Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
República Federativa do Brasil Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
Fernando Henrique Cardoso Diretoria de Florestas
Presidente Laboratório de Produtos Florestais
Ministério do Meio Ambiente - MMA
José Carlos Carvalho
Ministro
Brasília, 2002
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Apresentação
Renováveis - IBAMA
Laboratório de Produtos Florestais – LPF
O Brasil Joga Limpo é um programa de governo elaborado pelo Ministério do Meio
SAIN – Av. L4 – Lote 4
Ambiente, com a finalidade de desenvolver ações de melhor gestão dos resíduos nas
70818-900 – Brasília, DF – Brasil
Tel.: (61) 316-1209/316-1526 cidades e no campo por meio de um trabalho conjunto e participativo, integrando gov-
Fax: (61) 316-1515/225-1182 er-no e comunidade com vantagens no aspecto ambiental e social. O Brasil Joga Limpo é
http://www.ibama.gov.br um dos 305 programas que integram o Plano Plurianual 2000-2003, o Avança Brasil. São
e-mail: lpf@lpf.ibama.gov.br
Conteúdo Técnico O conteúdo do curso está lastreado na experiência desse Laboratório, acumulada em
Marcus Vinicius da Silva Alves vários anos de pesquisa e aborda o correto processamento da madeira. Com isso, se
Alfredo de Souza Mendes
pode reduzir, significativamente, a geração de resíduos, além de possibilitar a reciclagem
Coordenação Editorial
João Humberto de Azevedo e transformação dos mesmos em novas matérias-primas ou insumos agrícolas, gerando
Tratamento Redacional energia e também uma infinidade de outros produtos de boa qualidade.
Guido Heleno
Dentro desse programa de capacitação serão apresentadas as tecnologias de manejo
Diagramação e Arte Final
Felipe Venâncio Alves de resíduos, exemplificando, também, os processos disponíveis no Brasil e em outros
Projeto Editorial/impressão países. Essas tecnologias podem ser utilizadas para valorização de resíduos da indústria
madeireira, bem como para todos os oriundos da agricultura.
A expectativa é que, integrando gestão ambiental com valorização e conservação dos
recursos naturais e, ao mesmo tempo, considerando possíveis adequações em função das
características regionais, este material favoreça a adoção das tecnologias apropriadas. E
O material desta publicação pode ser reproduzido, desde que citada a fonte.
O conteúdo é de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es).
assim, gradativamente é possível que se consiga promover um maior e melhor aproveit-
amento dos potenciais agroflorestais, agregando valor a esses produtos, gerando
1ª Edição: 1ª Impressão (2002): 1.500 exemplares
A474b empregos e promovendo avanços no bem-estar social e ambiental das comunidades.
Alves, Marcus Vinicius da Silva
Biodegradação e Preservação da Madeira / Marcus Vinicius
da Silva Alves; Alfredo de Souza Mendes. – Brasília: LPF, 2002.
41 p. : il. ; 21x27cm.
Regina Elena Crespo Gualda
Curso para capacitação de agentes multiplicadores em
valorização da madeira e resíduos vegetais. Secretária de Qualidade Ambiental
nos Assentamentos Humanos
Inclui Bibliografia
do Ministério do Meio Ambiente
ISBN 85-7300-154-2
1. Preservação da madeira. 2. Biodegradação da madeira.
I. Alfredo de Souza Mendes. II. Ministério do Meio Ambiente.
III. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis. IV. Laboratório de Produtos Florestais. V. Titulo.
CDU 630*84
Sumário
1. Introdução 7
2. Durabilidade natural da madeira 7
6.1.4 Imersão prolongada 26 como alimentação básica a própria madeira. Na floresta tropical, a atividade desses
6.1.5 Banho quente-frio 26 organismos é tão intensa que o processo de deterioração é efetivado, em certas
situações, até mesmo em árvores vivas (8, 9, 19).
6.1.6 Difusão 27
Estudos teóricos e observações práticas indicam claramente que a obtenção de
6.1.7 Difusão dupla 28 padrões superiores de qualidade para espécies de madeiras suscetíveis a fungos e
6.1.8 Processo de Boucherie 28 insetos requer cuidados especiais e técnicas de preservação que devem ser aplicados
desde a derrubada da árvore até a utilização final do produto. Porém, devido a uma
6.1.9 Substituição de seiva 28
série de dificuldades intrínsecas às operações de exploração florestal e processamen-
6.2 Métodos com pressão 29 to industrial, muitos procedimentos recomendados não são devidamente implemen-
6.2.1 Processo Bethell (célula cheia) 30 tados. Entretanto, mesmo considerando os obstáculos associados à preservação da
qualidade da madeira e o fato de ela ser um material renovável, é fundamental que
6.2.2 Processo Rueping (célula vazia) 31 medidas de proteção sejam correta e intensamente aplicadas às toras e, principal-
6.2.3 Processo Lowry (célula vazia) 32 mente, à madeira beneficiada, minimizando os estragos causados por fungos e
insetos e, conseqüentemente, reduzindo o desperdício e a pressão sobre os maciços
7. Fatores que afetam o tratamento preservativo 33 florestais.
7.1 Pressão 33
7.2 Temperatura 34
2. Durabilidade natural da madeira
7.3 Tempo 34 O processo de degradação biológica da madeira em serviço, apesar de natural,
8. Avaliação da durabilidade natural da madeira não deve e não pode ser considerado como um processo inevitável. A utilização de
madeiras para as mais diversas finalidades deve sempre ser precedida de uma
e da eficiência de preservativos 34 seleção adequada de espécies de alta durabilidade natural ou do correto tratamen-
8.1 Toxidez 34 to preservativo.
8.2 Ensaios de apodrecimento acelerado em laboratório 34 Nos últimos anos, madeiras naturalmente duráveis têm se tornado cada vez mais
escassas, haja vista a exploração de muitas dessas espécies, as restrições legais ou
8.3 Ensaios de campo 35 comerciais ou, em muitos casos, os preços excessivos que essas madeiras atingem
9. Aspectos econômicos do tratamento preservativo 35 nos mercados interno e externo. Esse quadro agrava-se nos países detentores de
florestas temperadas e mostra-se menos dramático nos países que detêm florestas
10. Aspectos de segurança do tratamento preservativo 36 tropicais em boas condições de conservação.
11. Glossário 37 A região mais externa da madeira, localizada abaixo da casca e normalmente
Referências Bibliográficas 40 mais clara e pálida do que a região central, é conhecida como alburno ou brancal.
