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FACULDADE DE DIREITO
CURSO DE DOUTORAMENTO
O PLURALISMO JURÍDICO
NA CONSTITUIÇÃ O MOÇAMBICANA
Maputo, 2009
4
ÍNDICE
INTRODUÇÃO...................................................................................................................4
CAPÍTULO I.......................................................................................................................9
O PLURALISMO NA TEORIA GERAL...........................................................................9
1. O pluralismo político...................................................................................................9
2. O pluralismo jurídico no Estado Medieval................................................................12
3. O Estado Moderno: o monismo e o positivismo jurídicos........................................12
4. A crise do paradigma do positivismo jurídico...........................................................16
CAPÍTULO II....................................................................................................................18
O PLURALISMO JURÍDICO NA HISTÓRIA DE MOÇAMBIQUE.............................18
1. O pluralismo jurídico no período colonial.................................................................18
2. O período pós-independência....................................................................................24
2.1. O monismo jurídico na Constituição de 1975....................................................24
2.2. O pluralismo na Constituição de 1990................................................................26
CAPÍTULO III...................................................................................................................28
O PLURALISMO JURÍDICO NA CONSTITUIÇÃO VIGENTE...................................28
1. Considerações gerais.................................................................................................28
2. Objecto e âmbito do princípio pluralismo jurídico....................................................28
3. Os sistemas jurídicos consuetudinários.....................................................................30
CAPÍTULO IV..................................................................................................................33
OS LIMITES AO PRINCÍPIO DO PLURALISMO JURÍDICO......................................33
1. Enunciado geral do problema....................................................................................33
2. Princípios e valores constitucionais...........................................................................34
2.1. Princípios constitucionais...................................................................................34
2.2. Valor, valores do Direito e valores constitucionais............................................36
2.2.1. Noção de valor.............................................................................................36
2.2.2. Os valores do Direito...................................................................................37
2.2.3. Os valores constitucionais...........................................................................39
3. A concretização dos limites ao princípio do pluralismo jurídico..............................41
3.1. O «silêncio dos valores» na Constituição de 2004.............................................41
3.2. Os princípios fundamentais na Constituição de 2004.........................................43
3.3. A interpretação do artigo 4 da Constituição.......................................................50
CONCLUSÃO...................................................................................................................58
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................60
5
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I
O PLURALISMO NA TEORIA GERAL
1. O pluralismo político
1
TORRES DEL MORAL, António Torres, Estado de Derecho y Democracia de Partidos, 2ª ed., Madrid:
Servicio de Publicaciones de la Facultad de Derecho. Univerversidad Complutense, 2004, p. 91.
2
LATAILLADE, Iñigo Cavero e RODRÍGUEZ, Tomás Zamora, Introdución al Derecho Constitucional
(2ª reimp.), Madrid: Editorial Universitas, 2005, p. 30.
3
MOREIRA, Adriano, Ciência Política, 7ª ed. (reimp.), Coimbra: Almedina, 2003, p. 360.
4
WOLKMER, António Carlos, Pluralismo Jurídico: Fundamentos de uma nova cultura mo Direito, 3ª ed.,
São Paulo: Alfa-Ómefa, 2001, p. 27.
5
LATAILLADE e RODRÍGUEZ, ob cit., p. 67.
11
obediência de tipo pessoal, o que tinha como resultado a ausência de um poder único
definido com capacidade de vincular a universalidade dos habitantes de um território6.
Na teoria política as concepções sobre o pluralismo são variáveis, verifica-se,
porém, um denominador comum entre elas, que consiste na concepção de um modelo de
organização da sociedade em que se reconhecem as diferenças e os particularismos que
identificam os vários grupos que compõem uma comunidade, maxime, o Estado, e que
são portadores de interesses próprios que pretendem fazer vingar reclamando que sejam
devidamente atendidos pelo poder político instituído, numa perspectiva de inclusão social
e política.
O pluralismo no contexto do Estado é considerado como um dos mecanismos de
limitação do poder político, porque, segundo BOBBIO, trata-se da «concepção que
propõe como modelo a sociedade composta de vários grupos ou centros do poder, mesmo
que em conflito entre si, aos quais é atribuída a função de limitar, controlar e contrastar,
até ao ponto de eliminar, o centro do poder dominante, historicamente identificado com o
Estado»7.
O pluralismo é igualmente encarado, de acordo com a perspectiva política, em
conexão com a democracia, visto que esta proporciona a todos os grupos e associações,
que procuram exercer influência política ou social, a oportunidade de se constituírem e
concorrerem uns com os outros para conseguirem o acesso ao poder e à influência 8.
