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01/09/2022 12:05 UNINTER

FILOSOFIA
AULA 1

Prof. Paulo Niccoli Ramirez

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01/09/2022 12:05 UNINTER

CONVERSA INICIAL

O objetivo desta aula é


investigar a passagem do pensamento mítico ao racional. Trata-se de
analisar e
compreender as condições históricas e aspectos que caracterizam a formação do
que se

entende como sendo filosofia. Nesta aula, vamos estudar as origens do


pensamento filosófico na

cultura ocidental. Veremos como o seu surgimento está


relacionado ao pensamento grego antigo,

destacando-se, primeiro, os pensadores


chamados de pré-socráticos (séculos VII a V a.C.) e, depois,

filósofos
como Sócrates, Platão e Aristóteles (séculos IV a III a.C.), todos eles
promovendo a

substituição de explicações míticas por racionais.

TEMA 1 – O QUE É MITO?

Compreenderemos, neste tema,


quais são as características do pensamento mítico e por quais

motivos a
filosofia buscou combatê-lo ao empregar visões consideradas mais racionais.

Antes do surgimento da
filosofia e do pensamento considerado racional, na Grécia Antiga, as

explicações em torno da origem e funcionamento do Universo e dos seres humanos


eram dadas

com base em concepções míticas. O predomínio do mito na cultura


grega se deu entre os séculos XI

ao IV a.C., quando, a partir do século VII e


sobretudo IV a.C., a filosofia desponta criticando esse tipo

de compreensão da
realidade. Mas, afinal, o que é o mito?

Os mitos representam
explicações sobrenaturais e fantásticas sobre a origem do Universo, dos

seres
humanos e da natureza. Em grego, o termo deriva da palavra mythos, que
significa narração.

Segundo o pesquisador francês Jean Pierre Vernant (2001,


p. 255-267), na obra Entre mito e política,

as construções
míticas podem ser categorizadas em cosmogonias e teogonias. Do
grego cosmos,

universo ou ordem; e gonos, gênese, origem,


cosmogonias são mitos que narram a origem do

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Universo e da natureza. Quanto às


teogonias, do grego theos, deuses, as teogonias narram a origem

dos deuses, de suas relações, acordos e conflitos.

O mito representa narrações de


teor sensível ou emotivo, de modo a expressar tanto os

sentimentos e contradições
do comportamento humano, quanto também as forças e ciclos da

natureza.
Apresentados na maioria das vezes oralmente, por poetas, ou nos teatros gregos,
por meio

das tragédias, os mitos produziam, nos ouvintes, emoções, com as


histórias de grandes heróis. Entre

choros e risadas, os ouvintes entravam em


transe porque se identificavam com as histórias,

conduzindo ao que se denomina catarse.

Os mitos representavam
elementos sagrados da cultura grega. Possuíam também papel de

justificação e
organização da sociedade, seja do ponto de vista político, seja do ponto de
vista social,

religioso ou econômico. Verifica-se a abrangência da mitologia na


cultura grega. Na obra intitulada O

Universo, os deuses, os homens, Vernant


(2000, p. 14) indica que o mito “[...]
contém o tesouro de
pensamentos, formas linguísticas, imaginações cosmológicas,
preceitos morais, etc., que

constituem a herança comum dos gregos na época


pré-clássica”.

As principais fontes de
narrativas míticas entre os gregos provinham do poeta Homero, que teria

vivido
entre os séculos XIX e VIII a.C. e escrito a Ilíada, referente ao
conflito entre gregos e troianos, e

a Odisseia, história que narra a


trajetória de Ulisses (ou Odisseu), personagem considerado racional

e que se
confronta com os deuses gregos na tentativa de retornar para sua cidade natal,
Ítaca, após

a Guerra de Troia (Homero, 2013, 2014). Há dúvidas se Homero teria


ou não existido; se teria de fato

escrito essas duas obras ou se representou,


na verdade uma escola de poesia responsável pela

compilação de mitos narrados


no passado, de forma oral, na Grécia. Por vezes, Homero é descrito

em relatos
da Antiguidade como um cego, andarilho que narrava os mitos gregos de cidade em

cidade.

Outra fonte de interpretações


míticas, entre os gregos, considerada sagrada eram as descrições

de Hesíodo
(2002, 2003), que viveu no século VII e escreveu importantes obras, como Os
trabalhos e

os dias e Teogonia. Os mitos de Homero e Hesíodo


eram considerados sagrados e todos os gregos

deviam respeito e obediência aos


seus preceitos. Veremos, no próximo item, que a filosofia surgiu,

na Grécia,
com a intenção de combater essas explicações sensíveis e divinas presentes nos
mitos.

Ainda que os mitos sejam atacados pela filosofia, autores como Vernant
(2001) não deixam de

apontar que eles, apesar de terem o predomínio de


concepções fantásticas e sobrenaturais, não

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deixam de possuir grau de


racionalidade ao buscarem compreender a organização do Universo e do

mundo
humano.

TEMA 2 – O QUE É FILOSOFIA?

No presente tópico, você


estudará o contexto histórico, na Grécia Antiga, que permitiu a

passagem das
explicações míticas em direção ao surgimento do pensamento racional e
filosófico.

