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FILOSOFIA

O SURGIMENTO DA FILOSOFIA

ATIVIDADE MODULAR Nº I
ORIENTAÇÕES PARA RESENHA:

Saudações senhores (as) alunos (as) do Curso de Proficiência Filosófica, sou o Prof. Marcos Paulo, sou
graduado em filosofia e pós-graduado em Educação a Distância. Com satisfação trabalharemos juntos o presente
módulo.

ATIVIDADE MODULAR:

1º) Baixar e Salvar no PC o texto modular;


2º) Proceder a Leitura, a Releitura e a Reflexão do texto;

3º) Resenhar (refletir criticamente) o texto em no mínimo 40 linhas segundo as normas técnicas da ABNT;

4º) O tempo de duração do presente módulo será de 50 dias a contar da data de sua abertura;

5º Enviar a resenha para o email pedagogico@agoraedu.com.br aos cuidados do Prof. Marcos Paulo.
Módulo I – O Surgimento da Filosofia

Introdução

A partir do momento em que o homem passou a questionar o por quê de sua existência e do mundo, este já estava caminhando para o filosofar, no
entanto, o mérito do surgimento e nascimento da filosofia deve-se aos gregos; pois estes foram os precursores nas investigações cientificas que antes eram
explicadas por antigas construções mitológicas.

Há a incerteza com relação ao caráter do surgimento da filosofia. Visto que há historiadores que defendem o seu surgimento por parte do
orientalismo, todavia, o ocidentalismo é bem mais aceito em nossa sociedade, pois foram estes que importaram um plano sistemático e mais detalhado sobre
as investigações filosóficas.

Os poemas exerceram grande influência no pensar dos gregos, através destas obras eram transmitidos, juntamente com a mitologia, os fatos históricos
e os modos de pensar da sociedade exigente. Um exemplo disto está nos relatos de Homero, nos escritos de Ilíada e Odisséia, que narram conflitos que
transformaram a vida do homem grego. O período homérico, ou a epopéia homérica foram de grande valia para proporcionar uma visão panorâmica da
Grécia. O que permitiu compreender em partes alguns dos fatores que levaram ao surgimento de filosofia. As primeiras noções filosóficas são vistas nas
obras deste grande escritor.

Noções da areté eram apresentadas já nestes escritos, mas com uma visão não tão estritamente de cunho exclusivamente filosófico (a noção de virtude
que era usado mais com o intuito de um caráter cavalheiresco por parte dos indivíduos na sociedade).

Outro fator essencial para a compreensão da origem filosófica é o valor atribuído aos mitos para explicar a realidade bem como os arquétipos de
humanos existentes na Antigüidade.

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Esta preponderância permitiu que do mito pudesse surgir a filosofia, que através primeiramente das epopéias (Homero, por exemplo) se propagassem
um modo de pensar crítico e racional. Posteriormente, a filosofia adquiriu muitos adeptos os quais a adequaram e fizeram explanações sobre seus conceitos.

Todavia, a partir do instante em que a reflexão, o pensamento crítico e as noções primordiais são levados a um novo conflito de idéias, será sempre
possível um “ressurgimento da filosofia”. Isto foi comprovado e ainda será no decorrer de toda a história da filosofia, pois os maiores pensadores de todas as
épocas querendo ou não utilizaram destes meios para atingir e sustentar uma tese sobre seu ponto de vista e a sua concepção para com as noções básicas de
todos os arquétipos.

Um exemplo claro desta noção, é o caráter extremamente filosófico e o valor concedido aos primeiros pensadores, como Tales de Mileto, Parmênides
e Heráclito. Os quais serão sempre levados em conta nas explanações de vários filósofos. Já os pensadores clássicos como Sócrates, Platão e Aristóteles têm
um valor “metafísico” (como algo que não há palavras para interpretar e demonstrar a importâncias destes pilares da filosofia) que ultrapassa todos os limites
de nossa existência

No período em que se estudavam os mitos, suas origens, desenvolvimento e significado existiam várias formas de tornar compreensíveis o
surgimento de todas as coisas.

Houve um momento em que tais explicações deixaram de ser suficientes para levar as pessoas, seja por meio da razão ou de provas incontestáveis, a
acreditarem em tais explicações.

