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FACULDADE DE DIREITO
Marcos Ngola
(Regente)
Objectivos:
a) Educativo: compreender a crescente importância dos
laços entre Angola e outros Estados, motivados pelos
intercâmbios pessoal e comercial;
b) Instrutivo: desenvolver um raciocínio crítico sobre os
princípios do DIP e as soluções consagradas no sistema
conflitual angolano.
Método de ensino: seminários e aulas teórico-práticas:
diálogo; reflexão sobre textos; análise de jurisprudência
e resolução de hipóteses práticas;
Método de avaliação: participação nas aulas,
apresentação de trabalhos provas semestrais e exames.
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
II - CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
I. INTRODUÇÃO
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
SUMÁRIO: INTRODUÇÃO
Noção
• “é a norma que regula a questão privada internacional
através de remissão para uma das ordens jurídicas locais
a que a questão está ligada, ordem jurídica essa, que é
assim declarada competente para a resolver” (ISABEL
MAGALHÃES COLLAÇO).
Função:
• Conflito de soberanias vs conflitos interindividuais
• Bilateralismo vs unilateralismo (introverso vs extroverso)
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
3. A NORMA DE CONFLITOS – NOÇÃO, FUNÇÃO, ESTRUTURA,
OBJECTO E CARACTERÍSTICAS
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
3. A NORMA DE CONFLITOS - ESTRUTURA, OBJECTO, FUNÇÃO E CARACTERÍSTICAS
Objecto:
• Relações transnacionais (L. PINHEIRO)
• Normas materiais (F. CORREIA e B. MACHADO )
Pluralidade de métodos :
• Normas materiais de DIP
• Normas de aplicação imediata ou necessária (art. 2223.°,
CC e art. 110.º, CC)
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
6. RELAÇÃO ENTRE O DIP E O DIREITO CONSTITUCIONAL
Pretensa localização do DIP num espaço livre à
constitucionalidade:
• Sentença do Bundesverfassungsgericht (Alemanhã), de 4.05.1971.
• Escola norte-americana de DIP.
Planos de interferência do Direito Constitucional no DIP:
• Recepção do Dto Pub. Internacional Geral (art. 13.º, 1, CRA).
• Condições de vigência dos tratados ou acordos internacionais
(art. 13.º, 2, CRA).
• Nacionalidade (art. 9.º, CRA).
• Princípio da igualdade (art. 23º, CRA).
• Direitos dos estrangeiros e apátridas (art. 25.º, CRA).
Eventual autonomia de uma cláusula de excepção constitucional
em DIP:
• A exigência do nexo relevante.
Sumários de DIP
• A suficiência da OPI. Marcos Ngola
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7. CONDIÇÃO JURÍDICA DOS ESTRANGEIROS (ARTIGO 14.º DO CC)
Princípio da equiparação (art. 14º, 1, CC)
• “Os estrangeiros são equiparados aos nacionais quanto ao
gozo de direitos civis, salvo disposição legal em contrário”.
Princípio da retaliação/ reciprocidade (?) (art. 14º, 1, CC)
• “Não são, porém, reconhecidos aos estrangeiros os direitos
que, sendo atribuídos pelo respectivo Estado aos seus
nacionais, o não sejam aos angolanos em igualdade de
circunstâncias”.
Pretensa inconstitucionalidade do nº 2 do art. 14º do CC
face ao art. 25.º, 1,CRA (art. 15º, 1, CRP e 23.º, 1, CRG)
• A favor: C. MENDES, M. COLLAÇO, C. FERNANDES E L. PINHEIRO.
Contra: J. MIRANDA, F. CORREIA,
SumáriosM.
