INTRODUÇÃO Á HISTÓRIA DA FILOSOFIA-

MARILENA CHAUI

1. O NASCIMENTO DA FILOSOFIA

1.1 Períodos da sociedade grega

A uma forma nova e inusitada de pensar os gregos deram o nome de

filosofia. Filosofia, em sua etimologia é a junção de duas palavras gregas:

Philía (amigo/amante) e Sophía (sabedoria)

Portanto, a filosofia seria a amiga da sabedoria, aquele que a pratica teria

amor ao saber. A palavra surge com Pitágoras, pois segundo ele, só os
deuses teriam privilégio de obter plena sabedoria, cabendo aos homens
apenas amar ou ser amigo do saber.

Mas na verdade, o termo Sophía carrega consigo uma ambivalência. Ela

pode significar tanto uma sabedoria no sentido de conjunto racional e
sistemático de conhecimentos sobre o mundo e sobre os indivíduos. ( e
sophós é aquele que conhece verdadeiramente a realidade).

Como pode significar sabedoria entendida como uma disposição para se

viver virtuosamente e portanto, feliz. ( e sophós seria aquele que sabe
conduzir sua vida bem e consegue práticar o bem).

A grandeza dos filósofos antigos foram o de reunir esse dois sentidos e

estabelecer uma articulação interna e necessária entre ambos.

Segundo os historiadores a filosofia tem data e local definidos. Ela nasce

entre o final do século VII a.C e o início do século VI a.C nas colônias
gregas da Ásia Menor, mas especificamente em uma colônia chamada
Jônia, atual Turquia. O primeiro filósofo foi Tales, natural de Mileto. Ao
nascer a filosofia possui contéudo especifico, é uma COSMOLOGIA, isto
é, é uma explicação racional sobre a ORIGEM e a ORDEM do mundo ou
do cosmos (Kósmos)

Tradicionalmente, os historiadores distinguem quatro grandes períodos da

história da sociedade grega:

Período HOMÉRICO (1200 - 800 a.C): Narrada por Homero na ilíada e

odisseia. Quando os Aqueus, os jônios e os dórios conquistam e dominam
Micenas, Troia e Creta, trazendo para as costas do mar Egeu uma
economia pastoril e um regime patriarcal. Passando no decorrer de
quatrocentos anos á economia doméstica e agrícola para uma economia
urbana e comercial, quando começam a visitar países distantes.

Período ARCAICO (final do século VIII - V a.C): Nesse período os genos

(grupos familiares) constroem cidadelas ou fortalezas para sua defesa, e a
sua volta começa a surgir cidades como sedes de governos das
comunidades (é onde surge Atenas e Esparta) Passando da monarquia
agrária á oligarquia urbana, economicamente predomina o artesanato e o
comércio (economia monetária).

Período CLÁSSICO (V - IV a.C): Atenas se coloca a frente de toda a

Grécia, desenvolvendo a democracia e o imério marítimo ateniense. O
ponto de Atenas, o Pireu é o centro para onde convergem os produtos e as
ideias do mundo inteiro. O apogeu da vida urbana, intelectual e artística.

Período HELENÍSTICO: Quando a Grécia passa para o domínio da

Macedônia, com Felipe e Alexandre e depois para o domínio de Roma
tornando-se colônia de um império universal. Desenvolvendo um
pensamento cosmopolita.

A filosofia nasce na era ARCAICA e tem o seu apogeu na grécia clássica. A

filosofia se expande pelo período helenístico. A fiilosófia antiga se estende
até o século VI d.C ao todo, dez séculos.

