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APOSTILA DE FILOSOFIA 

– 1º. Ano
BIBLIOGRAFIA:
         CHAUI, Marilena. Introdução à Filosofia. São Paulo: Ática, 2010.
         COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia. São Paulo: Saraiva
         ARANHA, MARIA L. A. Filosofando – introdução à filosofia. São Paulo: Moderna.
         GALLO, Silvio; KOHAN, Walter (org.). Filosofia no ensino médio. Petrópolis/RJ: Vozes, 2000.

CAP. 01: A ORIGEM DA FILOSOFIA


A PALAVRA FILOSOFIA

A duas
palavra “filosofia”, de origem grega, é composta de
 
outras: Philo e Sophia. Philo quer dizer “aquele
ou aquela que tem um sentimento amigável”, deriva
de philia que significa “amizade e amor
fraterno”. Sophia quer dizer “sabedoria” e dela vem a
palavra sophós, sábio.
Filosofia significa, portanto, “amizade pela sabedoria”
ou “amor e respeito pelo saber”. Filósofo: o que ama ser
sábio, que é amigo do sábio ou tem amizade pelo saber,
deseja ser sábio. Assim, filosofia indica a disposição
interior de quem estima o saber, ou o estado de espírito
da pessoa que deseja o conhecimento, o procura e o
respeita.
Atribui-se ao filósofo grego Pitágoras
de Samos a invenção da palavra filosofia.
Pitágoras teria afirmado que a sabedoria
plena e completa pertence aos deuses,
mas que os homens podem desejá-lo ou
amá-la, tornando-se filósofos.
Dizia Pitágoras que três tipos de
pessoas compareciam aos jogos
olímpicos (a festa pública mais importante
da Grécia): 1) As que iam para comerciar durante os
jogos, ali estando apenas para satisfazer a própria cobiça,
sem se interessar pelos torneios; 2) As que iam
para competir e brilhar, isto é, os atletas e artistas (pois
durante os jogos também havia competições artísticas de
dança, poesia, música e teatro); e 3) As que iam
para assistir aos jogos e torneios, para avaliar o
desempenho e julgar o valor dos que ali se apresentavam.
Esse terceiro tipo de pessoa, dizia Pitágoras, é como o
filósofo.
Com isso, Pitágoras queria dizer que o filósofo não é
movido por interesses comerciais ou financeiros – não
coloca o saber como propriedade sua, como uma coisa
para ser comprada e vendida no mercado; também não é
movido pelo desejo de competir -, não é um “atleta
intelectual”, não faz das ideias e dos conhecimentos uma
habilidade para vencer competidores; e, sim, é movido
pelo desejo de observar, comtemplar, julgar e avaliar as
coisas, as ações, as pessoas, os acontecimentos, a vida;
em resumo, é movido pelo desejo de saber. A verdade
não pertence a ninguém (para ser comerciada) nem é um
premio conquistado por competição. Ela está diante de
todos nós como algo a ser procurado e é encontrada por
todos aqueles que a desejarem, que tiverem olhos para
vê-la e coragem para buscá-la.
A filosofia surgiu quando alguns gregos, admirados
e espantados com a realidade, insatisfeitos com as
explicações que a tradição lhes dera, começaram a fazer
perguntas e buscar respostas para elas, demonstrando
que o mundo e os seres humanos, os acontecimentos
naturais e as coisas da natureza, os acontecimentos
humanos e as ações dos seres humanos podem ser
conhecidos pela razão humana, e que a própria razão é
capaz de conhecer-se a si mesma.
Em suma, a filosofia surgiu quando alguns
pensadores gregos se deram conta de que a verdade do
mundo e dos humanos não era algo secreto e misterioso
que precisasse ser revelado por divindades a alguns
escolhidos, mas que, ao contrário, podia ser conhecida
por todos por meio das operações mentais de raciocínio,
que são as mesmas em todos os seres humanos. Esses
pensadores descobriram também que a linguagem
respeita as exigências do pensamento e que, por esse
motivo, os conhecimentos verdadeiros podem ser
transmitidos e ensinados a todos.

