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MÓDULO: TRIBUTO E SEGURANÇA JURÍDICA

SEMINÁRIO DE CASA

Seminário I - DIREITO TRIBUTÁRIO E O CONCEITO DE “TRIBUTO”

Leitura básica
• CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 30 ed. São Paulo: Saraiva, 2019, Capítulo I e
itens 1 (acepções do vocábulo “tributo”) e 2 (a definição do art. 3º do CTN) do Capítulo II.
• CARVALHO. Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método. 7ª ed. São Paulo: Noeses, 2018,
Item 2.2.2. (conceito de tributo) do Capítulo 2 da segunda parte.

Leitura complementar
• CARVALHO. Paulo de Barros. Direito tributário: fundamentos jurídicos da incidência. 10ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2015, Itens 1 (texto e contexto) a 6 (normas primárias e secundárias) do Capítulo I.
• SOUZA, Priscila de. “Intertextualidade na linguagem jurídica: conceito e aplicação”. In CARVALHO,
P. B (Coord). Constructivismo Lógico-Semântico. Vol. I. São Paulo: Noeses, 2014.
• CARVALHO, Aurora Tomazini de. Curso de teoria geral do direito (o constructivismo lógico-semântico).
São Paulo: Noeses, 2016, Capítulos III e VIII.
• FAVACHO, Fernando Gomes. Definição do conceito de tributo. São Paulo: Quartier Latin,
Capítulo IV.
• CARVALHO. Paulo de Barros. “Breves considerações sobre a função descritiva do direito tributário”.
In CARVALHO, P. B; LINS, R. M. (Coord.). Ensaios sobre jurisdição federal. São Paulo: Noeses, 2014.

Questões
1. Que é Direito? Há diferença entre direito positivo e Ciência do Direito? Explique.
Resposta: O Direito surgiu a partir da necessidade de regular o convívio social, orientar as
condutas dos cidadãos com a finalidade de harmonizar as relações.
Ilustres doutrinadores assim o conceituam:
Para Kant1:
"Direito é o conjunto de condições pelas quais o arbítrio de um pode conciliar-se com o arbítrio do
outro, segundo uma lei geral de liberdade"
Hans Kelsen diz2:

"O direito se constitui primordialmente como um sistema de normas coativas permeado por uma

1
KANT, Emmanuel. Introducción a la teoría del derecho. Madrid: Instituto de Estudios Políticos, 1954, p. 80.
2 KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. 6ª ed. Coimbra: Armênio Amado Editora, 1984, p. 57

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lógica interna de validade que legitima, a partir de uma norma fundamental, todas as outras
normas que lhe integram"
O sempre festejado Profesor Miguel Reale3, idealizador da Teoria Tridimencional do Direito
(aspectos axiológicos, fáticos e normativos) conceitua o direito como sendo:
“A realização ordenada e garantida do bem comum, numa estrutura tridimensional bilateral
atributiva"
Nesse contexto surge o direito positivo, que é o conjunto de normas jurídicas válidas num dado
Estado. O Professor Paulo de Barros Carvalho entende que:
“o direito positivo, sendo tomado como o conjunto de normas jurídicas válidas em determinado
espaço e em certas condições de tempo, integra o mundo do "dever-ser", isto é, seus enunciados são
prescritivos, impondo como as coisas hão de ocorrer. Com isso, o direito cria sua própria realidade,
admitindo e conhecendo como reais apenas os fatos produzidos na forma linguística prevista pelo
ordenamento. A conclusão a que chegamos com base nesta afirmativa é que o mundo normativo
tem existência própria, autônoma aos outros sistemas que lhe cercam.” 4
Há sim, diferença entre direito positivo e ciência do direito, sendo instâncias do Direito
absolutamente inconfundíveis, valendo-se de formas e linguagens próprias. Seria possível
discorrer de forma muito extensa e abrangente sobre o tema, contudo, adotando o conceito
sistêmico do Prof. Paulo de Barros Carvalho, “O direito positivo é um sistema nomoempírico
prescritivo, onde a racionalidade do homem é empregada com objetivos diretivos e vazada em
linguagem técnica. A ciência que o descreve, todavia, mostra-se também um sistema nomoempírico,
mas teorético ou declarativo, vertido em linguagem que se propõe ser eminentemente científica.”
Diz, ainda o Professor:
‘’O direito positivo está vertido numa linguagem, que é seu modo de expressão. E essa camada de
linguagem, como construção do homem, se volta para a disciplina do comportamento humano, no
quadro de suas relações de intersubjetividade. (...) O objeto da ciência do direito há de ser
precisamente o estudo desse feixe de proposições, vale dizer, o contexto normativo que tem por
escopo ordenar o procedimento dos seres humano, na vida comunitária.’’
Sobre o direito enquanto ciência, assenta o Professor VILANOVA:
“Parece ser uma das características do direito positivo o constituir-se ele, também, com a Ciência
do Direito. Os fatos físicos, em sentido amplo, não se compõem com as ciências que os têm por
temáticos. Uma coisa é a luz; outra, a teoria científica sobre a energia luminosa. Mas, no direito,
não se pode isolar, por exemplo, o instituto da posse, da teoria ou teorias dogmáticas sobre a posse.
Nem um corpo inteiro de normas, como um Código Civil, da Ciência do Direito Civil, nem uma
Constituição das tendências dominantes no direito público à época em que o constituinte elaborou
a Constituição. A Ciência do Direito é a autoconsciência, em termos de conceitos, do direito
vigente: ao mesmo tempo, o direito vigente incorpora a ciência de si mesmo, autocompondo-
se num processo dialético intérmino, sem repouso, entre os dois polos: a experiência
jurídica e a teoria dessa experiência”5

