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UNIVERSIDADE DE ITAÚNA – FACULDADE DE DIREITO

DIREITO EMPRESARIAL II - 5º PERÍODO NOTURNO –


TURMA “A”
AULA Nº 7– EM 01 09 2022 – Professor Eduardo
Barbosa
SOCIEDADE IRREGULAR OU DE FATO, OU EM COMUM
Distinções: sociedade irregular de fato", considerada
como sendo sociedade irregular, aquela que tenha ato
constitutivo escrito, embora não o tenha registrado; já a
sociedade "de fato" é descrita como sendo aquela que se
quer possua ato constitutivo escrito.

SOCIEDADE IRREGULAR OU DE FATO E A


DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

A PATOLOGIA SOCIAL NAS SOCIEDADES COMERCIAIS.


SOCIEDADE IRREGULAR OU DE FATO E A
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA 

I – SOCIEDADES DE FATO E IRREGULARES

 É conhecida a controvérsia entre Waldemar Ferreira e


J.X.Carvalho de Mendonça. Esse jurista conceituava as
sociedades irregulares como as que funcionam sem
cumprimento das solenidades legais de constituição,
registro e publicidade; as de fato seriam as afetadas por
vícios que inquinassem de nulidade e seriam fulminadas,
por isso, com o decreto de morte, pois apesar de
degeneradas, viveriam enquanto admitidas. Ao passo que
assim doutrina Carvalho de Mendonça, Waldemar Ferreira
sustentava que às vezes os sócios deixam de reduzir a
escrito seu ajuste, e “a sociedade, assim constituída, vive,
funciona e prospera. Mas, vive de fato, como sociedade de
fato se considera, e, outras vezes, ela se organiza por
escrito. Articulam os dispositivos da lei social. O contrato,
porém, não se arquiva no Registro do Comércio. A
sociedade é, por isso, irregular.
Waldemar Ferreira(Sociedades comerciais Irregulares, n.
30), afirmou que “Na prática, entretanto, se empregam
indiferentemente as duas denominações quer de uma quer
de outra se trate”.

Ensinou Rubens Requião(Aspectos modernos de direito


comercial, 1º volume, pág. 391) que “a sociedade
comercial irregular possui atos constitutivos, mas não os
tem inscritos no Registro do Comércio. Se não possuir, nem
sequer os atos inscritos, regulando a relação dos sócios,
chama-se sociedade de fato”.

Mas, em ambos os casos, a consequência prática é


uma só: todos os sócios são solidaria e
ilimitadamente responsáveis pelas obrigações
sociais.

É certo que Dionísio Cerqueira, citado por Rubens Requião,


na obra já mencionada, ao estudar a teoria das sociedades
irregulares, aludiu que nossa lei escrita reconhece a
existência das sociedades irregulares, o que, entretanto,
não impede que ela, com o intuito, aliás, bem louvável de
evitar fraudes, procure, por todos os meios ao seu alcance,
dificultar a vida das mesmas sociedades, impondo-lhe
inúmeras restrições.

Em consequência, sustentou Dionísio Ferreira, que “as


sociedades irregulares.... existem como se fossem
sociedades em nome coletivo; estão sujeitas às mesmas
regras da sociedade regulares; dissolvem-se nos termos
destas, não se observando, no caso da falência,
relativamente à sua liquidação, nenhuma diferença entre
elas e as sociedades regulares."

As Sociedades em Nome Coletivo passam a ser reguladas


não mais pelos artigos 315 e 316 do Código Comercial, mas
pelo disposto nos artigos 1.039 a 1.044 do novo Código
Civil,

Destaco importantes observações de Gilberto Cipullo(As


sociedades em nome coletivo e o novo Código Civil), in 
Consultor Jurídico:
"No tocante à responsabilidade ilimitada e solidária dos
sócios perante terceiros, o parágrafo único do artigo 1.039
do novo Código Civil institui uma nova regra, determinando
que os sócios podem estabelecer, ou no ato constitutivo da
sociedade, ou por unânime convenção posterior, sem
prejuízo da responsabilidade solidária e ilimitada perante
terceiros, limites entre si para a extensão da
responsabilidade de cada um.