1.1 - O NASCIMENTO DA FILOSOFIA

O s historiadores da filosofia dizem que ela possui data e


local de nascimento: final do século VII a.C e inicio do
século VI a.C, nas colônias gregas da Ásia menor
(particularmente as que formavam uma
região demoninada Jônia), na cidade de
Mileto. E o primeiro filósofo foi Tales de
Mileto.  
Além de possuir data e local de
nascimento e de possuir o seu primeiro
autor, a filosofia também possui um
conteúdo preciso ao nascer: é
uma cosmologia. Assim, a filosofia
nasce como conhecimento racional da
ordem do mundo ou da natureza, donde
cosmologia.
Apesar da segurança desses dados, existe um
problema que, durante séculos, vem ocupando os
historiadores da filosofia: o de saber se a filosofia (que é
um fato especificamente grego) nasceu por si mesma ou
dependeu de contribuiçoes da sabedoria
oriental (egipcios, assirios, persas, caldeus, babilônios) e
da sabedoria de civilizaçoes que antecederam à grega,
na região que, antes de ser a Grécia ou a Hélade,
abrigara as civilizaçoes de Creta, Minos, Tirento e
Micenas.
Durante muito tempo, considerou-se que a filosofia
nascera por transformaçoes que os gregos operaram na
sabedoria oriental (egípicia, persa, caldeia, fenícia e
babilônica). Assim, filósofos como Platão, Aristóteles
afirmavam a origem oriental da filosofia. Os gregos, diziam
eles, povo de comerciantes e navegantes,
descobriram, por meio das viagens, a agrimensura dos
egípcios (usada para medir as terras, após as cheias do
Nilo), a astrologia dos caldeus e babilônios (usada para
prever grandes guerras, ascencáo e queda de reis,
catástrofes como peste, fome, furacões),
as genealogias dos persas (enumeração das linhagens de
pais e filhos usadas para dar continuidade às dinastias
dos governantes), os mistérios religiosos
orientais referentes aos rituais de purificaçao da alma
(para livrá-la da reencarnaçao contínua e garantir-lhe o
descanso eterno) etc. A filosofia teria nascido pelas
transformações que os gregos impuseram a esses
conhecimentos.
Dessa forma, da agrimensura, os gregos fizeram
nascer duas ciencias: a aritimética e a geometria; da
astrologia fizeram surgir também duas ciencias: a
astronomia e a meteorologia; das genealogias, fizeram
surgir mais outra ciência: a história; dos mistérios
religiosos de purificação da alma, fizeram surgir
a psicologia ou as teorias filosoficas sobre a natureza e
o destino da alma humana.
Todos esses acontecimentos, propriamente gregos,
teriam propiciado o aparecimento da filosofia, de sorte que
esta só teria podido nascer graças ao saber oriental.
Essa ideia de uma filiação oriental da filosofia foi muito
defendida oito séculos depois de seu nascimento (durante
os séculos II e III d.C), no período do Império Romano.
Quem a defendia? Pensadores judaicos, como Filo de
Alexandria, e pensadores cristãos ou os primeiros Padres
da Igreja, como Eusébio de Cesareia e Clemente de
Alexandria.
Por que defendiam a origem oriental da filosfia
grega? Pelo seguinte motivo: a filosofia grega tornara-se,
em toda a Antiguidade clássica, e para os poderosos da
época, os romanos, a forma superior ou mais elevada do
pensamento e da moral.

