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Aristóteles (em grego clássico: Ἀριστοτέλης; romaniz.

:Aristotélēs; Estagira, 384


a.C. – Atenas, 322 a.C.) foi um filósofo e polímata da Grécia Antiga. Ao lado de Platão, de
quem foi discípulo na Academia, foi um dos pensadores mais influentes da história
da civilização ocidental.[2] Aristóteles abordou quase todos os campos do conhecimento de
sua época: biologia, física, metafísica, lógica, poética, política, retórica, ética e, de forma
mais marginal, a economia. A filosofia, definida como "amor à sabedoria", passou a ser
compreendida por Aristóteles em sentido mais amplo, buscando se tornar uma ciência das
ciências. Embora o estagira tenha escrito muitos tratados e diálogos formatados para a
publicação, apenas cerca de um terço de sua produção original sobreviveu, nenhuma
delas destinada à publicação.[3]
Na concepção aristotélica, a ciência compreende três áreas principais: teórica, prática
(práxis) e aplicada ou (poiética). Segundo o autor, a ciência teórica é o melhor uso que o
homem pode fazer de seu tempo livre e é composta pela "filosofia primeira" (ou
metafísica), matemática e física (também chamada de filosofia natural). A ciência prática,
orientada para a ação, é o reino da política e da ética. Por fim, a ciência aplicada consiste
no campo da técnica, ou seja, do que pode ser produzido pelo ser humano, tais como a
prática da agricultura e da poesia. A lógica, por outro lado, não é considerada por
Aristóteles como uma ciência, mas sim um instrumento que permite o progresso científico.
Segundo Aristóteles todos os seres vivos têm alma, ainda que com características
distintas. As plantas teriam apenas uma alma animada por uma função vegetativa, ao
passo que a alma dos animais teria uma função vegetativa e sensorial. Já a alma dos
humanos possuiria cinco disposições por meio das quais poderia afirmar ou negar a
verdade: a arte (téchne), o discernimento (phrónesis), a ciência (epistéme), a sabedoria
(sophía) e o intelecto (noús).[4]
A virtude ética, tal como exposta na obra Ética a Nicômaco, se equilibra entre dois
extremos. Assim, um homem corajoso não deve ser imprudente nem covarde. Conclui-se
que a ética aristotélica é muito marcada pelas noções de medida e phronesis. Sua ética,
assim como sua política e sua economia, está voltada para a "busca do Bem". Em
conexão com seu naturalismo, o estagirita considera a cidade como uma entidade natural
que não pode subsistir sem justiça e amizade (philia). Essa concepção influenciou
profundamente os pensadores das gerações seguintes e se reflete até hoje nas
concepções finalistas de sociedade e do Estado, que são compreendidas como a pela
busca do bem comum.[5][6] A natureza (Physis) ocupa um lugar importante no pensamento
aristotélico. A matéria possuiria em si um princípio de movimento (en telos echeïn).
Consequentemente, a física se dedica ao estudo dos movimentos naturais causados pelos
princípios próprios da matéria. Em sua metafísica, Aristóteles define o Deus dos filósofos
como o primeiro motor imóvel, aquele que põe o mundo em movimento sem ele próprio ser
movido. Segundo o autor, o primeiro motor imóvel e os corpos celestes seriam formados
por um elemento incorruptível, o éter, distinguindo-se dos corpos físicos do mundo
sublunar.[4]
Após sua morte, seu pensamento foi praticamente esquecido pelo ocidente até o fim
da Antiguidade. Durante o Califado Abássida, as obras de Aristóteles foram traduzidas
em árabe, influenciando o mundo muçulmano.[7] A partir do fim do Império
Romano o ocidente teve acesso limitado a seus ensinamentos até o Século XII. Após a
redescoberta de seus escritos, o pensamento aristotélico também passou a exercer
influência sobre a filosofia e a teologia ocidental durante os cinco séculos seguintes,
criando tensões com o pensamento platônico de Agostinho de Hipona que vigorava à
época. Foi durante o Século XII, contudo, que o aristotelismo marcou profundamente
a escolástica e, por intermédio da obra de Tomás de Aquino, o cristianismo católico.
