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Aristóteles
Resumo biográfico
Nascimento: 384 a.C., em Stagirus, Macedônia, Grécia.
Morte: 322 a.C., em Chalcis, Euboea, Grécia.
Ilustração do Método
“científico” de Aristóteles
Entretanto, este método não pode ser utilizado em todas as ciências a que ele e seus alunos se
dedicavam, por pura inexistência de instrumental que permitisse a observação mais precisa e a
natural confrontação de ideias a respeito do que se observava. Um exemplo desta situação foi a
Cosmologia de Aristóteles – que será vista mais adiante – que se mostrou completamente
ultrapassada poucos séculos depois. Acredita-se que esta “falha” de Aristóteles se deveu à
inexistência de instrumentos de medidas apropriados, ao contrário das impressionantes investigações
na área das ciências da vida, notadamente, na Zoologia, em que seus escritos impressionaram até
mesmo o próprio Charles Darwin, o pai da teoria da evolução.
Por isto, se pode apreender que o método investigativo de Aristóteles não poderia ser único à todas
as ciências. O método variava de uma área para outra, dependendo do tipo de problema em análise, e
também do “instrumental” disponível. Contudo, pensamos que, no geral, o seu método investigativo
incluía: 1. definir o assunto; 2. fazer uma revisão do conhecimento existente sobre o assunto e
considerar as dificuldades envolvidas nos escritos anteriores; 3. apresentar os seus próprios
argumentos e soluções.
Apesar de Aristóteles estar estabelecendo uma nova abordagem para a pesquisa científica, ao seu
método faltava a fase ou etapa de teste de seus argumentos e soluções. Esta etapa é fundamental à
verdade nas ciências naturais, contudo, há diversas gradações de dificuldades de testar nas diversas
ciências, seja por experimento seja por observação.
Causas
Diferentemente de Platão, para quem a ciência válida era a contemplação de formas abstratas em
busca de uma relação com a natureza, para Aristóteles o importante era a observação detalhada da
natureza para conhecer e saber como os acontecimentos naturais ocorriam: o acompanhar um corpo
celeste ou a dissecação de plantas e animais, para tentar entender como cada um se encaixava no
esquema da natureza, assim como saber qual era a importância de cada um destes acontecidos no
funcionamento da natureza.
Seu estudo da natureza foi uma busca por "causas". O que eram exatamente essas “causas”?
Desta forma, ele afirmou que a pesquisa em ciência é empírica e também explicativa, pois se trata,
em última análise, na busca das causas dos acontecimentos. Aristóteles em seus escritos enumerou
quatro tipos diferentes de causas ou explicações dos diversos acontecimentos, posteriormente
chamados de eventos e fenômenos. Inicialmente, ele afirma que há aquilo a partir do qual as coisas
são feitas, a exemplo dos termos de uma frase, ou o ferro de uma ferramenta. Ou seja, no início há a
matéria!
Em seguida esta matéria, de que as coisas são feitas, toma uma forma ou o padrão da coisa, que pode
a partir da forma expressar uma dada definição da coisa; a relação proporcional entre os lados de
duas placas quadradas de mesmo material é a causa de uma placa conter oito vezes mais matéria que
a outra. Aristóteles usou um exemplo mais sofisticado de um resultado descoberto por Pitágoras: a
relação proporcional igual a 2 entre os comprimentos de duas cordas de uma lira é a causa de uma
delas emitir um som que é a oitava do som emitido pela outra.
O terceiro tipo de causa é a origem de uma mudança ou estado de repouso em qualquer coisa: como
exemplo Aristóteles diz que uma pessoa que toma uma decisão de, por exemplo, gerar uma criança,
alterou toda a coisa – a decisão alterou o estado de repouso da não existência de bebê.
O quarto e último tipo de causa é a finalidade ou objetivo, aquilo em virtude do qual se faz algo; por
exemplo, é a explicação que damos quando nos perguntam por que motivo nós estamos a passear e
nós respondemos „para manter a boa forma‟. Portanto, manter a forma é a causa, o objetivo, a
finalidade e caminhar é o meio pelo qual atingiremos a causa.
