conforme dispõem os artigos 88.º,
89.º ambos da CRA. Por imposição do Estado Republicano, Democrático e de Direito
previsto nos artigos 1.º e 2.º ambos da CRA, que tem como substracto fundacional a
dignidade da pessoa humana, são primaciais inafastáveis para a consumação do ideal
constitucional, da justiça social e do desenvolvimento económico social, artigo 90.º da
CRA, enquanto instrumentos concretizadores da igualdade entre os cidadãos, entre
outras, a protecção dos direitos, liberdades e garantias fundamentais dos cidadãos,
sobretudo das liberdades económicas, nomeadamente, a livre iniciativa económica
privada, o respeito pela propriedade privada, a valorização do trabalho, tal como dispõe
o n.º1 do atigo 89.º da Constituição.

Por essa razão, os tributos, impostos, taxas, contribuições especiais, e tantos outros,
enquanto instrumentos de financiamento do Estado, não podem ser criados, tão pouco
exigidos de forma arbitraria ou atabalhoadamente, devem respeitar o imenso catálogo de
direitos fundamentais dos contribuintes. Assim, prevendo a possível conflitualidade
entre o poder tributário e os contribuintes, o legislador constituinte, estabeleceu como
garantia primária , entre outras garantias fiscais dos contribuintes, a conformidade
constitucional das normas tributárias e dos actos dos poderes públicos prevista nos
artigos 6.º e 226.º ambos da CRA. Ora, por imperativo do princípio da Supremacia
Constitucional, a legislação ordinária, que vem apenas concretizar tais directrizes
constitucionais, da organização, funcionamento e fiscalização das instituições
financeiras , não deve em circunstância alguma estar em desconformidade com a
Constituição sob pena da sua invalidade por inconstitucionalidade.Assim, o Direito
Fiscal, enquanto ramo que tem por objecto de estudo o imposto , não pode ficar alheio
aos ditames constitucionais e aos princípios e valores nela ínsitos. Cobrar imposto sim,
pagar imposto sim, mas a dignidade da pessoa humana, a liberdade dos contribuintes, e
outros , não podem ser ignorados pelo afã arrecadatário, pois, quanto mais livres
forem os contribuintes mais riqueza produzem e mais receitas para o Estado, desde que
este se organize administrativamente, e saiba justificar os fins das receitas, para que não
haja dúvidas e resistência ao pagamento dos imposto e não sejam estes vistos como um

2
simples sacrifício patrimonial dos contribuintes mas sim uma forma de investir para o
bem estar comum que a civilização e modernidade impõe.

Contudo não trazemos nada de novo se não linhas orientadoras para que inicia o estudo
do Direito Fiscal.

UNIDADE I

1. DIREITO FINANCEIRO PÚBLICO: Direito Tributário e Direito Fiscal.

Direito financeiro (público) é o conjunto de normas jurídicas que disciplinam a actividade


financeira do Estado. É o complexo de normas que jurídicas que disciplinam a obtenção
e distribuição do dinheiro necessário ao funcionamento dos entes públicos e à gestão dos
bens propriedade desses mesmos entes. Este ramo de Direito regula as receitas
(patrimoniais, creditícias e tributárias), despesas e administração ou gestão financeira
públicas.

Direito Tributário é o direito das receitas tributárias, isto é, o direito das receitas coactivas
do Estado e demais entidades públicas nomeadamente das taxas e dos impostos.

O Direito Fiscal é o ramo de Direito Tributário que disciplina a o sector das receitas
coactivas unilaterais, isto é, é o Direito dos impostos.

A doutrina em alguns momentos estuda o direito financeiro como se tendo por objecto
os tributos (Direito Tributário) – Itália, Espanha e Brasil - por um lado ou como tendo
como objecto os impostos (Direito Fiscal) – Portugal França Alemanha; mas sem fazer
acentuada diferença de conteúdo entre ambos.

O nosso objecto de estudos é o imposto, por isso, não trataremos desenvolvidamente,


aqui, dos outros tributos.

Nós abordaremos o Direito Fiscal definido como o sistema de normas jurídicas que têm
por objectivo assegurar a capacidade funcional do Estado, proporcionando-lhe os meios
financeiros que suportam tanto a sua existência como o seu funcionamento.

CAPIATULO I
OS TRIBUTOS NA ORDEM JURÍDICA ANGOLNA

3
1.1. Génese e fundamentos das finanças públicas
O Estado e outras entidades públicas personalizadas, tais como autarquias locais, para o
cumprimento dos fins a si cometidos pela Constituição, precisamente, a satisfação das
necessidades colectivas, isto é, aquelas que caracterizadas pela não rivalidade e não
concorrência do mercado onde vigora a oferta e a procura como motores moventes dos
fenómenos económicos, necessitam de receitas para prover o bem-estar da
colectividade. O contrato social de Jean-Jac Rousseau, inspirado na filosofia da antiga
Grecia de Platão e outros, trouxe consigo a possibilidade de os indivíduos absterem-se
de prover certas necessidades individuais, transferindo-as para um ente, (Estado),
constituído por vontade colectiva. Rouseau, entendia que o Estado seria a fórmula mais
acertada para resolver os conflitos sociais. A este respeito Marcos Cesar Pavani Parolin,
afirma que “a construção do Estado, resulta de um fenómeno histórico, económico,
político e social, mas é a sua expressão jurídica que marca o território do Direito
Tributário, enquanto forma de disciplinar a expropriação estatal do património privado,
visando seu próprio custeio e a manutenção dos serviços públicos, neste sentido, o
poder coercivo do Estado substitui o homem na decisão daquilo que seria considerado
bom, necessário e conveniente a ele isoladamente e à colectividade”. 1 Nestes
ensinamentos, encontramos os fundamentos filosóficos da razão de ser do Estado (latus
sensu), das suas necessidades, que em bom rigor são individuais transformadas
colectivas para melhor resolução, bem como dos tributos enquanto meios financeiros
deste. A Professora Elisa Rangel Nunes, na tentativa de conceitual a actividade
financeira, defende que “nem as recitas, nem as despesas são um fim em si mesmo, mas
um meio de alcançar determinados fins 2. A nossa autora, citando J.J Ferreiro Lapaza,
diz que “ a actividade financeira do Estado ou de outro ente público é uma actividade
instrumental, porque não se dirige imediatamente à satisfação de uma necessidade
pública, mas à obtenção de meios monetários que possibilitam, através de outras
actividades, concretizar tais satisfações”3.

Ainda na linha do destemido Professor Eduardo Paz Ferreira, “finanças públicas


correspondem a um fenómeno da actividade económica do Estado - obtenção de

1
PAROLIN, Marcos Cesar Pavani ,Teroria e Prática de Direito Tributário- os Tributos em Espécie no
Brasil,1ª edição, Haberman SP2013,pág.21 a 23.
2
NUNES, Elisa Rangel. Lições de Finanças Públicas e Direito Financeiro. Amnistia Edições Lda,
2007, pág.27

3
Ibdem

4
receitas e realização de despesas o nosso autor, reforça dizendo que , há que distinguir
gastos com características em tudo idênticas às despesas privadas e as aquisições, que
pelas suas características específicas, só poderão ser efectuadas pelo Estado . Citando
Sousa Franco, disse que àquele Professor, distinguia três áreas de relacionamento do
Estado com a vida económica (…) num primeiro plano, o Estado tem uma função de
ordenação; num segundo, o Estado intervém alterando o que seria o comportamento
normal dos agentes económicos privados e num terceiro, o Estado actua, ele próprio,
desenvolvendo uma actividade de agente económico4.
Pelo acima exposto, concluímos que não é apenas o Estado que exercer actividade
financeira pública, mas também, outras colectividades como autarquias, ordens
profissionais, empresas públicas, desenvolvem igualmente actividades financeiras, com
vista a prossecução de determinados fins que justificam a sua existência, pelo que, as
finanças públicas têm a sua génese na própria natureza social do homem, dotado de
necessidades individuais, mas que, não é capaz de satisfazê-las todas isoladamente e
mesmo em conjunto há sempre algumas insatisfeitas dada a insaciabilidade inerente ao
ser humano que parece se mais feliz procurando do que tendo.

1.2. Conceito de tributos e suas tipologias à luz da Constituição


angolana e leis ordinárias.
A Constituição da República de Angola, doravante CRA, consagra uma panóplia de
tributos, nomeadamente impostos, taxas, contribuições especiais, tal como se pode
constatar nos artigos, 102.º e 103.º todos da CRA. A Carta magna apesar de ser a “fonte
foneris”, não consagra ex presso um conceito do que são tributos, tão pouco, consagra

4
Ferreira, Eduardo Paz, Ensaios de Finanças Públicas, 1ª Almedina, 2020 pág.41 a 42-

5
todos os tributos, apenas aqueles que já nos referimos acima, entretanto, traça as
directrizes e linhas orientadoras que conduzem o sistema tributário in totum, deixando
uma margem ao legislador infraconstitucional a possibilidade criar conceitos e vários
tipos de tributos dentro do sistema constitucional. Tal como veremos adiante, todos o
tributos resultam da constituição, por serem criados por normas infraconstitucionais,
destinadas à concretizar a “lex magna”.

Ora, nos termos a alínea x) do artigo 2.º do Código Geral Tributário, (CGT), aprovado
pela Lei n.º21/14, de 22 de Outubro, são considerados “tributos, as prestações
patrimoniais, pecuniárias ou susceptíveis de avaliação pecuniária, sem carácter de
sanção, impostas pelo Estado ou outras entidades de direito Público ou
concessionárias de serviços públicos, com vista à satisfação das necessidades
colectivas e à prossecução do interesse público”.Este conceito legal reforça a ideia que
avançamos anteriormente, segundo a qual, há outras tipologias de tributos para além das
expressamente previstas na Constituição, assim, são os preços públicos, as tarifas e
outras figuras afins que, por razões de ordem económica ou financeira, podem sempre
ser criadas intra-sistema tributário.

