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Elsa dias oliveira - colectânea casos práticos

CC, CPC

Qual o objeto do dip? Situações privadas internacionais (DMV) ou transnacionais (LP),


plurilocalização
Qual a função de dip? Regular essas situações privadas internacionais

Três problemas:
1. Determinar qual é o órgão competente: qual é a jurisdição, podendo não ser o tribunal a ser
competente, mas o notário, a administração…

§ Ver se o tribunal português é competente: Reg. Bruxelas I + CPC ≠ de quando tribunal
português é competente aplicar-se sempre a lei do foro
2. Determinar qual a lei/direito materialmente competente: recorrer às normas de conflitos (25º e
ss CC)
3. Determinar a eficácia dos atos - Direito do Reconhecimento - ver se são eficazes noutras ordens
jurídicas

Competência do tribunal (CPC, Reg.Brux.) ≠ Lei competente (!!!!) —> normas de conflito
*Casos excepcionais: situações em que a atribuição de competência ao tribunal está na
dependência da atribuição da competência ao direito do mesmo estado

ELEMENTOS DE CONEXÃO:
- Nacionalidade
- Situações em que nacionalidade não é relevante para a situação

CASO PRÁTICO 1 (!! referir qual o método utilizado)


A (alemão) quer casar, vive em Portugal e quer emigrar para França. A lei alemã impede o
casamento de A, a francesa e portuguesa não. Lei da nacionalidade é a lei alemã

1. supõe que em cada direito, segundo as normas de conflito, é aplicado o direito material do foro a
situações transaccionais - MÉTODO JURISDICIONALISTA (MC??):

1.1. supõe que verificada a situação anterior, A poderia casar em Portugal?


Ir a regulamento, ver o país competente, se Portugal fosse competente e o direito material
permitisse, poderia casar pois é aplicado o direito material do foro e a lei portuguesa permite-o
casar. Neste caso no entanto o ato não seria praticado pelo tribunal, seria através de um trabalhador
administrativo, mas o caminho é o mesmo

1.2. A poderia casar-se em França?
Se A se quisesse casar lá, aplicar-se-ia a lei material do foro (local) e a lei francesa permitia
1.3. A poderia casar-se na Alemanha?
Não poderia casar-se porque a lei do foro alemã não permite que ele se case

Problemas: consequências de harmonia internacional e de segurança jurídica que este método não
permite - cria situações bastante diferentes

MÉTODO CONFLITUAL/CONEXÃO - este método permite-nos uma maior harmonia jurídica


(= pressupostos anteriores)
Com este método procura-se uma conexão entre as situações privadas e as leis envolvidas, existindo
um elemento de conexão que nos permite chegar a qual o direito utilizado, utilizando normas de
conflito - como? analisar as normas de conflitos vigentes em cada país (caso dá indicação)

1.1. A poderia casar-se em Portugal? (Tem de se analisar normas de conflito portuguesas)


** Não se analisa a competência internacional (tribunais) procura-se as normas de conflitos e quer-
se saber qual a lei aplicada - 31º, 25º CC + 49º: relativo a casamentos, remissão para a lei pessoal
que é definido no artigo 31º que diz que a lei pessoal é a da nacionalidade do indivíduo
R.: a solução iria remeter para a lei alemã como sendo o direito materialmente competente,
que não permite o casamento e por isso A não se poderia casar.

CASO PRÁTICO 2
A (brasileiro) residência habitual em Portugal e quer casar-se, info:
Materialmente a lei da nacionalidade impede casamento, norma portuguesa permite, no brasil
norma de conflitos relevante manda aplicar lei do domicilio
MÉTODO CONEXÃO (lei material)
A) Pode casar-se em Portugal? Norma de conflitos portuguesa (49º) aplica a lei pessoal (31º) e
teríamos de ir à lei brasileira que nos diz que ele não pode casar.
B) Pode casar-se no Brasil? Norma de conflitos brasileira manda aplicar a lei do domicilio e a lei
portuguesa permite o casamento
O elemento de conexão nestas normas de conflito é diferente, numa o elemento é o da
nacionalidade noutro o elemento é o da residência

Prox. aula: 3-7

Utilizada a norma de conflito e mantendo-se a desarmonia, o nosso OJ oferece algum expediente


adicional às normas de conflitos?

Art. 18.º do CC – quando o DIP do foro remete para uma legislação estrangeira, legislação
estrangeira essa que não se considera competente e devolve à lei do foro – isto é o reenvio de
primeiro grau.

Pressupostos para operar o reenvio:

• A norma de conflitos remeter para uma lei estrangeira;


• A lei estrangeira designada não se considerar competente;
• Reenvia e por esta operação há competência do estado que tinha enviado.

Há situações em que apesar do elemento de conexão ser o mesmo, pode conduzir a uma desarmonia
jurídica, se a interpretação do elemento for diferente.

RELAÇÃO E ARTICULAÇÃO DO DIP COM OUTRAS DISCIPLINAS JURÍDICAS

Caso n.º 3*

Em janeiro de 1977, discute-se perante tribunais portugueses qual a lei reguladora dos efeitos do
casamento celebrado entre Aníbal, cidadão italiano habitualmente residente em Portugal, e Berta,
cidadã espanhola habitualmente residente na França.
Diga, justificadamente, qual é a lei reguladora dos efeitos do casamento, sabendo que:

a) de harmonia com o art. 36.º, n.º 3, da CRP de 1976, «[o]s cônjuges têm iguais direitos e deveres
quanto à capacidade civil e política e à manutenção e educação dos filhos»;
b) em janeiro de 1977, o artigo 52.º do Código Civil dispunha: «[s]alvo o disposto no artigo
seguinte, as relações entre os cônjuges são reguladas pela lei nacional comum» (n.º 1); «[n]ão
tendo os cônjuges a mesma nacionalidade, é aplicável a lei da sua residência habitual comum e,
na falta desta, a lei pessoal do marido» (n.º 2);
c) em janeiro de 1977, o artigo 31.º, n.º 1, do Código Civil tinha redação idêntica à atual;
d) os cônjuges residiram na França entre 1960, data em que se casaram, e 1974, data em que
Aníbal abandonou o lar conjugal e fixou residência em Portugal.
RESPOSTA:
52.º/1 - ver se há uma lei nacional comum – não existe;
52.º/2 – não há residência comum, portanto vamos à lei pessoal do marido.
Indo à lei pessoal do marido, traz algum problema no nosso ordenamento jurídico? Levanta, uma
vez que é contrário ao art. 36.º/3 CRP.
A justiça do DIP não pode ficar alheia ao direito material e aos princípios materiais,
nomeadamente a igualdade.
O DIP não é um campo axiologicamente neutro, ao não podermos aplicar certas normas de
conflitos, teríamos uma lacuna de direito de conflitos.

DMV – pode ser recusada a aplicação da norma se violar princípios constitucionais, princípios de
direito material – estaria aqui em causa a violação do princípio da igualdade. Consideraríamos esta
norma inconstitucional e não podia ser aplicada.

COMO PODERÍAMOS RESOLVER?

1) Poderíamos recorrer aos tribunais franceses, uma vez que teriam lá residido os dois e seria,
portanto, a ligação familiar mais estreita;

CASO 4

E se o Paco se quisesse casar?

Dário Moura Vicente vs Lima Pinheiro

Art. 49.º + 31.º - temos a lei mexicana e italiana


Art. 28.º LN – vinculação mais estreita com o México

A questão é perceber se ainda assim e transpondo a matéria do acórdão se aplica o direito


comunitário

DMV – entende que, neste caso, aplicar-se-ia a lei mexicana: o acórdão nada tem a ver com esta
matéria, é uma matéria do tratado da UE, a matéria do casamento nada tem a ver com matérias do
tratado. Por ser uma matéria diferente, deve prevalecer a nacionalidade com a qual há uma maior
conexão que seria neste caso a mexicana – princípio da nacionalidade efetiva.

