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(Notas de Aula 5: Aristóteles e seus estudos).

(José Carlos Parente de Oliveira, 03-2022. IFCE - Campus Fortaleza)

Aristóteles

Resumo biográfico
Nascimento: 384 a.C., em Stagirus, Macedônia, Grécia.
Morte: 322 a.C., em Chalcis, Euboea, Grécia.

Aristóteles nasceu em Stagirus, ou Stagira, ou


Stageirus, na península calcídica do norte da
Grécia. Seu pai era Nicômaco, um médico, em-
quanto sua mãe se chamava Phaestis. Nicômaco
certamente morava na Calcídica quando Aristóte-
les nasceu e provavelmente ele havia nascido
naquela região. A mãe de Aristóteles, Phaestis,
veio de Chalcis na Eubeia e sua família ainda
possuía propriedades por lá.

Não há dúvida de seu pai o queria médico, pois


pois a tradição era que as habilidades médicas
eram mantidas em segredo e passadas de pai para
filho. Não era uma sociedade onde as pessoas
visitavam um médico, mas sim os médicos que
viajavam pelo país cuidando dos doentes. É muito provável que Aristóteles tivesse acompanhado
seu pai em suas viagens. Por volta de seus dez anos pai de Aristóteles morreu. Isso certamente
significou que Aristóteles não poderia seguir a profissão de médico, e com a morte prematura de sua
mãe, Aristóteles foi criado por um guardião, Proxeno de Atarneu, que era seu tio, ou um amigo da
família, como é sugerido por alguns autores. Proxeno foi muito importante na formação de
Aristóteles, pois o ensinou grego, retórica e poesia, o que veio a se somar aos ensinamentos
biológicos que havia recebido de seu pai, como parte de seu treinamento em Medicina.
No ano de 367 a.C. Aristóteles, então com dezessete anos, tornou-se aluno da Academia de Platão,
em Atenas. Nesta ocasião, a Academia já existia há cerca de vinte anos. Quando Aristóteles
ingressou na Academia Platão encontrava-se em Siracusa, sua primeira visita. Nesta ocasião a
Academia estava sob a administração de Eudoxo de Cnidos, sobrinho de Platão. De acordo com
estudiosos da cultura grega, a Academia de Platão não era uma instituição apolítica, que se
interessava apenas no estudo de ideias abstratas. Apesar de Platão ter-se decepcionado com a
política, ele não a exercia de forma representativa e sua Academia acabava por se envolver na
política regional da época. O clima altamente científico e moderadamente político da Academia,
assim como de toda a Atenas influenciou fortemente a formação de Aristóteles.
Aristóteles se destacou como um “aluno” muito talentoso – o próprio Platão o chamava de o
“intelecto” – e ao terminar seus estudos, se tornou professor na Academia e lá permaneceu por vinte
anos, até a morte de Platão.
Aristóteles era muito próximo de Alexandre, filho do rei Felipe da Macedônia, sendo o seu tutor inte-
lectual por três anos. Aristóteles apoiou Alexandre tão logo este sucedeu seu pai. Alexandre decidiu
seguir uma política semelhante à de seu pai em relação a Atenas e procurou afirmar seu poder por
meios pacíficos. Alexandre, o Grande, tornou-se o imperador mais importante do período helênico, e
ao derrotar Dario, imperador da Pérsia, chegou com as suas tropas até a Índia e ao Egito, difundindo
a cultura grega da Ásia à África. Por onde conquistou Alexandre fundou cidades gregas, sendo a
maior delas Alexandria, no Egito, que veio a ser, anos depois, o mais importante centro da ciência
grega, o que contribuiu decisivamente para manter vivo todo o aprendizado grego. Alexandre
protegeu a Academia e a encorajou a continuar com seu trabalho. Ao mesmo tempo, porém, ele
enviou Aristóteles a Atenas para fundar um estabelecimento semelhante, que rivalizaria a Academia.
Assim, em 335 a.C. Aristóteles fundou sua própria escola, o Liceu de Atenas. O Liceu já nasceu
fortalecido, pois Aristóteles levou assistentes para trabalhar na escola, além de uma grande
variedade de materiais didáticos, que ele havia colecionado em sua permanência na Macedônia –
livros, mapas e materiais diversos de ensino. Uma hipótese para tamanha coleção talvez fosse um
apoio ao desejo de Aristóteles de se tornar o chefe da Academia.
A Academia, apesar de sua indiscutível importância para a Ciência da Grécia, senão de todo o
mundo, sempre foi modesta em seus interesses, mas o Liceu de Aristóteles, já no seu início,
perseguia uma gama ampla de temas de estudo que, com o tempo, se consolidaram: lógica, retórica,
ética, moral, geometria, física, astronomia, meteorologia, zoologia, botânica, biologia, metafísica,
teologia, psicologia, medicina, filosofia estética, política, economia, poética. O Liceu era mais
avançado centro de estudos e pesquisas da época.
Aristóteles passou os doze anos seguintes à criação do Liceu administrando-o segundo a sua versão
de como deveria ser uma academia. A forma preferida de Aristóteles administrar era passar muito
tempo conversando com seus colegas, serviçais para em seguida, escrever seus argumentos. Os
aristotélicos eram chamados de peripatéticos – ambulante, itinerantes – por causa do hábito de
Aristóteles de ensinar ao ar livre, caminhando enquanto dava aula ou lia, percorrendo os jardins do
Liceu.
Uma especial atenção foi dada por Aristóteles ao estudo detalhado da natureza, tanto viva quanto
inanimada, mas especialmente a natureza viva. Entretanto, há relatos que Aristóteles atuou como
professor em quase todos os temas ou assuntos a que se dedicava o Liceu. Aristóteles era muito
dedicado, ele escrevia suas “aulas” e “palestras”, as corrigia, as expandia na busca da “perfeição”. E
mais surpreendente é o fato de ele ser pioneiro no estudo sistemático da maioria dessas
“disciplinas”, as quais simplesmente não existiam antes dele.
Alexandre morreu de febre aos 33 anos, em 323 a.C. Após sua morte, o sentimento anti macedônio
em Atenas era muito intenso o que obrigou Aristóteles a se retirar para Cálcis, onde ainda moravam
seus familiares. Aristóteles morreu no ano seguinte de uma queixa estomacal, aos 62 anos.
Há relatos anedóticos sobre Aristóteles, entretanto é quase impossível se ter alguma impressão da
personalidade de Aristóteles com certeza. Mas os historiadores de forma geral o revelam como um
personagem bondoso e afetuoso; e modesto, diferentemente do que possam pensar de seus escritos.
Ele teve uma vida familiar feliz, e era cuidadoso e solícito com os filhos, assim como com os servos.
Ele se trajava com elegância, com cabelos cortados bem curto. Ele era um bom orador, lúcido em
suas palestras, persuasivo na conversa e ele possuía um humor mordaz. Ele sofria de “má digestão”.
Seus inimigos, que não eram poucos, o retratavam como arrogante e autoritário.
Aristóteles organizou, realmente, uma escola de investigação científica em um patamar muito
superior a qualquer tentativa feita anteriormente. A Academia de Platão que fora espetacular,
possuía algo próximo a um atual Instituto de Matemática de uma universidade, enquanto o Liceu de
Aristóteles era o equivalente a um Centro de Ciências, englobando diversos institutos, a exemplo
dos de Biologia e Física.
Aristóteles foi versátil e brilhante, ele primeiro definiu com clareza o que era conhecimento
científico e o porquê de sua busca incessante. Ou seja, ele criou sozinho a ciência como um
empreendimento coletivo e organizado. Este seu modelo estrutural para os estudos e o fazer das
ciências perdurou, sem qualquer comparativo, por cerca de 2.000 anos.
O monumental tesouro de conhecimento contidos nas obras de Aristóteles, com certeza, não se deve
a ele sozinho, mas a um trabalho de dedicação e cooperação de todos aqueles que faziam o Liceu.
Com Aristóteles chegou-se a um dos períodos de maior importância do pensamento e conhecimento
gregos e, à época de todo o mundo.
Após o declínio da civilização da Grécia Antiga, a obra de Aristóteles permaneceu praticamente
desconhecida na Europa Ocidental por cerca de 1500 anos, sendo redescoberta, revisada, reescrita e
disseminada, via Península Ibérica, por estudiosos mouros e judeus. Em seguida as teorias e estudos
aristotélicos foram adaptados por teólogos e filósofos como Tomás de Aquino, aos dogmas e
ensinamentos da doutrina cristã. O legado de Aristóteles, o sistema filosófico e científico, por
séculos foi o suporte e o veículo do pensamento dogmático cristão medieval, assim como de toda a
doutrina religiosa islâmica. Desta forma, isto pode ser uma possível explicação para a longevidade
das ideias físicas e cosmológicas de Aristóteles. Com aliados tão poderosos, ele, Aristóteles, tornou-
se então a influência dominante até o fim da Idade Média.
Somente após o transcurso de quase dois mil (2000) anos de sua morte é que as ideias, conceitos e
métodos de Aristóteles começaram a ser refutadas: a sua Física somente foi totalmente contestada e
substituída no século XVII pela Mecânica Newtoniana; a Química de Aristóteles sobreviveu
incólume até o século XVIII, quando foi refutada e substituída por Lavoiser, a Biologia aristotélica
foi a que mais tempo “reinou”, caindo apenas no século XIX com Pasteur. A Biologia e,
particularmente a Zoologia, foi aquela que teve mais atenção de Aristóteles, chegando a se constituir
em um terço de toda a sua produção.
Jamais na História da Ciência, e em tempo algum, um sistema leigo, envolvendo ideias, método e
conhecimento teve tamanha longevidade.
Aristóteles, mais do que qualquer outro pensador, determinou a orientação e o conteúdo da história
intelectual ocidental por tanto tempo: A Era Aristotélica. E, mesmo após as revoluções intelectuais
dos séculos seguintes, as ideias e os conceitos aristotélicos permaneceram embutidos no pensamento
ocidental. E por cerca de 2000 anos fez parte da ortodoxia oficial da Igreja Cristã.

