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UNIVERSIDADE GREGÓRIO SEMEDO / FCJP / DIREITO FISCAL / 3.

º ANO / 2020

PARTE I – ASPECTOS GERAIS DO IMPOSTO

1. O Direito Fiscal enquanto disciplina jurídica. Direito Financeiro, Direito Tributário e


Direito Fiscal.

Bibliografia: JOSÉ CASALTA NABAIS, Direito Fiscal, 6.ª ed., Almedina, Coimbra, 2011, pp. 3-10; JÓNATAS
E. M. MACHADO/PAULO NOGUEIRA DA COSTA/OSVALDO MACAIA, Direito Fiscal Angolano Segundo a
Reforma de 2014, Coimbra Editora, Coimbra, 2015, pp.11-15; ELISA RANGEL NUNES, Lições de Finanças
Públicas e de Direito Financeiro, 5.ª ed., Luanda, 2014, pp. 71-74; J. L. SALDANHA SANCHES/JOÃO
TABORDA DA GAMA, Manual de Direito Fiscal Angolano, Coimbra Editora, Coimbra, 2010, pp. 15-21;
SOARES MARTÍNEZ, Direito Fiscal, 9.ª ed., Almedina, Coimbra, 1997, pp. 22-25.

O Direito Fiscal enquanto disciplina jurídica. O conceito de Direito Fiscal como o


conjunto de normas jurídicas que disciplina os impostos. O Direito Fiscal como «Direito
dos Impostos». O imposto como receita pública. O Estado angolano configura-se como um
Estado fiscal ou um Estado patrimonial? A caracterização como Estado fiscal-patrimonial
pela doutrina (cfr. JÓNATAS E. M. MACHADO/PAULO NOGUEIRA DA COSTA/OSVALDO
MACAIA, p. 11) Algumas notas sobre a reforma fiscal angolana. Os três tipos de receitas
públicas: 1) patrimoniais; 2) creditícias; 3) tributárias (impostos, taxas e contribuições
especiais). O imposto como uma receita tributária. As receitas tributárias como receitas
coactivas (quer dizer, estabelecidas por lei) e não como receitas voluntárias. O conceito de
tributo como “prestação coactiva com finalidades financeiras” (cfr. JOAQUIM FREITAS DA
ROCHA, Lições de Procedimento e Processo Tributário, 4.ª ed., Coimbra Editora, Coimbra,
2011, p. 12). Assim, segundo este autor, o que caracteriza o tributo é a sua natureza
coactiva e a sua natureza financeira. Falando da natureza coactiva, exige-se uma
coactividade quanto à origem, ou seja, o tributo é uma receita coactiva porque tem de ser
sempre criado por norma jurídica. E exige-se também uma coactividade quanto à
conformação do conteúdo, significando que o conteúdo do tributo tem de estar
obrigatoriamente previsto na norma. Falando da natureza financeira, destaca-se que o
tributo é uma receita do Estado. Os tributos têm por finalidade satisfazer as necessidades
financeiras do Estado. Há receitas que o Estado tem que não têm finalidade financeira,
como é o caso das multas. O que distingue o tributo de uma multa não é a sua natureza
coactiva. Isto porque ambos, tributo e multa, têm natureza coactiva, ambos são
estabelecidos por lei. Diferem no seguinte: o tributo tem natureza financeira (a finalidade é
obter receita) ao passo que a multa tem natureza sancionatória (a finalidade é repressiva;
por isso as multas não integram o direito tributário, fazem parte do direito criminal). [Cfr.
JOAQUIM FREITAS DA ROCHA, cit., pp. 12-13]. Sublinhe-se na definição de tributo trazida
pelo artigo 2.º, n.º 1, alínea z), do CGT a seguinte passagem: «sem carácter de sanção».

Esquema:

Direito Fiscal => imposto => receita pública => receita tributária / tributo => receita
coactiva ou estabelecida por lei => com finalidade financeira e não sancionatória

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A actividade financeira como actividade instrumental. O imposto como um instrumento


financeiro.
O imposto como uma das espécies de tributo. O Direito Fiscal como um sub-ramo do
Direito Tributário. O conceito de Direito Tributário como o conjunto de normas jurídicas
que disciplina os tributos (sendo três os tipos de tributo: impostos, taxas e contribuições
especiais – vide art. 2.º, n.º 1, alínea z), e art. 3.º, n.º 4, do CGT). O Direito Tributário
como um sub-ramo do Direito Financeiro. O Direito Financeiro (ou Direito Financeiro
Público) como um sector mais abrangente enquanto conjunto de normas jurídicas que
regulam a obtenção, a gestão, o dispêndio e o controlo dos meios financeiros públicos
(ELISA RANGEL NUNES, p. 71). Ou, por outras palavras, o Direito Financeiro é o conjunto
de normas jurídicas que disciplinam a actividade financeira do Estado e demais entes
públicos. Integram o Direito Financeiro três grandes sectores: o Direito das Receitas
Públicas, o Direito das Despesas Públicas e o Direito da Administração Financeira. O
Direito das Receitas Públicas inclui o Direito das Receitas Patrimoniais, o Direito do
Crédito Público e o Direito Tributário. Por sua vez, o Direito Tributário abrange o Direito
Fiscal e o Direito das Taxas e das Contribuições. (Cfr. JOSÉ CASALTA NABAIS, pp. 4-6).
Conclusão: O Direito Fiscal como sub-ramo do Direito Tributário e o Direito Tributário
como sub-ramo do Direito Financeiro.
O Direito Fiscal como disciplina que integra as ciências jurídico-económicas.