O alburno de praticamente todas as espécies de madeira é altamente suscetível ao
ataque de organismos destruidores, tais como os fungos e insetos. A região central, A madeira exposta a diversas condições climático-meteorológicas, que atuam
conhecida como cerne, é geralmente mais escura, apresenta maiores teores de isoladamente ou em conjunto, também pode ser degradada pela ocorrência de um
extrativos e, via de regra, possui elevada resistência à degradação biológica. fenômeno conhecido por intemperismo ou weathering. Radiação solar, ventos, chu-
A durabilidade natural de madeiras varia enormemente. Em virtude da natureza vas, umidade, etc agem alterando a cor da madeira, tornando-a acinzentada,
orgânica, não existem madeiras com características de resistência permanente. invadindo a superfície, tornando-a áspera, causando inchamentos e contrações,
Entretanto, há registros de espécies, como a teca, as sequóias, a aroeira, a aquari- rachaduras e defeitos, aumentando, assim, os riscos de ataque de organismos xilófa-
quara e os ipês, cujas madeiras permaneceram em serviço por décadas e, em alguns gos (25). Esse processo de degradação é restrito à superfície e não produz efeitos
casos, até por séculos, mesmo quando utilizadas em contato com o solo. Por outro sobre a resistência mecânica da madeira. A Figura 1 apresenta alguns exemplos de
lado, madeiras de balsa, embaúba, seringueira, pinheiro-do-paraná, pinus e virola madeiras degradadas pelo intemperismo.
são facilmente atacadas por fungos e insetos imediatamente após o abate da árvore.
8 9
b) Insetos (cupins e brocas) e perfuradores marinhos (moluscos e no metabolismo deles e, portanto, o oxigênio se torna essencial para o crescimento.
crustáceos) Os fungos xilófagos podem se desenvolver na madeira mesmo que ela apresente
concentrações de oxigênio 20% inferiores àquelas encontradas no ar. Apesar de
A deterioração é causada pela ação mecânica dos organismos na madeira, alguns fungos conseguirem sobreviver em atmosfera com apenas 1% de oxigênio,
quando estão à procura de alimento ou abrigo. a ausência desse gás impede ou restringe o seu desenvolvimento na madeira. Por
essa razão, os fungos são incapazes de se desenvolverem na madeira quando ela
3.4.1 Bactérias está completamente saturada de água.
O ataque por bactérias é comum em madeiras mantidas submersas por prolon- O desenvolvimento de fungos xilófagos requer um pH ótimo na faixa ácida,
gados períodos de tempo (meses ou anos) e também quando submetidas a entre 3 e 6, que corresponde à faixa de pH apresentada pela maioria das espécies
condições de anaerobiose. de madeira. O valor mínimo de pH para o desenvolvimento de fungos é 2 e o má-xi-
As bactérias não causam séria deterioração na madeira (9, 26). Elas podem
pe-netrar profundamente na madeira, tornando-a excessivamente absorvente e, De acordo com LEVY (14), os fungos que normalmente são encontrados degra-
conseqüentemente, conferindo maiores retenções de produtos químicos, quando dando a madeira dividem-se em cinco categorias: podridão parda, podridão branca,
sujeita a tratamentos preservativos. As bactérias alimentam-se, aparentemente, dos podridão mole, manchadores e bolores. As três primeiras podem ser agrupadas
nu- trientes existentes nas células dos raios e dos canais resiníferos. Dependendo como sendo aquelas formadas por fungos que causam o apodrecimento, sendo
da intensidade do ataque, as enzimas secretadas pelas bactérias podem conferir à responsáveis pela perda de resistência da madeira.
madeira um odor característico bastante desagradável.
3.4.2.1 Podridão parda
3.4.2 Fungos Processo biológico resultante da ação enzimática do micélio dos fungos xilófa-
Os fungos são caracterizados como células eucarióticas filamentosas, de nature- gos sobre as paredes celulares. Esses fungos degradam extensivamente os car-
za heterotrófica, que realizam digestão extracelular e se reproduzem por esporos. boidratos (hemiceluloses e celulose), transformando-os em substâncias solúveis
Os fungos que se desenvolvem em organismos vivos são conhecidos como patogêni- facilmente assimiladas e digeridas. A lignina, de coloração escura, permanece prati-
cos (parasíticos) e aqueles que se desenvolvem em associação com outros organis- camente intacta, conferindo à madeira um aspecto pardo-escuro. A destruição dos
mos são conhecidos como simbiontes. A maioria dos fungos, que se desenvolve em elementos estruturais que se encontram nas paredes celulares provoca uma rápida
material morto, é chamada de saprofítica. Os fungos desempenham um papel perda da resistência mecânica. A madeira atacada por fungos de podridão parda
fundamental na ciclagem de nutrientes à medida que promovem a decomposição apresenta-se amolecida, excessivamente porosa e quebradiça. O padrão anormal de
de material orgânico, contribuindo para o equilíbrio dos ecossistemas. contração, evidenciado pelo colapso da peça atacada e, principalmente, por numer-
A deterioração da madeira, ocasionada por fungos, ocorre de diferentes formas. osas e pequenas rachaduras dispostas perpendicularmente entre si caracteriza a
Esses organismos são capazes de decompor totalmente a madeira ou apenas man- podridão parda. A Figura 2 apresenta madeiras com características de ataque por
chá-la. Em ambos os casos, os fungos são responsáveis por grandes prejuízos econômi- fungos de podridão parda.
cos (5).
O fator mais importante no processo de deterioração por fungos é o teor de
umidade da madeira. Árvores recém-abatidas e madeiras expostas a condições de
alta umidade tornam-se muito suscetíveis ao ataque de fungos xilófagos. Em geral,
o ataque de fungos ocorre quando a madeira apresenta teores de umidade acima
de 20%. O teor de umidade ótimo para o desenvolvimento da maioria dos fungos
situa-se na faixa de 40% a 75%, ou seja, acima do ponto de saturação das fibras.
A temperatura exerce um papel relevante no desenvolvimento dos fungos.
Normalmente, em climas úmidos, quanto mais quente, mais rápido os fungos cres-
cem. Para a maioria dos fungos xilófagos, a temperatura ideal varia entre 25°C a
30°C. Contudo, o desenvolvimento de fungos pode ocorrer a temperaturas de 0°C
a 40°C. Nas regiões temperadas, a incidência de ataques de fungos é mínima duran-
te o período de inverno, quando as temperaturas atingem valores negativos. Por
outro lado, nas regiões tropicais, as madeiras são passíveis de ataques ime-
diatamente após o abate da árvore. Apesar de desfavoráveis ao crescimento, as
temperaturas abaixo do ponto de congelamento não são capazes de causar a morte
dos fungos. Todavia, temperaturas superiores a 65°C são letais para a maioria dos
fungos, especialmente em condições de umidade elevada. Dessa forma, a secagem
artificial de madeira serrada em estufa pode servir para a esterilização de peças pre-
viamente atacadas por fungos xilófagos.