de DIPVICENTE
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DIREITO DE CONFLITOS ANGOLANO
Código Civil, Livro I, Título I, Capítulo III, artigos 14º a 65
A) SECÇÃO I - Disposições gerais (arts. 14º - 24º)
Condição jurídica dos estrangeiros (Artigo 14.º)
Qualificações (Artigo 15º)
Referência à lei estrangeira. Princípio geral (Artigo 16º)
Reenvio para a lei de um terceiro Estado (Artigo 17º)
Referência material (art. 16º)
Reenvio (arts. 17º - 19º)
Ordenamentos jurídicos plurilegislativos (Artigo 20º)
Fraude à lei (art. 21º)
Ordem pública (art. 22º)
Interpretação e averiguação do direito estrangeiro (art. 23º)
Actos realizados a bordo (artigo 24º)
Sumários de DIP
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1. SISTEMA DE REENVIO OU DEVOLUÇÃO ANGOLANO
Hipóteses práticas
• Hipótese 1: Ronaldinho, cidadão brasileiro, com residência
habitual em Angola morre neste país. Segundo o DIP
angolano, a lei reguladora da sucessão desse indivíduo é a
lex patrie e segundo o DIP brasileiro, a lei aplicável é a lei da
residência habitual. Quid iuris?
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
1. SISTEMA DE REENVIO OU DEVOLUÇÃO ANGOLANO
Pressupostos de um problema de devolução:
1) A norma de conflitos do foro remete para uma lei estrangeira;
2) A remissão possa não ser entendida como uma referência
material;
3) A lei estrangeira designada não se considere competente, e
devolve a competência para a lei do foro (retorno de
competência ou reenvio do 1º grau) ou reenvia a competência
uma outra lei estrangeira (transmissão de competência ou
reenvio do 2º grau).
Origem do problema:
• Reenvio como problema de política legislativa
• Divergência e interpretação da norma de conflitos
• Conflito de negativo de competências
• Desarmonia internacional de decisões
Sumários de DIP
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1. SISTEMA DE REENVIO OU DEVOLUÇÃO ANGOLANO
Atitudes possíveis perante conflito negativo de normas de conflitos
Atitude favorável ao reenvio como princípio geral (tese referência global):
• Tese da referencia global pura;
• Tese da devolução simples (DIP francês)
• Tese da dupla devolução ou foreign court theory (DIP inglês)
Atitude absolutamente condenatória do reenvio (tese da referência
material)
• Art. 16.º, Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro;
• Art. 30.º, Disposições Preliminares do CC Italiano;
Atitude condenatória do princípio, mas favorável ao reenvio com um
alcance limitado (teses intermédias):
• Adoptação da referência material nuns casos e da referencia global noutros
casos (arts. 16.º a 19.º dos CCs português, moçambicano, guineense, cabo-
verdiano, angolano e arts. 13.º-18º do CC macauense.
Sistema de reenvio angolano: devolução
Sumários de DIP simples ou dupla devolução?
Marcos Ngola
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1. SISTEMA DE REENVIO OU DEVOLUÇÃO ANGOLANO
Regime de Reenvio no CC angolano
• Devolução do 2.º grau, transmissão de competência, ou reenvio para
a lei de um terceiro Estado (artigo 17.º do CC), que pode ser com
retorno ou em cascata.
• Devolução do 1.º grau, retorno ou reenvio para a lei do Estado do
foro (artigo 18.º do CC), que pode ser directo ou indirecto.
• Limites à admissibilidade do devolução:
Relevância da conexão residência habitual.
Ilegitimidade de um estado ou invalidade de um negócio que seria
legítimo ou válido por aplicação do art. 16.º CC (art. 19.º, 1, CC).
Remissão feita pelo elemento de conexão designação pelos
interessados (arts. 34º e 41º CC, ex vi n. art. 19.º, 2, CC).
• Reenvio ad hoc ou especial: arts. 36º, 2 e 65º, 1, in fine.
Sumários de DIP
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1. SISTEMA DE REENVIO OU DEVOLUÇÃO ANGOLANO
Caracterização do sistema de devolução angolano (sui generis)
1º A regra geral é a da referência material, o que decorre não tanto
dos pressupostos da devolução enunciados nos n º 1 dos arts. 17º e
18º CC ,mas dos limites colocados à devolução pelos seus nº 2, em
matéria de estatuto pessoal, e pelo art. 19º CC.
2º os arts. 17º e 18º contêm regras especiais, que admitem a
devolução, configurando um sistema de devolução sui generis, visto
que não corresponde á devolução simples nem à devolução integral.
No entanto, parece mais próximo na sua inspiração da devolução
integral, visto que a devolução depende sempre do acordo com L2.