A Educação e o Método de Aristóteles


A Educação em Aristóteles podia ser sintetizada como:
a função principal da Educação era conduzir o homem à felicidade;
a Educação deveria guiar o homem ao longo da vida com o ensinamento de conceitos úteis e
necessários à vida prática;
a Educação era fundamental para a virtude moral e o bom caráter, que são atributos não inatos
ao ser humano.
No Liceu pela manhã, Aristóteles passeava com os seus alunos ao longo do caminho discutindo as
questões filosóficas mais profundas. Os cursos pela manhã eram destinados a um grupo menor de
alunos, os adiantados, os aprendizes, e incluíam temas mais abstratos, como lógica, física,
metafísica, os quais exigiam estudos mais intensivos. Para a tarde, ela expunha assuntos de menor
dificuldade para uma audiência mais vasta. Aqui eram apresentados cursos populares, destinados ao
público em geral, nos quais eram expostos temas de maior acessibilidade, como por exemplo,
retórica, política ou literatura.
O método didático de Aristóteles consistia em caminhar pelos ambientes com os alunos (para
adquirir experiência empírica). Nestas caminhadas, ele buscava desenvolver nos alunos a
observação, comparação e a percepção do mundo a sua volta, resultando em reflexão. Desta forma,
ele dizia ser no “aprender caminhando”, que a realidade se mostrava de formas e dimensões muito
distintas daquelas obtidas quando do contato direto com que se buscava a compreensão.
O Método Indutivo-Dedutivo de Aristóteles é um processo de vai e vem na busca da explicação
científica do acontecimento em estudo. Nos escritos Analíticos Posteriores, Aristóteles desenvolveu
sua “concepção” de um método de análise da ciência. Para ele, a investigação científica se inicia
com o fato conhecido de que certos acontecimentos podem ocorrer ou que certas características
desses acontecimentos coexistem. Assim através do processo intuitivo, tais observações levavam a
um princípio explicativo do acontecimento. E Aristóteles avançava em seu método e, uma vez
estabelecido o princípio explicativo, este levaria de volta, por dedução, à observação particular do
acontecido de onde se partiu ou a outra afirmação a respeito do acontecido. Deste processo se
depreende que há, na explicação científica, um caminho de “vai-e-vem”, que parte do fato, vai aos
princípios explicativos, e retorna o fato.