Texto para reflexão:


“O Direito dos Impostos, Direito Tributário, ou Direito Fiscal, é o ramo do Direito
Financeiro que corresponde à insuficiência do património e do domínio para suportarem as
despesas crescentes das comunidades políticas. É, assim, logicamente supletório, no
sentido de que visa a preencher aquela insuficiência.
(...)
Parece preferível limitar o Direito Tributário à disciplina dos impostos. A expressão
tributo acompanhou geralmente a ideia de imposto, de exigência que, em concreto, não
tem contraprestação; não se identificou com a ideia de custo da utilização de determinados
serviços. Por vezes, a tendência para incluir no Direito Tributário matérias alheias aos
impostos provém da dificuldade de distingui-los com nitidez de outras figuras, dificuldade
para a qual os legisladores com frequência contribuem. A expressão «taxa», por exemplo, é
empregada, em muitos casos, na legislação, para designar realidades cuja natureza de
impostos não oferece dúvidas. Foi o caso da chamada «taxa militar». Essa falta de
destrinça nítida de conceitos por parte dos legisladores contribuiu para incluir no Direito
Tributário categorias diversas do imposto. (...) A terminologia anglo-saxónica tem tornado,
por vezes, ainda mais confusa a terminologia nesta matéria, porquanto a expressão inglesa
«tax» tem o significado de imposto.
Poder-se-ia, indo ao encontro da doutrina italiana, considerar dentro do Direito das
receitas o Direito Tributário, abrangendo, pelo menos, os impostos, as taxas e as
contribuições especiais, e dentro do Direito Tributário o Direito Fiscal, reservado aos
impostos. Mas não parece que semelhante entendimento ofereça particular interesse, pois
do que se duvida é da utilidade de subordinar a um mesmo tratamento aquelas diversas
categorias financeiras. Preferível será entender que dentro do Direito das receitas

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deparamos com o Direito dos impostos, o Direito das taxas, etc. E tendo o termo tributo
raízes na nossa língua que não o afastam do conceito de imposto, afigura-se legítimo, e até
conveniente, empregar a expressão Direito Tributário com o significado de Direito Fiscal,
ou Direito dos Impostos.
Aliás, a designação Direito Fiscal é menos precisa que a de Direito Tributário ou a de
Direito dos Impostos. Por «fiscus» - do nome de um cesto de vime, onde as moedas
recebidas seriam lançadas, - designou-se em Roma o tesouro do Imperador, por oposição
ao «aerarium», onde se arrecadavam os rendimentos das províncias senatoriais e das
alfândegas. Com o tempo, o «fiscus» acabou por abranger todos os dinheiros públicos; e,
de harmonia com essa tradição, também entre nós as expressões «fisco» e «fiscal» foram
utilizadas com referência a todo o complexo financeiro estadual.
(...)
Destas confusões terminológicas resulta que a expressão Direito Tributário melhor
corresponde à ideia de Direito dos Impostos. Mas esta mesma ideia também se exprime
correntemente entre nós, na legislação como na doutrina, pela expressão Direito Fiscal. E
não se vê inconveniente em que as expressões Direito Tributário, Direito Fiscal e Direito
dos Impostos sejam usadas como sinónimas (...). Observar-se-á, a propósito, que os
vocábulos «imposto» e «tributo» também são sinónimos.” (SOARES MARTÍNEZ, pp. 22-25.)

2. Ordenamento jurídico e ordenamento jurídico-tributário. Os princípios


constitucionais materiais e a lei fiscal.

Bibliografia: JOSÉ CASALTA NABAIS, Direito Fiscal, 6.ª ed., Almedina, Coimbra, 2011, p. 81; SOARES
MARTÍNEZ, Direito Fiscal, 9.ª ed., Almedina, Coimbra, 1997, p. 63.