Os fungos são organismos aeróbicos. Isso significa que a respiração está envolvida Figura 2. Madeiras degradadas por fungos de podridão parda.
10 11
3.4.2.2 Podridão branca da madeira e até no produto final, desde que este apresente um conteúdo de umi-
dade adequado ao desenvolvimento desses organismos.
Os fungos de podridão branca, tal como os de podridão parda, atuam na pare-
de celular. A ação restrita do sistema enzimático proporciona a formação de fendas O primeiro sinal de infestação causada por fungos manchadores é o aparecimen-
ou orifícios. No decorrer do ataque, essas fendas vão se agregando, provocando to de uma nódoa ou listra manchada nas extremidades das toras ou na superfície
uma gradual e completa erosão da parede celular a partir do lúmen. Esses fungos da madeira, normalmente nas tonalidades azul, preta, marrom ou cinza. Entretanto,
são capazes de atacar e metabolizar todos os principais constituintes da madeira. A assim que aparecem, aprofundam-se rapidamente na madeira, tornando a remoção
decomposição das hemiceluloses, da celulose e da lignina pode ocorrer simultanea- por polimento ou aplainamento ineficiente. Dentre os fungos manchadores que
mente ou de maneira seletiva. produzem diferentes colorações na madeira, os mais importantes do ponto de vista
econômico são os que causam a chamada mancha azul.
Devido a maior porcentagem de holocelulose (hemiceluloses e celulose), a
As propriedades mecânicas do alburno, quando atacado por esses organismos,
esbranquiçada, muitas vezes delimitada por linhas escuras típicas desse tipo de apo- permanecem praticamente inalteradas, com exceção da resistência ao impacto.
drecimento. A madeira apresenta progressiva perda de peso e das propriedades Fungos manchadores também são responsáveis por substanciais aumentos na per-
mecânicas, assim como aspecto desfibrado ou esgarçado. A Figura 3 apresenta meabilidade da madeira, em virtude da remoção das membranas das pontuações.
exemplos de madeiras degradadas por fungos de podridão branca. A Figura 4 apresenta uma peça de madeira com características de ataque cau-
sado por fungo manchador.
12 13
desagradável semelhante ao de lugares abafados e úmidos. Alguns fungos produzem
3.4.2.5 Bolores substâncias aromáticas, conferindo um cheiro peculiar à madeira, sendo essa carac-
terística utilizada no reconhecimento do ataque.
Os fungos que pertecem a esse grupo se desenvolvem na superfície da madeira
com elevados teores de umidade, alimentando-se dos componentes existentes nas 3.4.4 Insetos
células recém-cortadas ou de resíduos nutritivos depositados sobre a superfície. A
madeira embolorada apresenta na superfície uma formação pulverulenta (Figura 5), Entre as 26 ordens de insetos existentes, cinco delas causam danos à madeira (22):
de coloração variada e, em geral, facilmente removível por raspagem ou aplainamento a) Isoptera, que compreende os cupins ou térmitas;
(21). b) Coleoptera, representada pelas brocas, carunchos ou besouros;
c) Hymenoptera, representada pelas formigas, abelhas e vespas;
d) Lepidoptera, à qual pertencem as borboletas e mariposas;
14 15
Conforme os hábitos de vida, os cupins podem ser divididos em três grupos: fibras, papel, etc., o ataque se estende a outros materiais à base de algodão e a
cupins subterrâneos, cupins de madeira úmida e cupins de madeira seca. ou-tras plantas. Muitos materiais não-celulósicos, incluindo o plástico, também
podem ser perfurados por cupins, embora não sirvam como alimento.
3.4.4.1.1 Cupins subterrâneos As medidas de preservação usadas no combate ao ataque de cupins visam, primei-
Os cupins subterrâneos são responsáveis pelo maior volume de madeira em serviço ramente, o envenenamento das substâncias nutrientes, uma vez que as demais
destruída no mundo. Os cupins subterrâneos não têm revestimento externo de quitina, condições vitais para esses organismos, tais como níveis adequados de umidade,
substância que confere ao corpo do inseto resistência à baixa umidade. Portanto, as temperatura e oxigênio são de difícil controle e, na maioria das vezes, impraticáveis.
condições de elevado teor de umidade encontradas abaixo da superfície do solo são Embora a melhor proteção da madeira contra o ataque de cupins seja alcançada
favoráveis e necessárias a esse tipo de inseto. Não obstante, o ataque realizado por esses por intermédio da imunização total da peça com substâncias preservativas, algumas
insetos pode se estender a peças mais secas e isoladas daquelas que se encontram em
contato com o solo, pois esses cupins constroem túneis com argila e outros materiais,
remover todo o entulho de natureza ligno-celulósica do local de utilização de
mantendo, no seu interior, a umidade necessária ao metabolismo e sobrevivência dos
estruturas de madeiras;
indivíduos.
evitar o acúmulo de água e favorecer a drenagem permanente das áreas de
Uma das características mais marcantes do ataque de cupins subterrâneos é que eles
construção;
sempre mantêm intacta uma fina camada externa da peça que está sendo atacada. Essa
superfície normalmente se rompe quando submetida à pressão de um objeto pontiagudo. favorecer a ventilação constante dos ambientes em que madeiras estejam
A detecção do ataque também pode ser feita a partir de pequenas batidas dirigidas à expostas;
superfície suspeita. Um som oco é indicativo da presença desses insetos na peça. evitar a ocorrência de rachaduras nas lajes e fundações e proceder à correta
Na maioria das vezes, quando se nota a existência de ataque de cupins subterrâneos vedação quando verificadas;
em uma estrutura de madeira, pouco ou quase nada se pode fazer no sentido de recu- estabelecer barreiras físicas de proteção, por meio de escudos metálicos de
perar os danos, pois o ataque já se encontra em estágio muito adiantado. ferro galvanizado, zinco ou cobre;
estabelecer barreiras químicas (tratamento de solo), ou seja, pulverização de
3.4.4.1.2 Cupins de madeira úmida substâncias químicas ao redor das fundações e da base da construção.
Esse grupo de cupins ataca exclusivamente madeira com elevado teor de umidade.
