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DIREITO COMERCIAL E DO

CONSUMIDOR
AULA 3

Prof. Silvano Alves Alcantara


CONVERSA INICIAL

O objetivo da aula de hoje é falar sobre as sociedades.


Iniciaremos pelas sociedades não personificadas, também chamadas de
sociedades irregulares.
Em seguida falaremos das sociedades regulares, começando pela
sociedade simples, que é não empresária, para então abordarmos as
sociedades empresárias, trazendo o que cada uma delas tem de mais relevante.

TEMA 1 – SOCIEDADE NÃO PERSONIFICADA

Informa o Código Civil que, não tendo registrado seus atos constitutivos,
as sociedades serão consideradas não personificadas, e é claro, irregulares.
Mas, para regularizar situações que de fato já aconteciam, o legislador
resolveu considerar algumas sociedades não personificadas, até mesmo para
proteger terceiros, ou seja, aqueles que com elas negociam, como clientes ou
fornecedores.
Portanto, podemos encontrar, devidamente dispostas na Lei n. 10.406/02,
duas sociedades não personificadas: a sociedade em comum e a sociedade em
conta de participação.
A sociedade em comum é a sociedade não personificada propriamente
dita, pois não registrou seu ato constitutivo do órgão competente ou nem mesmo
o possui.
A responsabilidade dos sócios é solidária e ilimitada em relação às
obrigações assumidas pela sociedade.
Já a sociedade em conta de participação tem outras particularidades.
Possui dois tipos de sócios: o ostensivo, que responde por todas as obrigações
perante terceiros; e o participante, também denominado de sócio oculto, que só
tem responsabilidade perante o ostensivo, mas também participa dos
resultados na sociedade.

TEMA 2 – SOCIEDADE SIMPLES

Em relação à sociedade simples, que é a sociedade não empresária,


colhemos o entendimento de Alcantara (2017, p.52/53):

Como já mencionamos, o CC, ao definir o conceito de empresário no


Livro II, que trata do direito de empresa, também deixa claro quem não

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é empresário, sendo aquele que exerce profissão intelectual. Em
seguida, determina as regras para a criação das sociedades, determina
nas regras para a criação da sociedade simples (S/S), que pode ser
instituída por profissionais que exercem atividade intelectual de
natureza artística, científica ou literária, assim como as cooperativas,
sendo que suas disposições servem de maneira subsidiária para as
demais sociedades.
Assim será enquanto não estiver presente o elemento empresa, ou
seja, não se transformar em atividade econômica organizada, caso em
que se transmudaria em sociedade empresária. Deverá, por
conseguinte, explorar a atividade intelectual particular de cada um dos
sócios, na cada um possui suas habilidades técnicas, especificamente
para a qual foi instituída.
O entendimento é simples: basta os sócios não atuarem mais em suas
profissões de origem, contratando como colaboradores outros
profissionais para que desempenhem suas funções, enquanto eles
mesmos desenvolvem atividade de administração, de gestão da
sociedade, momento em que se transformam em empresários.
Um bom exemplo de sociedade simples é quando dois ou mais
profissionais liberais – que podem ser médicos, dentistas, contadores
etc. – resolvem trabalhar juntos em um mesmo escritório ou
consultório, para exercerem suas profissões, constituindo uma
sociedade formal entre si, explorando de forma profissional e pessoal
a prestação de serviços a eles inerentes.
A sociedade simples é a primeira no rol das sociedades personificadas
ou regulares dispostas pelo CC, tendo seu ato constitutivo
devidamente registrado e arquivado no órgão competente, que, nesse
caso, é o Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas. Nesse
momento adquire personalidade jurídica, sendo sujeito de direito,
podendo contrair obrigações e exercer direitos.