Ordenamento jurídico e ordenamento jurídico-tributário. O Direito Fiscal como um


sector específico do ordenamento jurídico: o ordenamento jurídico-tributário. O Direito
Fiscal como disciplina jurídico-constitucional dos impostos. A relação entre Direito Fiscal
e Direito Constitucional. SOARES MARTÍNEZ diz que as relações entre o Direito Fiscal e o
Direito Constitucional são tão estreitas que até pode falar-se num Direito Fiscal
Constitucional – “formado por aquelas normas respeitantes à disciplina jurídica dos
impostos que, para garantia de uma relativa imutabilidade e permanência se situam no
plano da legislação constitucional. (...) São normas que estão na base de todo o sistema
jurídico-tributário” (cfr. SOARES MARTÍNEZ, Direito Fiscal, 9.ª ed., Almedina, Coimbra,
1997, p. 63). JOSÉ CASALTA NABAIS explica que as relações entre o Direito Fiscal e o
Direito Constitucional se revelam na chamada “constituição fiscal”. (Cfr. JOSÉ CASALTA
NABAIS, p. 81). O conceito de constituição fiscal como o conjunto de normas e princípios
consagrados na Constituição relativos aos impostos (por exemplo, os artigos 88.º, 101.º,
102.º, 165.º/n.º1/al. o), e 215.º, n.º 2, integram a constituição fiscal). Apresentação dos
princípios constitucionais em matéria de impostos: o princípio da legalidade fiscal (art.
102.º, n.º 1); o princípio da igualdade fiscal (art. 88.º/art. 23.º); o princípio da capacidade
contributiva (art. 88.º/art. 101.º); o princípio da proibição de leis fiscais com efeitos para o
passado (art. 102.º, n.º 2). O princípio da legalidade fiscal e o controlo dos poderes do

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Estado. O princípio da legalidade fiscal como um princípio constitucional formal. O


princípio da capacidade contributiva como um princípio constitucional material. Os
princípios constitucionais materiais e a lei fiscal.
O Direito Fiscal como ramo do direito público.
O sistema fiscal angolano. O conceito de sistema fiscal como o conjunto de impostos
num dado território. O princípio da coerência do sistema tributário.

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Questões: 1) Qual é o objecto do Direito Fiscal? 2) Quais são os dois elementos
essenciais que estão na base da construção de um conceito jurídico de tributo? 3) O que se
entende por «constituição fiscal»?

3. Os momentos da vida do imposto. Incidência, verificação do facto gerador pela


actuação do contribuinte, lançamento, liquidação e cobrança/pagamento.

Bibliografia: JOSÉ CASALTA NABAIS, Direito Fiscal, 6.ª ed., Almedina, Coimbra, 2011, pp. 38-42; JOAQUIM
FREITAS DA ROCHA, Lições de Procedimento e Processo Tributário, 4.ª ed., Coimbra Editora, Coimbra,
2011, pp. 201-205; AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, Impostos. Teoria Geral, 4.ª ed., Almedina, Coimbra,
2014, pp. 69-70 e 93-94; SOARES MARTÍNEZ, Direito Fiscal, 9.ª ed., Almedina, Coimbra, 1997, pp. 126-128;
CREMILDO FÉLIX PACA, Justiça Administrativa, Fiscal e Aduaneira, Luanda, 2017, p. 307 e ss.

Os momentos da vida do imposto: a criação (momento legislativo), a verificação do


facto gerador pela actuação do contribuinte e a aplicação (momento administrativo) do
imposto. Conceitos de incidência, lançamento, liquidação e cobrança. A incidência a
traduzir o momento de criação do imposto (momento legislativo) e o lançamento,
liquidação e cobrança a traduzirem o momento da aplicação do imposto (momento
administrativo). [Cfr. JOSÉ CASALTA NABAIS, pp. 38 e 41]
Conceitos:
1) Incidência: consiste no conjunto de pressupostos definidos em abstracto por lei que
quando verificados fazem nascer a obrigação de imposto e os elementos dessa mesma
obrigação (vide art. 24.º do CGT). A incidência inclui a incidência real ou objectiva
(conjunto de pressupostos que define a realidade sujeita a imposto) e a incidência pessoal
ou subjectiva (conjunto de pressupostos que define o sujeito passivo da obrigação de
imposto). [Cfr. AMÉRICO FERNANDO BRÁS CARLOS, p. 70]
2) Lançamento: consiste no conjunto de actos e operações pelos quais a Administração
Fiscal determina em concreto os elementos da obrigação do imposto (identificação
concreta do contribuinte, determinação em concreto da matéria colectável e da respectiva
taxa de imposto a ser aplicada no caso). [Cfr. SOARES MARTÍNEZ, p. 127]
3) Liquidação: é a quantificação em concreto do imposto a pagar por determinado
contribuinte através da operação de aplicação da taxa do imposto à matéria colectável (ver
o art. 2.º, n.º 1, alínea q) do CGT). Este é o conceito de liquidação em sentido estrito. Mas
o termo “liquidação” também pode ser usado num sentido amplo (liquidação lato sensu), e
aí o termo abrange quer o lançamento, quer a liquidação em sentido estrito, quer eventuais
deduções à colecta (subtracções ao valor do imposto a pagar apurado, vide art. 2.º, alínea f)

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