Surgiu então a filosofia, uma forma de conhecimento capaz de explicar as diversas mudanças e maravilhas que ocorriam na natureza, pois a mitologia
– ciência que estudava os mitos – já não conseguia mais dar conta de explicar fatos que nem mesmo ela, com toda sua sabedoria, conseguia compreender.

A filosofia chegou timidamente, tentando mostrar a humanidade que o mundo não era perigoso e cheio de monstros como a mitologia pregava e aos
poucos vêm conquistando seu espaço, avançando cada vez mais nas profundezas do saber.

Os principais seres mitológicos da Grécia Antiga foram:

- Heróis : criaturas mortais, filhos de deuses com seres humanos. Exemplo : Hércules e Aquiles.

- Ninfas : seres femininos que residiam nos campos e bosques, irradiando alegria e felicidade por onde passavam.
- Sátiros : vulto com corpo de homem, chifres e patas de bode.
- Centauros : corpo constituído por metade homem metade cavalo.

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- Sereias : mulheres com metade do corpo em formato de peixe, seduziam os marinheiros com seus cantos fascinantes.

- Górgonas : espécie feminina, com formato de monstros e cabelos de serpentes. Exemplo: Medusa

- Quimeras : combinação de leão com cabra, lançavam fogo pelas ventas.

Os principais deuses foram:

* Zeus – divindade de todos os deuses, senhoril do Céu.

* Afrodite – diva do amor, sexo e beleza.

* Poseidon – divo dos mares

* Hades – deus dos mortos, dos cemitérios e do subterrâneo.

* Hera – deidade dos casamentos e da maternidade.

* Apolo – divindade da luz e das obras de artes.

* Artemis – diva da caça.

* Ares – divindade da guerra..

* Atena – deidade da saber e da paz. Benfeitora da cidade de Atenas

* Hermes – divo que representava o comércio e as comunicações

* Hefestos – deus do fogo e do trabalho.

Origem da Palavra Filosofia

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Pitágoras: o primeiro a usar a palavra Filosofia

A palavra filosofia tem origem grega. O termo philia significa amizade e sophia, sabedoria. Temos assim a “amizade pela sabedoria”, o desejo de
estar próximo do saber, do conhecimento verdadeiro.

Se pensarmos que a filosofia é a ação de refletir sobre tudo, que é a investigação curiosa para descobrir a verdade das coisas, então a filosofia surgiu
com o primeiro homem racional. Porém, a curiosidade alicerçada em uma forma de pensar lógica e racional só surgiu muito tempo depois.

A filosofia, como a entendemos hoje, tem seu início no século VI a.C., na Grécia Antiga. Poderia ter surgido em qualquer lugar, mas naquele
momento da história diversas coisas ocorriam para que ali fosse seu começo.

A Grécia Antiga vivia um momento de auge de sua cultura. O comércio com outros povos trouxe conhecimento. A produção artística era muito ativa.
Havia os jogos olímpicos. A linguagem, moeda e tecnologia (de arquitetura e militar) também marcaram esse período.

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Entretanto, naquele momento iniciou-se uma nova tentativa de responder os questionamentos sobre a existência. Se, para alguns, as narrações
fantásticas da mitologia serviam para explicar o mundo, suas catástrofes, seu clima, sua organização, sua origem; outras pessoas começaram a procurar
respostas fora dos mitos.

Tales de Mileto: considerado o Primeiro Filósofo

Tales de Mileto (624-5 – 556-8 a.C.) é considerado o primeiro filósofo. Os fragmentos que restaram de seus escritos nos mostram a tentativa dele em
explicar sobre o que forma o mundo. Para ele, existe um elemento material que forma todas as coisas, a água. Podemos encontrar água em todos os locais.
Ao furar o solo, se nos cortamos, dentro do tronco das árvores, nas rochas das nascentes dos rios. Se a água está em tudo, é porque ela forma tudo. Esta
maneira de explicar o mundo, usando a razão, é que irá diferenciar a filosofia da mitologia.

Porém, Tales nunca se chamou filósofo. A palavra “filósofo” apareceu anos mais tarde, com um homem chamado Pitágoras (570-1 – 496-7 a.C.). Ele,
famoso hoje pelo teorema matemático que leva o seu nome, é que se considerou um “amigo da sabedoria”.

Condições Históricas:

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A desmitificação do mundo a partir das viagens marítimas

O que tornou possível o surgimento da filosofia aos arredores da Grécia no final do século VII e no início do século VI antes de Cristo? Quais as
condições materiais, isto é, econômicas, sociais, políticas e históricas que permitiram o surgimento da filosofia?