3
REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. São Paulo: Bushatsky-Editora da Universidade de São Paulo,
1973, p. 88.
4
CARVALHO, Paulo de Barros, Derivação e positivação no direito tributário. São Paulo: Noeses, 2011, p. 70
5
VILANOVA, Lourival. Fundamento do Estado de Direito, in Escritos Jurídicos e Filosóficos, Volume 1,
editora XIS MVNDI IBET, 1ª edição, São Paulo, 2003, p. 413/414.

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Como se verifica, a ciência do direito se ocupa com as relações jurídicas, pois é das relações que
advem o conhecimento humano.
2. Que é tributo (vide anexo I)? Com base na sua definição de tributo, quais dessas
hipóteses são consideradas tributos? Fundamente sua resposta: (i) valor cobrado pela
União a título de ressarcimento de despesas com selos de controle de IPI fabricado
pela Casa da Moeda (anexo II); (ii) contribuição sindical (considerar as alterações da
lei 13.467/17) (anexo III); (iii) tributo instituído por meio de decreto (inconstitucional
– vide anexo IV); (iv) o tributo inserido na base de cálculo de outro tributo.
De acordo com o art. 3º do CTN, “tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda
ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e
cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada”.
O STF enfrentou o tem quando do celebrado julgamento da ADI 447, que restou assim ementado:
“Os tributos, nas suas diversas espécies, compõem o Sistema Constitucional Tributário brasileiro,
que a Constituição inscreve nos seus arts. 145 a 162. Tributo, sabemos todos, encontra definição
no art. 3º do CTN, definição que se resume, em termos jurídicos, no constituir ele uma
obrigação que a lei impõe às pessoas, de entrega de uma certa importância em dinheiro ao
Estado. As obrigações são voluntárias ou legais. As primeiras decorrem da vontade das partes,
assim, do contrato; as legais resultam da lei, por isso são denominadas obrigações ex lege e podem
ser encontradas tanto no direito público quanto no direito privado. A obrigação tributária,
obrigação ex lege, a mais importante do direito público, "nasce de um fato qualquer da vida
concreta, que antes havia sido qualificado pela lei como apto a determinar o seu nascimento"
(ATALIBA, Geraldo. Hermenêutica e Sistema Constitucional Tributário. Diritto e pratica tributaria,
Padova, Cedam, v. L, 1979). As diversas espécies tributárias, determinadas pela hipótese de
incidência ou pelo fato gerador da respectiva obrigação (CTN, art. 4º), são a) os impostos (CF, art.
145, I; arts. 153, 154, 155 e 156), b) as taxas (CF, art. 145, II), c) as contribuições, que são c.1) de
melhoria (CF, art. 145, III), c.2) sociais (CF, art. 149), que, por sua vez, podem ser c.2.1) de
seguridade social (CF, art. 195; CF, 195, § 4º) e c.2.2) salário educação (CF, art. 212, § 5º) e c.3)
especiais: c.3.1) de intervenção no domínio econômico (CF, art. 149) e c.3.2) de interesse de
categorias profissionais ou econômicas (CF, art. 149). Constituem, ainda, espécie tributária, d) os
empréstimos compulsórios (CF, art. 148). [ADI 447, rel. min. Octavio Gallotti, voto do min. Carlos
Velloso, j. 5-6-1991, P, DJ de 5-3-1993.]”
O vocábulo “tributo” provem do latim, “tributum”, que significa: tributo é tudo aquilo que se
tributa, ou seja, tributo é oferecer uma espécie de elogio, ou veneração como prova de
verdadeira admiração por outro, ou certa quantidade de dinheiro que é entregue ao Estado para
ser usado para pagar dívidas de ordem pública.
O professor Paulo de Barros Carvalho , diz o seguinte:
“O vocábulo “tributo” experimenta nada menos do que seis significações diversas, quando utilizado
nos textos do direito positivo, nas lições da doutrina e nas manifestações da jurisprudência. São
elas:
a) “tributo” como quantia em dinheiro;
b) “tributo” como prestação correspondente ao dever jurídico do sujeito passivo;
c) “tributo” como direito subjetivo de que é titular o sujeito ativo;
d) “tributo” como sinônimo de relação jurídica tributária;
e) “tributo” como norma jurídica tributária;
f) “tributo” como norma, fato e relação jurídica.