1.2 PROBLEMAS DA ORIGEM DA FILOSOFIA

Com a invasão dos dóricos, os aqueus tiveram que realizar uma migração
forçada (primeira diáspora grega) e ao dominar outras regiões, deram fim
em uma sociedade patriarcal e agrária e inauguraram uma sociedade de
mercado. navegação e artesanato. O que possibilitou contato com outros
povos do oriente.

ocorre o surgimento da moeda e do calendário. o aparecimento de ricas

classes comerciantes que supera a aristocracia agrária. As explicações
mitícoreligiosas vão dando lugar as explicações racionais, a filosofia. De
acordo com o Filósofo alemão Wilhelm Windelband, a prosperidade
econômica das colônias gregas foi a base para que se poderia realizar
esforços intelectuais. E a filosofia é o mais alto desses esforços. De acordo
com Aristóteles a riqueza e os escravos liberataram os gregos da fadiga e
da pena de trabalho e negócios, dando-lhes o ócio indespensável para a
vida contemplativa e intelectual, para a filosofia.

(ócio= falta de ocupação, vago, falta de trabalho. descanço)

2. AS TESES CONTRÁRIAS A RESPEITO DA ORIGEM DA FILOSOFIA

2.1 MILAGRE GREGO VERSUS ORIENTALISMO

O primeiro históriador da filosofia (o primeiro daxógrafo) foi Diógenes
Laércio, que também iniciou uma oposição entre o milagre grego e a
origem orientalista da filosofia.

Ele defende a tese do milagre grego, isto é, os gregos não só sçao

responsáveis pela filosofia como também por todo o gênero humano.

Ele apresenta as duas posições contrárias da origem da filosofia.]Muitos

filosofos atribuiam muitas ideias ao oriente, como uma grande
contribuição.

A concepção orientalista faz da filosofia uma simples continuação de um

passado oriental

Já a concepção ocidentalista faz da filosofia uma invenção nova e própria

do ocidente.

Duas visões preconceituosas.

A cultura oriental de fato estimulou e influênciou os gregos.

Pode-se etender o termo "milagre grego" como a mutação qualitativa

produzida sobre a herança recebido de outras civilizações. Os egípcios,
por exemplo, criaram a geometria para fins práticos, como a construção de
pirâmides. Já os gregos contruiram a ciência matemática, um corpo lógico
de conhecimentos racionais. Os babilônios e os caldeus produziram
conhecimentos sobre o céu e os meteoros, ligados as necessidades
práticas da astrologia, mas os gregos transformaram tais conhecimentos
em um sistema lógico e racional criando a astronomia, conhecimento dos
movimentos dos astros. Tranformaram a cosmogonia em uma cosmologia.
Invenção de uma vida social no sentido de comunidade humana,

O milagre grego não é um milagre por suas origens, mas por suas
consequências, a filosofia, as artes a politica a ciencia a cultura..

2.2 HARMONIA LUMINOSA VERSUS DILACERAMENTO DESMEDIDO

De acordo com Rousseau: A originalidade grega veio a partir dos

antagonismos de suas cidades, no interior de cada uma delas e entre elas.
Não foram a paz e a harmonia que moveram os gregos, mas a luta pela
liberdade e contra os despotismos. Há um conflito, uma rivalidade que teria
estimulado a criações sociais, políticas, artísticas e intelectuais gregas.

A filosofia para Nietzsche começa e termina com os pré-sócraticos pois

esses fizeram da dualidade dionsíaco e apolíneo o núcleo da própria
natureza e realidade.

É impressionante que em meio a tantas guerras e lutas os gregos tenham

criado arte e filosofia, que são os atídotos para para curar os
antagonismos.

2.3 DESCONTINUIDADE ENTRE MITO E FILOSOFIA VERSUS

CONTINUIDADE ENTRE MITO E FILOSOFIA

Hegel divide a filosofia em FILOSOFIA ORIENTAL (como religião) e

FILOSOFIA GREGA (que promove uma ruptura com a religião)

Para Hegel, as condições históricas que facilitaram ou promoveram o

surgimento da filosofia são:

- O desaparecimento da sociedade patriarcal

- O surgimento das cidades livres e organizadas por leis, a qual os

indíviduos de talentos diversificados passam a ter predominância, pode
expressar toda a sua genialidade.

Não se pode separar o ínicio da filosofia do ínicio da política porque uma,

dá margem para outra, são duas contruções genuinamente gregas.

