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UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO

FACULDADE DE DIREITO

DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO


“Sumários”

Marcos Ngola
(Regente)

Ano Académico 2018


Luanda
I - DADOS PRELIMINARES

 Tipo de unidade curricular: Obrigatória


 Duração: anual
 Problema social: Situações da vida privada com
carácter internacional.
 Objecto:

• 1) Os conflitos de leis no espaço;


• 2) A competência internacional dos tribunais; e
• 3) reconhecimento de actos públicos estrangeiros.
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
I - DADOS PRELIMINARES

 Objectivos:
a) Educativo: compreender a crescente importância dos
laços entre Angola e outros Estados, motivados pelos
intercâmbios pessoal e comercial;
b) Instrutivo: desenvolver um raciocínio crítico sobre os
princípios do DIP e as soluções consagradas no sistema
conflitual angolano.
 Método de ensino: seminários e aulas teórico-práticas:
diálogo; reflexão sobre textos; análise de jurisprudência
e resolução de hipóteses práticas;
 Método de avaliação: participação nas aulas,
apresentação de trabalhos provas semestrais e exames.
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
II - CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

I. INTRODUÇÃO

II. DIREITO DE CONFLITOS

III. DIREITO DA COMPETÊNCIA INTERNACIONAL DOS TRIBUNAIS

IV. DIREITO DE RECONHECIMENTO DE ACTOS PÚBLICOS


ESTRANGEIROS

Sumários de DIP
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Marcos Ngola
SUMÁRIO: INTRODUÇÃO

1. Noção e objecto do DIP


1. Modos de regulação das relações privadas internacionais
1. Norma de conflitos - estrutura, objecto, função e
características
1. Crítica norte-americana ao método conflitual
1. Tendências recentes do DIP: pluralidade de métodos e a
flexibilização das normas de conflitos
2. Relação entre o DIP e o Direito Constitucional
3. Condição jurídica dos estrangeiros
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
1. NOÇÃO E OBJECTO DO DIP
 Dificuldades de construção de uma definição de DIP
 Definição de FERRER CORREIA (1973: 12):
 “é o ramo da ciência jurídica que procura formular os
princípios e regras conducentes à determinação da lei ou
leis aplicáveis às questões emergentes das relações
privadas internacionais, e bem assim assegurar o
reconhecimento no Estado do foro das situações
jurídicas puramente internas, mas situadas na órbita de
um único sistema de direito estrangeiro”.
 Sobreposição dos princípios às regras ou normas
 Relações que constituem objecto do DIP
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
1. NOÇÃO E OBJECTO DO DIP
 Exercício sobre relações que constituem objecto do DIP
1) Relações puramente internas
Hipótese 1: A e B, ambos angolanos, residentes habitualmente
em Angola, contraem o matrimónio em Angola.
2) Relações relativamente internacionais
Hipótese 2: C e D, ambos namibianos, residentes habitualmente
na Namíbia, contraem matrimónio na Namíbia e aprecia-se a
validade deste casamento junto dos tribunais angolanos.
3) Relações absolutamente internacionais
Hipótese 3: E angolano e F namibiano, ambos residentes na na
África do Sul, contraem o matrimónio em Cabo Verde.
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
1. NOÇÃO E OBJECTO DO DIP
 Extensão do DIP às relações jurídicas públicas internacional:
 Fundamentos:
• Superação do dogma da absoluta territorialidade do Direito Público e da
concepção absoluta da imunidade de jurisdição dos Estados;
• Relevância da distinção entre actos praticados iure imperii e actos
praticados iure gestionis.
• Relações não submetidas directamente ao Direito Internacional Público e
ao Direito Público de uma das partes
 Pressupostos
• Arbitrabilidade do litígio (contratos públicos)
• Renúncia à imunidade de jurisdição
• Actos praticados iure gestionis
 Lei do Investimento Privado (Lei nº 14/15 de 11 de Agosto):
• Natureza administrativa do contrato de investimento privado (art. 46.º, 1)
• Convenção arbitral, com lugar em Angola (art. 46.º, 3 e 4)
Sumários de DIP
• Lex causae e lex processo angolanas
Marcos(art.
Ngola 46.º, 4)
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2. MODOS DE REGULAÇÃO DAS RELAÇÕES PRIVADAS INTERNACIONAIS
 Processos de regulação:
• Processo conflitual ou de regulação indirecta, também chamado de
método conflitualista;
• Processo material ou de regulação directa, também chamado de
método substantivista.
 Técnicas de regulação:
• Aplicação directa do Direito material comum interno;
• Criação de Direito material especial de fonte interna (art.54.º,2, CC)
• Unificação internacional do Direito material aplicável (Conv. sobre
Recon. e Exec. de Sent Arb. Estrang. (Nova Iorque, 1958);
• Regulação por normas de Direito comum do foro autolimitadas art.
2223.º CC, ex vi art. 65.º, n.º 2.);
• Relevância de normas imperativas estrangeiras;
• Reconhecimento de decisões estrangeiras.
 Planos de Regulação:
• Regulação pelo Direito estadual;
• Regulação pelo Direito Internacional Público;
• Sumários de DIP
Regulação pelo Direito Autónomo do Comércio Jurídico Internacional.9
Marcos Ngola
3. A NORMA DE CONFLITOS – NOÇÃO, FUNÇÃO, ESTRUTURA,
OBJECTO E CARACTERÍSTICAS

 Noção
• “é a norma que regula a questão privada internacional
através de remissão para uma das ordens jurídicas locais
a que a questão está ligada, ordem jurídica essa, que é
assim declarada competente para a resolver” (ISABEL
MAGALHÃES COLLAÇO).

 Função:
• Conflito de soberanias vs conflitos interindividuais
• Bilateralismo vs unilateralismo (introverso vs extroverso)

Sumários de DIP
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Marcos Ngola
3. A NORMA DE CONFLITOS – NOÇÃO, FUNÇÃO, ESTRUTURA,
OBJECTO E CARACTERÍSTICAS

 Estrutura (v.g. artigo 45.º do CC )


• Doutrina tradicional (estrutura bipartida):
1) Conceito - quadro = Instituto: responsabilidade
extracontratual;
2) Elemento de conexão = localização: lugar do facto danoso.
• Doutrina Moderna (estrutura tripartida):
1) Previsão(ou conceito quadro);
2) Estatuição (ou conexão);
3) Elemento de conexão.

Sumários de DIP
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Marcos Ngola
3. A NORMA DE CONFLITOS - ESTRUTURA, OBJECTO, FUNÇÃO E CARACTERÍSTICAS

 Objecto:
• Relações transnacionais (L. PINHEIRO)
• Normas materiais (F. CORREIA e B. MACHADO )

 Características das normas de conflitos:


• Normas de regulação indirectas, secundárias ou
remissivas
• Normas de conexão
• Normas fundamentalmente formais
• Outras: normas instrumentais e normas de fontes
internas. Sumários de DIP
Marcos Ngola
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4. A CRÍTICA NORTE-AMERICANA AO MÉTODO CONFLITUAL

 Contestação da perspectiva conflitual (século XX)


sobretudo com o caso Babcok v. Jackson, julgado a 9 de
Maio de 1963, pela Court of Apeals of New York.

 DAVID F. CAVERS (1902 - 1988); BRAINERD CURRIE (1912 -


1965) e ALBERT A. EHRENZWEIG (1906 - 1974)

 Designação da lei competente às cegas ou de olhos


vendados, nas trevas, de modo mecânico, imperativo e
praticamente insensível à justiça material

 Alternativa: princípio de justiça material - the most


significant relatioship; Restatement Second; método da
governamental interest analyses;
Sumários de DIP lex fori approach. 13
Marcos Ngola
5. TENDÊNCIAS RECENTES DO DIP

 Pluralidade de métodos :
• Normas materiais de DIP
• Normas de aplicação imediata ou necessária (art. 2223.°,
CC e art. 110.º, CC)

 Flexibilização das normas de conflitos

• Cláusulas de excepção (art. 15.° da Lei Suíça de DIP)


• Normas de conexão alternativa (arts. 36° e 65°, CC) ou
cumulativa (arts. 55º, 2 e 1, 60º, 1, 2 e 4, e 61º, 1 e 2, CC)