O ataque ocorre diretamente pelo ar, isto é, durante a revoada e, normalmente, não tem 3.4.4.2 Brocas, carunchos ou besouros
contato com o solo. Confinam suas atividades nas madeiras submetidas a condições de Os insetos pertencentes à Ordem dos Coleópteros são, depois dos cupins, aqueles
elevadas temperatura e umidade relativa do ar, normalmente já apodrecidas. Entretanto, que causam maiores danos às madeiras e produtos derivados. Conhecidos como bro-
esses cupins podem estender suas galerias para partes de madeiras adjacentes em bom cas, carunchos ou besouros, esses organismos atacam a madeira nas mais diversas
estado de sanidade. No Brasil, ainda não há registro de casos de infestação em con- condições de umidade e uso. A deterioração causada por esses insetos ocorre ao
struções causados por esse grupo de cupins. longo de seu ciclo vital (Figura 7), que compreende as fases de ovo, larva, pupa e
adulto.
3.4.4.1.3 Cupins de madeira seca
Os cupins de madeira seca são encontrados em regiões de clima quente e nas áreas
subtropicais (13). Ao contrário dos cupins de madeira úmida, os cupins deste grupo habi-
tam inteiramente a madeira seca, com 10% a 12% de teor de umidade, não exigindo
contato com o solo. Iniciando o ataque diretamente pelo ar, cada par sexuado penetra na
madeira através de rachaduras ou outras aberturas naturais e inicia a escavação para seu
interior, fechando imediatamente a entrada com partículas da própria madeira. Durante
a escavação de suas galerias, os cupins de madeira seca produzem pequeníssimas pelotas
fecais, liberadas ocasionalmente por orifícios abertos temporariamente que auxiliam na
detecção do ataque de cupins na madeira.
Considerando que esses insetos atacam madeiras com baixo teor de umidade,
eles podem ser encontrados nos mais diversos tipos de estrutura, tais como: topo
de postes não-tratados, peças estruturais, pisos, forros, lambris, janelas, portas,
móveis e outras peças de madeira.
16 17
3.4.4.2.1 Família Lyctidae Esses insetos produzem um pó fino, de coloração clara, que permanece com-
pactado no interior dos túneis. Realizam furos circulares com 3 mm a 6 mm de
O alburno da maioria das madeiras de folhosas é suscetível ao ataque de besou-
diâ-metro. O ataque intenso desses insetos pode causar comprometimento estru-
ros do gênero Lyctus (4, 16, 17), coleópteros vulgarmente conhecidos no Brasil
tural em peças de madeira com grande porção de alburno.
como "carunchos". O ataque se efetiva no alburno de madeiras de folhosas que
contém elevados teores de amido, poros grandes e umidade abaixo de 40%. Esses
3.4.4.2.5 Família Cerambycidae
carunchos também atacam bambu e painéis de madeiras. Normalmente, não se
observa o ataque desses insetos a madeiras de coníferas. Segundo FRENCH (6), esse inseto é de origem européia, sendo, porém, larga-
O primeiro sinal do ataque é o aparecimento de um pó fino, geralmente de cor mente encontrado em países onde existem ou se utilizam coníferas. O Hylotrupes
creme, invariavelmente associado a pequenos furos circulares, com 1 mm a 2 mm bajulus pertence à família Cerambycidae, que é representada por mais de 5.000
a 12 meses depois da larva ter iniciado suas atividades na madeira. O Lyctus sp. pode he-cidas como "serradores" e "serra paus". Segundo BORROR e DELONG (1), difer-
atacar madeiras secas ou parcialmente secas, em especial aquelas armazenadas em entes espécies atacam diferentes tipos de árvores e arbustos. Poucas atacam árvores
depósitos, e são capazes de reinfestar madeiras previamente atacadas até que o vivas e a maioria prefere árvores recém-cortadas.
alburno seja totalmente destruído. Os carunchos não penetram em madeiras que Particularmente, o Hylotrupes bajulus acomete principalmente o alburno de
receberam acabamento superficial, tais como tintas, vernizes e stains (1). coníferas, embora o ataque possa se estender ao cerne. Várias folhosas européias
são suscetíveis a esses insetos, que são capazes de destruir completamente o albur-
3.4.4.2.2 Famílias Scolytidae e Platypodidae no dessas madeiras (5). Introduzido acidentalmente na América do Sul e na África,
Segundo FRANCIA (5), esses besouros perfuradores da madeira recebem o nome o H. bajulus causa danos também ao alburno de folhosas tropicais. Esses besouros
Ambrósia em decorrência de um fungo do mesmo nome que lhes serve de alimento produzem orifícios ovais na madeira de aproximadamente 1 mm x 5 mm.
em seus túneis. Atacam madeiras de coníferas e folhosas, particularmente de
regiões tropicais. Somente nas Filipinas são conhecidas pelo menos 110 espécies 3.4.4.3 Formigas carpinteiras
desses insetos, compreendendo as famílias Scolytidae e Platypodidae, que são fre-
qüentemente encontrados perfurando toras recém-derrubadas e madeiras verdes. Segundo KOLLMANN e CÔTÉ (11), as formigas carpinteiras, da Família
Formicidae, formam um grupo de insetos responsáveis por estragos consideráveis na
Embora o ataque não se efetive em madeiras secas, os orifícios produzidos por
madeira em serviço.
esses insetos na superfície da peça lhe confere um aspecto indesejável. Os furos
produzidos são geralmente circulares e variam de 1 mm a 2 mm de diâmetro. Os As formigas vivem em colônias com castas definidas e, algumas vezes, são con-
túneis escavados na madeira são sempre manchados, devido aos fungos associados fundidas com os cupins subterrâneos. Pretas ou marrons e de diversos tamanhos, as
a esses insetos. formigas carpinteiras são facilmente encontradas em tocos, árvores mortas caídas
Nos trópicos, a atividade desses insetos é intensa durante todo o ano, pois as na floresta, em feridas basais e ocos de árvores vivas (9).
condições de temperatura e umidade do ar dessas regiões lhes são favoráveis. O Embora as formigas não utilizem a madeira como alimento e sim como abrigo,
controle da Ambrósia pressupõe o processamento imediato da tora após a derruba- o ataque pode se intensificar à medida que a colônia aumenta, inutilizando a peça
da, assim como a secagem da madeira serrada. A remoção da casca da tora, apesar em poucos anos (13). Cabe ressaltar que as formigas necessitam de um teor de
de ser uma prática usada em muitos países tropicais, não apresenta garantia de umidade superior a 15% para se estabelecerem na madeira.
proteção.
