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Aristóteles
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
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Após sua morte, seu pensamento foi praticamente esquecido pelo ocidente até o fim da
Antiguidade. Durante o Califado Abássida, as obras de Aristóteles foram traduzidas em árabe,
influenciando o mundo muçulmano.[7] A partir do fim do Império Romano o ocidente teve acesso
limitado a seus ensinamentos até o Século XII. Após a redescoberta de seus escritos, o pensamento
aristotélico também passou a exercer influência sobre a filosofia e a teologia ocidental durante os
cinco séculos seguintes, criando tensões com o pensamento platônico de Agostinho de Hipona que
vigorava à época. Foi durante o Século XII, contudo, que o aristotelismo marcou profundamente a
escolástica e, por intermédio da obra de Tomás de Aquino, o cristianismo católico.
Vida
Aristóteles nasceu em Estagira, na Trácia,[10] filho de Nicômaco. Seu pai era amigo e médico
pessoal do rei macedônio Amintas III, rei conhecido por ser pai de Filipe II e avô de Alexandre.[11]
Existem algumas controvérsias entre os estudiosos a respeito da influência da atividade médica da
família de Aristóteles em seu interesse pela biologia e fisiologia. No entanto, é sabido que o pai de
Aristóteles, Nicômaco, era médico, e que a medicina era uma atividade importante em sua
família.[12][13]
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Segundo a compilação bizantina Suda, Aristóteles era descendente de Nicômaco, filho de Macaão,
filho de Esculápio.[14]
Com cerca de 16 ou 17 anos partiu para a cidade de Atenas, maior centro intelectual e artístico da
Grécia Antiga. Como muitos outros jovens da época, foi para lá prosseguir os estudos. Duas
grandes instituições disputavam a preferência dos jovens: a escola de Isócrates, que visava
preparar o aluno para a vida política, e Platão e sua Academia, com preferência à ciência
(episteme) como fundamento da realidade. Apesar do aviso de que, quem não conhecesse
geometria ali não deveria entrar, Aristóteles decidiu-se pela academia platônica e nela permaneceu
vinte anos, até a morte de Platão,[15] no primeiro ano da 108a olimpíada (348 a.C.).[16] Aristóteles
provavelmente participou dos Mistérios de Eleusis.[17]
Em 347 a.C. com a morte de Platão, a direção da Academia passa a Espeusipo[15][16] que começou
a dar ao estudo acadêmico da filosofia um viés matemático que Aristóteles (segundo opinião geral,
um não-matemático) considerou inadequado,[18] assim Aristóteles deixa Atenas e se dirige,
provavelmente, primeiro a Atarneu convidado pelo tirano Hérmias e em seguida a Assos, cidade
que fora doada pelo tirano aos platônicos Erasto e Corisco, pelas boas leis que lhe haviam
preparado e que obtiveram grande sucesso.[19]
Durante 347 a.C. e 345 a.C., dirige uma escola em Assos, junto com Xenócrates, Erasto e Corisco e
depois em 345/344 a.C. conhece Teofrasto e com sua colaboração dirige uma escola em Mitilene,
na ilha de Lesbos e lá se casa com Pítias, neta de Hérmias, com quem teve uma filha, também
chamada Pítias.[20]
Em 343/342 a.C. Filipe II da Macedônia escolhe Aristóteles como educador de seu filho Alexandre,
então com treze anos,[21] por intercessão de Hérmias.[19]
Pouco se sabe sobre o período da vida de Aristóteles entre 341 a.C. e 335 a.C., ainda que se
questione o período de tempo que tutelou Alexandre, a maioria dos estudiosos estimam que este
contato durou entre dois e três anos.[22][23][24]
Em 323 a.C, morre Alexandre e em Atenas começa uma forte reação antimacedônica, em 322 a.C.