Os tributos na sua generalidade, têm a sua razão de ser e da sua cobrança, na esteira da
Professora Lisa Rangel Nunes, na comparticipação devida aos cidadãos nos encargo
públicos, que é um dever genérico que recai sobre a totalidade da comunidade ou em
concreto, sobre aqueles que se mostrem numa situação tal, que indicie a existência de
uma determinada capacidade de riqueza5. É na linha daquela autora, que afirmamos, que
tanto os impostos como outras espécies de tributos, visam cobrir as despesas públicas,
sendo que, da parte dos contribuintes, tal dever decorre da do artigo 88.º da CRA. Este
preceito constitucional, embora não especifique, mas carrega consigo um dever
fundamental que transcende a mera a mera obrigação legal, pois assume dimensão
constitucional, mesmo não sendo pré-constitucional, como a liberdade, mas se apresenta
como obra eminentemente constitucional correspectivo à liberdade aos direitos
fundamentais, por eles limitado e ao mesmo tempo lhes serve de garantia e tal dever
gera o direito do Estado exigir tributos ínsito nele o dever de prestar serviços públicos
para o contribuinte6. No caso vertente aquele artigo nele encontram-se várias figuras de

5
NUNES, Elisa Rangel. Lições de Finanças Públicas e Direito Financeiro. Amnistia Edições Lda,
2007, pág.255
6
TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de Direito Constitucional Financeiro e Tributário, Vol.IV- OS
Tributos na Constituição. Renovar Editora, Rio de Janeiro 2007, pág.41 a 42.

6
tributos, maxime, a taxa que é paga em função de um benefício em concreto, não
obstante este constituir um dever genérico, com pendor universalista, na medida em
que ninguém está excluído da obrigação de contribuir para as receitas públicas, (res
publicae), que se traduzem em despesas públicas quando distribuídas. Embora o
legislador constitucional, utilize a terminologia “para as despesas públicas da
sociedade”, quanto a nós, parece-nos que a contribuição é para as receitas que vão
cobrir as despesas públicas e da sociedade, basta olharmos para os conceitos de
impostos, taxas e outros tributos, que convergem no facto de serem formas de
arrecadação de receitas do Estado, com vista à satisfação das necessidades colectivas,
tal vez quisesse simplificar a linguagem . Ora, do dever geral, obviamente, decorrem
deveres distintos, em função da capacidade de cada contribuinte em suportar o encargo
tributário ou da tipologia de tributos apagar, aí sim haverá descriminação positiva.

Conquanto, embora haja algumas divergências doutrinárias, quanto à natureza da taxa


como tributo, que tendem a dilui-la no conceito de preços ou na parafiscalidade, da
interpretação do artigo 88.º da CRA, resulta que o legislador constitucional angolano foi
menos incisivo quanto a clarificação e enquadramento da taxa como tributo, mas deixou
sinais indicativos, que nos levam a concluir que , efectivamente que a taxa é um dos
tributos que só pode ser cobrado em função de um benefício efectivo ou potencial de
um determinado serviço público prestado ao contribuinte ou por uso de um bem
público, caracterizados pela efectividade ou disponibilidade do serviço ou bem público.
Uma nota de realce para a expressão “benefício potencial”, este verifica-se naquelas
circunstâncias em que o Estado coloca à disposição dos contribuintes determinados
serviços ou bens públicos mas por inércia destes ou desinteresse não usufruem de tais
bens ou serviços, é o caso por exemplo da taxa de lixo, não obstante a produção ou não
de resíduos por parte de determinado munícipe, este está obrigado ao devido
pagamento, há uma taxa quase que compulsória devida por todos os destinatários de tais
serviços de recolha de lixo , vigora aqui um presunção de usufruto fundada na
necessidade de manter o ambiente sadio limpo e no princípio da disponibilidade da
prestação pública, mas isto porque a intervenção pública é imperiosa, quer por entes
Estatais ou concessionados, mas tal ideia não vinca em todos os serviços públicos, salvo
aqueles cujo pagamento é obrigatório , mas já não a uso dos mesmos. Embora, muitos
autores defendam a inexistência de taxas sem que haja um serviço concreto e
individualmente prestado, este posicionamento é entre nós defendido pelos autores

7
angolano, António Rafael e Mirlles Luneta, que ao apreciarem por exemplo o Decreto
Presidencial n.º 107/20, de 20 de Março, que consagra o Regime Geral das Taxas de
Lixo e Serviços de Limpeza, entendem que aquele diploma legal está eivado de
inconstitucionalidade por não preencher os requisitos necessários à caracterização da
taxa, estipulados pela legislação tributária, concretamente o disposto no artigo 3.º, n.º 7
do CGT, nomeadamente a individualização que se traduz na divisibilidade e
especificidade , factores inerentes à taxas, vinculados à actividade estatal de cunho
prestacio 7. Concordo parcialmente com os argumentos aduzidos por aqueles autores,
relativamente a falta de características próprias de taxa no aludido diploma legal, por
estabelecer uma generalidade de sujeitos e de forma abstracta obriga a todos os
munícipes a pagarem tal taxa como se de um imposto se tratasse, porém discordo da
fundamentação da inconstitucionalidade como a trazem sem menção de nenhuma norma
da constituição, porquanto a violação de uma lei ordinária constitui rigorosamente uma
ilegalidadee a inconstitucionalidade somente se verifica em consequência de a norma
violada ter sido criada com base na constituição. E no caso vertente seria imperioso
fazer-se menção ao artigo 88.º da CRA na parte referente a taxa , bem como os artigos
102.º e sujeita a criação de impostos à lei formal bem como artigo 165.º , alínea o),
explicando de facto se tal inconstitucionalidade seria formal ou material, pelo que o
nosso ver seria orngânica-formal, pelo facto de o Presidente da República ter legislado
sem devida autorização da Assembleia Nacional uma matéria em forma de decreto
quando deveria ser por lei.

Importar ainda referir que os tributos são classificados de diversas formas, assim,
quanto aos que o ordenamento jurídico pátrio consagra, podemos distingui-los do ponto
de vista doutrinário do seguinte modo: quanto às espécies, os tributos podem ser
classificados em impostos, taxas, contribuições especiais; quanto à titularidade ou
âmbito territorial podem ser: Estaduais ou locais; quanto à vinculação com a
actividade estatal, os tributos podem ser : bilaterais (taxas e contribuições especiais )
ou unilaterais(impostos); quanto à função, os tributos podem ser: fiscais, para fiscais e
extrafiscais 8 . Atendo a essa última classificação, é desde logo mister dizer que os
tributos extrafiscais, não são usados somente para fins de arrecadação de receitas ou de
recursos financeiros para o Estado ou Autarquia, embora seja essa a sua finalidade

7
RAFAEL, António Tobias Simba e LUNETA, Mirlles Humberto Rubem, Manual de Direito
Tributário Angolano,1ª edição, Aluplo Editora, Luanda 2020, pág.322
8
Ibdem ,pág.76

8
principal, mas visam também galvanizar a intervenção do Estado ou da Autarquia na
economia, para dissuadir ou persuadir comportamentos dos agentes económicos e dos
cidadãos em geral, a absterem-se de práticas lesivas de direitos fundamentais ou do
interesse público (meio ambiente sadio,) ou a adoptarem determinada conduta tida como
necessária para salvaguarda de outros valores constitucionais. São exemplos de
extrafiscalidades o aumento de taxas aduaneiras para impedir a importação de
determinados produtos para incentivar o consumo de produtos internos, ou impostos
especiais de consumo que incidem sobre os produtos nocivos à saúde (tabaco,
álcool,pláticos) ou ainda a redução de taxas de determinados sectores como educação,
produção e importação de livros ou outros cujo interesse justifique as imunidades
tributárias. Este é um dos papeis do Estado, enquanto regulador e fiscalizador das
actividades económicas e guardião de valores sócias informados pela carta magna, que
eventualmente sem as medidas extrafiscais, jamais seriam tidos pelos agentes
económicos, o que de algum modo seria prejudicial para o próprio Estado que no caso
se produtos nocivos à saúde, implicaria mais despesas para este sector social .

Do ponto de vista legal, dispõe o artigo 3.º do CGT que os tributos classificam-se tendo
em conta a titularidade do crédito e segundo este critério eles podem ser Estaduais-
aqueles cujo titular ou sujeito activo seja a admnistração directa do Estado ou
qualquer órgão da sua admnistração indirecta seja ; ou Locais- os que o sujeito activo
poder ser município, organização supramunicipal ou outros órgãos territoriais do
Estado assim designados por lei « ex, vi n.º 1 e 2; tendo em conta a natureza da sua
obrigação podem ser: impostos- tributos unilaterais sem contraprestação
individualizada, ex vi, n.º 4 e 5; taxas- tributos cuja obrigação é bilateral, decorrente
de uma prestação individualizada e concreta, ex vi, n.º 4 e 7;Contribuições
especiais(contribuições de melhorias ou contribuições financeiras e contribuições para
segurança social), ex vi n.º4 e 6 alíneas a) e b) e n.º 9. Estes e outros tributos,
indecentemente da sua nomenclatura ou classificação, ou finalidades, possuem
características ou pontos comuns com realce: o carácter da obrigatoriedade, traduzida
num dever legal dos sujeitos passivos em pagar em dinheiro, salvo excepções legais,
(compensação, dação em cumprimento) e num direito subjectivo-público do sujeito
activo cobrar o tributo; a cumpulsoriedade, visto que há sujeição do devedor do tributo
sem ter-se em conta a vontade deste; e por último, todos tributos não derivam da prática
de um acto ilícito, o que os distingue das multas, embora estas possam, por sua vez

9
resultar do inadimplemento tributário. Uma outra importante é sujeição dos tributos aos
princípios constitucionais e legais tais como, o da universalidade, igualdade, legalidade
fiscal, da equivalência e da justiça material, ex vi artigos 22.º, 23º,88.º 101º e 102.º da
CRA e 4.º do CGT.

Com efeito, não obstante as tipologias, e as outras finalidades, que os tributos possam
ter, a verdade é que estes são instrumentos de arrecadação de receitas públicas, cuja
obrigação decorre da lei (ex lege latus sensu), que nasce desde o momento em que se
verifica a situação previamente desenhada na descrição normativa, e no caso angolano,
desempenham cada vez mais um papel importantíssimo e relevante nas finanças
públicas , com vista à satisfação das necessidades financeiras do Estado e demais
entidades públicas, a assegurar a realização das política económica e social do Estado,
assente no respeito pelos direitos socio-culturais, implicando uma justa repartição de
rendimentos da riqueza nacional e na promoção da estabilidade financeira do Estado
que somente é alcançável com a diversificação da economia, que timidamente se vai
verificando num país como nosso , que se deve libertar da “petrodependência”.

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UNIDADE II

OS IMPOSTO

2.1. Noção de Imposto e seus Elementos Essenciais, Classificação e suas Funções/Fins

O imposto é uma prestação unilateral e definitiva estabelecida por lei a favor de uma
pessoa colectiva de Direito Público e visa a prossecução de fins públicos. Ou ainda, uma
prestação pecuniária efectiva O imposto é uma prestação em dinheiro ou em
equivalente a dinheiro. Podemos, afirmar que, hoje, é uma obrigação de entrega em
dinheiro sem carácter pessoal.