MIRANDA considera que o pluralismo político se traduz «na existência e na livre
formação e comunicação de diferentes ideologias e correntes políticas, ou politicamente
relevantes, bem como na possibilidade de organização dos cidadãos para a crítica dos
governantes e para a sua eventual substituição pacífica». Neste sentido, o pluralismo
6
Cfr. GILISSEN, John, Introdução Histórica ao Direito, 4ª ed., Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,
2003, p. 189:- «O feudalismo é caracterizado por um conjunto de instituições das quais as principais são a
vassalagem e o feudo. Nas relações feudo-vassálicas, a vassalagem é o elemento pessoa: o vassalo é um
homem livre comprometido para com o seu senhor por um contrato solene pelo qual se submete ao seu
poder e se obriga a ser-lhe fiel e dar-lhe ajuda e conselho (consiliun auxilim), enquanto o senhor lhe deve
protecção e manutenção». [...] A Europa Ocidental divide-se numa multiplicidade de pequenos senhorios,
na posse de nobres turbulentos, que nenhuma autoridade é capaz de dominar; nenhuma justiça pode
reprimir os seus distúrbios, as suas razias; entre eles a vedetta é a solução normal dos conflitos; a sua força
depende geralmente da dos membros da sua família, do seu clã e da dos seus vassalos”.
7
BOBBIO, Norberto. «Pluralismo», in: Dicionário de Política. Brasília: Editora Universidade de Brasília,
1986, p. 928.
8
ZIPPELIUS, Reinhold, Teoria Geral do Estado, 3ª ed. (portuguesa), Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 1997, p. 297.
12
9
MIRANDA, Jorge, Ciência Política: Formas de Governo, Lisboa: Pedro Ferreira-Editor, 1996, p. 83.
10
BOBBIO, ob. cit., p. 928.
11
Apud BOBBIO, ob. cit., p. 928.
12
BOBBIO, ob. cit., p. 928.
13
Idem, p. 928.
13
14
WOLKMER, ob. cit. p. 28.
15
Ob. cit., p. 67.
16
DALLARI, Dalmo de Abreu, Elementos de Teoria Geral do Estado, 25ª ed., São Paulo: Saraiva, 2005,
p.70. Caracterizando o pluralismo jurídico medieval, Gilissen afirma que o direito ficou restringido às
relações feudo-vassálicas e às relações dos senhores com os servos dos seus domínios, ou seja, a laços de
dependência de homem para homem. Toda a organização estatal desapareceu. Ao mesmo tempo, assiste-se
a uma obediência cultural. O costume é a única fonte do direito laico. Permanece todavia o direito
canónico, o único direito escrito da época, mas rege apenas as relações entre eclesiáticos (privileginum fori)
e alguns domínios, sobretudo o casamento. O costume varia de uma aldeia para a aldeia. Há pois uma
infinidade de costumes locais mais ou menos diferentes uns dos outros. A justiça é feita, a maior parte das
vezes, apelando para Deus, com ajuda de ordáculos ou de duelos judiciários. Em fim, a maior parte das
relações entre os homens, que nascem das convenções próprias das instituições feudo-vassálicas, são
regidas pelo costume que fixam as obrigações de uns e de ouros. (Introdução Histórica ao Direito, ob. cit.,
pp. 190 e 191).
17
MORROW, John, História do Pensamento Político Ocidental, (ed. portuguesa), Mem Martis:
Publicações Europa-América, 2007, p. 270.
14
18
WOLKMER, ob. cit., p. 50. No mesmo sentido, BIGOTTE CHORÃO revela que «um dos mais notáveis
precursores do positivismo inglês é Hobbes (1588-1679). Teórico do Estado absoluto (Estado-Leviatã) e da
omnipotência do legislador, as suas ideias se caracterizam pelo forte acento estatista e legalista (a lei é um
comando do poder soberano, só o Estado pode fazer leis, as leis são justas porque ditadas pelo poder –
autortias non vertias, facit legem – e nada pode considerar-se injusto se não é contrário à lei) e pelo grande
apego à certeza jurídica, maxime no campo penal (nullum crimen, nula poena sine lege)». (Temas
Fundamentais de Direito, Coimbra: Almedina, 1991, p. 154).
19
SCREMIN, Mayra de Sousa, Do Positivismo Jurídico à Teoria Critica do Direito, [em linha], Buscalegis,
Filosofia, http://www.buscalegis.ufsc.br/revistas/index.php/buscalegis/article/viewArticle/25427,consultado
em 26. 6.08., p. 151.
15
20
BIGOTTE CHORÃO, ob. cit., p. 160.
21
Idem, p. 161.
22
Idem, p. 162.
16
23
Idem, pp. 163 e 164.
24
WOLKMER, ob. cit., p. 62 e ss.