por causa de sua ligação com a família real, Aristóteles foge de Atenas e se dirige a Cálcides, onde
sua mãe tinha uma casa, explicando, "Eu não vou permitir que os atenienses pequem duas vezes
contra a filosofia"[29][30] uma referência ao julgamento de Sócrates em Atenas. Ele morreu em
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Cálcis, na ilha Eubeia de causas naturais naquele ano.[1] Aristóteles nomeou como chefe executivo
seu aluno Antípatro e deixou um testamento em que pediu para ser enterrado ao lado de sua
esposa.[31]
Campos de estudo
A filosofia de
Aristóteles dominou
verdadeiramente o
pensamento europeu a
partir do século XII.[32]
A revolução científica
iniciou-se no
século XVI e somente
onde a filosofia
aristotélica foi
dominante é que
Em 335 a.C. Aristóteles funda sua própria escola em Atenas, em uma área de sobreveio uma
exercício público dedicado ao deus Apolo Lykeios, daí o nome Liceu.[25] A escola revolução científica.[33]
de Aristóteles, afresco de Gustav Adolph Spangenberg, 1883–1888
Apesar do alcance
abrangente que as
obras de Aristóteles gozaram tradicionalmente, acadêmicos modernos questionam a autenticidade
de uma parte considerável do Corpus aristotelicum.[34]
Parte das afirmações a respeito da Física e da Química de Aristóteles foram impugnadas ao longo
dos séculos, e a principal razão disso é que nos séculos XVI e XVII os cientistas aplicaram métodos
quantitativos ao estudo da natureza inanimada, assim algumas observações de Aristóteles são
irremediavelmente inadequadas em comparação com os trabalhos dos novos cientistas.[20]
Lógica
A lógica aristotélica, que ocupa seis de suas primeiras obras, constitui o exemplo mais sistemático
de filosofia em dois mil anos de história. Sua premissa principal envolve uma teoria de caráter
semântico desenvolvida por ele para servir de estrutura para a compreensão da veracidade de
proposições. Foi por meio de sua lógica que se estabeleceu a primazia da lógica dedutiva.[35]
Aristóteles sistematizou a lógica, definindo as formas de interferência que eram válidas e as que
não eram — em outras palavras, aquilo que realmente decorre de algo e aquilo que só
aparentemente decorre; e deu nomes a todas essas diferentes formas de interferências. Por dois
mil anos, estudar lógica, significou estudar a lógica de Aristóteles.[36]
A lógica, como disciplina intelectual, foi criada no século IV a.C. por Aristóteles.[37] Sua teoria do
silogismo constitui o cerne de sua lógica e através dela tenta caracterizar as formas de silogismo e
determinar quais deles são válidas e quais não, o que conseguiu com bastante sucesso. Como
primeiro passo no desenvolvimento da lógica, a teoria do silogismo foi extremamente
importante.[37]
Física
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Aristóteles não reconhecia a ideia de inércia, ele imaginou que as leis que regiam os movimentos
celestes eram muito diferentes daquelas que regiam os movimentos na superfície da Terra, além
de ver o movimento vertical como natural, enquanto o movimento horizontal requereria uma força
de sustentação.[38] Ainda sobre movimento e inércia, Aristóteles afirmou que o movimento é uma
mudança de lugar e exige sempre uma causa, o repouso e o movimento são dois fenômenos físicos
totalmente distintos, o primeiro sendo irredutível a um caso particular do segundo.[20] No livro II,
Do Céu, ele afirma explicitamente que quando um objeto se desloca para seu estado natural o
movimento não é causado por uma força, assim ele afirma que o movimento daquilo que está no
processo de locomoção é circular, retilíneo ou uma combinação dos dois tipos.[32]
Óptica
Na época de Aristóteles, a óptica matemática era ainda uma disciplina nova, contrariamente às
outras matemáticas e especialmente à geometria. Ele faz recorrentes referências à cor, à sua
"unidade" e à sua constituição, nos mesmos contextos em que se fala de outros setores do real que
pertencem a outras ciências matemáticas, e do que neles é unidade.[39]
Aristóteles fez objeções à teoria de Empédocles e ao modelo de Platão que considerava que a visão
era produzida por raios que se originavam no olho e que colidiam com os objetos então sendo
visualizados. Ao refutar as teorias então conhecidas, ele formulou e fundamentou uma nova teoria,
a teoria da transparência: a luz era essencialmente a qualidade acidental dos corpos transparentes,
revelada pelo fogo.[40]
Aristóteles sugeria que a óptica contempla uma teoria matemático-quantitativa da cor, que
corresponde a uma teoria da medição da luz, assim ele afirma que a luz não era uma coisa material
mas a qualidade que caracterizava a condição ou o estado de transparência: "Uma coisa se diz