Sumários de DIP
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Marcos Ngola
6. RELAÇÃO ENTRE O DIP E O DIREITO CONSTITUCIONAL
 Pretensa localização do DIP num espaço livre à
constitucionalidade:
• Sentença do Bundesverfassungsgericht (Alemanhã), de 4.05.1971.
• Escola norte-americana de DIP.
 Planos de interferência do Direito Constitucional no DIP:
• Recepção do Dto Pub. Internacional Geral (art. 13.º, 1, CRA).
• Condições de vigência dos tratados ou acordos internacionais
(art. 13.º, 2, CRA).
• Nacionalidade (art. 9.º, CRA).
• Princípio da igualdade (art. 23º, CRA).
• Direitos dos estrangeiros e apátridas (art. 25.º, CRA).
 Eventual autonomia de uma cláusula de excepção constitucional
em DIP:
• A exigência do nexo relevante.
Sumários de DIP
• A suficiência da OPI. Marcos Ngola
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7. CONDIÇÃO JURÍDICA DOS ESTRANGEIROS (ARTIGO 14.º DO CC)
 Princípio da equiparação (art. 14º, 1, CC)
• “Os estrangeiros são equiparados aos nacionais quanto ao
gozo de direitos civis, salvo disposição legal em contrário”.
 Princípio da retaliação/ reciprocidade (?) (art. 14º, 1, CC)
• “Não são, porém, reconhecidos aos estrangeiros os direitos
que, sendo atribuídos pelo respectivo Estado aos seus
nacionais, o não sejam aos angolanos em igualdade de
circunstâncias”.
 Pretensa inconstitucionalidade do nº 2 do art. 14º do CC
face ao art. 25.º, 1,CRA (art. 15º, 1, CRP e 23.º, 1, CRG)
• A favor: C. MENDES, M. COLLAÇO, C. FERNANDES E L. PINHEIRO.
Contra: J. MIRANDA, F. CORREIA,
SumáriosM.
de DIPVICENTE
Marcos Ngola
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DIREITO DE CONFLITOS ANGOLANO
 Código Civil, Livro I, Título I, Capítulo III, artigos 14º a 65
A) SECÇÃO I - Disposições gerais (arts. 14º - 24º)
 Condição jurídica dos estrangeiros (Artigo 14.º)
 Qualificações (Artigo 15º)
 Referência à lei estrangeira. Princípio geral (Artigo 16º)
 Reenvio para a lei de um terceiro Estado (Artigo 17º)
 Referência material (art. 16º)
 Reenvio (arts. 17º - 19º)
 Ordenamentos jurídicos plurilegislativos (Artigo 20º)
 Fraude à lei (art. 21º)
 Ordem pública (art. 22º)
 Interpretação e averiguação do direito estrangeiro (art. 23º)
 Actos realizados a bordo (artigo 24º)

B) SECÇÃO II - Normas de conflitos (arts. 25º - 65º)


 Subsecção I - Âmbito e determinação da lei pessoal (arts. 25ª-35ª)
 Subsecção II – Lei Reguladora dos negócios jurídicos (arts. 36ª-40ª)
 Subsecção III – Lei reguladora das obrigações (arts. 41ª-45ª)
 Subsecção I V– Lei reguladora das Coisas (arts. 46ª-48ª)
 Subsecção V - Lei reguladora das relações de família (arts. 49ª-61ª)
Sumários de DIP
 Subsecção VI - Lei reguladora das sucessões (arts. 62ª-65ª)
Marcos Ngola
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SUMÁRIO: DIREITO DE CONFLITOS ANGOLANO
A) Parte geral do Direito de Conflitos

1. Sistema de reenvio ou devolução angolano


2. Problema da qualificação
3. Referência da norma de conflitos a um ordenamento
jurídico plurilegislativo
4. Fraude à lei no DIP
5. Excepção de ordem pública internacional
1. Estatuto e aplicação do direito material estrangeiro

Sumários de DIP
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Marcos Ngola
1. SISTEMA DE REENVIO OU DEVOLUÇÃO ANGOLANO

Hipóteses práticas
• Hipótese 1: Ronaldinho, cidadão brasileiro, com residência
habitual em Angola morre neste país. Segundo o DIP
angolano, a lei reguladora da sucessão desse indivíduo é a
lex patrie e segundo o DIP brasileiro, a lei aplicável é a lei da
residência habitual. Quid iuris?

• Hipótese 2: Niels, cidadão dinamarquês, com residência


habitual em Itália, pretende casar em Luanda. A lex fori
manda aplicar à capacidade matrimonial a lex patriae, que
no entanto remete a questão à lei da residência habitual do
nubente (lei italiana ). Quid iuris?

Sumários de DIP
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Marcos Ngola
1. SISTEMA DE REENVIO OU DEVOLUÇÃO ANGOLANO
Pressupostos de um problema de devolução:
1) A norma de conflitos do foro remete para uma lei estrangeira;
2) A remissão possa não ser entendida como uma referência
material;
3) A lei estrangeira designada não se considere competente, e
devolve a competência para a lei do foro (retorno de
competência ou reenvio do 1º grau) ou reenvia a competência
uma outra lei estrangeira (transmissão de competência ou
reenvio do 2º grau).
Origem do problema:
• Reenvio como problema de política legislativa
• Divergência e interpretação da norma de conflitos
• Conflito de negativo de competências
• Desarmonia internacional de decisões
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
1. SISTEMA DE REENVIO OU DEVOLUÇÃO ANGOLANO
 Atitudes possíveis perante conflito negativo de normas de conflitos
 Atitude favorável ao reenvio como princípio geral (tese referência global):
• Tese da referencia global pura;
• Tese da devolução simples (DIP francês)
• Tese da dupla devolução ou foreign court theory (DIP inglês)
 Atitude absolutamente condenatória do reenvio (tese da referência
material)
• Art. 16.º, Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro;
• Art. 30.º, Disposições Preliminares do CC Italiano;
 Atitude condenatória do princípio, mas favorável ao reenvio com um
alcance limitado (teses intermédias):
• Adoptação da referência material nuns casos e da referencia global noutros
casos (arts. 16.º a 19.º dos CCs português, moçambicano, guineense, cabo-
verdiano, angolano e arts. 13.º-18º do CC macauense.
 Sistema de reenvio angolano: devolução
Sumários de DIP simples ou dupla devolução?
Marcos Ngola
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1. SISTEMA DE REENVIO OU DEVOLUÇÃO ANGOLANO
Regime de Reenvio no CC angolano
• Devolução do 2.º grau, transmissão de competência, ou reenvio para
a lei de um terceiro Estado (artigo 17.º do CC), que pode ser com
retorno ou em cascata.
• Devolução do 1.º grau, retorno ou reenvio para a lei do Estado do
foro (artigo 18.º do CC), que pode ser directo ou indirecto.
• Limites à admissibilidade do devolução:
 Relevância da conexão residência habitual.
 Ilegitimidade de um estado ou invalidade de um negócio que seria
legítimo ou válido por aplicação do art. 16.º CC (art. 19.º, 1, CC).
 Remissão feita pelo elemento de conexão designação pelos
interessados (arts. 34º e 41º CC, ex vi n. art. 19.º, 2, CC).
• Reenvio ad hoc ou especial: arts. 36º, 2 e 65º, 1, in fine.
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
1. SISTEMA DE REENVIO OU DEVOLUÇÃO ANGOLANO
 Caracterização do sistema de devolução angolano (sui generis)
1º A regra geral é a da referência material, o que decorre não tanto
dos pressupostos da devolução enunciados nos n º 1 dos arts. 17º e
18º CC ,mas dos limites colocados à devolução pelos seus nº 2, em
matéria de estatuto pessoal, e pelo art. 19º CC.
2º os arts. 17º e 18º contêm regras especiais, que admitem a
devolução, configurando um sistema de devolução sui generis, visto
que não corresponde á devolução simples nem à devolução integral.
No entanto, parece mais próximo na sua inspiração da devolução
integral, visto que a devolução depende sempre do acordo com L2.
3º Em matéria de forma do negócio jurídico admite-se a transmissão
de competência para uma lei que não esteja disposta a aplicar-se
para obter a validade formal do negócio (arts. 36º e 65º).
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
2. PROBLEMA DA QUALIFICAÇÃO
 Hipóteses práticas
• Hipótese 3: Um condutor português atropela um transeunte moçambicano, numa
passadeira em Angola. A norma aplicável é a do artigo 45.º do CC e o artigo 483.º
do CC é subsumível ao seu conceito-quadro. Quid iuris?
• Hipótese 4: Armanda e Bandeira, cidadãos mexicanos, residentes habitualmente em
Windhoek, em 2012 venderam em Windhoek um imóvel situado nesta cidade, a
Cácio, seu flilho, As partes designaram como lei reguladora do contrato a lei da
Namíbia. Décio, outro filho do casal, que não deu seu consentimento para venda,
requer perante tribunal angolano a anulação do contrato com fundamento no
disposto no artigo 877º do CC angolano. Armando, Berta e Cácio contestam,
considerando aplicável ao contrato o direito namibiano, com fundamento no artigo
41º do CC angolano. Considerando que o direito material da Namíbia não contém
qualquer norma semelhante a do artigo 877º do CC angolano e o artigo 992º do CC
mexicano contém norma semelhante a do artigo 877º do CC angolano, diga se a
pretensão de Décio deve proceder. Quid iuris?
• Hipótese 5: Jean, suíço, morreu em Angola tendo deixado em testamento todos os
seus bens aos médicos angolanos que o assistiram. Aberta a sucessão, os familiares
suíços e que vivem na Suíça invocam a invalidade do testamento com base no artigo
2194.º do CC angolano. O direito suíço não se opõe à validade de tal testamento.
Quid iuris, tendo em conta o disposto no artigo
Sumários de DIP 62.º do CC angolano. Quid iuris?
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Marcos Ngola
2. PROBLEMA DA QUALIFICAÇÃO
 Noção de qualificação:
• Em sentido amplo: problema de interpretação e aplicação da norma de
conflitos
• Em sentido restrito: subsunção de um quid ou coisa concreta ao conceito
quadro da norma de conflito.
• O Conceito quadro da norma de conflitos funciona para esta norma tal
como a previsão funciona para as normas de direito material.
 Momentos ou operações envolvidas na qualificação
1º Premissa maior: Interpretação do conceito - quadro das normas de
conflitos;
2º Premissa menor: determinação ou delimitação do objecto de qualificação
(normas materiais) e sua caracterização nos quadros do ordenamento em que
se inserem, tendo em conta o seu conteúdo e função (artigo 15.º CC);
3º Subsunção: aplicação da norma de conflitos – qualificação em sentido
estrito (subsunção ou recondução das normas materiais delimitadas ao
conceito - quadro da norma de conflitos que designa como competente o
ordenamento a que pertencem as Sumários
normas materiais em questão).
de DIP
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2. PROBLEMA DA QUALIFICAÇÃO