TEMA 3 – SOCIEDADE LIMITADA

A sociedade limitada é disciplinada pelo Código Civil e, segundo Alcantara


(2017, p.56):

A sociedade limitada é, certamente, o tipo societário mais utilizado no


país. Suas disposições estão previstas no CC, do art. 1.052 ao art.
1.087, sendo que as regras da sociedade simples também podem ser
utilizadas, no que couber, incluindo-se os requisitos constantes no art.
997, quanto ao contrato social.
Seus sócios são chamados de cotistas, e cada um tem a obrigação de
subscrever e integralizar um determinado valor, que pode ser em
qualquer tipo de bem, desde que aceito pela sociedade. É vedada a
integralização com prestação de serviços, para constituir o capital
social. Essa integralização do capital social pode ser feita de imediato
ou em parcelas, de acordo com o estabelecido no contato social. No
entanto, pela integralização, todos os sócios respondem
solidariamente, por mais que suas responsabilidades gerais se limitem
ao valor de suas cotas individuais.

Ao constituir a sociedade, o sócio pode entregar a quantia total, com a


qual pretende contribuir na formação do capital social, e ter garantida a
porcentagem de participação nos lucros, deliberações e acervo. Pode ainda se
comprometer a contribuir com certa quantia, em parcelas, em prazo e forma
estabelecida no contrato social. No primeiro caso, ocorre a integralização das

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quotas sociais, e no segundo, as quotas e, em consequência, o capital social
não são integralizados, quando da constituição, mas posteriormente.
Para deixar a sociedade, a alienação das quotas pelo sócio a terceiro
interessado em nela ingressar é admitida pelo Código Civil, quando o contrato
social não contém cláusula vedando a alienação a terceiros, sem anuência dos
demais. Assim, sem cláusula contratual proibitiva, o sócio pode alienar suas
quotas independentemente da concordância dos demais, tendo a sociedade
características de sociedade de capital; mas, se o contrato social contiver a
proibição, a sociedade tem característica de sociedade de pessoas.
A classificação das sociedades limitadas, como de pessoas, depende da
proibição de alienação das quotas pelo sócio sem anuência dos demais, e em
consequência, da dificuldade da penhora das quotas do sócio por dívida
particular. Sendo de pessoas, o credor propõe ação de execução em relação ao
sócio devedor, obtém penhora das quotas, que são levadas a leilão, mas quem
as arremata não pode ingressar na sociedade pela proibição contratual,
recebendo somente os lucros apurados e os haveres relativos às quotas, na
liquidação da sociedade, pois a sociedade não pode ser prejudicada com a
exclusão do sócio e liquidação da quota, para pagamento do credor, enquanto
os sócios não são obrigados a permitir o ingresso do terceiro adquirente de
quotas da sociedade, por ser estranho.

TEMA 4 – SOCIEDADE ANÔNIMA

A sociedade anônima tem o capital social dividido em ações do mesmo


valor, além da responsabilidade dos sócios limitada ao preço de emissão das
ações subscritas ou adquiridas.
Alcantara (2017, p.61) ensina que “A subscrição de ações é o
compromisso assumido pelo pretenso acionista em adquirir determinado tipo de
ação. Já a aquisição é a efetivação da compra, é o momento em que se pagou
pela subscrição efetuada”.
Algumas são as características da sociedade anônima, entre elas,
colecionamos, segundo Alcantara (op. cit., p. 61/62):

Características gerais:
A sociedade anônima se caracteriza por ter a responsabilidade de seus
sócios limitada ao preço de suas ações. Além disso, possui algumas
peculiaridades, a saber:

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• Mercantilidade: independentemente da atividade a ser explorada,
obrigatoriamente será sociedade empresária.
• Subsidiária integral: pode instituir uma sociedade constituída por um
só sócio, descaracterizando a regra máxima de que uma sociedade
somente pode ser composta por duas ou mais pessoas.
• Denominação social: deve utilizar como nome comercial a espécie
denominação social, acrescida dos termos S/A, Cia., Sociedade
Anônima ou Companhia.
• Administração: deve ser realizada por meio de órgãos bem definidos,
como a assembleia geral, que é órgão de deliberação, o conselho de
administração e a diretoria, que são órgãos de execução, e o
conselho fiscal, que é órgão de controle.
• Certificados: de acordo com o art. 23 da Lei n. 6.404/1976, poderão
ser emitidos para a materialização das ações, após terem sido
cumpridas as formalidades necessárias ao funcionamento legal da
companhia.