LP – aplicar-se-ia a lei italiana: ainda que numa matéria fora do acórdão, o professor Lima Pinheiro
e por uma questão do princípio da harmonia, considera que deve ser relevante o princípio e deve
prevalecer a nacionalidade do Estado-Membro.
Caso n.º 5*
(Ver Ac. do TJ de 14 de outubro de 2008, Stefan Grunkin e Dorothee Regina Paul, proc. n.º C353/06)

António Paulo e Belarmina Gomes, casados um com o outro, são nacionais alemães e residem
habitualmente na Dinamarca.
Em 27 de junho de 2008, nasceu, na Dinamarca, o filho de ambos, também ele nacional alemão. O
filho foi registado na Dinamarca com o nome de Carlos Paulo-Gomes, uma vez que a lei
dinamarquesa permite apelidos compostos, quando um dos progenitores não tenha assumido o apelido
do outro.
Agora, os pais do menor pretendem reconhecer e registar o nome de Carlos Paulo-Gomes na
Alemanha, para efeitos de emissão do passaporte de Carlos.
Porém, a Conservatória do Registo Civil alemã recusa-se a reconhecer o nome porque considera
aplicável ao caso o Direito material alemão, que não admite apelidos compostos.
António e Belarmina consideram que Carlos tem direito a ver o seu nome reconhecido na
Alemanha tal como foi registado na Dinamarca, país onde todos residem.
Admitindo que o Direito de Conflitos alemão estabelece que os nomes das pessoas regem-se pela lei do
Estado da sua nacionalidade, diga, fundamentadamente, se a pretensão de António e Belarmina procede.

Pode haver limitação da liberdade de circulação se for proporcional ao objetivo que se pretende
legitimar – neste caso não seria, porque eram razões de ordem administrativa.

QUALIFICAÇÃO – é o método que se utiliza para saber qual é a regra de conflitos a


aplicar.

NORMA DE CONFLITOS – é a norma à qual vamos recorrer para determinarmos qual é que o
direito materialmente competente.

Esta qualificação dá-nos o método para apurar qual a regra que vamos utilizar.

1. INTERPRETAÇÃO DO CONCEITO QUADRO

Há um conceito usado na norma de conflitos que é ponto inicial.

CASO 7

Para chegarmos à norma de conflitos, temos de interpretar o conceito quadro – seria neste caso,
CASAMENTO.

COMO É QUE ITERPRETAMOS ESTE CONCEITO QUADRO?

1. INTERPRETAÇÃO

Se interpretarmos a lei do foro, como é que interpretamos o conceito quadro?


Recorrendo ao 1577.º temos uma plena comunhão de vida e com uma pessoa morta, o casamento
não seria possível.
Podemos é aplicar essa lei, mas autonomizar em termos de interpretação dessa mesma lei – não
recorremos à lei do foro, determinamos primeiro a lei competente e recorríamos a essa.

2. CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO

Como compatibilizar o 1577.º que tem determinados elementos que impediam o casamento com a
interpretação do 171.º do CC francês?

Com os dados que tínhamos e partindo da interpretação do conceito quadro sem a autonomização,
nem sequer haveria lugar à aplicação do 49.º porque nem sequer haveria casamento.

Se nos autonomizarmos e partirmos para uma interpretação com base na lei competente, as normas
materiais francesas, da lei competente, trazem-nos determinadas notas ao conceito de casamento
que não podemos ir buscar ao OJ português.
Essas notas essenciais do conceito quadro podem partir do direito do foro, mas temos de nos
autonomizar com recurso à lei competente.

Se é uma nota essencial e não nos podemos autonomizar, não aplicando o 49.º, podemos recorrer
ao 25.º? Não, porque o 25.º é uma norma geral que está acima do art. 49.º.

Coimbra: normas materiais



Lisboa: situações privadas internacionais

3. QUALIFICAÇÃO EM SENTIDO ESTRITO

Ou entendemos que o objeto da qualificação são as normas materiais (as aplicáveis ao caso) ou
entendemos que o próprio objeto são as próprias situações privadas internacionais.
Independentemente disto, temos que as caracterizar – aferir a sua relevância jurídica.

Ao caracterizarmos o objeto, vamos ver se estas normas podem não ser reconduzíveis ao conceito
quadro que já foi caracterizado.

REFERÊNCIA ABERTA ou SELETIVA —> Como interpretar o conceito referido na norma de


conflitos?
1. Através do direito material do foro (Teoria da lex fori), pela existência de uma união pessoal
entre o legislador das normas de conflitos e legislador material interno ≠ No entanto, se os conceitos
que delimitam o objeto da remissão tiverem o conteúdo que decorre expressamente do direito interno ou por via de
uma construção jurídica do direito material interno, deixam de fora realidades jurídicas diferentes que existem no
estrangeiro
2. Teoria da lex causae
3. Necessidade de de uma maior abertura dos conceitos quadro das regras de conflito para além
dos conceitos do direito material interno

LP + ISABEL DE MAGALHÃES COLAÇO - relativamente às normas de conflito tem se de, a


partir do Direito Material do Foro, retirar da sua analise notas para a determinação do conceito
empregue pelas normas de conflitos, mas tendo sempre em conta as finalidades específicas
prosseguidas pelo Direito de Conflitos —> ou seja é sempre seletivo, tendo em conta a função e o
conteúdo desse conceito —> conclusão: interpretação de normas de conflitos de fonte interna é
ancorada no Direito material do foro, mas autónoma.

Ex.: direito sobre uma coisa, desconhecido no direito material português, temos que retirar notas do
nosso direito para a definição de ‘direito real’ do artigo 46º - LP: atribuição de uma coisa corpórea
independentemente da existência de uma relação intersubjetiva que funda pretensões perante
terceiros que exprimem a sequela.

Caso n.º 8
(Exame de 16 de julho de 2010)

Em 1985, ARY, brasileiro, casou-se com BIA, portuguesa e brasileira nascida e residente
no Rio de Janeiro.
Desde a data do casamento até 2007, o casal e seus filhos, CELSO e DANI, ambos
nacionais brasileiros, viveram sempre no Rio de Janeiro. Em Janeiro de 2007, ARY mudou a
sua residência habitual para Lisboa, tendo BIA e os filhos do casal continuado a residir na casa
do Rio de Janeiro.
Em Janeiro de 2010, ARY vendeu a CELSO um terreno situado no Alentejo de que era
proprietário, sem o consentimento de BIA ou DANI. O contrato foi celebrado em Portugal,
onde CELSO se encontrava de férias, não tendo as partes escolhido a lei aplicável.
DANI pretende a anulação da venda por ARY a CELSO do terreno situado no Alentejo,
por não ter dado o seu consentimento a tal venda.

Tendo em conta que:


a) O artigo 496.º do C.C. brasileiro, inserido no capítulo relativo à compra e
venda, estabelece a anulabilidade da venda de ascendente a descendente, salvo
consentimento expresso dos outros descendentes e do cônjuge do alienante – à
semelhança do artigo 877.º do C.C. português;
b) O Direito de Conflitos brasileiro adota a tese da referência material à lei
estrangeira;
c) Perante o Direito de Conflitos brasileiro entende-se que as relações entre pais e
filhos estão sujeitas à lei do domicílio comum dos pais e, na sua falta, à lei com a qual a
vida familiar apresente uma conexão mais estreita – que, no caso, considera situar-se no
Brasil;

Diga, justificadamente, se a venda de ARY a CELSO deve ser anulada.

RESPOSTA:
Estamos perante um conflito plurilocalizado pois tem contacto com várias ordens juridicas,
nomeadamente a brasileira (nacionalidade de todas as partes e residência de B, C e D) + portuguesa
(nacionalidade de B e residência de A desde 2010, venda do imóvel em portugal)
1º) Qual a norma material a aplicar? Artigo 877º - relações familiares* = 496º CC Brasileiro
2º) Qual a norma de conflitos a aplicar? Artigo 57º, excluída a aplicação do Reg. Roma I por
descartarmos anteriormente que não se tratava de relações obrigacionais mas sim familiares.
O artigo 57º fala-nos sobre as relações entre pais e filhos. *Discute-se na doutrina se o artigo
877º, apesar de estar inserido no capitulo obrigacional, pode caracterizar-se como sendo uma norma
respeitante a relações entre pais e filhos, e visto que o seu objetivo é regular de certo modo as relações
familiares fazendo com que ninguém fique prejudicado tentando manter uma certa igualdade entre
filhos, faz sentido, e é de entendimento maioritário, que esta norma é relativa às relações entre pais e
filhos e por isso, segundo o artigo 15º, pode subsumir-se ao artigo 57º referente às relações entre pais e
filhos. (= para artigo brasileiro). Não há problema de interpretação
*BIA: artigo 27º LN, para a lei portuguesa esta tem nacionalidade portuguesa.
Aplicando o artigo 57º, e não tendo estes nacionalidade comum, nem residência habitual comum,
aplica-se a lei pessoal do filho que é a lei brasileira (496º CC Brasileiro), que requere o consentimento
dos filhos e do cônjuge.

Caso n.º 9
(Frequência de 18 de dezembro de 2007)

Em 2007, pôs-se o seguinte caso numa conservatória do registo civil português.


