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DIREITO COMERCIAL E DO

CONSUMIDOR
AULA 4

Prof. Silvano Alves Alcantara


CONVERSA INICIAL

Nesta rota de aprendizagem estudaremos os contratos mercantis.


Abordaremos inicialmente a teoria geral dos contratos, tratando dos requisitos
mínimos e legais para a validade de todo e qualquer contrato. Em seguida,
examinaremos alguns contratos mercantis, como o contrato de fomento
mercantil, o contrato de franquia, de alienação fiduciária em garantia e o
arrendamento mercantil, trazendo as particularidades de cada um.

TEMA 1 – TEORIA GERAL DOS CONTRATOS

Falar da teoria geral dos contratos é tratar dos elementos necessários e


indispensáveis para que todo e qualquer contrato possa ser considerado válido.
É sempre bom lembrar que os contratos, também denominados de
pactos ou convenções, devem ser firmados entre as partes envolvidas, sem
nenhum constrangimento ou coação, em que cada um possa exprimir
livremente sua vontade.
Os contratos têm o poder tanto de criar quanto de modificar ou extinguir
as relações jurídicas de caráter patrimonial e, é claro, estar dentro da
legalidade.
Em relação à esta legalidade, trazemos a disposição do art. 104, do
Código Civil:

Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:


I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei.

Os contratos são negócios jurídicos e como tal necessitam que estes


requisitos estejam presentes para que sejam considerados válidos.
Assim, podemos dividir esses requisitos em:

 Elementos subjetivos: capacidade das partes contratantes;


consentimento recíproco.

 Elementos objetivos: objeto lícito e possível; forma prescrita ou não


defesa em lei.

Portanto, é preciso que as partes tenham capacidade para contratar e


que não estejam em nenhuma das situações de incapacidades elencadas nos
art. 3º e 4º da Lei n. 10.406/02.
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Obrigatoriamente as partes devem expressar sua manifestação de
vontade em contratar.
Quanto ao objeto a ser contratado, este deve ser permitido por lei,
devendo ser, se possível, determinável.
Em relação à forma, se houver alguma prescrição legal, assim devendo
ser atendida, também será válida, não havendo qualquer proibição da forma
estipulada pelos contratantes.

TEMA 2 – CONTRATO DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA

O contrato de alienação fiduciária nada mais é do que um empréstimo


de dinheiro com garantia, também denominado de contrato de mútuo, em que
um dos sujeitos do contrato, aquele que precisa de dinheiro, transfere ao outro
sujeito do contrato, aquele que vai emprestar, um determinado bem, que
garantirá a dívida até o pagamento total do valor emprestado.
A parte devedora é chamada de fiduciante, e a parte credora é chamada
de fiduciária.
O bem deverá ser transferido a seu proprietário original ou a quem de
direito, ou mesmo de acordo com o ajuste firmado entre as partes.
Alcantara (2016, p. 96) informa que:

Na maioria dos casos, o credor fiduciário não é proprietário do bem,


que é adquirido de terceiros, pagando-lhe o valor total. O proprietário
transfere o domínio do bem ao devedor fiduciante e este, por sua vez,
assume perante o credor fiduciário todas as obrigações do contrato,
ficando o bem como garantia do negócio firmado até o término do
contrato. Assim, tanto a posse direta quanto a propriedade do bem
são do devedor, podendo ser tomadas pelo credor em caso de
inadimplência contratual.

Qualquer bem é passível da alienação fiduciária, podendo ser bem


imóvel ou móvel.
É importante destacar que no caso de bens imóveis, o contrato de
alienação fiduciária deve ser averbado junto à matrícula do imóvel, e no caso
de bens móveis, deve ser devidamente registrado no cartório de registro de
títulos e documentos, tudo para que tenha validade e eficácia perante terceiros.

TEMA 3 – CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL – LEASING

O contrato de arrendamento mercantil, também denominado de


Leasing, guarda certa identidade com o contrato de alienação fiduciária,

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pois também é muito aplicado pelo empresário, quando necessita de “caixa”
ou de capital de giro para fomentar seus negócios, mas ressaltamos que se
trata de contratos distintos.
Alguns são os tipos de leasing, de que poderá fazer uso o empresário, e
para entendermos um pouco mais desses tipos, colhemos o entendimento de
Alcantara (2016, p. 97/98):
Leasing financeiro: é o contrato mais utilizado no Brasil.
Normalmente, o empresário precisa arrendar um bem e, encontrando-
o, procura uma instituição financeira, que o adquire em seu nome,
pagando o preço total ao proprietário, e o arrenda ao empresário,
firmando com o mesmo [sic] o contrato de leasing. Nesse tipo de
leasing, frequentemente o Valor Residual Garantido (VRG) financeiro
é de pequena monta ou inexistente, não tendo o empresário
arrendatário nada ou praticamente nada a desembolsar se optar pela
compra do bem ao final do contrato, somente as despesas
relacionadas à transferência do bem.
Leasing operacional: nesse tipo de contrato, o proprietário do bem é
o próprio arrendador, pois é seu fabricante, que o arrenda
diretamente ao arrendatário. O valor residual, normalmente, é muito
elevado, pois uma das características desse tipo de contrato é que o
valor das parcelas pagas a título de locação não poderá exceder a
90% do valor de mercado do bem, caso em que o VRG será
expressivo. Outra característica é que o prazo do contrato poderá ser
superior a 75% do prazo de vida útil econômica do bem. Estas são as
determinações da Resolução n. 2.465/1998 do Banco Central do
Brasil;
Leasing back: a diferença deste tipo para o leasing financeiro é que
o bem a ser arrendado é de propriedade do empresário arrendatário,
que o vende ao arrendador, firmando com este o contrato de leasing
back. (grifos no original)