17
O positivismo jurídico constitui, ainda hoje, uma realidade, não só nos países da
Europa Ocidental, onde a sua formação iniciou-se a partir do século XVI com a
desagregação do Feudalismo, como também em muitos outros Estados contemporâneos,
nomeadamente os Estados Africanos que emergiram a partir dos processos
descolonização, e que herdaram das antigas metrópoles as concepções positivistas do
Direito ou seguiram outras vias para a construção dos respectivos ordenamentos
jurídicos, vias que supõem o centralismo estatal e o monismo jurídico positivista.
A evolução do monismo jurídico obedece, de acordo com WOLKMER25, a quatro
grandes fases ou ciclos, designadamente a formação, a sistematização; o apogeu e a crise
do paradigma. No âmbito do objecto deste estudo, o último ciclo mostra-se como de
maior interesse, e, de acordo com o mesmo autor, teve seu início entre os anos sessenta e
setenta do século XX e tem-se prolonga até a actualidade26.
A crise do paradigma do monismo e do positivismo jurídicos resulta do facto de
que a estrutura normativista do moderno Direito positivo estatal revela-se ineficaz e não
pode atender mais ao universo complexo e dinâmico das actuais sociedades de massa,
que passam por novas formas de produção de capital, por profundas contradições sociais
e por instabilidades que reflectem crises de legitimidade e crises na produção e aplicação
da justiça.
Na perspectiva de BIGOTTE CHORÃO, a referida crise manifesta-se,
nomeadamente, através dos seguintes factores:
«...a consolidação do movimento favorável aos direitos humanos; a doutrina da
natureza das coisas; o recurso aos princípios gerais do direito; a afirmação da
dimensão valorativa da ciência jurídica [...]; a revalorização da função do juiz e
do papel da jurisprudência; o repúdio do formalismo jurídico; a aceitação da
função directiva e promotora do direito, em detrimento da puramente coactiva e
repressiva, com a consequente primazia das normas primárias»27.
Daí a obrigatoriedade de se propor a discussão sobre a “crise dos paradigmas”,
delimitando o espaço de entendimento da crise na esfera específica do fenómeno jurídico.
Neste sentido, a crise no âmbito do Direito significa o esgotamento e a contradição do
paradigma teórico-prático liberal-individualista que não consegue mais dar respostas aos
25
WOLKMER, ob. cit., p. 49 e ss.
26
Idem, p. 58.
27
BIGOTTE CHORÃO, ob. cit., p. 165; cfr. WOLKMER, ob. cit., p. 66 e ss.
18
novos problemas emergentes, favorecendo, com isso, formas diferenciadas que ainda
carecem de um conhecimento adequado».
19
CAPÍTULO II
O PLURALISMO JURÍDICO NA HISTÓRIA DE MOÇAMBIQUE
Moçambique passou por um longo período colonial que, linearmente, tem sido
situado entre 1495 e 1975, sendo este último o ano da proclamação da independência
nacional.
HANS KOHN define o” colonialismo” como:
“«A relationship created when one nation establishes and maintains a
political domination over a geographically external political unit
inhabited by people of any race and at any stage of cultural
development»28.
Por sua vez, GEORGE BALANDIER considera o colonialismo como «a
dominação imposta por uma minoria estrangeira, racial e culturalmente diferente,
apelando a uma superioridade racial (ou étnica) e cultural dogmaticamente afirmadas,
sobre uma minoria autóctone materialmente inferior...».
Entre as características que BALANDIER atribui ao colonialismo destaca-se:
«...o antagonismo nas relações estabelecidas entre as duas sociedades que se
justifica pela instrumentação a que é condenada a sociedade dominada; a
necessidade, para manter a dominação, de recorrer não apenas à força mas
também a um conjunto de pseodo-justificações e de comportamentos
estereotipados...»29.
Na óptica de SANTOS a sociedade colonial é a primeira sociedade moderna
reconhecida como dotada de pluralismo jurídico e nela se identificam facilmente as
ordens jurídicas em presença, os seus espaços de actuação e regular as relações entre elas,
sendo, de um lado, o direito colonial europeu, do outro, os direitos consuetudinários dos
povos nativos30.
28
Citado por PEREIRA, Rui Alberto Mateus. «Uma Ideia do Colonialismo», In: Companhia de
Moçambique-Retratos da África Oriental Portuguesa. http://www.
companhiademocambique.blogspost.com/ [em linha]. Consultado em 25.06.09.
29
Ibidem.
30
SANTOS, Boaventura de Sousa. «Estado Heterogéneo e Pluralismo Jurídico», in: Conflito e
Transformação Social: Uma Paisagem da Justiça em Moçambique, Vol. I, Porto: Edições Afrontamento,
2003, p. 49.
20
Ainda nos termos do EIP, junto de cada regedor poderia funcionar um órgão colegial
(conselho) composto por membros escolhidos pelo regedor, de entre os indígenas que
gozassem de maior respeito entre as populações da regedoria ou da povoação40.
