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CONVERSA INICIAL
A família é a instituição mais antiga criada pela humanidade e teve fundamental importância para que
chegássemos até os dias de hoje, visto que os seres humanos, diferente de diversos outros animais, nunca
possuíram atributos físicos capazes de lhes colocar em posição de vantagem em eventuais embates contra outras
espécies.
Contudo, a espécie humana possuía uma característica bastante peculiar e que foi a responsável por garantir a
sua perpetuação: a inteligência. Com base nela, foi possível perceber, dentre outras coisas, que, embora
individualmente o homem fosse fraco, em grupo ele conseguia ser incrivelmente forte. E assim nasciam as primeiras
universalidade, ou seja, levando em consideração todos das inúmeras sociedades que existem ou existiram, bem
como as suas peculiaridades.
Não há dúvida, entretanto, que um ponto fundamental nesse tipo de convivência é a busca do bem comum,
pois se um membro do grupo enfraquece, por conseguinte todo o grupo também enfraquecerá. Nesse sentido,
podemos considerar que esse objetivo é a pedra fundamental da criação das famílias.
Nos dias atuais, a questão atinente à afetividade é, na maioria das vezes, intrínseca às famílias que conhecemos,
todavia nem sempre foi assim. Como se sabe, houve tempos em que era necessário lutar pela sobrevivência.
Nesse contexto, observamos que a solidariedade sempre esteve presente, mormente porque se ligava
diretamente à sobrevivência. Entretanto, não se ignora a existência da afetividade, mesmo nas unidades familiares
mais remotas sobre as quais temos notícias.
Segundo historiadores, a Bíblia foi escrita cerca de 1.500 a.C. e, independentemente da sua crença, reflete
acontecimentos de uma época em que a afetividade familiar já era relatada.
Note, portanto, que, embora muitas coisas tenham mudado desde que as primeiras famílias foram constituídas,
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Não há dúvida de que a família, tal qual a conhecemos hoje, possui diferenças significativas em relação àquelas
que existiam em momentos anteriores da história humana. À medida que a família evolui, a sociedade segue o
mesmo caminho.
Para entender um pouco melhor sobre os caminhos que nos trouxeram até os dias de hoje, é necessário voltar
cerca de 350 mil anos para um período denominado como Estado de Natureza, que antecederia o surgimento da
organização social e do Estado. Em síntese, o ser humano era livre e agia com base nos seus desejos e instintos.
Não gera estranheza que nesse momento uma característica marcante fosse a promiscuidade sexual indistinta,
mesmo dentro do núcleo familiar. Como se pode imaginar, essas relações geravam filhos, não sendo possível
delimitar a paternidade, motivo pelo qual, por muito tempo, a filiação se deu somente pela via materna.
Não por outro motivo, essas sociedades dedicavam grande respeito e consideração pelas mulheres, visto que
elas representavam a única linha de ascendência conhecida pelas novas gerações. Muitos estudiosos afirmam que à
época vigia a ginecocracia, ou seja, um governo das mulheres. Contudo, é impossível afirmar que esse respeito e
consideração correspondem ao que entendemos como correto nos dias de hoje.
A mudança neste cenário aconteceu por influência religiosa, quando o heterismo, em sentido antropológico,
cede lugar à monogamia.