3º Em matéria de forma do negócio jurídico admite-se a transmissão
de competência para uma lei que não esteja disposta a aplicar-se
para obter a validade formal do negócio (arts. 36º e 65º).
Sumários de DIP
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2. PROBLEMA DA QUALIFICAÇÃO
Hipóteses práticas
• Hipótese 3: Um condutor português atropela um transeunte moçambicano, numa
passadeira em Angola. A norma aplicável é a do artigo 45.º do CC e o artigo 483.º
do CC é subsumível ao seu conceito-quadro. Quid iuris?
• Hipótese 4: Armanda e Bandeira, cidadãos mexicanos, residentes habitualmente em
Windhoek, em 2012 venderam em Windhoek um imóvel situado nesta cidade, a
Cácio, seu flilho, As partes designaram como lei reguladora do contrato a lei da
Namíbia. Décio, outro filho do casal, que não deu seu consentimento para venda,
requer perante tribunal angolano a anulação do contrato com fundamento no
disposto no artigo 877º do CC angolano. Armando, Berta e Cácio contestam,
considerando aplicável ao contrato o direito namibiano, com fundamento no artigo
41º do CC angolano. Considerando que o direito material da Namíbia não contém
qualquer norma semelhante a do artigo 877º do CC angolano e o artigo 992º do CC
mexicano contém norma semelhante a do artigo 877º do CC angolano, diga se a
pretensão de Décio deve proceder. Quid iuris?
• Hipótese 5: Jean, suíço, morreu em Angola tendo deixado em testamento todos os
seus bens aos médicos angolanos que o assistiram. Aberta a sucessão, os familiares
suíços e que vivem na Suíça invocam a invalidade do testamento com base no artigo
2194.º do CC angolano. O direito suíço não se opõe à validade de tal testamento.
Quid iuris, tendo em conta o disposto no artigo
Sumários de DIP 62.º do CC angolano. Quid iuris?
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Marcos Ngola
2. PROBLEMA DA QUALIFICAÇÃO
Noção de qualificação:
• Em sentido amplo: problema de interpretação e aplicação da norma de
conflitos
• Em sentido restrito: subsunção de um quid ou coisa concreta ao conceito
quadro da norma de conflito.
• O Conceito quadro da norma de conflitos funciona para esta norma tal
como a previsão funciona para as normas de direito material.
Momentos ou operações envolvidas na qualificação
1º Premissa maior: Interpretação do conceito - quadro das normas de
conflitos;
2º Premissa menor: determinação ou delimitação do objecto de qualificação
(normas materiais) e sua caracterização nos quadros do ordenamento em que
se inserem, tendo em conta o seu conteúdo e função (artigo 15.º CC);
3º Subsunção: aplicação da norma de conflitos – qualificação em sentido
estrito (subsunção ou recondução das normas materiais delimitadas ao
conceito - quadro da norma de conflitos que designa como competente o
ordenamento a que pertencem as Sumários
normas materiais em questão).
de DIP
Marcos Ngola
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2. PROBLEMA DA QUALIFICAÇÃO
Conflitos de qualificações
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
2. PROBLEMA DA QUALIFICAÇÃO
Conflitos de qualificações
• Princípio do depeçage
• Norma de conflitos 2 (art. 49º) - substância - normas materiais
guineenses = casamento inválido
• Norma de conflitos 1 (art. 50º) - forma - normas materiais francesas =
casamento válido
Possíveis soluções do conflitos de qualificação
• Qualificação lege fori em sentido impróprio
Lex fori vs lei estrangeira = Lex fori
Lex estrangeira vs lei estrangeira = Lei semelhante à lex fori
• Hierarquização das qualificações conflituais
Substância vs forma = Substância
Pessoal vs real = real
Matrimónio vs sucessão = aplicação sucessiva
Conflitos de qualificações como verdadeiros conflitos de normas de
conflitos Sumários de DIP
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2. PROBLEMA DA QUALIFICAÇÃO
Cúmulo jurídico e vácuo jurídico
• Hipótese 7: Por morte do marido, o direito da mulher a certos
bens que pertenceram ao casal, funda – se quer no regime de
bens do casamento quer num título de vocação sucessória que a
faz herdeira de parte dos bens deixados pelo marido. Quid iuris?