35
Segundo Carvalho, o regulado tinha origem tribal, sem que isso significasse um tribalismo rácico ou
guerreiro, mas sim um tribalismo orgânico, pois os régulos ou regedores não exprimiam um resquício de
organizações guerreiras tribais, mas prevalecimento das organizações ancestrais dos povos, para fins
pacíficos e para fins sócio-económicos. (ob. cit., p. 55).
36
Na perspectiva sócio-antropológica, a povoação é um agrupamento autónomo, circunscrito normalmente
a uma família; mas na terminologia administrativa considerava-se como povoação um conjunto de algumas
famílias mais ou menos dispersas, sendo o grupo de povoações a expressão da ideia de área maior.
37
A noção legal de indígena era definida no corpo do art. 2.º do EIP. Entendiam-se como tais, «...os
indivíduos de raça negra ou seus descendentes que, tendo nascido ou vivendo habitualmente [...], nas
províncias da Guiné, Angola e Moçambique, não possuam ainda a ilustração e os hábitos individuais e
sociais pressupostos para a integral aplicação do direito público e privado dos cidadãos portugueses». O §
único deste preceito tornava extensiva a qualidade de indígena aos indivíduos que, embora não tivesse
nascido em qualquer das três províncias, fossem, no entanto nascidos de pai e mãe indígenas. (FERREIRA,
ob. cit., p. 15) encontrava neste preceito duas categorias de critérios de definição de indígena. Na primeira
categoria – a dos critérios principais – considerava, por um lado, um critério étnico-cultural ou racial
retirado da expressão legal “indivíduos de raça negra ou seus descendentes” e, por outro, um critério
cultural, resultante da expressão legal “que não possuam ainda ilustração”.Na segunda categoria – a dos
critérios acessórios – considerava o critério do jus sol ou do local de nascimento, segundo o qual a
qualidade de indígena decorria do facto do nascimento numa província de indigenato, salvo a excepção
prevista no § único, em que predominava o critério do jus saguins; o critério do jus domicili ou da
residência, traduzido na exigência do viver habitualmente nas mesmas províncias e o critério do jus saguins
ou da filiação, pressuposto da consideração do § único do mesmo preceito.
38
Arts. 8º e 9º do EIP.
39
Arts. 10º a 12º do EIP.
40
Arrt. 16º, corpo e § 2º, do EIP.
23
Fica claro, do exposto, que a legitimação das autoridades tradicionais não se regia
unicamente pelo Direito consuetudinário, ou seja, «usos e costumes locais»; obedecia
também a critérios impostos pela administração colonial. Para além disso, as autoridades
coloniais exerciam uma espécie de tutela de mérito sobre os actos dos chefes tradicionais
designados, podendo exonerá-los, à revelia das próprias comunidades, caso não
desempenhassem «convenientemente» as suas funções41.
41
Art. 11º do EIP.
42
ABRAHAMSSON, Hans e NILSSON, Anders, Moçambique em Transição: Um Estudo da História de
Desenvolvimento Durante o Período 1974-1992, 1ª ed., Trad. De Dulce Leiria, Maputo: Padrigu/CEEI-
IRI/CEGRAF, p. 264.
43
Diário do Governo, I Série, nº 207.
44
Art 2º do Decreto-Lei nº 43 896, de 6 de Setembro de 1961.
45
Arts. 3º, § 1º, 4.º, 5º, § único, do Decreto-Lei nº 43 896.
24
b) b) a tutela exercida sobre o mérito da actuação dessas autoridades deu azo a que a
administração colonial substituísse arbitrariamente chefes legitimados
tradicionalmente por pessoas da sua conveniência;
2. O período pós-independência
2.1. O monismo jurídico na Constituição de 1975
46
Idem, § 2.º.
47
Idem, art. 6º. Em conformidade com a al. b) do art. 24.º do Decreto nº 545/72, de 22 de Dezembro
(Estatuto Político-Administrativo da Província de Moçambique), seis dos vogais da Assembleia Legislativa
da Província seriam eleitos pelas autoridades das regedorias de entre os seus próprios membros.
48
Art. 7º do Decreto-Lei nº 43 896.
49
Cf. MONTEIRO, José Óscar, Poder e Democracia, Maputo: Assembleia Popular, 1988.
25
O Partido Frelimo reconheceu este facto mais tarde, conforme revela o Relatório do
Comité Central ao V Congresso (1989), documento onde se avalia a necessidade de, no
âmbito da reforma da administração local do Estado, «...saber acolher a contribuição de
pessoas que estiveram ligadas às estruturas tradicionais, mas que, tendo-se oposto ao
colonialismo ou, por várias formas, demonstrado o seu patriotismo e integração nos
objectivos nacionais, têm sabido granjear respeito pelo seu apego ao bem-estar das
populações»55. Segundo o referido Relatório, tais pessoas seriam integradas, na base do
consenso popular, em tarefas de promoção do bem-estar, nomeadamente na área da
promoção da produção, no desenvolvimento rural em geral e na organização da
autodefesa56.
pp. 65 e 66).