Engels (2020, p. 13, grifo nosso), citando os estudos de Bachofen, explica que:
A passagem do “heterismo” para a monogamia e do direito materno para o paterno, segundo Bachofen, processa-se
velhas ideias; pouco a pouco os velhos deuses vão sendo relegados ao segundo plano pelos novos. Dessa maneira,
pois, para Bachofen, não foi o desenvolvimento das condições reais de existência dos homens, mas o reflexo religioso
dessas condições na mente deles, o que determinou as transformações históricas na situação social recíproca do homem
e da mulher. De acordo com o seu ponto de vista, Bachofen interpreta a Oréstia, de Ésquilo, como um quadro
dramático de luta entre o direito materno agonizante e o direito paterno, que nasceu e conseguiu a vitória sobre o
primeiro, na época das epopeias. Levada pela sua paixão por Egisto, seu amante, Clitemnestra mata o marido,
Agamenon, quando este regressava da Guerra de Troia; mas Orestes, filho dela e de Agamenon, vinga o pai matando
a mãe. Isso faz com que ele se veja perseguido pelas Erínias, seres demoníacos que protegem o direito materno, de
acordo com o qual o matricídio é o mais grave e imperdoável de todos os crimes. Apolo, no entanto, que por
intermédio do seu oráculo havia incitado Orestes a matar a mãe, e Palas Atena, que intervém como juiz (ambas as
divindades representam aqui o novo direito paterno), protegem Orestes. Atena ouve ambas a partes. Toda a questão
está resumida na discussão de Orestes com as Erínias. Orestes diz que Clitemnestra cometeu um duplo crime ao
matar quem era seu marido e pai de seu filho. Por que as Erínias o perseguiam, porque o visavam, em especial, se ela,
a morta, tinha sido muito mais culpada? A resposta é surpreendente: “Ela não estava unida por vínculos de sangue ao
homem que assassinou”. O assassinato de uma pessoa com a qual não houvesse vinculação de sangue, mesmo que
fosse o próprio marido, era falta que podia ser expiada – e não concernia, absolutamente, às Erínias. A missão delas
era punir o homicídio entre consanguíneos e o pior e mais imperdoável dos crimes segundo o direito materno: o
matricídio. Nesse ponto, contudo, intervém Apolo, defensor de Orestes, e em seguida Atena submete o caso ao
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Areópago – o Tribunal do Júri ateniense; há o mesmo número de votos pela condenação e pela absolvição. Então,
Atena, como presidente do Tribunal, vota em favor de Orestes e o absolve. O direito paterno vence o materno. Os
“deuses da jovem geração”, como os chamam as próprias Erínias, são mais poderosos do que elas, e só lhes resta
resignarem-se e, finalmente, também elas convencidas, porem-se ao servido do novo estado das coisas.
Note que Orestia foi escrita em 458 a.C por Ésquilo, que foi um importante dramaturgo que viveu na Grécia
antiga.
Não há dúvidas de que a religião teve real influência na mudança do heterismo para a monogamia, porém
A história nos mostra que a endogamia muitas vezes não derivava apenas da vontade das partes envolvidas,
mas de uma cultura familiar que buscava manter a mesma linhagem no poder, como no caso dos soberanos do
Egito.
A ideia era a de conservar todo o poder conquistado dentro da própria unidade familiar original, o que, em um
primeiro momento, diante da inexistência de análises científicas, parecia uma escolha acertada. Sabe-se, porém, que
em um momento posterior ficou constatado, cientificamente, que o envolvimento entre pessoas da mesma família
aumenta consideravelmente as chances de desenvolvimento de doenças genéticas.
Problemas genéticos decorrentes da geração de filhos entre parentes consanguíneos próximos seria a razão do
desaparecimento de uma das famílias mais poderosas da Europa: Os Habsburgo. Embora tenham governado a
Europa Central, Espanha e Áustria por muitos anos, a linhagem se encerrou em 1.700 quando o Rei Carlos II, da
Espanha, faleceu sem conseguir deixar filhos. Note que a esterilidade do monarca possivelmente decorreu dos
problemas genéticos.
Assim, influenciada pela igreja, cultura e evidências científicas, a estrutura das relações familiares foi sendo
modificada no decorrer dos séculos.
Segundo ensina Dias (2021, p. 42), a primeira lei sobre direito de família é conhecida como a Lei do Pai e teria o
objetivo de reprimir impulsos considerados impróprios, especialmente o incesto, conforme observações feitas pelo
renomado psiquiatra Sigmund Freud.
A família, que aqui chamaremos de tradicional apenas para fins didáticos, formada por um homem, uma
mulher e sua prole, pode ser encontrada na Roma do século VIII a.C. O homem, denominado como pater familias,
era considerado o chefe da família, tendo poderes absolutos sobre sua esposa e seus filhos.
Dentro desse cenário, podemos dizer que uma das contribuições mais significativas da religião dentro da
família foi a criação do instituto do casamento, que por muitos séculos foi considerada a única forma de
constituição da família.