1.2 - CONDIÇÕES HISTÓRICAS PARA O SURGIMENTO


DA FILOSOFIA

Esclarecida a relação entre filosofia e mito, temos ainda


duas questoes a elucidar: o que tornou possivel o
surgimento da filosofia na Grécia no final do século
VII eno inicio do século VI a.C? quais as condições
materiais, isto é, economicas, sociais, políticas e
históricas que permitiram o surgimento da filosofia?
Podemos apontar como principais condiçoes históricas
para o surgimento da filosofia na Grécia:
1)      As viagens marítimas: que permitiram aos gregos
descobrir que os locais que os mitos diziam habitados por
deuses, titãs e herois eram, na verdade, habitados por
outros seres humanos; e que as regiões dos mares que os
mitos diziam habitados por monstros e seres fabulosos
não possuiam nem monstros nem seres fabulosos. As
viagens produziram o desencantamento ou
a desmitificação do mundo, que passou, assim, a exigir
uma explicação sobre a origem, explicação que o mito já
não podeia oferecer;
2)      A invenção do calendário: que é uma forma de
calcular o tempo segundo as estaçoes do ano, as horas
do dia, os fatos importantes que se repetem, revelando,
com isso, uma capacidade de abstração nova ou uma
percepçao do tempo como algo natural e não como uma
força divina incompreensível.
3)      A invenção da moeda: que permitiu uma forma de
troca que não se realiza como escambo ou em espécie
(isto é, coisas trocadas por outras coisas) e sim uma troca
abstrata, uma troca feita pelo cálculo do valor semelhante
das coisas diferentes, revelando, portanto, uma nova
capacidade de abstração e de generalização;
4)      O surgimento da vida urbana: com predominio do
comércio e do artesanato, dando desenvolvimento a
técnicas de fabricação e de troca, e diminuindo o prestígio
das famílias aristocráticas proprietárias de terras, por
quem e para quem os mitos foram criados; além disso, o
surgimento de uma classe de comerciantes ricos, que
precisava encontrar pontos de poder e de prestígio para
suplantar o velho poderio da aristocracia de terras e de
sangue (as linhagens constituidas pelas famílias), fez com
que essa nova classe social procurasse o prestígio pelo
patrocínio e estímulo às artes, às técnicas e aos
conheicmentos, favorecendo uma ambiente onde a
filosofia poderia surgir;
5)      A invenção da escrita alfabética: que, com a do
calendário e da moeda, revela o crescimento da
capacidade de abstraçao e de generalização, uma vez
que a escrita alfabética ou fonética, diferentemente de
outras escritas – como, por exemplo, os hieróglifos dos
egípcios ou os ideogramas dos chineses - , supõe que
não se represente uma imagem da coisa que está sendo
dita, e sim se oferecá um sinal ou signo abstrato (uma
palavra) dela. Além disso, enquanto nas outras escritas,
para cada sinal corresponde uma coisa ou ideia, na
escrita alfabética ou fonética as letras sao independentes
e podem ser combinadas de formas variadas em palavras
e estas podem ser distribuidas de formas variadas para
exprimir ideias. Ou seja, nas outras escritas, o signo
representa a coisa assinalada, enquanto na escrita
alfabética a palavra designa uma coisa e exprime uma
ideia. Nas outras escritas, há a tendência a sacralizar os
sinais e os signos, ou a lhes dar um caráter mágico,
enquanto a escrita alfabética é inteiramente leiga abstrata,
racional e usada por todos;
6)      A invenção da Política: que introduz três aspectos
novos e decisivos para o nascimento da filosofia:
a)      A ideia da lei como expressao da vontade de uma
coletividade humana que decide por si mesma o que é
melhor para si e como ela definirá suas relações internas.
O aspecto legislado e regulado da cidade – da polis –
servirá de modelo para a filosofia propor o aspecto
legislado, regulado e ordenado do mundo como um
mundo racional.
b)      O surgimento de uma espaço político, que faz
aparecer um novo tipo de palavra ou de discurso,
diferente daquele que era proferido pelo mito. Neste, um
poeta-vidente, que recebia das deusas ligadas à memória
(a deusa Mnemosyne, mãe das Musas que guiavam o
poeta) uma iluminação misteriosa ou uma revelação
sobrenatural, dizia aos homens quais eram as decisões
dos deuses  a quem eles deveriam obedecer. Agora, com
a pólis, isto é, a cidade política, surge a palavra como
direito de cada cidadão de emitir em público sua opinião,
discutí-la com os outros, persuadi-los a tomar uma
decisão proposta por ele, de tal modo que surge o
discurso político como palavra humana compartilhada,
como diálogo, discussão e deliberação humana, isto é,
como decisão racional e exposição dos motivos ou das
razoes para fazer ou nao fazer alguma coisa. A política,
ao valorizar o humano, o pensamento, a discussão, a
persuasão e a decisão racional, valorizou o pensamento
racional e criou condições para que surgisse o discurso ou
a palavra filosófica.
c)      A política estimula o pensamento e um
discurso que nao procuram ser formulados por seitas
secretas dos iniciados em mistérios sagrados, mas que
procuram, ao contrário, ser públicos, ensinados,
transmitidos, comunicados e discutidos. A ideia de um
pensamento que todos podem compreender e discutir,
que todos podem comunicar e transmitir, é fundamental
para a filosofia.
1.3 MITO E FILOSOFIA
Quando pensamos em mitos, hoje, imediatamente
lembramos de alguns mitos gregos, como o de Pandora,
que abriu a caixa proibida soltando todos os males,
restando somente a esperança, ou ainda do saci-pererê,
de Tupã e outras lendas que povoaram a nossa infância e
que têm origem nas culturas indígena ou africana. Para
nós, portanto, os mitos primitivos não passam de
histórias fantasiosas que são contadas ao lado das
histórias da Branca de Neve ou da Bela Adormecida. O
mito, porém, não é isso. Quando vira uma história, uma
lenda, ele perde a sua força de mito.
1)      O que é o mito
Um mito é uma narrativa fantástica
sobre a origem de alguma
realidade transmitida oralmente por
alguém que foi escolhido pelas
divindades para tal função. Falam
sobre a origem dos astros, da Terra,
dos homens, das plantas, dos
animais, do fogo, da água, dos ventos,
do bem e do mal, da saúde e da doença, da morte, dos
instrumentos de trabalho, das raças, das guerras, do
poder, etc..
A palavra mito (  ), e deriva de dois verbos: do
verbo   (contar, narrar, falar alguma coisa para os
outros) e do verbo   (conversar, contar, anunciar,
nomear, designar). Para os gregos, mito é um discurso
pronunciado ou proferido para ouvintes que recebem
como verdadeira a narrativa, porque confiam naquele
que narra; é uma narrativa feita em público, baseada,
portanto, na autoridade e confiabilidade da pessoa do
narrador. E essa autoridade vem do fato de que ele ou
testemunhou diretamente o que está narrando ou recebeu
a narrativa de quem testemunhou os acontecimentos
narrados.
Quem narra o mito? O poeta-rapsodo. Quem é ele?