O contrato social das Sociedades em Nome Coletivo, deverá


mencionar: (i) a firma social; (ii) o nome, nacionalidade,
estado civil, profissão e residência dos sócios; (iii) a
denominação, objeto, sede e prazo de duração; (iv) o
capital social, expresso em moeda corrente, podendo
compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de
avaliação pecuniária; (v) a quota de cada sócio no capital
social, e o modo de realizá-la; (vi) as prestações a que se
obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços; (vii)
as pessoas naturais incumbidas da administração da
sociedade, e seus poderes e atribuições; e (viii) a
participação de cada sócio nos lucros e perdas.

Na Sociedade em Nome Coletivo a administração da


sociedade é atribuída exclusivamente aos sócios, sendo o
uso da firma, privativo dos que tenham os poderes
necessários, respeitados os limites do contrato social.

Outra novidade está no artigo 1.034 do novo Código Civil,


que veda que o credor particular de sócio, pretenda a
liquidação da quota do devedor antes de dissolver-se a
sociedade. Em outras palavras, enquanto não decorre o
prazo de duração da sociedade, nem houver sua dissolução
antecipada, o credor não poderá atingir aquele patrimônio
do devedor.

Excetuam-se da regra acima referida, contudo, as hipóteses


a seguir referidas: (a) quando o prazo de duração da
sociedade tiver sido prorrogado tacitamente; ou (b) quando
tendo ocorrido a prorrogação do prazo de duração da
sociedade, através de alteração do contrato social, for
judicialmente acolhida oposição do credor prejudicado,
levantada no prazo de 90 dias, contado da publicação do
ato dilatório.

As causas de liquidação da Sociedade em Nome Coletivo


são: (i) vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido
este e sem oposição de sócio, não entrar a sociedade em
liquidação, caso em que se prorrogará por tempo
indeterminado; (ii) o consenso unânime dos sócios; (iii) a
deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade
de prazo indeterminado; (iv) a falta de pluralidade dos
sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias;
e (v) a extinção, na forma prevista em lei, de autorização
para funcionar."

Ora, para a existência de sociedades comerciais será


necessário: a) a pluralidade de sócios; b) a constituição de
capital social; c) a affectio societatis; d) a participação
dos sócios nos lucros e perdas.

Mas há também sociedades de apenas um sócio.

 A Lei nº 12.441, de 11 de julho de 2011, promove


mudanças profundas para os futuros empresários. Uma
sociedade limitada, que sempre exigiu a presença de mais
de um
sócio, perdeu essa obrigatoriedade desde que entrou em
vigor, no dia 09/01/2012."

Estudando a matéria disse Sarah Ghedin Orlandin (Nova lei


permite sociedade limitada com um único sócio) disse:

“A citada lei beneficia o empresário que pretende trabalhar


só, afastando o risco da afetação do patrimônio pessoal. A
responsabilidade limitada responde somente ao patrimônio
da empresa. Sendo assim, os bens da pessoa física ficam
resguardados.

Essa maior proteção, oferecida pela nova modalidade


jurídica, deve contribuir para
que os empreendedores saiam da ilegalidade.
Ainda assim, vale esclarecer que o empresário individual de
responsabilidade limitada,
assim como a empresa limitada poderá ter também a
desconsideração de sua pessoa
jurídica quando agir de forma abusiva e com excessos, de
acordo com o previsto no
art. 50, do Código Civil.

Nem toda empresa pode ser beneficiada com a nova


medida. A lei em comento exige
que o capital social devidamente integralizado da empresa
individual de responsabilidade limitada, não seja inferior a
100 (cem) vezes o maior salário-mínimo vigente no País.
Sobre esta restrição, atesta-se que o legislador se
preocupou em proteger os credores ao estipular o
montante do capital social em valor elevado.

Importante, também, enfatizar que a lei estipulou que, a


pessoa natural que constituir
empresa individual de responsabilidade limitada somente
poderá figurar em uma única empresa dessa modalidade.
Outra novidade é que a empresa limitada constituída de um
único sócio terá acrescida ao final de sua denominação
social a expressão “EIRELI”, de acordo com o constante da
legislação (art. 980-A, § 1º).