• Hipótese 8: Morre em Angola, sem testamento e sem parente
sucessível, um inglês com domicílio em Londres. A herança
compõe - se de bens situados no Lubango. A lei aplicável à
sucessão é a lei inglesa (que se reconhece competente). O
direito da Coroa de que falamos pode assimilar - se a um direito
real, mas o preceito da lei inglesa que o reconhece refere - se
apenas aos bens situados na Inglaterra. Podemos fazer recurso a
essa norma? Podemos chamar os artigos 2152.º e ss do CC
angolano? Quid iuris?
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
2. PROBLEMA DA QUALIFICAÇÃO
Cúmulo jurídico e vácuo jurídico
Cúmulo jurídico
• Ocorre quando uma mesma pretensão venha a aparecer como
duplamente fundamentada, protegida ou reconhecida, no caso
concreto, por efeito da aplicação de duas regras de conflitos que
chamam dois direitos materiais.
Vácuo jurídico:
• Ocorre quando uma mesma pretensão, reconhecida pelas duas leis
chamadas por duas regras de conflitos, quando tais leis fossem
tomadas globalmente, fique afinal desprovida de norma que a
fundamente.
Possíveis soluções do conflitos de qualificação
• Com as necessárias adaptações valem as mesmas soluções
propostas para o conflito de qualificações
Sumários de DIP
Marcos Ngola
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3. REFERÊNCIA DA NORMA DE CONFLITOS A UM ORDENAMENTO
JURÍDICO COMPLEXO
Hipóteses práticas
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
3. REFERÊNCIA DA NORMA DE CONFLITOS A UM ORDENAMENTO
JURÍDICO COMPLEXO
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
4. FRAUDE À LEI NO DIP
Casos de difícil justificação da relevância da fraude à lei:
A) Se o interessado passar a viver seriamente no estado da nova nacionalidade,
quando é este o elemento de conexão relevante manipulado com êxito pelos
interessados
A) Se se pretende evitar erradamente a aplicação de uma norma material que
não existe.
B) Se se trata de uma conexão falhada, isto é, se o interessado não manipulou o
elemento de conexão relevante mas outro.
A) Se não se conseguir criar uma nova conexão em virtude de fraude simulação
ou reserva mental em relação a lei de que dependia a criação dessa conexão.
A) Se uma sociedade tem sede efectiva em determinado pais qualquer que tenha
sido a intenção dos interessados ao escolher aquela sede.
A) Se se infringe o disposto no artigo 41.°, 2 ( só há fraude se se internacionalizar
fraudulentamente um negocio puramente interna).
A) Se a manipulação do elemento de conexão for para fins meramente
Sumários de DIP
ostentatório. Marcos Ngola
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6. A EXCEPÇÃO DE ORDEM PÚBLICA INTERNACIONAL
Hipótese prática
• Hipótese 14: A, de nacionalidade maliana, residente
habitualmente em Malanje, pretende casar com a sua quinta
companheira em Angola, o que lhe é permitido pela sua lei
pessoal. Quid iuris?
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
6. A EXCEPÇÃO DE ORDEM PÚBLICA INTERNACIONAL
Ideia de OPI
• A OPI é um conceito indeterminado concretizável hoc et nunc pelo órgão de
aplicação do direito, não se define pelo seu conteúdo, apenas pela sua
função.
• Função: limite à aplicabilidade das leis estrangeiras, em razão da sua
desconformidade, em concreto, com princípios fundamentais do
ordenamento jurídico do foro (Concepção aposteriorística e não
apriorística).
Critérios Gerais de Delimitação da OPI
a) Critério da natureza dos interesses (superiores) ofendidos;
b) Critério do grau de divergência essencial;
c) Critério da Imperatividade
Só obteremos uma maior aproximação da verdade fazendo uma síntese de
todos esses critérios, acrescido de outros elementos de Direito Privado da
Lex fori fundados em razões de ordem económica, ético - religiosas ou
Sumários de DIP
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políticas. Marcos Ngola
6. A EXCEPÇÃO DE ORDEM PÚBLICA INTERNACIONAL
Características da OPI
a) Excepção - permite afastar o ordenamento normalmente
aplicável.