Ilustração do Método
“científico” de Aristóteles

Entretanto, este método não pode ser utilizado em todas as ciências a que ele e seus alunos se
dedicavam, por pura inexistência de instrumental que permitisse a observação mais precisa e a
natural confrontação de ideias a respeito do que se observava. Um exemplo desta situação foi a
Cosmologia de Aristóteles – que será vista mais adiante – que se mostrou completamente
ultrapassada poucos séculos depois. Acredita-se que esta “falha” de Aristóteles se deveu à
inexistência de instrumentos de medidas apropriados, ao contrário das impressionantes investigações
na área das ciências da vida, notadamente, na Zoologia, em que seus escritos impressionaram até
mesmo o próprio Charles Darwin, o pai da teoria da evolução.
Por isto, se pode apreender que o método investigativo de Aristóteles não poderia ser único à todas
as ciências. O método variava de uma área para outra, dependendo do tipo de problema em análise, e
também do “instrumental” disponível. Contudo, pensamos que, no geral, o seu método investigativo
incluía: 1. definir o assunto; 2. fazer uma revisão do conhecimento existente sobre o assunto e
considerar as dificuldades envolvidas nos escritos anteriores; 3. apresentar os seus próprios
argumentos e soluções.
Apesar de Aristóteles estar estabelecendo uma nova abordagem para a pesquisa científica, ao seu
método faltava a fase ou etapa de teste de seus argumentos e soluções. Esta etapa é fundamental à
verdade nas ciências naturais, contudo, há diversas gradações de dificuldades de testar nas diversas
ciências, seja por experimento seja por observação.

Causas
Diferentemente de Platão, para quem a ciência válida era a contemplação de formas abstratas em
busca de uma relação com a natureza, para Aristóteles o importante era a observação detalhada da
natureza para conhecer e saber como os acontecimentos naturais ocorriam: o acompanhar um corpo
celeste ou a dissecação de plantas e animais, para tentar entender como cada um se encaixava no
esquema da natureza, assim como saber qual era a importância de cada um destes acontecidos no
funcionamento da natureza.
Seu estudo da natureza foi uma busca por "causas". O que eram exatamente essas “causas”?
Desta forma, ele afirmou que a pesquisa em ciência é empírica e também explicativa, pois se trata,
em última análise, na busca das causas dos acontecimentos. Aristóteles em seus escritos enumerou
quatro tipos diferentes de causas ou explicações dos diversos acontecimentos, posteriormente
chamados de eventos e fenômenos. Inicialmente, ele afirma que há aquilo a partir do qual as coisas
são feitas, a exemplo dos termos de uma frase, ou o ferro de uma ferramenta. Ou seja, no início há a
matéria!
Em seguida esta matéria, de que as coisas são feitas, toma uma forma ou o padrão da coisa, que pode
a partir da forma expressar uma dada definição da coisa; a relação proporcional entre os lados de
duas placas quadradas de mesmo material é a causa de uma placa conter oito vezes mais matéria que
a outra. Aristóteles usou um exemplo mais sofisticado de um resultado descoberto por Pitágoras: a
relação proporcional igual a 2 entre os comprimentos de duas cordas de uma lira é a causa de uma
delas emitir um som que é a oitava do som emitido pela outra.
O terceiro tipo de causa é a origem de uma mudança ou estado de repouso em qualquer coisa: como
exemplo Aristóteles diz que uma pessoa que toma uma decisão de, por exemplo, gerar uma criança,
alterou toda a coisa – a decisão alterou o estado de repouso da não existência de bebê.
O quarto e último tipo de causa é a finalidade ou objetivo, aquilo em virtude do qual se faz algo; por
exemplo, é a explicação que damos quando nos perguntam por que motivo nós estamos a passear e
nós respondemos „para manter a boa forma‟. Portanto, manter a forma é a causa, o objetivo, a
finalidade e caminhar é o meio pelo qual atingiremos a causa.
Para Aristóteles o quarto tipo de causas (finalidade, objetivo, ou causa final) tem um papel muito
especial na ciência. Aristóteles busca e investiga as causas finais não só da ação humana, mas
também do comportamento dos animais (qual a finalidade das abelhas construírem colmeias
espiraladas? por que razão as aranhas tecem teias?), assim como ele busca seus traços estruturais
(por que razão as corujas têm olhos grandes, os patos têm membranas interdigitais?).
Aristóteles também buscava as causas finais para as características de plantas (por que algumas
plantas têm muitas raízes, espalhadas e pouco profundas, enquanto outras apresentam poucas raízes,
mas concentradas e profundas?) e dos elementos inanimados (tais como o impulso ascendente das
chamas, e queda de corpos como as pedras).
Aristóteles avançou em sua busca pelas causas. Ele exemplificou: para uma mesa, a matéria é a
madeira, o formato da mesa é a forma, a causa motriz é o carpinteiro e a causa final é a razão pela
qual a mesa foi feita – para uma família realizar suas refeições, por exemplo.
No caso dos humanos, ele afirmava que a matéria era fornecida pela mãe, a forma era a de um
animal de duas pernas e racional, a causa motriz era o pai e a finalidade era tornar-se uma pessoa
adulta feliz. Para os vegetais, a “causa final” ou “natureza” de uma semente é se torna uma planta.
Aristóteles diferenciava bem os humanos dos demais seres vivos, os animais e plantas. Para ele a
natureza não era consciente, diferentemente do ser humano que era capaz de entender a causa final
de todos os seres, animados e inanimados. Para dar outro exemplo, Aristóteles pensava que a “causa
final” de uma semente era se tornar um carvalho. É certamente muito natural, ao ver o mundo vivo,
especialmente o amadurecimento de organismos complexos, vê-los como tendo inatamente o
propósito expresso de se desenvolver em sua forma final.
Dentre todas as ideias de Aristóteles aquela que dizia respeito à natureza física dos elementos é,
particularmente, do interesse do Cristianismo: a ideia de que todo organismo é criado
especificamente para uma dada função - sua “finalidade” – (ser uma imagem do divino, por
exemplo) no grande esquema da natureza e ainda estar em local privilegiado (estar no centro do
universo) é muito atrativo para quem acredita piamente que tudo isto foi projetado por alguém.

A Visão da Ciência em Aristóteles


Para Aristóteles qualquer arte era uma técnica que se voltada para a produção de coisa, por exemplo,
o prazer e o divertimento das pessoas, portanto a arte visa claramente uma utilidade prática. Por
outro lado, o conhecimento das causas que produzem as coisas na natureza – a ciência – é de fato
um caso bem mais complexo que o prazer e o divertimento.
No entender de Aristóteles, as ciências visam a busca das causas e princípios da realidade, tendo um
fim em si mesma. Ou seja, o ser humano busca este tipo de saber, não para algum fim ou utilidade,
mas para aperfeiçoar seu raciocínio e sua alma – o ser humano, nesta busca, almeja o universal.
A classificação das ciências por Aristóteles tem três componentes, a saber: Ciências produtivas
(visam a fabricação de algum utensílio, roupas, vasos, móveis, etc.); Ciências práticas (usam o saber
para uma ação ou uma finalidade moral, ética ou política); Ciências teoréticas (buscam o saber pelo
saber, independente de um fim ou utilidade, a exemplo de biologia, zoologia, metafísica, física,
matemática).