Muitas organizações funcionam como sociedade apenas no


papel. Não raras são
situações de empresas onde um dos sócios detém 99% do
capital social. A outra parte, que muitas vezes presta o
“favor” de ceder o nome para a sociedade, pode
ser prejudicada por dívidas da pessoa jurídica."

Explicou Fran Martins (Curso de Direito Comercial, 8ª


edição, pág. 213) que, na prática, as sociedades de fato
são confundidas com as sociedades irregulares, dando-se a
uma a denominação das outras. No entanto, assinalam os
autores que sociedades de fato são aquelas que existem
eivadas de nulidades, apresentando-se ao público como se
fossem sociedades sem, entretanto, possuírem as
formalidades dessas. Irregulares são as sociedades que se
constituem dentro das prescrições legais, mas que deixam
de cumprir as obrigações impostas por lei, embora
conservem a personalidade. As sociedades de fato não
possuem personalidade jurídica, apesar dos autores, como
já mencionado, os confundirem com irregulares, como já foi
exposto por Waldemar Ferreira(Tratado de direito
comercial, volume III, n. 418).

O projeto do Código Civil chamou essas sociedades de


sociedades em comum(artigo 1.023 e seguintes). Mas o
projeto não faz distinção entre as sociedades irregulares e
as sociedades de fato, que para Fran Martins, inexistia.

Fran Martins, aliás, perfilhava posição de que as sociedades


de fato seriam as que funcionam sem quaisquer
documentos em que se baseiam a sua situação. Por sua
vez, as sociedades irregulares, as que tendo contrato
escrito, deixam de arquivá-lo no Registro de Comércio.

Posteriormente, Fran Martins(obra citada, pág. 253)


afirmou que “quer a sociedade tenha os atos constitutivos
escritos e não arquivados, quer resulte apenas de atividade
comercial em comum com ânimo  societário, teremos uma
sociedade de fato, e não uma sociedade irregular. Esta será
a sociedade que se organiza legalmente, arquiva os seus
atos constitutivos no Registro do Comércio, mas,
posteriormente, pratica atos que desnaturam o tipo
social(por exemplo, uma sociedade em comandita simples
por prazo determinado ultrapassa esse prazo sem cumprir
as obrigações impostas por lei(não possui livros
obrigatórios, não levanta o balanço anual). Já a sociedade
de fato não chegou a possuir personalidade jurídica, por
não ter arquivado os seus documentos constitutivos no
Registro do Comércio. A circunstância de terem algumas
sociedades chegado a lavrar um contrato especificando
objeto, capital, atribuições e responsabilidade dos sócios
etc; serve apenas de elementos de prova entre os sócios,
nenhum reflexo tendo em relação aos terceiros que são
aqueles que contratam com a sociedade. “
Jean Calais – Auloy (Essaisurlanotion d’apparence em
DroitCommercial, nouvelle tirage, 1961, páginas 111 e
seguintes), levava em conta a chamada teoria da
aparência. Assim, apresentando-se a terceiros, como uma
sociedade comercial, estes estando de boa-fé, são
amparados pela aparência da sociedade e assim poderão
agir contra os sócios na defesa de seus direitos, já que,
para as sociedades irregulares como as que hoje são
concebidas, não se aplica o princípio da aparência, pois os
terceiros poderão, a qualquer instante, certificar-se da
existência da sociedade mediante consulta ao Registro do
Comércio.

As sociedades de fato não possuem personalidade jurídica,


por não arquivarem seus atos constitutivos no Registro do
Comércio. Por sua vez, as chamadas sociedades irregulares
têm sempre personalidade, uma vez que uma pessoa
jurídica só deixa de existir quando extinta a sociedade.

Para a doutrina, o Novo Código Civil previu, de forma


expressa, as sociedades não personificadas, diferenciando-
as em sociedades por conta de participação e sociedades
em comum, sendo que estas últimas são as
tradicionalmente conhecidas sociedades de fato ou
irregulares.

Sendo assim, não  há interesse prático em diferenciar


as sociedades de fato (sem contrato social) das
sociedades irregulares (com contrato não
registrado), uma vez que o divisor de águas, entre a
existência fática e a jurídica, é o registro (precedido
de autorização do Poder Executivo, quando
necessária).