Quando
se procura estabelecer que a filosofia nasceu na Grécia Antiga, por volta do século
VII a.C.,

com Tales de Mileto, isso não quer dizer que outras culturas ou
sociedades não tenham

desenvolvido formas de filosofia. Por exemplo, há a


existência de filosofia na Índia ou na China, na
Antiguidade ou mesmo hoje,
assim como entre sociedades indígenas e africanas. No entanto, o que

difere a
filosofia ocidental das demais e o que fornece a ela um caráter sui generis
é a realização de

uma cisão ou divórcio entre a razão (logos) e o mito (mythos).


Outros povos e civilizações

desenvolveram filosofias nas quais as forças


divinas e naturais misturam-se, em seu fundamento, ao

comportamento e
instituições humanas, ou seja, em que as explicações mítico-religiosas se

confundem com as explicações calcadas na racionalidade. No entanto, a filosofia


grega produziu

cisma inédito. Buscou separar o racional do mitológico, como


também negar e rebaixar os mitos por

considerá-los fontes de interpretações


equivocadas, mentirosas, ilusórias ou fantasiosas, que

conduzem ao erro e à
ignorância.

A partir do pensamento
pré-socrático, que será abordado no próximo item, a cultura ocidental
passará
por uma ruptura com a tradição mítica, em direção à construção de modelos
racionais que

terão impacto e deixarão heranças nas construções sociais,


políticas, econômicas, científicas e

mesmo religiosas da cultura ocidental. Isso


se deve ao fato de que, segundo Deleuze e Guatari

(1991), na obra O que é


filosofia?, a própria filosofia trabalha com conceitos que procuram, de
forma

mais pragmática, definir racionalmente como se dá o funcionamento do Universo


e da vida humana.

A palavra filosofia
teria surgido de um pensador pré-socrático conhecido como Pitágoras de

Samos
(século V a.C.). Filosofia, em grego é a justaposição de dois termos: philia,
que significa

desejo intenso, amizade, gosto ou amor fraternal; e sophos,


que expressa a noção de conhecimento

ou sabedoria (Kirk; Raven;


Schofield, 1994). Ou seja, filosofia significa um amor ou amizade pela

sabedoria ou conhecimento. É importante destacar que a filosofia desperta nos


indivíduos aquilo
que Platão (2007), na obra Teeteto, e Aristóteles (1973),
em Metafísica, classificam com o termo

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grego thaumazein,
que é traduzido como estranhamento, perplexidade, assombro,
maravilhamento,

espanto, estupefação ou estarrecimento.

Isso significa dizer que a


filosofia emerge de um movimento de desnaturalização da realidade a

nossa
volta, isto é, no instante em que não se observa mais o mundo com os olhos
habituais, como

antes estávamos acostumados a enxergar a realidade, ou com uma


visão conformada a se tomar as

coisas como se fossem normais ou como se sempre


tivessem sido assim. A filosofia surge do

sentimento de que o sentido das


coisas está no fato de que nada faz sentido, quando há um

permanente
questionamento a respeito da ordem do mundo e de suas interpretações
corriqueiras,

como as míticas. Por isso, a filosofia, quando surge na


Antiguidade, irá se opor aos mitos, tomados

pelos cidadãos gregos como


verdadeiros e fontes legítimas para todas as explicações sobre o

Universo e a
vida humana.

Como o papel da filosofia é


interrogar todos os aspectos de nossa existência, como a vida

social, a
política, as crenças, as hierarquias e a posição que nossa existência ocupa no Universo,
ela

não está preocupada com fornecer ou alcançar as respostas verdadeiras (pois


elas podem variar de

pensador para pensador); senão, a filosofia procura


promover as verdadeiras perguntas. Esse

princípio se torna mais claro com o


dito socrático só sei que nada sei, o que significa dizer que

quanto
mais se busca o conhecimento ou a verdade, maior a certeza de nossa ignorância.

A filosofia não é uma ciência,


embora influencie, com suas questões, todas as demais formas

de conhecimento
científico, sejam elas ciências exatas, sejam ciências naturais ou humanas,
exatamente por possuir a percepção de que as verdadeiras perguntas são mais
relevantes que a

busca das verdadeiras respostas. Embora a filosofia e a


ciência tenham em comum o uso do logos,

ou seja, da razão, vemos


a filosofia se diferenciar da ciência na medida em que esta última tem a

tendência a trabalhar com métodos matemáticos, experimentais ou observacionais


que visem a se

alcançar comprovações de elementos objetivos dispostos na


natureza. Já a filosofia possui como

tendência o trabalho lógico da mente


diante de temas mais subjetivos, como a felicidade, o bem

comum, a virtude ou
os atributos cognitivos que permitem à mente estar certa ou equivocada.

Outra diferença importante


entre filosofia e ciência está no fato de que a ciência é cumulativa, o

que
significa dizer que ela evolui, se aprimora ou se desenvolve de tal forma que
nos permite dizer

que os achados científicos de hoje são mais avançados ou


superiores do que certas descobertas ou
tecnologias existentes no passado. O
acúmulo de conhecimentos, portanto, conduz ao progresso

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científico. Já a
filosofia não permite esse tipo de constatação, de modo que não se pode dizer
que,

por exemplo, a filosofia contemporânea seja melhor ou mais avançada do que


a antiga. São, na

realidade, filosofias diferentes, com coordenadas distintas,


o que não nos impede de compará-las,

apenas não sendo possível a afirmação da


superioridade ou inferioridade de um filósofo sobre outro.