A Grécia (Hélade) nada mais foi do que um conjunto de cidades-Estados (Pólis) que se desenvolveram na Península Balcânica no sul da Europa. Por
ser seu relevo montanhoso, permitiu que grupos de pessoas (Demos) fossem formados isoladamente no interior do qual cada Pólis desenvolveu sua
autonomia.

Constituída de uma porção de terras continental e outra de várias ilhas, bem como também em virtude da pouca fertilidade dos seus solos, a Grécia
teve de desenvolver o comércio como principal atividade econômica. Assim, e aproveitando-se do seu litoral bastante recortado e com portos naturais,
desenvolveu também a navegação para expandir os negócios, bem como mais tarde sua influência política nas chamadas colônias.

A sociedade grega era organizada segundo o modelo tradicional aristocrático, baseado nos mitos (narrativas fabulosas sobre a origem e ordem do
universo), em que a filiação à terra natal (proprietários) determinava o poder (rei).

Esse modo de estruturar a sociedade e pensar o mundo é comumente classificado como período Homérico (devido a Homero, poeta que narra o
surgimento da Grécia a partir da guerra de Troia). Mas com o tempo, algumas contradições foram sendo percebidas e exigiram novas explicações. Surge,
então, a Filosofia. Eis os principais fatores que contribuíram para o seu aparecimento:

- As viagens marítimas:

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As viagens marítimas permitiram aos povos descobrir que os locais que os mitos diziam habitados por deuses, titãs e heróis eram, na verdade,
habitados por outros seres humanos; e que as regiões dos mares que os mitos diziam habitadas por monstros e seres fabulosos não possuíam nem monstros
nem seres fabulosos.

As viagens produziram o desencantamento ou a desmitificação do mundo, que passou, assim, a exigir uma explicação sobre a origem, explicação que
o mito já não podia oferecer; pois o impulso expansionista obrigou os comerciantes a enfrentarem as lendas e daí constatarem a fantasia do discurso mítico,
proporcionando a desmitificação do mundo (como exemplo, os monstros que os poetas contavam existir em determinados lugares onde, visitados pelos
navegadores, nada ali encontravam).

- A construção do calendário:

O calendário permitiu a medição do tempo segundo as estações do ano e da alternância entre dia e noite. Isso favoreceu a capacidade dos gregos de
abstrair o tempo naturalmente e não como potência divina. Ao calcular o tempo segundo as estações do ano, as horas do dia, os fatos importantes que se
repetem, os gregos foram percebendo que o tempo como algo natural e não como um poder divino incompreensível.

- O uso da moeda:

A moeda foi inventada para as trocas comerciais que antes eram realizadas entre produtos. Isso também favoreceu o pensamento abstrato, já que o
valor agregado aos produtos dependia de uma certa análise sobre a valoração.

O uso da moeda permitiu uma forma de troca que não se realiza através das coisas concretas ou dos objetos concretos trocados por semelhança, mas
uma troca abstrata, uma troca feita pelo cálculo do valor semelhante das coisas diferentes, revelando, portanto, uma nova capacidade de abstração e de
generalização.

- A invenção do alfabeto e o uso da palavra:

É também um acontecimento peculiar. Numa sociedade acostumada à oralidade dos poetas, aos poucos cai em desuso o recurso às imagens para
representar o real e surge, como substituto, a escrita alfabética/fonética, propiciando, como os itens acima, um maior poder de abstração.

Essa invenção, assim como, a do calendário e a da moeda, revela o crescimento da capacidade de abstração e de generalização, uma vez que a escrita
alfabética ou fonética, diferentemente de outras escritas — como, por exemplo, os hieróglifos dos egípcios ou os ideogramas dos chineses — supõe que não
se represente uma imagem da coisa que está sendo dita, mas a ideia dela, o que dela se pensa e se transcreve.

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A palavra não mais é usada como nos rituais esotéricos (fechados para os iniciados nos mistérios sagrados e que desvendavam os oráculos dos
deuses), nem pelos poetas inspirados pelos deuses, mas na praça pública (Ágora), no confronto cotidiano entre os cidadãos.