António, cidadão brasileiro com residência habitual em Portugal, pretendia casar-se com
Beatriz, cidadã brasileira e portuguesa com residência habitual em Portugal e mãe de 2 filhos.
Antes de se mudarem para Portugal, António e Beatriz tinham tido residência habitual
no Brasil.
Beatriz queria casar-se com António em comunhão geral de bens. Porém, o conservador
do registo civil português recusou-se a casá-la nesse regime, com fundamento no art. 1699.º,
n.º 2, do Código Civil português.

Admitindo que:

a) segundo o art. 7.º, § 4.º, da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro, o


“regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em que tiverem os
nubentes domicílio, e, se este for diverso, à do primeiro domicílio conjugal”;
b) segundo o art. 10.º da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro, a
“sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que era domiciliado o
defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens”;
c) de acordo com o Direito brasileiro, António e Beatriz tinham domicílio em
Portugal;
d) o art. 16.º da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro estabelece que
a referência das regras de conflitos brasileiras a uma ordem jurídica estrangeira é uma
referência material;
e) o Código Civil brasileiro não prescreve restrição equivalente à do art. 1699.º, n.º
2, do Código Civil português e permite a escolha do regime de comunhão geral de bens
(art. 1639.º);
f) no art. 1699.º, n.º 2, do Código Civil português tem-se em vista a proteção da
legítima dos filhos anteriores ao casamento;

Diga, justificadamente, se António e Beatriz se podiam casar em regime de comunhão


geral de bens.

RESPOSTA:
Trata-se de um conflito plurilocalizado, entre duas ordens juridicas, a Portuguesa (por ser a
residência habitual das partes e Beatriz ser portuguesa) e a Brasileira (nacionalidade dos dois
cônjuges).
1º) Qual a norma material a aplicar? 1639º CC brasileiro (pode escolher o regime de
comunhão geral de bens) / 1699º/2 não permite casar em comunhão geral —> sucessões,
proteção da sucessão
2º) Norma de conflitos? artigo 62º —> regulada pela lei pessoal (31º/1)
*BEATRIZ - dupla nacionalidade - artigo 27º LN - quando existe conflitos de
nacionalidades para efeitos da lei portuguesa esta vale em detrimento das outras nacionalidades.

Caso n.º 10*

Em 1983, António, natural de São Paulo, emigrou para a Suíça e fixou residência em
Lausanne. Em 1994, António casou-se com Elaine, de nacionalidade suíça.
Em 2012, António veio viver para Portugal e fez testamento em que instituiu como seus
herdeiros, no que respeita aos bens imóveis situados em Portugal, a sua mulher Elaine e o seu
pai Ricardo. António faleceu em 2014.
Sabendo que António:
— era considerado cidadão brasileiro pelo Direito da nacionalidade brasileiro;
— era considerado suíço pelo Direito da nacionalidade da Confederação Helvética;
— era considerado cidadão do Cantão de Vaud segundo o Direito daquele Cantão;
determine qual a lei reguladora da sucessão de António (admitindo que, na Suíça, seria
aplicada a lei suíça).
RESPOSTA:
No caso em apreço existe um conflito plurilocalizado pois António para além de múltiplas
nacionalidades, realizou testamento em Portugal respeitante a um imóvel lá sito. O artigo 62º do CC diz
que a sucessão por morte é regulada pela lei pessoal do autor da sucessão. Para determinar a lei pessoal
do autor diz-nos o artigo 31º/1 que é a lei da nacionalidade do indivíduo, no entanto surge um
problema em determinar qual a nacionalidade do indivíduo?
Interpretar a nacionalidade + concretizar: conteúdo múltiplo - ir à LN (lex foro)
António possuí três nacionalidades: brasileira, nacionalidade primária na Suíça do Cantão de Vaud,
e como nacionalidade secundária a da Confederação. Trata-se de um conflito positivo de nacionalidades
que é resolvido pela nossa LN no seu artigo 28º (afasta-se aplicação do artigo 27º por nenhuma das
nacionalidades ser portuguesa) que diz que releva a nacionalidade onde este possuí a sua residência
habitual. Surge então o problema de definir: qual a residência habitual de António? A residência
habitual é um elemento de conexão utilizado pelas regras de DIP, como nos diz LP a residência para ser
habitual exige um certo grau de estabilidade e permanência, sendo estabelecida sem limite temporal. No
caso em apreço não nos é dada muita informação, mas julga-se que este se muda a titulo definitivo, ou
pelo menos sem prospecções de ir embora futuramente, o que faz com que Portugal fosse no momento
da realização do testamento a sua lei pessoal. No entanto António não tem nacionalidade portuguesa
por isso teríamos que nos socorrer ao segundo critério que é o da ‘’conexão mais estreita’’ - Suíça.

Caso n.º 11*

Catarina, de nacionalidade portuguesa e francesa, residente habitualmente em Paris,


propõe nos tribunais portugueses uma ação de indemnização contra a sociedade Carinhas e
Caretas, Lda., com sede estatutária e efetiva em Lisboa, proprietária da revista Caretas, por
violação do seu direito à imagem em virtude da publicação, em Portugal, de uma fotografia
obtida sem o seu consentimento.
Admitindo que Catarina sempre viveu em Paris e que nenhuma ligação especial tem com
Portugal, qual a lei aplicável à questão de saber se Catarina é titular do direito à imagem?
1º) Artigo 27º LN - portuguesa ≠ Marques dos Santos —> conteúdo múltiplo do elemento de
conexão
2º) Normas aplicadas: direitos de personalidade
3º) Artigo 27º CC - lei pessoal (31º/1) ≠ 45º (responsabilidade extra contratual)

Caso n.º 12*

António, português residente habitualmente em Portugal, intentou contra Bento, francês


residente habitualmente na França, ação judicial pedindo que fosse declarado ser titular do
direito de propriedade, adquirido por usucapião, sobre uma valiosa joia. Só quando se
preparava para fazer a sentença é que o juiz se apercebeu de que não tinha sido alegado nem
tinha ficado provado nos autos o lugar em que a joia se situava.
Qual a lei aplicável à questão?
RESOLUÇÃO:
- artigo 1287º: norma de direitos reais
- artigo 46º/1 CC - onde a coisa se encontra situada (Portugal?)
- não tínhamos elementos de conexão: FALTA DE CONTEÚDO que impede de concretizar,
não dá para aplicar o 23º/2 porque não existe regime subsidiário —> artigo 348º

REENVIO
Caso n.º 13*

Determine a lei aplicável à sucessão de um argentino que morreu, em 2014, com último
domicílio na França, deixando bens imóveis situados no Paraguai, admitindo que:
a) as normas de conflitos argentinas e paraguaias submetem a sucessão mobiliária e
imobiliária à lei do último domicílio do de cujus;
b) as normas de conflitos (de fonte interna) francesas sujeitam a sucessão imobiliária à
lei do lugar da situação do imóvel;
c) todos os ordenamentos jurídicos envolvidos praticam, no caso, devolução simples.

Sub-hipótese
E se o argentino tivesse falecido em 2016?
RESPOSTA:
Neste caso temos como elementos de conexão: a nacionalidade (Argentina); ultimo domicilio
(França) e lugar da coisa (Paraguai) —> quer se regular a sucessão do bem imóvel (conflito pluriloc.)
Estando em causa matéria sucessória cumpre analisar primeiro se é de aplicar o Regulamento
650/2012, visto que este irá prevalecer sobre o direito nacional se for de aplicar. Não está verificado o
âmbito de aplicação temporal do regulamento (art. 83º/1) que nos diz que o regulamento apenas é
aplicável as sucessões das pessoas falecidas depois de 17 Agosto de 2015, o que não é o caso.
A norma de conflitos reguladora de sucessões em Portugal (62º) diz que a sucessão é regulada pela
lei pessoal do autor da sucessão (31º/1 - Argentina). A regra geral que o nosso ordenamento segue, é
que esta referência feita pela norma de conflitos é uma referência material (ou seja vai-se aplicar o
direito interno desse estado, 16º), no entanto surgem excepções que permitem que esta seja uma
referencia global e que por isso engloba as normas de direito internacional privado do outro país,
aceitando o reenvio/transmissão de competência.
O artigo 17º/1 diz-nos que se o dip de Argentina remeter para outra legislação (Paraguai - porque
pratica devolução simples) e esta se considerar competente é esse o direito que regula. Paraguai não se
considera competente (remete para a lei francesa) e por isso não se aplica a sua legislação interna.
Porém, o Paraguai aplica o sistema de devolução simples (devolve para França, que por sua vez devolve
para o Paraguai) e por isso é competente. 17º/1.
RESPOSTA SUB HIPÓTESE:
ROMA IV —> Verificado o âmbito de aplicação do regulamento, aplica-se o 21º/1 aplicando-se a
lei do estado onde o falecido tinha a residência habitual. Temporal (83º/1); Espacial (38º, não basta que
seja Estado Membro, é estar ou não estar vinculado ao Regulamento (!!) considerandos 82,83); Material
(1º/1/2, 3º/1 a).
Regras de conflitos primária (22º) / subsidiária (21º)
Norma expressa sobre reenvio (34º) - ÚNICO REGULAMENTO QUE ADMITE
REENVIO —> pressuposto: só vamos ao 34º e só há reenvio se tiver verificado uma remissão
para um Estado não vinculado ao regulamento. No caso, havia uma remissão para França e
por isso aplica-se a referência material.