Como acentuou o Consultor Jurídico (A sociedade em conta


de participação e o Código Civil): 

"A Sociedade em Conta de Participação ("SCP") é uma


reunião de pessoas físicas ou jurídicas para a produção de
um resultado comum, operando sob a responsabilidade
integral de um "sócio ostensivo". É o sócio ostensivo quem
pratica todas as operações em nome da SCP, registrando-
as contabilmente como se fossem suas, porém
identificando-as para fins de partilha dos respectivos
resultados.

Os sócios participantes (antigamente denominados


ocultos), ou seja, todos os outros integrantes do
empreendimento que não o sócio ostensivo, não têm
participação na gestão dos negócios e se obrigam somente
perante este último."

II – A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURIDICA

É sabido que o patrimônio da pessoa jurídica não se


confunde com o da pessoa física. 

Desconsidera-se  a separação patrimonial existente entre o


capital de uma empresa e o patrimônio de seus sócios para
os efeitos de determinadas obrigações, com a finalidade de
evitar sua utilização de forma indevida, ou quando este for
obstáculo ao ressarcimento de dano causado ao
consumidor.

Sabe-se que o mais curioso é que a disregarddoctrine não


visa anular a personalidade jurídica, mas somente objetiva
desconsiderar no caso concreto, dentro de seus limites, a
pessoa jurídica, em relação às pessoas ou bens que atrás
dela se escondem. É o caso da declaração de ineficácia
especial da personalidade jurídica para determinados
efeitos, prosseguindo, todavia, a mesma incólume para
outros fins legítimos. 

Wormeser, jurista americano, desde 1912, versou a


doutrina, procurando delinear o seu conceito, professando
que "quando o conceito de pessoa jurídica(corporateentity)
se emprega para defraudar os credores, para subtrair-se a
uma obrigação existente, para desviar a aplicação de uma
lei, para constituir ou conservar um monopólio ou para
proteger velhacos ou delinquentes, os tribunais poderão
prescindir da personalidade jurídica e considerar que a
sociedade é um conjunto de homens que participam
ativamente de tais atos e farão justiça entre pessoas
reais". 
Pedro Batista Martins(Abuso do direito e o ato ilícito)
resumiu essa situação de abuso da seguinte forma: "O
titular de um direito que, entre vários meios de realizá-los,
escolhe precisamente o que, sendo mais danoso para
outrem, não é o mais útil para si, ou mais adequado ao
espírito da instituição, como, sem dúvida, um ato abusivo,
atentando contra a justa medida dos interesses em conflito
e contra o equilíbrio das relações jurídicas". 

Daí virou, nos tribunais americanos e nos tribunais


germânicos, uma constante que entendeu pelo
levantamento do véu da personalidade jurídica, pela
aplicação dessa teoria estudada. Mas ela tem um
verdadeiro caráter excepcional. 

É certo que o artigo 350 do Código Comercial é assim


visto: 

Art. 350 - Os bens particulares dos sócios não podem ser


executados por dívidas da sociedade, senão depois de
executados todos os bens sociais.

Ora, como ensinou Rubens Requião "o direito, enfim, foi


criado em atenção ao indivíduo, tendo por objeto ordenar
sua convivência com outros indivíduos. O exercício de seus
direitos, embora privados, deve atender a uma finalidade
social. A função social do direito, que se refere, sobretudo
aos contratos e à propriedade, deve pelo indivíduo ser
atendida". 

 O artigo 50 do Código Civil de 2002 dá dois requisitos para


a desconsideração da personalidade jurídica: abuso de
personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de
finalidade ou a confusão patrimonial. Assim, somente estas
situações justificariam a desconsideração, que deve ser
reconhecida por decisão judicial.

Desvio  indica o “uso indevido ou anormal”, visto que “o


sócio que detém a liberdade de iniciativa de se servir de
uma personalidade jurídica, distinta dos membros que
compõem a pessoa jurídica, emprega seus esforços para
dar outro destino à tal personalidade.Observa-se assim
que, para que ocorra o desvio de finalidade, o exercício da
personalidade jurídica deve ser abusivo, direcionado a um
fim estranho à sua função.