Para Aristóteles o quarto tipo de causas (finalidade, objetivo, ou causa final) tem um papel muito
especial na ciência. Aristóteles busca e investiga as causas finais não só da ação humana, mas
também do comportamento dos animais (qual a finalidade das abelhas construírem colmeias
espiraladas? por que razão as aranhas tecem teias?), assim como ele busca seus traços estruturais
(por que razão as corujas têm olhos grandes, os patos têm membranas interdigitais?).
Aristóteles também buscava as causas finais para as características de plantas (por que algumas
plantas têm muitas raízes, espalhadas e pouco profundas, enquanto outras apresentam poucas raízes,
mas concentradas e profundas?) e dos elementos inanimados (tais como o impulso ascendente das
chamas, e queda de corpos como as pedras).
Aristóteles avançou em sua busca pelas causas. Ele exemplificou: para uma mesa, a matéria é a
madeira, o formato da mesa é a forma, a causa motriz é o carpinteiro e a causa final é a razão pela
qual a mesa foi feita – para uma família realizar suas refeições, por exemplo.
No caso dos humanos, ele afirmava que a matéria era fornecida pela mãe, a forma era a de um
animal de duas pernas e racional, a causa motriz era o pai e a finalidade era tornar-se uma pessoa
adulta feliz. Para os vegetais, a “causa final” ou “natureza” de uma semente é se torna uma planta.
Aristóteles diferenciava bem os humanos dos demais seres vivos, os animais e plantas. Para ele a
natureza não era consciente, diferentemente do ser humano que era capaz de entender a causa final
de todos os seres, animados e inanimados. Para dar outro exemplo, Aristóteles pensava que a “causa
final” de uma semente era se tornar um carvalho. É certamente muito natural, ao ver o mundo vivo,
especialmente o amadurecimento de organismos complexos, vê-los como tendo inatamente o
propósito expresso de se desenvolver em sua forma final.
Dentre todas as ideias de Aristóteles aquela que dizia respeito à natureza física dos elementos é,
particularmente, do interesse do Cristianismo: a ideia de que todo organismo é criado
especificamente para uma dada função - sua “finalidade” – (ser uma imagem do divino, por
exemplo) no grande esquema da natureza e ainda estar em local privilegiado (estar no centro do
universo) é muito atrativo para quem acredita piamente que tudo isto foi projetado por alguém.
Biologia e Zoologia
A maior e mais importante contribui-
cão de Aristóteles para as ciências
naturais foi na biologia, em particular
a Zoologia. O método de estudos e
pesquisa de Aristóteles teve na Biolo-
gia um campo profícuo, as criaturas
vivas e suas partes forneceram evidên-
cias muito ricas da forma e de sua
finalidade, de sua causa final.
Aristóteles descreveu em detalhes cer-
ca de quinhentos diferentes animais
em suas obras, dos quais há cento e
vinte tipos de peixes e sessenta tipos
de insetos. Aristóteles foi pioneiro a
utilizar a dissecção rotineiramente e
que, a partir disto descreveu os ór-
gãos internos dos vertebrados. Sur-
preendentemente, estas descrições Pagina do livro Peças Superiores:
continuam atuais, sendo até melhores Segredos da Geração de Aristóteles
que as publicadas em livros didáticos
didáticos e científicos atuais.
Ilustração de seus livros A História dos Animais e a História Geral das Aves e Animais
Os estudos no campo da Zoologia anteriores a Aristóteles, como nos textos de Hipócrates os animais
eram estudados com o objetivo de serem utilizados nos estudos direcionados ao homem, ou seja, nestes
estudos os animais eram sempre comparados com a anatomia humana. Foi por este interesse médico que
Hipócrates se tornou o Pai da Medicina. Portanto, foi Aristóteles que, de fato, iniciou os estudos e as
pesquisas em Zoologia. Em seus estudos, Aristóteles dissecava os animais e descrevia todos os órgãos
internos. As descrições de Aristóteles ainda continuam atuais. Ele foi quem primeiro classificou os
animais em dois grupos: animais sanguíneos e animais não sanguíneos, ou seja, animais com ou sem
sangue vermelho.
Aristóteles ainda observou que no grupo dos animais vertebrados foram incluídos os peixes, as aves, os
quadrúpedes ovíparos, incluindo os répteis e anfíbios e os quadrúpedes vivíparos, que abrangem os
mamíferos aquáticos, a exemplo da baleia. Ele também identificou algumas características dos animais
cetáceos, afirmando que os golfinhos, por respirarem e possuírem pulmões, não eram peixes.