Caso n.º 14*

Alain e Beatrice são cidadãos franceses, casados um com o outro sem convenção
antenupcial, e residem habitualmente em Lisboa.
Beatrice tinha adquirido, antes do casamento, uma casa no Luxemburgo e vendeu-a,
depois do casamento, a Charles.
Determine qual a lei reguladora do regime de bens deste casamento admitindo que:
a) os órgãos aplicadores do Direito competentes são os portugueses;
b) quer no ordenamento jurídico francês quer no luxemburguês vigora a Convenção da
Haia de 1978 sobre a lei aplicável ao regime de bens do casal;
c) de acordo com as normas de conflitos previstas nesta Convenção, a lei aplicável para
regular o regime de bens do casal será a do país onde os imóveis do casal se
encontrarem, desde que os cônjuges assim o acordem. Alain e Beatrice celebraram,
aquando do casamento, um tal acordo, determinando que, no que respeitasse às
questões suscitadas pelos imóveis próprios ou comuns sitos no Luxemburgo, seria
aplicável ao regime de bens a lei luxemburguesa;
d) no âmbito da referida Convenção da Haia de 1978, é excluído o reenvio, praticando-se,
pois, referência material.
RESPOSTA:
Reg. 2016/1103 (regimes matrimoniais) —> não se aplica.
(!!!!!) QUALIFICAR NORMA
Artigo 53º , 31º/1 —> lei pessoal (França - país onde os imóveis estiverem Lux.)

Artigo 16º —> regra geral: referência material
França aplica a Convenção de Haia - normas de conflitos da convenção sobrepõem-se às
normas de conflitos internas (?) + pratica-se a referência material —> elemento conexão: sitio do
imóvel (se estes acordarem), o que se verifica no caso, e por isso seria regulado pelo direito de
Luxemburgo.
No entanto, seria necessário que o ordenamento português permitisse esta transmissão de
competência. Aplicação do 17º/1 —> referência global, no entanto seria necessário que
Luxemburgo se considerasse competente, tendo de analisar as normas de dip de Luxemburgo, neste
caso a convenção, este pais faz referencia material para o direito inteiro e por isso considera-se
competente.
Aplica-se 17º/2.

Caso n.º 15*

Discute-se perante tribunais portugueses a capacidade matrimonial de Alberto, cidadão


argentino com domicílio em Portugal. Alberto casou-se no Paraguai.
Determine qual a lei reguladora da capacidade para contrair casamento, considerando que:
a) a regra de conflitos argentina estabelece que a capacidade para contrair casamento é
regulada pela lei do lugar da celebração do casamento;
b) a regra de conflitos paraguaia regula a questão pela lei do domicílio do nubente e
considera Alberto domiciliado em Portugal;
c) os Direitos de conflitos argentino e paraguaio praticam, no caso, o sistema de
devolução simples.
RESPOSTA:
Reg. 2016/1103 - 2º/1 a) - não se aplica.
A norma de conflitos portuguesa para resolver o conflito é a do artigo 49º, nomeadamente a lei
pessoal (31º/1) que será a lei argentina. Temos de analisar se esta é uma referência material (16º) ou se
está preenchida alguma excepção para ser feita uma referência global.
De acordo com o artigo 18º/1: Portugal de acordo com as normas de conflitos considera
competente a Argentina, o artigo diz-nos que se as regras de diprivado deste reenviarem para Portugal,
então é este o direito aplicável. Tendo em conta que a Argentina pratica devolução simples, esta realiza
uma referência global (apenas respeitante às normas de conflitos) para o Paraguai, que por sua vez
efetiva uma referência material para Portugal. Posto isto, estão verificados os pressupostos para a
aplicação do 18º/1.
No entanto, tratando-se de matéria do estatuto pessoal temos que atender ao n.º2 desse artigo
que nos diz que o 18º/1 apenas é aplicável se o interessado tiver em território português a sua
residência habitual, o que se verifica.
Posto isto, a lei aplicável seria a lei portuguesa.

Caso n.º 16*

A, britânico domiciliado no Brasil (mas tendo vivido anteriormente em Londres), faleceu


em 2014, deixando todos os seus bens (móveis), por testamento feito na Inglaterra, a favor de
instituições brasileiras.
Os filhos requerem, em Portugal, a redução por inoficiosidade do testamento, invocando a
violação do seu direito à legítima.
Os Direitos inglês e brasileiro remetem para a lei do domicílio do autor da sucessão.
Os tribunais ingleses praticam, no caso, o sistema da dupla devolução e no Brasil entende-
se a remissão para leis estrangeiras como sendo de referência material.
Segundo o Direito material inglês, a deixa testamentária era válida; segundo o Direito
material brasileiro, era inválida.
Quid iuris?

Não se aplica regulamento 650/2012 (ROMA IV) - 83º - 17 outubro 2015


As normas de diprivado portuguesas estabelecem, segundo o artigo 62º, que a sucessão por morte
é regulada pela lei pessoal do autor (31º/1), neste caso pela lei britânica. Para analisarmos se esta se
trata de uma referência material ou de uma referência global, temos de atender às normas de reenvio
portuguesas. O artigo 17º/1 diz-nos que temos desatender ao diprivado da lei que a norma de conflitos
portuguesa considera competente, que neste caso é a britânica. Posto isto, o diprivado inglês considera
competente a lei do ultimo domicílio (Brasil), este pratica o sistema de dupla devolução que o faz ir
atender a como os tribunais brasileiros iriam resolver a situação, e visto que o Brasil considera
competente o lugar do domicílio (Brasil) e este realiza uma referência material, então os tribunais
brasileiros considerariam a lei brasileira como a competente para regular a situação. Ou seja, Inglaterra
aplicando o sistema de dupla devolução resolveria o caso de acordo com a lei brasileira, e visto esta
considerar-se competente, o 17º/1 estaria preenchido.
Porém, existem excepções as normas que permitem o reenvio nomeadamente as postuladas no
artigo 19º. O n.º1 refere-nos que cessa o disposto nos artigos anteriores (17º incluido) quando da
aplicação deles resulte a invalidade/ineficácia do negócio que seria valido com a regra do 16º. Neste
caso, aplicando o 17º/1 resulta daqui que a lei brasileira é competente e que por isso a deixa
testamentária é inválida. Mas se aplicarmos o 16º, realiza-se uma referência material para o direito inglês
que considera já o testamento válido. Posto isto, estão preenchidos os requisitos do 19º/1 e aplica-se o
artigo 16º, os tribunais portugueses vão aplicar a lei inglesa e a deixa testamentária é valida.

Caso n.º 17* - ordenamentos complexos

Carlos, nacional suíço com última residência habitual no estado da Luisiana (EUA), falece
em 15 de setembro de 2015 deixando bens imóveis no Brasil.
Determine qual a lei reguladora da sucessão imobiliária, considerando que:
a) os tribunais portugueses são internacionalmente competentes;
b) o Direito de conflitos suíço determina que a lei reguladora da sucessão imobiliária é a
do último domicílio do autor da sucessão e pratica o sistema de devolução simples;
c) os EUA não dispõem de Direito Internacional Privado e de Direito interlocal
unificados;
d) o Direito de conflitos do Luisiana determina que a lei reguladora da sucessão
imobiliária é a lex rei sitae e pratica o sistema de devolução dupla;
e) o Direito de conflitos brasileiro regula a sucessão pela lei da última residência habitual
do de cujus e estabelece que a remissão feita pelas suas normas de conflitos a
ordenamentos estrangeiros abrange apenas as normas de Direito material destes;
f) no Direito brasileiro, quando a norma de conflitos remeta, sem ser em razão da
nacionalidade, para ordenamentos complexos, o elemento de conexão da norma de
conflitos brasileira define não só o ordenamento soberano como o ordenamento
jurídico local.

