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Ministério do Meio Ambiente

República Federativa do Brasil Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
Fernando Henrique Cardoso Diretoria de Florestas
Presidente Laboratório de Produtos Florestais
Ministério do Meio Ambiente - MMA
José Carlos Carvalho
Ministro

Secretaria de Qualidade Ambiental e dos Assentamentos


Humanos - SQA
Regina Elena Crespo Gualda
Secretária

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais


Renováveis - IBAMA
Rômulo José Fernandes Barreto Mello
Presidente SECAGEM DA MADEIRA
Diretoria de Florestas - DIREF
Humberto Candeias Cavalcanti
Márcia Helena Bezerra Marques
Diretor
Varlone Alves Martins
Laboratório de Produtos Florestais - LPF
Marcus Vinicius da Silva Alves
Chefe

Brasília, 2002
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Apresentação
Renováveis - IBAMA
Laboratório de Produtos Florestais - LPF
O Brasil Joga Limpo é um programa de governo elaborado pelo Ministério do Meio
SAIN - Av. L4 - Lote 4
Ambiente, com a finalidade de desenvolver ações de melhor gestão dos resíduos nas
70818-900 - Brasília, DF - Brasil
Tel.: (61) 316-1209/316-1526 cidades e no campo por meio de um trabalho conjunto e participativo, integrando gov-
Fax: (61) 316-1515/225-1182 er-no e comunidade com vantagens no aspecto ambiental e social. O Brasil Joga Limpo é
site: http://www.ibama.gov.br um dos 305 programas que integram o Plano Plurianual 2000-2003, o Avança Brasil. São
e-mail: lpf@lpf.ibama.gov.br
objetivos deste programa: diminuir a geração de resíduos, aumentar a reciclagem e o
Esta publicação do curso para capacitação de agentes multiplicadores reaproveitamento dos mesmos, em consonância com as normas ambientais.
em valorização da madeira e resíduos vegetais tornou-se viável por Esta publicação é parte integrante de um conjunto de oito módulos que formam o
intermédio do convênio MMA/IBAMA/2001-06, da Secretaria de
Qualidade Ambiental nos Assentamentos Humanos, convênio esse curso "Capacitação de Agentes Multiplicadores em Valorização da Madeira e dos Resíduos
que tem a coordenação, pelo MMA, de Paulo Brum Ferreira e, pelo Vegetais". Essa ação educativa foi proposta pela Secretaria de Qualidade Ambiental nos

Secagem da Madeira
LPF/IBAMA, de Waldir Ferreira Quirino. Assentamentos Humanos - SQA, cuja execução está sobre a responsabi-lidade do
Laboratório de Produtos Florestais - LPF.
Conteúdo Técnico O conteúdo do curso está lastreado na experiência desse Laboratório, acumulada em
Márcia Helena Bezerra Marques vários anos de pesquisa e aborda o correto processamento da madeira. Com isso, se
Varlone Alves MArtins
pode reduzir, significativamente, a geração de resíduos, além de possibilitar a reciclagem
Coordenação Editorial
João Humberto de Azevedo e transformação dos mesmos em novas matérias-primas ou insumos agrícolas, gerando
Tratamento Redacional energia e também uma infinidade de outros produtos de boa qualidade.
Guido Heleno
Diagramação e Arte Final
Dentro desse programa de capacitação serão apresentadas as tecnologias de manejo
Felipe Venâncio Alves de resíduos, exemplificando, também, os processos disponíveis no Brasil e em outros
Projeto Editorial/impressão países. Essas tecnologias podem ser utilizadas para valorização de resíduos da indústria
madeireira, bem como para todos os oriundos da agricultura.
A expectativa é que, integrando gestão ambiental com valorização e conservação dos
recursos naturais e, ao mesmo tempo, considerando possíveis adequações em função das
características regionais, este material favoreça a adoção das tecnologias apropriadas. E
O material desta publicação pode ser reproduzido, desde que citada a fonte.
O conteúdo é de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es).
assim, gradativamente, é possivel que se consiga promover um maior e melhor aproveit-
amento dos potenciais agroflorestais, agregando valor a esses produtos, gerando
1ª Edição: 1ª Impressão (2002): 1.800 exemplares
M357s Marques, Márcia Helena Bezerra.
empregos e promovendo avanços no bem-estar social e ambiental das comunidades.
Secagem da Madeira / Márcia Helena Bezerra Marques,
Varlone Alves Martins. - Brasília: LPF, 2002.
47 p. :il. ; 21x27 cm.

Curso para capacitação de agentes multiplicadores em Regina Elena Crespo Gualda


valorização da madeira e resíduos vegetais
Secretária de Qualidade Ambiental
Inclui Bibliografia nos Assentamentos Humanos
ISBN 85-7300-136-4
do Ministério do Meio Ambiente
1. Madeira. 2. Secagem da madeira. 3. Processo físico-
químico. I. Martins, Varlone Alves. II. Ministério do Meio
Ambiente. III. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis. IV. Laboratório de Produtos
Florestais. V. Título.

CDU 674.04
Sumário

1. Introdução 7
2. Vantagens e importância do processo de secagem 7
3. Água na madeira 8
3.1 Tipos de água existentes na madeira 8
3.2 Teor de umidade 9
3.2.1 Determinação do teor de umidade 9
3.3 Ponto de saturação das fibras (PSF) 10
4. Contração e inchamento 10

Secagem da Madeira
5. Como a madeira seca 12
6. Características da madeira que influem na secagem 13
7. Fatores externos que influenciam na velocidade da secagem 14
8. Tipos de secagem 17
8.1 Secagem natural ou ao ar livre 17
8.1.1 Pátio de secagem 17
8.1.2 Empilhamento 18
8.1.3 Recomendações sobre empilhamento 23
8.1.4 Recomendações técnicas sobre secagem ao ar livre, em regiões
de clima seco, para reduzir o índice de defeitos das madeiras
com tendência a rachar ou empenar 23
8.2 Secagem artificial 23
8.2.1 Secagem a baixas temperaturas 24
8.2.1.1 Secagem solar 24
8.2.1.2 Secagem por desumidificação 25
8.2.1.3 Pré-secagem 26
8.2.2 Secagem a altas temperaturas 27
8.2.3 Secagem convencional 27
8.2.4 Secagem convencional em estufa à base de queima de
resíduos (IBAMA/INPA) 29
9. Controle do processo de secagem 30
10. Preparo da carga 30
10.1 Seleção de tábuas para secagem em estufa 30
10.2 Entabicamento 31
11. Amostras-teste 33
12. Programa de secagem 34
12.1 Aquecimento 36
12.2 Secagem 36
12.3. Igualação ou equalização e acondicionamento 36 1. Introdução
13. "Teste do garfo"` 37 A secagem é uma das etapas de fundamental importância no processamento da
14. Defeitos da secagem 39 madeira, pois, além de possibilitar a melhoria de diversas propriedades dessa matéria-pri-
14.1 Rachaduras 39 ma, conferindo-lhe qualidade, agrega valor ao produto final, aumentando sua vida útil.
Conseqüentemente, obtém-se uma maior aceitação junto ao mercado consumidor, asse-
14.2 Empenamentos 40
gurando a continuidade do comércio de produtos madeireiros.
14.3 Colapso 40 O processo de secagem consiste em reduzir o teor de umidade da madeira até um
14.4 Endurecimento 41 valor definido de acordo com o uso a que essa madeira se destina. Para que a secagem
14.5 Mancha marrom (mancha química) 41 seja eficiente, o processo deve ser conduzido no menor tempo possível, de forma eco-
nomicamente viável e resultar em madeira com o mínimo de defeitos.
15. Registro de operações 41
Sob o ponto de vista da conservação dos recursos florestais, a secagem é de funda-
16. Armazenamento da madeira 42 mental importância uma vez que aumenta a vida útil dos produtos madeireiros, contribui
16.1 Armazenamento de toras 42 para a melhor utilização da madeira e reduz a quantidade de resíduos que normalmente
16.2 Armazenamento de madeira serrada 45 são lançados no meio ambiente.

Secagem da Madeira
Nesta obra faz-se uma ampla abordagem sobre a secagem da madeira, tornando
Secagem da Madeira

16.2.1 Ao ar livre 43
disponíveis informações técnicas que, certamente, contribuirão para um melhor conhec-
16.2.2 Em galpão aberto 43
imento do processo por parte do segmento madeireiro/mobiliário do país.
16.2.3 Em galpão fechado 43
17. Considerações sobre a adoção do método de secagem 2. Vantagens e importância do processo de secagem
pela indústria 44
a - Estabilidade das dimensões da madeira
Referências bibliográficas 46 A madeira se contrai à medida que vai secando e se expande quando sua umidade
aumenta. Quando a madeira seca até o teor de umidade final apropriado, a maior parte
da contração já ocorreu. Dessa forma, quando a madeira estiver em uso, haverá menos
movimento dimensional e, conseqüentemente, redução na ocorrência de empenos,
rachaduras ou qualquer outra alteração devido à secagem.
b - Redução dos riscos de manchas e apodrecimentos
Quando verde, a madeira é atacada por fungos e insetos que a degradam, diminuindo
sua resistência mecânica (fungos apodrecedores e insetos), alterando sua aparência (fun-
gos manchadores) e, conseqüentemente, reduzindo seu valor comercial. Abaixo de 20%
de umidade, a madeira é, praticamente, imune à maioria dos fungos e a alguns insetos.
c - Redução do peso
A secagem reduz o peso da madeira, tornando mais barato o seu transporte. Com a
redução do teor de umidade, a madeira fica mais leve e uma maior quantidade poderá
ser transportada por carga. Esse fato contribui para um menor custo final do produto.
d - Melhor tratabilidade
A madeira absorve mais facilmente preservantes ou retardantes para fogo quando
seu teor de umidade está abaixo de 20%. Além disso, pinturas, vernizes, ceras e outros
materiais de acabamento fixam-se melhor em superfícies secas.
e - Aumento da resistência mecânica
Quando a madeira está seca, suas propriedades mecânicas passam a ter uma sensí-
vel melhora, com exceção da tração perpendicular às fibras e a resistência ao impacto.
f - Melhora das características de trabalhabilidade
A madeira seca apresenta melhores resultados de aplainamento, lixamento, furação, etc.
g - Propriedade de pega
Na fabricação de produtos colados, a madeira seca é muito mais indicada, uma vez
que a alta porcentagem de umidade não permite uma boa aderência.
h - Melhor fixação de pregos e parafusos 3.2 Teor de umidade
Juntas cravadas em madeira verde podem perder até metade da resistência. É a quantidade de água que uma peça de madeira contém, expressa como porcen-ta-
i - Propriedades de isolamento gem do seu peso seco em estufa a (103±2)ºC. Quando a quantidade de água for igual à
quantidade de madeira seca, o teor de umidade será de 100% e, quando for maior, o teor
A condução de calor é menor na madeira seca do que na verde. Além disso, a madei-
de umidade será maior que 100%. Para algumas aplicações, como papel e celulose, o
ra seca é isolante elétrico e acústico.
teor de umidade pode ser expresso como porcentagem do peso verde. Uma árvore viva
3. Água na madeira pode conter desde 35% até mais de 200% de teor de umidade, como é o caso do pau-
de-balsa, que pode atingir 400%. Essa variação significativa de umidade pode ocorrer não
Toda árvore em crescimento contém quantidade considerável de água, comumente só entre espécies de madeira, mas também dentro de uma mesma árvore. O alburno,
chamada de seiva. Embora a seiva contenha alguns materiais solúveis, do ponto de vista normalmente, apresenta teor de umidade mais alto do que o cerne. Em algumas espécies,
da secagem, é considerada água pura. a extremidade superior ou topo de uma árvore pode conter mais água do que a parte
3.1 Tipos de água existentes na madeira inferior ou base.
a - Água livre ou de capilaridade 3.2.1 Determinação do teor de umidade
É a água que se encontra em estado líquido, porém sujeita a forças capilares, nas O teor de umidade pode ser determinado de diversas maneiras, sendo as mais
cavidades celulares e nos espaços entre as células (meatos), de acordo com a figura 1. A comuns: método gravimétrico ou de pesagem de amostras e método do medidor elétri-

Secagem da Madeira
perda desse tipo de água não afeta as propriedades da madeira, mas somente sua massa. co de umidade.
Essa água pode, teoricamente, ser retirada facilmente, passando de uma célula para outra a - Método gravimétrico ou de pesagem de amostras
Secagem da Madeira

até alcançar a superfície e, no processo de secagem, é a primeira a ser removida.


É o método mais simples e preciso. O procedimento para determinar o teor de umi-
b - Água presa, de adesão ou higroscópica dade por este método é o seguinte:
Encontra-se em estado de vapor nas paredes das células (Figura 2), unida às micro- • Retirar corpos-de-prova, de acordo com a figura 3, com, no mínimo, 2,5 cm de
fi-brilas de celulose por atração das moléculas. Sua remoção é mais difícil e mais lenta e, largura na direção da grã e ao longo da largura completa da tábua, a 50 cm das extremi-
durante a secagem, só se inicia após a eliminação de toda a água livre. A água presa é dades, no mínimo, para minimizar a influência da secagem nos topos.