invisível porque não tem cor alguma, ou a tem somente em grau fraco".[41]
Química
Astronomia
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Aristóteles concorda com seu mestre (Platão) em considerar a astronomia uma ciência matemática
em sentido pleno, não menos do que a geometria, ele também concordava que os movimentos
estudados pela astronomia, como diz a A República, não se percebem "com a vista".[39]
O cosmos aristotélico é apresentado como uma esfera gigantesca, porém finita, à qual se prendiam
as estrelas, e dentro da qual se verificava uma rigorosa subordinação de outras esferas, que
pertenciam aos planetas então conhecidos e que giravam em torno da Terra, que se manteria
imóvel no centro do sistema (sistema geocêntrico).[43]
Biologia
Considerado o fundador das ciências como uma disciplina, Aristóteles deixou obras naturalistas
como História dos Animais, As partes dos animais e A geração dos animais, opúsculos como
Marcha dos animais, Movimentos dos animais e Pequeno tratado de história natural e muitas
outras obras sobre anatomia e botânica que se perderam e tratavam sobre o estudo de cerca de
400 animais que buscou classificar, tendo dissecado cerca de 50 deles. Também realizou
observações anatômicas, embriológicas e etológicas detalhadas de animais terrestres e aquáticos
(moluscos e peixes), fez observações sobre cetáceos e morcegos. Embora suas conclusões sejam,
muitas vezes, equivocadas, sua obra não deixa de ser notável.[44] Seus escritos de biologia e
zoologia correspondem a mais de uma quinta parte de sua obra. Neles, trabalha sobre a noção de
animal, a reprodução, a fisiologia e a classificação científica.[45]
Segundo alguns cientistas da atualidade, Aristóteles teria "descoberto" o DNA, por ele identificar a
forma, isto é, o eidos preexistente no pai, que é reproduzido na prole.[46]
Aristóteles foi quem iniciou os estudos científicos documentados sobre peixes, sendo o precursor
da ictiologia (a ciência que estuda os peixes). Catalogou mais de cem espécies de peixes marinhos e
descreveu seu comportamento. É considerado como elemento histórico da evolução da piscicultura
e da aquariofilia,[47] separou mamíferos aquáticos de peixes e sabia que tubarões e raias faziam
parte de grupo que chamou de Selachē (Chondrichthyes).[48]
Em sua obra De Moto Animalium (traduzido do latim, Do Movimento dos Animais), Aristóteles
discorre especificamente sobre os princípios físicos que regem o movimento dos animais em geral,
assim como as suas causas.[49] No livro, Aristóteles postula que, para que houvesse o movimento
de algum membro do animal, era necessária a existência de uma parte imóvel, a qual Aristóteles
atribuía ser a origem do movimento.[50] Para que o animal inteiro se desloque, no entanto,
Aristóteles acreditava que era necessário algo em repouso absoluto em relação ao animal, e,
apoiando-se neste ente imóvel, o animal desencadearia o deslocamento.[51] Sobre a origem
primordial do movimento em seres vivos, Aristóteles atribuía a mente e o desejo como causas
primárias do movimento nos animais.[52]
Gênero
Do ponto de vista biológico, Aristóteles pensava que o corpo feminino, sendo adequado para a
reprodução, implica que ele tenha uma temperatura corporal diferente da do corpo masculino.[53]
Em sua teoria da herança , Aristóteles considerava a mãe como um elemento material passivo para
a criança, enquanto o pai fornecia um elemento ativo e animador com a forma da espécie
humana.[54]
Em sua Política, Aristóteles via as mulheres como superiores aos escravos; mas acreditava que o
marido deveria exercer domínio político sobre a esposa. Entre as diferenças entre as mulheres e os
homens estava o fato de serem, em sua opinião, mais impulsivas, mais compassivas, mais
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queixosas e mais enganosas.[55][56] Por este motivo, Aristóteles foi visto como difusor de ideias
misóginas[57] e sexistas.[58]
No entanto, Aristóteles deu igual peso à felicidade das mulheres e à felicidade dos homens e
comentou, em sua obra A Retórica, que uma sociedade não pode ser feliz a menos que as mulheres
também estejam felizes. Sobre as mulheres, ainda disse que eram totalmente incapazes de serem
amigas, e ele com certeza não esperava que a esposa se relacionasse com o marido em nível de
igualdade.[59]
Sexualidade
Aristóteles não escreveu extensivamente sobre questões sexuais, pois estava menos preocupado
com os apetites do que Platão.[60]
Visto não contribuir para a fundação de famílias, Aristóteles tinha a homossexualidade em conta
de desperdício, não apenas inútil, mas até perigoso. Porém, isso não significa que a condenasse.