52
Decisões..., cit., p. 35.
53
Publicado na brochura «Revolução: transformação profunda das nossas estruturas, transformação
profunda da nossa Vida, Imprensa Nacional de Moçambique, Lourenço Marques, 1975, P. 49 e ss.
54
Este fenómeno não estranho às sociedades contemporâneas, pois, conforme observa Santos, na
perspectiva sociológica, estas sociedades «...são jurídica e judicialmente plurais. Circulem nelas não um
mas vários sistemas jurídicos e judiciais. O facto de só um deles ser reconhecido oficialmente como tal
afecta naturalmente o modo como os outros sistemas operam nas sociedades, mas não impede que tal
operação tenha lugar». (Estado Heterogéneo..., ob. cit., p. 48.
55
FRELIMO, Relatório do Comité Central do Partido Frelimo ao 5.º Congresso, Maputo: CEGRAF, 1989,
p. 79.
56
Idem, p. 80.
27
CAPÍTULO III
O PLURALISMO JURÍDICO NA CONSTITUIÇÃO VIGENTE
29
1. Considerações gerais
organizado tem a sua disciplina; e a disciplina é mantida por normas jurídicas que
formam o Direito social, institucional e disciplinar desse grupo»57.
Conforme Santos, a sociedade moçambicana é marcada por um pluralismo
jurídico bastante diversificado, existindo nela «múltiplas instâncias de justiça comunitária
[...] quer no meio rural quer no meio urbano». Este fato pode justifica-se tanto por
«proximidade cultural» como por «dificuldades de acesso às instâncias judiciais
oficiais»58. Aqui está patente o pluralismo judiciário existente em Moçambique, o que
demonstra que, a par das normas substantivas, as organizações sociais possuem também,
tal como ocorre na ordem jurídica positiva do Estado, o próprio direito adjectivo ou
processual que fixam os mecanismos de aplicação das regras substantivas à resolução de
conflitos de interesses, estabelecendo, inclusivamente, instituições que, à semelhança dos
tribunais estatais, detêm competência jurisdicional59.
Neste contexto pode compreender-se a previsão, no nº 3 do art. 212 da
Constituição, da possibilidade de o legislador ordinário definir «...mecanismos
institucionais e processuais de articulação entre os tribunais e demais instâncias de
composição de interesses e de resolução de conflitos». A interpretação desta disposição,
em conjugação com art. 4 da Constituição, permite igualmente concluir que o
reconhecimento constitucional dos sistemas normativos e de resolução de conflitos não
oficiais não implica a sua incorporação na ordem jurídica do Estado e, por conseguinte,
eles mantêm a sua independência e identidade, sem prejuízo de se comunicarem com
aquela ordem jurídica, nos termos que a lei definir.
Esse processo comunicativo é passível de gerar influências recíprocas entre o
sistema jurídico oficial e os demais existentes, de acordo com o fenómeno que Santos
designa por «hibridações jurídicas». Aliás, o autor refere, a este propósito, que a primeira
especificidade mais marcante do pluralismo jurídico em Moçambique consiste na sua
«enorme riqueza e complexidade», e estas marcas se traduzem, por um lado, «no facto de
sociologicamente vigorarem [...] várias ordens jurídicas e sistemas de justiças» e, por
outro, «na intensa interpenetração ou contaminação recíproca entre essas diferentes
formas de direito e de justiça»60.
57
Manual de Ciência Política e Direito Constitucional, Tomo I, 6ª ed. (revista e ampliada por Miguel
Galvão Teles), Tomo I (reimp.), Coimbra: Amedida, 1996, p. 4.
58
SANTOS, Estado Heterogéneo..., cit., p. 73.
59
Cfr. Moçambique- O Sector da Justiça e Estado de Direito, Joanesburgo: Open Society Fundation, 2006,
p. 113 e ss.
60
SANTOS, Estado Heterogéneo....cit., p. 61).
31
61
Idem, p. 73.
62
DAVID, René (2002). Os Grandes Sistema do Direito Contemporâneo, 4ª ed. (brasileira), São Paulo:
Martins Fontes, 2002, p. 619. Ver também GILISSEN, John, Introdução Histórica ao Direito, 4ª ed.
(portuguesa), Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003, p. 25.