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
6. A EXCEPÇÃO DE ORDEM PÚBLICA INTERNACIONAL
Consequências da Intervenção da OPI
• Afastamento de um preceito ou conjunto de preceitos da lei que o
DIP do foro qualifica de competente (art. 22.º, 1, CC).
• Formação de uma lacuna que urge colmatar:
Procurar no ordenamento jurídico competente normas apropriadas
que permitam regular a questão concreta e que não firam o
ordenamento interno; se não for houver
Recurso ao direito material da lex fori (artigo 22.º, 2, CC).
Efeitos atenuados da OPI
• Intervém sempre nos casos em contacto com o ordenamento
jurídico interno;
• Nos casos sem contacto com o ordenamento interno ela só deve
intervir perante situações graves ou aberrantes como a escravatura
o apartheid, etc. Sumários de DIP
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Marcos Ngola
7. ESTATUTO E APLICAÇÃO DO DIREITO MATERIAL ESTRANGEIRO
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
7. ESTATUTO E APLICAÇÃO DO DIREITO MATERIAL ESTRANGEIRO
Interpretação do Direito Estrangeiro
• Interpretação de lex causae, i.e., em conformidade com os
critérios de interpretação seguidos no país de origem e com a
jurisprudência e doutrina aí dominantes (artigo 23.°, 1 do
CC).
• A interpretação da regra estrangeira segundo as concepções
próprias da lex fori só se concebe como ultima ratio.
• A circunstância de a mesma regra vigorar simultaneamente
em varias ordens jurídicas não impede que a respectiva
interpretação seja diferente de pais para pais (ex.:
interpretação das normas do CC de 1966 em Angola e em
Portugal)
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
7. ESTATUTO E APLICAÇÃO DO DIREITO MATERIAL ESTRANGEIRO
Conhecimento e prova do Direito estrangeiro
Tribunal
• Para decidir, o tribunal precisa de conhecer os factos e o Direito.
• No direito interno: os factos têm de ser, em geral, provados pelas
partes (princípio do dispositivo); e o Direito deve ser conhecido pelo
Tribunal (princípio da oficiosidade) (664º CPC).
• E no DIP? Poderá exigir - se o conhecimento oficioso do Direito
estrangeiro?
No Direitos anglo – saxónicos, o ónus de alegação e prova do
Direito recai sobre as partes.
Nos países da família romano – germânico, o Direito estrangeiro é
de conhecimento oficioso.
É também a última a posição do legislador angolano (art. 348.º/1
e 2, CC e 721.º, n.ºs 2 e 3 do CPC). No art. 348.º/1 e 2, CC, há
apenas um dever de colaboração da parte que invoca o Dto Estrg
na determinação no seu conteúdo. Não há um ónus da prova. 46
Sumários de DIP
Marcos Ngola
7. ESTATUTO E APLICAÇÃO DO DIREITO MATERIAL ESTRANGEIRO
Outros órgãos de aplicação do Direito
• Quanto aos notários e conservadores, a lei não exige
expressamente que conheçam oficiosamente o Direito estrangeiro
aplicável.
• O caso da habilitação de herdeiros (notários).
• O caso do certificado de capacidade matrimonial (conservadores).
Controlo da interpretação e aplicação do Dto Estng pelos ST
• Na Alemanha e na França o controlo não é em princípio efectuado.
Solução contrária é adoptada em Itália e em Portugal.
• Em Portugal, o art. 722.° do CPC estabelece que o erro na
determinação e aplicação das normas legais estrangeiras constitui
fundamento do recurso de revistas (nº2).
• Em Angola, o Recurso de Revista foi revogado pelo n.º 3, do art.
45.º da Lei 20/88, 31 de Dez. No n.º 2, são extraordinários os
recursos de Unif. de Jurisp.,Sumários
revisão
de DIP
e oposição de terc. para o
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plenário do TS. Marcos Ngola
7. ESTATUTO E APLICAÇÃO DO DIREITO MATERIAL ESTRANGEIRO
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
8. ACTOS REALIZADOS A BORDO
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
SUMÁRIO: DIREITO DE CONFLITOS ANGOLANO
B) Parte Especial do Direito de Conflitos
1. Conflito de nacionalidades
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
1. CONFLITO DE NACIONALIDADES
Lei da Nacionalidade, Lei n.º 2/16 de 15 de Abril, artigos 32.º e 33º.
