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CARACTERÍSTICAS E CONDIÇÕES HISTÓRICAS DO

NASCIMENTO DA FILOSOFIA

É importante para que se compreenda a filosofia do direito, realizar um estudo


sobre os aspectos culturais e os históricos que levaram ao surgimento da filosofia na
Grécia. A sociedade grega, após o século XII a.C, tinha como base o genos, uma grande
família, descendentes de um mesmo antepassado que residiam em um mesmo local. Seu
chefe era o pater-familias, título transmitido ao filho mais velho, com justiça própria
baseada em costumes. Eram autônomos e não dependiam de outros genos.
Com o tempo, este modelo foi substituído, pois passou-se a ser necessário
realizar a divisão da propriedade, que era coletiva. Tal movimento promoveu o
individualismo (REALE, 2013). Com a transferência de poder do pater-familias para os
parentes mais próximos, eupátridas, que passaram a controlar os equipamentos de
guerra. Esse grupo se reunia em fatrias, que se reuniam em tribos, que ao se unir,
levaram ao surgimento das pólis (cidades-estado)
Tornou-se necessário a elaboração de legislações e em 621 a . C, Drácon a
elabora. Em seu código escrito, grande parte dos crimes teria como punição a pena de
morte e seu conteúdo era de extremo rigor. Drácon transfere a administração da justiça
para o Estado.
No entanto, Drácon não conseguir resolver a crise e em 594 a. C, Sólon
promove alterações na legislação cujo principal objetivo era o estabelecimento de uma
justiça correta para todos, ou seja, fundamentada na igualdade de todos perante a lei.
Em 507 a.C. Clístenes promove uma reforma na estrutura política grega baseada em
princípios básicos como: direitos políticos para todos os cidadãos; participação direta
dos cidadãos no governo através das assembleias (FERRAZ JÚNIOR, 2009).
Antes do surgimento da filosofia, os responsáveis pelas respostas às dúvidas
humanas eram os mitos, que eram repassados de geração em geração. Com a difusão
dos mitos por meio de poetas, surgiu a possibilidade de debatê-los e questioná-los. A
responsável por isso foi a filosofia, que reformulou e racionalizou as narrativas míticas,
e as transformou em algo novo e diferente.
O Mito é uma espécie de narrativa que tenta explicar de forma fantasiosa a
realidade, que ganha força devido à autoridade do narrador. A filosofia, por sua vez, faz
indagações, levanta o debate, rejeita a ação de seres divinos na tentativa de explicar os
fenômenos. A autoridade dos poetas gregos era tão grande que levou à fundação de sua
religiosidade.
A Religião Pública, que tem como referência os poetas Homero e Hesíodo, é
hierofânica: os fenômenos são explicados tem como base a intervenção dos deuses,
antropomórfica: os deuses são representados em formas humanas, naturalista: ao
homem cabe agir conforme a sua natureza, sem a necessidade de elevação. Ela não era
difundida, vez que inexistiam livros sagrados. Tal fato permitia grande liberdade para a
ação da filosofia.
O poeta Orfeu funda os Mistérios Órficos e é responsável por criar um formato
de crenças com nova forma de interpretação da existência humana: está presente no
homem algo divino que se une ao corpo devido a uma culpa original; a alma, que não
morre; a vida órfica com ritos e práticas é a única que pode dar fim ao ciclo de
reencarnações; aqueles que se purificarem receberão prêmios no além, aqueles que
viveram outro tipo de vida serão punidos (FERRAZ JÚNIOR, 2014). A diferença
principal reside na relação corpo e alma. A Religião Pública entende que os dois se
confundem e por isso deve ser incentivado a plena satisfação das capacidades
humanas. Já nos Mistérios Órficos há uma diferenciação entre corpo e alma.
Essa variedade religiosa, associada à liberdade religiosa e política grega foi
fundamental para que a filosofia nascesse. Já os povos orientais, por exemplo,
obedeciam de forma irrestrita o poder religioso e político.
As especificidades dos gregos foram fundamentais para o que a filosofia
nascesse. Seus conhecimentos marítimos, a invenção do calendário para calcular o
tempo; o nascimento das cidades, o comércio e artesanato; a invenção da moeda; da
escrita alfabética; o desenvolvimento da política, com a lei como expressão da vontade
coletiva (ALVES, 2011).
Através da filosofia, os gregos passaram ao ocidente europeu as bases e
princípios fundamentais da razão, ciência, ética, política e cidadania. A filosofia surge
quando os gregos ao admirarem a realidade e perceberam que as explicações dos mitos
não eram mais suficientes, começaram a indagar e buscar respostas. Os antigos diziam
que a necessidade de filosofar está estruturalmente radicada na própria natureza
humana. “Por natureza os homens aspiram ao saber”, dizia Aristóteles
(ARISTÓTELES, 2018).
Os homens buscam responder e tentam compreender o motivo de se sentirem
plenos de admiração ou se maravilham diante do que está por vir. Quando se depara
com o todo, o homem desenvolve comportamento admirativo, maravilhando-se sobre a
origem e o fundamento, indaga-se também sobre seu papel e função ocupados no
universo.
O homem desde que se entende e se percebe como ser pensante, se inquieta e
procura compreender o que está a vir. Tais indagações o levam a buscar explicações que
justifiquem a sua existência.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco.4ª ed. São Paulo. Edipro, 2018.

ALVES, Alaôr Caffé: Lógica, pensamento formal e argumentação. Elementos do


discurso jurídico. 4 ed. São Paulo: Quartier Latin, 2011.

FERRAZ JUNIOR, Tércio Sampaio. A ciência do Direito. 3ª ed. São Paulo: Atlas,
2014.

FERRAZ JUNIOR, Tércio Sampaio. Estudo de filosofia do Direito. 3ª ed. São Paulo:
Atlas, 2009.

REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 20ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

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