No grupo dos animais sem sangue, Aristóteles estudou muitas espécies de crustáceos, moluscos e insetos.
Além disso, ele foi o primeiro a descrever o desenvolvimento do embrião da galinha, realizando suas
observações a olho nu, em todas as suas fases.
Ele propôs a primeira classificação racional dos seres vivos, notadamente dos animais, sendo esta
classificação melhor e mais completa até a classificação criada no século XVIII pelo biólogo sueco Lineu,
que propôs a classificação binominal de gênero e espécie. O sistema de classificação de Aristóteles,
conhecido como a “Escada da Vida”, continuou em uso até o século XIX. Ele foi o primeiro
estudioso de seres vivos a reconhecer as relações entre as espécies e organizá-las por suas
semelhanças.
Os escritos de Aristóteles em Biologia e Zoologia correspondem a mais de uma quinta parte de sua
obra, nelas ele trabalha sobre a noção de animal, a reprodução, a fisiologia e a classificação. Nestes
estudos ele utilizou métodos empíricos para realizar o que atualmente se chama de “designação”,
realizou vários testes e experimentos científicos para estudar a flora e a fauna ao seu redor.
Aristóteles não estabeleceu o mesmo patamar de excelência obtido na Zoologia em seus estudos dos
movimentos de objetos inanimados, fossem os objetos próximos, como pedras caindo ou sendo
lançadas, ou objetos distantes, como estrelas e planetas.
Elementos da Natureza
A teoria aristotélica relativa aos constituintes básicos da matéria nos dá a impressão de um
retrocesso em relação ao trabalho dos atomistas Leucipo e Demócrito e à geometria abstrata de
Platão. Para Aristóteles toda a matéria era composta de quatro elementos: terra, água, ar e fogo, e
que cada um deles resultava da combinação de dois dos quatro „atributos‟ opostos: quente e frio,
molhado e seco.
De acordo com Aristóteles, a abordagem correta é considerar a maneira como as coisas se
apresentam naturalmente aos sentidos, a maneira como as coisas realmente parecem ser: quente e
frio, molhado e seco são qualidades imediata e aparentemente reais para qualquer pessoa. Assim,
essa maneira de abordar a natureza parecia muito natural na descrição dos acontecimentos ou
fenômenos.
Aristóteles certamente pensava que estava equivocada e errada a tentativa de resolver as questões
utilizando-se da abordagem de Platão, em termos da abstração conceitual de formas geométricas,
aliada ao atomismo, pois isto não se relacionava naturalmente aos nossos sentidos físicos, e sim à
nossa razão, que não tinha composição material. Muitos anos, na verdade muitos séculos depois,
soube-se que a realidade foi desvendada e melhor entendida com uma abordagem que unia a
Matemática e o atomismo.
A bem da verdade, naquela época, tanto uma quanto a outra abordagem carecia de instrumental
mínimo que permitisse avançar na busca da realidade. Ambas as visões podiam parecer
perfeitamente corretas – medidores eficientes de temperatura, comprimento e tempo, por exemplo,
não existiam!
Na sua teoria da natureza das coisas, Aristóteles discutiu longamente sobre as características e
propriedades das substâncias reais em termos de sua composição "elementar", como as substâncias
reagiam ao fogo ou à água. Para ele a água ao ser aquecida pelo fogo evaporava porque ela estava
indo do “estado” de fria e úmida para “estado” de quente e úmida e se tornava o elemento ar.
Utilizando-se de abordagens semelhantes ele analisou diversos fenômenos comumente observados o
que reforçava esta abordagem como perfeitamente coerente na busca da compreensão do mundo
natural.
Aristóteles e a Matemática
Apesar de Aristóteles não ter feito novas descobertas na Matemática, a sua importância para esta
ciência é inquestionável: a sua compreensão do desenvolvimento da Matemática é ancorada,
essencialmente, no fato de que ele a usava na grande maioria de suas ilustrações e exemplificação de
seu método científico.
Talvez a sua contribuição mais importante à Matemática foi a sistematização de sua lógica dedutiva.