Ele tomava, em consideração, as circunstâncias em que era praticada. Assim, em Creta, onde havia
um problema de superpopulação e a relação entre o mesmo sexo era difundida,[61] ele propôs que
esse tipo de relação fosse tolerada pelo Estado, a fim de contornar a superpopulação, pois a ilha
dispunha de poucos recursos naturais.[62]
Em um fragmento sobre amor físico, embora referindo-se ao tema com indulgência, parece ter
feito distinção entre a homossexualidade congênita e adquirido.[63] Em sua abordagem, permitiu
que a mudança ocorresse de acordo com a natureza e, portanto, a maneira como a lei natural é
incorporada poderia mudar com o tempo, uma ideia que Tomás de Aquino mais tarde incorporou
à sua própria teoria da lei natural.[60]
Metafísica
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se não houvesse outras coisas independentes além das naturais compostas, o estudo
da natureza seria o tipo primário de conhecimento; mas se há algo independente e
imóvel, o conhecimento disso o precede e é a primeira filosofia, e é universal como
tal, porque é a primeira. E pertence a esse tipo de filosofia estudar o ser como ser,
tanto o que é como o que lhe pertence apenas por virtude de ser.[66]
Substância
Aristóteles examina os conceitos de substância (ousia) e essência (a ti enfat einai, "o quid que
deveria ser") em sua Metafísica (Livro VII), e conclui que uma substância específica é uma
combinação de matéria e forma, uma teoria filosófica chamada hilemorfismo. No livro VIII, ele
distingue a matéria da substância como substrato, ou o material de que é composta. Para ele, a
matéria propriamente dita é chamada prima materia, sem qualidades, que receberá as formas.
Por exemplo, a matéria de uma casa são os tijolos, as pedras, as madeiras etc., ou o que quer que
constitua a casa em potencial, enquanto a forma da substância é a casa real, ou seja, "abrangendo
corpos e bens imóveis" ou qualquer outra diferença que permita nós definirmos algo como uma
casa. A fórmula que fornece os componentes é o relato da matéria, e a fórmula que fornece a
diferenciação é o relato da forma.[71][65]
Realismo imanente
Como seu professor Platão, a filosofia de Aristóteles visa o universal. A ontologia de Aristóteles
enfatizava o universal (katholou) nos particulares (kath 'hekaston), coisas no mundo. Platão
enfocava no universal enquanto forma existente separadamente, o qual as coisas reais imitam.
Para Aristóteles, a "forma" ainda é a base dos fenômenos, mas é "instanciada" em uma substância
específica.[65] Uma substância primária é vista como possuindo a forma imanente na matéria.[72]
Sua sustentação da metafísica com pés firmes no empirismo postulou que os fenômenos devem ser
observados para se definir quais são suas causas, por exemplo o movimento eterno dos astros na
esfera celeste, e avançou defesas pela experiência, em continuidade ao que já aparecia nos pré-
socráticos e às propostas socráticas nos diálogos platônicos, de que se deveria proceder induzindo
para a verificação dos universais.[73][74][75] Segundo Lambertus Marie de Rijk: "Ele toma seu
ponto de partida da ousia sensível. Sua expressão desse objetivo é acompanhada de uma
elaboração da ideia mencionada anteriormente (1029a32) de que, embora as condições ônticas
primárias ou os primeiros princípios das coisas não sejam o que é familiar imediatamente, todo
aprendizado deve proceder por indução daquilo que nos é familiar e daquilo que é inteligível em
si."[76] Esse projeto aristotélico foi traduzido em relatos antigos até a ciência da modernidade com
a asserção de se "resgatar as aparências" (em grego, σῴζειν τὰ φαινόμενα, sôzein ta phainomena;
"salvar os fenômenos") — fenômenos sendo os dados da sensopercepção psíquica que aparecem na
mente, qualias como som, cor, sentido de palavras etc., observados e inteligíveis, em um estado de
conhecimento pré-demonstrativo, que podem ser coligidos em faculdades cognitivas tais como
endoxa (formação de opinião) e empeiria (experiência).[73][75][77]
Platão argumentou que todas as coisas têm uma forma universal, que pode ser uma propriedade
ou uma relação com outras coisas. Quando olhamos para algo de cor vermelha, por exemplo,
vemos um vermelho e também podemos analisar a forma do vermelho. Nesta distinção, há um