Conflitos entre nacionalidade angolana e nacionalidade estrangeira (art.
32.º)
“não é reconhecida nem produz efeitos na ordem jurídica interna angolana
qualquer outra nacionalidade atribuída aos cidadãos angolanos”.
Crítica: Lei do Estado da nacionalidade mais efectiva (KEGEL).
Conexão manifestamente mais estreita com a nacionalidade estrangeira.
(MARQUES DOS SANTOS)
Princípio da harmonia jurídica internacional e valores fundamentais do DIP.
Conflitos entre nacionalidades estrangeiras (art. 32.º)
“nos conflitos positivos de duas ou mais nacionalidades estrangeiras,
prevalece a nacionalidade do Estado em cujo território o plurinacional
tenha a sua residência habitual ou na falta desta, a do Estado com o qual
tenha um vínculo mais estreito”
Princípio da nacionalidade efectiva
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
2. O SISTEMA DE NORMAS DE CONFLITOS ANGOLANO
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
2.1. ÂMBITO E DETERMINAÇÃO DA LEI PESSOAL (ARTS. 25ª-35ª)
Pessoas singulares e colectivas
Pessoas singulares
Pessoas singulares
• Capacidade de gozo específica
Capacidade para contrair casamento ou celebrar convenções
antenupciais v.g., artigo 49.° CC (A última parte está revogada?)
Capacidade para fazer, modificar ou revogar uma disposição por
morte (artigo 63.° CC)
• Excepções e desvios quanto a capacidade de exercício/de agir
Excepção de interesse nacional (artigo 28.º, 1, 2 e 3 CC)
Sucessão de estatutos (artigo 29° CC)
Capacidade para constituir direitos reais sobre coisas imóveis ou
para dispor deles (artigo 47.° CC).
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
2.1. ÂMBITO E DETERMINAÇÃO DA LEI PESSOAL (ARTS. 25ª-35ª)
Pessoas colectivas:
A teoria da constituição (Incorporation theory) – segundo a qual
a pessoa colectiva rege - se pela lei à luz da qual nasceu como
ente colectivo.
Teoria da sede social:
• Teoria da sede social real (v.g., Europa continental e artigos
33.°, nº 1 CC e 3º, nº 1, da LSC)
Teoria da sede estatutária (v.g. na Holanda e artigo 3.º, nº 2 da
LSC).
Domínio de matérias a regular pela lei pessoal - o estatuto
pessoal (art. 33.º, n.ºs 1-4)
• Constituição ou nascimento, a vida e a extinção (artigo 33.°, 2)
Pessoas colectivas internacionais (artigo 34.º)
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
2.2. LEI REGULADORA DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS (ARTS. 36ª-40ª)
Declaração negocial (artigo 35.º)
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
2.2. LEI REGULADORA DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS (ARTS. 36ª-40ª)
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
2.2. LEI REGULADORA DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS (ARTS. 36ª-40ª)
• Lei do Estado onde estes poderes são exercidos (art. 39.°, 1.)
• Possibilidade de aplicação de varias leis, se forem vários os
Estados em que os poderes são exercidos ( art. 39.°, 1, CC) .
• O mandato se rege pelo princípio da autonomia (art. 41.ª e
ss)
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
2.3. LEI REGULADORA DAS OBRIGAÇÕES (ARTS. 41ª-45ª)
Gestão de Negócio
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
2.3. LEI REGULADORA DAS OBRIGAÇÕES (ARTS. 41ª-45ª)
Responsabilidade extracontratual
• Lex loci delicti comissi (artigo 45.° )
Determinação do lugar da actividade
a) a tese do lugar da conduta (V – artigo 45.º 1,
b) a tese do lugar do resultado (last event theory); (excepção 45.º, 2 );
c) tese da opção do lesado (jurisprudência alemã) ;
d) soluções mistas
• V.g., António compra uma conserva envenenada em Luanda, consome
em Pretória e no Cairo é hospitalizado com uma intoxicação. Quid
iuris?