No Século XVII, o avanço da astronomia científica de Galileu e Newton desacreditou
o geocentrismo admitido por Aristóteles. A partir de então, seguiu-se um profundo recuo do
pensamento aristotélico no que se refere à ciência. Sua lógica também foi criticada na
mesma época por Francis Bacon e Blaise Pascal. No século XIX, George Boole deu à
lógica de Aristóteles uma base matemática com um sistema de lógica algébrica, e já
no século XX, Gottlob Frege criticou e retrabalhou em profundidade a silogística. A filosofia
aristotélica, por sua vez, experimentou um ressurgimento de interesse. No Século XX foi
estudado e comentado por Heidegger, que foi seguido por Leo Strauss, Hannah Arendt e
contemporaneamente por autores como Alasdair MacIntyre, John McDowell e Philippa
Foot.[8] Mais de 2 300 anos após sua morte, seu pensamento ainda inspira especialistas de
áreas variadas e é objeto de pesquisa de diversas disciplinas.[9]

Vida
Aristóteles nasceu em Estagira, na Trácia,[10] filho de Nicômaco. Seu pai era amigo e
médico pessoal do rei macedônio Amintas III, rei conhecido por ser pai de Filipe II e avô
de Alexandre.[11] Existem algumas controvérsias entre os estudiosos a respeito da
influência da atividade médica da família de Aristóteles em seu interesse pela biologia e
fisiologia. No entanto, é sabido que o pai de Aristóteles, Nicômaco, era médico, e que a
medicina era uma atividade importante em sua família.[12][13]
Segundo a compilação bizantina Suda, Aristóteles era descendente de Nicômaco, filho
de Macaão, filho de Esculápio.[14]
Com cerca de 16 ou 17 anos partiu para a cidade de Atenas, maior centro intelectual e
artístico da Grécia Antiga. Como muitos outros jovens da época, foi para lá prosseguir os
estudos. Duas grandes instituições disputavam a preferência dos jovens: a escola
de Isócrates, que visava preparar o aluno para a vida política, e Platão e sua Academia,
com preferência à ciência (episteme) como fundamento da realidade. Apesar do aviso de
que, quem não conhecesse geometria ali não deveria entrar, Aristóteles decidiu-se pela
academia platônica e nela permaneceu vinte anos, até a morte de Platão,[15] no primeiro
ano da 108a olimpíada (348 a.C.).[16] Aristóteles provavelmente participou dos Mistérios de
Eleusis.[17]
Em 347 a.C. com a morte de Platão, a direção da Academia passa a Espeusipo[15][16] que
começou a dar ao estudo acadêmico da filosofia um viés matemático que Aristóteles
(segundo opinião geral, um não-matemático) considerou inadequado,[18] assim Aristóteles
deixa Atenas e se dirige, provavelmente, primeiro a Atarneu convidado pelo
tirano Hérmias e em seguida a Assos, cidade que fora doada pelo tirano aos
platônicos Erasto e Corisco, pelas boas leis que lhe haviam preparado e que obtiveram
grande sucesso.[19]
Durante 347 a.C. e 345 a.C., dirige uma escola em Assos, junto com Xenócrates, Erasto e
Corisco e depois em 345/344 a.C. conhece Teofrasto e com sua colaboração dirige uma
escola em Mitilene, na ilha de Lesbos e lá se casa com Pítias, neta de Hérmias, com quem
teve uma filha, também chamada Pítias.[20]
Em 343/342 a.C. Filipe II da Macedônia escolhe Aristóteles como preceptor de seu
filho Alexandre, então com treze anos,[21] por intercessão de Hérmias.[19]
Pouco se sabe sobre o período da vida de Aristóteles entre 341 a.C. e 335 a.C., ainda que
se questione o período de tempo que tutelou Alexandre, a maioria dos estudiosos estimam