Biologia e Zoologia
A maior e mais importante contribui-
cão de Aristóteles para as ciências
naturais foi na biologia, em particular
a Zoologia. O método de estudos e
pesquisa de Aristóteles teve na Biolo-
gia um campo profícuo, as criaturas
vivas e suas partes forneceram evidên-
cias muito ricas da forma e de sua
finalidade, de sua causa final.
Aristóteles descreveu em detalhes cer-
ca de quinhentos diferentes animais
em suas obras, dos quais há cento e
vinte tipos de peixes e sessenta tipos
de insetos. Aristóteles foi pioneiro a
utilizar a dissecção rotineiramente e
que, a partir disto descreveu os ór-
gãos internos dos vertebrados. Sur-
preendentemente, estas descrições Pagina do livro Peças Superiores:
continuam atuais, sendo até melhores Segredos da Geração de Aristóteles
que as publicadas em livros didáticos
didáticos e científicos atuais.

Teoria Abiogênese – Geração Espontânea


Para Aristóteles a vida era gerada espontaneamente por um Princípio Ativo (um tipo de energia que era
capaz de gerar a vida). Esta teoria influenciou os mais diversos sábios e médicos famosos durante séculos.
Aristóteles escreveu os livros A História dos Animais e a História Geral das Aves e Animais onde
descreve os seus estudos que levaram à classificação dos animais. Por estes profundos e profícuos estudos
ele é considerado o Criador e Pai da Zoologia: ele estudou, com grande riqueza de detalhes, a anatomia
estrutural de cerca de 520 espécies animal. Ele foi o pioneiro na classificação, não só de animais, como
também dos vegetais, estabelecendo o seu pioneirismo no desenvolvimento da Taxonomia – classificação
sistemática dos seres vivos que, considerando as suas características semelhantes e diferentes, os
descreve e os agrupa em categorias organizadas e hierarquizadas.
Alguns dos estudos e conceitos de Aristóteles permanecem ainda em uso na atualidade, a exemplo do
método de análises comparativas, que é adotado na biologia, bem como o conceito de anatomia
comparada, no campo da Zoologia.

Ilustração de seus livros A História dos Animais e a História Geral das Aves e Animais

Os estudos no campo da Zoologia anteriores a Aristóteles, como nos textos de Hipócrates os animais
eram estudados com o objetivo de serem utilizados nos estudos direcionados ao homem, ou seja, nestes
estudos os animais eram sempre comparados com a anatomia humana. Foi por este interesse médico que
Hipócrates se tornou o Pai da Medicina. Portanto, foi Aristóteles que, de fato, iniciou os estudos e as
pesquisas em Zoologia. Em seus estudos, Aristóteles dissecava os animais e descrevia todos os órgãos
internos. As descrições de Aristóteles ainda continuam atuais. Ele foi quem primeiro classificou os
animais em dois grupos: animais sanguíneos e animais não sanguíneos, ou seja, animais com ou sem
sangue vermelho.
Aristóteles ainda observou que no grupo dos animais vertebrados foram incluídos os peixes, as aves, os
quadrúpedes ovíparos, incluindo os répteis e anfíbios e os quadrúpedes vivíparos, que abrangem os
mamíferos aquáticos, a exemplo da baleia. Ele também identificou algumas características dos animais
cetáceos, afirmando que os golfinhos, por respirarem e possuírem pulmões, não eram peixes.
No grupo dos animais sem sangue, Aristóteles estudou muitas espécies de crustáceos, moluscos e insetos.
Além disso, ele foi o primeiro a descrever o desenvolvimento do embrião da galinha, realizando suas
observações a olho nu, em todas as suas fases.
Ele propôs a primeira classificação racional dos seres vivos, notadamente dos animais, sendo esta
classificação melhor e mais completa até a classificação criada no século XVIII pelo biólogo sueco Lineu,
que propôs a classificação binominal de gênero e espécie. O sistema de classificação de Aristóteles,
conhecido como a “Escada da Vida”, continuou em uso até o século XIX. Ele foi o primeiro
estudioso de seres vivos a reconhecer as relações entre as espécies e organizá-las por suas
semelhanças.

Os escritos de Aristóteles em Biologia e Zoologia correspondem a mais de uma quinta parte de sua
obra, nelas ele trabalha sobre a noção de animal, a reprodução, a fisiologia e a classificação. Nestes
estudos ele utilizou métodos empíricos para realizar o que atualmente se chama de “designação”,
realizou vários testes e experimentos científicos para estudar a flora e a fauna ao seu redor.
Aristóteles não estabeleceu o mesmo patamar de excelência obtido na Zoologia em seus estudos dos
movimentos de objetos inanimados, fossem os objetos próximos, como pedras caindo ou sendo
lançadas, ou objetos distantes, como estrelas e planetas.

Elementos da Natureza
A teoria aristotélica relativa aos constituintes básicos da matéria nos dá a impressão de um
retrocesso em relação ao trabalho dos atomistas Leucipo e Demócrito e à geometria abstrata de
Platão. Para Aristóteles toda a matéria era composta de quatro elementos: terra, água, ar e fogo, e
que cada um deles resultava da combinação de dois dos quatro „atributos‟ opostos: quente e frio,
molhado e seco.
De acordo com Aristóteles, a abordagem correta é considerar a maneira como as coisas se
apresentam naturalmente aos sentidos, a maneira como as coisas realmente parecem ser: quente e
frio, molhado e seco são qualidades imediata e aparentemente reais para qualquer pessoa. Assim,
essa maneira de abordar a natureza parecia muito natural na descrição dos acontecimentos ou
fenômenos.
Aristóteles certamente pensava que estava equivocada e errada a tentativa de resolver as questões
utilizando-se da abordagem de Platão, em termos da abstração conceitual de formas geométricas,
aliada ao atomismo, pois isto não se relacionava naturalmente aos nossos sentidos físicos, e sim à
nossa razão, que não tinha composição material. Muitos anos, na verdade muitos séculos depois,
soube-se que a realidade foi desvendada e melhor entendida com uma abordagem que unia a
Matemática e o atomismo.
A bem da verdade, naquela época, tanto uma quanto a outra abordagem carecia de instrumental
mínimo que permitisse avançar na busca da realidade. Ambas as visões podiam parecer
perfeitamente corretas – medidores eficientes de temperatura, comprimento e tempo, por exemplo,
não existiam!
Na sua teoria da natureza das coisas, Aristóteles discutiu longamente sobre as características e
propriedades das substâncias reais em termos de sua composição "elementar", como as substâncias
reagiam ao fogo ou à água. Para ele a água ao ser aquecida pelo fogo evaporava porque ela estava
indo do “estado” de fria e úmida para “estado” de quente e úmida e se tornava o elemento ar.
Utilizando-se de abordagens semelhantes ele analisou diversos fenômenos comumente observados o
que reforçava esta abordagem como perfeitamente coerente na busca da compreensão do mundo
natural.