A palavra é usada para as deliberações do povo (Demo) em cada Pólis (por isso, Democracia ou o governo do povo), bem como exige que sejam
publicadas as leis para o conhecimento de todos, para que reflitam, critiquem e a modifiquem segundo os seus interesses.

As discussões em assembleias (que era onde o povo se reunia para votar) estimulava o pensamento crítico-reflexivo, a expressão da vontade coletiva
e evidencia a capacidade do homem em se reconhecer capaz de vislumbrar a ordem e a organização do mundo a partir da sua própria racionalidade e não
mais nas palavras mágico-religiosas baseadas na autoridade dos poeta inspirados. Com isso, foi possível, a partir da investigação sistemática, das
contradições, da exigência de rigor lógico, surgir a Filosofia.

- O crescimento urbano:

É também registrado em virtude de todo esse movimento, assim como o fomento das técnicas artesanais e o comércio interno, as artes e outros
serviços, características típicas das cidades;

- A criação da Política:

Que introduz três aspectos novos e decisivos para o nascimentos da filosofia:

1. A ideia da lei como expressão da vontade de uma coletividade humana que decide por si mesma o que é melhor para si e como ela definirá suas relações
internas. O aspecto legislado e regulado da cidade — da — servirá de modelo para a filosofia propor o aspecto legislado, regulado e ordenado do
mundo como mundo racional;

2. O surgimento de um espaço público, que faz aparecer um novo tipo de palavra ou de discurso, diferente daquele que era proferido pelo mito. Neste, o
poeta-vidente, que recebia das deusas ligadas à memória (a deusa Mnemosyne, mãe das Musas que guiavam o poeta) uma iluminação misteriosa ou uma
revelação sobrenatural, dizia aos homens quais eram as decisões dos deuses a que eles deveriam obedecer.

Agora, com a , isto é, a cidade política, surge a palavra como direito de cada cidadão de emitir em público sua opinião, discuti-la com os outros,
persuadi-los a tomar uma decisão proposta por ele, de tal modo que surge o discurso político como a palavra humana compartilhada, como diálogo,
discussão e deliberação humana, isto é, como decisão racional e exposição dos motivos ou das razões para fazer ou não fazer alguma coisa. A política,

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valorizando o humano, o pensamento, a discussão, a persuasão e a decisão racional, valorizou o pensamento racional e criou condições para que surgisse o
discurso ou a palavra filosófica.

3. A política estimula um pensamento e um discurso que não procuram ser formulados por seitas secretas dos iniciados em mistérios sagrados, mas que
procuram, ao contrário, ser públicos, ensinados, transmitidos, comunicados e discutidos. A ideia de um pensamento que todos podem comunicar e transmitir,
é fundamental para a filosofia.

Com predomínio do comércio e do artesanato, dando desenvolvimento a técnicas de fabricação e de troca, e diminuindo o prestígio das famílias da
aristocracia proprietária de terras, por quem e para quem os mitos foram criados; além disso, o surgimento de uma classe de comerciantes ricos, que
precisava encontrar pontos de poder e de prestígio para suplantar o velho poderio da aristocracia de terras e de sangue (as linhagens constituídas pelas
famílias), fez com que se procurasse o prestígio pelo patrocínio e estímulo às artes, às técnicas e aos conhecimentos, favorecendo um ambiente onde a
filosofia poderia surgir;

Filósofos da Natureza

Até 600 a.C, aproximadamente, o homem grego explicava tudo por meio dos mitos, os quais começaram a surgir já no período Neolítico. Temos,
entre outros, os mitos nórdicos (Tor – deus do trovão, e outros) e os mitos gregos (Zeus e Apolo, por ex.).

Homero e Hesíodo, que viveram por volta de 700 a.C., são as fontes principais sobre os mitos gregos, e tornaram-se marcos históricos para o estudo
desses mitos.

O séc VI a.C. foi marcado pelo encaminhamento de uma estabilidade sócio-política entre os gregos, cujas cidades passaram a ser organizadas em
pequenos grupos, denominados pólis, administrados pela aristocracia.

O intercâmbio entre as várias cidades foi intenso e assim como as cidades jônias da Ásia Menor, entre as quais podemos citar Mileto e Éfeso, as
colônias gregas da Itália meridional, entre elas Eléia, ganharam grande destaque pelas iniciativas culturais e políticas. Também o comércio foi bem
desenvolvido por aquelas populações, o que lhes trouxe também a riqueza material. Foi nesse contexto que a Filosofia surgiu, num ambiente livre e distante
do centro. Somente depois é que chegou à Grécia, propriamente dita, centralizando-se em Atenas.