Ao escrever sobre Física, em seu livro Analítica Posterior, Aristóteles demostrou uma compreensão
altamente refinada dos métodos matemáticos utilizados. Ele, claramente, demonstra um completo
domínio da Matemática Elementar, além de classificar a Matemática como uma das três ciências
“teóricas” de grande importância, ao lado da Filosofia e Física Teórica, utilizando um jargão
moderno.
Entretanto, diferentemente de Platão, que colocava a Matemática em um patamar de importância tal
que sobrava um pequeno “espaço” para a grande quantidade de ciências consideradas importantes e
estudadas por Aristóteles.
Nos seus escritos em Física, Aristóteles demonstrou-se ciente das importantes descobertas de sábios
gregos, a exemplo da grande Teoria da Proporção de Eudoxo, além de reconhecer a sua importância.
Assim, como conhecia a suposição fundamental na qual Eudoxo baseou seu “método de exaustão” –
precursor do cálculo integral – para medir áreas e volumes, como mostra a ilustração a seguir.
Ilustração do Método da
“exaustão” de Eudoxo
Além do que, Aristóteles também era familiarizado com o sistema de esferas concêntricas pelo qual
Calipo e Eudoxo justificaram, ao menos teoricamente, que os movimentos do Sol, da Lua e dos
planetas eram independentes.
Como a obra de Aristóteles é deveras extensa, as incursões em Matemática são esparsas. Entretanto,
elas indicam que Aristóteles trabalhou na filosofia da matemática de modo algo refinado.
Mas, a ideia que Aristóteles tinha dos conceitos matemáticos de "infinito" e de "contínuo" diferiam
do ponto de vista dos matemáticos. Aristóteles afirmava que não existia algo realmente infinito. Ele
não concebia a existência de algo real que, por maior que fosse não pudesse ser percorrido e o seu
fim alcançado. Entretanto, ele dizia que essa sua ideia não invalidava o conceito que os matemáticos
tinham do infinito. E mais, ele dizia que o infinito dos matemáticos era algo que eles exigiam que
pudesse crescer o quanto eles desejassem. Por exemplo, uma linha reta infinita era o equivalente a
uma reta finita que os matemáticos exigiam que ela fosse tão longa quanto eles quisessem.
Para Aristóteles a ideia era a de que uma coisa “contínua” não poderia ser dividida em partes, ou
seja, ela era indivisível: algo contínuo é aquilo que o seu fim ou seu limite não pode ser feito de duas
coisas que se tocam: o contínuo é uma coisa só. Esta ideia não permite, por exemplo, que em uma
reta possa existir um ponto entre pontos sucessivos (modernamente o conceito de contínuo é que
entre dois pontos sempre existe um ponto!).
Espaço
O conceito de espaço para Aristóteles também pode ser pensado como o lugar onde os corpos estão,
assim, o espaço, ou lugar, não existe independentemente da matéria: o espaço é definido como o
limite do corpo, ou seja, o espaço é o limite adjacente ao corpo nele contido.
No livro Física, o lugar é “definido” como sendo diferente de corpo, que pode estar no lugar e que
pode ser substituído nesse lugar por outro corpo. O lugar, ao contrário da matéria e forma que são
inerentes ao corpo, é o limite do corpo e separável das coisas: o lugar de uma coisa não é nem uma
parte nem um estado dela, mas algo separado da coisa.
Ele deixou muito claro que lugar, ou espaço, não deve ser interpretado como “forma”, como
“matéria” ou qualquer outro “atributo” contido no corpo. Aristóteles afirma que o lugar é,
necessariamente, o limite do corpo que ele contém e que está em contato com o corpo contido, corpo
esse que pode ser movido.
Aristóteles não faz qualquer referência à dimensionalidade do espaço, ou lugar. Entretanto, parece
ficar claro para Aristóteles o caráter bidimensional de uma superfície – o espaço ou lugar como
limite do corpo é bidimensional – enquanto a tridimensionalidade é um atributo somente dos corpos
e não do espaço.