3.4.4.4 Abelhas e vespas
3.4.4.2.3 Família Anobiidae
Assim como as formigas carpinteiras, esses insetos também não utilizam a
Os coleópteros pertencentes à Família Anobiidae são freqüentemente encontra- madeira como alimento e sim para desovar (11). As fêmeas adultas perfuram a
dos em móveis e em construções antigas, como igrejas, catedrais e museus.
madeira e depositam seus ovos. As vespas são amplamente distribuídas pelo mundo,
Esses insetos são comumente encontrados na Europa e atacam coníferas e tendo sido introduzidas em vários países por meio de madeiras por eles importadas.
fo-lhosas européias. Confinam seu ataque ao alburno, embora possam estendê-lo A secagem artificial e a esterilização por calor podem ser usadas na exterminação
para o cerne em certas condições. As condições que favorecem a atividade larval
desses insetos. O tratamento preservativo desencoraja abelhas e vespas a perfurar a
desses insetos fazem com que a sua distribuição se restrinja a regiões temperadas,
madeira.
onde existe alto teor de umidade e temperatura máxima de 25°C. Intensos ataques
podem ser verificados em madeiras submetidas a condições de elevadas temperatu-
3.4.5 Perfuradores marinhos
ra e umidade relativa do ar, como, por exemplo, em adegas (3, 4).
Segundo KOLLMANN e CÔTÉ (11), os perfuradores marinhos formam o terceiro
3.4.4.2.4 Família Bostrichidae maior grupo dos degradadores biológicos da madeira.
Os besouros representantes dessa família atacam o alburno seco, parcialmente As várias espécies de organismos marinhos responsáveis por danos causados às
seco ou verde das madeiras de folhosas tropicais, especialmente daquelas ricas em estruturas de madeira (fixas ou flutuantes), podem ser separadas em duas categori-
amido, lâminas, compensados e bambus. as distintas, conforme os seus costumes e a maneira pela qual atacam a madeira.
18 19
3.4.5.1 Moluscos
Os principais representantes desse grupo pertencem aos gêneros Teredo, da
Família Teredinidae, e Martesia, da Família Pholadidae.
Os teredinídeos apresentam um corpo vermiforme e são equipados com um par
de ventosas em uma das extremidades, com as quais escavam a madeira. Em alguns
casos chegam a medir até dois metros de comprimento (11), mas normalmente são
de alguns centímetros, com poucos milímetros de diâmetro. Inicialmente, acredita-
va-se que esses organismos penetravam na madeira somente para proteger-se;
porém, investigações posteriores demonstraram que a madeira, principalmente a
20 21
O controle de qualquer um desses fatores pode impedir ou retardar o desen- 5. Preservativos de madeira
volvimento dos agentes bióticos.
A eliminação da fonte de nutrientes pode ser conseguida por meio do envenena- Toda substância química capaz de provocar o envenenamento dos nutrientes celu-
mento ou impregnação da madeira com produtos químicos preservativos. Já o lares da madeira tornando-a resistente ao ataque de fungos, insetos e perfuradores
controle de temperatura nos locais de armazenamento de toras e material lenhoso marinhos pode ser denominada preservativo de madeira. Assim, um preservativo para
no estado bruto é praticamente impossível. O controle da umidade da madeira é, madeira deve apresentar, teoricamente, as seguintes características:
também, muito difícil de ser feito no caso de toras. Normalmente, o tempo ter boa toxidez;
necessário para toras de madeiras alcançarem teores de umidade médio inferiores a
20% é extremamente longo e, ao final desse período, as madeiras já se encontram não ser volátil nem lixiviável;
em avançado estágio de degradação abiótica e biótica. O fornecimento de oxigênio não se decompor nem se alterar e ter alta permanência na madeira;
Biodegradação e preservação da madeira
5.1.1 Creosoto
Derivado da destilação do alcatrão da hulha betuminosa, o creosoto é um óleo
mais denso que a água, de cor escura e de odor característico. Sua complexa e
va-riável composição envolve mais de 200 compostos químicos compreendendo,
basicamente, hidrocarbonetos, ácidos e bases de alcatrão. A porcentagem desses
componentes varia de acordo com a natureza do alcatrão e de sua destilação.
Normalmente, a composição média é de 3% a 5% de ácidos de alcatrão e uma
porcentagem pouco maior de bases de alcatrão.
O creosoto está entre os preservativos mais antigos e mais confiáveis, sendo
altamente eficaz devido a sua considerável toxidez a organismos xilófagos e a sua
ca-racterística de repelência à água. O creosoto é resistente à lixiviação e, normal-
mente, não é corrosivo aos metais, além de proteger a madeira contra o intemper-
ismo.
É especialmente recomendado para madeiras que serão utilizadas em situações
Figura 10. Armazenamento de toras por imersão parcial em água.
de alta incidência de ataque de organismos xilófagos, como no caso de dormentes
Independente das vantagens e desvantagens de cada um dos vários métodos de de estrada de ferro e estruturas marinhas.
conservação de toras, diversos autores (17, 23, 24) afirmam que o controle mais A madeira tratada com creosoto apresenta uma desvantagem, pois não aceita
efetivo contra a deterioração é fazer o processamento das toras o mais rápido pos- acabamentos em virtude da superfície oleosa, causada pela exsudação e acúmulo do
sível após o abate. Entretanto, considerando o reduzido número de indústrias que preservativo na madeira. Essas características associadas ao odor obnóxio tornam a
têm condições práticas para efetuá-lo, técnicas como a aspersão ou jatos d'água, madeira creosotada imprópria para o uso interior.
submersão total ou parcial, aplicação de preservativos de madeiras, vedação de Mesmo sendo considerado um preservativo altamente eficaz, o creosoto, em
extremos, ou qualquer combinação destas, são as alternativas mais usuais. determinadas ocasiões, é utilizado em combinação com outros ingredientes ativos,
22 23
Alguns exemplos de formulações de preservativos hidrossolúveis são apresenta-
visando melhorar a sua performance. dos a seguir:
a) Arseniato de Cobre Cromatado (CCA), formado por sais de cromo, cobre e
5.1.2 Pentaclorofenol arsênio;
O pentaclorofenol é um preservativo organoclorado, obtido pela cloração direta b) CCB, que é uma mistura de sais de cromo, cobre e boro;
do fenol, de baixa pressão de vapor e essencialmente insolúvel em água. É extrema- c) FCAP, composto de sais de flúor, cromo, arsênio e dinitrofenol.
mente tóxico aos organismos xilófagos, não é volátil, não corrói os metais e é resis-
Como essas formulações podem existir em variadas porcentagens de cada com-
tente a lixiviação.
ponente, uma uniformização foi conseguida por meio de padrões, chamados ingre-
Os solventes utilizados como veículos do pentaclorofenol vão desde o petróleo dientes ativos, que expressam a composição ponderal, em porcentagem, das referi-
bruto, no caso do tratamento para dormentes, até óleos leves do tipo diesel, quan- das formulações.
do se deseja um tratamento mais limpo. Outros veículos como querosene, varsol,
óleo de linhaça, acetona, álcool etílico podem ser utilizados, dependendo do uso Os compostos de boro têm sido usados com freqüência cada vez maior em vir-
final da madeira tratada. tude de serem relativamente seguros e menos impactantes ao meio ambiente. Esses
preservativos são particularmente úteis no tratamento de peças de madeira sus-
O pentaclorofenol pode ser utilizado juntamente com outros preservativos para
cetíveis aos ataques de brocas e fungos manchadores, que serão utilizadas em
aumentar a eficiência destes, principalmente em situações críticas à madeira.
condições acima do solo.