vermelho específico e uma forma universal do vermelho (da qual todas as outras coisas vermelhas
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também participam). Além disso, podemos colocar uma coisa vermelha ao lado de um objeto azul,
de modo que possamos falar de vermelho e azul como próximos um do outro. Platão argumentou
que há uma distinção que separa o ser de uma coisa particular da verdadeira essência ôntica da
Forma Ideal, transcendente — um vermelho imanente em uma instância não é o Vermelho real em
si. Por conta dessa separação, Platão argumentou que existem algumas formas universais que
podem não estar fazendo parte de coisas particulares. Por exemplo, é possível que não exista um
bem particular, mas a Ideia do Bem ainda assim é uma forma universal adequada. Aristóteles
discordou de Platão neste ponto, argumentando que todos os universais são instanciados em
algum período de tempo.[65] Aristóteles enfatizava que é possível obter verdadeiro conhecimento a
partir das substâncias dos objetos sensíveis, o que Platão também concordava, mas considerando
como conhecimento maior e mais real aquele das Ideias.[78]
Além disso, Aristóteles discordou de Platão sobre a localização dos universais. Onde Platão falava
do Mundo das Ideias transcendente, um lugar em que todas as formas universais subsistem,
Aristóteles sustentava que os universais existem dentro de uma coisa subsistente (hypokeimenon)
que contém as formas, expressando-as enquanto causa formal.[79] Para ele, nada do que é
universal é uma entidade subsistente. Portanto, de acordo com Aristóteles, a forma do vermelho
existe dentro dos compostos forma-matéria com capacidade de serem coisas vermelhas.[79][65][80]
"Segue-se claramente que nada universalmente atribuível existe além dos particulares.
Mas aqueles que acreditam nas Formas, embora tenham razão em separá-las — desde
que sejam entidades subsistentes — assumem erroneamente que o 'um sobre muitos' é
uma forma. A causa do seu erro é a sua incapacidade de nos dizer quais são as ousiai
(substâncias) desse tipo, aquelas ousiai imperecíveis que existem sobre e além dos
sensíveis particulares. Eles os tornam, então, iguais em espécie aos sensíveis, pois esse
tipo de ousia é familiar para nós, acrescentando o epíteto 'em si', como em 'Homem-
em-si' e 'Cavalo-em-si'"
–Metafísica 1040b[81]
Apesar dessa reformulação crítica do que seria propriamente uma forma e a análise da substância
e suas categorias visíveis, alguns estudiosos consideram que Aristóteles não abandonou em
absoluto a teoria das Ideias transcendentes de Platão, pois ao longo de suas obras descreveu
características que não estão manifestas em um objeto atual, por exemplo em sua teleologia ou
implícito na sua teoria de Deus como um intelecto pensante.[82][83]
Potência e ato
No que diz respeito à mudança (kinesis) e suas causas agora, como ele define em Física e Da
Geração e da Corrupção 319b–320a, ele distingue o vir-a-ser de:
O vir a ser é uma mudança em que nada persiste, do qual o resultante é uma propriedade. Nessa
mudança em particular, ele introduz o conceito de potencialidade (dynamis) e atualidade
(entelecheia) em associação com a matéria e a forma. Referindo-se à potencialidade, é aquilo que
uma coisa é capaz de fazer, ser ou receber atuação sobre, se as condições forem corretas e não for
impedido por outra coisa. Por exemplo, a semente de uma planta no solo é potencialmente
(dynamei) planta e, se não for impedida por algo, tornar-se-á uma planta. Potencialmente, os
seres podem ou "agir" (poiein) ou "sofrerem atuação sobre" (paschein), o que pode ser ou inato ou
aprendido. Por exemplo, os olhos possuem a potencialidade da visão (ação inata), enquanto a
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Em resumo, a matéria utilizada para fazer uma casa tem potencial para ser uma casa e tanto a
atividade de construção quanto a forma da casa final são atualidades, o que também é uma causa
final ou finalidade. Então Aristóteles prossegue e conclui que a atualidade é anterior à
potencialidade na fórmula, no tempo e na substancialidade. Com esta definição da substância
particular (isto é, matéria e forma), Aristóteles tenta resolver o problema da unidade dos seres, por