Neste ponto é possível afirmar que Aristóteles, apesar da não existência de uma formalização teórica
de espaço, ofereceu uma clara e precisa definição de lugar, que diferia enormemente do conceito
intuitivo de um espaço amplamente extenso, conforme admitindo por estudiosos antes dele e mesmo
posteriormente a ele. Na realidade, após Aristóteles, teve-se que esperar por Newton e,
posteriormente, por Einstein, que estabeleceram cada um em seu tempo, uma definição clara,
objetiva, operacional e precisa de espaço físico.
Finalmente, Aristóteles admitiu que o espaço não é homogêneo, ou seja, ele teve que definir dois
tipos particulares de lugar das coisas, o lugar natural e o lugar não natural (transitório). Esta
definição de lugar se deve à sua concepção do Cosmos, em que ele conjectura a existência de Deus
como a causa final de tudo. As coisas tenderiam ir para seus lugares naturais, através dos lugares
não naturais ou transitórios, com a finalidade de restaurarem a ordem divina previamente
determinada: para Aristóteles o lugar das coisas dependia de Deus!
Movimentos
Para nós, pensar em movimento é algo corriqueiro e com o que não nos preocupamos: nós nos
movimentamos a pé ou de carro; vemos o barco navegando; o avião voando e também temos a
certeza de movimento que não enxergamos, a exemplo do movimento de uma bala disparada de uma
pistola. Em todos esses movimentos temos a certeza que há sempre um responsável, ou um „motor‟
que o realiza.
Entretanto, na época de Aristóteles a percepção do movimento não era tão simples e corriqueira. Na
Grécia do século IV a.C., pessoas, animais, pássaros e peixes é que se movimentavam, e todos eram
seres vivos. Então, para Aristóteles esses movimentos cumpriam um propósito, uma finalidade: o
animal estava se movendo para algum lugar que ele preferia estar, por algum motivo, então o
movimento era dirigido pela vontade do animal. E, portanto, como afirmava Aristóteles, esse
movimento estava, portanto, cumprindo a “natureza” do animal, assim como seu crescimento natural
cumpria a natureza do animal. Para ele, movimento tem significado de mudança; na sua
terminologia, e representa a passagem daquilo que tem "potência" de acontecer para o "ato" do
acontecimento real.
Todo movimento (ou mudança) possui uma causa e uma finalidade. Sendo assim, Aristóteles
classificou os movimentos em naturais (decorrentes da natureza) – onde todas as coisas tinham o seu
lugar e, caso eles não estivessem no lugar apropriado, elas seriam forçadas a ir para lá – e em
movimentos violentos (decorrentes de uma “vontade” independente e externa à coisa).
Para Aristóteles existiam quatro diferentes tipos de movimento:
1. Movimento substancial ou de geração - mudança de forma (nascimento);
2. Movimento destruição ou de corrupção - mudança de propriedade (morte);
3. Movimento de mudança de tamanho ou acidental - acréscimos ou diminuição (crescimento);
4. Movimento local ou deslocamento - mudança de lugar, condicionando todas as demais espécies
de mudança, a exemplo da rotação.
Diante disso, Aristóteles conclui que deve haver um primeiro “motor” que não se move, mas que
movimenta o mundo. Assim, se este primeiro motor move o mundo sem se mover, significa que ele
tem de ser imutável. Sendo um ser imutável, o motor significa que ele tem de ser imaterial, ou seja,
ele é pura forma, puro ato. E se é pura forma, puro ato, ele tem que ser perfeito.
A este ser perfeito, Aristóteles chamou de Deus. Portanto, Deus, ou o Primeiro Motor, é que explica
a eternidade do Universo e seu movimento constante. Este Primeiro Motor (Deus) atrai o mundo por
puro amor, e assim o movimento acontece.
Por outro lado, para o movimento de coisas não vivas, como uma pedra caída da mão, Aristóteles
“alargou” o entendimento de “natureza” para incluir a matéria inanimada. Ele então postulou que o
movimento de uma coisa não viva, ou inanimada, ocorria quando ela estivesse buscando seu lugar
natural dentro da ordem das coisas. Ou seja, os quatro elementos terrestres terra, água, ar e fogo
devem-se deslocar na vertical para ocupar os seus lugares naturais, obedecendo dada ordem: a terra
se move para baixo com maior “rapidez” que a água que também flui para baixo, mas não tão
rapidamente, uma vez que a terra cairá através da água. Já o
ar sobe (as bolhas sobem através da água) e o fogo sobe com
mais “rapidez”, pois ele dispara para cima através do ar.