Apesar da sua comprovada eficiência preservativa, a utilização do pentaclorofe-
nol e do sal sódico (pentaclorofenato de sódio) em formulações comerciais têm 6. Métodos de tratamento da madeira
diminuído significativamente em todo o mundo e, em breve, deverá estar definitiv-
amente descartada, haja vista as pressões de natureza ambiental e de saúde ocupa- A utilização de madeiras em situações de alto risco de deterioração, tais como
cional. postes, dormentes, material de construção, pilares, moirões, estruturas marinhas e
outras demanda a seleção de espécies de alta durabilidade natural ou o uso de
5.1.3 Quinolinolato de Cobre-8 técnicas adequadas de proteção da madeira, objetivando aumentar a vida útil da
Trata-se de um fungicida altamente eficaz, incolor, inodoro e de baixa toxicidade peça quando em serviço.
ao homem, às plantas e aos animais. Por essas razões, tem sido empregado para o Atualmente, muitas madeiras têm sido tratadas eficientemente, com custos
tratamento de madeiras que tenham contato direto com alimentos, como, por moderados, por intermédio de vários métodos de impregnação. Apesar de existir
exemplo, caixotaria, embalagens e revestimento de depósitos e câmaras frias. inúmeros processos de preservação de madeira, serão enfocados aqui os mais difun-
Apesar dessas características, esse produto preservativo ainda tem uso restrito no didos mundialmente. Esses são divididos em métodos sem e com pressão.
Brasil, em razão do seu custo elevado.
6.1 Métodos sem pressão
5.1.4 TBTO [Óxido de Bis (Tributil Estanho)]
Produto altamente eficiente contra fungos xilófagos, especialmente fungos cau- 6.1.1 Fumigação ou expurgo
sadores da podridão parda. Recomendado para a impregnação de madeiras que Esse método é utilizado, na maioria das vezes, em tratamentos curativos, já que
serão utilizadas fora do contato com o solo, contudo em situação de risco elevado, o preservativo encontra-se na fase gasosa, não possuindo nenhum efeito residual.
como no caso de molduras de uso exterior e esquadrias de janelas. Tem sido muito usado para erradicar principalmente insetos de peças de madeira
O TBTO é um produto de baixa toxidez a humanos e ao meio ambiente, além de que não podem ser tratadas por outros métodos, como no caso de peças ornamen-
permitir a aplicação de produtos de acabamento na superfície das peças tratadas. tais, decorativas, históricas e móveis, em que há a preocupação de não danificar ou
modificar o revestimento, bem como a aparência da madeira.
5.2 Preservativos hidrossolúveis Nesse método, a peça é coberta com lona plástica, sendo vedada completa-
Normalmente, os preservativos hidrossolúveis são compostos de um ou mais mente. O gás, após sua aplicação ou liberação, fica retido no interior da lona, pe-ne-
componentes tóxicos. Teoricamente, quanto maior o número de compostos em um trando na madeira e, conseqüentemente, eliminando os insetos na fase larval e
único produto, maior será a eficiência deste para diferentes espécies de fungos e adulta. Os gases comumente utilizados nesse processo são de fosfina ou de brome-
insetos. Entretanto, a combinação de muitos compostos químicos pode gerar to de metila.
reações químicas que anulam certas características do produto como preservativo.
Em muitos casos, a utilização de dois ou mais compostos químicos em um único 6.1.2 Pincelamento e pulverização
produto provoca a precipitação de um terceiro, insolúvel na madeira. Nesses processos, o preservativo é aplicado na superfície da madeira com broxa
Esses preservativos apresentam algumas vantagens: são desprovidos de odores ou pulverizador.
característicos, permitem que a madeira receba tratamento/acabamento superficial, A preferência por preservativos oleossolúveis de baixa viscosidade é maior por
podem ser transportados em pó ou pasta, podem ser combinados com retardantes apresentarem uma maior fixação, sendo mais resistente à lixiviação.
de fogo e facilitam o manuseio da madeira tratada. Por outro lado, os preservativos A penetração é muito superficial, sendo que parte do preservativo entra por ação
hidrossolúveis promovem o inchamento da madeira, são lixiviados mais facilmente capilar. Ambos os processos são indicados para madeiras que serão utilizadas em
e, em alguns casos, reduzem a resistência mecânica. condições de baixa incidência de organismos xilófagos.
24 25
6.1.3 Imersão rápida er-vativo para o interior da madeira. O banho quente é responsável por apenas de
15% a 20% da absorção total do produto preservativo.
Esse tipo de preservação é aplicado à madeira estrutural. Consiste em uma imersão
rápida, por segundos ou minutos, em solução preservativa (Figura 11). O tratamento
é um pouco mais efetivo do que o realizado com broxa ou pulverizador, oferecendo
a vantagem do preservativo penetrar melhor nas rachaduras ou outras aberturas que
a madeira possa vir a apresentar.
26 27
de pouca ventilação, para evitar uma secagem muito rápida e permitir uma dis-
tribuição mais homogênea do preservativo. O período de armazenamento normal-
mente dura quatro meses, tempo em que ocorre a fixação do preservativo na madei-
ra.
Com a difusão do cromato de sódio na madeira, haverá uma reação com o sulfato de
cobre, originando um terceiro composto tóxico e insolúvel em água, o cromato de
cobre. Esse processo não é muito comum e pode ser feito com outros sais.
28 29
Biodegradação e preservação da madeira
Biodegradação e preservação da madeira
30 31
a) injeção de preservativo;
b) aplicação de pressão;
c) manutenção da pressão;
d) liberação da pressão;
e) liberação da solução preservativa;
f) vácuo final;
g) manutenção do vácuo final;
h) liberação do vácuo final.
Uma peça de madeira que apresenta uma alta retenção, porém com penetração
irregular, não está devidamente preservada, pois as áreas livres de preservativos
poderão vir a ser os locais onde fungos e/ou insetos iniciarão seus ataques. A
retenção e a penetração dependem, principalmente, dos fatores físicos (pressão,
temperatura e tempo) envolvidos no processo de tratamento.