32
actos públicos e pacíficos durante um lapso de tempo relativamente longo» 63. Assim,
enquanto fonte de direito, o costume possui as seguintes características essenciais64:
a) é espontâneo, contrariamente ao que acontece com a lei que é obra da
vontade da autoridade legislativa; não se faz o costume, ele faz-se por si
próprio;
b) evolui constantemente; adapta-se sem cessar ao meio social, a cujas
necessidades responde; tal é a consequência de não estar fixado num
texto; é a fonte de direito mais flexível;
c) elabora-se lentamente: é necessário um certo tempo para que seja aceite;
d) é conservador, sem no entanto perder a sua capacidade de adaptação.
Esta qualidade diferencia-o da lei que é má conservadora.
Esta caracterização permite, sem dúvida, captar a essência do costume como
categoria geral. Porém, as concepções de ordem e de justiça associadas ao costume
variam no tempo e de sociedade para sociedade. Importa, por isso, verificar o que haverá
de específico no costume como fonte do direito nas sociedades africanas tradicionais,
sendo útil para o efeito atentar para a seguinte afirmação de DAVID:
«O costume está ligado, no espírito dos africanos, a uma ordem mítica do
universo. Obedecer o costume é um testemunho de respeito à memória dos
antepassados, cujas ossadas se misturam ao solo e cujos espíritos velam pelos
vivos. Quem transgredir o costume arrisca-se a desencadear não se sabe que
reacções desfavoráveis, dos génios da terra, num mundo onde tudo está ligado,
natural e o sobrenatural, o comportamento dos homens e os fenómenos da
natureza»65.
Pode afirmar-se, por um lado, que o costume, enquanto fonte do direito
tradicional em Moçambique, não se distancia da referida «concepção mítica do
universo». Por outro, o modus vivendi tradicional não é exclusivo do meio rural, o habit
da maioria da população moçambicana. A tradição africana encontra-se também presente
no mundo urbano, porquanto nas cidades existem indivíduos que, apesar da sua vivência
urbana, ainda mantém laços estreitos com a sociedade tradicional, regendo-se, nalgumas
situações da vida, pelos costumes dos locais onde ocorreu a sua socialização primária,
63
GILISSEN, ob. cit., p. 250.
64
Idem, pp. 253 e 254.
65
Ob. cit., p. 620.
33
66
Cfr. ARAÚJO, Manuel, Rulalidades-Urbanidades em Moçambique. Conceitos ou preconceitos, in:
Revista da Faculdade de Letras – Geografia, I Série, Vol. XVII-XVIII, Porto, 2001-2002, pp. 5-11.
67
SANTOS, Estado Heterogêneo..., cit. p. 61.
34
CAPÍTULO IV
OS LIMITES AO PRINCÍPIO DO PLURALISMO JURÍDICO
68
ENGISCH, Karl, Introdução ao Pensamento Jurídico, 9ª ed. (portuguesa), Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 2004, p.208.
69
Cfr. CANOTILHO, Gomes, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 7ª ed. (reimp.), Coimbra:
Almedina, 2003, p. 1200 e ss.
35
que visam instituir directa e imediatamente uma garantia dos cidadãos, aos quais se
atribui uma densidade de autêntica norma jurídica e uma força determinante, positiva e
negativa73.
Por sua vez, MIRANDA agrupa os princípios constitucionais em duas categorias
básicas. Por um lado, os princípios constitucionais substantivos, aqueles que são válidos
em si mesmos e que espelham os valores básicos a que adere a Constituição material; por
outro, os princípios constitucionais adjectivos ou instrumentais, aqueles cujo alcance é
sobretudo técnico, sendo complementares dos primeiros. O autor desdobra a primeira
categoria em dois tipos: (i) princípios axiológicos fundamentais, que correspondem aos
limites transcendentes do poder constituinte; e (ii) princípios políticos conformadores,
que correspondem aos limites imanentes do poder constituinte e aos limites específicos
de revisão constitucional, reflectindo as grandes marcas e direcções caracterizadoras de
cada Constituição material diante das demais74.
Eis, segundo o mesmo autor, a exemplificação dos tipos de princípios acima
enunciados:
a) princípios axiológicos fundamentais (proibição de discriminações, a
inviolabilidade da vida humana, a integridade moral e física das pessoas, a não
retroactividade da lei penal incriminadora, o direito de defesa dos acusados, a
liberdade de religião e de convicção, a dignidade social do trabalho);
b) princípios político-constitucionais (princípio democrático, o princípio
representativo, princípio republicano, princípio da constitucionalidade,
princípio da separação dos órgãos do poder, princípio da subordinação do
poder económico ao poder político;
73
CANOTILHO, Direito Constitucional …, cit., p. 1164 e ss. O autor fornece os seguintes exemplos de
cada categoria de princípios: os princípios jurídicos fundamentais abrangem os princípios jurídicos gerais
tais como o princípio da publicidade dos actos jurídicos, o princípio da proibição do excesso, nas suas
vertentes de exigibilidade, adequação e proporcionalidade e o princípio de acesso aos tribunais; Nos
princípios políticos constitucionalmente conformadores incluem-se os princípios definidores da forma de
Estado, designadamente, os princípios da organização económico-social, como o princípio da coexistência
dos diversos sectores de propriedade; os princípios da estrutura do Estado, como o princípio do Estado
unitário; os princípios estruturantes do regime político, tais como o princípio republicano, o princípio do
Estado de Direito, o princípio democrático, o princípio pluralista; os princípios concretizadores da forma
de governo e da organização política em geral, como o princípio da separação e interdependência de
poderes e os princípios eleitorais; os princípios constitucionais impositivos são, por exemplo, o princípio da
independência nacional e o princípio da correcção das desigualdades na distribuição da riqueza e do
rendimento; e nos princípios-garantia encontram-se, como exemplos, o princípio de nullum crimen sine
lege e de nula poena sene lege, o princípio do juiz natural, os princípios do non bis in idem e in dubio pro
réu.