exemplo, "o que é que faz do homem um"? Como, segundo Platão, existem duas ideias: animal e
bípede, como então o homem é uma unidade? No entanto, de acordo com Aristóteles, o ser
potencial (matéria) e o atual (forma) são um e o mesmo.[65]
Psicologia
Na medida em que se ocupa das mais elaboradas entidades naturais, a psicologia foi considerada
também o ápice da filosofia natural de Aristóteles.[85] A palavra psychê (de que deriva nosso termo
psicologia) costuma ser traduzida como "alma", e sob a rubrica psyche Aristóteles de fato inclui as
características dos animais superiores que pensadores posteriores tendem a associar com a
alma.[20] Objeto geral da psicologia aristotélica é o mundo animado, isto é, vivente, que tem por
princípio a alma e se distingue essencialmente do mundo inorgânico, pois, o ser vivo diversamente
do ser inorgânico possui internamente o princípio da sua atividade, que é precisamente a alma,
forma do corpo.[86]
Muitas das hipóteses de Aristóteles sobre a natureza da lembrança e dos esquecimentos deram
origem a grande número de experimentos na área da aprendizagem. Sua doutrina da associação
afirmava que a memória é facilitada quer pela semelhança e dessemelhança de um fato atual e um
passado, quer por sua estreita relação no tempo e espaço.[87]
Sua obra De Anima (Sobre a Alma) trata-se do primeiro objetivo em larga escala para estudar a
psicologia. Muitas das questões que levanta continuam por responder até hoje, e ainda são objeto
de exame.[88] Aristóteles formulou teorias sobre desejos, apetites, dor e prazer, reações e
sentimentos. Sua doutrina da catarse ensinava, por exemplo que os temores podem ser
transferidos ao herói da tragédia — ideia que muito mais tarde veio formar uma das teses da
psicanálise e da terapia do jogo.[87]
Ética
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Alguns veem Aristóteles como o fundador da Ética, o que se justifica desde que consideremos a
Ética como uma disciplina específica e distinta no corpo das ciências.[89] Em suas aulas,
Aristóteles fez uma análise do agir humano que marcou decisivamente o modo de pensar
ocidental. O filósofo ensinava que todo o conhecimento e todo o trabalho visam a algum bem. O
bem é a finalidade de toda a ação. A busca do bem é o que difere a ação humana da de todos os
outros animais.[90]
Para Aristóteles, estudamos a ética, a fim de melhorar nossas vidas e, portanto, sua preocupação
principal é a natureza do bem-estar humano. Aristóteles segue Sócrates e Platão ao dispor as
virtudes no centro de uma vida bem vivida. Como Platão, ele considera as virtudes éticas (justiça,
coragem, temperança etc.), como habilidades complexas racionais, emocionais e sociais, mas
rejeita a ideia de Platão de que a formação em ciências e metafísica é um pré-requisito necessário
para um entendimento completo de bem. Segundo ele, o que precisamos, a fim de viver bem, é
uma apreciação adequada da maneira em que os bens tais como a amizade, o prazer, a virtude, a
honra e a riqueza se encaixam como um todo. Para aplicar esse entendimento geral para casos
particulares, devemos adquirir, através de educação adequada e hábitos, a capacidade de ver, em
cada ocasião, qual curso de ação é mais bem fundamentada. Portanto, a sabedoria prática, como
ele a concebe, não pode ser adquirida apenas ao aprender regras gerais, também deve ser
adquirida através da prática. E essas habilidades deliberativas, emocionais e sociais é que nos
permitem colocar nossa compreensão geral de bem-estar em prática em formas que são adequados
para cada ocasião.[91] Aristóteles propõe que a vida contemplativa (intelectual) traria uma
felicidade maior e mais constante ao ser humano, quando comparada à vida política (procura da
honra) e da vida baseada em prazeres sensoriais.[92]
Retórica
Estética
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Aristóteles concedia às artes uma importância valiosa, na medida em que poderiam reparar as
deficiências da natureza humana, contribuindo na formação moral dos indivíduos.[96]
Música
Poética
Aristóteles foi o primeiro filósofo a consagrar todo um tratado, ainda que incompleto, ao exame do
fenômeno poético, a Arte Poética. Ele propunha-se a refletir acerca do objeto estético, ou antes,