7.1 Pressão
Dentre os fatores físicos envolvidos num tratamento preservativo, a pressão de
impregnação é, sem dúvida, o mais importante. É responsável pela penetração pro-
funda do preservativo na madeira, pois atua empurrando-o para o interior dos ele-
mentos estruturais da madeira (raios, vasos, fibras, etc.).
Figura 17. Representação gráfica do Processo Lowry.
As pressões utilizadas nos tratamentos variam de pouco mais de uma atmosfera,
no processo Boucherie, até 70 kgf/cm2, em processo de preservação utilizado na
32 33
Austrália para impregnação de postes de eucaliptos. Entretanto, nas autoclaves 8.3 Ensaios de campo
convencionais, a pressão máxima imposta ao líquido não ultrapassa 18 kgf/cm2,
sendo que a mais usual fica em torno de 14 kgf/cm2. Os ensaios de laboratório vistos até aqui, embora forneçam resultados significati-
vos quanto à eficiência de um determinado produto ou à durabilidade natural de uma
7.2 Temperatura espécie de madeira, não devem ser considerados definitivos, pois são baseados em
condições ideais de laboratório, em que diversos agentes físicos ou químicos do meio
A diversidade em retenções e penetrações obtidas com vários tipos de preserva- ambiente, que freqüentemente ocorrem em condições reais, não são considerados.
tivos pode ocorrer devido às diferenças de viscosidade que existem entre esses líqui-
dos (9). Ao se elevar a temperatura, a viscosidade de um líquido diminui e a per-me- Nos ensaios de campo (Figura 19), as peças de madeira podem ter suas dimensões
abilidade da madeira é alterada. Assim, a combinação desses dois fatores facilita a reais de uso ou serem de dimensões reduzidas. Em ambos os casos, porém, quanto
penetração do preservativo na madeira. maior for o número de peças expostas com ou sem contato com o solo, tempo de
7.3 Tempo
Quanto maior for o tempo dedicado a um tratamento, maiores serão as
retenções e as penetrações conferidas às peças tratadas. Entretanto, cabe salientar
que o aumento no tempo de tratamento pode significar também em aumento nos
custos de produção.
8.1 Toxidez
Os ensaios de toxidez de um determinado produto químico consistem na intro-
dução de diferentes concentrações do produto em meio de cultura que será inocu-
lado com o fungo xilófago. Dependendo da concentração do produto, poderá haver
ou não inibição do desenvolvimento do fungo. Em caso positivo, é feito o teste Figura 19. Ensaios de durabilidade natural e eficiência de preservativos em condições reais
de campo.
ace-lerado.
34 35
A fórmula matemática abaixo deve ser utilizada para o cálculo do custo anual de 11. Glossário
peças de madeiras tratadas e para comparações com outros materiais:
Absorção total: volume de preservativo absorvido pela madeira ao final do processo
de impregnação.
r (1 + n)n Apodrecimento: decomposição do tecido lenhoso por ação dos fungos xilófagos.
A=P
(1+r)n - 1 Apodrecimento incipiente: etapa inicial do apodrecimento, em que a madeira perde
parte de suas propriedades mecânicas e pode também sofrer mudanças na cor.
Apodrecimento avançado: etapa do apodrecimento em que a madeira apresenta
alterações evidentes na aparência, massa específica aparente, composição, dureza e
Onde: ou-tras propriedades físico-mecânicas.
A é o custo anual, em reais; Aspersão: método que consiste na aplicação do preservativo na superfície da madei-
P é o custo do material, em reais; ra, mediante um pulverizador ou aspersor.
r é o taxa de juros, em decimais; Autoclave: recipiente geralmente cilíndrico e horizontal, fechado por meio de uma
n é o número de anos em que a peça ficará em serviço. porta hermética, em que se realiza a impregnação da madeira a pressões diferentes da
atmosférica.
10. Aspectos de segurança do tratamento Banho quente-frio: método que consiste em aquecer a madeira, com vapor ou ban-
ho-maria, durante certo período de tempo e imediatamente depois introduzi-la em uma
preservativo solução preservativa fria.
Geralmente, as atividades relacionadas à preservação de madeiras estão asso-cia- Bethell: método caracterizado pelas etapas de aplicação inicial de vácuo, injeção do
das a fatores de risco à saúde humana e ao meio ambiente. Portanto, é fundamen- preservativo, período de pressão com o preservativo dentro da autoclave e aplicação de
tal que sejam adotadas precauções no sentido de reduzir os acidentes físicos, de vácuo final.
garantir a integridade dos trabalhadores e usuários, de estar preparado para as Boucherie: método utilizado para madeira verde em tora, que consiste em
situações de emergência e de permitir o correto manuseio da madeira tratada antes, substituir a seiva por um preservativo hidrossolúvel, aplicado por meio de pressão, a
durante e após o consumo. partir de uma das extremidades da peça.
Os equipamentos de segurança devem ser usados para a proteção do operador Creosoto: um dos produtos obtidos por destilação destrutiva de materiais orgânicos,
(Figura 20). Alguns itens, como macacões, botas, capacete, devem ser usados sem- constituído de hidrocarbonetos aromáticos ácidos e bases orgânicas e com alta toxidez.
pre, enquanto outros, como luvas, máscaras faciais, cremes protetores, devem ser
usados durante certas operações. Degradação biológica: causada por organismos vivos que danificam a madeira, seja
para buscar nela seu alimento ou abrigo. Exemplos desses organismos são as aves (pás-
saro carpinteiro), os moluscos e crustáceos marinhos e os insetos, tais como os térmitas.
Difusão: processo que consiste na aplicação de preservativo hidrossolúvel, em forma
pastosa ou em solução concentrada, à madeira verde.
Durabilidade: propriedade intrínseca da madeira de manter suas características por
prolongado período de tempo, quando exposta à ação dos agentes destruidores, em
condições normais de serviço.
Exsudação: acúmulo superficial de preservativo proveniente do interior de uma peça
de madeira tratada que pode dar origem a um resíduo.
Fungos manchadores: organismos que crescem na madeira, originando manchas de
distintas colorações, visualizadas na espessura da peça.
Fungos xilófagos: organismos que se alimentam de madeira, decompondo a celu-
lose, as hemiceluloses e a lignina.
Figura 20. Utilização de equipamentos de proteção individual. Imersão rápida: método que consiste na aplicação do preservativo à madeira por
meio de uma imersão rápida em solução preservativa.
Imersão prolongada: método que consiste em submergir a madeira em uma solução
preservativa durante um período de tempo determinado, que pode ser desde algumas
horas até vários dias.
Impregnação: operação de incorporar na madeira a substância preservativa.