Fábio Konder Comparato(O poder de controle na sociedade


anônima, 1976, pág. 293/294)    ensina que:

“A confusão patrimonial entre controlador e sociedade


controlada é, portanto, o critério fundamental para a
desconsideração da personalidade jurídica externa
corporis. E compreende-se, facilmente, que assim seja, pois
a pessoa jurídica nada mais é, afinal, do que uma técnica
de separação patrimonial. Se o controlador, que é o maior
interessado na manutenção desse princípio, descumpre-o
na prática, não se vê bem porque os juízes haveriam de
respeitá-lo, transformando-o, destarte, numa regra
puramente unilateral.”

Ainda pode-se ter a  desconsideração da personalidade


jurídica, mediante a execução fiscal  em todos os âmbitos,
matéria regida pela Lei 6.830/80.

Já em relação ao Código de Defesa do Consumidor, os


requisitos estão apresentados no art. 28, quais sejam:
abuso de direito; excesso de poder; infração da lei; ato e
fato ilícito e; violação dos estatutos e contratos. Há
também a modalidade de desconsideração trazida pela má
administração da empresa que seria: falência; insolvência;
encerramento e; inatividade.

A primeira hipótese de desconsideração elencada pelo


artigo 28 do CDC, é o abuso de direito, que representa o
exercício não regular de um direito. A personalidade
jurídica é atribuída visando determinada finalidade social,
se qualquer ato é praticado em desacordo com tal
finalidade, causando prejuízos a outrem, tal ato é abusivo
e, por conseguinte atentatório ao direito, sendo a
desconsideração um meio efetivo de repressão a tais
práticas. Neste particular, o CDC acolhe a doutrina que
consagrou e sistematizou a desconsideração.
O CDC  refere-se ao excesso de poder, que diz respeito aos
administradores que praticam atos para os quais não tem
poder. Ora, os poderes dos administradores são definidos
pela lei, pelo contrato social ou pelo estatuto, cuja violação
também é indicada como hipótese de desconsideração.
Assim, pode-se reunir  em um grupo o excesso de poder, a
violação ao contrato social ou ao estatuto, a infração a lei e
os fatos ou atos ilícitos.

Por fim, o caput do artigo 28 menciona a falência,


insolvência, o encerramento das atividades provocado por
má administração.

A doutrina põe a conhecimento que o  primeiro processo


judicial que efetivamente enfrentou o debate sobre a
desconsideração da pessoa jurídica foi o caso “Salomon
versus Salomon & Co Ltda” ocorrido na Inglaterra, em
1897”.

Destaca-se, nos Estados Unidos, em 1.809, o caso Bank of


United States vs. Deveaux, no qual o Juiz Marshall
conheceu do caso e levantou o véu da pessoa jurídica
(piercing thecorporateveil) e considerou a característica dos
sócios individualmente falando. Não se trata propriamente
de um leading case a respeito da desconsideração da
pessoa jurídica, mas apenas de uma primeira manifestação 
que olhou além da pessoa jurídica e considerou as
características individuais dos sócios.

 Pretendia-se, no caso, pelos credores da sociedade, a


superação da personalidade jurídica, de modo a afastar
uma manobra do sócio majoritário da sociedade que em
razão de titulo preferencial que possuía em decorrência de
suposto empréstimo, alegava preferencia do recebimento
de créditos contra sociedade de que era participante, em
detrimento dos demais credores.

No Brasil, O Código de Defesa do Consumidor  foi o


primeiro dispositivo legal a se referir à desconsideração da
personalidade jurídica. Posteriormente, foi inserida em
outras leis: art. 18 da Lei n.º 8.884/1994 (Lei do CADE);
art. 4º da Lei 9.605 de 12.2.98 (dispõe sobre as sanções
derivadas de danos ao meio ambiente); e art. 50 do Código
Civil de 2002. Particularmente, na doutrina, tem a lição de
Rubens Requião, Abuso de direito e fraude através da
personalidade jurídica, onde a matéria é tratada, publicada
em 1969.

Prevê o Enunciado n.º 51 do Conselho da Justiça Federal,


aprovado na I Jornada de Direito Civil que “a teoria da
desconsideração da personalidade jurídica –
disregarddoctrine – fica positivada no novo Código Civil,
mantidos os parâmetros existentes nos microssistemas
legais e na construção jurídica sobre o tema”

Há duas teorias para explicitar a matéria.