• Remover todas as farpas que possam ser perdidas e vir a influenciar no peso final.
• Pesar os corpos-de-prova para obtenção do peso inicial ou peso verde (PI = PV).
• Colocar os corpos-de-prova na estufa, a uma temperatura de (103±2)ºC.
• Pesar os corpos-de-prova em intervalos regulares e sucessivos até que atinjam
peso constante (peso seco).
• Determinar o teor de umidade pela equação 1:

Figura 1. Esquema ilustrativo da célula contendo água livre (estado líquido) na cavidade
celular e água presa na parede (saturada).

Figura 2. Esquema ilustrativo da célula contendo apenas água presa na parede celular, que
pode estar ou não saturada. Figura 3. Esquema de retirada de corpos-de-prova para determinar o teor de umidade pelo
método de secagem em estufa até peso constante.

8 9
O medidor de umidade do tipo capacitivo, ilustrado na figura 5, funciona por contato,
criando um campo eletromagnético de alta freqüência que não danifica a madeira. O
mi - mf campo elétrico gerado penetra na madeira até cerca de 50 mm. Esse tipo de medidor
TU = x 100 Equação 1
mf também deve ser calibrado pelo peso específico da madeira, sendo menos influenciado
pela temperatura do que os medidores resistivos. Permitem, ainda, a leitura de valores
em uma faixa mais ampla de teor de umidade.
onde: 3.3 Ponto de saturação das fibras (PSF)
TU é o teor de umidade, em porcentagem;
mi é a massa inicial do corpo-de-prova, em gramas;
mf é a massa final do corpo-de-prova após secagem em estufa a (103±2)ºC até
valor constante, em gramas.

b - Método do medidor elétrico de umidade


Os medidores elétricos de umidade são aparelhos que possuem a vantagem de

Secagem da Madeira
determinar, de forma prática e rápida, o teor de umidade sem a necessidade de se cortar
a madeira, mas com a desvantagem de só fornecerem bons resultados quando a madeira
Secagem da Madeira

apresenta um teor de umidade no intervalo de 7% a 30%.


Os mais comuns são os que se baseiam na condutividade elétrica, do tipo resistivo
(Figura 4), que utilizam a relação fixa entre a resistência sofrida durante a passagem da
corrente elétrica e o teor de umidade da madeira. Possuem eletrodos, chamados de agu-
lhas, que são cravados na madeira. Devem possuir sistema de calibração, de acordo com
a espécie e a temperatura da madeira. São aparelhos capazes de fazer medições na faixa
de teor de umidade entre 6% e 28%. Fora desses limites, fornecem valores imprecisos, Figura 5. Exemplo de medidor de umidade elétrico capacitivo.
pois, abaixo de 6%, a resistividade elétrica da madeira é tão alta que os medidores não
conseguem determiná-la e, acima do ponto de saturação das fibras, a variação da Corresponde a um teor de umidade em que toda a água livre contida nas cavidades
resistência elétrica com o teor de umidade não é tão acentuada. celulares foi eliminada, permanecendo saturadas apenas as paredes das células (Figura 6).
Situa-se em uma faixa entre 22% e 30%, dependendo da espécie de madeira.

Esse ponto é especialmente importante porque, quando atingido, a madeira sofre


mudanças em suas propriedades e contrações que causam defeitos como empenos e
rachaduras.

4. Contração e inchamento
A contração é a redução das dimensões nas direções longitudinal, tangencial e radial
de uma peça de madeira, em conseqüência da diminuição do teor de umidade (secagem),
quando a umidade da madeira atinge valores abaixo do PSF (Figura 7).

Figura 4. Exemplo de medidor de umidade elétrico resistivo.


Figura 6. Esquema ilustrativo da célula no ponto de saturação das fibras, em que a cavi-
dade celular encontra-se sem água livre e a parede, saturada de água presa.

10 11
Durante a secagem, diversas forças atuam simultaneamente nos movimentos da água,
sendo:
a - Ação de capilaridade
Causam o movimento da água livre, principalmente através das cavidades das células
e pequenas aberturas na parede celular.
b - Diferenças na umidade relativa dentro da madeira
Essas diferenças estabelecem gradientes de umidade que fazem o vapor d'água mov-
er-se por difusão, através de várias passagens.
c - Diferenças no teor de umidade
As diferenças de teor de umidade movimentam a água presa por difusão, através de
pequenas passagens nas paredes celulares.
Quando a madeira verde começa a secar, a evaporação da água das camadas super-
ficiais estabelece forças capilares que exercem um arraste sobre a água livre contida nas
zonas abaixo da superfície, produzindo um fluxo de água do centro para as superfícies da
Figura 7. Principais orientações em uma peça de madeira, de acordo com Martins (1988).
madeira. Os movimentos da umidade por difusão resultam de diferenças na umidade

Secagem da Madeira
É a partir do PSF que a água contida na parede celular começa a sair, deixando um re-lativa e teor de umidade entre a superfície e o interior da madeira, ou entre duas zonas
Secagem da Madeira

quaisquer da peça onde ocorram essas diferenças.


espaço que é preenchido pelos elementos que constituem a parede celular, causando a
diminuição do seu volume. Por isso, quando as células das camadas superficiais de uma A umidade na madeira move-se, simultaneamente, por capilaridade e por difusão. Em
tábua são secas abaixo do PSF, contraem-se. Essa contração na região superficial pode ser comparação com a ação da capilaridade, a difusão é considerada um processo extrema-
suficiente para comprimir a parte central e causar uma pequena contração da tábua. mente lento. Geralmente, a água difunde-se mais rapidamente na direção radial (perpen-
Prosseguindo-se com a secagem, as células mais internas também têm sua umidade dicular aos anéis de crescimento). Embora a difusão longitudinal seja cerca de 10 a 15
reduzida a teores menores do que o PSF e suas paredes também se contraem. Ao final vezes mais rápida que a radial, à exceção de peças curtas, o seu efeito se perde rapida-
da secagem, principalmente quando a umidade é reduzida a teores inferiores a 10% ou mente por causa da distância que a umidade tem que percorrer para chegar à superfície
dos extremos.
15%, as contrações transversais são bastante significativas.
O inchamento é o aumento das dimensões de uma peça de madeira nas direções 6. Características da madeira que influem na secagem
longitudinal, tangencial e radial, em conseqüência do aumento do teor de umidade
A velocidade de secagem depende de algumas características da própria madeira que são:
(adsorção), até atingir o PSF. Normalmente, a contração e o inchamento na direção tan-
gencial são maiores do que na direção radial, que, por sua vez, são muito maiores do que a - Espécie/Densidade
na direção longitudinal. Esse comportamento diferenciado em cada um desses planos Algumas madeiras, sob as mesmas condições, secam mais rápido do que outras. As
torna a madeira um material anisotrópico, sujeito a desenvolver defeitos. folhosas, normalmente, precisam de mais tempo para secar do que as coníferas.
De maneira geral, quanto menor a contração, mais estável dimensionalmente é a A densidade da madeira é um bom indicativo de sua velocidade de secagem, pois está
madeira. muito relacionada com a permeabilidade, um dos fatores intrínsecos da madeira que mais
A contração é a medida da variação total das dimensões de uma peça de madeira do influi na secagem. Madeiras mais densas exigem um tempo maior para secar que madei-
estado saturado ao seco em estufa, expressa como porcentagem em relação à base ras leves.
verde. b - Espessura
5. Como a madeira seca Peças de madeira com maior espessura precisam de mais tempo para secar do que
aquelas de menor espessura.
A água move-se dentro da madeira de diferentes formas. A água livre move-se, prin-
cipalmente, por capilaridade. Entretanto, como a madeira seca da superfície externa para c - Cerne/Alburno
a parte interna, isto é, de fora para dentro, rapidamente a superfície tende a secar abaixo O alburno, apesar de quase sempre possuir um teor de umidade maior do que o
do PSF. Inicia-se, então, um gradiente de umidade, com a água movendo-se do interior cerne, devido a sua alta permeabilidade, seca mais rápido que este último, tanto em
(alta umidade) para a superfície (baixa umidade), inicialmente por capilaridade e depois fo-lhosas como em coníferas. A menor permeabilidade do cerne deve-se, entre outras
por difusão, tão rápido quanto as condições do meio (velocidade do ar, temperatura e coisas, ao fato de que os extrativos obstruem as pequenas aberturas existentes nas pare-
URA) possam absorvê-la, assim que chega à superfície da madeira. Se essas condições do des das células que o compõem.
meio evaporarem mais água do que a madeira tem condições de enviar à superfície, a d - Orientação do corte
parte externa ficará mais seca que a interna. Se a superfície atingir teores de umidade O fluxo de umidade no sentido longitudinal é de 10 a 15 vezes maior do que no
abaixo do PSF primeiro que o interior, podem ocorrer rachaduras nas superfícies e nos transversal (radial ou tangencial). Considerando-se o sentido transversal, o fluxo de umi-
extremos da peça. dade é de 20% a 50% maior no sentido radial do que no tangencial (Figura 7).

12 13
7. Fatores externos que influenciam na velocidade da de algodão e, portanto, não se observa diferença entre as temperaturas dos ter-
secagem môme-tros. Nesse caso, a umidade relativa do ar é de 100%. Por outro lado, quando o
ar está totalmente seco, com um grande poder de absorver vapor d'água, a evaporação
As principais variáveis que devem ser consideradas durante a realização de um pro- da umidade contida no tecido será intensa e a diferença observada entre as temperaturas
cesso de secagem são: dos termômetros será máxima. Os dois casos acima se referem a duas condições
a - Circulação do ar e ventilação extremas de umidade relativa do ar. Dessa forma, o ar que não esteja saturado e nem
totalmente seco deve produzir uma diferença psicrométrica intermediária entre esses
O ar que envolve a madeira, durante o processo de secagem, vai absorvendo umi-
dois valores extremos, que varia conforme o teor de umidade do ar.
dade e perdendo seu poder de absorção. Por isso, o ar tem que ser renovado para que
a madeira não entre em equilíbrio com o ambiente e o fluxo de transferência da sua A associação da diferença psicrométrica (TBS - TBU) com o valor da TBS permite
umidade para o ar não desapareça. A circulação do ar é importante, pois possibilita a estabelecer, por meio da tabela psicrométrica, os correspondentes valores de URA e de
substituição do ar com alta umidade pelo ar seco, dando seqüência à secagem e contribu- Teor de Umidade de Equilíbrio (TUE) num determinado instante da secagem. Os valores
indo para a distribuição homogênea do calor por toda a pilha, que transferirá energia para da TBS encontram-se na coluna da esquerda e os valores das diferenças entre TBS e TBU
a superfície da madeira. Portanto, quanto maior a velocidade de circulação do ar, maior ficam na linha superior (Tabela 1).
a temperatura da água na madeira e maior a velocidade de secagem. Consideremos o seguinte exemplo:
Temperatura de secagem = 50ºC
b - Temperatura

Secagem da Madeira
Secagem da Madeira

Temperatura de bulbo úmido = 42ºC


De maneira geral, quanto maior a temperatura, maior a evaporação da água e maior
a velocidade de secagem. No entanto, durante a retirada da água livre, não é necessário Diferença psicrométrica = 50ºC - 42ºC = 8ºC
utilizar temperaturas elevadas, pois o efeito do aquecimento não aumenta significativa- Para encontrarmos a URA e o TUE da madeira correspondentes a TBS = 50ºC e
mente a taxa de secagem nessa fase. O aumento da temperatura influi na umidade rela- TBS - TBU = 8ºC , basta procurarmos na tabela o ponto de encontro entre a coluna cor-
tiva do ar, acelerando a difusão, que é responsável pela retirada da água presa (abaixo de res-pondente a uma diferença psicrométrica de 8ºC com a linha correspondente à tem-
30%). pera-tura de 50ºC. Encontraremos, então, o valor de 62% para a URA e de 10% para o
TUE.
c - Umidade Relativa do Ar (URA)
A umidade relativa do ar é a razão entre a massa de vapor de água contida em um d - Teor de umidade de equilíbrio (TUE)
determinado volume de ar (umidade absoluta) e a quantidade máxima de vapor de água A madeira é um material higroscópico, ou seja, possui a habilidade de tomar ou ceder
que esse mesmo volume poderá conter, à mesma temperatura e pressão, usualmente umidade em forma de vapor. Quando úmida, geralmente perde vapor d'água para a
expressa em porcentagem. Indica, portanto, o estado de afastamento do ponto de satu- atmosfera e, quando seca, pode absorver vapor d'água do ambiente que a rodeia.
ração que uma determinada massa de ar se encontra. Quando a madeira perde água para o ar e a absorve deste na mesma proporção, dizemos
que ela está em equilíbrio com o ambiente. Dessa forma, define-se como TUE, o teor de
A URA indicará se, sob determinada temperatura, o ar ainda será capaz de receber a
umidade que a madeira tende a alcançar quando exposta a qualquer condição constante
água proveniente da madeira. de umidade relativa e temperatura. O tempo necessário para atingir o TUE depende das
Quanto maior a temperatura, menor será a URA e maior a quantidade de água que o dimensões da madeira e da espécie.
ar poderá conter, acelerando a evaporação na superfície da madeira e estimulando a retira- A secagem deve ser sempre estabelecida de acordo com o futuro uso que a madeira
da da umidade. De maneira geral, quanto menor a URA, maior a velocidade de secagem. terá, considerando-se também as condições de umidade relativa e temperatura a que a
O psicrômetro é o instrumento mais utilizado para medir a umidade relativa do ar, mesma estará sujeita. Esse fato é muito importante, principalmente para o caso das
possuindo dois termômetros que são conhecidos por: exportações de produtos madeireiros para países com climas significativamente dife-rent-
• Termômetro de bulbo seco es do clima brasileiro. As variações dentro do país também são importantes como, por
exemplo, para o caso de móveis que vêm da Região Sul para o Distrito Federal.
É um termômetro comum e mede a temperatura de secagem, isto é, a temperatura
do ar que circula entre as peças de madeira de uma pilha ou carga. Essa temperatura é e - Potencial de secagem (PS)
conhecida também como "Temperatura do Bulbo Seco (TBS)". É a relação entre o teor de umidade médio da madeira e o teor de umidade de
• Termômetro de bulbo úmido equilíbrio correspondente às condições de secagem em determinado instante. É calcula-
do pela equação 2:
É também um termômetro comum; porém, o seu bulbo é envolto por um tecido de
algodão, que deve permanecer sempre umedecido. A temperatura fornecida por esse onde:
termômetro é conhecida como "Temperatura do Bulbo Úmido (TBU)". PS é o potencial de secagem;
Quando a umidade do tecido de algodão que envolve o bulbo evapora, ocorre um TU é o teor de umidade médio da madeira, em porcentagem;
esfriamento da sua superfície. Isso faz com que a TBU diminua e cause uma diferença
entre a TBS e a TBU, denominada por diferença psicrométrica. TU
PS = Equação 2
Quando o ar está saturado de umidade, isto é, quando ele não tem como incorporar TUE
mais nenhuma molécula de vapor d'água, não haverá a evaporação da umidade do tecido