que este contato durou entre dois e três anos.[22][23][24]

Representação de Aristóteles
ensinando Alexandre, o Grande. Gravura de Charles Laplante
Em 335 a.C. Aristóteles funda sua própria escola em Atenas, em uma área de exercício
público dedicado ao deus Apolo Lykeios, daí o nome Liceu.[25] Os filiados da escola de
Aristóteles mais tarde foram chamados de peripatéticos.[26] Os membros do Liceu
realizavam pesquisas em uma ampla gama de assuntos, os quais eram de interesse do
próprio
Aristóteles: botânica, biologia, lógica, música, matemática, astronomia, medicina, cosmolo
gia, física, metafísica, história da filosofia, psicologia, ética, teologia, retórica, história
política, teoria política e arte. Em todas essas áreas, o Liceu coletou manuscritos e assim,
de acordo com alguns relatos antigos, se criou a primeira grande biblioteca da
antiguidade.[27] Enquanto em Atenas, Pítias morreu, e segundo relato de Diógenes Laércio,
especula-se que ele ainda teria tido com sua concubina, Herpílis ou Herpília, um filho
ilegítimo, Nicômaco (a quem seu livro de Ética é dedicado).[28]
Em 323 a.C, morre Alexandre e em Atenas começa uma forte reação antimacedônica,
em 322 a.C. por causa de sua ligação com a família real, Aristóteles foge de Atenas e se
dirige a Cálcides, onde sua mãe tinha uma casa, explicando, "Eu não vou permitir que os
atenienses pequem duas vezes contra a filosofia"[29][30] uma referência ao julgamento
de Sócrates em Atenas. Ele morreu em Cálcis, na ilha Eubeia de causas naturais naquele
ano.[1] Aristóteles nomeou como chefe executivo seu aluno Antípatro e deixou um
testamento em que pediu para ser enterrado ao lado de sua esposa.[31]

Campos de estudo

Em 335
a.C. Aristóteles funda sua própria escola em Atenas, em uma área de exercício público
dedicado ao deus Apolo Lykeios, daí o nome Liceu.[25] A escola de Aristóteles, afresco de
Gustav Adolph Spangenberg, 1883–1888
A filosofia de Aristóteles dominou verdadeiramente o pensamento europeu a partir
do século XII.[32] A revolução científica iniciou-se no século XVI e somente onde a filosofia
aristotélica foi dominante é que sobreveio uma revolução científica.[33]
Apesar do alcance abrangente que as obras de Aristóteles gozaram tradicionalmente,
acadêmicos modernos questionam a autenticidade de uma parte considerável do Corpus
aristotelicum.[34]
Parte das afirmações a respeito da Física e da Química de Aristóteles foram impugnadas
ao longo dos séculos, e a principal razão disso é que nos séculos XVI e XVII os cientistas
aplicaram métodos quantitativos ao estudo da natureza inanimada, assim algumas
observações de Aristóteles são irremediavelmente inadequadas em comparação com os
trabalhos dos novos cientistas.[20]
Lógica
Ver artigo principal: Lógica aristotélica
A lógica aristotélica, que ocupa seis de suas primeiras obras, constitui o exemplo mais
sistemático de filosofia em dois mil anos de história. Sua premissa principal envolve uma
teoria de caráter semântico desenvolvida por ele para servir de estrutura para a
compreensão da veracidade de proposições. Foi por meio de sua lógica que se
estabeleceu a primazia da lógica dedutiva.[35]
Aristóteles sistematizou a lógica, definindo as formas de interferência que eram válidas e
as que não eram — em outras palavras, aquilo que realmente decorre de algo e aquilo que
só aparentemente decorre; e deu nomes a todas essas diferentes formas de interferências.