Por que tem autoridade? Acredita-se que o poeta é um
escolhido dos deuses, que lhe mostram os
acontecimentos passados e permitem que ele veja
a origem de todos os seres e de todas as coisas para que
possa transmiti-la aos ouvintes. Sua palavra - o mito - é
sagrada porque vem de uma revelação divina. O mito é,
pois, incontestável e inquestionável.
2)      Funções do mito
O mito possui três funções principais:
1.      Explicar – o presente é explicado por alguma ação
que aconteceu no passado, cujos efeitos não foram
apagados pelo tempo, como por exemplo, uma
constelação existe porque, há muitos anos, crianças
fugitivas e famintas morreram na floresta, mas uma deusa
levou-as para o céu e transformou-as em estrelas.
2.      Organizar – o mito organiza as relações sociais, de
modo a legitimar e determinar um sistema complexo de
permissões e proibições. O mito de Édipo existe em várias
sociedades e tem a função de garantir a proibição do
incesto, por exemplo. O “castigo” destinado a quem não
obedece às regras funciona como “intimidação” e garante
a manutenção do mito.
3.      Compensar – o mito conta algo que aconteceu e não
é mais possível de acontecer, mas que serve tanto para
compensar os humanos por alguma perda, como para
garantir-lhes que esse erro foi corrigido no presente,
oferecendo uma visão estabilizada da Natureza e do meio
que a cerca (Chauí, p. 162).
3)      Características do mito
O mito tal como é vivido nas sociedades arcaicas tem as
seguintes características:
         É a história dos atos dos seres sobrenaturais.
         Esta história é considerada VERDADEIRA (porque se
refere a realidades) e SAGRADA (porque é obra de seres
sobrenaturais).
         Relata uma CRIAÇÃO: conta como algo veio à
existência ou como um comportamento, uma instituição,
uma maneira de trabalhar teve origem.
         Permite conhecer a origem das coisas e, portanto,
dominá-la e manipulá-la voluntáriamente. Este
conhecimento nao é exterior abastrato acerca das coisas,
mas interior e concreto.
         O homem mítico "vive" o mito, sentindo que o poder
sagrado, não é uma experiência cotidiana, é uma
experiência de Religar (re-ligação com a divindade) é uma
experiência religiosa.
4)      Diferença entre Mito, Lenda e Fábula
         FÁBULA - é uma narrativa alegórica, em forma de
prosa ou verso, cujos personagens são geralmente
animais com características humanas, sustentam um
diálogo, cujo desenlace reflete uma lição de moral
         LENDA – é uma narrativa de cunho popular que é
transmitida, principalmente de forma oral, de geração para
geração. As lendas não podem ser comprovadas
cientificamente, pois são frutos da imaginação das
pessoas que as criaram. O universo imaginário popular
possui muitas lendas. No folclore brasileiro, as lendas
mais conhecidas são: Curupira, Saci-Pererê, Iara, Mula-
sem-cabeça, Boto cor-de-rosa, Boitatá, entre outros. A
lenda do lobisomem é conhecida e reproduzida
mundialmente.
         MITO - É uma narrativa fantástica sobre a origem das
coisas por meio das forças divinas (deuses).
Exemplos: Zeus (deus dos céu), Atena (deusa da
sabedoria), Pandora (origem dos males e
sofrimentos), Prometeu (origem do fogo) ...
5)      O mito hoje
Em nossos dias, os mitos são diferentes? O
pensamento crítico e reflexivo, que teve início com os
primeiros filósofos, na Grécia do século VI a. C, e o
desenvolvimento do pensamento científico a partir do
século XIV, com o Renascimento, ocuparam todo o lugar
do conhecimento e condenaram à morte o modo mítico de
nos situarmos no mundo humano.
Negar o mito é negar uma das formas fundamentais
da existência humana. O mito é a primeira forma de dar
significado ao mundo: fundada no desejo de segurança, a
imaginação cria histórias que nos tranquilizam, que são
exemplares e nos guiam no dia-a-dia. Continuamos a
fazer isso pela vida afora, independente de nosso
desenvolvimento intelectual. Essa função de criar
fábulas subsiste na arte popular e permeia a nossa vida
diária.
Hoje em dia, os MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE
MASSA trabalham em cima dos desejos e anseios que
existem na nossa natureza inconsciente e primitiva. Os
super-heróis dos desenhos animados e dos
quadrinhos, bem como os personagens de
filmes como Superman, Homem Aranha, Ben 10 e outros,
passam a encarnar o Bem e a Justiça e assumem a nossa
proteção imaginária, exatamente porque o mundo
moderno, com sequestros, violência e instabilidade no
emprego, especialmente nos grandes centros urbanos,
revela-se cada vez mais um lugar extremamente inseguro.
No campo POLÍTICO, certas figuras são
transformadas em HERÓIS, pregando um modelo de
comportamento que promete combater, além da inflação,
a corrupção, os privilégios e demais mordomias.
Prometem, ainda, levar o país ao desenvolvimento,
colocando-o no Primeiro Mundo. Prometem riqueza para
todos. Têm de ganhar a eleição, não é?
Também ARTISTAS e ESPORTISTAS podem ser
transformados em modelos exemplares: são fortes,
saudáveis, bem-alimentados, têm sucesso na
profissão — SUCESSO que é traduzido em
reconhecimento social e poder econômico —,
são excelentes pais, filhos e maridos, vivem cercados
de pessoas bonitas, interessantes e ricas. Como não
mitificá-los?
Até a NOVELA, ao trabalhar a luta entre o Bem e o
Mal, está lidando com valores míticos, pré-reflexivos, que
se encontram dentro de todos nós. Aliás, nas novelas, o
casamento também é transformado em mito: é o
grande anseio dos jovens enamorados, é a solução de
todos os problemas, o apaziguamento de todas as
paixões e conflitos. Por isso quase todas terminam com
um verdadeiro festival de casamentos.
Só que os astros transformados em mito são heróis
sem poder real: têm somente poder simbólico no
imaginário da população. E as festas de formatura, de
Ano Novo, os trotes dos calouros, o baile de quinze
anos, não são em tudo semelhantes aos rituais de
passagem? Da morte de um estado e passagem para
outro?
Assim, vemos que mito e razão se complementam
nas nossas vidas. Só que o mito de hoje, se ainda tem
força para inflamar paixões, como no caso dos astros, dos
políticos ou mesmo de causas políticas ou religiosas, não
se apresenta mais com o caráter existencial que tinha o
mito primitivo. Ou seja, os mitos modernos não
abrangem mais a totalidade do real. Podemos escolher
um mito da sexualidade (Madonna, talvez?), outro da
maternidade, outro do profissionalismo, sem que tenham
de ser coerentes entre si. Sem que causem uma
revolução em toda nossa vida.
Assim como houve uma especialização do trabalho,
parece que houve uma especialização dos mitos. De
qualquer forma, como mito e razão habitam o mesmo
mundo, o pensamento reflexivo pode rejeitar alguns mitos,
principalmente os que veiculam valores destrutivos ou que
levam à desumanização da sociedade. Cabe a cada um
de nós escolher quais serão nossos modelos de vida.