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Assim, define-se tributo como sendo a obrigação que o contribuinte tem de pagar uma quantia
em dinheiro ao Estado, previamente prevista em lei, de natureza compulsória e que não
constitua uma sanção por ato ilícito.
As espécies tributárias são: Impostos; Taxas; Contribuição de Melhoria; Empréstimos
Compulsórios e Contribuições Especiais.

(i) valor cobrado pela União a título de ressarcimento de despesas com selos de controle
de IPI fabricado pela Casa da Moeda
O tema foi enfrentado quando do julgamento do Recurso Repetitivo, Tema 761 (REsp
1405244/SP) que teve a seguinte tese firmada:
“Inexigibilidade do ressarcimento de custos e demais encargos pelo fornecimento de selos de
controle de IPI instituído pelo DL 1.437/1975, que, embora denominado ressarcimento prévio, é
tributo da espécie Taxa de Poder de Polícia, de modo que há vício de forma na instituição desse
tributo por norma infralegal, excluídos os fatos geradores ocorridos após a vigência da Lei
12.995/2014. Aqui se trata de observância à estrita legalidade tributária.”

(ii) contribuição sindical (considerar as alterações da lei 13.467/17)


Objeto de muitas controvérsias, a reforma trabalhista proporcionou uma avalanche de
questionamentos em sua constitucionalidade.
Não é tributo, pois com o advento da Reforma Trabalhista materializada pela Lei n. 13.467/17,
houve alteração quanto a obrigatoriedade do recolhimento da contribuição sindical, sendo esta
uma faculdade do trabalhador. Portanto, não se enquadra no conceito de tributo previsto no art.
3º do CTN, notadamente pela ausência de caráter compulsório, pois a lei é exauriente em
apontar que prevalece a vontade das partes.
A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte Aquaviário e Aéreo, na Pesca e nos
Portos (CONTTMAF) ajuizou a ação direta de inconstitucionalidade n. 5794/DF, com pedido de
medida liminar, cujo objeto era redação dada pela Lei 13.467/2017 aos artigos 545, 578, 579,
582, 583, 587 e 602 da Consolidação das Leis Trabalhistas, aprovada pelo Decreto-Lei n.º 5.452,
de 1º de maio de 1943, no que se refere à contribuição sindical.
O STF foi categórico:
“3. A instituição da facultatividade do pagamento de contribuições sindicais não demanda lei
específica, porquanto o art. 150, § 6º, da Constituição trata apenas de “subsídio ou isenção,
redução de base de cálculo, concessão de crédito presumido, anistia ou remissão”, bem como
porque a exigência de lei específica tem por finalidade evitar as chamadas “caudas legais” ou
“contrabandos legislativos”, consistentes na inserção de benefícios fiscais em diplomas sobre
matérias completamente distintas, como forma de chantagem e diminuição da transparência no
debate público, o que não ocorreu na tramitação da reforma trabalhista de que trata a Lei nº
13.467/2017. Precedentes (ADI 4033, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno,
julgado em 15/09/2010; RE 550652 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda
Turma, julgado em 17/12/2013).
4. A Lei nº 13.467/2017 emprega critério homogêneo e igualitário ao exigir prévia e expressa
anuência de todo e qualquer trabalhador para o desconto da contribuição sindical, ao mesmo
tempo em que suprime a natureza tributária da contribuição, seja em relação aos
sindicalizados, seja quanto aos demais, motivos pelos quais não há qualquer violação ao
princípio da isonomia tributária (art. 150, II, da Constituição), até porque não há que se invocar

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pessoas estranhas e desvinculadas de suas atividades institucionais sem a devida, expressa e prévia autorização.
uma limitação ao poder de tributar para prejudicar o contribuinte, expandindo o alcance do
tributo, como suporte à pretensão de que os empregados não-sindicalizados sejam obrigados a
pagar a contribuição sindical.
5. A Carta Magna não contém qualquer comando impondo a compulsoriedade da contribuição
sindical, na medida em que o art. 8º, IV, da Constituição remete à lei a tarefa de dispor sobre a
referida contribuição e o art. 149 da Lei Maior, por sua vez, limita-se a conferir à União o poder de
criar contribuições sociais, o que, evidentemente, inclui a prerrogativa de extinguir ou modificar a
natureza de contribuições existentes.”

(iii) tributo instituído por meio de decreto


Não pode ser considerado tributo, por ferir o princípio tributário da estrita legalidade, previsto
no art. 150, inciso I da CRFB/88. O STJ ao julgar o REsp n. 429.413/RJ salientou que “a lei
declarada inconstitucional desaparece do mundo jurídico, como se nunca tivesse existido”.

(iv) o tributo inserido na base de cálculo de outro tributo.


Corriqueiro no direito brasileiro, sempre foi legal a previsão de tributo instituído na base de
cálculo de outro tributo, assim como, tributo previsto na base de cálculo do mesmo tributo.
O tema foi exaustivamente discutido pelo Poder Judiciário e se vê pacificada no julgamento pelo
STF da exclusão do ICMS da base de cálculo do PIS e da COFINS quando do julgamento em sede
de Repercussão Geral no RE n. 574.706, consolidou-se no tema 69: “O ICMS nã o compõ e a base
de cá lculo para incidê ncia do PIS e da COFINS”.

3. Que é norma jurídica? E norma jurídica completa? Há que se falar em norma jurídica
sem sanção? Justifique.
Resposta: Norma Jurídica é uma regra, padrão ou princípio que regula determinado
comportamento ou procedimento.
A finalidade da norma, seja ela de que tipo for, pois, existem diversas (de linguagem, de trânsito,
etc), será sempre para determinar um comportamento a ser seguido pelas pessoas que a ela
estão sujeitas.
À algumas normas, as pessoas se sujeitam por opção, como as normas de uma religião, por
exemplo, que determinadas pessoas aderem e se sujeitam conforme a doutrina que lhes são
impostas, há outras regras, cujas pessoas estão sujeitas por imposição, como as normas jurídicas.
O Direito estabelece normas com força coercitiva que se impõem aos indivíduos pelo fato de
estarem sujeitos a um determinado ordenamento jurídico, e regulam praticamente todas as
relações travadas em sociedade, entre particulares, entre estes e os entes públicos, entre entes
públicos de diversas esferas, e até mesmo a interação entre o indivíduo e o meio ambiente.
De acordo com Norberto Bobbio6:
“(...) a nossa vida se desenvolve sob uma série de normas de conduta, jurídicas ou não. O
conjunto dessas normas seria o que caracteriza uma “civilização”, para se estudar uma
civilização do ponto de vista normativo é preciso entender quais normas de conduta guiaram a
construção daquela sociedade e como os indivíduos se relacionaram e se relacionam com essas

6
BOBBIO, Norberto. Teoria do Ordenamento Jurídico. São Paulo/SP: EDIPRO, 2.ed. 2014. P. 231.

O conteúdo desse material é de propriedade intelectual do ©IBET: é proibida sua utilização, manipulação ou reprodução, por
pessoas estranhas e desvinculadas de suas atividades institucionais sem a devida, expressa e prévia autorização.
normas.”
Para Kelsen7, a norma jurídica caracteriza-se por prescrever uma conduta que, se descumprida,
resultará em uma sanção. Assim, na concepção do autor, a sanção é inerente à norma jurídica.
Entretanto, é possível extrair-se do direito posto normas estruturantes ou que apenas definem
institutos.
Desta forma, pode ocorrer que seja construído determinado enunciado linguístico, cuja norma
jurídica prescreva apenas um fato e um mandamento a ele inerente, inexistindo sanção e,
mesmo assim, não descaracterizar o fato de ter sido extraído uma norma do texto positivado.