Por dois mil anos, estudar lógica, significou estudar a lógica de Aristóteles.[36]
A lógica, como disciplina intelectual, foi criada no século IV a.C. por Aristóteles.[37] Sua
teoria do silogismo constitui o cerne de sua lógica e através dela tenta caracterizar as
formas de silogismo e determinar quais deles são válidas e quais não, o que conseguiu
com bastante sucesso. Como primeiro passo no desenvolvimento da lógica, a teoria do
silogismo foi extremamente importante.[37]
Física
Ver artigo principal: Física aristotélica
Aristóteles não reconhecia a ideia de inércia, ele imaginou que as leis que regiam os
movimentos celestes eram muito diferentes daquelas que regiam os movimentos na
superfície da Terra, além de ver o movimento vertical como natural, enquanto o movimento
horizontal requereria uma força de sustentação.[38] Ainda sobre movimento e inércia,
Aristóteles afirmou que o movimento é uma mudança de lugar e exige sempre uma causa,
o repouso e o movimento são dois fenômenos físicos totalmente distintos, o primeiro
sendo irredutível a um caso particular do segundo.[20] No livro II, Do Céu, ele afirma
explicitamente que quando um objeto se desloca para seu estado natural o movimento não
é causado por uma força, assim ele afirma que o movimento daquilo que está no processo
de locomoção é circular, retilíneo ou uma combinação dos dois tipos.[32]
Óptica
Ver também: Das Cores
Na época de Aristóteles, a óptica matemática era ainda uma disciplina nova,
contrariamente às outras matemáticas e especialmente à geometria. Ele faz recorrentes
referências à cor, à sua "unidade" e à sua constituição, nos mesmos contextos em que se
fala de outros setores do real que pertencem a outras ciências matemáticas, e do que
neles é unidade.[39]
Aristóteles fez objeções à teoria de Empédocles e ao modelo de Platão que considerava
que a visão era produzida por raios que se originavam no olho e que colidiam com os
objetos então sendo visualizados. Ao refutar as teorias então conhecidas, ele formulou e
fundamentou uma nova teoria, a teoria da transparência: a luz era essencialmente a
qualidade acidental dos corpos transparentes, revelada pelo fogo.[40]
Aristóteles sugeria que a óptica contempla uma teoria matemático-quantitativa da cor, que
corresponde a uma teoria da medição da luz, assim ele afirma que a luz não era uma coisa
material mas a qualidade que caracterizava a condição ou o estado de transparência:
"Uma coisa se diz invisível porque não tem cor alguma, ou a tem somente em grau
fraco".[41]
Química
Os quatro elementos fundamentais segundo Aristóteles
Enquanto Platão, seu mestre, acreditava na existência de átomos dotados de formas
geométricas diversas, Aristóteles negava a existência das partículas e considerava que o
espaço estava cheio de continuum, um material divisível ao infinito.[20]
Sua obra Meteorologia, sintetiza suas ideias sobre matéria e química, usando as quatro
qualidades da matéria e os quatro elementos, ele desenvolveu explicações lógicas para
explicar várias de suas observações da natureza. Para Aristóteles a matéria seria formada,
não a partir de um único, mas por quatro elementos: terra, água, ar e fogo, mas existiria
sim um substrato único para toda a matéria, mas que seria impossível de isolar — serviria
apenas como um suporte que transmite quatro qualidades primárias: quente, frio, seco e
úmido.[42] A fundação da Alquimia se baseou nos ensinamentos de Aristóteles,
curiosamente ele afirmou que as rochas e minerais cresciam no interior da Terra e, assim
como os humanos, os minerais tentavam alcançar um estado de perfeição através do
processo de crescimento, a perfeição do mineral seria quando ele se tornasse ouro.[20]
Astronomia
Ver também: Sobre o Céu e Do Universo
Aristóteles concorda com seu mestre (Platão) em considerar a astronomia uma ciência
matemática em sentido pleno, não menos do que a geometria, ele também concordava
que os movimentos estudados pela astronomia, como diz a A República, não se percebem
"com a vista".[39]
O cosmos aristotélico é apresentado como uma esfera gigantesca, porém finita, à qual se
prendiam as estrelas, e dentro da qual se verificava uma rigorosa subordinação de outras
esferas, que pertenciam aos planetas então conhecidos e que giravam em torno da Terra,
que se manteria imóvel no centro do sistema (sistema geocêntrico).[43]
Biologia
Ver também: Da História dos Animais, Das Partes dos Animais, Do Movimento dos
Animais, Da Marcha dos Animais, Da Geração dos Animais, Fisiognomonia
(Aristóteles) e Das Plantas
Considerado o fundador das ciências como uma disciplina, Aristóteles deixou
obras naturalistas como História dos Animais, As partes dos animais e A geração dos
animais, opúsculos como Marcha dos animais, Movimentos dos animais e Pequeno
tratado de história natural e muitas outras obras sobre anatomia e botânica que se
perderam e tratavam sobre o estudo de cerca de 400 animais que buscou classificar,
tendo dissecado cerca de 50 deles. Também realizou
observações anatômicas, embriológicas e etológicas detalhadas de animais terrestres e
aquáticos (moluscos e peixes), fez observações sobre cetáceos e morcegos. Embora suas
conclusões sejam, muitas vezes, equivocadas, sua obra não deixa de ser notável.[44] Seus
escritos de biologia e zoologia correspondem a mais de uma quinta parte de sua obra.