A filosofia grega pode ser dividida em três períodos: o primeiro, naturalista, em que o pensamento filosófico busca uma resposta para as questões da
natureza, isto é, o período pré-socrático; o segundo pode ser dito antropológico metafísico, e abrange, principalmente, Sócrates, Platão e Aristóteles; o
terceiro é o período ético, desde o fim da época aristotélica – IV a.C. – até a decadência da sociedade grega, por volta de VI d.C.

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Neste artigo, apresentamos uma introdução ao primeiro período, naturalista, ou também como é mais conhecido, pré-socrático.

Importa sublinhar que o fato de ser denominado pré-socrático não quer dizer, rigorosamente, que todos os filósofos desse período sejam anteriores
cronologicamente a Sócrates, pois alguns foram seus contemporâneos.

Para efeito de facilitação do entendimento, as várias correntes pré-socráticas podem ser classificadas em:

1 - Escola Jônica (Ásia Menor), cujos principais representantes são Tales de Mileto, Anaximandro de Mileto e Heráclito de Éfeso.

2 - Escola Pitagórica ou Itálica (Magna Grécia), cujos principais representantes são Pitágoras de Samos, Filolau de Cretona e Árquilas de Tarento.

3 - Escola Eleata (Magna Grécia), os principais representantes são Xenófanes de Colofão, Parmênides de Eléia, Zenão de Eléia e Melissos de Samos.

4 - Escola Atomista (Trácia), cujos principais representantes são Leucipo de Abdera e Demócrito de Abdera.

E enfim, uma classificação mais genérica, os eleatas e os não-eleatas, considerando que os eleatas não admitiam o movimento e concebiam o
universo como uma unidade imóvel e eterna, enquanto os não-eleatas defendiam o movimento como única realidade.

Vejamos a seguir alguns dos principais pensadores desse período.

II – Tales de Mileto.

Como apresentamos no início, a filosofia grega nasceu nas colônias mais distantes, e foi exatamente em Mileto, na Jônia, por volta de 624 a.C., que
nasceu Tales, tido como o primeiro filósofo e precursor da filosofia grega. Além de filósofo, foi matemático e astrônomo, aliás, sua morte provavelmente
ocorreu em 562 a.C., vítima de um acidente enquanto observava os astros.

Outro fator importante a ser ressaltado é a tradição oral da Grécia, o que resultou em muito poucos escritos dos filósofos daquela época. E com Tales
não foi diferente, pois não se tem notícia de que tenha escrito algo, e conhecemos suas idéias apenas pelos escritos posteriores.

A pergunta filosófica mais elevada, “Qual é a causa última, o princípio supremo de todas as coisas?” foi colocada por Tales sistematicamente na
tentativa de encontrar uma resposta racional, livre da explicação mítica.

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A observação de Tales foi a partir da natureza. Considerando os elementos mais presentes em toda a natureza, o ar, a terra, a água e o fogo, o filósofo
concluiu que o princípio supremo de todas as coisas era a água, vez que esta podia se alterar em várias outras formas, dando origem, por condensação, à
terra, por rarefação, ao ar e ao fogo. Embora certamente ingênua a resposta, não se pode negar a importância da água para a vida.

Mas a partir desse questionamento de Tales estabeleceu-se a definição do termo physis, que significava, para os filósofos da época, não apenas a
natureza existente, mas, verdadeiramente, a realidade fundamental e primeira de toda a natureza.

Outro aspecto a ser destacado é a concepção de água que se deve ter a partir do pensamento de Tales, pois como princípio universal, não é apenas a
água na forma como conhecemos, mas efetivamente uma liquidez primeira do universo, e se confunde, mesmo com deus, posto que para ele, todas as coisas
estavam plenas de deuses.

III – Anaximandro de Mileto.

Anaximandro, como o nome indica, nasceu também em Mileto por volta de 611 a. C., e morreu, por volta de 547 a.C., tendo sido, provavelmente,
discípulo de Tales. Ao contrário de Tales, deixou escrito um tratado denominado “Sobre a Natureza”, o qual, entretanto, perdeu-se ao longo do tempo , tendo
restado apenas um fragmento, cuja tradução já rendeu muitas discussões entre os filósofos posteriores, mas diz aproximadamente o seguinte: “De onde as
coisas extraem o seu nascimento aí também é onde se cumpre a sua dissolução segundo a necessidade; com efeito, reciprocamente sofrem o castigo e a culpa
da injustiça, segundo a ordem do tempo.”