O problema da dupla qualificação.


• Distinção entre a qualificação primária e a qualificação
secundária
1.° Qualificação primária ou de competência – determina-se
directa e imediatamente a lei aplicável.
2° Qualificação secundária ou material - determina-se quais as
normas matérias desta lei que ao caso devem ser
efectivamente aplicadas.
Entendimentos diversos do artigo artigo 15.º do CC
• Adopção da tese da qualificação propriamente dita.
• O modo de entender a norma de conflito e não o conceito
quadro como a origem daSumários
divergência.
de DIP
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2. PROBLEMA DA QUALIFICAÇÃO

Conflitos de qualificações

• Hipótese 6: Num casamento celebrado entre dois guineenses


em Paris, as normas materiais guineenses aplicáveis à
substância ou ao fundo(lex patrie) consideram o casamento nulo
e as normas francesas aplicáveis à forma (lex loci) consideraram
o casamento perfeitamente válido. Quid iuris?

Sumários de DIP
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Marcos Ngola
2. PROBLEMA DA QUALIFICAÇÃO
Conflitos de qualificações
• Princípio do depeçage
• Norma de conflitos 2 (art. 49º) - substância - normas materiais
guineenses = casamento inválido
• Norma de conflitos 1 (art. 50º) - forma - normas materiais francesas =
casamento válido
Possíveis soluções do conflitos de qualificação
• Qualificação lege fori em sentido impróprio
 Lex fori vs lei estrangeira = Lex fori
 Lex estrangeira vs lei estrangeira = Lei semelhante à lex fori
• Hierarquização das qualificações conflituais
 Substância vs forma = Substância
 Pessoal vs real = real
 Matrimónio vs sucessão = aplicação sucessiva
 Conflitos de qualificações como verdadeiros conflitos de normas de
conflitos Sumários de DIP
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2. PROBLEMA DA QUALIFICAÇÃO
Cúmulo jurídico e vácuo jurídico
• Hipótese 7: Por morte do marido, o direito da mulher a certos
bens que pertenceram ao casal, funda – se quer no regime de
bens do casamento quer num título de vocação sucessória que a
faz herdeira de parte dos bens deixados pelo marido. Quid iuris?
• Hipótese 8: Morre em Angola, sem testamento e sem parente
sucessível, um inglês com domicílio em Londres. A herança
compõe - se de bens situados no Lubango. A lei aplicável à
sucessão é a lei inglesa (que se reconhece competente). O
direito da Coroa de que falamos pode assimilar - se a um direito
real, mas o preceito da lei inglesa que o reconhece refere - se
apenas aos bens situados na Inglaterra. Podemos fazer recurso a
essa norma? Podemos chamar os artigos 2152.º e ss do CC
angolano? Quid iuris?
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
2. PROBLEMA DA QUALIFICAÇÃO
Cúmulo jurídico e vácuo jurídico
Cúmulo jurídico
• Ocorre quando uma mesma pretensão venha a aparecer como
duplamente fundamentada, protegida ou reconhecida, no caso
concreto, por efeito da aplicação de duas regras de conflitos que
chamam dois direitos materiais.
 Vácuo jurídico:
• Ocorre quando uma mesma pretensão, reconhecida pelas duas leis
chamadas por duas regras de conflitos, quando tais leis fossem
tomadas globalmente, fique afinal desprovida de norma que a
fundamente.
 Possíveis soluções do conflitos de qualificação
• Com as necessárias adaptações valem as mesmas soluções
propostas para o conflito de qualificações
Sumários de DIP
Marcos Ngola
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3. REFERÊNCIA DA NORMA DE CONFLITOS A UM ORDENAMENTO
JURÍDICO COMPLEXO

Hipóteses práticas

Hipótese 9: Discute-se junto dos tribunais angolanos a lei


reguladora do estatuto pessoal de A, nacional de um Estado
complexo y, com residência habitual em Luanda. Quid iuris?
Hipótese 10: Discute-se junto dos tribunais angolanos a lei
aplicável ao regime económico do casamento de dois
quenianos, um muçulmano e uma cristã, residentes
habitualmente em Israel. Quid iuris?

Sumários de DIP
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Marcos Ngola
3. REFERÊNCIA DA NORMA DE CONFLITOS A UM ORDENAMENTO
JURÍDICO COMPLEXO

Ordenamento Jurídico Complexo de Base Territorial (conflitos


interlocais ). v.g.: EUA, Canadá e Suíça.
Ordenamento Jurídico Complexo de Base Pessoal (conflitos
interpessoais). v.g: Estado de Israel e Quénia.
Princípios gerais de solução
1º Pertence ao ordenamento jurídico complexo resolver os
conflitos de leis internos e, por isso, determinar qual o sistema
interno aplicável;
2º Se, porem, o ordenamento complexo não resolver o problema,
deve aplicar - se, de entre os sistemas que vigoram no âmbito do
ordenamento complexo, o que tem uma conexão mais estreita com
a situação a regular.
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
3. REFERÊNCIA DA NORMA DE CONFLITOS A UM ORDENAMENTO
JURÍDICO COMPLEXO
 O regime vigente em Angola (artigo 20.º do CC)
 Conflito interlocal (n.ºs 1 e 2 do artigo 20.º.)
 Sistema unitário de Direito interlocal (art. 20º, 1); se não
 Ao DIP unificado (art. 20º, 2) (vg EUA), se não :
 Residência habitual (art. 20º, 2, in fine)
 Divergência de interpretação da ultima parte do nº 2, do art. 20.º , CC. Qual
é a residência habitual relevante?
 A de dentro do Estado da nacionalidade (M.COLLAÇO e L. PINHEIRO);
 Ainda que seja de um outro estado soberano (F. CORREIA, B. MACHADO e M.
SANTOS)?
 Remissão feita por um elemento de conexão diferente da nacionalidade
 Quando o elemento de conexão aponta directamente para determinado lugar
no espaço será competente o sistema em vigor neste lugar (F. CORREIA)
 A remissão da norma de conflitos é feita, em princípio, para o ordenamento
do Estado soberano (I. COLLAÇO eSumários
L. PINHEIRO)
de DIP
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Marcos Ngola
3. REFERÊNCIA DA NORMA DE CONFLITOS A UM ORDENAMENTO
JURÍDICO COMPLEXO
O regime vigente em Angola (art. 20.º do CC)
Conflitos interpessoais (art. 20.º, 3 CC )
• Pertence ao ordenamento complexo determinar o sistema pessoal
competente (direito interpessoal).
• Caso não disponha de critérios para determinar o sistema pessoal
aplicável, aplica-se o sistema com o qual a situação a regular tem
uma conexão mais estreita.(Doutrina. É esta também a solução da
Convenção da Haia sobre a Lei Aplicável às sucessões por Morte)
• No caso de remissão para um ordenamento complexo de base
pessoal operada por um elemento de conexão que não seja a
nacionalidade aplicação analogicamente a solução encontrada
para os conflitos interlocais ou aplicar-se o sistema com o qual a
situação a regular tem uma conexão
Sumários de DIP
mais estreita.
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Marcos Ngola
4. FRAUDE À LEI NO DIP
Hipóteses práticas