14 15
Tabela 1. Umidade relativa do ar e umidade de equilíbrio da madeira em função das temperaturas de bulbo seco O potencial de secagem é útil para determinar a forma e o progresso da secagem.
e bulbo úmido. Potenciais de secagem elevados causam uma secagem excessiva das partes superficiais da
madeira, com o risco de desenvolvimento de tensões internas, rachaduras, empenos e
endurecimento superficial. O valor ideal é estabelecido em função da espécie, da espes-
sura e do teor de umidade inicial. Madeiras com coeficiente de anisotropia de contração
elevado, acima de 2,5, devem ser submetidas a baixos PS's, em torno de 2,0.
Na secagem artificial, o PS é mantido pela TBS e pela umidade relativa do ar esta-be-
lecidos. Quanto maior o valor do PS, mais severas serão as condições de secagem.

8. Tipos de secagem
8.1 Secagem natural ou ao ar livre
Consiste em empilhar a madeira de forma adequada em local ventilado e, preferen-
cialmente, coberto, a fim de evitar a incidência dos raios solares e da chuva, fazendo-se
o controle do teor de umidade em intervalos regulares, até atingir o valor de teor de
umidade final desejado, que estará em função do uso da madeira ou até aonde as

Secagem da Madeira
condições climáticas da região permitirem.
A madeira, quando adequadamente exposta ao ar livre, seca mais rapidamente quan-
do a temperatura é alta, a umidade relativa do ar é baixa e o movimento do ar é ativo
através das peças. Tanto a velocidade de secagem quanto o teor de umidade que pode
ser atingido pela madeira em determinado local dependem, quase que exclusivamente,
das condições do ambiente.
As práticas racionais desse processo resultam em menores tempos de secagem,
peças de madeira com umidades mais uniformes e, o que é mais importante, madeira de
melhor qualidade, com um mínimo de defeitos.
Tem como vantagens:
• É o método mais simples para secar madeira.
• É muito utilizada como pré-secagem de madeira verde, que será complementada
pela estufa.
• Não exige investimentos com equipamentos.
E, como desvantagens:
• Depende das condições climáticas (ventilação, temperatura e umidade relativa do
ar) da região, que não podem ser controladas.
• Pode impossibilitar a obtenção de baixos teores de umidade ao final da secagem, uma
vez que esses teores são alcançados em função da temperatura e da umidade relativa do ar.
• Exige longo tempo para secagem.
• Necessita de grandes estoques para suprir a demanda da indústria.
• Requer grandes áreas para estocagem.
• Gera maior perda de madeira por ataques de fungos e insetos.

8.1.1 Pátio de secagem


A secagem ao ar livre é geralmente feita em um pátio, localizado, de preferência, em:
lugares altos, planos, bem drenados, não rodeados de árvores ou edifícios altos; e pró-xi-
mo à serraria ou à indústria processadora, para economia de transporte.
94 Umidade Relativa do Ar (URA) O arranjo físico de um pátio de secagem deve levar em consideração o meio de
movimentação, a topografia, a área necessária em função da produção, a área disponível
22 Teor de Umidade de Equilibrio (TUE)
e o tipo de madeira a ser seca. Quando o transporte no local é feito pelas vagonetas, as
pi-lhas devem acompanhar os trilhos e, quando a movimentação for pelas empilhadeiras,
as vias de circulação devem ficar livres.

16 17
A área do pátio destinada à secagem deve ser bem definida, com limites determina-
dos. Deverão ser reservados os espaços para pilhas, vias de circulação, áreas de venti-
lação, faixas de proteção contra incêndios, etc. As partes não ocupadas por pilhas de
madeira devem ser deixadas livres para a circulação de ar, movimentação de madeira e
de pessoas. Essas áreas são denominadas de passagens, que podem ser: principais, trans-
versais e secundárias.
As passagens principais, geralmente de 5 m a 8 m de largura, servem de rota para o
deslocamento da madeira e área de manobra. Essas passagens devem ser retas, abertas
nos extremos e atravessar completamente o pátio para permitir a locomoção de
empi-lhadeira ou outro meio utilizado para a movimentação da madeira, mesmo nos
períodos de chuva. A largura dessas passagens deve ser maior nas serrarias que pro-
duzem peças muito longas.
As passagens transversais são necessárias em pátios muito grandes, devendo ser pro-
jetadas a cada 60 m a 80 m. Formam um ângulo reto com as passagens principais e suas
funções mais importantes são de ventilação, proteção contra incêndios e, eventualmente,

Secagem da Madeira
acesso às passagens principais. Sua largura é de 15 m a 20 m e devem estar livres de
ve-getação. Quando utilizadas como vias de transporte, devem ter a superfície preparada
para permitir o rolamento do equipamento utilizado. Figura 8. Empilhamento tipo berço ou gaiola, de acordo com Ponce e Watai (1985).

As passagens secundárias são paralelas às principais e às pilhas. Localizam-se entre É utilizado na secagem natural, sendo indicado para secagem rápida de madeiras
duas pilhas. A largura dessas passagens varia de 0,6 m a 1,8 m e a superfície deve ser livre fáceis de perder umidade, para quando não se tem compromisso com a qualidade, para
de poças d'água, vegetação e detritos que dificultam a movimentação do ar. pequenas serrarias ou para quando se quer diminuir rapidamente a umidade e o peso da
O espaço entre as extremidades das pilhas deve ser mantido em torno de 50 cm e madeira.
livre de qualquer obstrução que dificulte a movimentação do ar. No caso de madeira com Esse método de empilhamento tem como vantagens:
tendência ao fendilhamento ou rachaduras de topo, essa distância tem de ser a menor • Pode ser realizado por um só homem.
possível para se retardar a secagem pelos topos.
• Dispensa o uso de separadores.
O espaçamento entre as pilhas varia em função do clima, da localização do pátio, das
E, como desvantagens:
características inerentes à madeira e dos diferentes defeitos de secagem a serem evitados.
Quando o fendilhamento superficial é comum e ocorre com freqüência, o espaço entre as • Exige grandes áreas para pouco volume de madeira.
pilhas deve ser reduzido; e quando a espécie for susceptível a fungos manchadores, deve- • Deixa as superfícies de contato entre as tábuas suscetíveis ao desenvolvimento de
se aumentar o espaçamento. Em regiões secas, durante a estação quente, as pilhas devem fungos e manchas, necessitando que se faça um banho de imersão rápido na madeira
ser colocadas mais próximas entre si do que durante a estação fria e úmida. antes do empilhamento.
Quanto à distribuição das pilhas no pátio, existe uma influência tanto na direção pre- • Favorece o aparecimento de empenamentos e rachaduras.
dominante do vento como da distância entre as pilhas. Reduzindo-se o espaço entre as
b - Tipo inclinado
pilhas, aumenta-se o tempo de secagem, ocorrendo o contrário quando essa distância é
aumentada. Quando as pilhas são colocadas com o seu comprimento perpendicular à As peças são colocadas sobre separadores e o conjunto apoiado em um cavalete. É
direção predominante do vento, a velocidade de secagem aumenta; e diminui, se o com- um método utilizado na secagem natural, em pequenas serrarias.
primento é colocado paralelamente a essa direção. O empilhamento inclinado possui como vantagem:
• Pode ser realizado por um só homem.
8.1.2 Empilhamento
E, como desvantagem:
O empilhamento é a operação de dispor as peças de madeira em determinada forma
• Exige estrutura em madeira, resistente ao ataque de fungos e insetos ou tratada
para secagem ou para armazenamento.
com preservativo.
Diferentes tipos de empilhamento permitem aumentar a amplitude do controle
sobre a secagem, que é limitada quando realizada ao ar livre. c - Tipo tesoura
Os métodos de empilhamento existentes são: É uma variação do empilhamento inclinado, em que as peças são apoiadas em uma
estrutura de madeira, denominada de cavalete, que possui um estrado horizontal, para
a - Tipo berço ou gaiola apoio inferior da peça, cerca de 20 cm de altura do solo, de modo a evitar excessiva
Empilhamento triangular ou quadrangular, ilustrado na figura 8, em que a primeira umidade e respingos de lama no caso de chuva e um suporte a 2 m ou 3 m de altura, para
camada é apoiada sobre bases de madeira já secas e, nas demais, as extremidades se servir de apoio superior, provido de dentes, que evitam que uma tábua fique em contato
apóiam na camada inferior, numa superposição alternada. com a outra (Figura 9).

18 19
Secagem da Madeira
Figura 10. Empilhamento padrão, tipo caixa ou pilha gradeada, de acordo com Martins
(1988).

Todo o cuidado despendido na construção das pilhas será plenamente compensado,


pois a madeira será de melhor qualidade, o estoque será mais fácil de controlar e haverá
menor probabilidade de acidentes.
Antes do gradeamento, as peças de madeira devem ser separadas por espécie, espe-
ssura, classe e, sempre que possível, largura e comprimento. A separação por espécie é
Figura 9. Empilhamento tipo tesoura. muito importante, em virtude dos diferentes comportamentos durante a secagem. Raros
são os casos em que duas ou mais espécies podem ser secas exatamente sob as mesmas
Esse método é utilizado na secagem natural, em lugares úmidos, para madeiras fáceis condições.
de secar e quando não há compromisso com a qualidade, sendo recomendado para A separação por espessura é indispensável, pois o tempo de secagem de uma peça
pequenas serrarias. de 50 mm de espessura é cerca de quatro vezes maior do que o de uma peça de 25 mm.
O empilhamento tesoura possui como vantagens: Além disso, a mistura de mais de uma espessura em uma mesma camada anularia o efeito
• É de montagem rápida. de restrição das camadas superiores sobre as inferiores, pois as tábuas mais finas ficar-
• Pode ser realizado por um só homem. iam soltas. A separação por classe de qualidade é também importante porque permite
manter juntas peças do mesmo valor; dar melhor proteção, como cobertura, ao materi-
• Pode ser usado como pré-secagem.
al mais valioso; e facilita o controle de estoques e o atendimento dos pedidos.
• Dispensa o uso de separadores, que fazem parte da armação. Dependendo do tipo de produto e do mercado, é importante a separação por largura e
• Favorece uma secagem mais rápida, pois permite que as peças fiquem mais afasta- comprimento, sempre que o mercado exigir, além do fato de que a construção de pilhas
das umas das outras do que na forma inclinada. com peças de diferentes tamanhos dificulta o controle de estoque e o atendimento de
E, como desvantagens: pedidos.
• Exige estrutura em madeira, tratada ou resistente ao ataque de fungos e insetos. Esse tipo de empilhamento é constituído por uma base, a pilha, os separadores e a
• Pode contribuir para a elevação do alto índice de defeitos na madeira, principal- cobertura.
mente rachaduras de topo, em regiões de clima seco, e empenos (torcimento e arquea- • Base (fundação): tem por funções dar apoio plano e estável para as pilhas e
mento), devendo-se fazer uso de proteção contra a incidência do sol sobre a pilha. mantê-las a uma altura segura do solo, permitindo a ventilação, pela saída do ar descen-
dente, úmido e frio. Os apoios da base devem: estar na mesma linha dos separadores das
• Desuniformidade de umidade ao longo das peças; a parte superior seca mais rápi-
camadas da pilha, formando colunas; ter fundação suficientemente dimensionada para
do que a inferior.
suportar a carga, representada pela massa da pilha; e resistir aos choques acidentais, no
d - Tipo "padrão", "caixa" ou "pilha gradeada" caso da movimentação com empilhadeiras. Os apoios podem ser de concreto ou de
É o empilhamento utilizado na secagem natural ou artificial, em que um conjunto de madeira que possua resistência mecânica e natural ao ataque de fungos e insetos ou que
peças de madeira é disposto em camadas sobrepostas, separadas por tabiques (separa- seja tratada com creosoto sob pressão de forma a torná-la o mais durável possível. A
dores ou sarrafos), de acordo com a figura 10. Cada camada suporta o peso das ou-tras altura mínima para as fundações é de 20 cm, sendo que a ideal está em torno de 45 cm a
sobre si, restringindo os empenamentos. 50 cm.