As teorias maior e menor da desconsideração explicitam as


duas formulações existentes que expõem  a superação da
personalidade jurídica a partir dos requisitos a serem
preenchidos para sua aplicação.

A teoria maior tem base sólida e se trata da verdadeira


desconsideração, vinculada à verificação do uso fraudulento
da personalidade jurídica, ou seja, apresenta requisitos
específicos para que seja concretizada.

Adotando-se a teoria maior, a desconsideração só será


levada a efeito caso restem preenchidos e demonstrados os
requisitos legais configuradores do uso abusivo da pessoa
jurídica.

Para  a teoria menor bastaria para a caracterização da


desconsideração a mera comprovação da insolvência da
pessoa jurídica, sem aferir nenhum desvio, confusão
patrimonial e nem irregularidade do ato.

A teoria menor é adotada pelos sistemas jurídicos


protetivos, já que justifica-se na impossibilidade de
transferência a terceiros dos riscos inerentes das atividades
exploradas pelas pessoas jurídicas, e por conta disso, quem
se beneficia a atividade explorada pela sociedade
personificada, ou seja, os sócios, também devem arcar com
as obrigações surgidas.
A teoria menor da desconsideração é adotada pelo Código
de Defesa do Consumidor e pela Lei de Crimes Ambientais.

Em matéria de ilícitos ambientais é adotado o  instituto da


disregarddoctrine, com a desconsideração da personalidade
jurídica, sempre que for criado um obstáculo ao
ressarcimento dos prejuízos causados à qualidade do meio
ambiente. Supera-se o conflito entre as soluções éticas,
que questionam a autonomia patrimonial da pessoa jurídica
para responsabilizar sempre os sócios, e as técnicas que se
apegam, de forma inflexível, ao primado
da separação subjetiva das sociedades. Especificamente, na
Lei de crimes contra o ambiente, no artigo 24, há previsão
de que a pessoa jurídica constituída ou utilizada,
preponderantemente, com o fim de permitir, facilitar ou
ocultar a prática de crime definido na Lei terá decretada
sua liquidação forçada, seu patrimônio será considerado
instrumento do crime e como tal perdido em favor do
Fundo Penitenciário Nacional.

Já o Código Civil, em seu artigo 50, adota a teoria maior da


desconsideração, na medida em que se faz necessária a
configuração de certos requisitos.

“Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica,


caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão
patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte,
ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no
processo, que os efeitos de certas e determinadas relações
de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos
administradores ou sócios da pessoa jurídica.”

Primeiramente, verifica-se que a desconsideração da


personalidade jurídica não pode ser aplicada de ofício pelo
Juiz, dependendo, portanto, de requerimento do Ministério
Público, nas causas que possui legitimidade para atuar
como demandante ou como fiscal da lei, ou ainda da parte
interessada.

A matéria é versada no Código de Processo Civil de 2015.


Trata-se de incidente processual. Mas lembre-se
que o  simples incidente processual jamais gera uma
relação processual nova

É o que diz o artigo 133 do CPC de 2015 quando a norma


determina que o incidente de desconsideração da
personalidade jurídica será instaurado a pedido da parte ou
do Ministério Público, quando lhe couber intervir no
processo. Os pressupostos previstos em lei devem observar
a sua instauração.

O  art. 134, reforça  o tratamento incidental que é


conferido à disregarddoctrine no novo CPC posto que
reitera o fato de que sua aplicação "é cabível em todas as
fases do processo de conhecimento, no cumprimento de
sentença e também na execução fundada em título
executivo extrajudicial".

Mas, a teor do parágrafo segundo do artigo 134 do diploma


legal em referência, dispensa-se a instauração do incidente
se a desconsideração da personalidade jurídica for
requerida na petição inicial, hipótese em que deve ser
citado o sócio ou a pessoa jurídica.

Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será


citado para manifestar-se e requerer as provas cabíveis em
prazo peremptório de 15(quinze) dias. Melhor seria dizer:
será intimado.

Como tal sendo um incidente, a decisão será interlocutória,


que ocorrerá após a instrução, cabendo recurso de agravo
de instrumento. Se a decisão for do relator, o recurso será
agravo interno(artigo 136, caput, e parágrafo único,
respectivamente)

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