Hipótese 11: Um angolano naturaliza – se inglês, com vista a privar da


legítima o seu único filho. A lei inglesa, por testamento, permite dispor
livremente da totalidade da herança, mas o mesmo não acontece no
nosso ordenamento jurídico em que a lei exige o respeito pela legítima
dos herdeiros legitimários. Quid iuris?
Hipótese 12: Dois angolanos celebram um contrato de mútuo em
Angola, mas a fim de se subtraírem às disposições da lei angolana
sobre a taxa de juro legalmente consentida, escolhem para reger o seu
contrato a lei brasileira que não restringe a taxa de juro;
Hipótese 13: Uma coisa móvel, que pelo estatuto da sua actual
situação não é alienável nem operável, é transportada para outro pais,
a fim de aí ser vendida ou sobre ela se constituir um direito real de
garantia. Sumários de DIP
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Marcos Ngola
4. FRAUDE À LEI NO DIP
Noção
• Fraude à Lei como noção que vem da Teoria Geral do Direito.
• As conexões móveis como causa da Fraude à Lei
Pressupostos da Fraude à Lei no DIP
1) Norma fraudada – norma jurídica que é objecto de Fraude à lei; norma
cuja imperatividade se pretende escapar. (Norma de conflito ou norma
material?);
1) Norma instrumental – norma jurídica a cuja protecção se acolhe o
fraudante.
2) Actividade fraudatória - a actividade pela qual o fraudante procura
modelar um elemento de conexão ou transformar artificiosamente uma
relação em interna em internacional (elemento objectivo);
3) Intenção fraudatória ou fraudulenta (animus fraudandi) – vontade de
afastar de forma dolosa a aplicação de uma norma imperativa que seria
Sumários de DIP
normalmente aplicável. (elementoMarcossubjectivo)
Ngola
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4. FRAUDE À LEI NO DIP

Consequência ou sanção da fraude à lei.


Posições doutrinárias
• princípio fraus omnia corrumpit (a fraude tudo corrompe)
(jurisprudência francesa e Fernando Olavo)
 Todos os actos integrados no processo fraudulento, incluindo são
nulos ou para todos os efeitos inoperantes.
• Aplicação da norma cujo imperativo a manobra fraudulenta
procurou ilidir. (F. CORREIA, B. MACHADO e L. PINHEIRO)
 Ineficácia dos actos jurídicos realizados e os direitos adquiridos
em fraude a lei do foro, mas não dos actos praticados ou das
situações constituídas com o fim de viabilizar a fraude.
Qual é a posição do legislador nagolano, no artigo 21.° CC?
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
4. FRAUDE À LEI NO DIP

Medidas preventivas da fraude:

• No art. 33.°, 1 CC, o legislador manda atender à sede principal e


efectiva da administração da pessoa colectiva, evitando - se
assim a relevância de uma sede fictícia (como sedes caixa do
correio, paraísos fiscais...)

• Certos casos de imobilização do elemento de conexão em que se


fixa definitivamente o momento da sua concretização. v.g., art.
55.°, 2 do CC.

Sumários de DIP
38
Marcos Ngola
4. FRAUDE À LEI NO DIP
 Casos de difícil justificação da relevância da fraude à lei:
A) Se o interessado passar a viver seriamente no estado da nova nacionalidade,
quando é este o elemento de conexão relevante manipulado com êxito pelos
interessados
A) Se se pretende evitar erradamente a aplicação de uma norma material que
não existe.
B) Se se trata de uma conexão falhada, isto é, se o interessado não manipulou o
elemento de conexão relevante mas outro.
A) Se não se conseguir criar uma nova conexão em virtude de fraude simulação
ou reserva mental em relação a lei de que dependia a criação dessa conexão.
A) Se uma sociedade tem sede efectiva em determinado pais qualquer que tenha
sido a intenção dos interessados ao escolher aquela sede.
A) Se se infringe o disposto no artigo 41.°, 2 ( só há fraude se se internacionalizar
fraudulentamente um negocio puramente interna).
A) Se a manipulação do elemento de conexão for para fins meramente
Sumários de DIP
ostentatório. Marcos Ngola
39
6. A EXCEPÇÃO DE ORDEM PÚBLICA INTERNACIONAL

Hipótese prática
• Hipótese 14: A, de nacionalidade maliana, residente
habitualmente em Malanje, pretende casar com a sua quinta
companheira em Angola, o que lhe é permitido pela sua lei
pessoal. Quid iuris?

• Hipótese: 15 C, homossexual, de nacionalidade angolana,


residente habitualmente no Brasil, contrai casamento neste país
com um brasileiro, o que é permitido pela lei brasileira. B, de volta
à Angola, pretende a transcrição deste casamento junto com
Conservatório do Registo Civil da Maianga. Quid iuris?

Sumários de DIP
40
Marcos Ngola
6. A EXCEPÇÃO DE ORDEM PÚBLICA INTERNACIONAL
 Ideia de OPI
• A OPI é um conceito indeterminado concretizável hoc et nunc pelo órgão de
aplicação do direito, não se define pelo seu conteúdo, apenas pela sua
função.
• Função: limite à aplicabilidade das leis estrangeiras, em razão da sua
desconformidade, em concreto, com princípios fundamentais do
ordenamento jurídico do foro (Concepção aposteriorística e não
apriorística).
 Critérios Gerais de Delimitação da OPI
a) Critério da natureza dos interesses (superiores) ofendidos;
b) Critério do grau de divergência essencial;
c) Critério da Imperatividade
 Só obteremos uma maior aproximação da verdade fazendo uma síntese de
todos esses critérios, acrescido de outros elementos de Direito Privado da
Lex fori fundados em razões de ordem económica, ético - religiosas ou
Sumários de DIP
41
políticas. Marcos Ngola
6. A EXCEPÇÃO DE ORDEM PÚBLICA INTERNACIONAL

Características da OPI
a) Excepção - permite afastar o ordenamento normalmente
aplicável.

a) Nacional - visa proteger o equilíbrio interno do Ordenamento


jurídico nacional.

a) Actual – baseia-se em critérios vigentes no momento da decisão.

a) Imprecisão - um conceito indeterminado.

Sumários de DIP
42
Marcos Ngola
6. A EXCEPÇÃO DE ORDEM PÚBLICA INTERNACIONAL
Consequências da Intervenção da OPI
• Afastamento de um preceito ou conjunto de preceitos da lei que o
DIP do foro qualifica de competente (art. 22.º, 1, CC).
• Formação de uma lacuna que urge colmatar:
 Procurar no ordenamento jurídico competente normas apropriadas
que permitam regular a questão concreta e que não firam o
ordenamento interno; se não for houver
 Recurso ao direito material da lex fori (artigo 22.º, 2, CC).
Efeitos atenuados da OPI
• Intervém sempre nos casos em contacto com o ordenamento
jurídico interno;
• Nos casos sem contacto com o ordenamento interno ela só deve
intervir perante situações graves ou aberrantes como a escravatura
o apartheid, etc. Sumários de DIP
43
Marcos Ngola
7. ESTATUTO E APLICAÇÃO DO DIREITO MATERIAL ESTRANGEIRO

Direito estrangeiro material aplicável

 Direito privado que efectivamente vigora no território de um


determinado Estado.

Excepção a aplicação do direito material estrangeiro

1.° Quando este direito exija a intervenção de uma autoridade


pública e não existe, no Estado local, nenhuma autoridade com
competência para praticar os actos necessários.

2° Quando a sua aplicação exija procedimentos especiais que sejam


de todo incompatíveis com o Direito processual do foro.