Incisões: fendas de dimensões determinadas efetuadas na superfície da peça de
madeira refratária, com o objetivo de obter uma melhor penetração do produto preser-
vativo.
36 37
Lowry: método caracterizado pelas etapas de aplicação de pressão com o preservativo dentro Referências bibliográficas
da autoclave e de vácuo final.
Madeira durável: madeira resistente ao ataque de organismos xilófagos sob certas condições
de serviço específicas. 1. BORROR, D. J.; DELONG, D. M. Introdução ao estudo de insetos.
Madeira não-durável: madeira que oferece baixa resistência à ação dos organismos xilófagos Sao Paulo: Edgard Blucher, 1969. 653 p.
em condições de serviço específicas.
Madeira de fácil tratamento: madeira que se deixa impregnar satisfatoriamente por qualquer 2. BROWN, G. E.; ALDEN, H. M. Protection from Termites: penta for
particleboard. Forest Products Journal, v. 10, 1960.
processo de preservação.
Madeira preservada: madeira que foi submetida a um processo de preservação adequado.
3. CARTWRIGHT, K. S. T. G.; FINDLAY, W. P. K. Decay of timber and its
Madeira refratária: madeira que não se impregna satisfatoriamente com o tratamento uti- prevention. London: London Her Majesty's Stationery Office, 1958. 332 p.
lizado.
Madeira tratável: madeira que se deixa impregnar satisfatoriamente pelo processo de preser- 4. FAIREY, K. D. Timber bores of common occurrence. New Wales: Forest
vação utilizado. Commission of New Wales, 1974. (Technical Publication, 18).
Mancha: mudança de cor da madeira causada por fungos manchadores.
Mofos: fungos superiores que se desenvolvem na superfície da madeira com alto teor de 5. FRANCIA, C. F. Pinholes in logs and lumber: the economic significance,
umidade. biology and control of the insects causing them. Philippines: Forest Products
Institute. College Laguna.
Organismos xilófagos: agentes biológicos capazes de atacar a madeira, alterando as suas
ca-racterísticas ou destruindo-a completamente.
6. FRENCH, J. R. J. The European house borer (Hylotrupes bajulus L.).
Penetração: profundidade alcançada e distribuição do preservativo na madeira após a New Wales: Forestry Commission of New Wales. Division of Wood
impregnação. Technobgy. (Technical Publication, 4).
Permeabilidade: propriedade da madeira que permite em maior ou menor grau a penetração
dos preservativos. 7. FOREST PRODUCTS RESEARCH LABORATORY. The deathwatch beetle.
Pincelamento: método que consiste na aplicação de preservativo na superfície da madeira, Princes Risborough, 1970. (Technical Note, 45).
mediante um pincel ou broxa.
Preservação de madeiras: prática que consiste em tratar a madeira com o propósito de 8. FOREST PRODUCTS RESEARCH LABORATORY. The house longhorn beetle.
aumentar sua resistência ao ataque de organismos xilófagos. Princes Risborough, 1969. (Technical Note, 39).
Preservativo: substância que, quando adequadamente aplicada, é capaz de prevenir ou inibir,
por um período de tempo, a ação dos diferentes tipos de organismos xilófagos. 9. HUNT, M. G.; GARRAT, G. A. Wood preservation. New York: McGraw Hill,
1963. 433 p.
Preservativo hidrossolúvel: preservativo utilizado em solução aquosa.
Preservativo oleoso: preservativo líquido de natureza oleosa, insolúvel em água.
10. ILHAN, R. O.; PERTEN, A. P. Studies on the control of blue stain by using
Preservativo oleossolúvel: preservativo que é utilizado dissolvido especialmente em derivados some chemicals. Journal of the Turkish Forest Research Inst., 1976.
de petróleo e também de alcatrão ou outro solvente orgânico. (Technical Bulletin, 38).
Processo de tratamento: operação ou conjunto de operações destinadas a introduzir o pre-
servativo na madeira. 11. KOLLMANN, F. F. P.; CÔTÉ Jr., W. A. Principles of wood science and
Retenção limite: quantidade mínima de um preservativo, expressa em kg/m3 de madeira, que technology: solid wood. Berlin: Springer-Verlag, 1968. 552 p. v. 1.
impede o ataque de um organismo xilófago em um ensaio normali-zado de laboratório.
Retenção total: quantidade de preservativo expressa em kg/m3 de madeira tratável. 12. LELIS, A. T. Cupins: prevenção e erradicação. Preservação de madeiras,
São Paulo, v. 6/7, n. 1, p. 51-58, 1976.
Substituição de seiva: método que consiste na aplicação de preservativo hidrossolúvel em
toras recém-abatidas e descascadas, cujas bases são submersas na solução preservativa.
13. LEPAGE, E. S. Preservação de madeiras. Boletim técnico Conv. IBDF/IPT/ABPM,
Toxidez: efeito inibitório ou letal de uma substância química sobre os organismos xilófagos. São Paulo, v. 2, n. 1, p. 37-83, 1974.
Tratamento preservativo: procedimento que consiste em aplicar um preservativo à madeira.
Tratamento com pressão: consiste na aplicação de um preservativo na madeira a pressões 14. LEVY, J. S. Fundamental records in wood preservation (Lectures delivered to
diferentes da atmosférica. the thirty-sixth session of the Timber Committee). 1979.
Tratamento sem pressão: consiste na aplicação de um preservativo na madeira à pressão
atmosférica. 15. MARTINEZ, J. B. Conservación de la madera en sus aspectos técnico,
Tratamento superficial: consiste na aplicação de uma solução preservativa à madeira, em que industrial y económico. Madrid: Ministério de Agricultura. Instituto Florestal
somente uma camada superficial é alcançada pelo preservativo. de Investigaciones y Experiencias, 1952. 550 p. v. 1.
38 39
16. McGREGOR, G. H. The immunisation of timber against attack by
powder-post beetle (Lyctus brunneus) with borates. 1958.
17. OSTAFF, D. Protect your logs: don't give wood bores chance. Ottawa:
Canadian Forest Service. Eastern Forest Products Lab., 1976. (Bulletin LD 8E).
20. ROFF, J. W.; CSERJESI, A. J.; SWANN, G. W. Preservation of sapstsin and mold
in packaged lumber. Vancouver: Canadian Forestry Service, 1974. (Publication
1325).
23. WAGNER Jr., F. G. Experience with stain, decay and insects in mid-south log
storage yard. Southern Lumberman, 323 (2874), 1976.
26. ZABEL, R. A.; MORRELL, J. J. Wood microbiology: decay and its prevention.
San Diego: Academic Press, 1992. 476 p.
40