Distinguem-se as sociedades anônimas e sociedades limitadas, porque:


na primeira, a responsabilidade dos sócios é limitada ao preço de emissão das
ações subscritas ou adquiridas, e na outra é limitada ao total do capital social; a
primeira é mercantil independentemente da natureza da atividade, e a outra é
mercantil ou civil, conforme a atividade; pode a primeira ter estranho ao quadro
social, como diretor, e a outra não; a ação tem representação material, e a quota
não; a primeira pode emitir valores mobiliários, e a outra não; na primeira, é
obrigatório o uso da denominação social, e a outra pode usar razão social ou
denominação; e a primeira é de constituição obrigatória na exploração de certas
atividades, e a outra não.
Há duas espécies de sociedades anônimas, que na visão de Alcantara
(2017, p. 62):

A sociedade anônima pode ser constituída de duas formas diferentes,


a depender da vontade e do interesse de seus acionistas. Será aberta
quando for possível negociar seus valores mobiliários na bolsa de
valores ou no mercado de balcão, depois que forem devidamente
registrados na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Poderá
também ser fechada, quando não registrarem seus valores mobiliários
na CVM e, automaticamente, não os negociarem no mercado de
valores.

TEMA 5 – SOCIEDADE EM COMANDITA SIMPLES E POR AÇÕES

A sociedade em comandita simples é aquela que tem como característica


a existência de sócios que respondem ilimitadamente pelas dívidas da sociedade
– sócios comanditados –, obrigatoriamente pessoas físicas, e sócios prestadores
de capital – sócios comanditários –, responsáveis pelos fundos declarados no
contrato, e tão-somente por isso.
Assim ensina Requião (2015, p. 420):

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Ocorre a sociedade em comandita simples quando duas ou mais
pessoas se associam, para fins comerciais, obrigando-se uns como
sócios solidários, ilimitadamente responsáveis, e sendo outros
simplesmente prestadores de capitais, com a responsabilidade limitada
às suas contribuições de capital. Aqueles são chamados sócios
comanditados, e, estes, sócios comanditários.

A sociedade em comandita por ações, instituída pela Lei 6.404/76, que


também regula as sociedades anônimas, tem as mesmas características da
sociedade em comandita simples, com algumas peculiaridades, em que o sócio
comanditado é obrigatoriamente um de seus acionistas, sendo os demais todos
sócios comanditários.
Alcantara (2017, p. 74) entende a sociedade em comandita por ações
como “[...] uma possibilidade para aquele empresário individual de ver crescer
seus negócios, mudando seu tipo societário. Com isso, poderá captar recursos
e ampliar suas atividades, continuando com o controle e a administração da
sociedade”.

NA PRÁTICA

Dois ou mais médicos resolvem constituir uma pessoa jurídica, todos


sendo sócios, para que cada um deles possa fazer seus atendimentos médicos,
dentro de sua especialidade. Alugam em espaço para seus consultórios e
contratam alguns funcionários para ajudá-los na administração da clínica
médica. Da forma como foi criada, e sendo que todos os sócios prestam serviços
médicos dentro de suas especialidades, para que a sociedade possa se manter,
esta sociedade pode ser caracterizada obrigatoriamente como sociedade
empresária ou pode ser uma sociedade simples?

FINALIZANDO

Estudamos na aula de hoje as sociedades.


Primeiramente vimos as sociedades irregulares, mas consideradas pela
legislação e denominadas pelo Código Civil de sociedades não personificadas,
abordando as sociedades em comum e as sociedades em conta de participação.
Na sequência, o estudo foi sobre as sociedades personificadas, iniciando
pela simples, que é uma sociedade não empresária, e posteriormente passamos
pelas sociedades empresárias, vendo a sociedade limitada, a sociedade
anônima e a sociedade em comandita simples e por ações.

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REFERÊNCIAS

ALCANTARA, S. A. Direito empresarial e direito do consumidor. Curitiba:


InterSaberes, 2017.

BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Diário Oficial da União, Poder


Legislativo, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 24 jul.
2017.
BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União,
Poder Legislativo, Brasília, DF, 17 dez. 1976. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6404consol.htm>. Acesso em: 23 jul.
2017.
REQUIÃO, R. Curso de Direito Comercial. 35. ed. rev. e atual. v. 1. São Paulo:
Saraiva, 2015.

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