Aristóteles e a Matemática
Apesar de Aristóteles não ter feito novas descobertas na Matemática, a sua importância para esta
ciência é inquestionável: a sua compreensão do desenvolvimento da Matemática é ancorada,
essencialmente, no fato de que ele a usava na grande maioria de suas ilustrações e exemplificação de
seu método científico.
Talvez a sua contribuição mais importante à Matemática foi a sistematização de sua lógica dedutiva.
Ao escrever sobre Física, em seu livro Analítica Posterior, Aristóteles demostrou uma compreensão
altamente refinada dos métodos matemáticos utilizados. Ele, claramente, demonstra um completo
domínio da Matemática Elementar, além de classificar a Matemática como uma das três ciências
“teóricas” de grande importância, ao lado da Filosofia e Física Teórica, utilizando um jargão
moderno.
Entretanto, diferentemente de Platão, que colocava a Matemática em um patamar de importância tal
que sobrava um pequeno “espaço” para a grande quantidade de ciências consideradas importantes e
estudadas por Aristóteles.
Nos seus escritos em Física, Aristóteles demonstrou-se ciente das importantes descobertas de sábios
gregos, a exemplo da grande Teoria da Proporção de Eudoxo, além de reconhecer a sua importância.
Assim, como conhecia a suposição fundamental na qual Eudoxo baseou seu “método de exaustão” –
precursor do cálculo integral – para medir áreas e volumes, como mostra a ilustração a seguir.

Ilustração do Método da
“exaustão” de Eudoxo
Além do que, Aristóteles também era familiarizado com o sistema de esferas concêntricas pelo qual
Calipo e Eudoxo justificaram, ao menos teoricamente, que os movimentos do Sol, da Lua e dos
planetas eram independentes.
Como a obra de Aristóteles é deveras extensa, as incursões em Matemática são esparsas. Entretanto,
elas indicam que Aristóteles trabalhou na filosofia da matemática de modo algo refinado.
Mas, a ideia que Aristóteles tinha dos conceitos matemáticos de "infinito" e de "contínuo" diferiam
do ponto de vista dos matemáticos. Aristóteles afirmava que não existia algo realmente infinito. Ele
não concebia a existência de algo real que, por maior que fosse não pudesse ser percorrido e o seu
fim alcançado. Entretanto, ele dizia que essa sua ideia não invalidava o conceito que os matemáticos
tinham do infinito. E mais, ele dizia que o infinito dos matemáticos era algo que eles exigiam que
pudesse crescer o quanto eles desejassem. Por exemplo, uma linha reta infinita era o equivalente a
uma reta finita que os matemáticos exigiam que ela fosse tão longa quanto eles quisessem.
Para Aristóteles a ideia era a de que uma coisa “contínua” não poderia ser dividida em partes, ou
seja, ela era indivisível: algo contínuo é aquilo que o seu fim ou seu limite não pode ser feito de duas
coisas que se tocam: o contínuo é uma coisa só. Esta ideia não permite, por exemplo, que em uma
reta possa existir um ponto entre pontos sucessivos (modernamente o conceito de contínuo é que
entre dois pontos sempre existe um ponto!).

Conceitos de Tempo, Espaço e Movimento para Aristóteles


Tempo
Vamos iniciar o estudo da Física Aristotélica olhando os conceitos básicos de tempo, espaço e
movimento que nos guiarão nesta empreitada.
O que seria o tempo para Aristóteles? Tempo, para ele, poderia ser fracionado, dividido, incontável
e composto de passado, agora – que liga o antes ao depois – e futuro. Apesar de o tempo ser
compostos por partes, a sua totalidade e duração exatas não são claramente colocados por
Aristóteles. Seria porque o tempo é ilimitado?
O tempo de Aristóteles era algo em potencial e o “vemos” porque observamos que o tempo passa à
medida que o “acontecimento” ocorre. Seria então o tempo uma medida do “acontecimento” que
ocorre agora, e que tem um depois e teve um antes?
O ”agora”, enquanto algo acontece, apesar de não ser o tempo em sua totalidade nos permite estudá-
lo, já que o tempo na sua totalidade não é percebido pela mente por ser ilimitado. Assim, este
“pedaço de tempo” delimitado seria a forma de estudar o tempo em si. Poderíamos ser levados a
pensar que o tempo para Aristóteles seria a soma de vários “agoras”. Contudo, para ele o “agora”,
mesmo retendo a qualidade do tempo, não o quantifica, pois para ele o “agora” não tem extensão,
logo não é uma quantidade.
Aristóteles afirma que o tempo só existe enquanto se percebe um movimento. Assim, o tempo
poderia ser mensurável, sendo o tempo diferente do movimento? Não, pois se o tempo não é
movimento, ele pertence ao movimento que é o que ocorre, o que é percebido, logo tempo e
movimento estão estrita e estreitamente ligados, pois tempo e movimento acontecem
simultaneamente e na mesma intensidade. Portanto, para Aristóteles, o tempo acontece com o
movimento, sendo parte deste: o tempo seria uma característica de toda coisa, viva ou inanimada,
que se move.
O tempo é percebido se existe um antes e um depois e, neste caso, falamos de tempo como um
atributo do movimento: o tempo é o número do movimento que ocorre entre o antes e o depois.
Assim, Aristóteles conclui que o tempo é, portanto, um número que mede o movimento, sendo este
número a duração do movimento em sua magnitude.
Lembrando que Aristóteles não admite o infinito, o ilimitado, assim como o descontínuo, o “agora”
é como algo finito – mesmo que muito pequeno. Isto levaria ao entendimento que haveria entre o
“agora” e o “próximo agora”, uma descontinuidade. Aristóteles resolveu que isso não ocorre, já que
o tempo está sempre “movendo-se” e, por isso, não para, é como se fosse uma linha. Desde que, um
ponto não é parte de uma linha, mas sim duas linhas são partes de uma linha, o agora não é uma
parte do tempo ele é o número do movimento segundo o antes e o depois, e ele é contínuo porque é
número de algo contínuo.
Para Aristóteles, tanto o passado como o futuro funcionam apenas como lembrança e possibilidade
de uma finalidade.