Sumários de DIP
44
Marcos Ngola
7. ESTATUTO E APLICAÇÃO DO DIREITO MATERIAL ESTRANGEIRO
Interpretação do Direito Estrangeiro
• Interpretação de lex causae, i.e., em conformidade com os
critérios de interpretação seguidos no país de origem e com a
jurisprudência e doutrina aí dominantes (artigo 23.°, 1 do
CC).
• A interpretação da regra estrangeira segundo as concepções
próprias da lex fori só se concebe como ultima ratio.
• A circunstância de a mesma regra vigorar simultaneamente
em varias ordens jurídicas não impede que a respectiva
interpretação seja diferente de pais para pais (ex.:
interpretação das normas do CC de 1966 em Angola e em
Portugal)
Sumários de DIP
45
Marcos Ngola
7. ESTATUTO E APLICAÇÃO DO DIREITO MATERIAL ESTRANGEIRO
Conhecimento e prova do Direito estrangeiro
Tribunal
• Para decidir, o tribunal precisa de conhecer os factos e o Direito.
• No direito interno: os factos têm de ser, em geral, provados pelas
partes (princípio do dispositivo); e o Direito deve ser conhecido pelo
Tribunal (princípio da oficiosidade) (664º CPC).
• E no DIP? Poderá exigir - se o conhecimento oficioso do Direito
estrangeiro?
No Direitos anglo – saxónicos, o ónus de alegação e prova do
Direito recai sobre as partes.
Nos países da família romano – germânico, o Direito estrangeiro é
de conhecimento oficioso.
É também a última a posição do legislador angolano (art. 348.º/1
e 2, CC e 721.º, n.ºs 2 e 3 do CPC). No art. 348.º/1 e 2, CC, há
apenas um dever de colaboração da parte que invoca o Dto Estrg
na determinação no seu conteúdo. Não há um ónus da prova. 46
Sumários de DIP
Marcos Ngola
7. ESTATUTO E APLICAÇÃO DO DIREITO MATERIAL ESTRANGEIRO
 Outros órgãos de aplicação do Direito
• Quanto aos notários e conservadores, a lei não exige
expressamente que conheçam oficiosamente o Direito estrangeiro
aplicável.
• O caso da habilitação de herdeiros (notários).
• O caso do certificado de capacidade matrimonial (conservadores).
Controlo da interpretação e aplicação do Dto Estng pelos ST
• Na Alemanha e na França o controlo não é em princípio efectuado.
Solução contrária é adoptada em Itália e em Portugal.
• Em Portugal, o art. 722.° do CPC estabelece que o erro na
determinação e aplicação das normas legais estrangeiras constitui
fundamento do recurso de revistas (nº2).
• Em Angola, o Recurso de Revista foi revogado pelo n.º 3, do art.
45.º da Lei 20/88, 31 de Dez. No n.º 2, são extraordinários os
recursos de Unif. de Jurisp.,Sumários
revisão
de DIP
e oposição de terc. para o
47
plenário do TS. Marcos Ngola
7. ESTATUTO E APLICAÇÃO DO DIREITO MATERIAL ESTRANGEIRO

 Dificuldade ou desconhecimento do conteúdo do Dto Estrng.


• Dificuldade: Recurso presunção para fixar o conteúdo do Direito
estrangeiro. (KEGEL e SCHURIG - principio da maior semelhança).
• Recurso à conexão subsidiária (o n.º 2 do artigo 23.° do CC);
Aplicação do Direito material angolano (n.º 3, do artigo 348.º CC.
Impossibilidade de determinação da conexão relevante
• Recurso a regra da maior estabilidade.
• Recurso à conexão subsidiária (o n.º 2 do artigo 23.° do CC);
• Aplicação do Direito material angolano (n.º 3, do artigo 348.º CC.
Impossibilidade em caso de reenvio
• Consideração da referência como material (artigo 16° do CC)

Sumários de DIP
48
Marcos Ngola
8. ACTOS REALIZADOS A BORDO

 Actos realizados a bordo de navios ou aeronaves, fora


dos portos ou aeródromos = Aplicação da a lei do lugar
da respectiva matrícula, sempre que for competente a
lei territorial. (art. 24º, 1, CC)

 Os navios e aeronaves militares consideram-se como


parte do território do Estado a que pertencem. (art. 24º,
1, CC)

Sumários de DIP
49
Marcos Ngola
SUMÁRIO: DIREITO DE CONFLITOS ANGOLANO
B) Parte Especial do Direito de Conflitos

1. Conflito de nacionalidades

1. O sistema de normas de conflitos angolano: Análise


crítica das soluções consagradas

2. Evolução dos DIPs da Lusofonia. Sinopse comparativa

Sumários de DIP
50
Marcos Ngola
1. CONFLITO DE NACIONALIDADES
 Lei da Nacionalidade, Lei n.º 2/16 de 15 de Abril, artigos 32.º e 33º.
 Conflitos entre nacionalidade angolana e nacionalidade estrangeira (art.
32.º)
“não é reconhecida nem produz efeitos na ordem jurídica interna angolana
qualquer outra nacionalidade atribuída aos cidadãos angolanos”.
 Crítica: Lei do Estado da nacionalidade mais efectiva (KEGEL).
 Conexão manifestamente mais estreita com a nacionalidade estrangeira.
(MARQUES DOS SANTOS)
 Princípio da harmonia jurídica internacional e valores fundamentais do DIP.
 Conflitos entre nacionalidades estrangeiras (art. 32.º)
 “nos conflitos positivos de duas ou mais nacionalidades estrangeiras,
prevalece a nacionalidade do Estado em cujo território o plurinacional
tenha a sua residência habitual ou na falta desta, a do Estado com o qual
tenha um vínculo mais estreito”
 Princípio da nacionalidade efectiva
Sumários de DIP
51
Marcos Ngola
2. O SISTEMA DE NORMAS DE CONFLITOS ANGOLANO

(Secção I - Normas de Conflitos (arts 25.º a 65.º do CC)

Subsecção I - Âmbito e determinação da lei pessoal (arts. 25ª-35ª)


Subsecção II – Lei Reguladora dos negócios jurídicos (arts. 36ª-40ª)
Subsecção III – Lei reguladora das obrigações (arts. 41ª-45ª)
Subsecção I V– Lei reguladora das Coisas (arts. 46ª-48ª)
Subsecção V - Lei reguladora das relações de família (arts. 49ª-61ª)
Subsecção VI - Lei reguladora das sucessões (arts. 62ª-65ª)

Sumários de DIP
52
Marcos Ngola
2.1. ÂMBITO E DETERMINAÇÃO DA LEI PESSOAL (ARTS. 25ª-35ª)
Pessoas singulares e colectivas

Pessoas singulares

• Personalidade e capacidade jurídicas -Lex patrie (arts 25.°, 26º , 27.º,


30º e 31º 1)

• Problema do início e termo da personalidade jurídica (artigo 66.º do


CC Angolano vs artigo 30° do CC Espanhol).

 v.g. um angolana casada com o espanhol morre algum tempo após o


nascimento em Espanha do seu primeiro filho e o filho morre após a
mãe mas antes de perfazer as 24 horas de vida.
• Morte presumida (art. 26°, 1 CC) e presunções de sobrevivência (art.
26°, 2 CC) (inconciliáveis) Sumários de DIP 53
Marcos Ngola
2.1. ÂMBITO E DETERMINAÇÃO DA LEI PESSOAL (ARTS. 25ª-35ª)

Pessoas singulares
• Capacidade de gozo específica
 Capacidade para contrair casamento ou celebrar convenções
antenupciais v.g., artigo 49.° CC (A última parte está revogada?)
 Capacidade para fazer, modificar ou revogar uma disposição por
morte (artigo 63.° CC)
• Excepções e desvios quanto a capacidade de exercício/de agir
 Excepção de interesse nacional (artigo 28.º, 1, 2 e 3 CC)
 Sucessão de estatutos (artigo 29° CC)
 Capacidade para constituir direitos reais sobre coisas imóveis ou
para dispor deles (artigo 47.° CC).
Sumários de DIP
54
Marcos Ngola
2.1. ÂMBITO E DETERMINAÇÃO DA LEI PESSOAL (ARTS. 25ª-35ª)
Pessoas colectivas:
A teoria da constituição (Incorporation theory) – segundo a qual
a pessoa colectiva rege - se pela lei à luz da qual nasceu como
ente colectivo.
 Teoria da sede social:
• Teoria da sede social real (v.g., Europa continental e artigos
33.°, nº 1 CC e 3º, nº 1, da LSC)
 Teoria da sede estatutária (v.g. na Holanda e artigo 3.º, nº 2 da
LSC).
 Domínio de matérias a regular pela lei pessoal - o estatuto
pessoal (art. 33.º, n.ºs 1-4)
• Constituição ou nascimento, a vida e a extinção (artigo 33.°, 2)
 Pessoas colectivas internacionais (artigo 34.º)
Sumários de DIP
55
Marcos Ngola
2.2. LEI REGULADORA DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS (ARTS. 36ª-40ª)
Declaração negocial (artigo 35.º)

• Lei da substância (artigo 35.º, 1, CC) (conexão dependente do objecto


- negócios obrigacionais, artigos 41º e 42º do CC; convenções
antenupciais, artigo 53.° CC; casamento, artigo 49° CC, testamento,
artigo 62.°.
 Excepção ao âmbito:
• Questões relativas à capacidade, à forma e à representação; e
• Certas questões de carácter preliminar: existência de uma declaração
negocial e comportamento como declaração negocial (artigo 35°, 2) -
residência habitual comum do declarante e do destinatário ou, na sua
falta, pela lei do lugar onde o comportamento se verificou; silêncio
como aceitação da proposta ou seu valor como meio declaratório
(artigo 35.°, 3 CC) - lei da residência habitual comum ou, na sua falta
pela lei do lugar aonde a proposta
Sumáriosfoi
de DIPrecebida.
56
Marcos Ngola
2.2. LEI REGULADORA DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS (ARTS. 36ª-40ª)

Forma da declaração negocial (artigo 35.º)

• Lei da substância, artigo 36°, 1 CC - (conexao dependente )


• Suficiência da lei do lugar da celebração (n.º 1, 2ª parte),
salva a exigência da lei da substância (nº 1 in fine).