Aprender o
pensamento de um filósofo é como aprender um idioma novo. Há um vocabulário

específico a esse pensamento que torna, no início, sua compreensão difícil.


Porém, à medida que ele
é estudado e o leitor penetra nas principais questões e
conceitos fornecidos pelos filósofos, lhe é

permitido compreender melhor uma


determinada filosofia e conjunto de conceitos e ideias.

Enquanto a ciência
avança como uma linha do progresso, com seus métodos e respostas, a filosofia

opera como uma espiral, porque seus problemas e perguntas são transversais,
isto é, estão

presentes em diferentes épocas, na abordagem de diversos filósofos


e suas linhas de pensamento.

Na obra Convite à
filosofia, a filósofa Marilena Chauí (1994) responde de forma irônica à
questão

para que serve a filosofia?, geralmente feita pelos críticos do


saber filosófico. Os críticos tendem a
observar a filosofia como um amontoado
de reflexões desnecessárias e inúteis. Segundo Chauí

(1994, p. 10), geralmente


vê-se que “[...] a filosofia não serve para nada. Por isso, se costuma chamar
de ‘filósofo’ alguém sempre distraído, com a cabeça no mundo da Lua, pensando e
dizendo coisas

que ninguém entende e que são perfeitamente inúteis.”

Portanto, deve-se responder


ironicamente à questão para que serve a filosofia. A resposta é: a
filosofia não serve a nada não porque seja inútil ou desinteressante, senão
devido ao fato de que a

filosofia não serve por não ser servil ou escrava de


nenhuma forma de poder, domínio ou hegemonia.
A filosofia é um saber livre e
libertador que nos permite contradizer e questionar toda a realidade à

nossa
volta.

TEMA 3 – OS PRÉ-SOCRÁTICOS

Conforme estudamos no item


anterior, a filosofia ocidental se diferencia das filosofias
praticadas por
outras culturas devido ao fato de que se promoveu na Grécia Antiga a cisão
entre as

explicações míticas e as racionais. Os primeiros filósofos são


conhecidos como pré-socráticos e
buscaremos compreendê-los a partir de
agora.

3.1 OS FILÓSOFOS DA NATUREZA

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Alguns fatores históricos e


geográficos foram determinantes para que a filosofia e a separação
entre os
argumentos racionais e os mitológicos tivessem origem na Grécia Antiga. O
primeiro deles

está no fato de que a maioria das cidades gregas são portuárias,


de modo que isso permitiu aos
seus habitantes, desde cedo, o contato com outras
civilizações e mitos diferentes dos seus, como

os povos egípcios, babilônicos,


sumérios, fenícios, persas, entre outros. Concebe-se que o contínuo
contato e
comparação com outras formas religiosas e míticas de compreensão do Universo
tenha

levado alguns pensadores, na Grécia, a partir do século VII ao V a.C., a


buscarem formas e
alternativas mais racionais de entendimento da natureza,
fugindo dos relatos sensíveis,

sobrenaturais e fantásticos tão comuns, então.

Além disso, as cidades gregas,


conhecidas como polis, possuíam leis escritas que transferiram
à filosofia
a tradição de fixar na forma de livros as reflexões desses primeiros filósofos,
embora

praticamente todas as obras dos pensadores conhecidos como pré-socráticos


tenham se perdido
devido a incêndios e destruições de bibliotecas, ainda na
Antiguidade. Muito do que sabemos de

seus livros e reflexões se devem à


atividade denominada doxografia. Os doxógrafos foram
estudiosos,
historiadores e filósofos da Antiguidade que tiveram a oportunidade de ler, na
íntegra, os

textos dos pré-socráticos que se perderam. Com isso, citaram


trechos ou teceram comentários
sobre essas obras, a que não temos mais acesso.

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Créditos: Olinchuk/Adobe Stock.

Outro fator importante para o


surgimento da filosofia na Grécia foi a existência da escravidão,

conforme
aponta Vernant (2001), pois o trabalho escravo, embora forçado e oposto à
liberdade
humana, possibilitava que alguns homens, considerados cidadãos, tivessem
condições como dispor

de tempo livre e ócio para participar da praça pública


(como a chamada ágora de Atenas) e das
decisões políticas, além de
especular racionalmente sobre indagações filosóficas.

Os pré-socráticos ou primeiros
filósofos são também conhecidos como filósofos da natureza.
Isso se deve
ao fato de que, diferentemente do que veio a ocorrer a partir da filosofia de
Sócrates
(470-399 a.C.), preocupada com questões em torno do ser, da relação
entre corpo e alma, da justiça,

das virtudes e do bem-comum na cidade, os


pré-socráticos estavam interessados e direcionados à
seguinte questão: qual
é o elemento primordial ou qual a origem de tudo o quanto existe na natureza?

Esse
elemento primordial que buscavam explicar é designado arché.