TEMA 4 – CONTRATO DE FRANQUIA – FRANCHISING

O contrato de franquia empresarial, também denominado de


Franchising, tem uma legislação especial que o regulamenta, que é a Lei n.
8.955/1994.
Diz o art. 2º do diploma legal em apreço:

Art. 2º Franquia empresarial é o sistema pelo qual um franqueador


cede ao franqueado o direito de uso de marca ou patente, associado
ao direito de distribuição exclusiva ou semiexclusiva de produtos ou
serviços e, eventualmente, também ao direito de uso de tecnologia de
implantação e administração de negócio ou sistema operacional
desenvolvidos ou detidos pelo franqueador, mediante remuneração
direta ou indireta, sem que, no entanto, fique caracterizado vínculo
empregatício.

Salientamos que o instrumento contratual deverá ser sempre por escrito,


devidamente assinado pelos contratantes e por duas testemunhas, devendo
ainda ser averbado junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI),
para que tenha validade, pois se trata de propriedade industrial.

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Também aqui dois são os sujeitos contratuais: de um lado está o
franqueado, que é aquele que adquirirá, mediante contrato, a possibilidade de
trabalhar com os produtos e serviços do franqueador, e este, o franqueador,
que já possui o know-how do negócio, com sua propriedade industrial,
registrada ou patenteada junto ao INPI, franqueará sua utilização para o
franqueado.
Para Coelho (2015, p.443):

A franquia é um contrato pelo qual um comerciante (franqueador –


franchisor) licencia o uso de sua marca a outro (franqueado –
franchisee) e presta-lhe serviços de organização empresarial, com ou
sem venda de produtos. Através deste tipo de contrato, uma pessoa
com algum capital pode estabelecer-se comercialmente, sem precisar
proceder ao estudo e equacionamento de muitos dos aspectos do
empreendimento, basicamente os relacionados com a estruturação
administrativa, treinamento de funcionários e técnicas de marketing.
(grifos no original)

TEMA 5 – CONTRATO DE FOMENTO MERCANTIL – FACTORING

Sendo fomento mercantil a finalidade principal, o contrato será destinado


a fomentar, incrementar e fazer crescer os ativos das empresas. Neste
particular, estão no segmento foco das organizações de factoring as micro,
pequenas e médias empresas, com o fim de alavancar os negócios destas,
eliminando o seu endividamento, aumentando suas vendas e expandindo o seu
ativo.
A empresa de fomento comercial, denominada de faturizadora, terá que
obrigatoriamente ter em seu objeto social duas atividades: uma de compra e
venda, e outra de prestação de serviços, sob pena de descaracterização de
fomento comercial.
Na compra e venda, a faturizadora está autorizada a comprar de outras
empresas, seus créditos ou direitos creditícios de suas vendas realizadas a
prazo, representados por títulos de crédito, tais como cheques, duplicatas ou
notas promissórias.
Na prestação de serviços, terá que obrigatoriamente prestar algum
serviço a sua cliente, denominada de faturizada, podendo ser a gestão
financeira ou a análise de créditos, entre outros.
É de vital importância que estas duas atividades estejam presentes,
como também que a faturizada seja empresa, individual ou coletiva, não se

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admitindo pessoa física como cliente. Se não for assim, o contrato de fomento
mercantil restará descaracterizado.

NA PRÁTICA

Certo gestor hospitalar, necessitando levantar fundos para fazer frente


aos compromissos assumidos na gestão do hospital que representa, está em
dúvida quanto ao tipo de contrato a ser firmado, pois várias foram as propostas
oferecidas, desde um empréstimo com garantia até a venda de alguns títulos
de crédito que possui, advindos do recebimento por serviços prestados no
hospital, a prazo. Dentro do estudo realizado e dos tipos de contratos trazidos,
analise estas possibilidades.

FINALIZANDO

Tivemos a oportunidade de estudar nesta aula os contratos.


Aprendemos um pouco mais sobre a teoria geral dos contratos e
pudemos observar os requisitos necessários para a validade de todo e
qualquer negócio jurídico, de que fazem parte os contratos.
Fizemos a abordagem de alguns contratos mercantis, entre eles o
contrato de factoring, o contrato de leasing e franchising, bem como do contrato
de alienação fiduciária em garantia, com as suas peculiaridades.

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REFERÊNCIAS

ALCANTARA, S. A. Direito empresarial e direito do consumidor. Curitiba:


InterSaberes, 2016.

BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Diário Oficial da União,


Poder Legislativo, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 24 jul.
2017.

_____. Lei n. 8.955, de 15 de dezembro de 1994. Diário Oficial da União,


Poder Legislativo, Brasília, DF, 16 dez. 1994. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8955.htm>. Acesso em: 27 nov. 2017.

COELHO, F. U. Manual de Direito Comercial: direito de empresa. 27. ed. São


Paulo: Saraiva, 2015.

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