Na Grécia do século V a.C., a situação não era diferente, contudo um ponto bastante interessante nesta
sociedade é a consideração e o respeito pelos antepassados mortos. No livro Cidade Antiga, Coulanges explica que,
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O cuidado de levar aos mortos os alimentos não foi entregue ao capricho ou aos sentimentos variáveis dos homens;
foi obrigatório. Assim se estabeleceu toda uma religião da morte, cujos dogmas podem ter desaparecido
Assim, segundo o autor, na tradição grega entendia-se que a pessoa que não tivesse deixado filhos estaria
condenada à fome perpétua, visto que não haveria ninguém para levar comida e bebida até o seu túmulo. Ademais,
este tipo de culto não seria uma exclusividade dos gregos. O culto aos mortos também pode ser verificado entre os
helenos, latinos, sabinos, entre outros, e continua até os dias de hoje, embora de uma forma diferente, mormente
No México, por exemplo, no Dia dos Mortos é tradição que os parentes e amigos visitem o cemitério, adornem
os túmulos de seus entes queridos com velas, incensos e flores. Também costumam comer e beber próximo aos
túmulos de seus antepassados. Vemos aqui, portanto, mais um exemplo de respeito e solidariedade familiar e a
influência da religião na sociedade.
Note, assim, que na grande maioria das civilizações organizadas, a família ficou intimamente atrelada à religião,
Diante da influência cultural e religiosa dos colonizadores, a história da família no Brasil não se diferencia da
dos países europeus. Ademais, como na maioria dos países do mundo, o modelo de família brasileiro foi
profundamente transformado com o passar do tempo. Por conseguinte, a legislação também precisou se adequar.
Como a lei vem sempre depois do fato, procura congelar a realidade de hoje para servir de modelo à realidade do
amanhã. Daí seu viés conservador. Mas a vida é irrequieta, se modifica, o que necessariamente se reflete na sociedade
e acaba confrontando a lei. Por isso, a família juridicamente regulada nunca consegue corresponder à família que
preexiste ao Estado e está acima do Direito. A família é uma construção cultural. Dispõe de estruturação psíquica, na
qual todos ocupam um lugar, possuem uma função – lugar do pai, lugar da mãe, lugar dos filhos –, sem, entretanto,
Atualmente inúmeras espécies distintas de família são aceitas pelo ordenamento jurídico pátrio, o que difere
bastante do momento inicialmente estabelecido, ou seja, a família formada pela união de uma mulher, um homem
e sua prole. Para entender como isso ocorreu, é necessária uma análise da evolução legislativa.
Do momento em que o Brasil foi descoberto até a Proclamação da República (1889), a regulação do direito da
família ficava a cargo da Igreja Católica, religião oficial tanto na Colônia quanto no Império Português.
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A importância da religião fica bastante clara pela leitura do texto da primeira Constituição do Brasil, ainda no
tempo do Império, que foi escrita em nome da Santíssima Trindade, e previa que a religião do Império era a
católica.
Art. 5. A Religião Catholica Apostólica Romana continuará a ser a Religião do Império. Todas as outras Religiões serão
permitidas com seu culto doméstico, ou particular em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior do
De outro vértice, a Constituição não proibia a existência de outras religiões, desde que os cultos fossem
domésticos, ou seja, sem extensão para o exterior dos templos.
A partir da Constituição de 1891, o Brasil abandona a postura anterior, posicionando-se como uma nação laica.
De toda sorte, sabemos que até os dias de hoje a intervenção da religião nas relações familiares permanece muito
forte.
Art.72 – A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no paiz a inviolabilidade dos direitos
[...]
4º A República só reconhece o casamento civil, cuja celebração será gratuita. (Brasil, 1891)
Isso, contudo, não modificou a questão atinente ao casamento, que até a entrada em vigor da atual Carta
Magna, em 5 de outubro de 1988, era tido como a única forma de constituição da família legítima no Brasil e, por
conseguinte, a única protegida pelo direito.
Embora já existissem outros tipos de relação, essas eram consideradas espúrias, não merecendo a proteção do
ordenamento jurídico.
O século XX foi marcado por diversas mudanças sociais e legislativas. As mais significativas evoluções
legislativas iniciaram-se em 1949, com a Lei n. 883/1949 que permitia o reconhecimento dos filhos nascidos fora do
casamento, conferindo-lhes direitos até então inexistentes, o que não acontecia em um momento legislativo
anterior.
Art. 1º Dissolvida a sociedade conjugal, será permitido a qualquer dos cônjuges o reconhecimento do filho havido
fora do matrimônio e, ao filho a ação para que se lhe declare a filiação. (Brasil, 1949)
Embora, à época, essa legislação tenha representado um enorme avanço, não é possível falar em igualdade real
entre os filhos nascidos dentro e fora do casamento.