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A busca da arché, entre


os pré-socráticos, conduziu a interpretações distantes das elaborações
sobrenaturais míticas. Embora os primeiros filósofos divirjam a respeito de
qual é a arché, isto é, o

elemento primeiro que dá origem e está presente


em toda a matéria da natureza, a sua busca e
interpretação é um elemento comum
nas construções desses filósofos e, por isso mesmo, eles são
definidos como
filósofos da natureza.

2.2 TEORIAS DOS PRÉ-SOCRÁTICOS

A ruptura com o pensamento


mítico se deu quando Tales de Mileto (séc. VII e VI a.C.) procurou
por
uma explicação pragmática da arché que fosse concreta e distante das
construções fantásticas

ou sobrenaturais dos mitos. Filósofo jônio, estabeleceu


a água como arché. De acordo com a obra
Os filósofos pré-socráticos (Kirk;
Raven; Schofield, 1994), Tales observou a relação da água com

todos os seres da
natureza; e em seus estados sólidos, líquidos e gasosos. No Egito, percebeu
como
a terra desértica se tornava fértil com a cheia do Rio Nilo. Em altas
montanhas, encontrou fósseis de

animais marinhos. Concluiu, assim, que o mundo


era coberto pela água, originalmente. Tales é
considerado o pioneiro do que
hoje chamamos de paleontologia (Kirk; Raven; Schofield, 1994).

Influenciado pelas questões em


torno da arché de Tales, outro filósofo de Mileto, Anaximandro

(610-547 a.C.), buscou dar uma outra resposta sobre o elemento constituinte de
toda a realidade.
Diverge de seu mestre ao propor que a arché é o ápeiron,
palavra grega que significa ilimitado,

indeterminado, indefinível,
sem origem e inominável, sendo, portanto, imaterial, infinita e imortal,
mas
que origina todos os elementos e toda a matéria presente no Universo. O
indeterminado é a origem e

a causa de tudo o que existe, sendo apreendido


apenas pelo pensamento e não pela sensibilidade.
Anaximandro concebia que o Universo
é guiado pelo movimento eterno e circular do ápeiron, que faz

surgir o
quente (fogo) e o frio (ar); nele, há equilíbrio e retribuição entre os
contrários ou substâncias
opostas. Os seres comuns, quando morrem, retornam ao ápeiron
(Kirk; Raven; Schofield, 1994).

Anaxímenes
(Mileto, 585-528/525 a.C.), filósofo jônio, afirma que a arché é o ar (pneuma).

Discorda de Anaximandro, pois a arché não poderia, para ele, ser o


indeterminado, posto que o
ápeiron seria inconcebível pelo pensamento,
porque abstrato. Diferentemente da água (na tese de

Tales), o ar é invisível,
mas nem por isso deixa de ser natural e estar presente em tudo o quanto
existe,
sendo o elemento primordial constituinte do Universo. Anaxímenes constata que,
do nascer

ao morrer, há a existência do primeiro até o último respiro, sendo o


ar determinante para qualquer ser

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vivo. O mundo é vivo e respira (ar seria


equivalente a alma, algo comparado ao corpo da natureza)
(Kirk; Raven;
Schofield, 1994).

Xenófanes de Cólofon (570-475


a.C.) deixou a Jônia em direção ao sul da Península Itálica
quando os persas
invadiram a Grécia. Errante, andarilho e recitador de poemas, visitou diversas

cidades, sendo o patrono da escola eleática, da qual farão parte também


Parmênides e Zenão.
Segundo Xenófanes, a arché é a unidade
na imutabilidade, contida em um deus uno e imutável, não

apresentando
nenhum elemento sólido como o princípio de tudo, mas manifestando-se com base no
elemento terra. A concepção de um deus único, imortal e imutável como princípio
de tudo esboça

sua concepção de arché. Xenófanes opôs-se ao


antropomorfismo e ao politeísmo das religiões que
conheceu, sobretudo a
grega. Deu-se conta de que a intenção de atribuir aos deuses as próprias
características e potencialidades humanas era natural, porém equivocada (Kirk;
Raven; Schofield,

1994).

Heráclito (Éfeso,
540-470 a.C.) foi um filósofo jônio conhecido como O Obscuro ou O Fazedor
de

Enigmas, devido à sua escrita de difícil compreensão e múltiplas


interpretações. Defensor do
mobilismo, concepção que dirá que todas as coisas
naturais estão em constante movimento, em

constante mudança, num constante


devir ou fluir, tendo como sua engrenagem ou arché o fogo, é-lhe
atribuída a sentença Ninguém pode entrar duas vezes no
mesmo rio. O mobilismo está relacionado

ao termo criado
por Heráclito, o logos (razão ou inteligência) presente na
natureza, havendo assim
estabilidade na mudança, sendo o fogo o garantidor do
fluxo dos contrários (Kirk; Raven; Schofield,

1994).