Podemos definir o imposto com base em diferentes elementos:

a) Em sentido objectivoou com base num elemento objectivo, podemos definir o


imposto como sendo uma prestação (integra uma relação de natureza obrigacional)
pecuniária (de dare pecunia – concretizada em dinheiro, mas não foi sempre assim
durante os tempos passados) unilateral (não lhe corresponde qualquer contraprestação
específica a favor do contribuinte), definitiva (não dá lugar a qualquer reembolso,
restituição ou indemnização) e coactiva (é uma prestação definida por lei).

b) Em sentido subjectivo ou de acordo a uma base subjectiva o imposto será a prestação


pecuniária devida por detentores individuais ou colectivos de capacidade contributiva a
favor de entidades que exerçam tarefas públicas (às quais a lei fiscal atribui a qualidade de
titulares activos de relações jurídico-fiscais).

c) Com fundamento no elemento teleológico o imposto pode ser definido como sendo
exigido para o exercício de funções públicas.

o imposto como prestação coerciva ,deve-se ao facto do imposto ser uma prestação
coerciva não indica que o cumprimento da obrigação fiscal seja obrigatório. obrigação
de imposto é estabelecida na lei ou por força da lei”. Assim, verificado o pressuposto de
cuja ocorrência a lei faz depender o nascimento da obrigação de imposto, este passa a
ser exigido independentemente da vontade do contribuinte. Necessário é, também, o
cumprimento das obrigações a que as pessoas voluntariamente estão vinculadas. O
imposto é uma prestação coerciva, porque na sua génese não está um acto de vontade. A
ocorrência do facto gerador pode depender da vontade privada, mas a obrigação do
imposto não. A obrigação de imposto tem a sua fonte na lei e o seu nascimento
prescinde da vontade de quem está vinculado ao seu cumprimento. A obrigação de
imposto “impõe-se” ao sujeito passivo, mesmo contra a sua vontade.

o imposto como prestação a título definitivo ,esta característica traduz-se no facto do


imposto não dar direito a qualquer restituição ou reembolso futuro a cargo do ente a
quem é feita essa prestação, quando é devida. No entanto, esta noção de definitividade

11
não exclui uma eventual restituição do valor pago por excesso , ou quando ultrapassa o
que era legalmente devido, como sucede, por exemplo, nos casos em que os montantes
retidos na fonte ou os pagamentos por conta ultrapassam os montantes apurados como
legalmente exigíveis ao contribuinte num determinado o período de tributação. A
restituição de imposto também pode ocorrer em virtude de anulação do acto tributário,
por este ser total ou parcialmente inválido. Assim, o que foi pago para cumprimento de
dívida consequente de acto que veio a ser declarado nulo ou anulado, deve ser
restituído, sob pena de enriquecimento do Estado sem justa causa. E essa característica
da definitividade permite a distinção entre imposto e outras receitas públicas, como por
exemplo o empréstimo público forçado.

o imposto como prestação unilateral Segundo Pereira (2009: 15) o imposto é uma
prestação unilateral, porque não lhe corresponde qualquer contraprestação por parte da
entidade beneficiária. Esta característica permite distinguir o imposto de outras figuras
afins, tais como a taxa e o empréstimo forçado. Deste modo, quando um contribuinte
satisfaz a obrigação de imposto nada recebe de específico em troca, nem o que,
porventura, venha a receber é proporcional ao que pagou. Porém, nem o facto de pagar
confere o direito de exigir algo de concreto em troca. O imposto é, pois, estritamente
unilateral. e) o imposto como prestação devida ao Estado ou outros entes públicos O
imposto como prestação devida ao Estado ou outros entes públicos é o chamado
elemento subjectivo do imposto como vimos atrás. O imposto, tal como os outros
tributos, é sempre devido a um ente público, que para uns autores, tem a designação de
pessoa colectiva de direito público e para outros, de entidades que exercem funções
públicas. No entanto, a Constituição da República Portuguesa utiliza, a expressão
“Estado e Outras Entidades Públicas” 8 . O Estado e as autarquias locais são os entes
públicos a quem são devidos a maior parte dos impostos. Salientamos, ainda, que o
elemento subjectivo da definição de imposto se reporta apenas ao sujeito activo. Quanto
aos sujeitos passivos, atenta a sua diversidade, nenhuma característica especial reveste a
noção de imposto. f) o imposto como prestação estabelecida pela lei. É a lei que confere
ao Estado o poder de tributar. Há lugar a imposto quando surge uma norma legal que
confere ao Estado a faculdade de exigir ao indivíduo o dever de prestar, como já
dissemos anteriormente. Assim, a criação e extinção do imposto, bem como todos os
seus elementos, são definidos por lei. Os elementos essenciais incidência, taxa,
benefícios fiscais e garantias dos contribuintes são estabelecidos, obrigatoriamente, por
Lei da Assembleia Nacional, ex vi artigo, 102.º, n.º1 da CRA, ou Decreto-Presidencial
Autorizado nos termos do artigo 165.º, alínea o) igualmente da CRA.

o imposto como prestação, visa à realização de fins públicos, Segundo Pereira (2009:
17) o objectivo tradicional do imposto é o de “arrecadação de receitas para que os entes
públicos delas beneficiárias possam realizar as tarefas que lhes estão perpetradas”. É a
chamada finalidade fiscal dos impostos. Porém, a finalidade do imposto não se esgota
na arrecadação de receitas, para cobertura das despesas públicas. Há igualmente, as
chamadas finalidades extrafiscais do imposto. Para além da grande importância no
financiamento das despesas públicas, os impostos são também muito importantes na
prossecução de outras finalidades, a que a doutrina chama de finalidades extrafiscais e
que são a redistribuição da riqueza, estabilização macroeconómica e influência na

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afectação de recursos. Estas finalidades do imposto estão, está estabelecido na
Constituição da República de Angola, seu art.º 101.º que de forma clara diz “o sistema
fiscal visa a satisfação das necessidades financeiras do Estado e outras entidades
públicas, assegurar a realização da política económica e social do Estado e proceder a
uma justa repartição dos rendimentos e da riqueza nacional”.

2.2 OS ELEMENTOS ESSENCIAIS DO IMPOSTO

Taxa - elemento quantitivo do imposto (quantum).

Incidência- tributária é a maneira pela qual a carga tributária recai sobre a matéria
colectável, ou sobre o sujeito passivo da relação jurídico-tributária, daí poder ser
objectiva ou subejctiva. entre compradores e vendedores.

Incidência objectiva são as operações ou actos sobre os quais recai um determinado


imposto, por ex: estão sujeitas a imposto sobre o valor acrescentado: a) As
transmissões de bens e as prestações de serviços efectuadas no âmbito comercial.

Incidência subjectiva- São sujeitos passivos do imposto, por ex: Estão sujeitos ao
imposto industrial os comerciantes e ao imposto sobre Rendimento de trabalho
trabalhadores e funcionários públicos, ou trabalhadores independente.

OS BENEFÍCIOS FISCAIS

O Código Geral Tributário consagrou um capítulo II, artigo 16.º autónomo relativo aos
benefícios fiscais. Prevê-se, que o Estado, institutos públicos, autarquias, instituições
públicas de previdência e de segurança social, e os partidos políticos, associações públicas
e instituições religiosas beneficiem de uma isenção em sede de impostos sobre
rendimento e património.
Adicionalmente, à excepção do Estado, institutos Públicos e autarquias, as restantes
entidades acima mencionadas, podem ainda ter direito à restituição dos impostos pagos
sobre o consumo, nos casos expressamente
previstos na lei.
Como referido, e de acordo com disposição transitória, os benefícios fiscais existentes à
data de 1 de Janeiro de 2015 são mantidos, sendo a sua duração determinada com base
na legislação que justificou a sua concessão.

AS GARANTIAS DOS CONTRIBUINTES.

O Código Geral Tributário prevê diversas garantias gerais do contribuinte, de onde


cumpre salientar, designadamente: i) o direito de não pagar impostos que sejam
inconstitucionais, ii) o direito de reclamar, recorrer impugnar actos da Administração
tributária, iii) o direito à fundamentação e notificação da liquidação, iv) o direito à
audição antes da decisão final, informação e confidencialidade, e v) o direito a juros
indemnizatórios.

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2.3 - OS FINS DO IMPOSTO

O imposto pode ter uma finalidade financeira ou fiscal(arrecadação de receitas);


FinalidadesEconómica, porque intervém quer na estrutura quer na conjuntura
económica; Finalidade Social- porque tem como escopo criar equilíbrios sociais, através
de uma repartição justa e equitativa dos bens públicos, eliminando assim as desigualdades
sociais públicas não sancionatórias de natureza económica e social, como por exemplo a
protecção da indústria nacional.

No liberalismo «puro», oitocentista, os impostos tinham uma função simplesmente


redictícia (arrecadação de receitas), com alguma ligeira preocupação com outros fins
económicos.

Daqui podemos distinguir os impostos fiscais (os que têm por objectivo principal a
arrecadação de receitas), também chamados verdadeiros impostos, dos impostos
extrafiscais ou falsos impostos cuja finalidade principal é evitar ou obstar à verificação do
respectivo pressuposto de facto ou do facto gerador; são verdadeiros impostos suicidas
daí a sua incompatibilidade com a titularidade de suporte na constituição fiscal.

3. IMPOSTO E FIGURAS AFINS

3.1- IMPOSTOS E TAXA: DIFERENÇAS

A figura dos tributos tem sido objecto de uma divisão dicotómica, bipartida ou de uma
divisão tripartida ou ternária que distingue entre impostos, taxas e contribuições ou
tributos especiais. Temos sido favoráveis, pelo menos jurídico-constitucionalmente ou
para efeitos jurídico-constitucionais a uma verdadeira summa divisio dicotómica dos
tributos, em Portugal, sendo estes, independentemente do nome que ostentam, tributos
unilaterais que integram a figura dos impostos ou tributos bilaterais que se reconduzem à
figura de taxas.

Enquanto os impostos obedecem ao princípio da legalidade fiscal e a sua medida tem por
base o princípio da capacidade contributiva, as taxas bastam-se com a reserva à lei
parlamentar (ou decreto lei – legislativo presidencial, parlamentarmente autorizado) –
art.º do regime geral e a sua medida assenta no princípio da proporcionalidade
taxa/custos específicos causados à respectiva comunidade.

