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O MODELO POLINOMIAL DA COVID-19

Por José Carlos Parente de Oliveira, Dr

Em Fortaleza, CE, 07/06/2020.

Os surtos epidêmicos são sistemas dinâmicos complexos que apresentam comportamentos


gerais semelhantes, não importando em qual país a epidemia se estabeleça. Em todos os
lugares, o número de novos casos diários tem a mesma evolução temporal: após um rápido
crescimento inicial, os novos casos tendem a atingir uma região de máximo, para a seguir
decaírem, como se a imunidade de grupo tivesse sido atingida.
A epidemiologia, assim como a geologia e paleontologia, são ciências essencialmente
observacionais – os estudos nessas ciências não podem ser realizados por meio de
experimentos controlados, a exemplo do que ocorre com a Física, a Química, a Biologia e
Engenharias. Assim, os estudos em epidemiologia são de natureza observacional, que é a mais
antiga metodologia no entendimento de fenômenos naturais. Nos estudos observacionais de
uma epidemia os pesquisadores procuram por variáveis inerentes à natureza de sua expansão,
de seu contágio, das mortes resultantes e tentam encontrar relações entre elas.

Em nossos estudos da Covid-19 consideramos que as características do vírus SARS-CoV-2 não


mudam simplesmente pelo fato dele se encontrar em diferentes locais como a China, Itália ou
Brasil e nós procuramos na epidemia da Covid-19 analisar o comportamento do número diário
de casos e de mortes em cada país.

O estudo iniciou-se com a análise do comportamento dos casos e mortes diárias ocorridas na
Espanha, França, Itália, Suécia, Holanda, Estados Unidos, Canadá, dentre outros países. Os
dados relativos aos casos e mortes nesses encontram-se na base de dados da Organização
Mundial da Saúde,
(https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019/situation-reports/) e na
base de dados do Centro Europeu para o Controle e Prevenção de Doenças, uma Agência da
União Europeia,
(https://www.ecdc.europa.eu/en/about-ecdc).

De posse dos dados procuramos por funções matemáticas elementares que poderiam
estabelecer relações entre os conjuntos de números de casos e mortes por Covid-19. Das
análises verificamos que as funções logaritmo e polinômio de segundo ajustavam com grande
certeza os dados para cada um dos países. Em cada um dos países o crescimento e o declínio de
casos e mortes da Covid-19 apresentavam comportamentos semelhantes.

A figura a seguir mostra as curvas do Número Diário de Mortes e as linhas de ajustes


polinomiais para os Estados Unidos, Suécia, Holanda, Alemanha, Canadá, Reino Unido, Espanha,
Itália, Brasil e França.
Da observação desta figura é possível constatar que o crescimento e o declínio da Covid-19
comportam-se semelhantemente em todos esses países, quer o país tenha adotado medidas
restritivas severas à liberdade de ir e vir (Holanda, Alemanha, Espanha, Itália e França) quer
tenham adotado medidas mais brandas de isolamento social (Brasil e Suécia).

O mesmo estudo observacional foi realizado no Brasil em diversos dos seus estados. Para esses
estudos utilizamos os dados constantes das páginas eletrônicas do Ministério da Saúde do
Brasil,
(http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sim/cnv/obt10uf.def); da Associação Nacional
dos Registradores de Pessoas Naturais (https://transparencia.registrocivil.org.br/especial-covid)
e do Governo do Estado do Ceará
(https://indicadores.integrasus.saude.ce.gov.br/indicadores/indicadores-coronavirus/obitos-
covid).

Os resultados obtidos nos números diários de mortes ocorridos por Covid-19 em cada um dos
estados, relativamente ao crescimento e ao declínio da Covid-19, mostraram-se semelhantes
àqueles dos países anteriormente estudados.

A figura a seguir mostra as curvas do Número Diário de Mortes e as linhas de ajustes


polinomiais para o Brasil e os estados da Bahia, Ceará, Pernambuco, Minas Gerais, Rio de
Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo.
Parece-nos evidente desta figura que os comportamentos do crescimento e declínio da Covid-
19 no Brasil e nos estados brasileiros referidos são semelhantes entre si e semelhante ao que
foi observado nos países anteriormente analisados. Em particular, observa-se o mesmo
comportamento em estados que adotaram medidas restritivas severas (Ceará e Pernambuco) e
os que não as adotaram (Minas Gerais e Rio Grande do Sul).

A partir dos ajustes do Brasil e estados inferimos a data em que a epidemia atingiu seu pico (dia
em que se inicia um período em que o número de mortes oscila para em seguida começar a
diminuir), assim como inferimos quando se dará o final de seu ciclo. A tabela a seguir contém
essas datas, que foram obtidas dos ajustes polinomiais realizados. As pequenas diferenças
nessas datas (que também foram observadas nos países analisados) podem ser explicadas por
fatores externos tais como a temperatura local, a pirâmide etária do país ou estado, a
densidade populacional de obesos, por exemplo. Para o Ceará o patamar de pico da epidemia
da Covid-19 iniciou-se em torno do dia 09 de maio e o fim de seu ciclo ocorrerá na terceira
semana de julho vindouro.
Os resultados deste estudo observacional parecem indicar a existência de um padrão mundial
relativo ao crescimento e declínio da Covid-19 – o número diário de mortes em todos os países
e estados brasileiros apresentou o mesmo comportamento polinomial de segundo grau. E mais
importante é que este padrão mundial é independente da adoção, ou não, de medidas
restritivas impostas pelos governos, quer essas medidas sejam brandas (isolamento social) quer
elas sejam rígidas (lockdown). Adicionalmente, também é importante ressaltar que este modelo
polinomial nos permitir inferir em que data ocorrerá o patamar de pico da epidemia, assim
como o final do ciclo da doença Covid-19.

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