 Reenvio ad hoc do artigo 36°, 2 CC, com o único


fundamento no favor negotti ou favor validitatis;

Sumários de DIP
57
Marcos Ngola
2.2. LEI REGULADORA DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS (ARTS. 36ª-40ª)

Representação legal (artigo 37.° CC)


• Lei reguladora da relação jurídica de que nasce o poder
representativo, art. 37° CC - conexão dependente: lei reguladora
do poder paternal e tutela é a lei reguladora das relações entre
pais e filhos – arts. 57º e 59º, CC e o artigo 30° CC.
 Representação orgânica (artigo 38°)
• Lei pessoal da pessoa colectiva (arts 38°, 33.°, 1, 34.º do CC e 3.°
da LSC).

Sumários de DIP
58
Marcos Ngola
2.2. LEI REGULADORA DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS (ARTS. 36ª-40ª)

 Representação voluntária ( artigo 39.°, 1 a 4 CC)

• Lei do Estado onde estes poderes são exercidos (art. 39.°, 1.)
• Possibilidade de aplicação de varias leis, se forem vários os
Estados em que os poderes são exercidos ( art. 39.°, 1, CC) .
• O mandato se rege pelo princípio da autonomia (art. 41.ª e
ss)

A prescrição e caducidade (artigo 40.º CC)

• Lei aplicável ao direito a que uma ou outra se refere


(Conexão dependente).

Sumários de DIP
59
Marcos Ngola
2.3. LEI REGULADORA DAS OBRIGAÇÕES (ARTS. 41ª-45ª)

Princípio da autonomia (art. 41.º, 1 do CC):

• Limites objectivos e Limite subjectivo


• Designação expressa ou tácita

 Critério suplectivo (artigo 42.º):


• Aos negócios unilaterais: a lei da residência habitual do
declarante;
• Aos contratos : a lei da residência comum das partes e, na falta
de residência habitual:
• Aos contratos gratuitos: a residência habitual daquele que
atribuiu o benefício (donatário);
• Aos restantes contratos: a lei do lugar da celebração.
Sumários de DIP
60
Marcos Ngola
2.3. LEI REGULADORA DAS OBRIGAÇÕES (ARTS. 41ª-45ª)

Gestão de Negócio

É regulada pela lei do lugar em que decorre a principal


actividade do gestor (art. 43.º);

 Enriquecimento Sem Causa

É regulado pela lei com base na qual se verifica a


transferência do valor patrimonial a favor do enriquecido.
(art. 44.º)

Sumários de DIP
61
Marcos Ngola
2.3. LEI REGULADORA DAS OBRIGAÇÕES (ARTS. 41ª-45ª)
Responsabilidade extracontratual
• Lex loci delicti comissi (artigo 45.° )
Determinação do lugar da actividade
a) a tese do lugar da conduta (V – artigo 45.º 1,
b) a tese do lugar do resultado (last event theory); (excepção 45.º, 2 );
c) tese da opção do lesado (jurisprudência alemã) ;
d) soluções mistas
• V.g., António compra uma conserva envenenada em Luanda, consome
em Pretória e no Cairo é hospitalizado com uma intoxicação. Quid
iuris?
Aplicação da lei pessoal comum (nacionalidade ou residência habitual),
artigo 45.º, 3 CC
Âmbito de aplicabilidade da lei designada pelo artigo 45.°: os
pressupostos e as consequências da obrigação de indemnizar fundada
Sumários de DIP
na culpa, no risco ou facto lícito.
Marcos Ngola
62
2.4. LEI REGULADORA DAS COISAS (ARTS. 46ª-48ª)

 Princípio geral (art. 46.°, 1)


• Lex rei sitae (móveis e imóveis)
 Estatutos especiais (art. 46.°, 2 e 3)
• Coisas em trânsito: objecto de um contrato de transporte internacional
(nº2)
• Meios de transporte submetidos a um regime de matrícula (navios,
aeronaves, vagões de caminho de ferro, automóveis) (nº3)
• Capacidade para constituir direitos reais sobre imóveis ou para dispor
deles (artigo 47.°) remissão condicionada para a lex rei sitae. Só se aplica
aos imóveis sitos no estrangeiro.
 Âmbito de aplicação do estatuto real
• Constituição, a transferência e a extinção da posse da propriedade e dos
demais direitos reais.
• Classificação das coisas, os tipos de direitos reais admissíveis, as coisas
susceptíveis de apropriação, os limites da propriedade, etc.
Sumários de DIP
Marcos Ngola
63
2.4. LEI REGULADORA DAS COISAS (ARTS. 46ª-48ª)

Sucessão de estatutos
• v.g., O comprador alemão de um objecto situado em Angola
adquire a propriedade desse objecto por força do contrato. Se a
coisa é transportada para a Alemanha, país em que, para a
transferência da propriedade, se exige a traditio, o comprador
permanece proprietário?
Propriedade intelectual

• Os direitos de autor são regulados pela lei do lugar da primeira


publicação da obra (lei do país de origem da obra) e não estando
esta publicada, pela lei pessoal do autor, sem prejuízo do
disposto em legislação especial (Convenção de Berna de 1886).
• A propriedade industrial é regulada pela lei do país da sua
criação. Sumários de DIP
64
Marcos Ngola
2.5. LEI REGULADORA DAS RELAÇÕES DE FAMÍLIA (ARTS. 49.º- 61º)
Promessa do casamento
• Subsumível ao artigo 25.°CC ou 49º?/artigo 15.° CC
Constituição da relação de casamento
• Condições de validade intrínseca do casamento
 São reguladas em relação a cada nubente, pela respectiva lei
pessoal (arts 49.º, 31.º,1, 32.º 1, 2 e 82.º,2, CC).
• Condições de validade extrínseca do casamento
 Arts 50.° e 51.°, CC e arts 32.º e ss, RAC. (regra lex loci regit actum)

O Registo de casamento
• Por inscrição (art. 40.º, Cód. da Fam. (no consulado)); ou
• Por transcrição (art. 41.º do Cód. da Fam.);
Princípio da ininvocabilidadeSumários de DIP
Marcos Ngola
65
2.6. LEI REGULADORA DAS RELAÇÕES DE FAMÍLIA (ARTS. 49.º- 61º)
Efeitos do casamento
• Relações pessoais e relações patrimoniais
Artigo 52.° - lex familae - regula as relações pessoais e patrimoniais não
dependentes de um certo regime de bens- conexão móvel;
Artigo 53.° regula as relações patrimoniais dependentes de um certo
regime de bens - conexão fixa
Artigo 54.° regula a questão da mutabilidade ou imutabilidade dos regime
de bens - remissão para o artigo 52.° CC - conexão móvel.
Divórcio e separação - artigo 55°CC- remete para o artigo 52º
• Lex familiae
• Carácter limitativo do artigo 55º, 2 CC (só é possível o divórcio se a lei do
divórcio - estatuto novo - e a lei do anterior estatuto o admitirem.
A filiação - constituição e efeitos - artigos 56.° e 57º CC - tb 61.° CC
A Adopção - constituição e efeitos – 60.º e 6.º1 CC
Sumários de DIP
66
Marcos Ngola
2.7. LEI REGULADORA DAS SUCESSÕES (ARTS. 62ª-65ª

Princípios gerais
• Lei pessoal do de cuius (art. 62.° CC)
• Estatuto suspenso
• Conexão móvel, mas imobilizada no tempo

Sucessão Testamentária:
• Capacidade testamentária (artigo 63.° CC (lei da disposição))
• Interpretação (art. 64.°, a) CC) princípio da autonomia da
vontade na 2ª parte do preceito? ;
• Falta e vícios da vontade (art. 64.°, b), CC;
• Admissibilidade de testamentos de mão comum ou de pactos
sucessórios (art. 64.°, c), CC)
• Forma (art. 65.° CC)
Sumários de DIP
67
Marcos Ngola
 Direito aplicável ao contrato de trabalho internacional

 Direito aplicável ao contrato de trabalho internacional

 Princípio Geral: Autonomia da Vontade - Lei designada


pela partes;
 Tratado de Roma II;
 Excepções em alguns contratos: v.g., mediação e alienação
fiduciária em garantia.