A taxa é uma prestação estabelecida por lei como contrapartida pela prestação de um
serviço público, pelo acesso a um bem do domínio público ou pela remoção de um
limite à actividade dos particulares.

A taxa diferencia-se do imposto pelo seguinte:

a)A unilateralidade do imposto e a bilateralidade da taxa, como já acima referido;

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b)O imposto só pode ser criado por lei em sentido formal e somente o regime geral das
taxas deve ser definido por lei em sentido formal, podendo a sua concretização ser
operada por lei em sentido material;

c)O imposto é pago por quem tem capacidade contributiva e a taxa é paga por quem
beneficie dos serviços do Estado.

3.2 IMPOSTO E CONTRIBUIÇÕES PARA A SEGURANÇA SOCIAL / E


CONTRIBUIÇÕES ESPECIAIS

No ordenamento jurídico-constitucional Angolano regista-se uma divisão dicotómica dos


tributos entre: impostos (art.º 101.º e 102.º da CRA) – caracterizados como sendo
prestações unilaterais e baseadas na capacidade contributiva; e Contribuições Especiais
(art.º 103.º CRA) – estas definidas como prestações devidas pelo benefício de uma
prestação de serviços públicos, utilização do domínio público e demais casos previstos na
lei (art.º 103.º CRA n.º 1) e são classificadas em:

a) Contribuições para a segurança social; e

b) Contraprestações devidas por actividades ou serviços prestados por entidades ou


organismos públicos, segundo normas de direito privado – as quais se reconduzem a
figura das taxas, só assim se justifica a definição do regime geral das taxas como sendo da
competência relativa da Assembleia (art.º 165.º n.º 1 al. o) CRA), Nacional, bem como
outras contribuições especiais previstas na lei (art.º 103.º CRA, n.º 2).

Vejamos o enquadramento doutrinário:

As contribuições para a segurança social têm por objectivo prover o sistema de segurança
social com meios financeiros para acudir às pessoas em situação de carência. São
prestações definidas por lei, a favor de uma pessoa colectiva de direito público para fins
públicos.

Uma parte da doutrina as confunde integra na classe de impostos pela sua


unilateralidade. Outros porém defenderam que destas prestações há uma contrapartida
específica e mediata para os trabalhadores. E o empregador tem uma contraprestação
imediata que passa pelo benefício de um bom clima de trabalho, pressuposto para um
manifesto aumento da produtividade. A doutrina actual defende se tratar de um tertius
genus, não se enquadrando nem na figura de impostos nem a de taxa. Pois a prestação do
empregador é uma prestação unilateral sem qualquer contraprestação sendo um imposto,
e a prestação feita pelo trabalhador é uma taxa, pois, quando acontecer um facto
legalmente previsto como apto para tal, impende sobre o Estado uma obrigação de
prestar ao trabalhador

É costume atribuir-lhe a natureza de prémio de seguro obrigatório.

15
As contribuições Especiais

As contribuições são as prestações devidas por pessoas individuais ou colectivas em


função de benefícios especiais da actividade administrativa ou pelo aumento
extraordinário das despesas do Estado. Existem duas modalidades de contribuições
especiais:

1. As contribuições especiais de melhoria – a prestação que é devida em virtude de


uma vantagem económica particular resultante de uma actividade administrativa, por
parte daqueles que tal actividade indistintamente beneficia.

2. Contribuições por maiores despesas ou por encargos extraordinários para o Estado –


são as prestações devidas em virtude de as coisas possuídas ou de a actividade exercida
pelos particulares darem origem a uma maior despesa das autoridades públicas. Estas
contribuições especiais não deixam de ser impostos especiais, que têm por base
manifestações da capacidade contributiva de determinados grupos de pessoas resultantes
do exercício de uma actividade pública e não de uma actividade exclusiva do contribuinte
com acontece nos demais impostos.

Em conclusão, a CRA no seu artigo 103.º tratou da figura das contribuições especiais
tendo integrado nesta categoria as taxas, as contribuições para a segurança social bem
como as demais contribuições financeiras.

CAPÍTULO III

3.CLASSIFICAÇÃO DOS IMPOSTOS

Várias são as distinções a que tradicionalmente se submetem os impostos. Dentre elas


estudaremos aqui, as que têm alguma importância prática para o nosso ordenamento
jurídico:

1. Impostos Directos e Impostos Indirectos

Vários são os critérios económicos e jurídicos apontados para a distinção clássica dos
impostos. Entre os critérios económicos apontamos:

Segundo o critério financeiro, critério que atende ao objecto do imposto, são impostos
directos, aqueles que atingindo manifestações imediatas de capacidade contributiva, têm
por pressuposto a própria existência duma pessoa, dum património ou de um
rendimento;

os impostos indirectos são aqueles que atingindo manifestações mediatas da capacidade


contributiva, tributam manifestações indirectas da capacidade contributiva, por exemplo a

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despesa e a transferência de bens. É um critério com uma histórica importância nas
finanças públicas e no direito financeiro mas com um escasso valor actual.

O Critério económico strito sensu ou da contabilidade nacional, que tem em conta a


natureza económica (a sua integração ou não nos custos da empresa) dos impostos,
define os impostos directos como sendo os que não constituem custos de produção das
empresas(por isso não são tidos nem havidos no apuramento do produto e rendimentos
nacionais) e impostos indirectos os que constituem custos de produção das empresas(por
isso são deduzidos ao produto nacional, líquido ou bruto para o apuramento do
rendimento nacional líquido ou bruto, o rendimento nacional é igual ao produto nacional
menos os impostos indirectos ou sobre o consumo).

Segundo o critério da repercussão económica, que tem em conta se os impostos


repercutíveis (impostos indirectos) ou não (impostos directos) no consumidor ou mais
rigorosamente, no adquirente final dos bens e serviços.

Critério da natureza do facto gerador da obrigação fiscal, segundo este critério são
impostosdirectosos que têm como facto gerador um facto duradouro, e são
impostosindirectos os que têm origem num facto ocasional.

Entre os critérios jurídicos temos a citar os seguintes:

a)O critério do lançamento administrativo, criado porO. Mayer no princípio do século


XX, impostos directos ou com lançamento são aqueles em cujo procedimento fiscal
houvesse lugar a um acto administrativo de lançamento ou acto tributário e impostos
indirectos ou sem lançamentos, como sendo aqueles em que esse acto administrativo não
tivesse lugar. Este critério perde validade na medida em que actualmente todos os
impostos para a sua concretização exigem a intervenção da administração fiscal por meio
de um acto tributário, visando a sua liquidação.

b) O Critério do rol nominativo dos contribuintes ou da determinação dos contribuintes


define os impostos directos como aqueles cujo lançamento se baseia na existência junto
da administração fiscal duma lista ou rol nominativo de contribuintes e indirectos os
impostos cujo lançamento não tivesse por base essa lista ou rol. Porém, com um sistema
fiscal complexo como o actual, em que em regra a matéria colectável dos impostos é
levada ao conhecimento da administração fiscal ou determinada pelos contribuintes ou
por terceiros, em que é cada vez mais frequente o recurso a técnicas de autoliquidação,
retenção na fonte e pagamentos por conta, o papel da administração fiscal tende a ser
limitado. O que torna este critério inadequado aos tempos actuais.

c) O critério do tipo da relação jurídica base do imposto, define o imposto directo


como sendo o que tem por base uma relação contínua ou periódica; o Imposto indirecto
é o que tem por base uma relação jurídica fiscal ocasional ou instantânea . Fazendo aqui

17
uma equiparação desta distinção com a que se faz entre impostos periódicos ou
duradouros e impostos de obrigação única ou instantâneos.

O artigo 736.º, 1 do Código Civil, adopta o critério do tipo da relação base do imposto.

A arrumação orçamental das receitas, segue o critério da contabilidade nacional ou


financeiro.

2- Impostos Reais e Impostos Pessoais

Atendendo ao critério do peso relativo da incidência real ou objectiva e da incidência


subjectiva ou pessoal podemos distinguir entre os impostos reais e os impostos pessoais.

Os impostos reais são os que tributam o rendimento, o património e o consumo ou a


despesa sem ter em conta a situação económica do seu titular.

Imposto predial urbano É um imposto sobre coisas. Aqui, a matéria colectável é


objectivamente determinada abstraindo-se da concreta situação económica e social do
contribuinte.

Os impostos pessoais têm por base, levam em consideração a situação económica do seu
contribuinte, por exemplo Imposto sobre o Rendimento do Trabalho. É por se levar em
conta o rendimento a situação económica do contribuinte que se exclui a tributação de
rendimento laboral com valor igual ou inferior a AKZ: 25.000.00 (vinte e cinco mil
kwanzas).Aqui tem-se em conta a situação económica e social do contribuinte para a
definição da matéria colectável.

Os impostos pessoais podem ser mais ou menos pessoais consoante partilhem mais ou
menos das características dos impostos pessoais, que são as seguintes:

a) Atendem ao rendimento global do contribuinte, o que define a pessoalidade do


imposto, pois que de modo diferente desta característica, não é possível minimamente a
situação económica do contribuinte;

b) Excluem da tributação o mínimo para a existência, isto é, aquela quota de


rendimentos necessária para a satisfação das necessidades essências de salvaguarda da
dignidade humana do contribuinte e da sua família;

c) Têm em conta os encargos com a família, abatendo-os à matéria colectável, ou tendo-


os em conta através de deduções à colecta;

d) Sujeitam a matéria colectável a uma taxa progressiva.

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3. Impostos Sobre o Rendimento, o Património, o Consumo e o Comércio Externo

Segundo o critério da matéria colectável (é a coisa, facto sobre que recai o imposto,
podemos ter a seguinte classificação de impostos:

a) Impostos sobre o rendimento – é o imposto que recai sobre as utilidades económicas


resultantes da actividade produtiva. Este imposto tem por objecto o rendimento-produto
ou rendimento em sentido estrito (o acréscimo em bens obtidos no correspondente
período a título de contribuição para a actividade produtiva, tributa os bens percebidos a
título de salários, juros, rendas ou lucros) ou o rendimento acréscimo ou rendimento em
sentido lato (que além dos bens que integram o rendimento produto, tributam os
acréscimos obtidos a outros títulos que não o da contribuição para a actividade produtiva
e sem dano do património inicial – integra também os incrementos patrimoniais, isto é,
as mais-valias ou os rendimentos acidentais ou fortuitos) – é o rendimento usado nos
estados modernos.

b) Imposto sobre o património – nesta espécie de impostos tributa-se a titularidade ou a


transmissão de valores pecuniários líquidos (valores activos menos passivos), constituam
os mesmos bens capital produtivo, capital lucrativo ou bens de consumo duradouro. No
nosso ordenamento jurídico, tributa o património imobiliário e tem por base o valor que
resultaria do arrendamento do imóvel.

c) Imposto sobre o consumo – aqui tributa-se o rendimento ou o património, isto é, o


rendimento de ontem, utilizado no consumo. Tributa o consumo. No nosso
ordenamento jurídico é regulado pelo Decreto n.º 41/99 de 10 de Dezembro.

d) Imposto sobre o comércio externo – tributa a importação e a exportação de bens e


serviços. Tem por base o valor dos bens importados ou exportados. Normalmente os
estados não tributam a exportação.