Exemplo disso é que a lei, em seu art. 2º, previa que o filho chamado de ilegítimo, ou seja, que nascia fora do
casamento, possuía direito somente à metade da herança recebida pelo filho legítimo.
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Art. 2º O filho reconhecido na forma desta Lei, para efeitos econômicos, terá o direito, a título de amparo social, à
metade da herança que vier a receber o filho legítimo ou legitimado. (Brasil, 1949)
A segunda grande evolução legislativa ocorreu em 1962 com o advento da Lei n. 4.121/1962, também
conhecida como Estatuto da Mulher Casada.
Essa lei retirava a mulher da situação de completa subalternidade e discriminação em relação ao marido, em
especial quanto à sua relativa incapacidade para os atos da vida civil, conforme texto original do Código Civil de
1916:
Art. 6. São incapazes, relativamente a certos atos (art. 147, n. 1), ou à maneira de os exercer:
[...]
Em 1977, veio a terceira grande mudança, com a instituição da Lei n. 6.515/1977, conhecida como Lei do
Divórcio, que previa a dissolução do casamento por meio da separação judicial e do divórcio, desde que
respeitados os prazos e condições previstos no diploma legal. Note que, antes disso, o casamento era considerado
um vínculo eterno.
Consigne-se, por oportuno, que antes dessa lei existia o chamado desquite, em que os casais se separavam de
Sem sombra de dúvidas, a verdadeira evolução no direito de família ocorreu a partir da entrada em vigor da
Constituição Federal de 1988, que trouxe em seu bojo uma série de regras e princípios, buscando garantir a
igualdade entre os membros da família.
Fazendo revolução ainda nas relações entre cônjuges, o art. 5º, I, do título destinado aos Direitos e Garantias
Fundamentais, previu que: “Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações” (Brasil, 1988), acabando com
É evidente, portanto, que a entrada em vigor da Constituição Federal de 1988 é um marco para o
reconhecimento dos inúmeros tipos de família presentes na sociedade brasileira.
Como vimos anteriormente, a família passou por inúmeras modificações no decorrer dos séculos e esse é o
motivo de alguns grandes doutrinadores terem abandonado o termo direito de família e passado a adotar o termo
direito das famílias, visto que esse último se adequa melhor às diversas relações existentes.
Sobre o tema, Maria Berenice Dias (2021, p. 11) explica muito bem a razão da mudança da terminologia em seu
Manual de direito das famílias da seguinte forma:
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Muitos questionamentos sugiram pelo fato de, pela primeira vez, ser usada a expressão “direito das famílias”. É que
para mim a expressão “direito de família” perdeu significado. Aliás, na coletânea Conversando sobre...já havia usado a
expressão no plural. O terceiro volume se intitula Conversando sobre o direito das famílias. [...]. Cada vez mais a ideia
de família afasta-se da estrutura do casamento. O divórcio e a possibilidade do estabelecimento de novas formas de
convívio provocaram uma revolução na forma sacralizada do matrimônio. A constitucionalização da união estável e
do vínculo monoparental operaram verdadeira transformação na sociedade e na própria família. Assim, na busca do
conceito de entidade familiar, é necessário ter uma visão pluralista que albergue os mais diversos arranjos
vivenciados.
Note que a forma de constituição da família está intimamente ligada ao contexto social e histórico em que ela
está inserida, o que trará consequências importantes para o seu estabelecimento.
No Brasil, como anteriormente consignado, a família não é aquela apenas estabelecida por um homem, uma
mulher e seus filhos. Ela pode ter diversas facetas, não sendo possível falar em apenas um tipo de família.
Há a família constituída pelo casamento, bem como aquela que é formada com base em uma união estável.
Essas famílias poderão ser heteroafetivas ou homoafetivas.
Existem, ainda, as chamadas famílias simultâneas, sobre as quais ainda existem muitas divergências
Esses são apenas alguns exemplos de situações existentes no Brasil, mas se olharmos para o direito alienígena,
veremos que em muitos lugares algumas dessas famílias não são aceitas, como a questão da família homoafetiva
em muitos países de cultura árabe.
De outro giro, situações que no Brasil são proibidas, como a poligamia, muitas vezes são legais em outras
culturas. Note que nem mesmo a forma de constituição de uma família é igual em todos os lugares do mundo.
No Brasil, é comum que duas pessoas se conheçam, se apaixonem, e se casem. Mas em muitos lugares do
Vê-se, portanto, que o termo famílias se adequa melhor à realidade brasileira e mundial, considerando o
grande número de entidades familiares formadas, conforme diversos distintos.