Neles, trabalha sobre a noção de animal, a reprodução, a fisiologia e a classificação
científica.[45]
Segundo alguns cientistas da atualidade, Aristóteles teria "descoberto" o DNA, por ele
identificar a forma, isto é, o eidos preexistente no pai, que é reproduzido na prole.[46]
Aristóteles foi quem iniciou os estudos científicos documentados sobre peixes, sendo o
precursor da ictiologia (a ciência que estuda os peixes). Catalogou mais de
cem espécies de peixes marinhos e descreveu seu comportamento. É considerado como
elemento histórico da evolução da piscicultura e da aquariofilia,[47] separou mamíferos
aquáticos de peixes e sabia que tubarões e raias faziam parte de grupo que chamou
de Selachē (Chondrichthyes).[48]
Em sua obra De Moto Animalium (traduzido do latim, Do Movimento dos Animais),
Aristóteles discorre especificamente sobre os princípios físicos que regem o movimento
dos animais em geral, assim como as suas causas.[49] No livro, Aristóteles postula que,
para que houvesse o movimento de algum membro do animal, era necessária a existência
de uma parte imóvel, a qual Aristóteles atribuía ser a origem do movimento.[50] Para que o
animal inteiro se desloque, no entanto, Aristóteles acreditava que era necessário algo em
repouso absoluto em relação ao animal, e, apoiando-se neste ente imóvel, o animal
desencadearia o deslocamento.[51] Sobre a origem primordial do movimento em seres
vivos, Aristóteles atribuía a mente e o desejo como causas primárias do movimento nos
animais.[52]
Gênero
Do ponto de vista biológico, Aristóteles pensava que o corpo feminino, sendo adequado
para a reprodução, implica que ele tenha uma temperatura corporal diferente da do corpo
masculino.[53] Em sua teoria da herança , Aristóteles considerava a mãe como um elemento
material passivo para a criança, enquanto o pai fornecia um elemento ativo e animador
com a forma da espécie humana.[54]
Em sua Política, Aristóteles via as mulheres como superiores aos escravos; mas
acreditava que o marido deveria exercer domínio político sobre a esposa. Entre as
diferenças entre as mulheres e os homens estava o fato de serem, em sua opinião, mais
impulsivas, mais compassivas, mais queixosas e mais enganosas.[55][56] Por este motivo,
Aristóteles foi visto como difusor de ideias misóginas[57] e sexistas.[58]
No entanto, Aristóteles deu igual peso à felicidade das mulheres e à felicidade dos homens
e comentou, em sua obra A Retórica, que uma sociedade não pode ser feliz a menos que
as mulheres também estejam felizes. Sobre as mulheres, ainda disse que eram totalmente
incapazes de serem amigas, e ele com certeza não esperava que a esposa se
relacionasse com o marido em nível de igualdade.[59]
Sexualidade
Aristóteles não escreveu extensivamente sobre questões sexuais, pois estava menos
preocupado com os apetites sexuais do que Platão.[60] Visto não contribuir para a fundação
de famílias, Aristóteles via a homossexualidade como um desperdício não apenas inútil,
mas até perigoso. Porém, isso não significa que a condenasse. Ele tomava, em
consideração, as circunstâncias em que era praticada. Assim, em Creta, onde havia um
problema de superpopulação e a relação entre o mesmo sexo era difundida,[61] ele propôs
que esse tipo de relação fosse tolerada pelo Estado, a fim de contornar a superpopulação,
pois a ilha dispunha de poucos recursos naturais.[62] Em um fragmento sobre amor físico,
embora referindo-se ao tema com indulgência, parece ter feito distinção entre a
homossexualidade congênita e adquirida.[63] Em sua abordagem, permitiu que a mudança
ocorresse de acordo com a natureza e, portanto, a maneira como a lei natural é
incorporada poderia mudar com o tempo, uma ideia que Tomás de Aquino mais tarde
incorporou à sua própria teoria da lei natural.[60]
Metafísica
Platão e Aristóteles na Escola de Atenas (1509–
1510), fresco de Rafael Sanzio, na Stanza della Segnatura, nos Museus Vaticanos