Espaço
O conceito de espaço para Aristóteles também pode ser pensado como o lugar onde os corpos estão,
assim, o espaço, ou lugar, não existe independentemente da matéria: o espaço é definido como o
limite do corpo, ou seja, o espaço é o limite adjacente ao corpo nele contido.
No livro Física, o lugar é “definido” como sendo diferente de corpo, que pode estar no lugar e que
pode ser substituído nesse lugar por outro corpo. O lugar, ao contrário da matéria e forma que são
inerentes ao corpo, é o limite do corpo e separável das coisas: o lugar de uma coisa não é nem uma
parte nem um estado dela, mas algo separado da coisa.
Ele deixou muito claro que lugar, ou espaço, não deve ser interpretado como “forma”, como
“matéria” ou qualquer outro “atributo” contido no corpo. Aristóteles afirma que o lugar é,
necessariamente, o limite do corpo que ele contém e que está em contato com o corpo contido, corpo
esse que pode ser movido.
Aristóteles não faz qualquer referência à dimensionalidade do espaço, ou lugar. Entretanto, parece
ficar claro para Aristóteles o caráter bidimensional de uma superfície – o espaço ou lugar como
limite do corpo é bidimensional – enquanto a tridimensionalidade é um atributo somente dos corpos
e não do espaço.
Neste ponto é possível afirmar que Aristóteles, apesar da não existência de uma formalização teórica
de espaço, ofereceu uma clara e precisa definição de lugar, que diferia enormemente do conceito
intuitivo de um espaço amplamente extenso, conforme admitindo por estudiosos antes dele e mesmo
posteriormente a ele. Na realidade, após Aristóteles, teve-se que esperar por Newton e,
posteriormente, por Einstein, que estabeleceram cada um em seu tempo, uma definição clara,
objetiva, operacional e precisa de espaço físico.
Finalmente, Aristóteles admitiu que o espaço não é homogêneo, ou seja, ele teve que definir dois
tipos particulares de lugar das coisas, o lugar natural e o lugar não natural (transitório). Esta
definição de lugar se deve à sua concepção do Cosmos, em que ele conjectura a existência de Deus
como a causa final de tudo. As coisas tenderiam ir para seus lugares naturais, através dos lugares
não naturais ou transitórios, com a finalidade de restaurarem a ordem divina previamente
determinada: para Aristóteles o lugar das coisas dependia de Deus!

Movimentos
Para nós, pensar em movimento é algo corriqueiro e com o que não nos preocupamos: nós nos
movimentamos a pé ou de carro; vemos o barco navegando; o avião voando e também temos a
certeza de movimento que não enxergamos, a exemplo do movimento de uma bala disparada de uma
pistola. Em todos esses movimentos temos a certeza que há sempre um responsável, ou um „motor‟
que o realiza.
Entretanto, na época de Aristóteles a percepção do movimento não era tão simples e corriqueira. Na
Grécia do século IV a.C., pessoas, animais, pássaros e peixes é que se movimentavam, e todos eram
seres vivos. Então, para Aristóteles esses movimentos cumpriam um propósito, uma finalidade: o
animal estava se movendo para algum lugar que ele preferia estar, por algum motivo, então o
movimento era dirigido pela vontade do animal. E, portanto, como afirmava Aristóteles, esse
movimento estava, portanto, cumprindo a “natureza” do animal, assim como seu crescimento natural
cumpria a natureza do animal. Para ele, movimento tem significado de mudança; na sua
terminologia, e representa a passagem daquilo que tem "potência" de acontecer para o "ato" do
acontecimento real.
Todo movimento (ou mudança) possui uma causa e uma finalidade. Sendo assim, Aristóteles
classificou os movimentos em naturais (decorrentes da natureza) – onde todas as coisas tinham o seu
lugar e, caso eles não estivessem no lugar apropriado, elas seriam forçadas a ir para lá – e em
movimentos violentos (decorrentes de uma “vontade” independente e externa à coisa).
Para Aristóteles existiam quatro diferentes tipos de movimento:
1. Movimento substancial ou de geração - mudança de forma (nascimento);
2. Movimento destruição ou de corrupção - mudança de propriedade (morte);
3. Movimento de mudança de tamanho ou acidental - acréscimos ou diminuição (crescimento);
4. Movimento local ou deslocamento - mudança de lugar, condicionando todas as demais espécies
de mudança, a exemplo da rotação.
Diante disso, Aristóteles conclui que deve haver um primeiro “motor” que não se move, mas que
movimenta o mundo. Assim, se este primeiro motor move o mundo sem se mover, significa que ele
tem de ser imutável. Sendo um ser imutável, o motor significa que ele tem de ser imaterial, ou seja,
ele é pura forma, puro ato. E se é pura forma, puro ato, ele tem que ser perfeito.
A este ser perfeito, Aristóteles chamou de Deus. Portanto, Deus, ou o Primeiro Motor, é que explica
a eternidade do Universo e seu movimento constante. Este Primeiro Motor (Deus) atrai o mundo por
puro amor, e assim o movimento acontece.
Por outro lado, para o movimento de coisas não vivas, como uma pedra caída da mão, Aristóteles
“alargou” o entendimento de “natureza” para incluir a matéria inanimada. Ele então postulou que o
movimento de uma coisa não viva, ou inanimada, ocorria quando ela estivesse buscando seu lugar
natural dentro da ordem das coisas. Ou seja, os quatro elementos terrestres terra, água, ar e fogo
devem-se deslocar na vertical para ocupar os seus lugares naturais, obedecendo dada ordem: a terra
se move para baixo com maior “rapidez” que a água que também flui para baixo, mas não tão
rapidamente, uma vez que a terra cairá através da água. Já o
ar sobe (as bolhas sobem através da água) e o fogo sobe com
mais “rapidez”, pois ele dispara para cima através do ar.
Assim, o elemento terra, que é o mais pesado de todos, de-
verá se deslocar sempre para baixo; o fogo, por outro lado,
sempre se erguerá acima de todos os outros elementos. A or-
dem para a água é apenas ficar acima da terra, enquanto ar fi-
cará apenas abaixo do fogo.
Essa teoria geral de como os elementos movem-se, apesar da
aparente simplicidade, deve ser melhor elaborada quando for
aplicada a corpos reais, os quais são uma mistura dos elemen- A teoria dos quatro elementos
tos terra, água, ar e fogo. Para Aristóteles, uma mistura que ‘ e de seus lugares naturais
contém terra e ar, por exemplo, a madeira, não sobe nem desce, ela flutua na água. Por outro lado, a
fumaça é basicamente composta por ar, subiria a procura de seu lugar natural, ou seja, encontrar o
ar no céu.