Assim, o elemento terra, que é o mais pesado de todos, de-
verá se deslocar sempre para baixo; o fogo, por outro lado,
sempre se erguerá acima de todos os outros elementos. A or-
dem para a água é apenas ficar acima da terra, enquanto ar fi-
cará apenas abaixo do fogo.
Essa teoria geral de como os elementos movem-se, apesar da
aparente simplicidade, deve ser melhor elaborada quando for
aplicada a corpos reais, os quais são uma mistura dos elemen- A teoria dos quatro elementos
tos terra, água, ar e fogo. Para Aristóteles, uma mistura que ‘ e de seus lugares naturais
contém terra e ar, por exemplo, a madeira, não sobe nem desce, ela flutua na água. Por outro lado, a
fumaça é basicamente composta por ar, subiria a procura de seu lugar natural, ou seja, encontrar o
ar no céu.
O arrastamento da pedra mostrada na imagem somente ocorrerá enquanto existir o puxamento dos
homens e que, cessado este puxamento, a pedra para, portanto o movimento da pedra é violento –
não natural.
Assim, o movimento violento podia ser vertical para cima, em oposição ao natural, podia ser
horizontal ou inclinado, conforme mostrado na figura abaixo.
O termo “violento” aqui significa a existência de algum agente externo atuando sobre o corpo para
causar o seu movimento.
De tudo isto, podemos inferir que Aristóteles não possuía as ideias de inércia e de atrito.
Lançamento de Projétil
Na Mecânica aristotélica somente é permitido a um corpo a ter um movimento de cada vez.
Portanto, para um corpo lançado obliquamente no ar (lançamento de projétil), o corpo se
movimentará em uma trajetória retilínea ascendente até que a ação externa cesse ou se esgote; a
partir deste ponto o corpo cairá verticalmente em busca de seu lugar natural – o movimento de
projétil é a resultante de um movimento violento seguido de um natural.
A figura apresenta a gravura que ilustra as trajetórias retilíneas previstas pelas regras de Aristóteles
para o movimento de corpos arremessados no ar. No início o movimento é violento, seguido do
movimento natural – estes movimentos são independentes.
Mecanismo do ar responsável
pelo movimento de projéteis
A explicação de Aristóteles tem vários problemas a contornar: como pode o ar (o meio onde ocorre
o movimento), ao mesmo tempo, sustentar e oferecer resistência ao movimento?
Para isso, o ar teria realizar três movimentos distintos: ele deve ser empurrado para frente pelo
projétil, então deslocar-se para baixo e para trás, e finalmente voltar e continuar a sustentar o projétil
para frente, uma vez mais. E para complicar mais ainda a vida de Aristóteles, o ar se expande
facilmente, assim ele poderia se expandir para o lado quando do movimento para trás e para baixo,
tornando praticamente inexistente o seu papel de ajudar na sustentação do movimento do projétil.
Apesar de apresentar estas falhas o Mecanismo de
Movimentos Naturais e Violentos e a inexistência de
vácuo de Aristóteles somente foram “questionadas”
com argumentos consistentes apenas cerca de oito
séculos depois (800 anos depois!).
Filopono (490-570), filósofo grego foi um comentador
da obra de Aristóteles, que o ar não podia ter função
dupla, isto é, ser ao mesmo tempo sustentar e resistir ao
movimento de um projétil. Assim, Filopono advogava
que o movimento de um projétil era causado por um
agente motriz que era transmitida ao projétil durante o
arremesso. Este agente motriz foi, posteriormente deno-
Trajetória de um projétil - Teoria de Filopono.
minada de ímpeto por Buridan (1300-1358) e era interna ao projétil. Por este mecanismo, o
movimento de um projétil seria possível no vácuo, no qual o agente motriz também se autoextingue,
pois Filopono também defendia um universo finito.
O filósofo italiano Tartaglia (1500-1557) referiu-se, em um trabalho de 1551, ao movimento de
projéteis como a nova ciência. Ele, apoiando-se na teoria do ímpeto, previu trajetórias curvas para
um projétil arremessado obliquamente, conforme é mostrado na figura a seguir.