Ver também: Metafísica (Aristóteles)
O termo Metafísica não é aristotélico; o que hoje chamamos de metafísica era chamado
por Aristóteles de "filosofia primeira", sendo por isso identificada com
a teologia (theologikê),[64] distinguindo-a da matemática e das ciências naturais (física)
como filosofia contemplativa (teoretikú) que estuda o divino.[20] A palavra "metafísica"
parece ter sido cunhada pelo editor do primeiro século d.C., que reuniu várias pequenas
seleções das obras de Aristóteles no tratado que conhecemos com o nome
de Metafísica.[65]
Não é fácil discutir a metafísica de Aristóteles, em parte porque está profusamente
espalhada por toda a obra, e em parte por certa ausência de uma exposição bem
detalhada.[2]
A Metafísica de Aristóteles é, em essência, uma modificação da Teoria das
ideias de Platão. Grande parte dessa obra parece uma tentativa de moderar as muitas
extravagâncias de Platão. Seus dois principais aspectos são a distinção entre o "universal"
e a mera "substância" ou "forma particular" e a distinção entre as três substâncias
diferentes que formam a realidade cada uma com sua essência fundamental.[35]
se não houvesse outras coisas independentes além das naturais compostas, o estudo da
natureza seria o tipo primário de conhecimento; mas se há algo independente e imóvel, o
conhecimento disso o precede e é a primeira filosofia, e é universal como tal, porque é a
primeira. E pertence a esse tipo de filosofia estudar o ser como ser, tanto o que é como o
que lhe pertence apenas por virtude de ser.[66]
Aristóteles discute na Metafísica conceitos de causa primária e arché, Deus e divindades,
comparando e analisando relatos dos anteriores fisiólogos gregos e dos
chamados theologoi (teólogos). Uma postulação que considerou necessária foi a de Motor
Imóvel.[67] Seu pensamento influenciou toda a filosofia medieval posterior na teologia
das religiões abraâmicas, mas principalmente nas ciências, pela chamada filosofia
natural.[68][69][70]
Substância
Aristóteles examina os conceitos de substância (ousia) e essência (a ti enfat einai,
"o quid que deveria ser") em sua Metafísica (Livro VII), e conclui que uma substância
específica é uma combinação de matéria e forma, uma teoria filosófica
chamada hilemorfismo. No livro VIII, ele distingue a matéria da substância como substrato,
ou o material de que é composta. Para ele, a matéria propriamente dita é chamada prima
materia, sem qualidades, que receberá as formas. Por exemplo, a matéria de uma casa
são os tijolos, as pedras, as madeiras etc., ou o que quer que constitua a casa
em potencial, enquanto a forma da substância é a casa real, ou seja, "abrangendo corpos
e bens imóveis" ou qualquer outra diferença que permita nós definirmos algo como uma
casa. A fórmula que fornece os componentes é o relato da matéria, e a fórmula que
fornece a diferenciação é o relato da forma.[71][65]
Realismo imanente
Como seu professor Platão, a filosofia de Aristóteles visa o universal. A ontologia de
Aristóteles enfatizava o universal (katholou) nos particulares (kath 'hekaston), coisas no
mundo. Platão enfocava no universal enquanto forma existente separadamente, o qual as
coisas reais imitam. Para Aristóteles, a "forma" ainda é a base dos fenômenos, mas é
"instanciada" em uma substância específica.[65] Uma substância primária é vista como
possuindo a forma imanente na matéria.[72] Sua sustentação da metafísica com pés firmes
no empirismo postulou que os fenômenos devem ser observados para se definir quais são
suas causas, por exemplo o movimento eterno dos astros na esfera celeste, e avançou
defesas pela experiência, em continuidade ao que já aparecia nos pré-socráticos e às
propostas socráticas nos diálogos platônicos, de que se deveria proceder induzindo para a
verificação dos universais.[73][74][75] Segundo Lambertus Marie de Rijk: "Ele toma seu ponto
de partida da ousia sensível. Sua expressão desse objetivo é acompanhada de uma