Reg. n.º 650/2012 - matéria de sucessões - artigo 83º —> regulamento não se aplica porque é apenas
aplicável a pessoas falecidas depois de 17 de setembro de 2015 e Carlos faleceu a 15.
Artigo 62º CC remete para a lei pessoal (31º/1) que neste caso é a lei Suíça. Para sabermos se se trata
de uma referencia material ou global temos de analisar se alguma das excepções ao artigo 16º se
verifica (???????) supostamente não se verifica. A suíça considera competente a lei do último
domicilio, remetendo neste caso para um ordenamento plurilegislativo, os EUA. Temos que ver
então que direito irá regular a situação:
Artigo 20º/1: aplica-se quando existe uma remissão para o ordenamento complexo em razão da
nacionalidade, resultando na aplicação do direito interno local desse Estado. Quando não existe
esta remissão pela nacionalidade:
ISABEL MAGALHÃES COLAÇO que diz que nestes casos então a referência é feita para o
ordenamento do Estado soberano.
FERRER CORREIA diz que o elemento de conexão aponta para determinado lugar no espaço, sendo
esse o sistema em vigor que será competente.
Artigo 20º/2: não existem normas internas locais a regular a situação (?) e é-nos dito que os EUA não
têm o DIP unificado, e por isso nestes casos considera-se como lei pessoal do interessado a lei da
sua residência habitual —> R.: Suíça considera então competente a lei do ultimo domicilio
que será a lei de Louisiana e não dos EUA. Tratando-se de um país que pratica a devolução
simples, é feita uma referencia global (são consideradas as normas de conflito) para Louisiana, e
uma referência material para a lei que este considerar competente.
As normas de conflito de Louisiana consideram que a lei competente é a do lugar do imóvel, neste
caso a lei brasileira - para se verificar o 17º/2 era necessário que a lei brasileira se considerasse ela
mesma competente: a lei brasileira considera competente a lei da residência habitual e pratica
referência material, o que faz com que considere competente a lei dos EUA:

(!!! coloca-se novamente a questão de saber se considera o direito do Estado Federal competente,
ou o do Estado Federado).
No caso, é-nos dito que a lei brasileira tem uma norma especifica que regula a situação, dizendo que
quando há uma remissão para um ordenamento plurilegislativo sem ser pela nacionalidade (é o
caso) o elemento de conexão define o ordenamento soberano como o ordenamento jurídico local,
tendo depois de se averiguar entre os dois qual é o regime aplicável.
No entanto, a lei brasileira não se considera ela mesma competente e por isso não há lugar à aplicação
do artigo 17º/1, resolvendo-se a questão pela lei Suíça (16º - referência material).

Caso n.º 18* - ordenamentos complexos

Andrew, português, viúvo, habitualmente residente em Nova Iorque, é pai de Bárbara,


portuguesa, que nasceu e sempre residiu em Nova Iorque. Bárbara, depois de atingir a
maioridade, revelou-se uma empreendedora de sucesso, sendo hoje em dia dona da principal
empresa de mediação de imóveis de luxo dos EUA.
Andrew faleceu em 1 de setembro de 2017 e havia feito testamento deixando todos os seus
bens a Charles, seu motorista, norte-americano, também residente em Nova Iorque. O
património de Andrew era constituído por bens imóveis situados em Portugal e no Panamá.
Em outubro de 2017, Bárbara intentou, num cartório notarial português, inventário
respeitante à sucessão por morte do pai. Sustentando ser a lei portuguesa a aplicável, Bárbara
considera que o testamento de Andrew não é válido na parte em que este dispôs do seu
património na quota que, à luz da lei portuguesa, seria indisponível. Invoca também que,
mesmo que fosse aplicável uma lei estrangeira que considerasse válido o testamento, a reserva
de ordem pública internacional obstaria à sua aplicação.
Charles alega, por seu lado, que a lei aplicável ao caso é a de Nova Iorque, segundo a qual
o testamento é integralmente válido.
Admitindo que:
a) o cartório notarial português é internacionalmente competente;
b) a norma de conflitos nova-iorquina, bem como a panamiana, regula a sucessão
imobiliária pela lei do lugar da situação dos imóveis;
c) nos Estados Unidos da América não existem regras de Direito interlocal unificado
nem de Direito Internacional Privado unificado;
d) quer a lei material nova-iorquina, quer a panamiana, consideram este testamento
integralmente válido;
e) os tribunais nova-iorquinos praticam, nesta matéria, devolução integral ou dupla
devolução e os panamianos a referência material;

diga se a pretensão de Bárbara é procedente.


RESPOSTA:
(!!) referir a qualificação: temos de perceber se estamos perante matéria de sucessões
Queremos saber qual a lei aplicável à sucessão de Andrew, Reg. 650/2012 âmbito de aplicação:
- material: art. 1º/1 e não há nenhuma situação excludente.
- temporal: artigo 83º: pessoas falecidas posteriormente a 17 Agosto 2015
- espacial: artigo 38º (tem que estar vinculado, Portugal está)

> Artigo 21º/1 (norma subsidiária): aplicável a lei da residência habitual —> EUA (NY) —>
referência material ou global?
Artigo 22º (norma primária) —> vamos aqui primeiro.
Artigo 34º — quando a lei não é a de um EM (20º) poderá aplicar-se a lei designada pelas suas regras
de dip, se esse estado for um EM ou a lei de um 3º país, se esse se considerar competente.
É feito então um reenvio para o dip da residência habitual, no entanto este trata-se de um
ordenamento plurilegislativo - 36º/1 diz-nos que quando este estado tenha normas internas de
conflitos de leis, é por essas normas que se resolve a questão —> no caso não existem.
Artigo 36º/2 a) - a referência à lei do estado é feita por disposições relativas à residência habitual, e por
isso deve ser regulado pela lei da unidade territorial no interior do Estado, nomeadamente NY.
Sendo a lei de NY, e tendo de atender às suas normas de dip como refere o artigo 34º, esta pratica
dupla devolução e considera competente a lei do lugar do sítios dos imóveis:
1. Imóveis no Panamá: O sistema de dupla devolução exige que se regule como a lei para que as
normas de conflitos remetem, ou seja o Panamá realiza uma referência material para o sitio do
lugar dos imóveis que é o Panamá, ou seja considera a lei interna competente.
2. Imóveis em Portugal: NY praticava sistema de dupla devolução —>
É de aplicar a lei portuguesa - sistema de dupla devolução - aplica lei inglesa
DIVERGÊNCIA DOUTRINÁRIA - 34º/1 a)
1. Aplicando o regulamento - aplicação da lei de um Estado terceiro (lei de NY)
2. Aplicação das normas em vigor em NY, incluindo normas de dip - abrange todas as normas
3. Se elas remeterem para a lei de um EM / 3º estado que aplique a sua própria lei.
Lei NY remetia para Portugal —> normas de dip portuguesas —> remetem para NY
R: a lei aplicável será a de NY.
(!!!!!) posição LP - p.harmonia julgados

RESERVA DE ORDEM PÚBLICA INTERNACIONAL: artigo 35º, apenas é aplicável quando exista
uma manifesta incompatibilidade com a ordem pública do foro.
Principio do foro: intangibilidade da legitima.

Caso n.º 19 - ordenamentos complexos

Mark, nacional dos E.U.A. e da Califórnia, residente até 1989 em San Diego (Califórnia) e
a partir dessa data em Lisboa, e Teresa, de nacionalidade portuguesa, pretendem casar-se em
Lisboa.
Sabendo que nos E.U.A. não existe Direito interlocal ou DIP unificado, determine face a
que lei ou leis deve o conservador do registo civil verificar a capacidade matrimonial dos
nubentes.
RESPOSTA:
Conflito plurilocalizado por se trata de pessoas com diferentes nacionalidades;
Para aferir qual a lei reguladora da capacidade matrimonial —> regras de conflitos portuguesas
Artigo 49º CC —> lei pessoal (art. 31º/1): 