Movimento natural e movimento violento


De acordo com a teoria do movimento de Aristóteles existiam dois tipos de movimento: o movi-
mento natural e o movimento violento. O movimento natural ocorria devido a causa interna à
natureza, enquanto o movimento violento era produzido por causa externa em oposição ao
movimento natural.
E mais, o movimento natural dos elementos na Terra era retilíneo e vertical para baixo (terra e água)
ou para cima (ar e fogo); enquanto o movimento natural dos corpos celestes era circular. O repouso
no lugar natural é o estado final de todos os corpos terrestres e para deslocá-lo de seu lugar natural,
sempre será necessário um agente externo “violento”.
Para o movimento violento, Aristóteles afirmou que a velocidade da coisa em movimento seria
proporcional à ação direta do agente externo sobre a coisa. Assim, se um corpo de terra se move em
alguma direção que não a vertical para baixo é porque existe um agente externo responsável pelo
movimento violento. Se cessar a ação do agente o corpo para de se mover. Portanto, se uma pedra
fosse atirada para cima, ela se afastará de seu lugar natural, mas logo que a ação externa cessar ou
esgotar-se, a pedra para e tornará a cair, buscando seu lugar natural. Ou se um corpo é puxado para
cima em direção inclinada por um puxão (agente externo), ele para se cessar o puxão – o movimento
violento necessita da aplicação contínua da ação externa.

Arrastamento de uma pedra

O arrastamento da pedra mostrada na imagem somente ocorrerá enquanto existir o puxamento dos
homens e que, cessado este puxamento, a pedra para, portanto o movimento da pedra é violento –
não natural.
Assim, o movimento violento podia ser vertical para cima, em oposição ao natural, podia ser
horizontal ou inclinado, conforme mostrado na figura abaixo.
O termo “violento” aqui significa a existência de algum agente externo atuando sobre o corpo para
causar o seu movimento.
De tudo isto, podemos inferir que Aristóteles não possuía as ideias de inércia e de atrito.

Leis do Movimento de Aristóteles


Aristóteles foi o primeiro a pensar quantitativamente sobre as velocidades envolvidas nos
movimentos. Ele fez duas afirmações quantitativas sobre como as coisas caem no movimento
natural:
1. as coisas com mais quantidade de matéria caem mais rápido, pois elas buscam "com mais
urgência" o seu lugar natural;
2. a velocidade de queda de uma determinada coisa depende inversamente da “oposição” do meio
pelo qual ela está caindo. Assim, por exemplo, a mesma coisa cairá duas vezes mais rápida em um
meio com metade da “oposição”;
Corolário: não existe vácuo; se ele existisse, todos os corpos cairiam através dele com velocidade
infinita, desde que o vácuo não se opõe ao movimento.
Nós observamos na prática do dia a dia uma pedra cair mais rapidamente que uma bola de papel, e
que uma pedra caindo na água desloca-se mais lentamente que caindo no ar.
É muito fácil ver que essas regras são “naturalmente” aceitas pelo senso comum, elas são simples e
atrativas, e elas estão de acordo com o senso comum.

Lançamento de Projétil
Na Mecânica aristotélica somente é permitido a um corpo a ter um movimento de cada vez.
Portanto, para um corpo lançado obliquamente no ar (lançamento de projétil), o corpo se
movimentará em uma trajetória retilínea ascendente até que a ação externa cesse ou se esgote; a
partir deste ponto o corpo cairá verticalmente em busca de seu lugar natural – o movimento de
projétil é a resultante de um movimento violento seguido de um natural.
A figura apresenta a gravura que ilustra as trajetórias retilíneas previstas pelas regras de Aristóteles
para o movimento de corpos arremessados no ar. No início o movimento é violento, seguido do
movimento natural – estes movimentos são independentes.

Trajetória de um projétil pela


teoria do movimento violento.
Como explicar esta composição de movimentos?
É nitidamente claro que a regra que define o movimento violento – só existe com a ação do agente
externo – não explica o movimento obliquo do projétil, uma vez que o agente externo deixa de
existir assim que o projétil deixa o arco ou o canhão. Consequentemente, a flecha ou a bala teria que
parar imediatamente.
Aristóteles se viu obrigado a procurar uma explicação. Assim, ele recorreu a outro elemento natural,
o ar: o ar tem uma ação dupla, por um lado ele sustenta o movimento, mas diminuindo esta ação, por
outro lado, ele se opõe ao movimento (regra antiperístase).
O ar que está por baixo (ou atrás) do projétil sustenta o movimento diminuindo esta ação, enquanto
que o ar que está por cima (ou à frente) resiste ao movimento. A combinação destas ações resulta na
parada do projétil que, então, cai em movimento natural para o seu lugar na Terra.

Mecanismo do ar responsável
pelo movimento de projéteis

A explicação de Aristóteles tem vários problemas a contornar: como pode o ar (o meio onde ocorre
o movimento), ao mesmo tempo, sustentar e oferecer resistência ao movimento?
Para isso, o ar teria realizar três movimentos distintos: ele deve ser empurrado para frente pelo
projétil, então deslocar-se para baixo e para trás, e finalmente voltar e continuar a sustentar o projétil
para frente, uma vez mais. E para complicar mais ainda a vida de Aristóteles, o ar se expande
facilmente, assim ele poderia se expandir para o lado quando do movimento para trás e para baixo,
tornando praticamente inexistente o seu papel de ajudar na sustentação do movimento do projétil.
Apesar de apresentar estas falhas o Mecanismo de
Movimentos Naturais e Violentos e a inexistência de
vácuo de Aristóteles somente foram “questionadas”
com argumentos consistentes apenas cerca de oito
séculos depois (800 anos depois!).
Filopono (490-570), filósofo grego foi um comentador
da obra de Aristóteles, que o ar não podia ter função
dupla, isto é, ser ao mesmo tempo sustentar e resistir ao
movimento de um projétil. Assim, Filopono advogava
que o movimento de um projétil era causado por um
agente motriz que era transmitida ao projétil durante o
arremesso. Este agente motriz foi, posteriormente deno-
Trajetória de um projétil - Teoria de Filopono.
minada de ímpeto por Buridan (1300-1358) e era interna ao projétil. Por este mecanismo, o
movimento de um projétil seria possível no vácuo, no qual o agente motriz também se autoextingue,
pois Filopono também defendia um universo finito.
O filósofo italiano Tartaglia (1500-1557) referiu-se, em um trabalho de 1551, ao movimento de
projéteis como a nova ciência. Ele, apoiando-se na teoria do ímpeto, previu trajetórias curvas para
um projétil arremessado obliquamente, conforme é mostrado na figura a seguir.
Ele dividiu o trajeto do projétil em três fases: na primeira fase a curva feita pelo projetil é tão suave
e imperceptível que pode ser ignorada. Mas nas fases 2 e 3 ele supunha que “a volta ao estado
natural” atuava e influenciava o projétil a descrever uma curva – com isso ele questionou a regra da
independência dos movimentos naturais e violentos de Aristóteles. Na realidade, suas previsões
violavam as leis aristotélicas de movimentos violentos e naturais que deveriam se suceder de forma
independente e sem superposições.