Parmênides e Zenão serão


críticos da tese mobilista de Heráclito. Parmênides (515-460 a.C.) foi
um filósofo eleata, fundador da concepção de ontologia (conhecimento do ser e
da essência última

dos seres), consequentemente da metafísica e da filosofia


num sentido mais abstrato. Parmênides
conheceu e influenciou o então jovem
Sócrates e estabeleceu a diferença entre essência (imutável e

verdadeira – alétheia)
e aparência (que se transforma sempre, como a doxa – opinião, algo, portanto,
instável, falso e ilusório). O mobilismo de Heráclito não levaria, segundo
Parmênides, ao

conhecimento verdadeiro, mas a opiniões variáveis sobre as


coisas, o que tornaria não verdadeira a
concepção mobilista dos seres ou a tese
do movimento de Heráclito. A verdade, para Parmênides, é

única, imóvel, eterna,


imutável, sem princípio nem fim, contínua e indivisível. Por isso, Parmênides
afirma que o ser é (uma essência imutável e verdadeira, afinal a
sentença o que é é o objeto do
pensamento). O que muda é o não ser (o
que não é é que está em transformação e é capturado

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pelos sentidos, sendo,


portanto, falso). O acesso à verdade do ser se dá com o uso da razão, do

pensamento, afastando-se da opinião formada pelos hábitos, impressões


sensíveis, que são por si
só ilusórios, imprecisos e mutáveis (Kirk; Raven;
Schofield, 1994).

Zenão (489-430
a.C.), por sua vez, foi discípulo de Parmênides e seu pensamento consiste na
defesa das teorias monistas (sobre o indivisível, o imutável e o verdadeiro)
de seu mestre por meio

de paradoxos (em grego, paradoxo significa, literalmente,


contraopinião ou opinião oposta). Os
paradoxos concluem
que não existe movimento e mudança e que esses se tratam de uma confusão
dos
sentidos. Entre os mais conhecidos paradoxos de Zenão, destacam-se o de Aquiles
e a tartaruga

e o do arqueiro, com base nos


quais ele conclui que cada movimento é constituído por infinitos
momentos
imóveis. Dessa forma, o movimento é provido de momentos estáticos ou imóveis (Kirk;

Raven; Schofield, 1994).

A respeito de Pitágoras (Samos,


570-496 a.C.), pouco se sabe de sua vida, sendo o pitagorismo

possivelmente uma
escola de pensamento e certamente uma seita religiosa secreta, que no futuro
exerceria influência sobre Platão. Pitágoras considera a arché como do
âmbito dos números, das

formas geométricas e das suas proporções


harmoniosas. A natureza, portanto, é matemática. Os
princípios pitagóricos
influenciaram outro pensador eleático, Filolau de Crotona (século V a.C.),
que

sugeriu a ideia de movimento da Terra (Kirk; Raven; Schofield, 1994).

Empédocles (Agrigento,
490-435 a.C.) foi político, poeta, médico e cosmólogo e não buscou um

único
princípio das coisas. Ao contrário, defendeu que a arché é constituída
pelos quatro elementos:
fogo, terra, água e ar. Esses quatro elementos são
separados e unidos pelo ódio (que se forma pelas

diferenças) e pelo amor (que reúne


as semelhanças). Há em seu pensamento a atribuição de valores

morais à natureza
e o reconhecimento da presença de certa unicidade (uno-divino) entre os quatro

elementos (do uno ao múltiplo). Empédocles se aproxima de Parmênides (unidade)


e Heráclito
(movimento) (Kirk; Raven; Schofield, 1994).

Anaxágoras (Clazômenas,
cerca de 500-428 a.C.), de origem jônia, teria vivido em Atenas por

cerca de 30
anos e por lá fundado uma escola de filosofia. Considera a arché
composta de uma

infinidade de pequenos elementos, as chamadas homeomerias (que,


em grego, significam

sementes). Os objetos concretos e os elementos


materiais dispostos na realidade têm origem de
relações de afinidades entre
porções dessas sementes, com defesa do múltiplo, do infinito e do

divisível e
não do uno e do limitado. A quantidade de coisas no mundo seria, assim, sempre
a

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mesma, e tudo seria infinitamente divisível. Nessa visão, não existe o nada. Anaxágoras
concebe a

possibilidade de existência de mundos paralelos, de repetição de


mundos ou da sucessão deles

(Kirk; Raven; Schofield, 1994).

Leucipo
(Mileto, séc. V a.C.) e Demócrito (Abdera, cerca de 460-370 a.C.) são
conhecidos como

atomistas. Segundo esses pensadores, existem dois


elementos primordiais para a formação de
todas as coisas: o átomo e o vazio.
A arché é tomada com base nos átomos (que, em grego,

significavam
partículas indivisíveis, individuais, finitas e invariáveis, eternas e em perpétuo

movimento), que se diferem entre si pela forma, tamanho, posição e ordem. Os


átomos se

diferenciam das homeomerias de Anaxágoras por não serem mutáveis ou


capazes de se
transformar. Tudo quanto existe seria, com isso, resultado de
combinações tidas como espontâneas

de átomos ardentes, leves e esféricos,


constituindo a pluralidade do mundo. O atomismo de

Demócrito é avaliado como o


pensamento mais rigoroso entre os filósofos da natureza ou
pré-

socráticos. Para Demócrito, a lógica e a sabedoria são o resultado do


entendimento da natureza. A
alma humana é também constituída por átomos,
sujeita à decomposição e à morte. A natureza deve

ser explicada por si mesma e


os acontecimentos não têm uma causa primeira, contendo, sem

exceção, tudo o que


foi, é e será. Nessa direção, os humores humanos, como a felicidade,
devem ser

compreendidos conforme a composição material da realidade e de seus


átomos (Kirk; Raven;
Schofield, 1994).