Sabendo disso, podemos dizer que o direito das famílias é o ramo jurídico destinado à regulamentação, pelo
Estado, das relações familiares existentes no solo Brasileiro.
É ele que estabelece quais as formas de constituição dos núcleos familiares, os princípios e regras aplicáveis a
essas relações, os direitos e deveres dos indivíduos, as formas de dissolução, entre outros.
Definir o que é família em um sentido global é tarefa quase impossível, considerando as inúmeras
Entendo que a família em um âmbito global seria a união de pessoas, ligadas por vontades particulares e
distintas, com a intenção de constituir um núcleo familiar.
Passaremos, então, a analisar os diversos tipos de família com base no ato da sua constituição.
4.1 TRADICIONAL
A família tradicional é aquela constituída por um homem e uma mulher que se unem pelo casamento com o
objetivo de constituírem uma família.
Usa-se o termo tradicional para efeitos didáticos, pois este representa o tipo de união que por muitos séculos
foi considerado como o único possível. Ademais, é o mais comum em um sentido global, ou seja, analisando as
demais sociedades do mundo.
4.2 HOMOAFETIVA
Trata-se de famílias constituídas pela união de duas pessoas do mesmo sexo. Embora os relacionamentos
homoafetivos sempre tenham existido, foi somente nos últimos anos que eles passaram a ser reconhecidos como
entidade familiar em alguns países, inclusive no Brasil.
4.3 SIMULTÂNEAS
Nos últimos anos, os tribunais pátrios têm se deparado com uma situação que, embora pareça muito inusitada,
é uma realidade não só aqui, mas em inúmeros lugares do mundo, que é a existência de famílias simultâneas.
A título de exemplo, essa seria a situação de um homem que tem esposa e filhos na cidade do Rio de Janeiro,
bem como mulher e filhos na cidade de São Paulo.
A dificuldade em enxergar o instituto está diretamente ligada à ideia de monogamia, porém essa não deixa de
ser uma realidade no nosso país.
4.4 POLIAFETIVA
A família poliafetiva é aquela composta por três ou mais pessoas, unidas por vínculos afetivos e sexuais, que
vivem juntas com o intuito de constituir uma entidade familiar. É o que muitos denominaram como: trisal.
4.5 MONOPARENTAL
É a entidade familiar composta por qualquer um dos pais e a sua prole. É muito comum no Brasil,
especialmente nas classes sociais mais pobres. Em geral, é constituída pela genitora e seus filhos.
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4.6 ANAPARENTAL
É a entidade familiar constituída sem a presença dos pais. Pode ser formada por pessoas que tem relação de
4.7 MOSAICO
A família mosaico é aquela formada por indivíduos que anteriormente estiveram em outro núcleo familiar que
foi desfeito.
4.8 MULTIPARENTAL
Em outra oportunidade falaremos de forma mais específica sobre cada um desses institutos, no tópico
denominado como “Novas variedades das famílias”.
Da Constituição emerge uma série de princípios garantidores do direito das famílias. Passemos, então, a
analisá-los.
O princípio da dignidade humana é universal e visa impor um dever geral de respeito entre as pessoas que
compõem o núcleo familiar. Esse princípio tem como objetivo proteger um bem jurídico inestimável.
Quando uma coisa tem um preço, pode-se pôr em vez dela qualquer outra como equivalente; mas quando uma coisa
está acima de todo o preço, e, portanto, não permite equivalente, então tem ela dignidade. Assim, tem-se que a
dignidade é inestimável e não passível de troca ou barganha. É direito fundamental de todo ser humano.
A questão é tão importante que consta como um dos 17 Objetivos da ONU para o Desenvolvimento
Sustentável: “Trata mulheres e homens de forma justa, com oportunidades iguais de crescimento profissional e
equiparação de cargos e salários. Respeita e apoia os direitos humanos e combate toda e qualquer discriminação à
diversidade” (Nações Unidas, S.d.).
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A solidariedade é um dos princípios mais importantes para a sobrevivência do homem na Terra, considerando
que somente com a cooperação foi possível superar os desafios que se mostravam muitas vezes intransponíveis,
diante das peculiaridades da nossa formação biológica.