74
Manual..., Tomo II, cit., p. 256.
37
75
MARTÍNEZ, Soares, Filosofia do Direito, 2ª ed., Coimbra: Livraria Almedina, 1995, p. 273.
38
88
CARVALHO, Virgílio de Jesus Miranda, Os Valores Constitucionais Fundamentais: Esboço de uma
Análise Axiológico-Normativa, Coimbra: Coimbra Editora, 1982, p. 9.
89
MIRANDA, Manual..., Tomo II, pp. 250 e 251.
90
MIRANDA, Manual..., Tomo I, cit. p. 14.
91
OTTO, Ignacio, Derecho Constitucional: Sistema de Fuentes, 8ª imp., Barcelona, Ariel, 2001, p. 11.
92
CUNHA, Paulo Ferreira da, Constituição e Valores: Diálogo de Axiologia Constitucional, in: «Revista
de Direito Público», Janeiro e Junho de 2009, Nº 01, Instituto de Direito Público, Coimbra: Almedina,
Maio de 2009, p. 264.
41
93
FERREIRA DA CUNHA, ob. cit., p. 264.
94
Idem, p. 264.
95
Citado por FERREIRA DA CUNHA, ob. cit. p. 265.
96
CARVALHO, ob. cit., p. 7.
97
CARVALHO, ob. cit., pp. 7 e 8.
42
98
Idem, p. 10 e ss.
99
Idem, p. 8.
100
MERCHÁN, José Fernando Merino, et al., Lecciones de Derecho Constitucional, 1ª ed. (reimp.),
Madrid: Tecnos, 1997, p. 156 e ss.
43
101
NOVAIS, Jorge Reis, Os Pricípios Constitucionais Estruturantes da República Portuguesa, Coimbra:
Coimbra Editora, 2004, p. 20; cf. VERDÚ, Pablo Lucas, citado por LATAILLADE, Iñigo Cavero e
RODRÍGUEZ, Tomás Zamora, Introducción al Derecho Constitucional, (2ª reimp), Madrid: Universitas,
2006, p. 142.
102
NOVAIS, ob. cit., p. 21.
103
Manual…., cit., Tomo IV, 3ª a ed., Coimbra: Coimbra Editora, 2000, p 198. V. também MERECHÁN,
et al, ob. cit., p. 157; LATAILLADE, ob cit., p. 140.
46
104
Os Princípios Estruturantes Fundamentais..., ob. cit., p. 30 e ss.
49
105
NOVAIS, ob. cit., pp. 51 e 52.
51
ao cumprimento dos deveres e obrigações que a decisão popular soberana lhe impõe
como condição da possibilidade de realização da dignidade e dos direitos de todos»106.
Da exposição feita decorre que a Constituição moçambicana de 2004, na mesma
medida em que consagra o Estado social e democrático de Direito, acolhe os valores
fundamentais da Liberdade, Igualdade, Justiça e Segurança, os quais visam, em última
instância, a realização do valor fundamental da dignidade da pessoa humana através da
defesa e promoção dos direitos e liberdades fundamentais do Homem na sua dupla
dimensão de indivíduo e de ser social.
106
NOVAIS, ob. cit, p. 53. V. MIRANDA, Manual...,Tomo IV, cit., p. 180 e ss.
107
MARMOR, Andrei, Direito e Interpretação: Ensaio de Filosofia do Direito, (ed. brasileira) São Paulo:
Martins Fontes, 2004, p. 5.
108
MACHADO, João Baptista, Introdução ao Direito e ao Discurso Legitimador, Coimbra: Almedina,
1997, p. 175.
109
ZORRILLA, David Martínez, Conflitos Constitucionales, Ponderación e Indeterminación, Madrid:
Marcial Pons, 2007, p. 35; cfr. CANOTILHHO, Direito Constitucional, ob. cit., p. 1202.