20 21
• Pilha: possui comprimento definido em função do tamanho das peças de madeira ou a secagem e, nos últimos estágios, aumentará o fendilhado já presente ou propiciará o
da estufa, no caso da secagem convencional. Uma pilha de madeira tem, em média, largura manchamento, particularmente onde a água permanece entre as tábuas e os separadores.
de 2 m, sendo que a ideal varia entre 1,0 m e 1,5 m. Pilhas mais estreitas secam mais rápi- A cobertura da pilha pode ser feita de telhas, lona plástica, folhas de zinco, tábuas
do que as largas e, em lugares muito úmidos, essa largura pode ser reduzida a 1,0 m, para inservíveis (refugo) ou qualquer outro material disponível. Para uma boa eficiência, a
evitar que as tábuas no centro fiquem muito úmidas e sujeitas à degradação. A altura da cobertura deve: permitir o escoamento da água da chuva, por meio de uma inclinação
pilha varia em função das facilidades disponíveis para fazer o empilhamento, estando, geral- em torno de 5% a 10%; projetar-se cerca de 30 cm na extremidade mais elevada, 60 cm
mente, em torno de 2,0 m a 2,5 m, no empilhamento manual. No empilhamento mecânico, na extremidade mais baixa e 20 cm em cada uma das laterais da pilha; ser presa, para
a altura é definida pela capacidade da empilhadeira. Pode-se fazer pilhas com até 6,0 m de evitar que seja arrancada pelo vento. Quando a madeira é de alto valor e para uso nobre,
altura, desde que se disponha de uma empilhadeira ou outro recurso para isso, como deve haver uma proteção das faces verticais da pilha para evitar degradação das peças
andaimes. Na secagem artificial, a altura é definida em função da altura da estufa. expostas lateralmente. Essa proteção pode ser feita com venezianas, improvisadas com
tábuas de baixa qualidade, que impedem a insolação direta e a entrada de chuva, mas não
• Separadores, tabiques, sarrafos ou sarrafo-separadores: são utilizados para separar
a circulação do ar.
as camadas de tábuas sobrepostas, uma das outras, e têm por finalidade permitir a circu-
lação do ar entre as tábuas, de modo a retirar a umidade da madeira. Devem ser do cerne 8.1.3 Recomendações sobre empilhamento
de madeira durável, com grã direita, secos em estufa e isentos de defeitos. É importante • Usar peças com espessura uniforme.
que, no empilhamento, fiquem colocados perpendicularmente ao comprimento da pilha e
• Utilizar bases firmes, fortes e bem espaçadas para as pilhas.
Secagem da Madeira

alinhados verticalmente, um na mesma direção do outro, para que haja uma boa dis-
tribuição do peso, evitando empenos nas tábuas. O comprimento deve ser aproximada- • Observar o espaçamento correto entre os separadores e seu alinhamento vertical.
mente 5 cm maior do que a largura da pilha. A espessura é determinada em função das • Evitar o uso de separadores empenados ou quebrados.
dimensões das peças, da velocidade de secagem desejada e do clima da região. Quanto • Não deixar peças de madeira com pontas livres, sem apoio.
maior a espessura dos separadores, maior o volume de ar que atravessará as tábuas e • As formas de empilhamento "inclinado" e "tesoura" devem ser usadas por pouco
maior a velocidade da secagem. Em lugares mais úmidos, devem-se utilizar se-paradores tempo; 3 a 4 dias para peças de 1" de espessura e, no máximo, uma semana para peças
mais espessos para acelerar a secagem (até 1,5 vezes a espessura das tábuas) e, em lugares com espessura maior que 2". Após esse período, empilhar a madeira na forma padrão.
mais secos, procede-se inversamente, reduzindo-se a espessura. A distância entre os sep-
aradores pode variar de acordo com a espessura das peças. Madeiras com tendência ao 8.1.4 Recomendações técnicas sobre secagem ao ar livre, em regiões de
empenamento devem ter os separadores menos espaçados. Na tabela 2 são apresentados clima seco, para reduzir o índice de defeitos das madeiras com
valores recomendados para as dimensões da seção dos separadores e as distâncias entre tendên- cia a rachar ou empenar
eles, em função das diferentes espessuras das tábuas, de acordo com Hildebrand (1970). • Reduzir a velocidade de secagem, fazendo uso de empilhamento menos favorável
Tabela 2. Relação entre espessura das tábuas, dimensões da seção transversal e espaça-
à secagem, por meio de pilhas colocadas com o comprimento das tábuas paralelo à
mento dos separadores, de acordo com Hildebrand (1970). direção predominante do vento, mais largas e mais próximas entre si; e do uso de sepa-
radores com espessura menor que a usual, para aproximar as camadas de tábuas.
Espessura das Espessura dos Largura dos Espaçamento entre
• Utilizar seladores (colas, vernizes, tintas, etc.) nos topos das peças, para reduzir a
tábuas separadores separadores separadores
ocorrência de rachaduras de topo.
(mm) (mm) (mm) (m)
• Colocar pesos sobre as pilhas, para evitar a ocorrência de empenos nas peças das
Até 30 16 25 0,40 a 0,80 camadas superiores.
30 a 60 25 25 0,60 a 1,00 • Utilizar separadores mais largos nos extremos das pilhas, para desacelerar a seca-
Maior que 60 40 40 0,80 a 1,20 gem nos topos e evitar rachaduras.
• Na secagem realizada em local descoberto, devem-se cobrir as pilhas individual-
Os valores da Tabela 2 são apenas uma orientação de dimensões que vêm apresentan- mente, com sobras nas extremidades e nas laterais, para melhorar o sombreamento das
do bons resultados. Separadores mais espessos são mais adequados para madeiras leves e tábuas mais externas e de seus extremos.
mais fáceis de secar; e os mais delgados, para madeiras que apresentam maior tendência à
• Colocar tábuas na base das pilhas para dificultar a circulação do ar e desacelerar a
formação de defeitos de secagem. Uma vez selecionada a espessura, todos os separadores
secagem.
devem ter as mesmas dimensões para evitar deformações das peças durante a secagem. É
importante que as espessuras sejam bem diferentes ou iguais às das larguras, ou seja, que • Após a madeira atingir o teor de umidade desejado, empilhar as peças de forma
os separadores tenham a seção transversal quadrada, para evitar que sejam colocados com compacta (sem separadores), para manter o teor de umidade o mais estável possível.
a maior dimensão na vertical, provocando deformação nas tábuas. Quando não estiverem Esse procedimento é muito útil para transportar madeira seca para locais onde o teor de
em uso, os separadores devem ser mantidos bem empilhados, cobertos e em lugar seco. umidade de equilíbrio é diferente do local de origem ou para simples armazenamento.
Isso aumentará a vida útil e a madeira processada terá melhor qualidade.
8.2 Secagem artificial
• Cobertura: serve para proteger o topo da pilha da incidência direta de sol e chuva.
Método de secagem em que as condições de temperatura, umidade relativa e circu-
Quando não coberta, a madeira poderá sofrer fendilhamento, rachaduras e empenos.
lação do ar são controladas.
Durante os primeiros estágios da secagem, o encharcamento pela chuva somente atrasará

22 23
8.2.1 Secagem a baixas temperaturas Esse método tem como desvantagens:
É qualquer tipo de secagem realizada em temperaturas inferiores a 50ºC, em que a • Depende das condições climáticas.
circulação de ar pode ser natural ou forçada. • É mais difícil de se fazer um controle eficiente.
8.2.1.1 Secagem solar b - Com coletor solar externo
Secagem realizada em uma câmara que utiliza a radiação solar, de forma mais efici- A câmara de secagem capta indiretamente a energia solar, ou seja, o coletor solar fica
ente que a secagem natural, como fonte de energia necessária à evaporação da água da fora da câmara (Figura 12). Nesse caso, as câmaras são compartimentos termicamente
madeira. Utiliza a mesma fonte energética da secagem natural, que é a energia solar; isolados para melhor armazenamento da energia captada. O ar é aquecido nos troca-
porém, de forma mais eficiente. dores de calor, que ficam no coletor solar, e circulado através da madeira. Quando a
tempe-ratura no interior da câmara ultrapassa a temperatura desejada, interrompe-se a
O sol é aproveitado como fonte de energia térmica para aquecimento do ar, pelo uso
comunicação entre a estufa e o coletor, mantendo-se a circulação do ar no interior.
de coletores solares e a circulação do ar é feita por ventiladores.
Possuem melhores isolamento térmico e controle da secagem, o que os torna mais efe-
Durante a secagem, o ar precisa ser renovado e, portanto, as estufas solares têm tivos.
aberturas, que são utilizadas para determinar a velocidade de secagem por meio de con-
troles da temperatura e, principalmente, da umidade. A principal desvantagem da seca-
gem solar é, da mesma forma que a secagem ao ar livre, a dependência das condições

Secagem da Madeira
Secagem da Madeira

climáticas, o que a torna bastante limitada.


Os vários modelos de estufas solares existentes podem ser classificados em duas
ca-tegorias:
a - Com coletor solar interno (tipo "green house" ou estufa)
Possuem uma câmara aquecida pela captação direta dos raios solares, onde a madei-
ra é colocada. A câmara de secagem possui uma ou mais paredes e teto translúcidos
ou transparentes (vidro, filme de poliéster ou plástico) que permitem a passagem da
energia solar incidente (ondas curtas) para o seu interior, por captação direta. Essa ener-
gia atinge uma superfície plana pintada de preto (coletor), situada entre o teto e a pilha
de madeira, e é convertida em calor (ondas longas) que, por sua vez, é refletido pelas Figura 12. Esquema de uma estufa solar com coletor externo, de acordo com Harpole (1988).
supefícies transparentes e capturado pela estufa (Figura 11). Os ventiladores fazem com
que o ar circule por essa área de aquecimento e através da pilha de madeira, provocando Tem como desvantagens:
a secagem. Nas estufas mais simples, o ar pode ser aquecido cerca de 20ºC a 30ºC acima • Requer construção mais complexa, com custos elevados.
da temperatura ambiente, com uma temperatura máxima de 50ºC a 60ºC, podendo • Depende das condições climáticas.
levar a madeira a um teor de umidade final menor que a secagem ao ar livre. A capaci-
dade varia de 1m3 a 22 m3, sendo que a maioria possui de 2 m3 a 5 m3. 8.2.1.2 Secagem por desumidificação
Secagem a baixas temperaturas, com redução da quantidade de vapor d'água do ar
que passa de maneira forçada por um desumidificador. Termodinamicamente, um
desu-midificador é semelhante a um condicionador de ar, isto é, uma bomba de calor, que
é um aparelho utilizado para remover calor de um ambiente com temperatura mais baixa
para um ambiente de temperatura mais alta, com realização de trabalho mecânico. A

Figura 11. Esquema típico de uma estufa solar com coletor interno, de acordo com Vital e Figura 13. Exemplo de um desumidificador acoplado a uma câmara de secagem, de acor-
Collon (1974), citado por Martins (1988). do com Martins (1988).

24 25
e os defeitos de secagem, por meio da diminuição do teor de umidade inicial e subse-
qüente secagem em estufa. Os pré-secadores podem ser muito grandes, com capacidade
de até 1200 m3, e operar em uma faixa de temperatura de 27ºC a 40ºC. As condições
internas são mantidas constantes, sendo que a umidade relativa do ar varia de 50% a 80%
e a velocidade de circulação do ar é reduzida, mantendo-se, geralmente, entre 0,4 m/s e
0,8 m/s.
A principal vantagem da secagem realizada em um pré-secador consiste na possibili-
dade de aplicar à madeira as condições ideais da secagem ao ar livre, mantendo-a protegida
das alterações bruscas que ocorrem em ambiente natural. Dessa forma, pode-se reduzir
em até 5 vezes o tempo de secagem que seria necessário para a secagem ao ar livre.
São especialmente utilizados para espécies de secagem lenta, propiciando uma
pré-secagem mais rápida e com menor incidência de defeitos do que a pré-secagem
comumente feita ao ar livre. Além disso, os pré-secadores permitem a secagem conjunta
de diferentes espécies e peças de maior espessura em condições de processo, consid-
eradas suaves, até um teor de umidade abaixo do Ponto de Saturação das Fibras.