COMO O MITO NARRA A ORIGEM DO MUNDO E DE


TUDO O QUE NELE EXISTE?  
De TRÊS principais maneiras:

1.      Encontrando o pai e a mãe das coisas e dos seres,


isto é, tudo o que existe decorre de relações sexuais entre
forças divinas pessoais. Essas relações geram os demais
deuses: os titãs (seres semi-humanos e semi-divinos),
os heróis (filhos de um deus com uma humana ou de uma
deusa com um humano), os humanos, os metais, as
plantas, os animais, as qualidades, como quente-frio,
seco-úmido, claro-escuro, bom-mau, justo-injusto, belo-
feio, certo-errado, etc..
A narração da origem é, assim, uma genealogia, isto
é, narrativa da geração dos seres, das coisas, das
qualidades, por outros seres, que são seus pais ou
antepassados.
Tomemos um exemplo de narrativa mítica.
Observando que as pessoas apaixonadas estão
sempre cheias de ansiedade e de plenitude, inventam mil
expedientes para estar com a pessoa amada ou para
seduzi-la e também serem amadas, o mito narra a origem
do amor, isto é, o nascimento do deus Eros (que
conhecemos mais com o nome de Cupido), exemplo
extraído do Banquete 203a, de Platão:
"Quando nasceu Afrodite, banqueteavam-se os
deuses, e entre os demais se encontrava também o filho
de Prudência, Recurso. Depois que acabaram de jantar,
veio para esmolar do festim a Pobreza, e ficou na porta.
Ora, Recurso, embriagado com o néctar - pois o vinho
ainda não havia - penetrou o jardim de Zeus e, pesado,
adormeceu. Pobreza então, tramando em sua falta de
recurso engendrar um filho de Recurso, deita-se ao seu
lado e pronto concebe o Amor. Eis por que ficou
companheiro e servo de Afrodite o Amor, gerado em seu
natalício, ao mesmo tempo que por natureza amante do
belo, porque também Afrodite é bela. E por ser filho o
Amor de Recurso e de Pobreza foi esta a condição em
que ele ficou. Primeiramente ele é sempre pobre, e longe
está de ser delicado e belo, como a maioria imagina, mas
é duro, seco, descalço e sem lar, sempre por terra e sem
forro, deitando-se ao desabrigo, às portas e nos
caminhos, porque tem a natureza da mãe, sempre
convivendo com a precisão. Segundo o pai, porém, ele é
insidioso com o que é belo e bom, e corajoso, decidido e
enérgico, caçador terrível, sempre a tecer maquinações,
ávido de sabedoria e cheio de recursos, a filosofar por
toda a vida, terrível mago, feiticeiro, sofista: e nem imortal
é a sua natureza nem mortal, e no mesmo dia ora ele
germina e vive, quando enriquece; ora morre e de novo
ressuscita, graças à natureza do pai; e o que consegue
sempre lhe escapa, de modo que nem empobrece o Amor
nem enriquece, assim como também está no meio da
sabedoria e da ignorância. Eis com efeito o que se dá".
2.      Encontrando uma rivalidade ou uma aliança entre os
deuses que faz surgir alguma coisa no mundo. Nesse
caso, o mito narra ou uma guerra entre forças divinas
ou uma aliança entre elas para provocar alguma coisa no
mundo dos homens.
O poeta Homero, na Ilíada, epopeia que narra a
guerra de Tróia, explica por que, em certas batalhas, os
troianos eram vitoriosos e, em outras, a vitória cabia aos
gregos. Os deuses estavam divididos, alguns a favor de
um lado e outros a favor do outro. A cada vez, o rei dos
deuses, Zeus, ficava com um dos partidos, aliava-se com
um grupo e fazia um dos lados - ou os troianos ou os
gregos - vencer a batalha.
A causa da guerra, aliás, foi uma rivalidade entre as
deusas. Elas apareceram em sonho para o príncipe
troiano Páris, oferecendo a ele seus dons e ele escolheu a
deusa do amor, Afrodite. As outras deusas, enciumadas, o
fizeram raptar a grega Helena, mulher do general grego
Menelau, e isso deu início à guerra entre os humanos.
O mito, narra a origem do mundo e de tudo que
existe nele, e a terceira principal maneira de narração
mítica é:
3.      Encontrando as recompensas
ou os castigos que os deuses dão a
quem lhes obedece ou a quem lhes
desobedece, respectivamente.
Como o mito narra, por exemplo,
o uso do fogo pelos homens? Para os
homens, o fogo é essencial, pois com
ele se diferenciam dos animais,
porque tanto passam a cozinhar os
alimentos, a iluminar caminhos na
noite, a se aquecer no inverno quanto podem fabricar
instrumentos de metal para o trabalho e para a guerra.
Um titã, Prometeu, mais amigo dos homens do que
dos deuses, roubou uma centelha de fogo e a trouxe de
presente para os homens. Prometeu foi castigado
(amarrado num rochedo para que as aves de rapina,
eternamente, devorassem seu fígado) e os homens
também. Qual foi o castigo dos homens?
Os deuses fizeram uma mulher encantadora,
Pandora, a quem foi entregue uma caixa que conteria
coisas maravilhosas, mas que nunca deveria ser aberta.
Pandora foi enviada aos humanos e, cheia de curiosidade
e querendo dar a eles as maravilhas, abriu a caixa. Dela
saíram todas as desgraças, doenças, pestes, guerras e,
sobretudo, a morte. Explica-se, assim, a origem dos males
do mundo.
Vemos, portanto, que o mito narra a origem das
coisas por meio de lutas, alianças e relações sexuais
entre forças sobrenaturais que governam o mundo e o
destino dos homens. Como os mitos sobre a origem do
mundo são genealogias, diz-se que
são cosmogonias e theogonias.
A palavra gonia vem de duas palavras gregas: do
verbo  (engendrar, produzir, gerar, fazer nascer e
crescer) e do substantivo  (nascimento, gênese,
descendência, gênero, espécie). Gonia, portanto, quer
dizer: geração, nascimento a partir da concepção sexual e
do parto. Cosmos, por sua vez, quer dizer mundo
ordenado e organizado. Assim, a cosmogonia é a
narrativa sobre o nascimento e a organização do mundo,
a partir de forças geradoras (pai e mãe) divinas.
Theogonia é uma palavra composta de gonia e  ,
que, em grego, significa: as coisas divinas, os seres
divinos, os deuses. A theogonia é, portanto, a narrativa da
origem dos deuses, a partir de seus pais e antepassados.
A filosofia, ao nascer, é uma cosmologia, uma
explicação racional sobre a origem do mundo e sobre as
causas das transformações e repetições das coisas; para
isso, ela nasce de uma transformação gradual dos mitos
ou de uma ruptura radical com os mitos? Continua ou
rompe com a cosmogonia e a theogonia? Duas foram as
respostas dadas pelos estudiosos.
A primeira delas foi dada nos fins do século XIX e
começo do XX, quando reinava um grande otimismo sobre
os poderes científicos e capacidades técnicas do homem.
Dizia-se, então, que a filosofia nasceu
por uma ruptura radical com os mitos,
sendo a primeira explicação científica da
realidade produzida pelo Ocidente.
A segunda resposta foi dada a partir
de meados do século XX, quando os
estudos dos antropólogos e dos historiadores mostraram
a importância dos mitos na organização social e cultural
das sociedades e como os mitos estão profundamente
entranhados nos modos de pensar e de sentir de uma
sociedade. Por isso, dizia-se que os gregos, como
qualquer outro povo, acreditavam em seus mitos e que a
filosofia nasceu, vagarosa e gradualmente, do interior dos
próprios mitos, como uma racionalização deles.
Poseidon – dues
dos mares
 