Trajetória de um projétil segundo


a teoria de Tartaglia – destaque para
a superposição dos movimentos.

Cosmologia
No livro “Do Céu”, Aristóteles descreve a sua concepção de universo que incluía características
herdadas de filósofos anteriores a Platão. Aristóteles concebeu o Cosmos, onde se incluía o mundo
terreno, como um conjunto guiado pela noção de ordem. O Universo aristotélico formava um Uno,
onde cada constituinte, seja mundano seja celeste, tinha o seu próprio lugar, de acordo com a sua
natureza: o elemento terra, que era o mais pesado, estava no centro do Universo; os outros elementos
mais leves, água, ar e fogo, formavam "camadas" concêntricas e superpostas. Em torno da Terra
havia sucessivas capas esféricas cristalinas e concêntricas que sustentavam a Lua, os planetas
interiores, o Sol e os planetas exteriores que viajavam pelo céu. E uma última capa esférica que
sustentava todas as estrelas fixas. O caminho natural e perfeito desses corpos celestes era circular!
Outro aspecto considerado por Aristóteles, ao colocar a Terra no centro do Universo, é que isto
explicaria a queda de corpos sólidos abandonados no ar – eles se movimentavam naturalmente em
direção ao centro do Universo.
Aristóteles em sua concepção de Universo destaca a distinção entre a essência daquilo que forma o
mundo terrestre – materiais sujeitos a inúmeras mudanças e transformações – e o material que forma
os corpos celestes esféricos, perfeitos e imutáveis – um quinto elemento, completamente diferente
dos quatro materiais terrestres, que era incorruptível e que ele denominou de quintessência.
A justificativa sobre a natureza imutável e incorruptível da quintessência se baseava na observação
que a visão do céu para os homens não mudou através dos tempos, ao contrário do mundo terrestre.
A única mudança observada no céu era o perfeito deslocamento circular dos astros. Os corpos
celestes não se submetiam aos movimentos de geração, destruição ou mudança de tamanho, apenas
ao deslocamento perfeito. Os corpos celestes
não nasceram, nem se transformariam, tam-
pouco morreriam!
Para Aristóteles os corpos celestes eram vi-
vos e possuíam almas que guiavam suas via-
gens ao longo do céu, isto é, para cada um
deles a alma era a responsável pelo movi-
mento. E ele ainda afirmava que existia uma
fonte divina hierarquicamente superior, Pri-
mária e Suprema, que guiava todos os movi-
mentos, e que esta fonte seria imóvel. Esta
fonte era a divindade última e imutável que,
por amor, movimentava a todos.

Modelo cosmológico de Arquimedes

Todo o universo era preenchido pelo éter, uma matéria invisível, pois não existia vácuo.
Imediatamente surgiu um questionamento: se o Sol não tem o elemento terrestre fogo, por que ele é
tão quente? Aristóteles explicou que a fricção do movimento do Sol com o éter gerara o calor.
Contudo, isto não soou muito convincente.

Resumo dos princípios e questionamentos.

Princípios Fundamentais da Física Aristotélica:


1. quatro elementos: todos os objetos na Terra eram feitos de quatro elementos básicos. A terra, a
água, o ar e o fogo;
3. lugar natural: cada um dos quatro elementos preferia estar em um lugar diferente e específico no
espaço, em relação ao centro da Terra, que também é o centro do universo;
3. Um agente natural: para alcançar o lugar natural os objetos sofreriam a ação de um agente para
baixo (terra e água) e para cima (ar e fogo). Qualquer outro movimento, que ele denominou de
violento era provocado por um agente externo;.
4. movimento retilíneo: todos os movimentos na Terra eram em linha reta com rapidez constante;
5. a rapidez do objeto é inversamente proporcional à quantidade de material:
6. não existia vácuo, pois nele a rapidez seria infinita;
7. o universo era preenchido pelo éter;
8. o universo era finito;
9. os objetos e corpos eram contínuos e não feitos de pequenos pedaços;
10. quintessência: material incorruptível de que eram feitos todos os objetos acima da Terra;
11. cosmo eterno: todos os planetas, o Sol, a Lua e os corpos celestes moviam-se em círculos que
não se alteravam;
Questionamentos.
1. É surpreendente a diferença entre os achados de Aristóteles em Física com as meticulosas e
corretas observações que ele fez em tantas outras áreas, a exemplo da Química, Biologia e,
principalmente, Zoologia – área em que ele foi genial, recebendo o título de Fundador e Pai da
Zoologia.
Por que Aristóteles que foi tão brilhante em outras ciências e falhou “grosseiramente” em Física?

2. É evidente a falta de sua atenção com a queda dos corpos. Com um pouco mais de atenção ele
poderia verificar que a rapidez na queda de meio tijolo não seria metade da rapidez com que o tijolo
inteiro caia. É possível inferir que para ele o movimento dos seres vivos era mais interessante que de
pedras caindo, ou sendo lançadas ao ar? Por que seus escritos sobre o movimento perdurou por
séculos e séculos?

3. Por que Aristóteles teve a ideia de fricção no céu e não entre os objetos em movimento e o ar na
Terra? Esta ideia aplicada na Terra teria explicado a regra da cessação dos movimentos violentos, ao
desaparecer o agente externo, por exemplo.

4. A diferença essencial entre Aristóteles e Platão – outro ser genial – é que este percebia que o
raciocínio matemático poderia chegar à verdade com pouca ajuda externa; por outro lado Aristóteles
acreditava que investigações empíricas detalhadas da natureza eram essenciais para o progresso na
compreensão do mundo natural.

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