Aplicação da lei pessoal comum (nacionalidade ou residência habitual),
artigo 45.º, 3 CC
Âmbito de aplicabilidade da lei designada pelo artigo 45.°: os
pressupostos e as consequências da obrigação de indemnizar fundada
Sumários de DIP
na culpa, no risco ou facto lícito.
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2.4. LEI REGULADORA DAS COISAS (ARTS. 46ª-48ª)
Sucessão de estatutos
• v.g., O comprador alemão de um objecto situado em Angola
adquire a propriedade desse objecto por força do contrato. Se a
coisa é transportada para a Alemanha, país em que, para a
transferência da propriedade, se exige a traditio, o comprador
permanece proprietário?
Propriedade intelectual
O Registo de casamento
• Por inscrição (art. 40.º, Cód. da Fam. (no consulado)); ou
• Por transcrição (art. 41.º do Cód. da Fam.);
Princípio da ininvocabilidadeSumários de DIP
Marcos Ngola
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2.6. LEI REGULADORA DAS RELAÇÕES DE FAMÍLIA (ARTS. 49.º- 61º)
Efeitos do casamento
• Relações pessoais e relações patrimoniais
Artigo 52.° - lex familae - regula as relações pessoais e patrimoniais não
dependentes de um certo regime de bens- conexão móvel;
Artigo 53.° regula as relações patrimoniais dependentes de um certo
regime de bens - conexão fixa
Artigo 54.° regula a questão da mutabilidade ou imutabilidade dos regime
de bens - remissão para o artigo 52.° CC - conexão móvel.
Divórcio e separação - artigo 55°CC- remete para o artigo 52º
• Lex familiae
• Carácter limitativo do artigo 55º, 2 CC (só é possível o divórcio se a lei do
divórcio - estatuto novo - e a lei do anterior estatuto o admitirem.
A filiação - constituição e efeitos - artigos 56.° e 57º CC - tb 61.° CC
A Adopção - constituição e efeitos – 60.º e 6.º1 CC
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
2.7. LEI REGULADORA DAS SUCESSÕES (ARTS. 62ª-65ª
Princípios gerais
• Lei pessoal do de cuius (art. 62.° CC)
• Estatuto suspenso
• Conexão móvel, mas imobilizada no tempo
Sucessão Testamentária:
• Capacidade testamentária (artigo 63.° CC (lei da disposição))
• Interpretação (art. 64.°, a) CC) princípio da autonomia da
vontade na 2ª parte do preceito? ;
• Falta e vícios da vontade (art. 64.°, b), CC;
• Admissibilidade de testamentos de mão comum ou de pactos
sucessórios (art. 64.°, c), CC)
• Forma (art. 65.° CC)
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
Direito aplicável ao contrato de trabalho internacional
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
3. EVOLUÇÃO DOS DIPs DA LUSOFONIA. SINOPSE COMPARATIVA
Direito angolano
Direito português
Direito cabo-verdiano
Direito brasileiro
Direito macaense
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
A) PARTE GERAL DO DIREITO DE CONFLITOS
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
B) PARTE ESPECIAL DO DIREITO DE CONFLITOS
Lei reguladora das coisas
• Macau: Os nºs 2 e 3 do art. 45.º que correspondem aos n.ºs 2 e 3
do nosso art. 46 contém algumas diferenças:
N.º 2 No “respeita à constituição ou transferência de direitos reais
sobre coisas em trânsito”, estabelece que tais coisas são “havidas
como situadas no lugar do destino”
N.º3 "[a] constituição e transferência de direitos sobre os meios
de transporte submetidos a um regime de matrícula são
reguladas pela lei do lugar onde a matrícula tiver sido efectuada”.
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
B) PARTE ESPECIAL DO DIREITO DE CONFLITOS
Lei reguladora da união de facto
• Cabo Verde e Macau: Já foi consagrada pelo art. 53.º, 3 do CC de
Cabo Verde e pelo art. 58.º do CC de Macau.
• Angola e Portugal: defende-se a aplicação analogicamente do
disposto no artigo 49.º ou no art. 25.º do CC
• Artigo 58.º do CC de Macau:"[o]s pressupostos e os efeitos da
união de facto são regulados pela lei da residência habitual
comum dos unidos de facto" (n.º 1) ou, subsidiariamente, pela
"lei do lugar com o qual a situação se ache mais estreitamente
conexa" (n.º 2)”.