4. Impostos Proporcionais, Progressivos e Regressivos. quanto a natureza da taxa do


imposto os impostos podem ser:

a) Impostos proporcionais - são impostos cujo montante varia em função da matéria


colectável numa proporção ou taxa fixa. São os que têm uma taxa única, constante,
independentemente do valor da matéria colectável: Imposto Industrial taxa de 35% do
rendimento.

b) Impostos progressivos – são impostos definidos numa taxa variável em função da


matéria colectável, sendo a taxa ou proporção ascendente elevando-se até certo limite
máximo definido. São aqueles cuja taxa cresce a medida que se eleva o valor da matéria
colectável. V.g.: O Imposto sobre o rendimento do trabalho (adiante IRT).

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c) Impostos regressivos – são impostos cuja taxa ou alíquota sofre uma variação
descendente diminuindo até certo limite mínimo da matéria colectável. São aqueles em
que a taxa de impostos diminui a medida que o valor da matéria colectável aumenta.
Tributavam peças valiosas e já não existem na maioria dos actuais ordenamentos
jurídicos.

Impostos Fiscais e Extra-fiscais (Remissão)

Tivemos oportunidade de nos debruçarmos sobre esta classificação aquando da definição


dos impostos, pelo que para lá dirigimos para fins de sua compreensão.

Enfim cabe-nos alertar que os impostos podem admitir muito mais classificações porém
nos interessam as aqui abordadas, sem prejuízo do valor das demais.

3.1 RELAÇÕES DO DIREITO FISCAL COM OS OUTROS DIREITO

1- Relação entre Direito Fiscal e o Direito Constitucional

O Direito Fiscal deve obediência ao Direito Constitucional.


O legislador quando cria uma lei tem de conhecer bem as normas constitucionais.

Relação entre Direito Fiscal e o Direito Administrativo.


Direito Administrativo – Regula toda a actividade pública do Estado.
As acções dos agentes da administração fiscal são regulamentadas em função do Direito
Administrativo.
Relação entre Direito Fiscal e o Direito Civil
A construção do Direito Fiscal carece das normas do Direito Civil ,sobre tudo pela busca
constante de institutos deste último.
Relação entre Direito Fiscal e o Direito Comercial
O Direito Comercial é imprescindível para o Direito Fiscal.
O Direito Fiscal usa vários conceitos do Direito Comercial para a sua aplicação do
direito.
Relação entre Direito Fiscal e o Direito Penal
Regime Geral das Infracções Tributárias , Crimes Tributários
Relação entre Direito Fiscal e o Direito Processual
Direito Processual – Direito que trata da regulamentação de como vamos até tribunal.
Conjunto de normas que regulamentam os nossos direitos em sede de tribunal. Exemplo:
como devemos reclamar, onde devemos reclamar, a quem devemos efectuar a
reclamação, o que devemos entregar, etc.
Relação entre Direito Fiscal e o Direito Internacional
O Direito Internacional é composto por Acordos, Tratados, Convenções, celebradas
entre dois Estados. Temos que conhecer estes regulamentos para aplicar
convenientemente a lei Fiscal.

20
CAPITULO IV-

4.1- A OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA.

O novo Código vem esclarecer que a obrigação tributária constitui-se com a verificação
de factos que definem a incidência do tributo. Não obstante, sempre que os actos ou os
negócios jurídicos ineficazes produzam os efeitos económicos pretendidos, nada obsta à
sua tributação. O mesmo se aplica, especificamente, aos negócios simulados, porquanto a
nulidade do acto ou negócio jurídico simulados em nada prejudica a tributação do acto
ou negócio subjacente (dissimulado). Assim, quando se verifique uma divergência entre o
preço real e o preço declarado, a tributação recai sobre o preço mais alto.

Quando nasce a obrigação fiscal?


Sobre esta matéria existe duas teorias:
A teoria da eficácia constitutiva da liquidação ,diz que a obrigação fiscal
(nascimento da divida tributária) ocorre na data do apuramento do imposto, ou seja, na
data da liquidação. É nesta data que nasce a obrigação fiscal ou tributária.
A teoria da eficácia declarativa da liquidação diz que a obrigação fiscal ou tributária nasce
no momento da ocorrência dos factos geradores do imposto sendo o acto de liquidação é
um mero acto em que vem declarar um montante do imposto a pagar ou a receber por
factos anteriormente ocorridos.
Qual a teoria que o nosso ordenamento jurídico fiscal elege?
O nosso ordenamento jurídico fiscal consagra a teoria da eficácia declarativa da
liquidação pois é esta que melhor protege os direitos das empresas e dos cidadãos.
A relação jurídico-fiscal é complexa quando comparada com a relação jurídico-civil. A
sua complexidade verifica-se quanto aos titulares (activos), quanto aos sujeitos (passivos),
quanto ao conteúdo e quanto às relações em que a mesma se desdobra.
Assim quanto aos titulares activos, iremos encontrar as seguintes
denominações: Titulares do poder tributário stricto sensu (em sentido restrito); Titulares
da capacidade tributária activa; Titulares da competência tributária; Titulares da
correspondente receita fiscal;
1- Quanto aos sujeitos passivos, tem as seguintes expressões: Contribuinte,
Substitutos, Responsáveis fiscais, Sucessores e o s suportadores económicos do
imposto (em caso de repercussão fiscal) IVA e os sujeitos passivos das obrigações
ou deveres acessórios.
2- Quanto ao conteúdo temos:
A obrigação de imposto relativa à prestação material ou principal
(pagar o imposto)
As mais diversificadas obrigações ou deveres acessórios
3- Quanto às relações temos:
Uma relação fiscal em sentido amplo que se desdobra na relação
fiscal em sentido restrito ou relação de imposto e nas diversas relações acessórias
Obrigações acessórias / deveres acessórios ,temos em primeiro lugar um dever de
cooperação do contribuinte para com a administração tributária que hoje está assente
como princípio com denominação, princípio ou dever de colaboração

21
Administração Tributária – Supremacia ,Sujeito Passivo – Subordinação
Em alguns casos específicos a relação é vertical ou relação de Paridade horizontal.
Obrigações contabilísticas e de escrituração
a) Dever de possuir contabilidade organizada nos termos da lei comercial
b) Ter uma conta bancária
c) Dever de constituir e manter actualizado um processo de documentação
fiscal (dossier fiscal) e outros constantes na lei.
.

Em sede do IVA:

1. Obrigações declarativas (
a) Entregar declaração de início, alteração e cessação de actividade
b) Enviar declaração mensal ou trimestral, consoante o volume de
negócios no ano civil anterior for superior ou igual ao montante mínimo legalmente
estabelecido e outras obrigações legais,

NOTA BEM: essa matéria será aprofundada em sede própria após a entrada em vigor ou
publicação da legislação própria
A obrigação fiscal ou tributária (obrigação principal
Diferenças entre obrigação fiscal e civil:
1) - A obrigação fiscal ou Tributária (Obrigação Principal) é legal (imposta por lei)
Ex-lege tem por fonte a lei.
2) A obrigação civil depende da vontade das partes.
3) A obrigação fiscal é pública (no sentido que faz parte do ramo de Direito Público
e de que o acto tributário goza da presunção da legalidade
4) A obrigação civil é privada (faz parte do Direito Privado e o conteúdo da relação
no caso de dúvidas tem de ser provado).
5) A obrigação fiscal é exequível e executiva, ou seja, o acto tributário
é condição de exequibilidade mas a sua força executiva carece de um
processo de execução
6) A obrigação civil para ser executiva em alguns casos carece de uma
sentença judicial anterior.
7) A obrigação fiscal é semi-executória na medida em que parte da execução decorre
na Administração Tributária (serviços de finanças) e outra parte decorre nos
tribunais de 1º estância – tribunais

4.2- OS ELEMENTOS DA RELAÇÃO JURÍDICO- FISCAL:

Os elementos da Rj-Fiscal são: Os Sujeitos (Activo e Passivo); O Objecto (Prestação


principal e acessória que os sujeitos estão obrigados)
O Facto Jurídico e A Garantia
.
O Sujeito Activo da Relação Jurídica
A titularidade activa da relação jurídica fiscal em sentido amplo comporta
diversas situações a saber: O poder tributário, A competência tributária, A capacidade
tributária activa, A titularidade da receita fiscal

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Vejamos:
O poder tributário: É o poder conferido ao legislador para a criação dos impostos, ou
seja, estamos na presença da fase da incidência.
A competência tributária: (Apuramento, Liquidação e Cobrança)
Aqui concentramo-nos na administração ou gestão dos impostos, ou seja,
nas fases de lançamento, liquidação e cobrança. Esta competência é exclusiva da
Administração Geral Tributária.
.
A capacidade tributária activa = Personalidade tributária
Consiste na titularidade de crédito de imposto e de mais direitos tributários
Titularidade da receita
Aqui diz-se que a titularidade das receitas dos impostos está consagrada a
determinados entes públicos.
Conclusão:
Em termos jurídicos dizemos que o sujeito activo da relação tributária é a entidade de
direito publico titular do direito de exigir o cumprimento das obrigações tributárias.
Pode ser transmitida a qualidade de sujeito activo?
Não é possível a transmissão da qualidade de sujeito activo da relação jurídica.
No entanto há uma excepção que se verifica com o instituto jurídico da sub-rogação que
está prevista na lei .