Para Anximandro, o princípio de que Tales falava não poderia ser a água, porquanto ela também já é derivada de algo. O princípio, pois, só poderia
ser mesmo o infinito, ou como dizia, o a-peiron, o que não tem limites, nem externos, nem internos. Também para ele, esse princípio estava ligado ao divino,
com a diferença de não ser nascido e nem ser possível a sua morte.

Esse fragmento de Anaximandro mereceria um estudo detalhado, mas face à natureza deste artigo, deixaremos para outra oportunidade, ressaltando
apenas que nele se apresentam as idéias dos contrários, da dupla injustiça e do tempo como o juiz de todas as coisas. É, sem dúvida, uma concepção bem
mais rica do que a de Tales.

IV – Anaxímenes de Mileto.

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Anaxímenes nasceu por volta de 588 a.C. e morreu aproximadamente em 524 a.C. Foi discípulo de Anaximandro e, embora concordando com o
mestre, que o príncípio deve ser infinito, defendeu a tese de que mesmo esse princípio deve ser pensado como algo físico, e, portanto, deve ser o ar, vez que
“exatamente como a nossa alma (ou seja), (o princípio que dá a vida), que é ar, se sustenta e se governa, assim também o sopro e o ar abarcam o cosmos
inteiro”.

V – Xenófanes de Cólofon.

Xenófanes nasceu em 570 a. C. e morreu em 475 a.C., aproximadamente. Foi o primeiro filósofo a colocar-se de frente contra a concepção mítica.
Aristóteles, mesmo, o considera o fundador da escola eleática que será vista na seqüência. Dele, trazemos alguns fragmentos que ilustrarão melhor o
entendimento:

FRAGMENTO 11

Aos deuses atribuíram Homeros e Hesíodos tudo

o que entre os homens é vergonhoso e digno de

censura:

roubar, cometer adultério e enganar uns aos outros.

FRAGMENTO 15

Mas se os bois, os cavalos e os leões tivessem mãos

ou se fossem capazes como os homens de pintar

obras com as mãos,

os cavalos como os cavalos, os bois como os bois

pintariam o aspecto dos deuses, e fariam o corpo deles

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tal qual cada um deles o tem.

FRAGMENTO 34

E ninguém portanto conhece ou conhecerá jamais

a verdade sobre os deuses e todas as coisas de que

falo; (...)

FRAGMENTO 23

Um deus, o maior entre os deuses e os homens,

que em nada se assemelha aos mortais, nem no corpo

nem na mente.

VI – Pitágoras de Samos.

Pitágoras nasceu em 571-0 a.C. e morreu em 532-1 a.C., e é considerado um dos grandes gênios da humanidade. Suas contribuições contam em
vários campos de saberes, entre os quais a matemática, a geometria, a astronomia, a filosofia, a ascese e a mística.

Em Pitágoras, encontramos o princípio da mônada, mais tarde retomada e modificada por Leibnitz, e que citamos aqui: “o princípio de todas as coisas
é a mônada; dela procede a díada indeterminada, que serve de substrato material à mônada, que é a sua causa. Da mônada e da díada indeterminada nascem
os números; dos números nascem os pontos e destes, as linhas, das quais procedem as figuras planas. Das figuras planas nascem as figuras sólidas e destas,
os corpos sensíveis, cujos elementos são quatro, a saber. O fogo, a água, a terra e o ar. Estes elementos mudam-se e transformam-se uns nos outros,
originando-se deles um universo dotado de alma e de razão, de forma esférica, em cujo ponto central está a terra, também ela esférica e habitada.”

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Outro aspecto que influenciou fortemente o pensamento filosófico foi sua doutrina das almas, que para ele, são imortais e feitas de uma substância
incorruptível.

E, ao contrário dos demais pré-socráticos, que defendiam sempre algum elemento da natureza como princípio universal, Pitágoras defendeu os
números como sendo esse princípio, considerando que o número expressa não apenas a natureza, mas também as relações entre as coisas, e, ainda, a partir do
número, chegou à conclusão de que a multiplicidade decorre da unidade.