- capacidade de Mark: lei dos EUA (ordenamento jurídico complexo) !!
- capacidade de Teresa: lei portuguesa
As normas de conflitos portuguesas, para aferirem a capacidade matrimonial de Mark, remetem para a
sua lei pessoal, a lei dos EUA, porém trata-se de um ordenamento jurídico complexo onde vigora
simultaneamente diferentes sistemas jurídicos. Temos então de saber qual a lei aplicável. Para tal: artigo
20º/1 diz-nos que quando em razão da nacionalidade seja designado um ordenamento jurídico
complexo recorre-se ao direito interlocal, ou seja às regras de conflitos interlocais (interpretação do
artigo DMV). Porém é-nos dito no caso que não existe direito interlocal. Por isso, passamos para o
artigo 20º/2 que nos diz que na falta deste, recorre-se ao DIP desse Estado (se possuir um sistema de
regras de conflitos unificadas), o que no caso também nos é dito que não acontece.
Posto isto, temos de aplicar a 2ª parte do 20º/2 que nos diz que na falta de direito interlocal e
dip unificado considera-se a lei pessoal do interessado a lei da sua residência habitual.
Mark já outrora teve residência habitual nos EUA, na Califórnia, mas atualmente possuí
residência habitual em Lisboa, desde 1989. Isto quer dizer que Mark não tem residência habitual dentro
do ordenamento complexo e por isso coloca-se a questão de saber se o 20º/2 se aplica às situações em
que o sujeito tem residência habitual fora do ordenamento, ou apenas quando é dentro do
ordenamento jurídico complexo? Há duas posições:
§ Escola de Coimbra (Ferrer Correia, Batista Machado e Marques dos Santos): defendem que se
aplica a lei da residência habitual mesmo que ela se situe fora do Estado da nacionalidade. Sendo
também este o entendimento da jurisprudência (ex.: Ac. 16 Maio 2018, STJ) e o possível entendimento
do legislador (entendimento mais parecido à letra da lei) - FC: elemento histórico visível nos trabalhos
preparatórios
§ ISABEL MAGALHÃES COLAÇO + DMV+ LP: defendem a aplicação deste preceito
apenas quando a residência habitual se encontre no ordenamento plurilegislativo em questão. O prof.
Dario defende uma redução teológica do preceito pois o preceito revela uma incongruência com o
espirito do sistema pois ao aplicar a lei da residência habitual não estaríamos a aplicar a lei pessoal de
maneira nenhuma, e o ordenamento jurídico português atribui um relevo e preponderância pelo
elemento da nacionalidade, sendo o elemento de conexão primário. Tratando-se de uma lacuna oculta
(pois não regula as situações em que a residência se encontra fora do ordenamento complexo) cabe-nos
ir ao artigo 10º/3 do CC e por isso ir à norma que o próprio intérprete criaria se houvesse de legislar
dentro do espirito do sistema —> isto leva-nos ao critério da ‘conexão mais estreita’, pois só aplicando
a lei mais próxima do indivíduo é que se assegura uma salvaguarda das suas expectativas jurídicas.
Neste caso a lei mais próxima de Mark e que melhor salvaguarda as suas expectativas, seria a lei
da Califórnia por ter sido lá que viveu toda a sua vida até 1989 onde se mudou para Portugal.

Caso n.º 20*

A sociedade imobiliária X, com sede efetiva em Lisboa, vendeu, por contrato celebrado
em Loures, a António, português, residente habitualmente no Texas (E.U.A.), um imóvel
situado no Estado do Texas.
Sabendo que nos E.U.A. não existe Direito interlocal ou DIP unificado, determine qual a
lei competente para regular o regime dos direitos reais sobre o imóvel.
RESPOSTA:
Conflito plurilocalizado - contrato celebrado em Lisboa, imóvel nos EUA, residência EUA
Necessário averiguar normas de conflitos portuguesas —> artigo 46º/1 —> sitio onde as coisas
estão situadas, que no caso é nos EUA (Texas). A norma de conflitos portuguesa remete-nos então para
um ordenamento jurídico complexo, com diferentes sistemas jurídicos, os EUA. Importa averiguar que
sistema jurídico irá então regular a situação: artigo 20º/1 - diz-nos que quando em razão da
nacionalidade de certa pessoa for competente a lei de um estado complexo (…) —> no caso a lei dos
EUA é competente em razão de estar lá situado o imóvel (elemento de conexão: sitio da coisa) e não
pela nacionalidade.
Problema: como proceder quando o elemento de conexão que define a lei aplicável não seja a
nacionalidade, mas outro?
FERRER CORREIA: quando o elemento de conexão aponta para determinado lugar no espaço,
será competente o sistema em vigor nesse lugar, remissão direta do elemento de conexão para a ordem
jurídica competente —> nem sequer vão equacionar ser um problema de ordenamento complexo
porque não vai ao 20º + *DMV - o juizo de valores que está por detrás da regra de conflitos, ou sejas as
suas razões justificativas, procedem em casos que o lugar designado é um estado unitário, como no caso
em que esse lugar é apenas uma parcela de um ordenamento jurídico complexo —> ex.: Roma I (22º/
1); Roma II (25º/1), Roma III (art. 14º a), b)) —> dizem que não há lacuna que apenas há elemento de
conexão diferente.≠ norma de conflitos interlocal aponta solução completamente diferente
ISABEL MAGALHÃES COLAÇO + LP: remissão da norma de conflitos é feita, em princípio,
para o ordenamento do Estado soberano.
***DMV entende que se aplica lugar especifico mas não como Ferrer Correia que faz remissão
direta, este professor faz uma remissão indireta (ou seja, é feita remissão para regra de conflitos da OJ
do Estado soberano, pois faz parte do objetivo do próprio dip esta resolução das situações
transnacionais)
Seguindo o entendimento de que a referência é feita diretamente para o ordenamento local em
causa, então a referência do ‘’sitio do imovel’’ é feita para a lei de Texas, e por isso seria esta a lei a
regular o regime dos direitos reais — APLICAÇÃO ANALÓGICA 20º ATÉ ONDE É POSSÍVEL -
p.e.: matéria de estatuto real que remete para o lugar das coisas (não faz sentido falar de residência
habitual do 20º/2 e por isso não há caso análogo e termina aqui a analogia - remissão é feita na mesma
para a ordem jurídica local - DMV: porque não há outra solução)
VIII. Normas internacionalmente imperativas

VER TESE DO PROFESSOR MARQUES DOS SANTOS SOBRE NORMAS


DE APLICAÇÃO IMEDIATA; VER ARTIGO DA PROFESSORA JOANA
GALVÃO TELLES
Caso n.º 21*

Em 20 de Novembro de 2015, Joaquim, português com residência habitual em França,


após ter visto um anúncio da sociedade Painters'R'Us, com sede na Alemanha, no jornal Le
Monde, contactou-a com vista a celebrar um contrato de prestação de serviço de pintura da sua
casa de férias situada no Algarve.
O contrato foi celebrado mediante recurso a cláusulas contratuais gerais fixadas pela
sociedade Painters'R'Us. Nas cláusulas contratuais gerais dispunha-se que:
— “A lei reguladora do contrato é a lei francesa”;
— “São competentes para dirimir litígios decorrentes deste contrato os tribunais
portugueses”;
— “As partes desde já excluem toda e qualquer responsabilidade que pudesse ser assacada
à sociedade Painter'R'us, nomeadamente a que pudesse resultar de vícios no cumprimento da
prestação a que se obrigou a sociedade neste contrato”.
Joaquim verificou que, por causa da pintura defeituosa efetuada pela sociedade
Painters'R'Us, a sua casa de férias tinha agora problemas graves de infiltrações.
Em ação intentada perante um tribunal português contra a sociedade Painters'R'Us,
Joaquim requer indemnização pelos danos sofridos e alega que, ao abrigo do Direito
português, a cláusula de exclusão de responsabilidade constante do contrato não é válida. Na
contestação, a sociedade alega que nada deve e que a cláusula de exclusão de responsabilidade
é válida à luz da lei escolhida pelas partes.
Quid juris, admitindo que a lei francesa considera a cláusula de exclusão de
responsabilidade válida?
RESPOSTA:
Trata-se de um conflito plurilocalizado pois envolve diversas ordens jurídicas, antes de ir-mos às
normas de conflitos portuguesas para ver qual a lei reguladora da situação em causa, tratando-se de
obrigações contratuais (especificamente CCG), cabe-nos ver o âmbito de aplicação do Reg.Roma I: 

- âmbito temporal (art. 28º)

- âmbito material (art. 1º): verificado, n.º2: não está verificado nenhum pressuposto de exclusão

- âmbito territorial (considerandos/protocolo):