Sujeito Passivo
Aqui costumamos distinguir várias figuras:
• Contribuinte
• Devedor do imposto
• Sujeito passivo da relação jurídica fiscal
Contribuinte – é a pessoa (singular ou colectiva) relativamente à qual se
verifica o facto tributário, o pressuposto de facto ou o facto gerador do imposto, isto é
o titular das manifestações da capacidade contributiva que a lei tem em vista atingir e que
por conseguinte deve suportar o valor ou desfalque patrimonial que os impostos
acarretam.
O Contribuinte pode ser de dois tipos:
Contribuinte de direito – é o contribuinte em relação ao qual se verifica o
pressuposto de facto do imposto
Contribuinte de facto – (Paga mas o imposto não é dele) os contribuintes
que em virtude da repercussão do imposto suportam economicamente o imposto. A
repercussão é a regra dos impostos sobre o consumo. Exemplo: imposto de selo, fala-se
em repercussão legal.
Devedor de imposto – (Aquele que paga) é o sujeito passivo em sentido
restrito que deve satisfazer perante o credor fiscal a obrigação principal do imposto, isto
é, cumprir a prestação ou prestações em que o imposto se concretize. (Relação Jurídica
em sentido amplo)
Em sentido restrito limitar-se-ia ao devedor principal ou originário aquele em relação ao
qual o fisco exige em princípio, em primeira linha, a satisfação do crédito do imposto.
Relação Jurídica em sentido restrito, é o devedor originário, no caso do devedor
originário não ter dinheiro ou património quem fica responsável pela divida são os
responsáveis fiscais
Cabe aos responsáveis fiscais nomearem o devedor subsidiário para o pagamento da
divida. O devedor subsidiário é o que substitui o devedor originário.
4.3-Responsabilidades fiscais

23
Em sentido mais amplo o devedor do imposto abrange também os chamados devedores
indirectos derivados ou acessórios aos quais o fisco exige excepcionalmente ou em 2º
linha o credito do imposto. Responsabilidades fiscais
Em sentido mais amplo o devedor do imposto abrange também os chamados devedores
indirectos derivados ou acessórios aos quais o fisco exige excepcionalmente ou em 2º
linha o credito do imposto.
Devedor principal ou originário
Devedor em sentido amplo (derivado ou acessório)
Sujeito passivo – é toda e qualquer pessoa (singular ou colectiva) a quem a
lei impõe o dever de efectuar uma prestação tributária (prestação principal (pagar
imposto) ou prestação acessória). Sendo o devedor do imposto um qualificado sujeito
passivo não admira que por vezes não coincidem.
Exemplo de situações em que surge:
- Sociedades transparentes (art. 6º e 12º CIRC). Aqui os sujeitos passivos
de IRC são as sociedades, porem os devedores de um imposto são os
sócios. Em termos jurídicos sujeito passivo da relação jurídica tributária
está nos art. 18 nº3 e 4 LGT.
Devedor em sentido amplo (derivado ou acessório)
Sujeito passivo – é toda e qualquer pessoa (singular ou colectiva) a quem a
lei impõe o dever de efectuar uma prestação tributária (prestação principal (pagar
imposto) ou prestação acessória). Sendo o devedor do imposto um qualificado sujeito
passivo não admira que por vezes não coincidem.
Exemplo de situações em que surge:
- Sociedades transparentes ,Aqui os sujeitos passivos
são as sociedades, porem os devedores de um imposto são os
sócios.
.
O conceito de sujeito passivo que esta patente na lei é um
conceito demasiado restrito identificando-o com o devedor de imposto. Há também uma
falta de harmonização consagrar o conceito amplo de contribuinte integrando os
substitutos e responsáveis o que é rejeitado claramente pela lei.
Sujeito passivo em sentido amplo- Sujeito Passivo em sentido
restrito ou devedor em sentido amplo e demais obrigados
tributários ; Devedor de imposto- em sentido restrito ou contribuinte directo
Outros devedores de imposto: Substitutos Responsáveis e Outros

4.5 PERSONALIDADE TRIBUTÁRIA OU CAPACIDADE DE GOZO


TRIBUTÁRIA

Traduz-se na susceptibilidade de ser sujeito (activo ou passivo) de relações tributárias,


sendo inerente à personalidade tributária a capacidade tributária de gozo ou seja a
qualidade de ser titular dos direitos e deveres tributários correspondentes.
- Capacidade tributária de exercício (ou de agir):
É a medida de por si só cada sujeito exercer os seus direitos e cumprir os seus deveres.
Podemos dizer:
Em princípio serão sujeitos passivos das relações jurídicas tributárias os
detentores de personalidade tributária. Só assim, não serão quando a lei fiscal diga o
contrario e há algumas situações destas, porém , em alguns casos a lei considera sujeitos
tributários, entidades desprovidas de

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personalidade tributária por ex: Pessoas colectivas em relação as quais seja declarada a
sua invalidade. (Houve actos que levaram à sua nulidade)
Aquilo que praticou até à sua invalidade tem de assumir a responsabilidade
;As associações e sociedades civis sem personalidade jurídica.
Não tem personalidade tributária mas é sujeito passivo de imposto.
3. As sociedades comerciais ou civis sobre forma comercial
anteriores ao registo definitivo.
4. As sucursais, as filiais, agências e delegações são também
consideradas sujeitos passivos.
5. A herança jacente dá-se quando alguém falece sem deixar
herdeiros nem testamento → O sucessor é o Estado. Enquanto
não for para o Estado a herança assume as obrigações fiscais
da mesma.
Relativamente à capacidade tributária de exercício (de agir) nem todos os
sujeitos tributários a têm.
São exemplo disso: • Os menores • Os interditos • Os inabilitados
Estão previstos nos art……. e o seu suprimento (modo de
ultrapassar) verifica-se com o instituto jurídico da representação legal que o Direito Fiscal
manda aplicar as regras do Direito Civil.

4.6 A REPRESENTAÇÃO LEGAL, MANDATO TRIBUTÁRIO E GESTÃO DE


NEGÓCIOS.

Representação legal

No caso de incapacidade de exercício ou de agir (menores, interditos e


inabilitados) essa incapacidade é suprida também aqui pelos representantes legais (pais,
tutores ou curadores). (Pessoa nomeada pelo tribunal)
Os não residentes têm de dispor de representante legal.
O representante legal tanto pode ser uma pessoa singular como uma pessoa
colectiva sendo necessário que tenha residência (pessoa singular), sede ou direcção
efectiva (pessoa colectiva) em território angolano
1. Representação voluntária concretizada através de um mandato fiscal
(Depende da vontade das partes).Aqui, esta representação é promovida por vontade de
quem a confere através do contrato de mandato. Nos termos do o mandato tributário é
vide CGT.

3.Gestão de negócios , o o gestor de negócios está prevista no art.


CGT. Aqui a responsabilidade é solidária ou seja o gestor de negócios pode responder
solidariamente com quem lhe conferiu esse poder. É necessário distinguir o gestor de
negócios dos não residentes, do mero representante legal dado que este tem como função
a garantia do cumprimento das obrigações acessórias previstas por lei .

4.7 A REPRESENTAÇÃO FISCAL

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No que diz respeito à representação fiscal verificaram-se alterações relativamente à
representação de não residentes e dos residentes ausentes do país, à representação dos
patrimónios autónomos e organizações de facto e, bem assim, quanto à gestão de
negócios. Assim, e relativamente aos não residentes, sempre que estes desenvolvam uma
actividade económica em Angola, estão obrigados à nomeação de um representante
fiscal, excepto se forem tributados, exclusivamente, por retenção na fonte. Por sua vez, é
também obrigatória a nomeação de representação nos casos em que os sujeitos passivos
residentes se ausentem do país por mais de 180 dias corridos. Relativamente aos
patrimónios autónomos, a obrigação de imposto é de cada um dos contitulares ou
participantes, atendendo às respectivas quotas-partes. Porém, os mesmos podem ser
representados por quem tiver sido designado no âmbito dos estatutos ou, caso isso não se
verifique, por quem tiver sido nomeado pelos membros, sob pena de ser a
Administração tributária a designar o seu representante.
Relativamente à gestão de negócios prevê-se que os actos em matéria tributária, podem
ser praticados por gestor de negócios. Não
obstante, a gestão de negócios só será válida se for aprovada pelo beneficiário, caso
contrário, o gestor de negócios deverá assumir os direitos e deveres do sujeito passivo da
obrigação tributária.

4.8 O DOMICÍLIO FISCAL

Entende-se por domicílio e residência fiscal, sendo que, no caso das pessoas singulares, o
domicílio fiscal é o lugar da sua residência habitual, considerando-se assim, residente em
Angola aquele que dispuser, em 31 de Dezembro de cada ano, uma habitação que tenha
intenção de manter e ocupar como residência habitua quem, permanecer em Angola
mais de 183, dias seguidos ou interpolados. No caso de um contribuinte ter mais do que
uma residência habitual, considera-se domiciliado naquela em que repute ter residência
habitual ou que é o centro mais importante dos seus interesses.
Relativamente aos não residentes que aufiram rendimentos pelo exercício regular ou
ocasional de uma actividade tributável e que possuam bens em Angola, são considerados
domiciliados na residência ocasional, isto é, no local de permanência por período de 60
dias, salvo os casos em que tenham nomeado representante fiscal, sendo a residência
habitual deste o local em que os não residentes se consideram domiciliados. Por seu
lado, no que diz respeito às pessoas colectivas, uma das alterações relevantes reporta-se à
clarificação das situações que configuram um estabelecimento estável.
Neste sentido, considera-se que o facto de uma sociedade residente em território nacional
controlar ou ser controlada por uma sociedade residente ou que exerça sua actividade em
qualquer outro Estado, não é, só por si, bastante para fazer de qualquer dessas sociedades
estabelecimento estável da outra. Atendendo ao cumprimento mais eficiente das
obrigações acessórias previstas na lei, a Administração tributária pode fixar,
oficiosamente, ou mediante requerimento dos interessados, o domicilio ou residência
especial. Nas situações em que o contribuinte pretende alterar a morada, deve comunicá-
la à repartição fiscal ou ao serviço local, no prazo de 30 dias, sob pena de ser aplicada
uma multa e, bem assim, de a mudança de residência ou domicilio não comunicada ser
considerada ineficaz.