acerca da criação do objeto estético.[98]
Em Arte Poética, o filósofo trata da arte poética a partir de duas perspectivas, a definição da
poética como imitação e a apresentação da estrutura da poesia de acordo com suas diferentes
espécies. No primeiro caso, reduz a essência da poética à imitação — que crê ser congênita no
homem. A sua importância, contudo, deriva do fato de que a mimese é capaz de fornecer, ao ser
humano, dois elementos essenciais: prazer e conhecimento.[99][100]
Aristóteles era um apurado colecionador sistemático de enigmas, folclores e provérbios, ele e sua
escola tinham um interesse especial nos enigmas da Pítia e estudaram também as fábulas de
Esopo.[101]
Política
A política aristotélica é essencialmente unida à moral, porque o fim último do estado é a virtude,
isto é, a formação moral dos cidadãos e o conjunto dos meios necessários para isso. O estado é um
organismo moral, condição e complemento da atividade moral individual, e fundamento primeiro
da suprema atividade contemplativa. A política, contudo, é distinta da moral, porquanto esta tem
como objetivo o indivíduo, aquela a coletividade. A ética é a doutrina moral individual, a política é
a doutrina moral social. Desta ciência trata Aristóteles precisamente na Política, de que acima se
falou.[102]
Em Ética a Nicômaco Aristóteles descreve o assunto como ciência política, que ele caracteriza
como a ciência mais confiável. Ela prescreve quais as ciências são estudadas na cidade-estado, e os
outros — como a ciência militar, gestão doméstica e retórica — caem sob a sua autoridade. Desde
que rege as outras ciências práticas, suas extremidades servem como meios para o seu fim, que é
nada mais nada menos do que o bem humano.[102]
Escravidão
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Aristóteles não nega a natureza humana ao escravo,[102] para ele a escravidão faz parte da própria
natureza, de modo que o escravo nascido para ser escravo tem uma função útil de escravo, é esta a
função corporativa para a qual existe. Ele não sacrifica nada, pois sua natureza não exige mais do
que compete na sociedade. Ele discorda da opinião daqueles que pretendem que o poder do patrão
é contra a natureza, para ele, a natureza em vista da conservação, criou alguns seres para mandar e
outros para obedecer, é ela que dispõe que o ser dotado de previdência mande como patrão, e que
o ser, capaz por faculdades corporais execute ordens.[103] Aristóteles defendia que uma das causas
da escravidão era a dívida, o que ele classificava como uma "má escravidão".[104]
Obra
De acordo com a distinção que se origina com o
próprio Aristóteles, seus escritos são divididos
em dois grupos: os "exotéricos" e os
"esotéricos".[105] É difícil para muitos leitores
modernos aceitar que alguém pudesse tão
seriamente admirar o estilo daquelas obras
atualmente disponíveis para nós.[106] No
entanto, alguns estudiosos modernos têm
advertido que não podemos saber ao certo se o
elogio de Cícero foi dirigido especificamente para
Começo do livro 7 da Metafísica de Aristóteles,
as obras exotéricas. Alguns estudiosos modernos
traduzido para o latim por Guilherme de Moerbeke.
têm realmente admirado o estilo de escrita
Manuscrito do século XIV
concisa encontrado nas obras existentes de
Aristóteles.[107]
Legado
Mais de 2300 anos depois de sua morte, Aristóteles continua
sendo uma das pessoas mais influentes que já viveram. Ele
contribuiu para quase todos os campos do conhecimento
humano e foi o fundador de muitas áreas novas. De acordo com
o filósofo Bryan Magee, "é duvidoso que qualquer ser humano
saiba o tanto quanto ele sabia".[109] Entre inúmeras outras
realizações, Aristóteles foi o fundador da lógica formal[110] e Biblioteca de obras de Aristóteles
pioneiro no estudo da zoologia, deixando cada futuro cientista
e filósofo em débito para com ele por suas contribuições para o
método científico.[111][112]
https://pt.wikipedia.org/wiki/Aristóteles 13/22
06/08/23, 11:44 Aristóteles – Wikipédia, a enciclopédia livre
O aluno e sucessor de Aristóteles, Teofrasto, escreveu a obra Historia Plantarum, uma obra
pioneira em botânica. Alguns de seus termos técnicos permanecem em uso, como carpelo.