elaboração da ideia mencionada anteriormente (1029a32) de que, embora as
condições ônticas primárias ou os primeiros princípios das coisas não sejam o que é
familiar imediatamente, todo aprendizado deve proceder por indução daquilo que nos é
familiar e daquilo que é inteligível em si."[76] Esse projeto aristotélico foi traduzido em
relatos antigos até a ciência da modernidade com a asserção de se "resgatar as
aparências" (em grego, σῴζειν τὰ φαινόμενα, sôzein ta phainomena; "salvar
os fenômenos") — fenômenos sendo os dados da sensopercepção psíquica que aparecem
na mente, qualias como som, cor, sentido de palavras etc., observados e inteligíveis, em
um estado de conhecimento pré-demonstrativo, que podem ser coligidos em faculdades
cognitivas tais como endoxa (formação de opinião) e empeiria (experiência).[73][75][77]
Platão argumentou que todas as coisas têm uma forma universal, que pode ser uma
propriedade ou uma relação com outras coisas. Quando olhamos para algo de cor
vermelha, por exemplo, vemos um vermelho e também podemos analisar a forma do
vermelho. Nesta distinção, há um vermelho específico e uma forma universal do vermelho
(da qual todas as outras coisas vermelhas também participam). Além disso, podemos
colocar uma coisa vermelha ao lado de um objeto azul, de modo que possamos falar de
vermelho e azul como próximos um do outro. Platão argumentou que há uma distinção que
separa o ser de uma coisa particular da verdadeira essência ôntica da Forma
Ideal, transcendente — um vermelho imanente em uma instância não é o Vermelho real
em si. Por conta dessa separação, Platão argumentou que existem algumas formas
universais que podem não estar fazendo parte de coisas particulares. Por exemplo, é
possível que não exista um bem particular, mas a Ideia do Bem ainda assim é uma forma
universal adequada. Aristóteles discordou de Platão neste ponto, argumentando que todos
os universais são instanciados em algum período de tempo.[65] Aristóteles enfatizava que é
possível obter verdadeiro conhecimento a partir das substâncias dos objetos sensíveis, o
que Platão também concordava, mas considerando como conhecimento maior e mais real
aquele das Ideias.[78]
Além disso, Aristóteles discordou de Platão sobre a localização dos universais. Onde
Platão falava do Mundo das Ideias transcendente, um lugar em que todas as formas
universais subsistem, Aristóteles sustentava que os universais existem dentro de uma
coisa subsistente (hypokeimenon) que contém as formas, expressando-as enquanto causa
formal.[79] Para ele, nada do que é universal é uma entidade subsistente. Portanto, de
acordo com Aristóteles, a forma do vermelho existe dentro dos compostos forma-matéria
com capacidade de serem coisas vermelhas.[79][65][80]
"Segue-se claramente que nada universalmente atribuível existe além dos particulares.
Mas aqueles que acreditam nas Formas, embora tenham razão em separá-las — desde
que sejam entidades subsistentes — assumem erroneamente que o 'um sobre muitos' é
uma forma. A causa do seu erro é a sua incapacidade de nos dizer quais são
as ousiai (substâncias) desse tipo, aquelas ousiai imperecíveis que existem sobre e além
dos sensíveis particulares. Eles os tornam, então, iguais em espécie aos sensíveis, pois
esse tipo de ousia é familiar para nós, acrescentando o epíteto 'em si', como em 'Homem-
em-si' e 'Cavalo-em-si'"
–Metafísica 1040b[81]
Apesar dessa reformulação crítica do que seria propriamente uma forma e a análise da
substância e suas categorias visíveis, alguns estudiosos consideram que Aristóteles não
abandonou em absoluto a teoria das Ideias transcendentes de Platão, pois ao longo de
suas obras descreveu características que não estão manifestas em um objeto atual, por
exemplo em sua teleologia ou implícito na sua teoria de Deus como um intelecto
pensante.[82][83]

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