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O Legado Cultural Grego1

A herança cultural deixada pelos gregos fora riquíssima e influenciara toda a civilização ocidental.
Suas concepções de beleza, retratadas nas obras de pinturas, escultura e arquitetura, são tidas como
clássicas, por seu equilíbrio e harmonia. Igualmente suas produções filosóficas, científicas e teatrais
foram fecundas e delinearam o pensamento universal até a Idade Moderna.
Em se tratando de História, os gregos foram os primeiros a tratar a História com espírito científico,
separando as lendas ou mitos dos fatos concretos, reais. Heródoto de Halicarnasso, tido como o “Pai
da História”, foi o primeiro prosador das Guerras Médicas, buscando, assim, suas causas e seu fim,
na busca de viabilizar uma análise equilibrada dos fatos. Outros destacados historiadores foram:
Xenofonte e Tucídides, este último autor de Guerra do Peloponeso.
No que concerne à filosofia, os gregos, buscando respostas as questões mais diversas, com espírito
crítico destruíram crenças, mitos e construíram teorias. Suas linhas de pensamento influenciaram
correntes filosóficas dos séculos seguintes.
Tem-se que os primeiros filósofos gregos surgiram no século VI a.C., na Escola de Mileto,
destacando-se Tales de Mileto, Anaxímenes e Anaximandro. Eles defendiam que tudo na natureza
derivava de um elemento básico gerador de todas as coisas. Para Tales, esse elemento era a água,
para Anaxímenes, o ar, e para Anaximandro, a matéria.
Com o aprofundamento do conhecimento sobre a natureza e sobre o universo, no final do século
VI a.C., surgiu a Escola Pitagórica, fundada por Pitágoras. Os pitagóricos defendiam o número,
elemento abstrato, como a essência de tudo, concebendo um universo imutável, fundamentado na
ordem e na harmonia.
No início do século V a.C., entretanto, Heráclito, contrariando os pitagóricos, provou que tudo no
universo se transformava, passando por constantes mudanças. Nessa época, que correspondeu à da
democracia ateniense, surgiu a Escola Sofista, que negava a existência de uma verdade absoluta e

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Texto de João Nascimento Borges Filho, professor do departamento de filosofia da Universidade
Federal do Amapá. Texto disponível em: < https://www2.unifap.br/borges/files/2011/02/O-Legado-
Cultural-Grego.pdf>
buscava conhecimentos úteis para a vida, enfatizando a retórica e o uso da palavra. Entre os sofistas
destacou-se Protágoras, o autor da frase: “o homem é a medida de todas as coisas”.
Durante todo o século V a.C., a filosofia ocupou-se com o homem, especialmente com a ética.
Surgiu então, a Escola Socrática, fundada por Sócrates e contrária aos sofistas. Sócrates defendia
que a reflexão e a virtude eram fundamentais à vida. Foi ele o autor da frase “conhece-te a ti mesmo”
e “só sei que nada sei”. Por criticar o Estado ateniense e por ser acusado de perverter a juventude,
no decorrer da Guerra do Peloponeso, foi condenado à morte, tendo sido executado com cicuta
(veneno letal) no ano de 399 a.C.
A Escola Socrática continuou com Platão, defensor da virtude, cultivada com ideais de bondade,
beleza e justiça. No entender de Platão, cada fenômeno terrestre era como um pálido reflexo do
mundo das ideias. Foi considerado por assim dizer, o filósofo do ideal, tendo fundado a Academia
de Atenas e escrito: A República, Apologia de Sócrates, O Banquete, dentre outras obras.
Outro expoente da Escola Socrática foi Aristóteles, considerado o “Pai da lógica” e autor de A
Política. Ao contrário de Platão - de quem foi discípulo, antes do rompimento com o mestre.
Aristóteles se concentrava no estudo das mutações do mundo material: nascimento, transformação
e destruição. Para ele, o real existia independentemente das ideias e para conhecê-lo era necessário
desenvolver a lógica.
No que diz respeito às ciências, berço de grandes pensadores, a Grécia gerou também cientistas
teóricos, especialmente nas áreas de matemática, da medicina e das ciências naturais. Assim, Tales
de Mileto e Pitágoras deixaram como herança grandes trabalhos de cálculos matemáticos e leis
geométricas.
Na medicina, o estudioso Hipócrates de Cós deu os primeiros passos para a compreensão das
doenças através dos sintomas, abandonando os tratamentos baseados em crenças e superstições.
No campo das ciências naturais, destacaram-se Anaximandro e Aristóteles, este último considerado
o maior pensador grego.
Outro grande legado da civilização grega, diz respeito ao teatro. O teatro grego, basicamente
dividido em tragédia (dramaturgia) e comédia, era acessível a toda a população, sendo, pois, de
grande importância para a educação dos jovens. Sua estrutura dramática, seus temas profundos,
abordando a natureza humana, são tidos até hoje como o ponto alto da arte teatral. Nas tragédias, os
gregos discutiam os problemas eternos do homem, como a questão do destino, as paixões e a justiça.
Já a comédia satirizava os costumes, o comportamento humano e a própria sociedade. As
encenações realizavam-se ao ar livre, os atores usavam máscaras que expressavam a característica
do personagem, e todos eram desenvolvidos por homens. Havia festivais de teatros. Bastante
populares e concorridos, os concursos teatrais davam grande projeção aos vencedores. Os mais
destacados teatrólogos foram: Ésquilo, Sófocles, Aristófanes e Eurípedes.
Nas artes, os gregos alcançaram notável desempenho, especialmente na arquitetura e na escultura.
Desenvolveram, ainda, a pintura, a música e a cerâmica. As artes gregas, em geral, caracterizavam-
se pelo humanismo através da glorificação do ser humano; do nacionalismo, que simbolizava o
orgulho do povo pela sua cidade; da simplicidade, do equilíbrio, da harmonia e da ordem. Os gregos
deram os maiores exemplos de sua arte na construção dos templos erigidos em homenagem a seus
deuses. A harmonia e o equilíbrio da escultura grega valorizavam o antropocentrismo de suas obras.
Notou-se que a mais famosa obra poética grega - além de ser sua mais antiga obra literária - são os
poemas atribuídos a Homero, que são: a Ilíada e a Odisseia, que permitiram a reconstrução da
história grega anterior ao século VIII a.C. Além dele, destacam-se os poetas Píndaro, que enalteceu
os jogos olímpicos; Hesíodo, que escreveu O Trabalho e os Dias; e a poetisa Safo.
No campo da religião, pode-se afirmar que a religião grega era politeísta e antropomórfica, sendo
composta de vários deuses que se assemelhavam aos homens, já que possuíam as fraquezas, paixões
e virtudes humanas. As principais divindades eram: Zeus, Hera, Atena, Apolo, Artêmis, Hermes,
Dionísio, Poseidon e Afrodite. Haviam, também, heróis divinizados, ou semideuses, dentre os quais
destacaram-se: Hércules, Teseu, Perseu e Édipo.

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