Teofrasto preocupou-se muito menos com as causas formais do que Aristóteles, descrevendo
pragmaticamente como as plantas funcionavam.[113]
Representação islâmica de
Europa Medieval
Aristóteles, ano 1220
e XIII, o interesse por Aristóteles ressurgiu e os cristãos latinos fizeram traduções do árabe e do
grego. Depois que o escolástico Tomás de Aquino escreveu sua Summa Theologica, trabalhando a
partir das traduções de Moerbeke e chamando Aristóteles de "O Filósofo", a demanda pelos
escritos de Aristóteles cresceu e os manuscritos gregos retornaram ao Ocidente, estimulando um
renascimento do aristotelismo na Europa que continuou no Renascimento. Esses pensadores
misturaram a filosofia aristotélica com o cristianismo, trazendo o pensamento da Grécia Antiga
para a Idade Média.[119]
Judaísmo medieval
Karl Marx, influenciado pela distinção entre valor de troca e valor de uso de Aristóteles,
considerava Aristóteles o "maior pensador da antiguidade" e o chamava de "pensador gigante" e
um "gênio".[124][125]
Charles Darwin considerou Aristóteles como o mais importante contribuinte para o assunto da
biologia. Em uma carta de 1882, ele escreveu que "Linnaeus e Cuvier foram meus dois deuses,
embora de maneiras muito diferentes, mas eram meros alunos do velho Aristóteles". Além disso,
https://pt.wikipedia.org/wiki/Aristóteles 15/22
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em edições posteriores do livro " A Origem das Espécies ", Darwin traçou ideias evolutivas até
Aristóteles; o texto que ele cita é um resumo de Aristóteles das ideias dos primeiros Filósofo grego
Empédocles.[126]
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20. "(denominamos essa ciência "metafísica" e Aristóteles a estuda em sua "Metafísica". Mas ele
nunca usa o termo "metafísica", tendo o ´titulo "Metafísica" o sentido literal de 'aquilo que vem
depois da física ou ciência natural. Jonathan Barnes. (http://books.google.com/books?id=ejO-
WHE8XsYC&pg=PA47)Aristóteles (http://books.google.com/books?id=ejO-WHE8XsYC&pg=P
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21. "Em 343, a pedido de Filipe, o rei da Macedônia, Aristóteles deixou Lesbos para Pela, capital
da Macedónia, a fim de ser o tutor de seus filho de treze anos de idade, Alexander, que viria a
tornar-se Alexandre, o Grande."Standford Encylopedia of Philosphy Aristotle (http://plato.stanfo
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futuro Alexandre, o Grande), retornou a Atenas em 335. a.C." Kenneth Mcleish (2000).
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24. "Embora a especulação sobre a influência de Aristóteles sobre o desenvolvimento de
Alexandre se prova irresistível para os historiadores, na verdade, pouco de concreto se sabe
sobre sua interação. No balanço, parece razoável concluir que algumas aulas aconteceram,
mas que durou apenas dois ou três anos, quando Alexandre foi tinha 13 a 15 anos. Aos 15
anos, Alexandre aparentemente já servia como comandante militar para seu pai, uma
circunstância que prejudicaria, se inconclusivamente, o julgamento desses historiadores que
conjecturam um longo período de tutela. Seja como for, alguns supõem que a sua associação
durou até oito anos."Standford Encylopedia of Philosphy Aristotle (http://plato.stanford.edu/entr
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25. "Liceu, porque o edifício que ocupava fora dedicado ao Apolo Liceu, deus dos pastores"
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26. "...a escola aristotélica foi logo denominada "Peripato", e os seus seguidores "perimatpéticos":
em grego, como efeito, significa "passeio" e peripatéticos "passeante"." Giovanni Reale
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Ligações externas
em inglês
em francês
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