OS JUROS

No âmbito da introdução de um novo capítulo referente ao objecto da obrigação


tributária, é esclarecido que tal obrigação compreende: i) o crédito e divida tributários, ii)

26
os juros compensatórios, iii) os juros de mora; iv) os juros indemnizatórios, e, v) o direito
a dedução, reembolso ou restituição do imposto.
Neste panorama, é densificado o regime aplicado aos juros compensatórios,
indemnizatórios e de mora.
Relativamente aos juros compensatórios, que são devidos sempre que, por facto
imputável ao contribuinte, for retardada a liquidação verificou-se a diminuição da taxa
fixada de 2,5% para 1% ao mês.
Quanto aos juros de mora são aplicados sempre que uma prestação ou a totalidade de
uma dívida tributaria não for paga – uma vez
liquidado o tributo –, sendo a taxa aplicável também de 1% ao mês, que poderá ser
reduzida em 50%, caso a dívida seja voluntariamente paga nos primeiros 5 dias úteis após
a data vencimento da obrigação.
Por fim, quanto aos juros indemnizatórios, são devidos sempre que se determine que
houve erro imputável aos serviços e do qual resulte o
pagamento de uma dívida tributária em montante superior ao legalmente devido e, bem
assim, nos casos em que o imposto não tiver sido reembolsado ou restituído ao
contribuinte, no prazo de 60 dias, a contar do acto que procedeu ao reconhecimento do
direito à sua anulação, mormente em caso de
decaimento da Administração fiscal em reclamações ou impugnações. O exercício do
direito a juros indemnizatórios deverá ocorrer no momento da apresentação das
respectivas acções judiciais ou
contenciosas, sendo a taxa aplicável, de 4% ao
ano (muito embora, sejam contados dia a dia).

CAPITULO V-

5.1 O CUMPRIMENTO E A COMPENSAÇÃO

No capítulo da extinção da prestação tributária o legislador procedeu a alterações no que


diz respeito ao pagamento do imposto em espécie, dação em cumprimento e
compensação. O novo Código passa a prever, agora, também, a possibilidade do
pagamento da prestação tributária em espécie, nos casos previstos na lei.
Desde logo, é prevista a possibilidade de extinção da obrigação tributária, mediante dação
em cumprimento, que, no entanto, só pode ser efectuada em processo de execução fiscal,
mediante requerimento do executado.
Porém, para que a dação em cumprimento requerida seja aceite, a lei estabelece que é
necessário que o Estado tenha superior interesse na aquisição dos bens oferecidos. Por
fim, quanto à extinção pela compensação de dívidas tributárias, prevê-se que a obrigação
tributária se possa extinguir
mediante requerimento do contribuinte, solicitando a compensação com um crédito que
detenha sobre qualquer imposto, desde que seja reconhecido pela Administração
tributária. Nos processos de execução fiscal, a Administração tributária pode,
oficiosamente, efectuar a compensação. A compensação de créditos tributários por
dívidas não tributárias, porém, só é admissível nos casos previstos expressamente na lei

5.2 A CADUCIDADE E A PRESCRIÇÃO

O Código Geral Tributário passa também, a prever regimes de caducidade e de


prescrição específicos.
No que diz respeito à caducidade, prevê que um tributo só possa ser liquidado nos 5
anos seguintes àquele a que a matéria colectável respeite. Porém, o prazo de caducidade

27
poderá ser de 10 anos, sempre que o retardamento da liquidação resulte de infracção.
Tendo em consideração o prazo geral fixado, o CGT refere, ainda, que as entidade que
exerçam qualquer actividade empresarial, comercial ou profissional em Angola, devem
conservar todos os documentos e registos referentes às operações efectuadas nos últimos
5 anos. No que se refere à prescrição, o novo Código estabelece um prazo de prescrição
de 10 anos, sendo que, anteriormente, o prazo era de 20 anos e, que começa a contar, a
partir da data da notificação da liquidação. Todavia, este prazo suspende-se com a
citação, a reclamação, a impugnação e o recurso de qualquer acto administrativo de que a
liquidação dependa, bem como, por diversas outras causas, melhor elencadas no
presente Código.
A prescrição é de conhecimento oficioso, por parte da Repartição Fiscal ou serviço local
equiparado para promover o processo de execução fiscal, e, bem assim, pelo Tribunal.
De novo, importa referir que o prazo de prescrição a que se refere o novo Código é
aplicável aos tributos em dívida no momento da sua entrada em vigor, excepto nos casos
em que falte menos tempo para o prazo anterior terminar, caso em que se mantem
aplicável o prazo anterior.

5.3 A APLICAÇÃO NO TEMPO - CONFLITOS DAS LEIS FISCAIS NO TEMPO

O Conflitos das leis fiscais no tempo dá-se quando perante uma questão concreta há mais
do que uma lei que se lhe aplique. Existe aqui a sucessão de dois ou mais regimes
jurídicos diferentes para uma mesma situação concreta.
Qual o regime jurídico que se aplica?

Se a questão controversa (que se quer decidir) tratar de direito fiscal essencial (elementos
essenciais do imposto – art. 102 nº 2 CRA) (Incidência, taxa, benefícios e garantias) a
regra é a da não retroactividade da lei fiscal, ou seja, aplica-se em cada momento a lei que
vigorava ao tempo da ocorrência do facto (aplica-se a lei que estava em vigor quando
aconteceu o facto).
Se a questão controversa não versar sobre o direito fiscal essencial as regras a observar
são:
A) As normas relativas a prazos, formalidades, etc. – A lei nova é de
aplicação imediata, na mediada em que contenha um tratamento mais favorável ao
contribuinte.

B) Leis fiscais interpretativas – Aqui a nova lei (lei interpretativa)


retroage à data da lei interpretada com o limite constitucional do efeito do caso
julgado

C) Leis penais – Se a lei nova deixar de considerar infracção (despenalizar) factos


punidos pela a lei anterior, é de aplicação retroactiva.
D) Normas processuais:
1) De competência – Aplicação imediata mesmo às causas pendentes.
2) De formalismo – Aplicação imediata a não ser que tal aplicação
acarrete a invalidade de actos já praticados.
3) Quanto às provas – Aplica-se a lei nova
4) Quanto aos recursos – Aplica-se a lei nova
5) Quanto aos prazos – aplica-se a lei nova que alongue os prazos

28
Contudo , no que diz respeito à aplicação da lei no tempo, o legislador vem concretizar o
princípio da proibição da retroactividade fiscal.
É estabelecido que as normas só dispõem para o futuro, pelo que a criação de impostos,
a ampliação de normas de incidência tributária, o agravamento de taxas ou a revogação
de benefícios fiscais, não podem ser alvo de aplicação retroactiva, excepto se houver
fundamento em ilegalidade.
Todavia, é admitida a aplicação retroactiva sempre que as normas sejam mais favoráveis
ao contribuinte e, bem assim, no caso de normas referentes a procedimento e processo
tributário.

5.4. APLICAÇÃO DA LEI NO ESPAÇO

Por outro lado, e relativamente à aplicação da lei fiscal no espaço, o Código Geral
Tributário considera que as normas tributárias se aplicam aos factos tributários ocorridos
em território nacional angolano, salvo disposição em contrário no direito internacional.
. Por território português entendemos (art. 5º CRA):
- Território terrestre
- Território aéreo
- Território marítimo (compreendendo a zona económica exclusiva)
- As embaixadas

CAPITULO VI

6.1 AS GARANTIAS DAS OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS

No capítulo referente às garantias das obrigações tributárias em geral, houve alterações no


âmbito da suspensão da cobrança da prestação tributária, pelo que, se prevê que a
cobrança da prestação tributária e das multas resultantes de transgressão fiscal se possa
suspender, mediante a prestação de garantia idónea, na pendência de contencioso
administrativo ou judicial, ou pagamento em prestações autorizado. Por outro lado,
verificou-se um alargamento das garantias pessoais admitidas, nomeadamente, com o
aditamento de normas sobre i) responsabilidade dos sócios de sociedade de
responsabilidade ilimitada, ii)responsabilidade do substituto tributário, e, iii)
responsabilidade dos gestores de bens ou
direitos de não residentes.

6.2 OS PRINCÍPIOS PROCEDIMENTAIS

No âmbito da reforma, foi aditado o princípio nos termos do qual a Administração


tributária tem o dever de decisão em tempo útil. De acordo com o que decorre deste
dever, a Administração está obrigada a pronunciar-se, em tempo útil, sobre todos os
assuntos da sua competência, que lhe sejam apresentados pelos contribuintes.
Excepcionalmente, a administraçãotributária, não está obrigada nos casos em que já se
tiver pronunciado há menos de dois anos sobre pedido com mesmo autor, objecto e
fundamentos e, bem assim, quando o acto já não é susceptível de modificação ou
revogação.
Por outro lado, foi aditado um dever de colaboração entre a Administração tributária e os
contribuintes. Assim, a Administração devecolaborar com os contribuintes mediante
aprestação de informações necessárias, o

29
esclarecimento de dúvidas fundadas, e a emissão de certidões sobre actos e termos do
procedimento, no prazo de 10 dias, ou num prazo inferior mediante o pagamento de taxa
de urgência.
Quanto ao contribuinte, o dever de colaboração com a Administração tributária deriva do
cumprimento dos deveres fiscais acessórios a que estes, legalmente, estão obrigados e a
prestação de esclarecimentos quando legalmente solicitado. Por outro lado, prevê-se,
também, que os contribuintes e seus representantes devem ser ouvidos, previamente, à
conclusão do procedimento tributário quando a decisão lhes for desfavorável. Este direito
de audição deve ser exercido no prazo de 15 dias, de forma escrita ou presencial.
Por fim, é previsto também, o dever de confidencialidade e sigilo. Todos os
funcionários, ou aqueles que prestem serviço à Administração tributária, estão sujeitos,
obrigatoriamente, ao dever de confidencialidade e sigilo, durante e após o exercício das
suas funções, relativamente aos dados recolhidos referentes à situação tributária dos
contribuintes.
O dever de confidencialidade e sigilo cessa, apenas, quando o contribuinte autorizar, por
escrito, a revelação dos dados referidos e, bem
assim, não prevalece sobre os deveres especiais de colaboração e de informação
daAdministração tributária.

6.3 A DENÚNCIA
Relativamente ao procedimento tributário, passa a ser possível o seu início com
fundamento em denúncia, desde que o denunciante se identifique e não seja manifesta a
improcedência da denúncia.
6.4 OS PRAZOS
No que diz respeito aos prazos, no âmbito do procedimento tributário, os princípios que
deverão reger, prendem-se com a celeridade e simplicidade que devem ser garantidas,
rejeitando-se, assim, tudo o que for impertinente ou dilatório para o andamento do
processo.
Neste sentido, foi fixado que o prazo de conclusão do procedimento tributário é de 90
dias, sob pena de estar em causa a omissão do dever de decisão e fundamento para
recurso hierárquico necessário ou impugnação judicial. Quanto aos actos interlocutórios
do procedimento devem ser praticados no prazo de 10 dias sendo que, os actos a praticar
pela Administração tributária devem verificar-se no prazo de 15 dias.