- âmbito espacial (art.1º/1 in fine) + 2º? - obrigações contratuais implicam conflitos de leis? E por
outro lado temos de ver se o caso está ou não está a ser resolvido num estado vinculado
Segundo o artigo 3º do Regulamento (norma de conflitos geral), as partes podem escolher a
lei aplicável (lei francesa), escolhendo a lei francesa para regular a situação o contrato é então regulado
apenas por esta lei —> a lei francesa considera estas clausulas válidas.
Porém, a sociedade invoca que ao abrigo do direito português a clausula não é válida. Coloca-se
aqui o problema de saber se esta norma pode ser aplicável ao caso mesmo não sendo a lei portuguesa a
aplicada ao caso.
O artigo 9º/1 do Reg. Roma I fala-nos sobre normas de aplicação imediata, que podem ser
aplicadas mesmo quando não se trata da lex causae, por se tratar de disposições cujo respeito é
considerado fundamental para um país (…).
Estas situações variam consoante a norma que se quer aplicar seja do estado do foro, ou de um
estado terceiro, tendo no presente caso uma situação de aplicação de uma norma do país do foro e por
isso observa-se o artigo 9º/2: as disposições do regulamento não podem prejudicar a aplicação de
normas de aplicação imediata.
DMV justifica a existência de normas internacionalmente imperativas com a necessidade do
estado regular a atividade económica e assegurar a proteção da parte mais fraca nas relações jurídicas,
um pouco de encontro com a definição do 9º/1. No nosso ordenamento, relativamente a CCG, temos:
Artigo 21º d) + 23º LCCG —> trata-se de uma clausula absolutamente proibida para o direito
português, existindo a previsão no artigo 23º de que independentemente da lei aplicável, se existir
conexão com o direito português (existe pois casa objeto de contrato situa-se em portugal), devem
aplicar-se estas normas.
Artigo 21º - norma de aplicação imediata
Artigo 23º - DMV: norma de dip - tribunais têm de atender a normas proibitivas das CCG
sempre que houver conexão estreita —> é uma norma de conflitos unilateral especial ad hoc. É
unilateral porque remete especificamente para a ordem judicia do foro. É especial ad hoc porque a
especialidade é aferida relativamente à norma de conflitos comum

Caso n.º 22*


Igual ao anterior, mas:
a) a casa de férias situa-se em Marrocos;
b) a lei escolhida pelas partes é a lei portuguesa;
c) a lei marroquina sobre cláusulas contratuais gerais não tem normas equivalentes aos
artigos 21.º, 22.º e 23.º do Regime das Cláusulas Contratuais Gerais português.
Quid juris?
RESPOSTA:
Aplica-se o Regulamento de Roma I na mesma, art. 3º diz-nos que as partes podem escolher a lei
aplicável —> lei portuguesa, e por isso os artigos 21º, 22º e 23º da LCCG seria aplicável. No
entanto discute-se sobre a sua aplicação.
Temos no caso uma norma de conflitos geral que atribui competência à lei portuguesa / norma
de conflitos especial (23º) que restringe o âmbito e não aplica a norma de aplicação imediata
(!!!!)

MARQUES DOS SANTOS: norma de aplicação imediata como o 21º só pode ser aplicada quando
for acompanhada de uma norma como artigo 23º - defende que não se aplicando o 23º, então não se
pode aplicar o 21º d) —> não há conexão mais estreita, a casa estava situada em Marrocos
A norma de conflitos unilateral (23º) se remete para a OJ a que elas pertencem (se não remete não
prossegue fins do estado), está ligada a uma norma de aplicação imediata (21º) e está ligada de tal
forma que o legislador se não houver essa conexão estreita com a OJ portuguesa, não aplica. Para
que é que o 23º existe? Para cumprir o fim fundamental do Estado que é prosseguido por essa
norma.
Considera que estas normas são normas materiais (igual ao DMV e LP). Considera ainda que são
normas espacialmente autolimitadas e são dotadas de especial intensidade valorativa (fins do
estado consideradas importantes) - (≠ DMV e LP consideram que não tem nada a ver, serem
especialmente autolimitadas acontece por não derivarem do direito de conflitos geral mas de norma
de conflitos especial) —> processo de regulação autónoma/direta.
Âmbito de aplicação necessário (9º) ≠ possível (3º) - MARQUES DOS SANTOS
Efetivamente estas normas de aplicação imediata só se podem aplicar na medida em que
prosseguem e perseguem os fins do estado.

LP - diz que se são consideradas importantes para o Estado não são de aplicação imediata,
umas de aplicação imediata podem estar a prosseguir esses fins e umas que prosseguem esses fins e
que não são de aplicação necessária. Não faz ligação aos fins da norma de aplicação imediata. O
que é aqui determinante não são estes fins. Estas normas tanto podem ser aplicadas no âmbito de
aplicação necessário ou possível (determinado pela norma de conflitos do art. 3º).

DMV/LP: estamos sempre no método conceitual (de regulação indireta), pelo que não há
nenhuma razão para que não se apliquem as normas internacionalmente imperativas da lex causae
se tal derivar da aplicação da norma de conflitos. Aplica-se o 21º por via da norma de 23º (norma de
aplicação imediata) mas se este não tiver preenchido, aplica-se pelo 3º/1 (regra de conflitos geral e
não de aplicação imediata), e aplicamos o 21º como norma material comum e não a diferenciamos
por se tratar de uma norma de aplicação imediata —> normas internacionalmente imperativas.
DMV: é necessário para a aplicação destas normas uma mediação, através de: (1) regra de conflitos
especial (23º LCCG); regra auxiliar de regra de conflitos (9º/3); principio gerais de dip (harmonia
de julgados, tutela da confiança).

Caso n.º 23*


A e B, britânicos nascidos em Londres, casados há 10 anos, vivem em Portugal há 5.
Recentemente, A decide vender, sem o consentimento de B, a casa de morada de família
(situada em Portugal). Na ação intentada por B contra A, este vem dizer que vendeu a casa
legitimamente, na medida em que se aplica o direito inglês, que se considera competente para
resolver a questão e não contém regra equivalente à do artigo 1682.º-A, n.º 2, do CC português.
Quid juris?
Não se preenche o âmbito temporal do regulamento (Jan. 2019, casamentos após).
Potencial problema de aplicação de normas imperativas implícitas:
Está em causa um problema do art. 52º CC - interpretação do conceito-quadro - interpretação do
elemento de conexão: lei nacional comum das partes: inglesa (remissão 16º/1).
MARQUES DOS SANTOS: tendo em conta a norma de aplicação imediata ter alguma
autonomia no processo regulativo espacialmente - seria norma espacialmente delimitada porque estava
de acordo com as finalidades prosseguidas pelo estado (proteção da estabilidade patrimonial da família).
Esta norma seria aplicável e a alienação seria nula - norma unilateral especial implícita. Processo
autónomo de regulação direta ≠ indireta com normas de conflitos (LP) - aplica-se sem necessidade de
aplicar o 52º - via interpretativa.
FERRER CORREIA/BATISTA MACHADO: acompanham a posição de Marques dos Santos,
considerando que é possível identificar normas de aplicação imediata implícitas, mas não pela via
interpretativa. Mas atendendo aos objetos e aos fins (norma de reconhecimento).
LIMA PINHEIRO/DMV: é difícil aceitar estas normas imperativas implícitas que vêm
derrogar as normas de conflitos, porque não há nenhuma lacuna de revelação. Há outras formas de
chegar à identificação de uma norma material de aplicação necessária implícita: (subsidiárias). Tem
sempre de haver ponderação conflitual. LP (considera que ok que há norma de conflitos implicita, mas
aí cria-se um problema porque temos uma regra de conflitos geral, e está a criar-se norma de conflitos
especial para não aplicar a geral) - recorre a uma interpretação de redução teológica para fundamentar a
aplicação da norma de conflitos implícita e afastar o 52º ainda que o sentido literal determine a sua
aplicação. (Se não se aplicar o artigo e for necessário recorrer à via interpretativa)
1. Não havendo norma de conflitos especial ad hoc - há normas de conflitos portuguesa de dip
que permita fazer esse reconhecimento?
2. Norma de constitucional??
3. Não sendo possível, metodologia do CC - lacuna: ou vai para a norma que o interprete
criaria, ou vai recorrer à analogia.