Sumários de DIP
68
Marcos Ngola
3. EVOLUÇÃO DOS DIPs DA LUSOFONIA. SINOPSE COMPARATIVA

 Direito angolano
 Direito português
 Direito cabo-verdiano
 Direito brasileiro
 Direito macaense

Sumários de DIP
69
Marcos Ngola
A) PARTE GERAL DO DIREITO DE CONFLITOS

• Macau: Maior simplicidade nas soluções em matéria de


reenvio (arts 15º-18º) do que as do Código Civil angolano,
que tem um sistema restritivo especial - e assaz complicado
- de reenvio nas matérias do âmbito da lei pessoal (arts,
17.º, 2 e 3, e 18.º, ns 2), que foi e eliminado no CC de
Macau.

• Brasil: Adopção de um sistema anti – devolucionista


(Referência material)
• Macau: Consagração de normas de aplicação imediata ou
necessária (art. 21.º, CC), em termos idênticos aos do artigo
17.º da Lei de Reforma do DIP italiano de 1995.
Sumários de DIP
70
Marcos Ngola
A) PARTE GERAL DO DIREITO DE CONFLITOS
 Ordenamentos jurídicos plurilegislativos (Artigo 20º)
• Macau: (art. 18.º):
 Uniformização critérios para determinar as leis do ordenamento jurídico
plurilegislativo aplicáveis e extinção da distinção entre o carácter territorial
ou pessoal dos sistemas normativos que nele coexistam;
 Aplica-se em todos os casos a solução dada pelo próprio ordenamento em
causa ou, em caso de necessidade, a solução mais flexível que é obtida
através do recurso à directiva genérica da conexão mais estreita.
 A solução só será adoptada na hipótese de a lei aplicável não ter sido
determinada. De contrário considera-se como se fosse unitário.
• Ordem Pública Internacional
 Macau: A formulação “ofensa dos princípios fundamentais da ordem
pública internacional do Estado angolano”, foi substituída pela expressã A
expressão "manifestamente incompatível com a ordem pública”, sendo
mais restrita e mais flexível, visto não estar limitada aos "princípios
Sumários de DIP
fundamentais da ordem pública".Marcos Ngola 71
B) PARTE ESPECIAL DO DIREITO DE CONFLITOS

 Âmbito e determinação da lei pessoal

• Brasil e Macau: determinam que a lei pessoal de uma pessoa


singular é a lei da sua residência habitual (art. 30.º, CC do Macau )

Lei reguladora das obrigações

• Macau: O art. 42.º do CC Angolano revela-se complicado e mesmo


antiguado em comparação com art 41º no CC de Macau "[n]a falta
de determinação da lei competente, aplica-se a lei do lugar com o
qual o negócio jurídico se ache mais estreitamente conexo" em
todos os casos. Esta solução corresponde, em principio, à do
artigo 4.º, n.º 1, da Convenção de Roma.

Sumários de DIP
72
Marcos Ngola
B) PARTE ESPECIAL DO DIREITO DE CONFLITOS
 Lei reguladora das coisas
• Macau: Os nºs 2 e 3 do art. 45.º que correspondem aos n.ºs 2 e 3
do nosso art. 46 contém algumas diferenças:
 N.º 2 No “respeita à constituição ou transferência de direitos reais
sobre coisas em trânsito”, estabelece que tais coisas são “havidas
como situadas no lugar do destino”
 N.º3 "[a] constituição e transferência de direitos sobre os meios
de transporte submetidos a um regime de matrícula são
reguladas pela lei do lugar onde a matrícula tiver sido efectuada”.

• O artigo 47.º difere da disposição correspondente do artigo 48.º


do CC angolano: "os direitos de autor e os direitos conexos, bem
como a propriedade industrial, são regulados pela lei do lugar
onde se reclama a sua protecção”.
Sumários de DIP
73
Marcos Ngola
B) PARTE ESPECIAL DO DIREITO DE CONFLITOS
 Lei reguladora das relações de família
Macau:
• Supressão da bizarra disposição do artigo 51.º, 3 CC
angolanodo que reconhece a validade de um casamento
canónico de um ou de dois nacionais angolanos celebrado no
estrangeiro, mesmo num país que não aceite esta
modalidade de casamento, como a França.
• Contrariamente ao que acontece com o artigo 51.o, n.o 1, do
CC angolano, não é exigida qualquer reciprocidade para
permitir a celebração de um casamento consular em Macau.
• Também há diferenças significativas no artigo 53.º, em
matéria de divórcio, e no artigo 54.º, no que toca à
constituição da filiação. Sumários de DIP
74
Marcos Ngola
B) PARTE ESPECIAL DO DIREITO DE CONFLITOS
 Lei reguladora das relações de família
• Portugal, Cabo Verde e Macau: Relações entre os cônjuges:
substituição da lei pessoal do marido pela lei do lugar com o qual
a vida familiar se ache mais estreitamente conexa;
• Portugal, Cabo Verde e Macau: Substância e os efeitos das
convenções antenupciais e regime de bens: substituição da lei
pessoal do marido pela lei da primeira residência conjugal;
• Macau: O art. 56.º, 3 relativo à filiação adoptiva, apresenta
uma importante que não existe no CC angolano: regula
situações em que os adoptantes vivem em união de facto
ou em que o adoptando é filho do unido de facto do
adoptante.

Sumários de DIP
75
Marcos Ngola
B) PARTE ESPECIAL DO DIREITO DE CONFLITOS
Lei reguladora da união de facto
• Cabo Verde e Macau: Já foi consagrada pelo art. 53.º, 3 do CC de
Cabo Verde e pelo art. 58.º do CC de Macau.
• Angola e Portugal: defende-se a aplicação analogicamente do
disposto no artigo 49.º ou no art. 25.º do CC
• Artigo 58.º do CC de Macau:"[o]s pressupostos e os efeitos da
união de facto são regulados pela lei da residência habitual
comum dos unidos de facto" (n.º 1) ou, subsidiariamente, pela
"lei do lugar com o qual a situação se ache mais estreitamente
conexa" (n.º 2)”.
• Esta disposição relativa à união de facto não está inccluída nem
na Subsecção V relativa às relações de família nem na Subsecção
III que trata das relações contratuais, como é preconizado por
alguns autores, mas está numa Subsecção autonoma, a VI.
Sumários de DIP
76
Marcos Ngola
SUMÁRIO: DIREITO DA COMPETÊNCIA INTERNACIONAL DOS TRIBUNAIS

Sumários de DIP
77
Marcos Ngola
1. DIREITO DA COMPETÊNCIA INTERNACIONAL DOS TRIBUNAIS

 Ideias preliminares
• O Direito da Competência Internacional dos
Tribunais é formado pelo conjunto de normas de
competência internacional, de norma sobre a
interpretação e aplicação das normas de
competência internacional e de princípios gerais
que dominam este complexo normativo.
• A competência internacional dos tribunais é o
complexo de poderes que lhe são atribuídos para o
exercício da função jurisdicional com respeito as
situações transnacionais.
Sumários de DIP
78
Marcos Ngola
1. DIREITO DA COMPETÊNCIA INTERNACIONAL DOS TRIBUNAIS

 Jurisdição e competência internacional

• Por força do Direito Internacional Público os Tribunais


de um Estado não podem exercer a sua actividade
jurisdicional relactivamente a todas as situações
transnacionais (v.g. Imunidades de jurisdição).

• A competência internacional tem de se basear num


laço entre a situação e o Estado do foro e, por isso, as
normas de competência internacional utilizam critérios
de conexão.

Sumários de DIP
79
Marcos Ngola
1. DIREITO DA COMPETÊNCIA INTERNACIONAL DOS TRIBUNAIS

 Valores e princípios gerais do Direito da Competência


Internacional

• Princípios

 Proximidade relativamente as partes e as provas;


 Eficácia prática da decisão;
 Distribuição harmoniosa da competência entre as jurisdições
estaduais;
 Princípio da autonomia da vontade

• Valores

 Certeza jurídica
 Previsibilidade jurídica Sumários de DIP
80
Marcos Ngola
1. DIREITO DA COMPETÊNCIA INTERNACIONAL DOS TRIBUNAIS
 Fontes das normas de competência internacional (materiais)
 Fontes internacionais : Convenções de unificação do regime de
competência internacional.
 Fontes internas CPC, arts 61.° e ss.
 Interpretação e aplicação das normas de competência
internacional
• Paralelismo com interpretação e aplicação das normas
de DIP:
 De fontes interna - tem de ser interpretadas como parte
do sistema jurídico angolano.
 De fonte internacional - tem de ser autônoma, a própria
convenção determina.
Sumários de DIP
81
Marcos Ngola
1. DIREITO DA COMPETÊNCIA INTERNACIONAL DOS TRIBUNAIS
 Relação entre a competência internacional e o Direito aplicável

• A competência internacional é um pressuposto de aplicação do


Direito de Conflitos pelos órgãos públicos.
 Perante a ocorrência ou eventualidade de um litígio emergente de
uma situação transnacional trata-se em primeiro lugar de saber
qual a jurisdição nacional competente; da competência do Estado
A ou do Estado B vai depender a aplicação do Direito de Conflitos
do Estado A ou do Estado B.
• O legislador e os órgãos de aplicação do Direito quando criam ou
desenvolvem o Direito da Competência Internacional numa
determinada matéria, devem ter em conta as normas de conflitos
aplicáveis e vice - versa.