Atualmente, consideram-se as duas respostas
exageradas e afirma-se que a filosofia, percebendo as
contradições e limitações dos mitos, foi reformulando
e racionalizando as narrativas míticas, transformando-
as numa outra coisa, numa explicação inteiramente nova
e diferente.

RELAÇÃO DOS PRINCIPAIS DEUSES


GREGOS/ROMANOS

A mitologia grega é bastante rica em termos de contos


e explicações da origem do mundo, a tudo atribuindo os
poderes dos deuses gregos, que segundo a crença geral,
moravam no Monte Olimpo.
Dizem as lendas gregas que, no princípio, havia
somente o grande Caos, do qual surgiram os Velhos
Deuses, ou Titãs, dirigidos pelo deus Cronos (Tempo).
Zeus era um filho de Cronos e chefiou a rebelião da nova
geração dos deuses - chamados Deuses Olímpicos - que
dominaram a Grécia em toda a sua época clássica. Os
principais deuses olímpicos são:

Deus Deus
Função ou Característica
Grego Romano
Pai dos deuses e dos homens, principal
Zeus Júpiter
deus do Olimpo.
Deus do tempo, pai de Zeus. Pertencia à
Cronos Saturno
raça dos titãs.
Hera Juno Rainha dos deuses, esposa de Zeus.
Artista do Olimpo, fazia os raios que Zeus
Hefesto Vulcano lançava sobre os mortais. Filho de Zeus e
Hera.
Poseidon Netuno Senhor do oceano, irmão de Zeus.
Senhor do reino dos mortos, irmão de
Hades Plutão
Zeus.
Ares Marte Deus da guerra, filho de Zeus e Hera.
Deus do sol, da arte de atirar com o arco,
Apolo Febo da música e da profecia. Filho de Zeus e
Latona.
Artemis Diana Deusa da caça e da lua, irmã de Apolo.
Deus da beleza e do amor, nasceu das
Afrodite Vênus
espumas do mar.
Eros Cupido Deus do amor, filho de Vênus.
Deusa da sabedoria, nasceu da cabeça de
Atena Minerva
Zeus.
Deus da destreza e da habilidade, cultuado
Hermes Mercúrio pelos comerciantes. Filho e mensageiro de
Zeus.
Deméter Ceres Deusa da agricultura, filha de Cronos e
Ops.

ATIVIDADE – Trabalho escrito

SUGESTÕES DE FILME: Percy Jackson e o ladrão de


raios

QUESTÕES:

1)      Qual é a temática geral (tema, assunto) do filme?


2)      Quais são os deuses (as) que são citados no filme?
3)      Quais os personagens mitológicos que aparecem no
filme? Pesquise sobre cada um deles
4)      Em que lugar os deuses moram (habitam)?
5)      Faça um resumo geral sobre o tema abordado no
filme. 

Relembrando...
 
A nossa sociedade construiu ao longo de séculos um
conjunto de regras e valores que determinaram o
comportamento dos indivíduos, para que haja condições
de convivência comum.
Segundo Aranha; Martins, 1986, p.  303, “exterior e
anterior ao indivíduo, há uma moral constituída, que
orienta seu comportamento por meio de normas. Em
função da adequação ou não à norma estabelecida, o ato
será considerado moral ou imoral.” Desta forma, podemos
considerar que a organização social depende deste
conjunto de normas para se estabelecer. Segundo as
autoras o ser humano é capaz de produzir interdições.
Com a passagem da natureza à cultura, os usos e
costumes são produzidos passam a ser regulamentados
pelas leis, desta forma, surge à moral para garantir a boa
convivência entre os indivíduos.
Fazendo um contraponto com a imagem apresentada
acima, sobre a evolução do homem, podemos dizer que
sempre existiram relações de poder entre os homens
desde o início da humanidade.   
Vamos recordar as questões levantadas na
problematização:
1.Que tipo de valores você percebe no mundo que o
cerca? Você concorda com eles?
2.O que é caráter histórico-social da moral e o caráter
pessoal? O que é moral?
3.Quais as relações entre a filosofia, a moral e a ética?
4.Como situa o mundo político na atualidade em relação
aos conceitos de moral e ética?
 