Caso n.º 24*


Em 20 de Novembro de 2015, Joaquim, português com residência habitual em França,
após ter visto um anúncio da Sociedade Painters'R'Us, com sede na Alemanha, no jornal Le
Monde, contactou-a com vista a celebrar um contrato de prestação de serviço de pintura da sua
casa de férias situada na Suíça.
O contrato foi celebrado mediante recurso a cláusulas contratuais gerais fixadas pela
sociedade Painters'R'Us. Nas cláusulas contratuais gerais dispunha-se que:
— “A lei reguladora do contrato é a lei francesa”;
— “São competentes para dirimir litígios decorrentes deste contrato os tribunais
portugueses”;
— “As partes desde já excluem toda e qualquer responsabilidade que pudesse ser assacada
à sociedade Painter'R'us, nomeadamente a que pudesse resultar de vícios no cumprimento da
prestação a que se obrigou a sociedade neste contrato”.
Joaquim verificou que, por causa da pintura defeituosa efetuada pela sociedade
Painters'R'Us, a sua casa de férias na Suíça tinha agora problemas graves de infiltrações.
Em ação intentada perante um tribunal português contra a sociedade Painters'R'Us,
Joaquim requer indemnização pelos danos sofridos e alega que a cláusula de exclusão de
responsabilidade constante do contrato não é válida. Na contestação, a sociedade alega que
nada deve e que a cláusula de exclusão de responsabilidade é válida à luz da lei escolhida pelas
partes.
Quid juris, admitindo que a lei francesa considera a cláusula de exclusão de
responsabilidade válida e a lei suíça sobre cláusulas contratuais gerais, aplicável a contratos
executados no seu território, considera a mesma cláusula inválida?
DMV: para aplicar norma imperativa estrangeira temos que ter uma mediação que neste caso é o
artigo 9º/3 do Reg.Roma I
Art. 23º não vinha a aplicação - reconduzia-se apenas à lei suiça. - a lei suíça é do foro? não, é a
portuguesa; e também não é a lei competente, é uma lei estrangeira de um estado não vinculado (3º).
TEORIA DO ESTATUTO OBRIGACIONAL: apenas são relevantes as normas de aplicação
imediata da lex causae ou do foro.
TEORIA DA CONEXÃO ESPECIAL: há efetivamente possibilidade de atribuir relevância a uma
norma de aplicação imediata estrangeira de um Estado 3º, desde que exista uma conexão especial com a
OJ a que pertence essa norma e o contrato —> materializada para alguns OJ - p.e.: Convenção sobre a
lei aplicável às obrigações contratuais (art. 7º).
Temos de perceber se ha uma norma de reconhecimento (marques dos santos) que nos permite
aplicar/reconhecer relevância a uma norma de aplicação imediata estrangeira de um estado terceiro.
DUAS POSSIBILIDADES:
1. Ou efetivamente há norma que admite expressamente relevância as normas de aplicação
imediata estrangeiras de estado 3º - ex.: 7º Convenção (normas de reconhecimento - reconhece
eficácia a uma norma de aplicação imediata estrangeira de um estado 3º) - há em Portugal alguma
norma de reconhecimento? não. Há em determinadas matérias uma norma de reconhecimento
geral (ex. 23º/2, não é norma de reconhecimento geral, mas sob certas condições e matérias é
atribuída essa eficácia) - neste caso o 23º/2 é norma de reconhecimento especial
2. Artigo 9º/3 - (norma menos especial do que o 23º/2 porque vale para todos os contratos
incluindo no âmbito de aplicação do regulamento) - norma de reconhecimento e não de conflitos.
Olhando para este artigo, conseguimos atribuir competência à norma de aplicação imediata suiça?
A única maneira de aplicar esta norma é com recurso ao 9º/3. Esta norma tem três pressupostos:
- SEMPRE QUE ESTÁ EM CAUSA AS NORMAS DE CCG O CONTRATO É
EXECUTADO NA SUIÇA, CONVOCA-SE PARA ESTA NORMA, porque o contrato é
executado na Suíça. ESTADO DO LUGAR DA EXECUÇÃO - teoria da conexão especial não
permitia considerar-se suficientes exigia-se mais. E por outro lado a sua execução tem de ser ilegal e
aqui não tínhamos uma execução ilegal, tínhamos era uma clausula ilegal —> ainda assim tem-se
entendido que é suficiente a clausula invalida e por isso a clausula era nula por força da lei suíça.

Regulamento de Roma I

Em 30 de Janeiro de 2013, ABM, sociedade comercial com sede no Texas (EUA), vendeu à
BoaBase, sociedade comercial com sede em Portugal, 10 computadores. O contrato foi
celebrado em Portugal e os computadores foram entregues em Portugal. No contrato, as
partes incluíram a seguinte cláusula: “É aplicável ao contrato a lei brasileira”.

Qual a lei aplicável à questão, admitindo que a questão é colocada perante os tribunais
portugueses?

RESPOSTA:

• Âmbito Material (artigo 1º)


- Delimitação positiva: o que entra dentro do regulamento - obrigações contratuais em
matéria civil e comercial (*TJUE: obrigações contratuais são todas e quaisquer compromissos
livremente assumidos por uma parte perante a outra - têm de ser obrigações voluntárias - 13º, 18º
não são sobre obrigações contratuais ).
- Delimitação negativa: o que está fora - matérias que por opção do legislador da UE não
fazem parte do regulamento. NÃO ESTÁ PREENCHIDO

• Âmbito temporal (28º, 29º): a partir de 2009 - PREENCHIDO

• Âmbito espacial: só se aplica a situações privadas transaccionais

• Âmbito territorial (1º/4): só se aplica a EM vinculados pelo regulamento - PREENCHIDO


* Art. 29º + considerando 46: não se aplica à Dinamarca

*Tem-se em conta o Tribunal no qual é posto a ação - local do foro

*Artigo 288º TFUE: temos de verificar se o órgão aplicador pertence a um Estado vinculado

Artigo 3º/1 do Regulamento —> AP das partes - ‘’lei brasileira’’ - expressa e total

Artigo 3º/3 do Regulamento —> APLICA-SE? se todos os elementos relevantes de conexão se


situarem num pais que não o designado pelas partes, essa designação não pode servir para derrogar
disposições que não podem ser afastadas por acordo (imperativas) — no caso não há qualquer tipo
de relação com a lei brasileira.

Sub-hipóteses (as sub-hipóteses são totalmente independentes entre si, exceto se


expressamente disserem o contrário)

1. Imagine que as partes não tinham escolhido a lei aplicável. Qual é a lei reguladora do
contrato?

RESPOSTA:

Artigo 4º - aplica-se na falta de escolha (sem prejuízo do art. 5º ao 8º que não se preenchem)

a) contrato de compra e venda de mercadorias regula-se pela lei onde o vendedor tem a residência
habitual - a sociedade ABM tem a sua sede no Texas (EUA) + 4º/3 (quando exista conexão mais
estreita clara com outro pais?) - ORDENAMENTO PLURILEGISLATIVO 22º/1 ambas as
unidades territoriais consideradas como um país se tiverem normas diferentes e por isso aplicava-se
a lei do Texas.

2. Imagine que, nos termos do contrato celebrado, a ABM se obrigava a entregar à


BoaBase, para gozo temporário desta, 10 computadores, bem como a prestar serviços de
manutenção in site dos referidos computadores, mediante o pagamento de uma renda
mensal pela BoaBase. Os computadores e os serviços de manutenção deviam ser
entregues e prestados em Portugal. As partes não escolheram a lei aplicável. Qual é a lei
reguladora do contrato?

RESPOSTA:

3. Imagine que, nos termos do contrato celebrado, a ABM se obrigava a entregar os 10


computadores à BoaBase e a BoaBase se obrigava a entregar à ABM 20 smartphones.
Os computadores e os smartphones foram entregues na Espanha. As partes não
escolheram a lei aplicável. Qual é a lei reguladora do contrato?

RESPOSTA:
Regulamento de Roma II

Em janeiro de 2016, o veículo de Jean, cidadão francês com residência habitual na França,
que se encontrava a passar férias em Portugal, colide frontalmente na EN 125 com o veículo
de Benedita, cidadã espanhola com residência habitual na Espanha. Benedita propõe ação
junto de tribunais portugueses para ser ressarcida dos danos patrimoniais sofridos. Qual é a
lei que vai regular a pretensão de Benedita?

Sub-hipóteses (as sub-hipóteses são totalmente independentes entre si, exceto se


expressamente disserem o contrário)

• Imagine que, durante a pendência da ação, Jean e Benedita acordam entre si que a lei
que deve regular o ressarcimento dos danos é a lei alemã. Quid juris?

• Considere que Jean tem residência habitual na Espanha. Qual é a lei aplicável?

• Considere que Jean é nacional espanhol. Qual a lei aplicável?

• Imagine que Jean e Benedita residem habitualmente em território inglês e que o


choque frontal se deveu ao facto de Jean se encontrar a circular pelo lado esquerdo da
faixa de rodagem e Benedita pelo lado direito da faixa de rodagem. De acordo com o
Código da Estrada português, “a posição de marcha dos veículos deve fazer-se pelo
lado direito da faixa de rodagem”, mas de acordo com o Direito rodoviário inglês, a
posição de marcha dos veículos deve fazer-se pelo lado esquerdo da faixa de rodagem.
Qual é a lei aplicável: (i) à determinação do montante da indemnização e (ii) à
determinação da ilicitude?

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