VII – Heráclito de Éfeso.

Heráclito nasceu por volta de 504 a.C., nada constando a respeito de sua morte. É um dos filósofos mais eminentes do período pré-socrático e ao
mesmo tempo mais lendário. Não se sabe ao certo se deixou algo escrito ou se apenas divulgou suas idéias por suas poesias. Conta-se que era filho dos
governantes da cidade e não era bem visto entre os cidadãos.

Para Heráclito, o princípio agente de todas as coisas é o fogo. Segundo ele, tudo flui, tudo está em movimento e nada dura para sempre, e nessa
constante oposição está a unidade. Assim, “não podemos nos banhar no mesmo rio por duas vezes”. O fogo, por conseguinte, é o elemento a partir do qual
todas as coisas se formam, visto que é volátil e se transforma conforme o maior ou menor calor, pela condensação ou rarefação.

Mas, além desse princípio agente, Heráclito estabelece o princípio regente do universo, o Logos. Para ele, “A guerra é mãe de todas as coisas e de
todas as coisas é rainha... Aquilo que é oposição se concilia, das coisas diferentes nasce a mais bela harmonia e tudo se gera por meio de contrastes... Eles
não compreendem que aquilo que é diferente concorda consigo mesmo; é a harmonia dos contrários, como a harmonia do arco e da lira”.

Estabelecendo que todas as coisas estão em constante devir, Heráclito defende, então, que esse devir segue uma lei natural. E essa lei é o princípio
regente , o Logos, que delimita os movimentos de todas as coisas. O homem, por sua vez, agindo em consonância com o logos, estará apto a conhecer a
verdade. Daí, segue-se o livre-arbítrio e a responsabilidade do homem pelo seu destino e também o dos demais, pois escreve. “Os que estão acordados devem
ajudar os que dormem”.

Eis, alguns dos fragmentos dos textos de Heráclito:

FRAGMENTO 101

A mim mesmo me procurei.

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FRAGMENTO 123

A natureza das coisas gosta de ficar escondida.

FRAGMENTO 51

Não compreendem como aquilo que está separado se reúne consigo mesmo; há harmonia na tensão contrária, como no caso do arco e da lira.

FRAGMENTO 88

E como uma coisa só, a vida e a morte, a vigília e o sono, a juventude e a velhice; pois essas coisas quando mudam são aquelas, e aquelas, são estas.

FRAGMENTO 90

Por fogo se trocam todas as coisas, e fogo por todas as coisas, assim como mercadorias por ouro e ouro por mercadorias.

VIII– Parmênides de Eléia.

Parmênides é o maior expoente da escola eleática, isto é, dos filósofos de Eléia. Nasceu em 530 a.C. e morreu em 470 a.C., aproximadamente.
Adotou muito do pensamento de Xenófanes e suas idéias tiveram grande influência na estrutura sócio-política da Grécia.

Um de seus fragmentos mais famosos é “O ser e o pensar são a mesma coisa...sem o ser, no qual o pensar se encontra expresso, não há
pensamento”.[8] Para ele, a única realidade é o ser, e assim combate agudamente o vir-a-ser defendido por Heráclito. Não é possível pensar o não-ser, porque
ao pensá-lo, ele já é ser.

A sua obra principal que chegou até nós é o poema Sobre a NaturezaI, que se divide em duas partes, Da Verdade e Da opinião.

Percebe-se, aqui, a preocupação de Parmênides com o ser. Por isso ele é considerado um dos primeiros grandes metafísicos. Essa preocupação com o
ser é retomada por Heidegger, por exemplo, já no período contemporâneo, que atribui suma importância ao pensamento parmenidiano.

Parmênides entende que o único caminho para o homem chegar à verdade é o caminho de pensar o ser. É o caminho, pois, da razão. Nesse sentido
está o fragmento abaixo citado:

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"Pois bem! E tu acolhe as palavras que ouvires /os únicos caminhos de busca que são [para] pensar:/um, [o] que é e que não é não ser, / é o caminho
da persuasão (pois acompanha a Verdade); / outro [o] que não é e que é necessário não ser, / este, advirto-te, é [um] caminho em que nada se pode aprender /
porque nem poderás conhecer o que não é (pois [tal] não [é] factível) / nem mencioná-lo."[9]

Parmênides de Eléia negou, assim, a possibilidade de transformação na natureza, afirmando que tudo que existe sempre existiu, pois nada que existe
pode ter surgido do nada ou se transformar em nada. As transformações observadas na natureza, para ele, eram apenas ilusão dos sentidos, e confiava apenas
na razão.