Secagem da Madeira
Figura 14. Esquema de funcionamento de um desumidificador, segundo Martins (1988). Contribuem, principalmente, para facilitar a secagem convencional até o teor de umidade
final desejado, aumentando a produtividade da estufa convencional e reduzindo os custos
Secagem da Madeira

As estufas por desumidificação são compostas, basicamente, por um evaporador, um dessa secagem, e para o agrupamento de diferentes espécies.
condensador, um compressor e uma válvula de controle (Figura 14). O evaporador e o
condensador são trocadores de calor que utilizam um fluido circulante, movimentado 8.2.2 Secagem a altas temperaturas
pelo compressor, para a refrigeração. A válvula de termo-expansão regula a pressão e Tipo de secagem em que se utilizam temperaturas iguais ou superiores a 100ºC,
o fluxo do fluido. A um desumidificador acoplado a uma câmara de secagem dá-se o desenvolvida a partir da necessidade de se reduzir o tempo do processo.
nome de estufa por desumidificação. Como na secagem convencional, o ar é movimen- É conduzida em estufas com paredes de alumínio ou forradas com alumínio e ferra-
tado através da pilha de madeira por um ou mais ventiladores. Entretanto, o ar úmido gens com materiais mais resistentes à corrosão, causada pelas severas condições de altas
que vem da pilha é forçado a circular dentro do desumidificador para que parte do vapor temperaturas e umidade relativa impostas durante a secagem. No interior da câmara, o
d'água seja removida (evaporador) e para que o ar seja aquecido (condensador). vapor é superaquecido à pressão normal.
Por se processar a baixas temperaturas, em torno de 40ºC a 50ºC, a secagem por Existem dois processos distintos de secagem à alta temperatura:
desumidificação é bastante lenta quando comparada à secagem convencional. Entretanto,
por não necessitar de caldeira, as estufas por desumidificação possuem custos de insta- • não existe ar dentro da câmara, que contém apenas vapor d'água, e a TBU é man-
lação bem menores e são mais simples de serem operadas, dependendo menos dos tida em 100ºC, enquanto a TBS pode chegar até 150ºC;
co-nhecimentos do operador, quando comparadas às estufas convencionais. • existe uma mistura de vapor e ar dentro da câmara, onde a TBU é inferior a
Esse método possibilita menor incidência de defeitos provocados pela secagem na 100ºC, freqüentemente sem controle preciso.
madeira e, por isso, é indicado para madeiras de secagem lenta, oferecendo produto de 8.2.3 Secagem convencional
qualidade superior. Possui a desvantagem de demandar alto consumo de energia elétrica Método de secagem artificial tradicional em que a madeira é seca em estufa, operan-
para secagem de madeiras abaixo de 20% de teor de umidade. Acima desse valor, estu- do numa faixa entre 40ºC e 100ºC. As estufas convencionais possuem sistemas de circu-
dos têm revelado que o consumo de energia situa-se abaixo de 50% do consumo da lação, ventilação, aquecimento e umidificação do ar que permitem o total controle da
secagem convencional.
temperatura, umidade relativa e velocidade do ar.
8.2.1.3 Pré-secagem A circulação do ar é do tipo forçada e é realizada por um ou mais ventiladores, de
A pré-secagem é um método utilizado mundialmente antes da secagem convencion- acordo com a capacidade da câmara, podendo estar localizados no teto (ventilação supe-
al com a finalidade de reduzir o tempo e os defeitos de secagem. rior) ou nas paredes (ventilação lateral). A velocidade do ar varia de 3,0 m/s a 5,0 m/s.
O termo pré-secagem é, muitas vezes, utilizado para se referir à secagem ao ar livre De uma maneira geral, quanto maior a velocidade de circulação do ar que atravessa a
realizada antes da secagem convencional ou à secagem ao ar livre realizada com ventila- carga, mais rápida será a secagem
dores para acelerar a circulação do ar, mas sem qualquer adição de calor. Entretanto, O sistema de ventilação é formado pelas entradas e saídas de ar. É útil para remover o
Banks define a pré-secagem ou secagem em estufa a baixas temperaturas como uma excesso de umidade da câmara para que se possa obter a diferença psicrométrica desejada
secagem realizada com adição de calor, circulação forçada de ar e recirculação desse ar. durante a secagem e para permitir a troca de ar úmido interno pelo ar externo mais seco.
Os pré-secadores são grandes estufas que operam a baixas temperaturas, usados O sistema de aquecimento de uma estufa convencional atende a quatro propósitos:
para secar a madeira verde até um teor de umidade em torno de 25% em uma etapa aquecer a madeira e a água de seu interior, evaporar a umidade da madeira, aquecer o ar
anterior à secagem convencional, realizada até um teor de umidade final mais baixo. externo que entra na câmara e restabelecer o calor perdido pela radiação através da
Constituem-se em estufas de baixo custo dotadas de um controle mínimo da circulação estrutura da estufa. O aquecimento é feito de forma indireta, por meio de trocadores de
do ar, temperatura e umidade relativa suficiente para reduzir significativamente o tempo calor (radiadores), que são tubos aletados que conduzem o calor gerado por gases

26 27
quentes, ar ou vapor, sendo este último o mais comum. As aletas têm a função de aumen-
tar a superfície de troca térmica entre o trocador de calor e o ar circundante. Existem
vários tipos de superfícies radiadoras, tais como: resistência elétrica, tubos para gases
quentes, radiadores para vapor e água quente. O sistema de aquecimento deve ser colo-
cado e distribuído de tal forma que permita um aquecimento uniforme ao longo do
comprimento da câmara e um consumo mínimo de calor durante o processo de seca-
gem.
A umidificação no interior da estufa é feita pela injeção de vapor gerado em caldeira
ou pela vaporização de água. É útil para controlar a TBU durante os estágios de secagem,
equalização e acondicionamento.
A câmara de secagem pode ser controlada: manualmente, por um operador expe-ri-
ente, que controle a estufa e acompanhe a perda de umidade pelas amostras-teste; ou
automaticamente, quando a temperatura, umidade relativa e de equilíbrio são fixadas
num painel de controle, de acordo com as características da madeira, de forma a reque-
rer um mínimo de manipulações e ajustes para conduzir o processo. O controle da perda

Secagem da Madeira
Secagem da Madeira

de umidade é feito no painel, por meio de sensores ligados às amostras-teste, que se


encontram dentro da estufa. O painel pode ter ainda sensores para temperatura, umi-
dade relativa e de equilíbrio dentro da câmara, que são ajustados automaticamente de Figura 15. Esquema de estufa convencional, de acordo com Rasmussen (1961), citado por
Martins (1988).
acordo com os parâmetros fixados no painel.
O empilhamento pode ser realizado diretamente no interior da estufa, ou externa- 8.2.4 Secagem convencional em estufa à base de queima de resíduos
mente, sobre vagões que são conduzidos por meio de trilhos para dentro da câmara. (IBAMA/INPA)
Pode ser feito de forma cruzada, com o comprimento das tábuas perpendicular ao com- Utiliza o calor gerado pela queima de resíduos em fornalha como fonte de energia.
primento da estufa; ou longitudinal, com o comprimento das tábuas paralelo ao compri- Nos tipos mais conhecidos, o ar é aquecido em dutos, que passam através de uma for-
mento da câmara. De qualquer forma, é importante que a direção do ar circulante seja nalha, e insuflado dentro da câmara de secagem. Em um modelo desenvolvido no
perpendicular ao comprimento das tábuas para que haja uma perfeita ventilação entre as Laboratório de Produtos Florestais do IBAMA, ilustrado na figura 16, os gases quentes
camadas da pilha. No caso da ventilação ser paralela ao comprimento da pilha, terão que são conduzidos por um duto, que atua como trocador de calor, situado no interior da
ser usados separadores especiais (vazados), de forma a permitir a passagem do ar. O es-tufa, funcionando de maneira bastante semelhante às estufas convencionais. Apresenta
empilhamento deve ser muito bem feito para que a velocidade de circulação e a dis- as mesmas vantagens deste tipo de estufa, sem necessitar de caldeira, o que que reduz
tribuição da temperatura do ar na câmara sejam uniformes ao longo da altura e do com- os custos de instalação, manutenção e operação. A umidificação do ar no interior da
primento da estufa, contribuindo para que se tenha uma boa secagem. câmara é obtida pela aspersão de água sobre a superfície aquecida do trocador.
Existem dois tipos de estufa:
a - De compartimento
A carga permanece estacionária durante a secagem, conforme ilustrado na figura 15,
e as condições de temperatura, umidade relativa e velocidade do ar são mantidas uni-
formes dentro da câmara. São consideradas mais práticas e mais indicadas por apresen-
tarem melhores resultados e serem mais simples de operar.
b - Progressivas
Possuem portas em ambas as extremidades e a(s) carga(s) se desloca(m) da
entrada até a saída por um sistema de trilhos. À medida que avança dentro da câmara, a
carga vai passando por condições mais severas de temperatura, umidade relativa e de
equilíbrio.
A secagem convencional possui como vantagens:
• Permite secar qualquer espécie de madeira.
• Independe das condições climáticas da região.
E, como desvantagens:
• Exige maiores conhecimentos técnicos do operador, o que influi em 50% do
resultado final. Figura 16. Estufa à base de queima de resíduos desenvolvida pelo IBAMA/INPA, de acordo
• Possui custos elevados, principalmente quando a aquisição inclui a caldeira. com Martins, Mendes e Murdoch (1998).

28 29
9. Controle do processo de secagem secas no mesmo carregamento de estufa, o pinheiro seria seco sob o programa de seca-
gem indicado para imbuia e o custo de secagem do pinheiro tornar-se-ia mais elevado.
Para se conduzir uma secagem com êxito, é fundamental saber quando e como alte-
Na medida do possível, o carregamento de uma estufa deve ser composto de uma só
rar as condições de secagem no interior da estufa. Essas alterações são feitas em função
espécie ou de espécies que apresentem características de secagem semelhantes.
do teor de umidade da carga e regidas por um programa de secagem preestabelecido
para a madeira que está secando. b - Seleção por teor de umidade
Os fatores que aceleram o processo de secagem são a temperatura, a umidade rela- Não é recomendável misturar, numa mesma carga, peças parcialmente secas ao ar e
tiva e a circulação do ar. Levando-se em consideração que na maioria das estufas a veloci- aquelas consideradas verdes. As mais úmidas, normalmente, requerem condições iniciais
dade de circulação do ar é constante, a temperatura e a umidade relativa do ar passam a de secagem mais suaves e tempo de secagem mais longo do que as outras. Devido ao
ser as principais variáveis no controle do processo de secagem. Para se determinar a envolvimento de muitas variáveis, torna-se impossível fazer recomendações específicas
temperatura de secagem, a umidade relativa do ar e o teor de umidade de equilíbrio, para a diferença máxima admissível em teores de umidade entre as peças mais secas e
mais úmidas de um lote. Essa diferença deve ser determinada pelo operador, baseando-se
utilizam-se os termômetros de bulbo seco e de bulbo úmido, que devem ser localizados
nas necessidades de produção e qualidade final desejada, utilizando-se, para isso, medi-
em posições estratégicas no interior da estufa.
dores elétricos de umidade.
Quando a estufa está funcionando, com seu sistema de ventilação ligado, a TBU é
sempre menor ou igual à TBS. c - Seleção por cerne e alburno
Em algumas espécies em estado verde, alburno e cerne apresentam teores de umi-

Secagem da Madeira
Em uma estufa convencional de controle manual, podemos dizer que, para elevar a
temperatura de secagem, devemos acionar a fonte de aquecimento do ar, pela abertura dade consideravelmente diferentes. Além disso, o alburno geralmente seca mais rapida-
mente, desenvolvendo menos defeitos de secagem do que o cerne. Devido a essas dife-
Secagem da Madeira

do registro de vapor dos trocadores de calor.


renças, torna-se vantajoso separar o cerne do alburno, principalmente quando grandes
O controle da umidade relativa é obtido por quatro maneiras diferentes: pelo sistema quantidades de madeira são processadas.
de aquecimento, pelo fornecimento de vapor, pela entrada de ar mais seco e frio do
exterior e pela eliminação de ar úmido do interior da câmara. Assim, por exemplo, para d - Seleção por espessura
elevar a URA, o registro da umidificação, que normalmente é uma fonte de vapor de De modo geral, tábuas de espessura uniforme simplificam o entabicamento e a seca-
baixa pressão, deve ser aberto. Para abaixar a URA, é necessário abrir as saídas e entra- gem. Portanto, a seleção de tábuas por espessura torna-se imprescindível, sabendo-se
das de ar da estufa, para que o ar úmido retido no interior seja substituído pelo ar seco que com essa prática poder-se-á também evitar deformações dos tabiques. O encanoa-
externo, ou aumentar a TBS. mento e torcimento normalmente ocorrem pela falha de contato entre as tábuas e os
tabiques, o que resulta na desuniformidade de fluxo do ar através da pilha como um todo.
A variação de 1ºC na temperatura do ar pode alterar a URA deste ar entre 2% e 4%,
significando que a URA do ar externo sofre uma considerável redução ao ser aquecido e - Seleção por comprimento
na câmara. Para um bom entabicamento, um dos métodos mais eficientes é empilhar as tábuas
de mesmo comprimento. Se os tabiques forem bem apoiados e alinhados, a pilha resul-
10. Preparo da carga tante será plana e regular. Ao contrário, pilhas formadas com peças de diferentes com-
primentos estão sujeitas a empenamentos durante a secagem, pois as extremidades das
O adequado preparo da carga é muito importante para o bom desempenho da seca-
tábuas mais longas ficam sem apoio.
gem e, principalmente, para a qualidade e uniformidade do teor de umidade das peças ao
final do processo. Uma carga construída adequadamente produzirá madeira sem empena- 10.2 Entabicamento
mentos, com menores tensões de secagem, mais uniformes e, provavelmente, com seca- A seleção e uso apropriados de separadores reduzem sensivelmente o empenamen-
gem mais rápida. A maioria dos defeitos e perdas que ocorre durante a secagem artificial to das tábuas, assegurando secagem rápida e uniforme, bem como evita a quebra ou
em estufas resultam do mau entabicamento das peças. Quando empilhadas de maneira deformação dos próprios tabiques.
correta, as peças secam com maior rapidez e uniformidade e com menos empenamen-
a - Tabiques
tos, sem causar danos, inclusive, aos tabiques ou separadores. É muito importante o
treinamento de pessoal para a preparação das cargas porque isso aumenta a produtivi- A secagem artificial requer uma quantidade relativamente grande de tabiques, sendo
dade e leva à melhoria da qualidade da madeira seca. a reposição destes muitas vezes onerosa. É interessante obter tabiques a partir de madei-
ra sem defeito e de grã direita. O custo inicial de tabiques de qualidade pode ser mais
10.1 Seleção de tábuas para secagem em estufa alto a princípio, mas sua durabilidade poderá compensar ao longo de seu uso. Separadores
feitos de madeiras duras, de grã direita, geralmente permanecem retos e duram mais do
Trata-se de um trabalho prévio que simplifica a operação de entabicamento e auxilia que aqueles confeccionados com madeiras macias, de grã revessa.
na obtenção de material com similaridade em características de secagem.
b - Teor de umidade dos tabiques
a - Seleção por espécie
As tábuas das quais são retirados os tabiques devem ser secas em estufa. Assim pro-
Cada espécie de madeira tende a apresentar um comportamento característico cedendo, se estará diminuindo as possibilidades de descoloração da porção das tábuas que
quando submetida à secagem em estufa. Por exemplo: o tempo necessário para secar se encontram em contato direto com os tabiques. Além disso, separadores feitos com
uma peça verde de imbuia, que requer condições muito mais amenas, é de duas a três madeira seca apresentarão menor distorção ou variação de espessura durante o uso.
vezes maior do que o de pinheiro-do-Paraná, também verde. Se essas duas espécies