TEMA 4 – A FILOSOFIA DE SÓCRATES E PLATÃO

Vamos investigar agora o


principal pensador grego, Sócrates, suas ideias e críticas contra os

costumes e
visões de mundo dos gregos, baseados na mitologia. Avaliaremos a relação do
mestre

com o discípulo, Sócrates e Platão, e por quais motivos o pensamento


socrático deu origem a novos
problemas e formas de se pensar a filosofia.

4.1 QUEM FOI SÓCRATES?

Sócrates (470-399 a.C.) nasceu em Atenas e era filho de uma parteira. Em


grego, maiêutica é o

termo que significa dar à luz, parir.


Sócrates compara o aprendizado filosófico ao nascimento ou

parto, de forma que


o conhecimento seria, em sua visão, um processo doloroso, até que se
consolide
o nascimento do pensamento filosófico nos indivíduos. Sócrates nunca escreveu
nada,

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pois afirmava que escrever seria uma forma de aprisionar o conhecimento.


Sabemos da existência
de Sócrates por meio do trabalho de dois de seus
discípulos, Platão e Xenofonte. Platão (428-347

a.C.)
foi pertencente a uma família abastada e nobre de Atenas; Xenofonte (430-355
a.C.) foi um

poeta e jurista ateniense. Uma terceira visão sobre quem foi


Sócrates foi dada por Aristófanes (447-

385 a.C.), um
poeta crítico às ideias do filósofo por considerá-lo subversivo por atacar as
tradições
políticas e religiosas dos atenienses (Jaeger, 2001).

Platão torna seu


mestre, Sócrates, o principal personagem de suas obras, destacando-se, por

exemplo, o livro A república (Platão, 1988). Comentadores da obra


de Platão tendem a demonstrar

dificuldades em separar as ideias do mestre e do


discípulo, de modo que o pensamento desses dois

filósofos constitui uma continuidade


e certa unidade que dá origem ao complexo de ideias socrático-
platônicas
(Châtelet, 1994).

Xenofonte e Platão
descrevem Sócrates como homem de mente rigorosa, racional e

questionadora, que produziu


severas críticas às crenças nos mitos gregos e na política ateniense, a

democracia. Sócrates foi acusado e declarado culpado por corromper a juventude,


atacar a

democracia ateniense e o politeísmo grego; opôs-se às duas principais


figuras de sua cidade: os
poetas (responsáveis pela manutenção das tradições
religiosas baseadas nos mitos) e os sofistas

(eloquentes educadores e demagogos


que manipulavam as decisões políticas tomadas na cidade,

em proveito próprio)
(Châtelet, 1994).

O pensamento
socrático-platônico desejava substituir a democracia ateniense por um modelo

utópico e idealizado baseado numa monarquia governada por filósofos no lugar,


respectivamente, da
democracia e dos sofistas. Sócrates atacou a escravidão nas
cidades gregas; defendeu a

participação das mulheres na vida social e política,


inclusive a formação de guardiões e guardiãs,

com o fim do casamento monogâmico


entre esses guerreiros; propôs que todas as riquezas fossem

confiscadas e
administradas pelos filósofos, com o objetivo de se gerar uma cidade justa.
Devido às
suas ideias, consideradas radicais, Sócrates foi condenado à morte e
envenenado por ingestão de

cicuta. Embora pudesse ter escolhido o exílio, a


censura ou o pagamento de uma multa para se livrar

da pena, optou por ingerir o


veneno e alcançar a morte, pois considerava a alma e a razão como

eternas e o
corpo, os sentidos ou as sensações corporais como corruptíveis, mutáveis e
perecíveis
(Châtelet, 1994).

4.2 A DIALÉTICA SOCRÁTICO-PLATÔNICA


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Para se opor aos


discursos convincentes, porém falsos, de poetas e sofistas, voltados a fazer

aflorarem
as emoções, paixões, sensações e crenças equivocadas entre os gregos, Sócrates,
e
depois Platão, desenvolveram o primeiro método racional e filosófico da
cultura ocidental, a

chamada dialética. Esse método consiste num


debate, discussão ou diálogo elaborado por meio de

sucessivas perguntas, sempre


realizadas pelo filósofo, que têm como objetivo questionar e conduzir
à
contradição as opiniões (doxa) das pessoas comuns, principalmente poetas
e sofistas. Sócrates e

Platão opõem a dialética, relacionada à filosofia e à


razão (logos), à opinião (doxa), considerada

vaga, ignorante e
equivocada porque vinculada aos mitos, sensações e paixões humanas. Sócrates

deseja que sejamos guiados pela razão, esta sim capaz de conduzir à verdade e
às virtudes, e não
pelas paixões ou emoções, fontes de todo erro e de vícios
que corrompem o bem comum e levam a

sociedade à degeneração (Châtelet, 1994).