Atividade 2:   
 
Observando os costumes, percebemos que estamos
sempre olhando as pessoas e as coisas avaliando,
emitindo juízos de valor sobre cada situação. Professor!
Passe no quadro de giz as seguintes questões para a
discussão, de preferências em grupos:
 
1.Com base em que valores julgam o que acontece ao
seu lado?
2.Quais são os valores que predominam em sua
comunidade? Você concorda com eles, discorda, por
quê?
3.Pelas discussões anteriores percebemos que os
valores morais variam de uma sociedade para outra e
de uma época para outra. O que é moral para você?
4.Existem ou não valores morais válidos para todos os
homens?
5.Como justificar a classificação das ações em
moralmente corretas ou incorretas, justas ou injustas,
boas ou más?
 
A partir destes questionamentos, solicite que se
organizem em grupos de até 5 alunos para discutirem as
questões, anotarem a síntese e apresentar para a turma
após 20 minutos de discussão. Vamos ouvir a fala dos
estudantes e ao final organizar uma sintese integradora
das atividades até o presente.
SUGESTÃO: Outra atividade interessante é a organização
de um glossário de termos que os estudantes irão se
apropriar ao longo das aulas de Filosofia. Para esta
atividade, sugerimos a visita a sites que disponibilizam
glossários on-line, onde os estudantes poderão conhecer
a sua organização para que se organizem. Este glossário
pode ser realizado no caderno do aluno, no final das
páginas. Em um edital na sala, onde vão se
acrescentando palavras a medida que descobrem o seu
significado filosófico, ou mesmo on-line, usando
servidores de escrita colaborativa (maiores informações
em http://portaldoprofessor.mec.gov.br/links_interacao.htm
l?categoria=204) 
 
DICIONÁRIO ESCOLAR DE FILOSOFIA. Disponível
em: http://www.defnarede.com/ acessado em 11/04/2010.
 
Passe no quadro de giz a citação abaixo para discussão:
 
O aumento do grau de consciência e de liberdade, e,
portanto de responsabilidade pessoal no comportamento
moral, introduz um elemento contraditório que irá o tempo
todo, angustiar o homem: a moral, ao mesmo tempo em
que é um conjunto de regras que determina como deve
ser o comportamento dos indivíduos de um grupo, é
também a livre e consciente aceitação das normas.
(ARANHA; MARTINS, 1986, p.  304)
Percebemos que uma atitude somente será moral se
estiver de acordo com nossa opinião, nossas idéias,
nossa aceitação pessoal da norma.  Somente livres
poderemos agir de acordo com nossa consciência, com
responsabilidade nas decisões tomadas. Este é o caráter
pessoal da moral. Quando nos referimos ao caráter social
e pessoal da moral, poderemos agir de acordo com o
dogmatismo ou legalismo (ARANHA; MARTINS, 1986, p.
304), fortalecendo a lei, mas ao mesmo tempo, incutindo
nas pessoas o medo a não-observância da lei. Se
aceitarmos o individualismo, corremos o risco em não
haver mais a moral, uma vez cada ser humano poderá
impor seus desejos e vontades, ou seja, na ausência de
princípios.
A partir do momento que o homem passa a viver no
mundo moralmente estruturado, este deve se apropriar de
uma consciência moral, orientando suas escolhas e seu
discernimento.  O agir humano é caracterizado pela
capacidade de antecipar-se ao resultado a ser alcançado,
tornando o ato moral propriamente voluntário. Neste
sentido o ser humano possui o desejo e a vontade. Sendo
o desejo algo natural do ser humano, mas deve ser
controlado, para que não seja negada a moral.
A complexidade do ato moral reside no fato que ele
provoca efeitos não só na vontade, mas naqueles que a
cercam e na própria sociedade como um todo  [...] para
que um ato seja considerado moral, ele deve ser livre,
consciente, intencional, mas também é preciso que não
seja um ato solitário. (ARANHA; MARTINS, 1986, p. 307)
Para ilustrar o texto apresentado, vamos ouvir este
áudio do Portal do Professor:
     
1.Recurso: Temas recorrentes na literatura: corrupção e
ética: parte 1 [Categorias Literárias] ·        
2.Objetivo do recurso: Abordar o descompasso da
evolução técnica e científica em relação à evolução
moral e ética. Propor reflexão crítica sobre a temática.
Relacionar literatura, aspectos gramaticais e processo
histórico.
3.Link: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/
fichaTecnica.html?id=9970
 
Reproduzimos o texto “O novo manifestado” publicada em
Vida Urbana de Lima Barreto:
 