30 31
c - Dimensões dos tabiques g - Compartimentos ou janelas para amostras de controle
Variam de 7 mm até 50 mm em espessura e de 20 mm a 100 mm ou mais em largu- As amostras de controle da secagem são colocadas em compartimentos deixados
ra. A faixa normal é de 20 mm a 30 mm de espessura e de 25 mm a 50 mm de largura. durante o entabicamento das tábuas, em posições previamente estabelecidas. Quando as
O comprimento dos tabiques é determinado em função da largura da pilha; e a espessu- amostras forem mais longas do que o espaçamento entre os tabiques, estes devem ser
ra e largura, pelo tipo e dimensões das tábuas submetidas à secagem. Tabiques muito colocados imediatamente acima da amostra e encurtados na largura desta, evitando seu
largos, normalmente, retardam a secagem das tábuas, principalmente nas áreas de con- engastamento nos tabiques. As amostras devem ser colocadas com as bordas alinhadas à
tato, podendo resultar em um teor de umidade final mais alto em relação às outras áreas lateral da pilha e nunca projetar-se para fora desta.
consideradas livres. Os tabiques usados para madeiras duras, usualmente, são de 30 mm
em largura e não devem exceder a 40 mm. A média de largura dos tabiques para madei- h - Painel de cobertura sobre as pilhas de tábuas entabicadas
ras mais moles é de 50 mm, embora possam ser adotadas larguras de até 100 mm. As pilhas de tábuas entabicadas para secagem em estufa são, na maioria das vezes,
Independentemente das dimensões adotadas, devem ser aplainados para uniformizar a previamente secas ao ar por um certo número de dias. Essas pilhas devem ser protegidas
espessura. durante esse período contra chuva e sol antes da entrada em estufas, por meio de cober-
turas removíveis, tais como: compensado, telhas metálicas, plástico, etc.
d - Suportes das pilhas
Se a pilha de tábuas não estiver adequadamente apoiada, sem dúvida as camadas i - Pesos e dispositivos de restrição de movimentos
inferiores sofrerão distorções e deflexões. A maneira mais correta seria apoiar a pilha Pesos colocados sobre o topo de uma pilha, ou outros dispositivos que exerçam

Secagem da Madeira
Secagem da Madeira

devidamente nos pontos onde os tabiques se encontram alinhados verticalmente. Por pressão, são freqüentemente usados para reduzir empenamentos das tábuas das primei-
isso, quanto menos espesso for o material a ser seco, maior número de suportes será ras camadas. Os pesos devem ser sempre colocados diretamente sobre as fileiras dos
requerido. Geralmente, o espaçamento máximo entre os pontos de apoio para tábuas de tabiques. Os dispositivos de restrição são, algumas vezes, constituídos de cabos de aço e
25 mm de espessura, com pouca tendência a empenamentos, é de 60 cm e, para tábuas molas de tensionamento conjugados com vigas de madeira ou metálicas colocadas dire-
de mesma espessura, com tendência a empenamentos, o espaçamento recomendado é tamente acima dos tabiques.
de 40 cm.
11. Amostras-teste
e - Posicionamento, espaçamento e alinhamento de tabiques
Minimizam, quase sempre, o aparecimento de rachas de topo e trincas superficiais. São amostras representativas das peças de madeira mais pesadas, mais úmidas e mais
grossas de uma carga ou pilha, colocadas em posições estratégicas, de tal forma a possi-
Quanto ao posicionamento, colocar, se possível, os tabiques das extremidades das
bilitar sua remoção com facilidade, objetivando acompanhar o teor de umidade e o apa-
pilhas rentes com os topos das tábuas. Esse procedimento reduzirá distorções, bem
recimento de defeitos no decorrer do processo de secagem. A média dos teores de
como formação de rachas ou trincas nos topos, devido ao retardamento da secagem
umidade dessas amostras é utilizada para representar o teor de umidade da carga ou
nessa região. Os demais tabiques intermediários devem estar espaçados suficientemente
pilha, permitindo, no caso da secagem em estufa, fazer alterações nas condições de tem-
para controlar o empenamento.
peratura e URA durante a secagem.
O espaçamento dos tabiques está relacionado diretamente com a tendência das
tábuas a empenamentos, sua espessura e resistência à compressão normal das fibras. O número de amostras varia em função da espécie, do teor de umidade inicial e das
Pilhas com tábuas de 25 mm de espessura, de madeira com pouca tendência a empena- condições da estufa. Para cargas menores ou iguais a 45 m3, deve-se utilizar pelo menos
mentos, podem ter os tabiques espaçados de 60 cm. Porém, pilhas de peças menos 4 amostras e de 10 a 12, para cargas de até 225 m3. O número ideal deverá ser deter-
espessas ou com tendência a empenamentos devem ter os tabiques com espaçamento minado com a experiência adquirida.
de 40 cm. Pilhas de madeira com 50 mm ou mais de espessura podem ter os tabiques O procedimento de retirada das amostras-teste é o seguinte:
espaçados de 60 cm a 90 cm, dependendo da tendência a empenamentos. No caso de • Retirar na parte central ou a 50 cm, no mínimo, de uma das extremidades de cada
madeiras muito moles, deve-se diminuir o espaçamento ou utilizar tabiques mais largos peça selecionada, uma amostra-teste com 30 cm a 40 cm de comprimento no sentido da
para evitar esmagamento das peças situadas próximas à base das pilhas. grã, cortada transversalmente ao longo da largura completa da peça. De cada uma das
Para o controle total do empenamento das tábuas durante a secagem, as fileiras de laterais das amostras-teste, retirar corpos-de-prova com 25 mm, no mínimo, no sentido
tabiques devem ser alinhadas verticalmente. Os tabiques não alinhados, particularmente da grã, cortados transversalmente ao longo da largura completa da peça para estimar o
em pilhas de madeira verde, proporcionam também uma transmissão desalinhada do teor de umidade e o peso seco das amostras.
peso das camadas superiores, ocasionando encurvamento permanente das peças, princi- • Pesar as amostras e os dois corpos-de-prova provenientes de cada uma delas.
palmente quando se trata de peças finas, isto é, com espessura inferior a 25 mm.
• Vedar os extremos das amostras, de onde foram retirados os corpos-de-prova,
f - Entabicamento de tábuas para diferentes tipos de estufa para evitar a rápida saída de água na direção longitudinal, e colocá-las na pilha, tendo o
O procedimento para entabicar tábuas deve estar de acordo com o tipo de estufa cuidado de mantê-las sempre na mesma posição durante a secagem.
adotada para secagem, principalmente no que se refere ao sistema de circulação de ar • Colocar os corpos-de-prova em uma estufa de laboratório a (103±2)ºC até atingir
utilizado. O sentido do fluxo de ar para cima, para baixo, transversal à pilha, etc. deve ser o peso constante ou peso seco. Não deixar que a temperatura da estufa ultrapasse os
considerado. A uniformidade de secagem depende, sobretudo, da regularidade de mov- 105 ºC, pois o risco de decomposição térmica da madeira acima desta temperatura é
imento do ar através das pilhas, para as quais torna-se essencial o correto entabicamento. grande. Determinar o teor de umidade dos corpos-de-prova pela equação 1.

32 33
O teor de umidade estimado para cada amostra-teste é a média aritmética dos teores Os programas de secagem, genericamente, podem ser regidos pelas variações do
de umidade dos dois corpos-de-prova retirados de suas extremidades, determinado pela teor de umidade médio da carga de madeira fornecidas por amostras-teste ou por inter-
equação 3: valos de tempo. Os programas regidos pelo teor de umidade tomam como base o poten-
onde: cial de secagem, relação entre o teor de umidade médio da carga e o teor de umidade
de equilíbrio num dado instante, que expressa a severidade ou suavidade das condicões
TU1 + TU2 de secagem a que a madeira está sujeita em determinado instante. O potencial de seca-
TU = Equação 3 gem pode ser fixo para todo o programa ou variável. Os programas baseados em inter-
2 valos de tempo são utilizados quando as mudanças das condições de secagem, regidas
por um programa desenvolvido com base no teor de umidade médio da carga, passam a
TU é o teor de umidade médio estimado para a amostra-teste, em porcentagem; ser bem conhecidas em decorrência da realização de várias secagens com madeiras de
TU1 é o teor de umidade do primeiro corpo-de-prova retirado da amostra-teste, em mesma espécie, de igual procedência e espessura, no mesmo equipamento e para um
porcentagem; mesmo uso final. Nesse caso, as mudanças das condições de secagem, estabelecidas pelo
TU2 é o teor de umidade do segundo corpo-de-prova retirado da amostra-teste, em programa, podem ser feitas em intervalos de tempo já previamente conhecidos pelo
porcentagem. operador. Os programas elaborados com os teores de umidade médio da madeira têm a
Estimar a massa seca da amostra-teste pela equação 4: tendência natural de evoluírem para programas de tempo, uma vez que é muito mais
prático se fazer as modificações necessárias em intervalos de tempo já definidos do que

Secagem da Madeira
Secagem da Madeira

com base no teor de umidade médio da carga.


100 x mi As modificações nas condições de secagem contidas num programa são realizadas
mse = Equação 4 em função do teor de umidade da madeira indicado pelas amostras-teste.
(TUi + 100)
Dependendo do TU das amostras-teste é que o operador procede às modificações na
TBS e TBU, de acordo com as instruções contidas no programa, que, quando feitas cor-
onde: retamente, possibilitam a obtenção da madeira seca com o mínimo de defeitos, no menor
mse é a massa seca estimada para a amostra-teste, em gramas; tempo possível.
mi é a massa inicial da amostra-teste, determinada antes do início da secagem, em Um programa típico apresenta três fases distintas:
gramas; a - Período inicial para controle de defeitos (fase 1)
TUi é o teor de umidade médio dos dois corpos-de-prova adjacentes à amostra-tes- Inicia-se com o aquecimento gradativo da carga, procurando-se manter a maior URA
te, em porcentagem. possível na câmara. Essa condição pode ser obtida alternando-se períodos de aquecimen-
to com umidificação intensa até que a carga atinja a temperatura inicial, determinada pelo
Esse procedimento nos permite estimar o peso seco da amostra-teste sem termos
programa recomendado. Condições amenas de temperatura e URA são necessárias, pois
que secá-la em estufa a (103±2)ºC. Conhecendo-se o peso seco da amostra-teste fica
nessa fase a madeira está susceptível ao desenvolvimento de tensões que, quando muito
fácil determinarmos o seu teor de umidade em qualquer momento do processo de seca-
fortes, podem resultar em rachaduras e colapso.
gem. Para isso, basta obtermos o peso da amostra-teste num dado instante para estimar-
mos o seu teor de umidade. Deve-se lembrar que o peso verde será o peso da amostra b - Período de secagem acelerada (fase 2)
obtido no momento desejado e o seu peso seco será o estimado anteriormente. Alcançada a TBS inicial da secagem e ocorrendo a inversão das tensões entre a super-
Vantagem de controlar a secagem pelas amostras-teste: fície e as camadas mais internas da madeira, a secagem pode ser acelerada com menor
• Acesso a informações que permitem ao operador reduzir os defeitos da secagem, risco de desenvolvimento dos defeitos mencionados na fase 1 (Arganbright, 1982). O
obter melhor controle do teor de umidade final, diminuir o tempo de secagem e mel- objetivo agora é secar o mais rápido possível por meio do aumento da TBS e da redução
horar a qualidade da madeira, desenvolver programas de secagem e localizar fontes de da URA de forma gradativa a princípio, conforme estabelecido pelo programa. Dá-se
problemas que afetam o desempenho da estufa. continuidade ao processo de secagem até o teor de umidade final desejado.
Desvantagens de fazer uso de amostras-teste para controlar a secagem: c - Período final de controle de qualidade (fase 3)
• Requer tempo adicional do operador para o manuseio das amostras. Essa fase é constituída de duas etapas distintas, conhecidas por igualação e acondicio-
• É necessário se cortar peças de madeira para retirar as amostras. namento. A primeira possibilita uniformizar o teor de umidade final entre as peças da
carga em torno do teor de umidade preestabelecido e a segunda, amenizar o gradiente
12. Programa de secagem de umidade em cada peça da carga e também aliviar as tensões internas que se desen-
volvem na madeira durante a secagem.
É um roteiro que contém informações de quando e como as condições de secagem
(TBS e TBU) devem ser alteradas na estufa, elaborado, normalmente, em laboratórios de Um programa de secagem, para ser completo, deve conter informações gerais sobre
produtos florestais, por meio de procedimentos sistemáticos que procuram definir as a carga (procedência da madeira, espessura e comprimento das tábuas, tempo de per-
condições ideais de secagem para uma determinada espécie. Eventualmente, o operador manência no pátio, e destino); teor de umidade inicial mínimo, máximo e médio deseja-
da estufa pode otimizar um programa de secagem com base na sua experiência prática. do; TBS, TBU e seus valores correspondentes de URA e TUE; tempo de aquecimento;

34 35
e informações sobre o procedimento de equalização e acondicionamento, principal- Tabela 3. Teores de umidade de amostras-teste para igualação de uma carga de madeira,
mente quando a madeira é destinada à fabricação de móveis e artigos especiais. de acordo com Rasmussen (1961).