110
CANOTILHO, Direito Constitucional..., ob. cit., p. 1204; cfr. ZORRILLA, ob. cit., p. 35.
52
111
ZORRILLA, David Martínez, Conflitos Constitucionales, Ponderación e Indeterminación, Madrid:
Marcial Pons, 2007, p. 31.
112
MIRANDA, Manual..., Tomo II, ob. cit., pp. 24-26.
113
ZORRILLA, p. 60 e ss.
114
Os Valores Constitucionais Fundamentais..., ob. cit., pp. 8 a 10.
53
falecida. O pai da Cândida cumpriu o decidido e Quitéria, então com 6 anos e que vivia
com os pais da Cândida, foi dada a Bernardo. Foi decidido que a criança de sexo
feminino ficaria sob autoridade de Bernardo até que ela desse à luz outra criança do sexo
feminino, compensando Bernardo pela totalidade da perda sofrida. Três anos mais tarde,
Bernardo violou [sexualmente] Quitéria duas vezes. Cândida foi informada do que
aconteceu e disse ao seu pai, que informou a polícia. A polícia prendeu Bernardo e
retirou Quitéria da sua casa. O caso foi apresentado ao Tribunal Judicial Provincial de
Inhambane, que condenou Bernardo a 12 anos de prisão e a pagar a Quitéria
10.000.000,00 MT a título de indemnização. Bernardo apelou da decisão do Tribunal
Provincial e o caso chegou até ao Tribunal Supremo. Na sua decisão de Maio de 2004, o
Tribunal Supremo estabeleceu que a decisão original das autoridades tradicionais, ainda
que de acordo com o direito costumeiro, era uma clara violação dos princípios
constitucionais e de padrões internacionalmente aceites de proteção dos direitos das
crianças. A Constituição garante que uma criança não pode ser sujeita a maus tratos nem
sujeita a discriminação devido as origens do seu nascimento (artigo 56 da Constituição).
Relativamente a tratados internacionais, o Tribunal supremo decidiu que as autoridades
tradicionais tinham violado o art. 3 da Declaração dos Direitos da Criança e os arts. 8
(sobre escravatura), 23 e 24 do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos».
116
Cfr. p. 116.
55
pelos interesses da menor, poderia ter evitado tal situação recorrendo imediatamente da
decisão das autoridades tradicionais juntos do tribunal.
Até aqui procurou-se demonstrar que os valores fundamentais da Liberdade,
Igualdade, Justiça e Segurança inerentes ao Estado de Direito assim como os princípios
axiológicos fundamentais dogmaticamente traduzidos em direitos, liberdades e garantias
fundamentais conexos com a dignidade da pessoa humana devem preencher o conteúdo
dos limites ao princípio do pluralismo jurídico, ou seja, devem servir de critérios da
validade dos sistemas normativos e de resolução de conflitos reconhecidos no art. 4 da
Constituição.
Porém, mantém-se sem resposta a questão de saber em que medida os demais
valores e princípios concretizadores do Estado social e democrático de Direito,
designadamente os princípios políticos conformadores e os princípios constitucionais
instrumentais, podem limitar o princípio do pluralismo jurídico.
Alguns desses princípios prendem-se fundamentalmente a definição da estrutura
do Estado, da organização do poder político e das formas da sua actuação, sendo difícil
determinar até que ponto poderão vincular a sociedade tradicional e suas autoridades.
Por exemplo, parece manifesta a dificuldade de conciliar o princípio da separação
de podres com os modelos tradicionais de organização do poder, o que se pode
demonstrar com s seguinte observação de RADCLIFFE-BROWN117:
«Em África é muitas vezes difícil de separar, mesmo no pensamento, o lugar
político da função ritual ou religiosa. Assim, nalgumas sociedades africanas pode
dizer-se que o rei é o chefe executivo, o legislador, o juiz supremo [...], o
sacerdote-chefe ou chefe supremo do ritual e talvez mesmo o principal capitalista
de toda a comunidade».
Alguns princípios políticos conformadores, além de vincular o Estado, têm
importantes projecções sobre os indivíduos e a sociedade. É o caso do princípio
democrático que, tal como o princípio do Estado de Direito, muita irradiação na ordem
constitucional atingindo tanto o Estado-poder como o Estado-comunidade. A
democratização da sociedade tradicional é um problema muito complexo, sobretudo
quanto ao modo de legitimação do respectivo poder e modos de actuação deste. Com
117
In: Prefácio a FORTES, M e EVANS-PRITCHARD, E. E., Sistemas Políticos Africanos, (ed.
portuguesa), Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1940, p. 21.
57
118
Cfr. ZORILLA, Conflictos Constitucionales..., ob. cit., p. 69.
119
Idem, p. 155.
120
CANOTILHO, Direito Constituciona..., ob. cit., p. 1225
58
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS