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Módulo Tributo e Segurança Jurídica

SEMINÁRIO IV – INTERPRETAÇÃO, VALIDADE, VIGÊNCIA E EFICÁCIA DAS NORMAS


TRIBUTÁRIAS

Aluna: Láisa Oliveira dos Santos

1. Que significa afirmar que uma norma “N” é válida? Diferençar: (i) validade, (ii)
vigência; (iii) eficácia jurídica; (iv) eficácia técnica e (v) eficácia social.

No entendimento do Professor Paulo de Barros Carvalho afirmar que uma norma “N” é
válida significa dizer que a norma pertence ao sistema do Direito Positivo, mediante a
produção por órgão legítimo, através de procedimento estabelecido para esse fim.

O professor também pondera no seu livro Curso de Direito Tributário, 25ª edição, que
“uma norma só tem sua validade retirada através de outra norma que o determine” e
ainda trata a validade da norma como sinônimo de existência da norma no ordenamento
jurídico, porquanto, no seu entender “ou a norma existe, está no sistema e é, portanto,
válida, ou não existe como norma jurídica”. É ponderado ainda que ainda que a norma
seja julgada inconstitucional, nem por isso ela deixa de existir, permanecendo válida e
pronta para ser aplicada em outros casos.

A vigência, por sua vez, é a aptidão da norma em produzir efeitos para os quais ela foi
criada. Nas lições do Professor Paulo de Barros Carvalho, viger é ter força para
disciplinar, para reger, cumprindo as normas os seus objetivos finais. Afirmar que a
norma “N” é vigente significa dizer que está pronta para operar efeitos tão logo
aconteça os fatos descritos na norma.

A eficácia jurídica da norma é entendida como o processo, a “causalidade jurídica” da


norma. Ocorrendo o fato jurídico, ter-se-á a relação jurídica, o que nos leva a crer que
a eficácia jurídica não é uma qualidade da norma, mas sim do fato que dela consta.

A eficácia técnica é a qualidade que a norma ostenta, no sentido de descrever fatos que,
uma vez ocorridos, tenham a aptidão de irradiar efeitos. É o que acontece quando a
norma tem validade, vigência, mas não está produzindo efeitos.

Já a eficácia social da norma é aquela relacionada a efetividade da norma na sociedade.


Refere-se, portanto, a postura dos destinatários da norma aos mandamentos que ela
disciplina. Uma norma com eficácia social é aquela que foi efetivamente
obedecida/seguida pelos destinatários, de modo que sempre que houver reiterado
descumprimento, entende-se ela inexistência da eficácia social.
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2. Descreva o percurso gerador de sentido dos textos jurídicos explicando os


planos: (i) dos enunciados tomados no plano da expressão (S1); (ii) dos conteúdos de
significação dos enunciados prescritivos (S2); (iii) das significações normativas (S3); (iv)
das relações entre normas (S4).

4. A Lei “A” foi promulgada no dia 01/06/12 e publicada no dia 30 de junho desse
mesmo mês e ano. A Lei “B” foi promulgada no dia 10/06/12, tendo sido publicada no
dia 20 desse mesmo mês e ano. Na hipótese de antinomia entre os dois diplomas
normativos, qual deles deve prevalecer? Justificar.

Entendo que não compete ao legislativo a positivação de interpretações, já que esta é


uma atividade típica do judiciário. Tendo em conta que a interpretação decorre de uma
atividade de valoração textual realizada pelo intérprete, não é possível falar em uma lei
puramente interpretativa, já que para extrair sua significação, o leitor deverá interpretar
com base na sua experiência cultural e histórica.

Ao dispor que a lei tributária interpretativa se aplica ao fato pretérito, o art. 106, I, do
CTN possibilita que a lei se aplique a ato ou fato ocorrido antes do início de sua vigência,
desde que se trate de lei expressamente interpretativa, sendo uma exceção ao princípio
da irretroatividade prevista no art. 150, III, a que proíbe a cobrança de tributos com
relação a fatos geradores consumados antes do início da vigência da lei que o instituiu
ou majorou.

Portanto, é possível a aplicação retroativa na forma do art. 106, desde que (i) o texto
legal não seja inovador, mas vise apenas esclarecer disposição em consonância ao
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entendimento já consagrado na jurisprudência e (ii) ocorra em benefício ao


contribuinte.

6. a seguinte lei fictícia, responder às questões que seguem:


Lei ordinária federal n. 10.001, de 10/10/2016 (DO de 01/11/2016)
Art. 1º Esta taxa de licenciamento de veículo tem como fato gerador a propriedade
de veículo automotor com registro de domicílio no território nacional.
Art. 2º A base de cálculo dessa taxa é o valor venal do veículo.
Parágrafo único. A alíquota é de 1%.
Art. 3º Contribuinte é o proprietário do veículo.
Art. 4º Dá-se a incidência dessa taxa no primeiro dia do quarto mês de cada exercício,
devendo o contribuinte que se encontrar na situação descrita pelo art. 1º dessa lei,
desde logo, informar até o décimo dia deste mesmo mês, em formulário próprio
(FORMGFA043), o valor venal, o tipo, a marca, o ano e a cilindrada do respectivo
veículo.
Art. 5º A importância devida, a título de taxa, deve ser recolhida até o décimo dia do
mês subsequente, sob pena de multa de 10% sobre o valor do tributo devido.
Art. 6º Diante da não emissão do formulário (FORMGFA043) na data aprazada,
poderá, a autoridade fiscal competente lavrar Auto de Infração e Imposição de Multa,
em decorrência da não observância dessa obrigação, impondo multa de 50% sobre o
valor do tributo devido.
(...)
Em 01/06/2019, o Supremo Tribunal Federal decidiu, em ação direta (com efeito erga
omnes), pela inconstitucionalidade desta lei federal. Identificar nas datas abaixo
fixadas, segundo os critérios indicados, a situação jurídica da regra que instituiu o
tributo, justificando cada uma das situações:

Critérios 11/10/2016 01/11/2016 01/02/2017 01/04/2017 01/07/2019


\ datas

É válida SIM SIM SIM SIM SIM

É vigente NÃO SIM SIM SIM NÃO

Incide NÃO NÃO NÃO SIM NÃO

Apresen
NÃO NÃO SIM SIM NÃO
ta
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eficácia
jurídica

Na esteira do entendimento da questão 01, a validade da norma jurídica é a existência


da norma no sistema, o que, no meu entender, independe de publicação no Diário,
sendo esta data relevante para aferição da vigência/incidência.

A vigência, por sua vez, é iniciada quando a norma está apta a qualificar os fatos e
determinar o surgimento dos efeitos jurídicos, o que, no particular, ocorre após o lapso
temporal decorrente da aplicação dos princípios da anterioridade anual e nonagesimal.

A incidência diz respeito à aplicação da norma; já a eficácia jurídica, conforme apontado


anteriormente, é “a propriedade de que está investido o fato jurídico de provocar a
irradiação dos efeitos que lhe são próprios”. A partir do momento em que o contribuinte
realizar a conduta descrita no art. 4º da lei (informar, por meio de formulário próprio,
os dados do veículo), ou quando a autoridade competente lavrar o auto de infração
(referido no art. 6º), ter-se-á a aplicação da norma e os fatos jurídicos provocarão os
respectivos efeitos.

7. Uma lei inconstitucional (produzida materialmente em desacordo com a


Constituição – porém ainda não submetida ao controle de constitucionalidade)
é válida? O vício de inconstitucionalidade pode ser sanado por emenda constitucional
posterior? (Vide anexo V).

Sim, haja vista a inserção da norma no sistema, tem-se a sua validade/existência, ainda
que esta não tenha atendido ao procedimento adequado e seja declarada
inconstitucional. De acordo com o STF o vício não poderá ser sanado por emenda
constitucional, tendo em vista a inadmissão da teoria da inconstitucionalidade
superveniente de ato normativo

8. Leia atentamente abaixo a sucessão de fatos no tempo:


FATO 1 – A lei n. 9.528/97, alterando o art. 25 da Lei n. 8.212/91, estabeleceu que:
“Art. 25. A contribuição do empregador rural pessoa física e do segurado especial
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referidos, respectivamente, na alínea “a” do inciso V e no inciso VII do art. 12 desta


Lei, destinada a Seguridade Social, é de:
I - 2% da receita bruta proveniente da comercialização da sua produção;
II - 0,1% da receita bruta proveniente da comercialização da sua produção para o
financiamento das prestações por acidente do trabalho.”
FATO 2 – Emenda Constitucional 20/1998 alterou a redação do art. 195, inciso I, da
Constituição Federal.
REDAÇÃO NOVA:
Art. 195 - A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e
indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições
sociais:
I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei,
incidentes sobre:
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a
qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo
empregatício;
b) a receita ou o faturamento;
c) o lucro;
REDAÇÃO ANTERIOR:
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e
indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições
sociais:
I - dos empregadores, incidente sobre a folha de salários, o faturamento e o lucro;
II - dos trabalhadores;
FATO 3 – O STF, em controle difuso, declarou inconstitucional o art. 25, incisos I e
UU, da Lei n. 8.212/91, com as alterações promovidas pela lei n. 9.528/97:
(RE 363852, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em
03/02/2010, DJe-071 DIVULGAÇÃO 22-04-2010 PUBLICAÇÃO 23-04-2010):
“RECURSO EXTRAORDINÁRIO - PRESSUPOSTO ESPECÍFICO - VIOLÊNCIA À
CONSTITUIÇÃO - ANÁLISE - CONCLUSÃO. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL -
COMERCIALIZAÇÃO DE BOVINOS - PRODUTORES RURAIS PESSOAS NATURAIS - SUB-
ROGAÇÃO - LEI Nº 8.212/91 - ARTIGO 195, INCISO I, DA CARTA FEDERAL - PERÍODO
ANTERIOR À EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 20/98 - UNICIDADE DE INCIDÊNCIA -
EXCEÇÕES - COFINS E CONTRIBUIÇÃO SOCIAL - PRECEDENTE - INEXISTÊNCIA DE LEI
COMPLEMENTAR. Ante o texto constitucional, não subsiste a obrigação tributária
sub-rogada do adquirente, presente a venda de bovinos por produtores rurais,
pessoas naturais, prevista nos artigos 12, incisos V e VII, 25, incisos I e II, e 30, inciso
IV, da Lei nº 8.212/91, com as redações decorrentes das Leis nº 8.540/92 e nº
9.528/97. Aplicação de leis no tempo - considerações.”
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FATO 4 – A lei 10.256/2001, alterou o caput do artigo 25 da Lei n. 8.212/91:


“Art. 25. A contribuição do empregador rural pessoa física, em substituição à
contribuição de que tratam os incisos I e II do art. 22, e a do segurado especial,
referidos, respectivamente, na alínea a do inciso V e no inciso VII do art. 12 desta Lei,
destinada à Seguridade Social, é de:”
FATO 5 - O STF reconheceu a constitucionalidade da contribuição do empregador
rural pessoa física ao Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (FUNRURAL):
(RE 718874, Relator(a): Min. EDSON FACHIN, Relator(a) p/ Acórdão: Min.
ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em 30/03/2017, PROCESSO
ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-219 DIVULG 26-09-2017 PUBLIC 27-
09-2017 REPUBLICAÇÃO: DJe-225 DIVULG 02-10-2017 PUBLIC 03-10-2017) Ementa:
TRIBUTÁRIO. EC 20/98. NOVA REDAÇÃO AO ARTIGO 195, I DA CF. POSSIBILIDADE DE
EDIÇÃO DE LEI ORDINÁRIA PARA INSTITUIÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO DE
EMPREGADORES RURAIS PESSOAS FÍSICAS INCIDENTE SOBRE A COMERCIALIZAÇÃO
DA PRODUÇÃO RURAL. CONSTITUCIONALIDADE DA LEI 10.256/2001. 1.A declaração
incidental de inconstitucionalidade no julgamento do RE 596.177 aplica-se, por força
do regime de repercussão geral, a todos os casos idênticos para aquela determinada
situação, não retirando do ordenamento jurídico, entretanto, o texto legal do artigo
25, que, manteve vigência e eficácia para as demais hipóteses. 2. A Lei 10.256, de 9
de julho de 2001 alterou o artigo 25 da Lei 8.212/91, reintroduziu o empregador rural
como sujeito passivo da contribuição, com a alíquota de 2% da receita bruta
proveniente da comercialização da sua produção; espécie da base de cálculo receita,
autorizada pelo novo texto da EC 20/98. 3. Recurso extraordinário provido, com
afirmação de tese segundo a qual É constitucional formal e materialmente a
contribuição social do empregador rural pessoa física, instituída pela Lei 10.256/01,
incidente sobre a receita bruta obtida com a comercialização de sua produção.
FATO 6 – Resolução do Senado n. 15/2017:
“Art. 1º É suspensa ,nos termos do art. 52, inciso X, da Constituição Federal, a
execução do inciso VII do art. 12 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, e a execução
do art. 1º da Lei nº 8.540, de 22 de dezembro de 1992, que deu nova redação ao art.
12, inciso V, ao art. 25, incisos I e II, e ao art. 30, inciso IV, da Lei nº 8.212, de 24 de
julho de 1991, todos com a redação atualizada até a Lei nº 9.528, de 10 de dezembro
de 1997, declarados inconstitucionais por decisão definitiva proferida pelo Supremo
Tribunal Federal nos autos do Recurso Extraordinário nº 363.852.”
Considerando as ocorrências acima, responda fundamentadamente:
a) Em dezembro de 1999, é possível afirmar que o art. 25, incisos I e II, da Lei
8.212/98 (redação dada pela lei n. 9.528/97) é válido, vigente e possui eficácia
técnica?

b) A decisão na RE 363.852 é capaz de alcançar a validade, vigência ou a eficácia


do art. 25, incisos I e II, da Lei 8.212/98 (redação dada pela lei n. 9.528/97)?
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c) Quais os efeitos da Resolução do Senado n. 15/2017 no que se refere à Vigência,


validade e eficácia do art. 25, incisos I e II, da Lei 8.212/98 (redação dada pela
lei n. 9.528/97)?

d) A decisão no RE 718.874 alcança a validade, vigência ou eficácia do art. 25,


incisos I e II, da Lei 8.212/98 (redação dada pela lei n. 9.528/97)?

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