12.1 Aquecimento Teor de umidade Teor de umidade Teor de umidade de Teor de umidade da
médio desejado da amostra mais equilíbrio durante a amostra mais úmida
Etapa em que a carga é aquecida até a temperatura de secagem recomendada pelo
(%) seca (%) igualação (%) ao final (%)
programa. Deve ser gradativo, com a manutenção do maior teor de umidade relativa do
5 3 3 5
ar dentro da câmara e a diferença entre a TBS e a TBU menor ou igual a dois. Essa
6 4 4 6
condição pode ser obtida pelo fechamento das entradas e saídas de ar e da alternância
7 5 5 7
de períodos de aquecimento com umidificação intensa, até que a carga atinja a tempe-ra- 8 6 6 8
tura inicial indicada no programa. Condições amenas de temperatura e URA são 9 7 7 9
necessárias, pois nessa fase a madeira está susceptível ao desenvolvimento de tensões 10 8 8 10
que, quando intensas, podem resultar em rachaduras (superficiais e de topo) e colapso. 11 9 9 11
Nesse momento, ocorre a transferência de calor da superfície para o interior da
madeira e, por esse motivo, é necessário manter o teor de umidade o mais alto possível Os procedimentos usuais para o acondicionamento são os seguintes:
dentro da câmara. As TBS e TBU devem ser bem próximas, indicando haver uma alta • Quando a amostra-teste mais úmida atingir o teor de umidade médio desejado,
URA. Quando o termômetro de bulbo seco atingir a temperatura inicial significa que o ar
Secagem da Madeira

deve-se elevar o TUE dentro da câmara em 4% acima desse valor, mantendo-se a


está aquecido, mas não necessariamente a carga. Por essa razão, deve-se manter essas mesma temperatura de secagem.
condições por um tempo, determinado em função da espécie e da espessura das tábuas.
• Continuar com o acondicionamento até que as amostras demonstrem que os
Hildebrand (1970) recomenda que o tempo de aquecimento seja de uma hora por
esforços foram aliviados. Usualmente, isso requer de 12 a 18 horas de acondicionamen-
centímetro de espessura. to, por polegada de espessura, para madeiras de baixa densidade, e de 20 a 24 horas, por
12.2 Secagem polegada de espessura, para madeiras de alta densidade.
Decorrido o período de aquecimento, inicia-se a fase de secagem. Mantém-se então A tabela 4 apresenta os teores de umidade de equilíbrio para coníferas e folhosas que
a TBS, desligando-se a umidificação e abrindo-se as entradas e saídas de ar. Essa tempera- deverão ser mantidos na câmara, em função do teor de umidade médio desejado.
tura deverá ser mantida até a madeira atingir o teor de umidade de 30% (PSF). Nesse O acondicionamento deverá ser interrompido quando o "teste do garfo" demonstrar
ponto, a TBS é elevada e a TBU sofre então a correção necessária. No decorrer da que a madeira encontra-se livre de esforços.
secagem, conforme indicado no programa, a TBS é elevada gradativamente até atingir o
Tabela 4. Teores de umidade de amostras-teste para acondicionamento de uma carga de
valor máximo, de acordo com o teor de umidade médio da carga, fornecido pelas madeira em estufa, de acordo com Rasmussen (1961).
amostras-teste.
Teor de umidade médio TUE durante o acondicionamento (%)
Não é aconselhável retirar a carga da estufa imediatamente após o término da seca- desejado (%) Coníferas Folhosas
gem, evitando, assim, que a mudança brusca de temperatura cause choque térmico e
provoque rachaduras superficiais. 5 8 9
6 9 10
12.3 Igualação ou equalização e acondicionamento 7 10 11
Fase do controle de qualidade da madeira que objetiva uniformizar o teor de umi- 8 11 12
dade final entre as peças da carga em torno do teor de umidade preestabelecido. A 9 12 13
necessidade de se fazer a igualação dependerá do uso final ao qual a madeira se destina. 10 13 14
Os procedimentos de igualação dos teores de umidade das peças são:
• Quando a amostra mais seca alcançar um teor de umidade cerca de 2% abaixo da 13. "Teste do garfo"
média desejada para toda a carga, deve-se estabelecer um TUE na estufa igual ao dessa
amostra, mantendo-se a mesma TBS. É realizado em amostras retiradas da carga de madeira após a secagem, com o obje-
tivo de determinar a necessidade de acondicionamento ou de verificar se a sua duração
• Manter essas condições até que a amostra mais úmida atinja o teor de umidade foi suficiente para aliviar as tensões. Serve para verificar a ocorrência e intensidade de
final desejado para a carga. endurecimento superficial, reverso ou não (ver item 14.4). Consiste na retirada de uma
A tabela 3 apresenta os teores de umidade de equilíbrio, que devem ser mantidos amostra de 2,5 cm de largura, obtida perpendicularmente ao longo do comprimento da
durante os procedimentos de igualação, e os teores de umidade das amostras mais úmida peça de madeira, a 30 cm do extremo da peça, no mínimo. Nessa amostra, abre-se, com
e mais seca, estabelecidos em função do teor de umidade médio desejado. o auxílio da serra-de-fita, um ou mais dentes, dependendo da espessura da tábua. Para
Assim como a igualação, o acondicionamento também é uma fase do controle de espessuras de até 4 cm, serram-se 3 dentes iguais e retira-se o dente central e, para
qualidade que visa amenizar o gradiente de umidade em cada peça da carga e aliviar as espessuras superiores a 4 cm, serram-se 6 dentes e retiram-se o segundo e o quinto.
tensões internas que se desenvolvem na madeira durante a secagem. Esse procedimento Rasmussen (1961) recomenda o seguinte procedimento para a avaliação do
é indispensável quando a madeira destina-se à usinagem após a secagem. endure-cimento superficial:

36 37
a - Avaliação preliminar (realizada no ato de serrar) 14. Defeitos da secagem
• Se no momento da preparação do garfo, imediatamente após o término da seca- São causados por tensões que se desenvolvem na madeira em decorrência das dife-
gem, os dentes externos da amostra arquearem-se para fora a uma distância igual ou renças de contrações geradas pela anisotropia e pelo gradiente de umidade. Como con-
ligeiramente maior que a própria espessura do dente, a carga estará, provavelmente, livre seqüência, temos: prejuízos para quem seca madeira; redução na qualidade do produto
de endurecimento, podendo ser retirada e processada. Porém, se estes dentes projeta- final; e desestímulo no uso de espécies susceptíveis a defeitos, provocando a exploração
rem-se para dentro, apertando a serra, ou permanecerem retos, a carga estará com seletiva.
endurecimento superficial, necessitando do acondicionamento (Figura 17). Na secagem convencional da madeira, o controle na ocorrência de defeitos está
quase sempre ligado à adequação do programa utilizado.
A seguir, são apresentados os defeitos mais comuns desenvolvidos durante a secagem,
ilustrados na figura 19, e as respectivas modificações que devem ser feitas nos programas,
a fim de minimizá-los ou mesmo eliminá-los, de acordo com Arganbright (1982).
Secagem da Madeira

Figura 17. Padrão para o "teste do garfo" - Análise preliminar.

b - Avaliação final (realizada de 16 a 24 horas após serrar as amostras)


• Se os dentes externos da amostra arquearem-se para dentro, a madeira ainda
apresenta endurecimento e o período de acondicionamento deve ser prolongado para as
cargas subseqüentes da mesma madeira.
• Se os dentes externos, que estavam arqueados para fora, apresentarem-se com-
pletamente retos, a carga deverá estar livre de endurecimento. O mesmo período de
acondicionamento deve ser utilizado para cargas semelhantes.
• Se os dentes externos arquearem-se consideravelmente para fora, indicando
que a carga apresenta endurecimento reverso, o período de acondicionamento para as Figura 19. Defeitos.
cargas subseqüentes de material semelhante deve ser diminuído (Figura 18).
14.1 Rachaduras
a - Rachaduras superficiais
Surgem no início da secagem, quando esta é acelerada pelo uso de baixos teores de
URA (menores que 50%), que produzem diferença acentuada entre os teores de umi-
dade da superfície e do centro. A região superficial sofre acelerada evaporação, ficando
com teor de umidade inferior ao PSF. É criado um gradiente de secagem que provoca o
aparecimento de tensões excessivas, ficando a superfície sob tração e o interior sob
compressão.
Quanto mais espessa for a madeira, maior a possibilidade do aparecimento de
rachaduras superficiais que, quando detectadas a tempo, podem ser reduzidas, aumentan-
do-se a URA dentro da câmara e elevando-se a TBU sem alterar a TBS.
b - Rachaduras nos extremos ou de topo
São causadas pela perda mais rápida de umidade, acelerada pela maior circulação do
ar nas extremidades da peça do que no seu centro, e surgem, principalmente, durante a
Figura 18. Padrão para o “teste do garfo” - Análise final, após exposição ao ar. primeira fase da secagem.

38 39
Ocorrem mais freqüentemente em peças espessas e podem ser reduzidas aumentan- 14.4 Endurecimento
do-se a URA, pela elevação da TBU, sem alterar a TBS. Recomenda-se vedar os extrem-
os das peças com produtos impermeabilizantes (resinas hidro-asfálticas ou tintas apropri- a - Endurecimento superficial
adas). É a condição que uma peça de madeira apresenta quando, em decorrência da seca-
c - Rachaduras internas ou em favos-de-mel gem, as camadas superficiais se encontram submetidas a tensões de compressão,
enquanto que as camadas mais internas se encontram sob tensões de tração. Essas
Aparecem na segunda fase da secagem, ao longo dos raios, quando se desenvolvem tensões são causadas pelo aparecimento de um gradiente de umidade gerado pelas dife-
as tensões no interior da peça, com a superfície sob compressão e o centro sob tração. renças de teores de umidade entre a superfície e o interior da peça.
Essas tensões causam rachaduras internas quando o esforço excede as forças de coesão
O endurecimento é considerado normal, em se tratando de secagem forçada.
entre as células da madeira. O controle desse tipo de rachadura, apesar de se manifestar
Entretanto, quando a madeira passa por um processamento após a secagem, pode
somente na segunda fase, deve ser feito ainda na primeira fase. Quando muito acelerada,
so-frer deformações que comprometam o seu uso final.
a secagem causa um desequilíbrio entre as tensões no interior e na superfície, que aca-
bam por produzir rachaduras internas à medida que o processo evolui. Deve-se manter, Para que essas tensões sejam detectadas e analisadas, recomenda-se fazer o "teste do
garfo" ao término da secagem. Para a eliminação dessas tensões, deve-se submeter a
na primeira fase, a TBS e aumentar a TBU para aumentar a URA.
carga ao acondicionamento.
14.2 Empenamentos
b - Endurecimento superficial reverso
Secagem da Madeira