6.5 DEVER DE FUNDAMENTAÇÃO


O novo Código prevê, agora, expressamente,que a decisão deva ser sempre
fundamentada por meio de exposição das razões, de facto e de direito, que a justificaram,
devendo ser notificada aos contribuintes juntamente com a
decisão. No entanto, é admissível, também, uma fundamentação sumária, com indicação
das disposições legais aplicáveis e das operações necessárias ao cálculo da liquidação.

6.5.1 AS NOTIFICAÇÕES
Relativamente às notificações, considera-se que os actos tributários só são eficazes quando
notificados aos interessados. Todavia, prevê-se que, quando a notificação não contenha a
fundamentação da decisão, os meios de defesa do contribuinte ou outros elementos
relevantes, pode o contribuinte requerer a indicação dos elementos omitidos na
notificação ou a emissão de certidão, no prazo de 30 dias.

A PROVA
No procedimento tributário podem ser utilizados todos os meios de prova admissíveis
em direito, pelo que se prevê, agora, que o ónus da prova no procedimento tributário é

30
de quem invoque os factos constitutivos de direitos. Assim sendo, em regra, e a título de
exemplo, a Administração tributária tem o ónus de provar a existência de um rendimento
e o contribuinte o ónus de provar a existência de um custo.

6.5.2 AS INFORMAÇÕES VINCULATIVAS E NÃO


VINCULATIVAS
O regime das informações prestadas pela Administração tributária é também
reformulado. De acordo com o novo regime, o contribuinte
pode exercer o direito à informação, independentemente, da instauração ou não, de
qualquer procedimento. Neste sentido, a Administração tributária pode prestar
informações vinculativas e não vinculativas.
Relativamente às informações não vinculativas, embora não vinculem a
Administração tributária, sempre que estejam erradas, poderão responsabilizar o Estado.
Quanto às informações vinculativas prestadas pela Administração tributária, as mesmas
vinculam a Administração para o futuro, devendo atender à concreta situação tributária
do contribuinte, sempre que solicitada por escrito.
A Administração tributária deverá responder a estes pedidos de informação no prazo de
30dias, prorrogáveis por igual período, sempre
que se justifique. Na sequência da informação vinculativa prestada, não é admissível a sua
contestação administrativa e judicial.

6.6 SUBSTITUIÇÃO DA AUTOLIQUIDAÇÃO


O novo Código prevê a possibilidade de apresentar uma declaração de substituição de
autoliquidação até ao termo do prazo de caducidade, quando, desta substituição, resulte o
pagamento de imposto de valor superior ao inicialmente autoliquidado ou matéria
colectável negativa inferior à inicialmente apurada. Por sua vez, nos casos em que da
apresentação de declaração de substituição resulte tributo igual ou inferior ao
inicialmente autoliquidado ou matéria colectável negativa superior à inicialmente auto
liquidada, a declaração de autoliquidação pode ser substituída até ao termo do ano
posterior ao da sua apresentação.
Tal não obsta à eventual existência de responsabilidade penal ou contra-ordenacional.

6.6.1 A COMPENSAÇÃO
Nos casos em que haja imposto entregue em excesso, pelo substituto tributário e sempre
que o erro seja evidente na sua contabilidade ou escrita, é deduzido nas entregas seguintes
das retenções relativas ao mesmo ano e imposto.
6.6.2 A REVISÃO OFICIOSA
O novo Código prevê ainda que, quando naliquidação oficiosa se verificar que
foramcometidos erros de facto ou de direito, ou quehouve omissões de que resultou
prejuízo paracontribuinte, a Repartição fiscal competenteou serviço local equiparado
deve corrigiroficiosamente esse erro, anulando as referidasliquidações.
6.6.3A RECLAMAÇÃO ADMINISTRATIVA
O regime da reclamação administrativa foi também alvo de revisão. O legislador
consagrou a possibilidade de o contribuinte, caso pretenda discutir a legalidade do acto
tributário, apresentar reclamação, excepto se
já tiver sido deduzida impugnação judicial. A novidade prende-se com os prazos
estabelecidos para esta reclamação administrativa que, nos termos do novo código deve,
em regra, ser apresentada no prazo de 15 dias (sem distinção consoante o Imposto de
que se trate), contados a partir i) da

31
notificação, pela Administração tributária, referente à recusa da confirmação de nova
declaração, ii) do termo do prazo legal da última entrega do ano a que respeita a
prestação tributária reclamada, caso seja
retenção na fonte ou quando a prestação tributária reclamada é repercutida a terceirose,
iii) da notificação de qualquer outro acto desfavorável ao contribuinte. Todavia, se o
fundamento da reclamação for a nulidade ou inexistência do acto reclamado, a
reclamação pode ser apresentada no prazo de 90 dias a contar do pagamento indevido da
prestação tributária.

os benefícios fiscais não automáticos


No que se refere ao reconhecimento e manutenção dos benefícios fiscais, considera-se
que o reconhecimento de benefícios fiscais não automáticos depende de requerimento
dos interessados, dos quais conste a prova do benefício fiscal cujo reconhecimento se
pretende.

Quanto à manutenção dos benefícios fiscais não automáticos, deve ser submetido à
Administração tributária, dentro do prazo geral de liquidação. Por fim, quanto à
revogação dos referidos benefícios fiscais, deve ser comunicada a cessação à
Administração tributária, no prazo de 30 dias, sob pena de o contribuinte ter de pagar o
imposto devido, acrescido de multa.

o recurso hierárquico
O legislador estabelece que é admitido recurso hierárquico da decisão final do
procedimento, dirigido ao órgão de escalão superior da Administração tributária e
apresentado junto do autor do acto recorrido no prazo de 15 dias a contar da data da
notificação da decisão. Posteriormente, no prazo de 10 dias, o autor do acto recorrido
deve remeter ao órgão de escalão superior o processo respeitante ao recurso hierárquico,
prazo durante o qual ainda pode revogar o acto recorrido.
O recurso hierárquico deve ser decidido no prazo máximo de 45 dias e tem natureza
facultativa e efeito meramente devolutivo.

Inspecções tributárias

O novo Código estabelece alguns limites no que diz respeito ao âmbito temporal das
acções de inspecção tributária e, bem assim,
ao seu âmbito objectivo. Com efeito, em regra, o procedimento inspectivo apenas poderá
ocorrer uma vez, relativamente ao mesmo sujeito passivo,
obrigação tributário, imposto e período de tributação. Excepcionalmente, pode ser
efectuado mais do que uma acção de inspecção, mediante decisão fundamentada em
factos novos do dirigente máximo dos serviços que o ordene. Por sua vez, no que diz
respeito aos poderes dos órgãos competentes da inspecção tributária, o legislador
estabelece que a recusa ao exercício dos poderes inspectivos é legítima, sempre que as
diligências de
inspecção impliquem o acesso a espaço habitacional do contribuinte, a violação do
segredo bancário, ou o acesso a factos da vida íntima dos cidadãos.

6.7 AS INFRACÇÕES TRIBUTÁRIAS

Tal como se verificou quanto aos benefíciosfiscais, o novo Código Geral Tributário
criouum capítulo, autónomo, relativo a infracçõestributárias.

32
Relativamente às alterações relevantesintroduzidas importa, desde logo, salientar
oaumento dos limites máximos das penas emínimos para as infracções
tributáriaspraticadas por pessoas colectivas ou entidades equiparadas, que foram
elevadospara o dobro.
Por sua vez, foi estabelecida uma coima para o não pagamento de qualquer prestação ou
da totalidade do tributo, dentro do prazo legalmente previsto, equivalente a 35% do
tributo em falta, com o mínimo
Correspondente a K z 5.000,00. No que diz respeito à aplicação das penas, o
novo Código introduz algumas situações de redução de multas.
Desde logo, são reduzidas para 30% do montante mínimo aplicável, as multas pagas,
espontaneamente, pelo infractor, desde que não esteja em causa um crime tributário, ou,
sempre que seja o infractor a comunicar a
infracção ou solicitar a regularização da situação tributária.
Por outro lado, as multas são reduzidas para 20% do montante mínimo aplicável, sempre
que das multas lavradas em auto de notícia, na
sequência de acção de inspecção, o infractor proceda à sua regularização no prazo de 15
dias, do imposto em falta, da multa, e outros encargos.
Ainda no que diz respeito às alterações referentes às reduções de multas, considera-se
que deverão ser liquidadas pelo montante mínimo, sempre que o infractor proceder à
regularização da sua situação tributária no
respectivo prazo de defesa. Paralelamente, e ainda no que diz respeito ao
capítulo das infracções tributárias, o legislador promoveu à criação de diversos crimes
tributários específicos, designadamente: i) o de fraude fiscal, ii) fraude fiscal qualificada,
iii) fraude contra a segurança social, iv) fraude no transporte de mercadores em regime
suspensivo, v) fraude às garantias fiscais aduaneiras, vi) fraude fiscal aduaneira, vii)
frustração de créditos, viii) abuso de confiança fiscal, ix) violação do sigilo fiscal;
adulteração do sistema informático da administração tributária, xi) obstrução à acção dos
funcionários, xii) usurpação das funções de funcionário tributário, xiii) contrabando de
importação e exportação, xiv) contrabando de circulação, xv) contrabando qualificado,
xvi)
O legislador tipificou, ainda, as seguintes transgressões tributárias: i) não entrega
negligente de prestação, ii) não entrega de documento, iii) inexistência, inexactidão,
omissões ou outras irregularidades, iv) falta de
exibição pública de documentos comprovativos do pagamento do imposto, e v)
incumprimento de outros deveres acessórios.
Foi também agravada a punição dos funcionários e agentes da Administração tributária
que pratiquem ou ajudem a praticar infracções, mediante prerrogativas oficiais, que são,
nesta situação, punidos como crimes.
Por fim, prevê-se, ainda, que os peritos de contabilidade, consultoria e auditoria que
actuem em representação da Administração tributária sejam punidos com multa, caso
não cumpram os deveres legais ou contratuais a
que estão obrigados, podendo a multa ser elevada para o dobro se estiver em causa um
acto doloso. Trata-se, assim, de um Código moderno, que
rivaliza com outros códigos europeus e que pode potenciar as garantias dos contribuintes,
mormente se puder ser aplicado sem outros constrangimentos pela Administração
tributação e pelos tribunais.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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