Já no âmbito do Código Civil, podemos verificar a existência do princípio da solidariedade quando se fala, por
exemplo, em comunhão de vidas da família, que pressupõe a cooperação de seus membros; na adoção, que nasce
com o desejo de solidariedade; e também na mútua assistência moral e material entre os cônjuges.
Esse princípio tem como base a igualdade dentro da entidade familiar, igualdade essa que se estende nas
relações entre cônjuges ou companheiros, filhos e também entre as entidades familiares.
A Constituição Federal do Brasil garante de forma clara a igualdade entre homens e mulheres; a igualdade
entre companheiros; dos companheiros em relação aos cônjuges, além de garantir a igualdade entre os filhos,
quaisquer que sejam suas origens, abrangidos aqui também os adotivos.
A afetividade é um dos princípios do direito de família brasileiro, bem como é considerado de grande
relevância para a grande maioria das civilizações mundiais, sendo mais evidente naquelas que possuem cultura
latina.
Com base no princípio da afetividade, podem ser verificados vários outros princípios, como a dignidade
humana, convivência familiar, igualdade entre cônjuges etc. É o princípio que justifica a convivência familiar em
Não há de se confundir afetividade com afeto em termos psicológicos. A afetividade é presumida nas relações
familiares, seja entre pais e filhos ou entre cônjuges ou companheiros, e essa presunção só finda ou com o
falecimento, no primeiro caso, ou com o fim da convivência no segundo.
Esse princípio diz respeito à convivência entre os familiares em um espaço físico que pode ser denominado lar.
Sabe-se que muitas vezes os fatos da vida impossibilitam as pessoas de viverem juntas, esse lugar seria então o
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Paulo Lôbo (2009, p. 52) define esse local como “o ninho no qual as pessoas se sentem recíproca e
solidariamente acolhidas e protegidas, especialmente as crianças”.
Também é delimitador do campo do poder familiar, pois mesmo com pais vivendo separados, a criança ou
Encontra fundamento no art. 227 da Constituição Federal, que declara que é dever da família, sociedade e do
In verbis:
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta
prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Constituição Federal. (Brasil, 1988)
Segundo Lôbo (2011, p. 55): “o princípio não é uma recomendação ética, mas diretriz determinante nas
relações da criança e do adolescente com seus pais, com sua família, com a sociedade e com o Estado”.
Portanto, é dever de todos assegurar o bom desenvolvimento da criança e do adolescente, tendo em vista
serem pessoas em desenvolvimento dotadas de dignidade humana e merecedoras de proteção em relação a todos
os seus direitos, estando, inclusive, tal preceito previsto no art. 4 do Estatuto da Criança e do Adolescente.
NA PRÁTICA
A praxe nos mostra que nos últimos dez anos houve expressiva modificação nos conceitos definidores das
entidades familiares, especialmente a partir do reconhecimento das famílias homoafetivas no Brasil.
De outro giro, verificamos que os tribunais têm se deparado com a questão atinente às famílias simultâneas.
Por ora, o Supremo Tribunal Federal, em decisão com repercussão geral, afastou esse tipo de vínculo familiar.
Todavia, não há dúvidas de que a questão tem grandes chances de ser modificada no futuro.
FINALIZANDO
Conclui-se, portanto, que o direito de família percorreu um longo caminho até chegar nos dias de hoje, em que
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição Política do Império do Brazil, de 25 de março de 1824. Coleção de Leis do Império do
Brasil, 1824.
_____. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 24 de fevereiro de 1891. Diário Oficial da
_____. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
_____. Lei n. 883, de 21 de outubro de 1949. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Rio de Janeiro, 26 out.
1949.
_____. Lei n. 4.121, de 27 de agosto de 1962. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 3 set. 1962.
COULANGES, F. de. A Cidade Antiga. Tradução de Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Martin Claret, 2009.
DIAS, M. B. Manual de direito das famílias. 14. ed. Salvador: JusPodivm, 2021.
ENGELS, F. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. Tradução Leandro Konder; Aparecida
FARIAS, C. C. de; ROSENVALD, N. Curso de direito civil: famílias. 13. ed. Salvador: JusPodivm, 2021.
NAÇÕES UNIDAS Brasil. Objetivos de desenvolvimento sustentável. Nações Unidas, S.d. Disponível em:
<https://brasil.un.org/pt-br/sdgs>. Acesso em: 17 dez. 2021.
TARTUCE, F. Manual de direito civil. 5. ed. Ver. Atual. E ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2015.
v. único.
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