Para ele, ainda, o Ser é único, absoluto, imutável e imóvel, conforme se depreende do seguinte fragmento:

“Um só caminho resta ao discurso: que o ser é.

E nesse caminho há muitos sinais indicadores.

O ser é ingerado e imperecível:

Com efeito, é um todo, imóvel e sem fim.

Não era antes e nem será,

Porque é tudo junto agora, uno e contínuo.

Com efeito, que origens buscarias dele?

Como e onde teria ele crescido?

Do não-ser não te permito dizer nem pensar:

Com efeito não é possível dizer nem pensar o o que não é.

E que necessidade o teria impelido a nascer

Antes ou depois, se ele derivasse do nata?

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Assim, é necessário que seja de todo ou não seja absolutamente.

E a força da crença veraz tampouco concederá

Que do ser nasça algo diferente dele

Por essa razão, Dike não concedeu-lhe,

Alentando-lhe os cepos nem o nascer nem o perecer,

Mas o segura solidamente.

O juízo sobre essas coisas nisto se resume:

É ou não é.

E assim se estabeleceu, por força de necessidade,

Que se deve deixar um dos caminhos,

Porque impensável e inexprimível,

Porque não é o caminho do verdadeiro,

Pois o verdadeiro é o outro.

E como poderia existir o ser no futuro?

E como poderia nascer?

Com efeito, se nasce, não é,

E se é para ser no futuro, nem mesmo é.

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Assim o nascer se apaga e desaparece o perecer”.

IX – Outros.

Podemos citar, ainda, Empédocles de Agrigento, que tentou conciliar as teorias de Heráclito e Parmênides, afirmando que havia quatro elementos
básicos: a terra, o ar, o fogo e a água. A transformação vista por Heráclito seria a combinação entre esses elementos, e não as suas transformações.

Anaxágoras de Clazômena (500 – 428 a.C.), defendeu que tudo era dividido em partículas invísiveis a olho nu, e que essas partículas estavam
presentes em tudo, se mostrando de uma forma ou outra, segundo a predominância de uma outra. Tudo está em tudo.

Demócrito de Abdera (460 – 360 a.C.), concordava que as coisas eram compostas de minúsculas partículas indivisíveis, as quais denominou
ÁTOMOS, os quais eram eternos e de diversas naturezas e podiam se combinar de infinitas formas, dando, assim, origem às mais diversas espécies de
coisas.

Zenão de Eléia (464-1 a.C.), foi discípulo de Parmênides e teve atuação política destacada. Sempre lutando contra os tiranos, conforme expõem
Giovanni Reale e Dante Antiseri, chegou mesmo a cortar sua própria língua para não confessar denunciar os companheiros de revolta. Na filosofia, foi um
árduo defensor da impossibilidade do movimento, consoante a doutrina de Parmênides. Seu método foi o de rejeitar as teorias contrárias a Parmênides pela
sua refutação absurda, isto é, mostrando o absurdo das teorias contrárias. Pode-se dizer, assim, que foi um dos precursores da dialética.

Quanto ao movimento, é valiosa sua formulação lógica para negação do movimento ao afirmar que para um objeto se mover de um ponto a outro,
deveria percorrer primeiro a metade do percurso, depois, a metade da outra metade, e depois a metade da metade da metade e assim por diante, de forma que
sempre restaria uma metade a ser cumprida.

Outro argumento é da flecha que não poderia jamais alcançar o alvo, porque está parada e não em movimento, como mostra a aparência. E explica
Zenão, a flecha ocupa um lugar no espaço em cada instante do tempo, e pois, na soma dos instantes, também está parada.

Bibliografia

PRÉ-SOCRÁTICOS, Col. “Os Pensadores”, vol. 1, seleção de textos e supervisão do prof. Dr. José Cavalcante de Souza, São Paulo,

Abril Cultural, 1978.

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Bibliografia Complementar

CHAUI, M. Filosofia, Série Novo Ensino Médio, Volume Único, São Paulo, Editora Ática, 2004.

CHAUI, M. Introdução à História da Filosofia – dos pré-socráticos a Aristóteles, Volume 1, São Paulo, Cia. das Letras, 2002.

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