São causados por: diferenças de contrações (anisotropia) que ocorrem nas peças de Ocorre quando a madeira encontra-se com a superfície sob tração e o interior sob
madeira; presença de lenho juvenil; desvios da grã; presença de madeira de tração; ou se compressão. Acontece na fase inicial da secagem, sendo automaticamente removido com
formam durante o crescimento da árvore. Pouco pode ser feito com relação aos pro- a continuidade do processo. Entretanto, pode ocorrer ao final, quando o período de
gramas de secagem para minimizar o aparecimento de empenos, a não ser tornar esses acondicionamento for muito longo, tornando-o irreversível. Em ambos os casos, o "teste
programas menos severos. do garfo" é utilizado para verificar a existência desse tipo de endurecimento.
As medidas usuais para redução de empenos são: desdobro adequado; empilhamen-
14.5 Mancha marrom (mancha química)
to correto com alinhamento vertical perfeito dos separadores; pré-secagem ao ar livre,
antes da secagem em estufa; e restrição da carga por meio da colocação de pesos no As manchas que ocorrem na madeira podem ser produzidas pela ação de fungos ou
topo da pilha ou do tracionamento da pilha com molas ou tiras de borracha. por alterações químicas que ocorrem com os extrativos solúveis em água. Com relação
às manchas de natureza química, há evidências de que os açúcares e taninos, quando
Existem cinco formas comuns de empenos que decorrem dos processos de secagem expostos ao calor em presença de oxigênio, oxidam, causando o escurecimento da
natural ou artificial: madeira. No Brasil, a ocorrência da mancha marrom tem sido relatada nas espécies Pinus
• Encanoamento elliottii e Pinus taeda. O desenvolvimento da mancha química é favorecido pelos seguintes
A contração tangencial é maior que a radial. fatores:
• Torcimento • Intervalo de tempo decorrido entre a derrubada da árvore, o desdobro e a seca-
É gerado por uma combinação de contrações diferentes e desvios de grã. gem.
• Arqueamento • Presença de extrativos.
Há diferença na contração longitudinal entre as duas faces opostas. O interior da peça • Condições de secagem.
contrai mais, longitudinalmente, que o exterior. • Espessura e pH da madeira.
• Encurvamento Com o aumento da temperatura, os extrativos são solubilizados e transportados para
É causado da mesma forma que o arqueamento. a superfície. Em altas temperaturas, quando o teor de umidade encontra-se acima de
40%, são formadas as manchas marrons.
• Forma diamante
Para o controle da mancha marrom, recomendam-se:
Ocorre em peças de seção quadrada, em que a contração tangencial é maior que a
radial. • Redução dos intervalos de tempo entre a derrubada, o desdobro e a secagem.
• Uso de altas temperaturas para o bloqueio do processo de formação das manchas,
14.3 Colapso por meio da inativação das enzimas envolvidas.
É um defeito provocado pelo uso de altas temperaturas na primeira fase da secagem • Utilização de programas de secagem em dois estágios, com temperaturas mode-ra-
que levam a uma saída muito rápida da água livre, criando uma tensão dentro dos lúmens das (50ºC), enquanto a madeira encontra-se com teor de umidade acima de 30%, e com
das células e contração violenta da paredes celulares, com perda de sua turgescência. Isso altas temperaturas, a partir desse ponto até que o teor de umidade final desejado seja
acontece quando madeiras com alto teor de umidade e, em geral, com altos teores de atingido.
extrativos são submetidas à secagem sob temperaturas elevadas. Inicialmente, não é • Aplicação de tratamentos químicos após o desdobro.
visível, mas a madeira pode apresentar-se ligeiramente ondulada com o decorrer da
secagem. Para remover o colapso, caso detectado a tempo, deve-se reduzir a TBS na 15. Registro de operações
primeira e segunda fases. Quando ocorrer em níveis moderados, pode ser removido na Para secar a madeira sistematicamente e com precisão, é necessário manter registros
fase de acondicionamento. de todas as alterações realizadas ao longo do processo de secagem. Essas anotações

40 41
reduzem as possibilidades de erro no momento de operar os controles da estufa, são Na impossibilidade de armazenar as toras em água, como é o caso das serrarias de
úteis para indicar o término da secagem e permitem esclarecer dúvidas que possam sur- terra-firme, o método mais prático e econômico utilizado é o de empilhá-las, mantendo
gir durante a secagem. a sua casca; vedar seus extremos com resina hidroasfáltica ou outro produto afim; e
As reclamações existentes relacionadas ao teor de umidade da carga são sempre mantê-las sob uma constante aspersão de água. O uso de produtos químicos nessa fase,
direcionadas ao operador da estufa e nunca ao equipamento. A única prova que o ope-ra- apesar de garantir maior proteção à madeira, pode tornar-se economicamente inviável.
dor pode ter a seu favor é o registro de operações da estufa. Além de auxiliarem a solu-
16.2. Armazenamento de madeira serrada
cionar dúvidas, possibilitam ao operador melhorar sua técnica e diminuir os custos
operacionais, por meio da revisão de secagens anteriores que evitam cometer erros Tem por objetivos: evitar que a madeira absorva umidade quando seca e protegê-la
passados, contribuindo para a maximização de futuros programas. de qualquer tipo de degradação.
As informações mais importantes que devem ser registradas são a data e hora das Os tipos de armazenamento existentes são: ao ar livre, em galpão aberto e em galpão
alterações realizadas; teor de umidade inicial, intermediário e final das amostras-teste; fechado. Este último tipo pode ser dividido em: galpão fechado sem aquecimento, com
período de aquecimento; temperaturas dos bulbos seco e úmido ao longo do processo aquecimento e com ambiente controlado. A escolha da melhor opção para o armazena-
de secagem; início e término do período de igualação; e tempo de acondicionamento. mento dependerá do teor de umidade da madeira e das condições do ambiente ao qual
estará exposta durante o período de estocagem.
Finalmente, outro registro de operação útil é o gráfico do processo de secagem, que
ilustra as condições de TBS, TBU, TUE, TU médio das amostras-teste, início e término 16.2.1. Ao ar livre
Secagem da Madeira

da igualação e do acondicionamento. Assim, o operador pode prever o término da seca- Quando não se tem uma área coberta ou um galpão disponível, o empilhamento ao
gem e orientar o encarregado da produção na programação da próxima carga. ar livre passa a ser a única opção para estocar a madeira.
Esse tipo de armazenamento é satisfatório para madeiras verdes, uma vez que pro-
16. Armazenamento da madeira
move a sua secagem (natural ou ao ar livre), e para madeiras pré-secas, com teor de
Nem sempre os defeitos observados na secagem são gerados no seu decorrer. A umidade acima de 20%, que devem continuar secando. Quando o teor de umidade das
secagem é apenas uma das etapas do processo de transformação da madeira que visa a peças estiver abaixo de 20% e nenhuma secagem adicional se fizer necessária, a madeira
obtenção de um produto com qualidade. Certos defeitos podem ter origem na pro- deverá ser empilhada sem separadores (empilhamento sólido ou compactado).
cedência da árvore, na derrubada da madeira, no armazenamento da tora ou da madeira Com teor de umidade menor ou igual a 12%, a madeira pode ser estocada nessas
seca. condições, em pilhas com ou sem separadores, somente quando o clima for seco e,
16.1 Armazenamento de toras mesmo assim, por um período curto de tempo. Caso contrário, poderá reabsorver umi-
A qualidade da madeira serrada não é dependente apenas do processo de secagem. dade. O empacotamento das peças com papel impermeável ou plástico confere uma
É comum árvores apresentarem defeitos internos ocasionados por agressões físicas proteção temporária ao empilhamento sólido, sendo aconselhável, principalmente, quan-
durante o seu crescimento. Assim, árvores que sofreram algum tipo de abalo físico (fura- do a madeira está em trânsito.
cão, ventos fortes, terremotos ou até mesmo uma queda violenta no ato de sua derruba-
16.2.2. Em galpão aberto
da) podem vir a produzir madeira tencionada ou com fraturas internas que aparecerão
como defeitos durante a sua secagem. Confere uma boa proteção à madeira verde ou parcialmente seca.
Muitas vezes, toras provenientes de árvores derrubadas não são processadas imedi- A madeira verde deve ser empilhada usando-se separadores. As pilhas devem ser
atamente, devido a dificuldades relacionadas com seus manejo e transporte, ficando bem espaçadas umas das outras para promover uma boa ventilação entre si. Essa forma
expostas e susceptíveis ao ataque de agentes biológicos (fungos e insetos). Além disso, de armazenamento confere proteção à madeira contra a chuva e o sol e, conseqüente-
tendem a desenvolver rachaduras nos seus extremos, conhecidas como "pé-de-galinha". mente, minimiza o aparecimento de rachaduras de topo e superficiais.
Para evitar ou minimizar esses problemas, é necessário estocar as toras sob condições as Madeira parcialmente seca, com teor de umidade acima de 20%, deve ser empilhada
mais adequadas possíveis. com separadores e, com teor de umidade abaixo de 20%, empilhada sem separadores,
A melhor maneira de estocar a madeira em tora por um longo período é pela sua no caso de não necessitar de secagem adicional.
total imersão em água. Esse procedimento a protege contra ataques causados por fungos Em condições de clima seco, a madeira seca em estufa, com teor de umidade inferi-
e insetos, pois a água atua como uma barreira física. A madeira imersa não seca, mas or a 12%, pode ser armazenada dessa maneira. Entretanto, em locais de clima quente e
também não racha. Porém, ela pode sofrer ataques de bactérias e alguns insetos aquáti- úmido, está sujeita a absorver umidade, embora esteja protegida do sol e da chuva. A
cos. Quando infestada intensamente por bactérias, costuma apresentar um odor desa- estocagem de madeira seca nesse tipo de galpão deve ser por curto período.
gradável. A imersão da madeira em água corrente minimiza esse problema.
16.2.3 Em galpão fechado
Quando a serraria é localizada na margem do rio, a melhor maneira de estocar as
toras é no próprio rio, mantendo-as com a casca e amarrando-as umas às outras para a - Galpão fechado sem aquecimento
evitar que as toras mais pesadas afundem. Esse método de estocagem protege somente É apropriado para madeira parcialmente seca ou seca em estufa, pois minimiza
a parte da madeira que fica submersa na água. A parte exposta é susceptível ao ataque subs-tancialmente a absorção de umidade, principalmente em regiões de clima seco.
de fungos e insetos e, para sua proteção, recomenda-se fazer uma contínua aspersão de O galpão deve ser provido de portas que, quando fechadas, não permitam a entrada do
água, que pode ser obtida por meio de esguichos apropriados. ar externo. A instalação de ventiladores no interior favorece o armazenamento da madeira.

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Madeira parcialmente seca pode ser armazenada, desde que devidamente empi-lha- • Tempo de secagem.
da. Caso se deseje uma secagem adicional, empilha-se a madeira com separadores e, caso • Giro do capital.
contrário, recomenda-se o empilhamento sólido. Normalmente, a temperatura no • Perda de madeira na secagem.
galpão é maior que a ambiente, devido à insolação no telhado. Entretanto, esse aumento
de temperatura não produz rachaduras de topo e de superfície, uma vez que a madeira • Mão-de-obra necessária.
encontra-se parcialmente seca. • Investimento em equipamentos e materiais..
O objetivo de armazenar a madeira seca, com teor de umidade inferior a 12%, é Uma análise conjunta desses fatores fornecerá os subsídios necessários para a toma-
impedi-la de absorver umidade durante o período de estocagem. O teor de umidade final da de decisão em relação ao método mais conveniente.
que a madeira atinge, quando estocada em galpão fechado, depende do clima. Em Os fatores que devem ser levados em consideração para a análise dos custos de
condições ensolaradas, a temperatura do galpão é maior que a externa e, conseqüente- secagem são:
mente, o TUE no interior é menor que o do ambiente. Nesse caso, a madeira pode ficar • Investimento inicial (R$).
armazenada por um longo período de tempo sem absorver umidade. Porém, em regiões • Depreciação (R$/m3).
de clima úmido, o TUE dentro do galpão pouco difere do externo.
• Remuneração do capital (R$/m3).
b - Galpão coberto com aquecimento • Remuneração do material em secagem (R$/m3).
Aquecendo-se o interior do galpão, abaixa-se a URA e, conseqüentemente, o TUE • Manutenção (R$/m3).
Secagem da Madeira

da madeira. Portanto, o armazenamento da madeira nesse tipo de galpão confere uma


• Mão-de-obra (R$/m3).
ótima proteção contra a absorção de umidade pela madeira seca em estufa, principal-
mente em regiões de clima frio. A madeira destinada à fabricação de móveis, que serão • Energia elétrica e térmica (R$/m3).
utilizados em condições de equilíbrio inferiores a 12%, como é o caso de ambientes • Perdas (R$/m3).
com ar condicionado ou casas com calefação, deve ser armazenada, preferencialmente, • Administração, seguros, impostos, taxas etc. (R$/m3).
desse modo. Entretanto, o custo desse tipo de armazenamento é alto, podendo ser
mi-nimizado se a indústria dispuser de caldeira com capacidade ociosa.
c - Galpão com ambiente controlado
É o tipo mais caro de armazenamento dentre os outros descritos anteriormente,
devido ao custo dos equipamentos envolvidos. É recomendado para regiões de clima frio,
onde o teor de umidade da madeira deve ser mantido em torno de 6%, ou para produ-
tos madeireiros destinados à exportação, que devem cumprir as rígidas exigências rela-
cionadas com o teor de umidade. Galpões com ar condicionado podem proporcionar um
bom armazenamento para esses produtos.

17. Considerações sobre a adoção do método de secagem


pela indústria
A correta seleção do método de secagem a ser empregado pela indústria depende
das espécies de madeira, das condições de investimento e do uso final da madeira e deve
levar em consideração os seguintes aspectos:
• Critérios técnicos (espécie de madeira a secar e uso final).
• Custos de secagem.
• Componentes da secagem (equipamento, controle, operador, programação de
secagem).
A adoção do método de secagem mais apropriado para a aplicação em uma determi-
nada indústria exige uma análise detalhada das implicações econômicas que podem afetar
a rentabilidade da empresa madeireira. Em uma primeira fase, é necessária uma investi-
gação prévia de todos os elementos que determinam os custos, sendo os mais impor-
tantes:
• Consumo anual de madeira.
• Tipos de produtos fabricados.
• Fontes de energia e calor disponíveis.
• Madeiras utilizadas (espécie, espessura e preço).

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