Eu também sou candidato a deputado. Nada mais justo.
Primeiro: eu não pretendo fazer coisa alguma pela pátria,
pela família, pela humanidade. Um deputado que quisesse
fazer qualquer coisa dessas, ver-se-ia bambo, pois teria,
certamente, os duzentos e tantos espíritos dos seus
colegas contra ele. Contra as suas idéias levantar-se-iam
duas centenas de pessoas do mais profundo bom senso.
Assim, para poder fazer alguma coisa útil, não fará coisa
alguma, a não ser receber o subsídio. Eis aí em que vai
consistir o máximo da minha ação parlamentar, caso o
preclaro eleitorado sufrague o meu nome nas urnas.
Recebendo os três contos mensais, darei mais conforto à
mulher e aos filhos, ficando mais generoso nas facadas
aos amigos. Desde que minha mulher e os meus filhos
passem melhor de cama, mesa e roupas, a humanidade
ganha. Ganha, porque, sendo eles parcelas da
humanidade, a sua situação melhorando, essa melhoria
reflete sobre o todo de que fazem parte. Concordarão os
nossos leitores e prováveis eleitores, que o meu propósito
é lógico e as razões apontadas para justificar a minha
candidatura são bastante ponderosas. De resto, acresce
que nada sei da história social, política e intelectual do
país; que nada sei da sua geografia; que nada entendo de
ciências sociais e próximas, para que o nobre eleitorado
veja bem que vou dar um excelente deputado. Há ainda
um poderoso motivo, que, na minha consciência, pesa
para dar este cansado passo de vir solicitar dos meus
compatriotas atenção para o meu obscuro nome. Ando
mal vestido e tenho uma grande vocação para elegâncias.
O subsídio, meus senhores, viria dar-me elementos para
realizar essa minha velha aspiração de emparelhar-me
com a deschanelesca elegância do senhor Carlos Peixoto.
Confesso também que, quando passo pela Rua do
Passeio e outras do Catete, alta noite, a minha modesta
vagabundagem é atraída para certas casas cheias de
luzes, com carros e automóveis à porta, janelas com
cortinas ricas, de onde jorram gargalhadas femininas,
mais ou menos falsas. Um tal espetáculo é por demais
tentador, para a minha imaginação; e, eu desejo ser
deputado para gozar esse paraíso de Maomé sem passar
pela algidez da sepultura. Razões tão ponderosas e
justas, creio, até agora, nenhum candidato apresentou, e
espero da clarividência dos homens livres e orientados o
sufrágio do meu humilde nome, para ocupar uma cadeira
de deputado, por qualquer Estado, província, ou emirado,
porque, nesse ponto, não faço questão alguma. Às urnas.
Correio da Noite, Rio, 16-1-1915.  
FONTE:  WIKISOURCE. O novo manifesto. Disponível
em: http://pt.wikisource.org/wiki/O_novo_manifesto acessa
do em 27/03/2010 
Atividade 3:   
ROTEIRO DE DISCUSSÃO:
1.Qual o tema apresentado no áudio?
2.Através da literatura o autor apresenta situações
práticas de ética e moral. Quais as conclusões que
podemos tirar deste recurso?
3.Por que há um descompasso entre a evolução técnica
e científica em relação à evolução moral e ética?
 
A partir das discussões levem os estudantes perceberem
que a consciência moral é a faculdade de observar a
própria conduta e formular juízos sobre os atos passados,
presentes e as intenções futuras. Na filosofia prática, a
ética busca aplicar o conhecimento sobre o ser para
construir aquilo que deve ser.  
CATARSE:   
Atividade 4:
 
Momento em que o aluno se aproxima da solução do
problema. É quando o conteúdo empírico se torna
científico. Elaboração teórica da síntese, da nova postura
mental. Para que o estudante expresse o pensamento
elaborado, deverá produzir um texto dissertativo sobre o
tema proposto na aula, onde deverá constar:
 
1.O conceito de moral, de ética, a característica do ato
voluntário. A organização das sociedades em função
da moral e da ética. A moral no tempo e no
espaço.                          
2.Na evolução da sociedade humana o homem vem
construindo diferentes pontos de vista sobre a moral e
a ética: como o estudante percebe isto no modo de
viver das pessoas, no conceito de liberdade, nas
relações de poder. 
 
PRÁTICA SOCIAL FINAL DO CONTEÚDO:   
Atividade 5:     
 
1.Após as discussões sugerimos que os estudantes
passem a observar a comunidade em que vivem,
analisando as concepções de moral e ética. Se
possível, entrevistem diferentes pessoas, inclusive da
comunidade escolar para saber o que pensam ser a
moral e a ética.
2.Propomos a construção de um glossário on-line ou em
um painel (cartazes) na sala de aula, de termos
utilizados nesta série de aulas sobre ética. Estes
termos podem ser ilustrados com desenhos, charges,
histórias em quadrinhos, casos pitorescos... Desta
forma todos podem ter acesso a este material e
compreender as idéias apresentadas.
 
REFERÊNCIAS:   
 
ARANHA, M. L. de A; MARTINS, M. H.
P. Filosofando: introdução à Filosofia. São Paulo:
Moderna, 1986.
COTRIN, Gilberto. Fundamentos da Filosofia: ser, saber
e fazer. São Paulo: Saraiva, 1999.
DREHER, Edmundo H. Saber pensar. São Paulo: Ed.
Champagnat, 1992
LAW, Stephen. Guia Ilustrado Zahar: Filosofia. Rio de
Janeiro: Zahar, 2009.
Recursos Complementares
“Como Sócrates é o fundador da ciência em geral,
mediante a doutrina do conceito, assim é o fundador, em
particular da ciência moral, mediante a doutrina de que
eticidade significa racionalidade, ação racional. Virtude é
inteligência, razão, ciência, não sentimento, rotina,
costume, tradição, lei positiva, opinião comum. Tudo isto
tem que ser criticado, superado, subindo até à razão, não
descendo até à animalidade - como ensinavam os
sofistas. É sabido que Sócrates levava a importância da
razão para a ação moral até àquele intelectualismo que,
identificando conhecimento e virtude - bem como
ignorância e vício - tornava impossível o livre arbítrio.”  
Fonte:  MUNDO DOS FILÓSOFOS. Sócrates. Disponível
em: http://www.mundodosfilosofos.com.br/socrates.htm ac
essado em 28/03/2010. 
Avaliação
A avaliação será realizada durante as aulas, através da
participação dos estudantes, mediante suas produções,
onde deverão expressar o seu entendimento sobre os
seguintes critérios:
1.Compreender o caráter histórico-social da moral e o
caráter pessoal, se posicionando filosoficamente, com
argumentos convincentes. ·        
2.Estabelecer relações da moral com a ética,
compreendendo os conceitos à luz da filosofia.
Refletir, com base no texto "O novo manifesto", de
Lima Barreto, do início do século XX,  sobre a
realidade do mundo político de hoje

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