4.3 MUNDO SENSÍVEL E MUNDO INTELIGÍVEL

Sócrates e Platão
foram responsáveis por proporem a diferenciação do real do falso, da verdade

da
aparência, por meio da oposição entre o que denominaram mundo sensível e
mundo inteligível (ou
mundo das ideias). O sensível corresponderia
a tudo o que é concreto, físico, material e sensível (as

nossas sensações
corporais), aos objetos sensíveis diante dos nossos olhos e demais sentidos.

Tudo que pertence a esse mundo, o mundo material, está em transformação, é


transitório e muda.

Quando somos guiados pela sensibilidade (os sentidos),


somos conduzidos, logo, ao erro, pois
somos influenciados pelas emoções
(elementos presentes no mito e no discurso dos sofistas). O

mundo sensível,
portanto, seria dominado pelas aparências, segundo essa linha de pensamento,

posto que o que é transitório e muda a todo instante, como os nossos


sentimentos, não pode
corresponder à verdade. As aparências e os sentidos podem
produzir os vícios, já que acomodam o

corpo e a mente. Os vícios seriam paixões


produzidas pelos sentidos, fazendo do indivíduo escravo

do prazer. O mundo
sensível deve ser, assim, relacionado à noção de simulacro (conjunto de

sombras
e aparências) (Châtelet, 1994).

O mundo inteligível,
por sua vez, só seria acessível por meio do uso da razão. Nesse mundo

estão as
verdades, também chamadas de essências, formas ou ideias.
A verdade seria eterna,
imutável e universal, não se transformando jamais, o
que a diferiria das aparências presentes no

mundo sensível. A razão, por


conduzir o homem à verdade, produziria as virtudes e guiaria a vida

para
o bom caminho e não para os vícios. Segundo Marilena Chauí (1994, p. 269-270):

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Eis por que a ontologia


platônica introduz uma divisão no mundo, afirmando a existência de dois

mundos
inteiramente diferentes e separados: o mundo sensível da mudança, da aparência,
do
devir dos contrários, e o mundo inteligível da identidade, da permanência,
da verdade, conhecido

pelo intelecto puro, sem qualquer interferência dos


sentidos e das opiniões. O primeiro é o mundo
das coisas. O segundo, o mundo
das ideias ou das essências verdadeiras. O mundo das ideias ou

das essências é
o mundo do Ser; o mundo sensível das coisas ou aparências é o mundo do Não-

Ser.
O mundo sensível é uma sombra, uma cópia deformada ou imperfeita do mundo
inteligível das
ideias ou essências.

Platão concebia a noção


de imortalidade da alma e uma doutrina de reencarnação das almas

pela qual indivíduos


dedicados à razão, à filosofia e à virtude tenderiam a alcançar o mundo

inteligível
após a sua morte, tomando conhecimento pleno do que seja a verdade, a justiça,
o bem, o
belo e Deus. É importante ressaltar que Sócrates e Platão são os
primeiros filósofos a defenderam o

monoteísmo. Eles são críticos do politeísmo


porque os deuses exprimem comportamentos voláteis

e comparáveis aos sentimentos


humanos, portanto são falsos. O monoteísmo é defendido pelos

dois filósofos
porque Deus deve ser único, eterno, imutável e seus pensamentos são superiores
e
inconcebíveis pelos sentimentos humanos (Châtelet, 1994).

Segundo Châtelet
(1994), como a relação entre corpo e alma é acidental, quando nossa

existência
é dada ainda no mundo sensível apenas é possível alcançar as ideias originais,
essências

ou formas do mundo inteligível com o uso da razão, por exemplo, a


essência ou o pensamento

perfeito da ideia de uma mesa, casa, ser humano,


números ou formas geométricas. As ideias são
perfeitas; porém, no mundo sensível,
não encontramos seus correspondentes, a não ser cópias

malfeitas e degeneradas
das essências. Além disso, o mundo sensível apresenta dois patamares. O

primeiro deles corresponde ao dos objetos físicos, cópias distorcidas das


ideias originais. O

segundo patamar diz respeito aos discursos dos poetas e


sofistas, considerados do mais elevado
patamar de mentira, cópias das cópias,
que revelam o que há mais falso, levando os indivíduos ao

erro e à ignorância.

A Figura 1 permite
compreender as distinções entre os dois mundos avaliados por Sócrates e

Platão.

Figura 1 – Mundo inteligível e mundo sensível

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Fonte: Elaborado com base em Platão, 1988.

Dessa forma, no mundo


inteligível estariam nossas ideias originais. É o que se chama de logos

(razão,
ciência, conhecimento, discurso racional que nos leva à verdade, ou seja, elementos
da
atividade do filósofo). Já no mundo sensível (ou das aparências) apenas
vemos as cópias das

ideias, ou seja, as suas sombras. Esse mundo corresponde ao


mundo do mito (mythos).

TEMA 5 – A ALEGORIA DA CAVERNA

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Vamos estudar
agora uma das narrativas mais conhecidas da história da filosofia. Platão e

Sócrates comparam o mundo sensível a uma prisão por meio da chamada


alegoria da caverna,

presente no Livro VII da obra A república (Platão,


1988). A alegoria trata de indivíduos que viveram

toda a sua existência


acorrentados no interior de uma caverna, ou seja, aprisionados pelas paixões e
sensações, e que apenas poderiam olhar para frente, onde eram projetadas
sombras, na parede da

caverna que habitavam. Assim, essas pessoas tomavam as


sombras e aparências como se fossem

verdadeiras, sem saber que atrás deles


havia outros indivíduos (leiam-se, sofistas e poetas)

manipulando, na frente de
uma fogueira, objetos que davam origem às sombras projetadas na
parede, como em
um teatro de sombras de fantoches ou um simulacro.