4. Há diferença entre documento normativo, enunciado prescritivo, proposição e norma


jurídica? Explique estabelecendo a diferença entre o conceito de norma em sentido
amplo e norma em sentido estrito.
Resposta: Documento normativo, a nosso ver, é a norma em si mesma, em sentido estrito.
E, em sentido estrito, a norma é o significado que damos aos enunciados prescritivos, enquanto
suporte físico do direito positivo, ora estruturada na forma hipotético-condicional.
Os enunciados, por sua vez, estão no plano do direito material, e consideram a estrutura
sintático-gramatical. Na verdade, estão ligados ao conjunto de fonemas ou à atividade de grafia,
que observam as regras gramaticais; dizem respeito aos símbolos usados para o texto de lei. As
proposições, de outro lado, trazem o aspecto semântico que os enunciados, orações, palavras,
querem significar; é o juízo hipotético de que as prescrições estarão contidas.
Estes, consideram o conteúdo, no plano das significações isoladas do direito, onde a ação do
homem é elemento essencial de todas as prescrições jurídicas, com o sentido de orientar ou
dirigir a ação do homem.
Vários enunciados podem expressar a mesma proposição, ou proposições diferentes podem
corresponder a um mesmo enunciado, sendo que quando os enunciados, operando proposições,
estiverem prescrevendo condutas estaremos diante de normas jurídicas.
Todas estas são normas. Acontece que o enunciado prescritivo, as proposições, e as normas
jurídicas latu sensu, são normas em sentido amplo; enquanto que as normas jurídicas, textos de
lei, denominadas documentos normativos, são normas jurídicas strictu sensu.

5. Com base em sua resposta dada na questão 2, responda:


a) O desconto de IPVA concedido para contribuintes que não incorreram em infrações de
trânsito é uma utilização do tributo como “sanção de ato ilícito”?
O desconto de IPVA não representa utilização de tributo como sanção de ato ilícito, sob o
fundamento comum de que o desconto constitui benefício fiscal relacionado a momento
posterior ao surgimento da obrigação tributária. Portanto, não é sanção por ato ilícito.
b) E a progressividade do IPTU e do ITR em razão da função social da propriedade? Responda
fundamentadamente e considere para sua resposta as seguintes afirmações do autor Fernando
Favacho: “a definição conotativa do art. 3º do CTN conflita com a definição denotativa do art. 182
da CF. Em suma, a Constituição traz um tributo (IPTU sancionatório progressivo) que, para o CTN,

7
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. 6ª ed. Coimbra: Armênio Amado Editora, 1984, p. 57

O conteúdo desse material é de propriedade intelectual do ©IBET: é proibida sua utilização, manipulação ou reprodução, por
pessoas estranhas e desvinculadas de suas atividades institucionais sem a devida, expressa e prévia autorização.
não é tributo”8 e “o IPTU sancionatório progressivo é tributo, a par do mandamento do CTN”9.
A progressividade do IPTU está prevista no Art. 156, da Constituição Federal:
Compete aos municípios instituir imposto sobre:
§ 1º Sem prejuízo da progressividade no tempo o imposto poderá nos termos de lei municipal, de forma
a assegurar o cumprimento da função social da propriedade.
I-ser progressivo em razão do valor do imóvel; e
II- ter alíquotas diferentes de acordo com a localização e uso do imóvel
Não se pode desconsiderar o princípio da capacidade contributiva, prevista na constituição:
”Art. 145 § 1º - Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a
capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para
conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o
patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte.”
Assim, a progressividade do IPTU e do ITR não é sanção por ato ilícito, pois a progressividade
decorre da isonomia e da política extrafiscal voltada à satisfação da função social da propriedade.
Imperioso relembra a possibilidade de imposição de alíquotas diferenciadas em razão da
periculosidade, que privilegiam a utilização do princípio constitucional da isonomia.