- As viagens colaboraram para a que o discursso mítico perdece suas

forças, uma vez que ao viajar, os homens não econtravam seres
monstruosos. maravilhosos nem deuses e heróis, mas apenas seres
humanos, vivendo sua vida de humano. As viagens desencantaram um
mundo que mito havia encantado.

QUAIS SÃO AS CONDIÇÕES HISTÓRICAS OU MATERIAIS PARA O

SURGIMENTO DA FILOSOFIA?

- Alguns consideram que a motivação se deu por meio das navegações e

trasnformações técnicas, que forçaram o mundo a pensar racionalmente
sobre sua realidade.

- Há também a invenção do calendário ( a ideia de tempo abstrato,

controle do tempo) O uso de moedas (signo abstrato para ação de troca) e
a escrita alfabética ( trasncrição abstrata da palavra e do pensamento)
Tudo isso estimulando a capacidade de abstração dos gregos, culminando
no surgimento da filosofia.

- Mas a principal determinação histórica para o surgimento da filosofia é a

POLÍTICA. Com o surgimento da pólis some a figura que foi o antecessor
do filósofo, o mestre da verdade (o poeta, o advinho, o rei da justiça) O
poeta, como homero o advinho, o profeta e o rei da justiça, o sábio. São
personalidades reais que possuem o dom da vidência para além do
aparência sensivel. São capazes de ver o o passado e o futuro, suas
ideias são absolutas. Possuem o dom da palavra e o que dizem se
cumpre. O que todos possuem em comum é a verdade. Verdade em grego
é alétheia (significa não esquecimento)

essas três figuras vão sumindo com o surgimento da pólis, porém,

permanecem outra figura, os guerreiros.

O VOCABULÁRIO DA FILOSOFIA NASCENTE

A filosofia nasce como cosmologia, explicação da natureza (o princípio

primordial gerador de todas as coisas, o processo de formação e de ordem
no mundo, ciclos de geração e dissolução da realidade).

COSMOS: Ordem e organização do mundo.

Arkhé: Em Homero significa aquilo que está no começo, no princípio, na

origem de alguma ação ou discurso, o ponto de partida. De onde surge a
palvra arquétipo (o primeiro modelo de algo, protótipo)

Os primeiros filósofos buscam a arkhé, o princípio de toda a realidade, a

origem e a sua constituição. A arkhé é o que vem antes e depois. É o
fundo imortal, incorruptível, imutável de todas as coisas, que as faz surgir e
a governa. Não é algo do passado, mas que está aqui e agora gerando
essa realidade.

CARACTERÍSTICAS DA FILOSOFIA NASCENTE

1) É uma cosmologia, isto é, uma explicação racional sobre a ordem

presente no mundo, sua origem ou causas, suas formas, trasnformações e
repetições.

2) O seu pressuposto é de que nada vem do nada e nada retorna ao nada.

Não a criação a partir do nada. O que é real, imortal e eterno em todas as
coisas é a força material que sofre todas as transformações visíveis e por
um sistema interno de proporções assegura estabilidade e permanencia do
mundo.

3) O fundo imortal e perene de onde tudo brota e para onde tudo regressa
é a physis (qualidade primordial da constituição e origem de todos os
seres).

4) a preocupação central dos cosmólogos é com o vim a ser, o movimento,

as transformações dos seres e com o repouso (identidade da physis e
estabilidade dos seres) Como o uno que identico a si mesmo se torna
múltiplo e diferente de si mesmo? como o múltiplo e diferente pode vir do
uno/identico e a ele retornar?

5) a preocupação com o devir (com as transformações e o movimento do

mundo) levará os filósofos a distinguir dois mundos, um sensível, de
aparência e outro de essência, o mundo da verdade, que poderá se
atingido apenas pelo pensamento. A physis é a manifestação visível da
Arkhé invisível. A physis é vista pelo olho do espírito, emobra percebida
pelos olhos do corpo.