No entanto, um dos
prisioneiros, o filósofo, consegue se desacorrentar, pois seus instrumentos

de
libertação são a razão, o estranhamento e os questionamentos. O filósofo
percebe então que

havia sido sempre enganado, tomando as aparências como se


fossem a realidade. Decide, depois

disso, sair da caverna, para encontrar as


ideias, as formas, isto é, a realidade fora da prisão, e enfim
observa a luz do
Sol, que representa a verdade, o belo, o bem e a justiça. O filósofo toma a
difícil

decisão de retornar à caverna para advertir seus antigos companheiros a


respeito do fato de que

estavam sendo enganados, acreditando que as sombras


eram verdadeiras. Ao retornar, esses

companheiros não acreditam em suas


palavras: acabam por desmenti-lo e agredi-lo, até matá-lo
(Platão, 1988).

Crédito: Matiasdelcarmine/Adobe Stock.

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Dessa forma, a alegoria da


caverna representa tanto a teoria do conhecimento de Platão e
Sócrates, ou
seja, a oposição entre os mundos sensível (a caverna) e inteligível (fora da
caverna,

onde há a luz do Sol). Além disso, a mesma alegoria expressa como se


deu a morte de Sócrates,

que, por utilizar a razão e contestar poetas e


sofistas, foi condenado ao envenenamento por cicuta,

em Atenas.

NA PRÁTICA

No ano de 2016, o Dicionário


Oxford de filosofia cunhou o termo pós-verdade em seus verbetes,

relacionando-o da seguinte maneira ao fenômeno das fake news: “Post-truth


(pós-verdade): relativo

ou referente a circunstâncias nas quais os fatos


objetivos são menos influentes na opinião pública

do que as emoções e as
crenças pessoais” (Word, 2016, tradução nossa). A noção de pós-verdade
diz respeito ao processo de deslegitimação das ciências, de certezas racionais
em nome de opiniões

falsas, passionais e geradoras de notícias falsas (as fake


news). Seria possível relacionar a noção de

pós-verdade com os problemas identificados


por Sócrates em relação às opiniões dos sofistas?

Investigue uma fake news


que tenha sido abordada criticamente por meios de comunicação (jornais,
revistas, sites de notícias e afins) e, em seguida, faça uma comparação
com concepções platônicas

a respeito da distinção entre os mundos sensível e inteligível.

FINALIZANDO

Nesta aula, estudamos o


surgimento da filosofia ocidental, com base nos pensadores gregos.

Avaliamos
que o discurso filosófico na Grécia apareceu com os filósofos conhecidos como pré-

socráticos,
que foram responsáveis por produzir reflexões de teor racional, sobre a
natureza, em
oposição às intepretações de cunho fantástico e sobrenatural
presentes nos mitos. Investigamos a

originalidade do pensamento
socrático-platônico, que trouxe novos questionamentos ao

pensamento filosófico.
Enquanto os pré-socráticos se perguntavam essencialmente pela arché,
Sócrates inova sobretudo com os seguintes elementos:

a. construção de uma teoria do conhecimento que supõe uma


rígida separação entre corpo
(mythos) e alma (logos);

b. crítica da democracia e proposição de um regime político fundado na


razão e não mais nos

mitos, modelo que subverteu as tradições gregas ao


elaborar sistemática oposição aos mitos,

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aos sofistas e à democracia ateniense;

c. Sócrates e Platão produziram e promoveram, pela primeira vez, um


método filosófico, a
dialética, para combater os mitos.

REFERÊNCIAS

ARISTÓTELES. Metafísica. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Os


pensadores).

CHÂTELET, F. Uma história da razão:


entrevistas com Émile Noël. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,

1994.

CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Editora


Ática, 1994.

DELEUZE, G.; GUATARI, F. O que é filosofia? São


Paulo: Editora 34, 1991.

HESÍODO. Os trabalhos e os dias. São


Paulo: Editora Iluminuras, 2002.

_____. Teogonia. Tradução e estudo:


Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 2003.

HOMERO. Ilíada. São Paulo: Penguin,


2013.

_____. Odisseia. São Paulo: Cosac


& Naify, 2014.

JAEGER, W. Paideia: a formação do


homem grego. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

KIRK, G. S.; RAVEN, J. E.; SCHOFIELD, M. Os filósofos pré-socráticos. Lisboa: Fundação Calouste

Gulbenkian, 1994.

PLATÃO. A república. Belém: Edufpa, 1988.

_____. Diálogos I: Teeteto, Sofista, Protágoras. São Paulo: Edipro, 2007.

VERNANT, J. P. Entre mito e política. São Paulo: Edusp, 2001.

_____. O
Universo, os deuses, os homens. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

WORD of the Year 2016. Oxford Languages,


2016. Disponível em:

<https://languages.oup.com/word-of-the-year/2016/>.
Acesso em: 2 fev. 2022.

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