6. Que é direito tributário? Sob as luzes da matéria estudada, efetuar crítica à seguinte
sentença: “Direito tributário é o ramo do Direito público positivo que estuda as
relações jurídicas entre o Fisco e os contribuintes, concernentes à instituição,
arrecadação e fiscalização de tributos”, e propor definição para “direito tributário”.

7. Dada a seguinte lei (exemplo fictício):


Estado de Minas Gerais, Lei Estadual nº 2.017, de 10/10/2017
A Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais Decretou e eu sanciono a seguinte lei:
Art. 1º Esta Taxa de Controle, Monitoramento e Fiscalização de Atividades de Pesquisa, Lavra,
Exploração e Aproveitamento de Recursos Hídricos, que tem como fato gerador o exercício do
poder de polícia do Estado sobre estas atividades.
Art. 2º A base de cálculo dessa taxa é a receita bruta obtida com a comercialização de
mercadorias ou de serviços que utilizem recursos hídricos .
Art. 3o. A alíquota é de 3%.
Art. 4º Contribuinte é Pessoa, física ou jurídica, que utilize recursos hídricos com a finalidade
de exploração ou aproveitamento econômico.
Art. 5º A taxa será apurada mensalmente e recolhida, mediante preenchimento da guia de
recolhimento, até o último dia útil do mês seguinte ao da exploração ou do aproveitamento do
recurso hídrico, sob pena de multa de 10% sobre o valor do tributo devido.
Art. 6º Na ausência de apuração e recolhimento da taxa pelo contribuinte,a autoridade fiscal

8. FAVACHO, Fernando Gomes. Definição do conceito de tributo. São Paulo, 2010. p. 33.

9. Idem. Loc. cit.

O conteúdo desse material é de propriedade intelectual do ©IBET: é proibida sua utilização, manipulação ou reprodução, por
pessoas estranhas e desvinculadas de suas atividades institucionais sem a devida, expressa e prévia autorização.
competente deverá lavrar “Auto de Infração e Imposição de Multa”, aplicando multa de 50%
sobre o valor da taxa devida.
Art. 7º É isenta do pagamento da taxa a utilização de recurso hídrico na captação e consumo
destinados à atividade agropecuária
(...)
Pergunta-se:
a) Quantas normas há nessa lei? Identifique-as.
Pode-se concluir que temos 4 normas nessa lei.
1ª RMIT
Hipótese:
Critério Material: Controle, Monitoramento e Fiscalização de Atividades de Pesquisa, Lavra,
Exploração e Aproveitamento de Recursos Hídricos
Critério Espacial: Estado de Minas Gerais
Critério Temporal: Momento de apuração e recolhimento da taxa.
Consequente:
Critério Pessoal:
Sujeito Ativo: Estado de Minas Gerais
Sujeito Passivo: Empresa que exercem as atividades descritas
Critério Quantitativo:
Base de Cálculo: receita bruta obtida com a comercialização de mercadorias ou de serviços que
utilizem recursos hídricos.
Alíquota: 3%
2ª RMIT
Dever Instrumental: preenchimento da guia de recolhimento.
3ª RMIT
Norma sancionatória no descumprimento da obrigação principal e acessória: A citada taxa
deverá ser recolhida até o último dia útil do mês seguinte ao da exploração ou do
aproveitamento do recurso hídrico, sob pena de multa de 10% sobre o valor do tributo
devido. E no caso de não apuração e recolhimento da taxa pelo contribuinte, a autoridade
fiscal competente deverá lavrar “Auto de Infração e Imposição de Multa”, aplicando multa de
50% sobre o valor da taxa devida.
4ª RMIT
Norma de Isenção:
É isenta do pagamento da taxa a utilização de recurso hídrico na captação e consumo destinados
à atividade agropecuária.

b) Qual dessas normas institui tributo?


1ª RMIT

c) Qual dessas normas é estudada pela Ciência do Direito Tributário? Justificar.

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pessoas estranhas e desvinculadas de suas atividades institucionais sem a devida, expressa e prévia autorização.
Todas são estudadas pela ciência do direito tributário, e como demonstrado, podem ser aferidas
e validadas pela RMIT.

d) O texto legal, acima transcrito, é Ciência do Direito? Justificar.


Não se trata de ciência do direito, mas sim, direito positivo, norma posta a partir do Direito
Natural. O texto legal é quem chama a ciência do direito para analisar, interpretar e identificar a
intenção do legislador, aferindo seus critérios de validade e eficácia.

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