• Esta disposição relativa à união de facto não está inccluída nem
na Subsecção V relativa às relações de família nem na Subsecção
III que trata das relações contratuais, como é preconizado por
alguns autores, mas está numa Subsecção autonoma, a VI.
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
SUMÁRIO: DIREITO DA COMPETÊNCIA INTERNACIONAL DOS TRIBUNAIS
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
1. DIREITO DA COMPETÊNCIA INTERNACIONAL DOS TRIBUNAIS
Ideias preliminares
• O Direito da Competência Internacional dos
Tribunais é formado pelo conjunto de normas de
competência internacional, de norma sobre a
interpretação e aplicação das normas de
competência internacional e de princípios gerais
que dominam este complexo normativo.
• A competência internacional dos tribunais é o
complexo de poderes que lhe são atribuídos para o
exercício da função jurisdicional com respeito as
situações transnacionais.
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
1. DIREITO DA COMPETÊNCIA INTERNACIONAL DOS TRIBUNAIS
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
1. DIREITO DA COMPETÊNCIA INTERNACIONAL DOS TRIBUNAIS
• Princípios
• Valores
Certeza jurídica
Previsibilidade jurídica Sumários de DIP
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Marcos Ngola
1. DIREITO DA COMPETÊNCIA INTERNACIONAL DOS TRIBUNAIS
Fontes das normas de competência internacional (materiais)
Fontes internacionais : Convenções de unificação do regime de
competência internacional.
Fontes internas CPC, arts 61.° e ss.
Interpretação e aplicação das normas de competência
internacional
• Paralelismo com interpretação e aplicação das normas
de DIP:
De fontes interna - tem de ser interpretadas como parte
do sistema jurídico angolano.
De fonte internacional - tem de ser autônoma, a própria
convenção determina.
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
1. DIREITO DA COMPETÊNCIA INTERNACIONAL DOS TRIBUNAIS
Relação entre a competência internacional e o Direito aplicável
Sumários de DIP
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2. DIREITO DE RECONHECIEMENTO DE ACTOS PÚBLICOS ESTRANGEIROS
Classificação
• Os actos públicos internos - praticados por autoridades nacionais
• Os actos públicos externos (actos administrativos ou decisões
judiciais) - praticados por autoridades estrangeiras.
• As decisões arbitrais - praticados por tribunais arbitrais
internacionais (São actos públicos?) - A Conv. de Nova Iorque de
1958 relativa ao Reconh e Exec. de Sentenças Arbitrais Estrangeiras
O problema do reconhecimento é colocado com respeito aos actos
públicos estrangeiros e às decisões arbitrais estrangeiras (decisões
externas). Trata- se de saber se estes actos podem produzir efeitos
na ordem jurídica local e, em caso afirmativo, quais as condições a
que é subordinada essa eficácia.
Enquanto os actos públicos internos produzem ditectamente efeitos
na ordem jurídica interna os actos externos carecem de ser
reconhecidos para poderemSumários
produzir
de DIP
efeitos na ordem jurídica
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interna. Marcos Ngola
2. DIREITO DE RECONHECIEMENTO DE ACTOS PÚBLICOS ESTRANGEIROS
Noção
Classificação
Sumários de DIP
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2. DIREITO DE RECONHECIEMENTO DE ACTOS PÚBLICOS ESTRANGEIROS
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
2. DIREITO DE RECONHECIEMENTO DE ACTOS PÚBLICOS ESTRANGEIROS
Regime do reconhecimento dos efeitos das sentenças estrangeiras
sobre direitos privados
Revisão formal em princípio (arts 1094 e ss, CPC), excepto nos casos
dos artigos 1096.°, g) CPC - controle da aplicação da lei angolano,
competente segundo as normas de conflitos angolanas, se se tratar
de uma sentença proferida contra angolano) - e do 771.° c) CPC -
análise da matéria de facto (documento novo).
Desnecessidade de revisão no caso do artigo 1094.°, 2 CPC (valor da
sentença como simples meioSumários
de prova).
de DIP
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FIM
Sumários de DIP
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