Ele dividiu o trajeto do projétil em três fases: na primeira fase a curva feita pelo projetil é tão suave
e imperceptível que pode ser ignorada. Mas nas fases 2 e 3 ele supunha que “a volta ao estado
natural” atuava e influenciava o projétil a descrever uma curva – com isso ele questionou a regra da
independência dos movimentos naturais e violentos de Aristóteles. Na realidade, suas previsões
violavam as leis aristotélicas de movimentos violentos e naturais que deveriam se suceder de forma
independente e sem superposições.
Cosmologia
No livro “Do Céu”, Aristóteles descreve a sua concepção de universo que incluía características
herdadas de filósofos anteriores a Platão. Aristóteles concebeu o Cosmos, onde se incluía o mundo
terreno, como um conjunto guiado pela noção de ordem. O Universo aristotélico formava um Uno,
onde cada constituinte, seja mundano seja celeste, tinha o seu próprio lugar, de acordo com a sua
natureza: o elemento terra, que era o mais pesado, estava no centro do Universo; os outros elementos
mais leves, água, ar e fogo, formavam "camadas" concêntricas e superpostas. Em torno da Terra
havia sucessivas capas esféricas cristalinas e concêntricas que sustentavam a Lua, os planetas
interiores, o Sol e os planetas exteriores que viajavam pelo céu. E uma última capa esférica que
sustentava todas as estrelas fixas. O caminho natural e perfeito desses corpos celestes era circular!
Outro aspecto considerado por Aristóteles, ao colocar a Terra no centro do Universo, é que isto
explicaria a queda de corpos sólidos abandonados no ar – eles se movimentavam naturalmente em
direção ao centro do Universo.
Aristóteles em sua concepção de Universo destaca a distinção entre a essência daquilo que forma o
mundo terrestre – materiais sujeitos a inúmeras mudanças e transformações – e o material que forma
os corpos celestes esféricos, perfeitos e imutáveis – um quinto elemento, completamente diferente
dos quatro materiais terrestres, que era incorruptível e que ele denominou de quintessência.
A justificativa sobre a natureza imutável e incorruptível da quintessência se baseava na observação
que a visão do céu para os homens não mudou através dos tempos, ao contrário do mundo terrestre.
A única mudança observada no céu era o perfeito deslocamento circular dos astros. Os corpos
celestes não se submetiam aos movimentos de geração, destruição ou mudança de tamanho, apenas
ao deslocamento perfeito. Os corpos celestes
não nasceram, nem se transformariam, tam-
pouco morreriam!
Para Aristóteles os corpos celestes eram vi-
vos e possuíam almas que guiavam suas via-
gens ao longo do céu, isto é, para cada um
deles a alma era a responsável pelo movi-
mento. E ele ainda afirmava que existia uma
fonte divina hierarquicamente superior, Pri-
mária e Suprema, que guiava todos os movi-
mentos, e que esta fonte seria imóvel. Esta
fonte era a divindade última e imutável que,
por amor, movimentava a todos.
Todo o universo era preenchido pelo éter, uma matéria invisível, pois não existia vácuo.
Imediatamente surgiu um questionamento: se o Sol não tem o elemento terrestre fogo, por que ele é
tão quente? Aristóteles explicou que a fricção do movimento do Sol com o éter gerara o calor.
Contudo, isto não soou muito convincente.
2. É evidente a falta de sua atenção com a queda dos corpos. Com um pouco mais de atenção ele
poderia verificar que a rapidez na queda de meio tijolo não seria metade da rapidez com que o tijolo
inteiro caia. É possível inferir que para ele o movimento dos seres vivos era mais interessante que de
pedras caindo, ou sendo lançadas ao ar? Por que seus escritos sobre o movimento perdurou por
séculos e séculos?
3. Por que Aristóteles teve a ideia de fricção no céu e não entre os objetos em movimento e o ar na
Terra? Esta ideia aplicada na Terra teria explicado a regra da cessação dos movimentos violentos, ao
desaparecer o agente externo, por exemplo.
4. A diferença essencial entre Aristóteles e Platão – outro ser genial – é que este percebia que o
raciocínio matemático poderia chegar à verdade com pouca ajuda externa; por outro lado Aristóteles
acreditava que investigações empíricas detalhadas da natureza eram essenciais para o progresso na
compreensão do mundo natural.