• Mas, isto não significa que o forum deva coincidir sempre, ou em


regra, com o ius. Sumários de DIP
Marcos Ngola
82
1. DIREITO DA COMPETÊNCIA INTERNACIONAL DOS TRIBUNAIS
Regime interno

Âmbito material de aplicação


• Artigo 61.° do CPC: "os tribunais angolanos têm competência
internacional quando se verifica algumas das circunstâncias
mencionadas no artigo 65.°”.
• Competência internacional dos tribunais judiciais em matéria cível
em sentido amplo (Direito privado comum e especial)

Critérios gerais atributivos de competência legal (art. 65.º , CPC)

1. Critério da coincidência (alínea a))


2. Critério da causalidade (alínea b))
3. Critério da reciprocidade (alínea e))
4. Critério da necessidade (alínea
Sumários ded))
DIP
83
Marcos Ngola
1. DIREITO DA COMPETÊNCIA INTERNACIONAL DOS TRIBUNAIS
Regime interno
Competência convencional (art. 99º, 2, CPC)
• As partes podem designar um tribunal estadual como
exclusivamente competente ou concorrentemente competente:
pacto de jurisdição
Momento da fixação
• A competência fixa-se no momento da propositura da acção, sendo
irrelevantes as modificações de facto que ocorram posteriormente.
Litispendência Estrangeira
• É irrelevante. (Itália, França, Portugal e Angola)
• Não tem relevância directa, art. 497º/3, 1096.°, d), mas
indirectamente pode ser relevante 1094.°, (caso julgado) L.
PINHEIRO Sumários de DIP
84
Marcos Ngola
SUMÁRIO: DIREITO DE RECONHECIMENTO DE ACTOS PÚBLICOS ESTRANGEIROS

Sumários de DIP
85
Marcos Ngola
2. DIREITO DE RECONHECIEMENTO DE ACTOS PÚBLICOS ESTRANGEIROS
 Classificação
• Os actos públicos internos - praticados por autoridades nacionais
• Os actos públicos externos (actos administrativos ou decisões
judiciais) - praticados por autoridades estrangeiras.
• As decisões arbitrais - praticados por tribunais arbitrais
internacionais (São actos públicos?) - A Conv. de Nova Iorque de
1958 relativa ao Reconh e Exec. de Sentenças Arbitrais Estrangeiras
 O problema do reconhecimento é colocado com respeito aos actos
públicos estrangeiros e às decisões arbitrais estrangeiras (decisões
externas). Trata- se de saber se estes actos podem produzir efeitos
na ordem jurídica local e, em caso afirmativo, quais as condições a
que é subordinada essa eficácia.
 Enquanto os actos públicos internos produzem ditectamente efeitos
na ordem jurídica interna os actos externos carecem de ser
reconhecidos para poderemSumários
produzir
de DIP
efeitos na ordem jurídica
86
interna. Marcos Ngola
2. DIREITO DE RECONHECIEMENTO DE ACTOS PÚBLICOS ESTRANGEIROS

 Noção

• O Direito de Reconhecimento Internacional Privado é


o complexo normativo formado pelas normas e
princípios que regulam autonomamente a relevância
das decisões externas que incidem sobre situações
privadas na ordem jurídica interna.

Classificação

• Direito de reconhecimento de efeitos e direito de


reconhecimento executório.
Sumários de DIP
87
Marcos Ngola
2. DIREITO DE RECONHECIEMENTO DE ACTOS PÚBLICOS ESTRANGEIROS
 Normas de reconhecimento de efeitos e de reconhecimento
executório
 As normas de reconhecimento de efeitos de decisões externas
constituem uma modalidade de norma de conflitos, na medida em
que remetem para o Direito do Estado de origem da decisão (LM).
 Só as normas de reconhecimento de efeitos de decisões externas
que integram a categoria internacionalprivatistica das normas de
reconhecimento.
 Outras são normas materiais que associam à decisão externa
determinados efeitos estatuídos pelo Direito do Estado do
reconhecimento. v.g.,: normas que atribuem força executiva, valor
de titulo de registo e força probatória às decisões externas.

 Ambas encontram - se expressas nas mesmas disposições legais.


(art. 1094.° e ss, CPC). Sumários de DIP
88
Marcos Ngola
2. DIREITO DE RECONHECIEMENTO DE ACTOS PÚBLICOS ESTRANGEIROS

 Interpretação e aplicação das normas de reconhecimento de


decisões externas

• Apresentam importantes afinidades com o problema da


interpretação e aplicação das normas de conflitos e das normas da
competência internacional.

 Objecto da norma de reconhecimento

• A própria decisão externa (actos administrativos ou decisões


judiciais)

Sumários de DIP
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Marcos Ngola
2. DIREITO DE RECONHECIEMENTO DE ACTOS PÚBLICOS ESTRANGEIROS

Regime do reconhecimento dos efeitos de actos


administrativos estrangeiros sobre direitos privados

 Necessidade/desnecessidade de legalização dos actos


públicos estrangeiros (artigo 365.°, 2 CC e artigo 540.° do
CPC)?

 Convenção relativa à supressão da exigência da


legalização dos actos públicos estrangeiros, concluída na
Haia em 5.10.1961.

Sumários de DIP
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Marcos Ngola
2. DIREITO DE RECONHECIEMENTO DE ACTOS PÚBLICOS ESTRANGEIROS
 Regime do reconhecimento dos efeitos das sentenças estrangeiras
sobre direitos privados

a) Caso julgado - necessidade de revisão ou confirmação (art.


1094.°, 1, CPC);
a) Título executivo - necessidade de revisão (art. 49.°, 1, CPC);
a) Efeitos constitutivos extintivos ou modificativos - sentenças
sobre o Estados das pessoas (ex.: de divórcio, reconhecimento
da filiação, adoção) - necessidade de revisão para a transcrição
no Registo Civil (Código de registo civil);
a) Efeitos secundários da sentença como mero facto jurídico -
desnecessidade de revisão (F. CORREIA);
a) Efeitos como meios de prova - desnecessidade de revisão (art.
1094.°, 2 CPC). Sumários de DIP
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Marcos Ngola
2. DIREITO DE RECONHECIEMENTO DE ACTOS PÚBLICOS ESTRANGEIROS

 Princípios substantivos sobre a revisão de sentenças


estrangeiras

 Soluções de Direito comparado:


 Não reconhecimento das sentenças estrangeiras (Suécia,
URSS);
 Reconhecimento mediante reciprocidade (RFA);
 Reconhecimento indirecto mediante uma nova acção
(Inglaterra);
 Reconhecimento ipso iure, independentemente de revisão
(França, para as sentenças sobre o estado das pessoas)
Sumários de DIP
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Marcos Ngola
2. DIREITO DE RECONHECIEMENTO DE ACTOS PÚBLICOS ESTRANGEIROS

 Princípios substantivos sobre a revisão de sentenças estrangeiras


 Reconhecimento por exequatur, controlo ou revisão:
 De mérito - controlo da aplicação do direito ou até da matéria de
facto (França, até 1964);

 Formal (delibação) - sistema angolano, português, italiano


 Sistema angolano – Não será misto?

 Revisão formal em princípio (arts 1094 e ss, CPC), excepto nos casos
dos artigos 1096.°, g) CPC - controle da aplicação da lei angolano,
competente segundo as normas de conflitos angolanas, se se tratar
de uma sentença proferida contra angolano) - e do 771.° c) CPC -
análise da matéria de facto (documento novo).
 Desnecessidade de revisão no caso do artigo 1094.°, 2 CPC (valor da
sentença como simples meioSumários
de prova).
de DIP
Marcos Ngola
93
FIM

Tel.: +244 923 376 989/991376989 - Email: marcosngola@gmail.com

Sumários de DIP
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Marcos Ngola

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