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VISLUMBRANDO O FINAL DA CURVA E NÃO MAIS O SEU PICO.

por José Carlos Parente de Oliveira

RESUMO
Neste estudo matemático objetivamos responder três perguntas relativas à epidemia
pelo vírus SARS-CoV-2:
1. A transmissão do vírus SARS-CoV-2 ocorre exponencialmente?
2. Em quanto tempo se dá o pico de casos e mortes da Covid-19?
3. Em quanto tempo a epidemia se extingue?
Os dados utilizados neste estudo constam da base de dados da Organização Mundial de
Saúde (2). Analisamos o comportamento do crescimento do contágio pelo vírus SARS-CoV-
2, assim como a evolução dos casos e mortes confirmados em doze países (Alemanha,
Brasil, Canadá, Coréia do Sul, Espanha, Estados Unidos, França, Holanda, Israel, Itália,
Reino Unido e Suécia) para responder as perguntas acima.
Foi observado que o crescimento do contágio não apresenta um comportamento
exponencial em nenhum dos países analisados, mas sim um comportamento polinomial de
ordem dois comum a todos eles.
O número de casos e de mortes confirmados também segue o mesmo comportamento
polinomial de ordem dois, sendo observado que este padrão polinomial é independente do
país, assim como se o país adotou ou não medidas governamentais restritivas ao ir e vir.
O intervalo de pico da epidemia é atingido, na média, em seis semanas, e a extinção da
epidemia, também na média, em seis semanas a partir do final do intervalo de pico.
Em nenhum dos onze países analisados foi observado aumento significativo no número de
casos e mortes diários quando o intervalo de pico é alcançado.
Os resultados indicam que o comportamento polinomial de ordem dois é um padrão mundial
para a contaminação do SARS-CoV-2, bem como para a evolução da Covid-19.
Dos resultados observados nos onze países é possível afirmar que o Brasil ingressou nos
intervalo de pico de novos casos de contaminação diária pelo SARS-CoV-2 e de novas
mortes diárias pela Covid-2, e que na primeira quinzena de junho a epidemia terá cessado
quase completamente.

SISTEMÁTICA DE ANÁLISE
A sistemática que utilizaremos no desenvolvimento do estudo matemático será a de analisar os
dados na busca de resposta para cada uma das perguntas.

1. A TRANSMISSÃO DO VÍRUS SARS-COV-2 OCORRE EXPONENCIALMENTE?


Nas discussões iniciais a respeito da transmissão do novo coronavírus, denominado de SARS-CoV-2
(do inglês Severe Acute Respiratory Syndrome CoronVirus 2 com tradução Síndrome Respiratória
Aguda Grave do Coronavírus 2) muito se falou sobre seu suposto “crescimento exponencial”.
A principal característica de um comportamento exponencial é o fato de sua taxa de crescimento não
ser constante, ou em palavras mais coloquiais, a sua “velocidade” de crescimento não é constante.
Exemplificando: se o crescimento de contaminados por SARS-CoV-2 se comportasse
exponencialmente, teríamos mais de 1,2 milhão de pessoas contaminadas duas semanas após uma
única pessoa estar contaminada no início.
Evidentemente, não foi isto o que ocorreu em nenhum dos países analisados. Portanto, nada mais
claro que afirmar que o comportamento da contaminação por SARS-CoV-2 não é exponencial. Mas
qual é, então, o seu comportamento?
As Figuras 1 e 2 abaixo mostram o número de casos diários confirmados no Brasil e na Itália (eixo
vertical), juntamente com duas curvas cujas taxas de crescimento são 20% (linha vermelha) e 35%
(linha verde) para o Brasil e 25% (linha vermelha) e 40% (linha verde) para a Itália, em função do
número de semanas, no eixo horizontal.
No início da epidemia no Brasil, até a segunda semana de contágio, o crescimento deu-se a taxas
elevadas, em torno de 50%. A partir de então o crescimento do contágio se desenvolveu em
“velocidades” crescentes, mas com taxas menores – na sexta semana a taxa de contágio foi de
cerca de 20%.
Na Itália, apesar de apresentar o mesmo comportamento, as suas taxas de crescimento foram
maiores o que fez com que lá o intervalo de pico da epidemia fosse atingido em um menor tempo.

Outra abordagem que mostra que o crescimento do contágio por SARS-CoV-2 não se comporta
exponencialmente é analisar a taxa relativa diária de novos casos. As Figuras 3 e 4 abaixo mostram
essa taxa para o Brasil e para um conjunto de cinco países (Canadá, Estados Unidos, Espanha,
Holanda e Suécia). No eixo vertical tem-se o percentual de crescimento relativo diário de casos e no
eixo horizontal o número de semanas a partir da data da consolidação dos primeiros casos em cada
país.

Este percentual é obtido da relação entre os casos a cada dia e o acumulado de casos até aquele
dia. Observa-se o mesmo comportamento de decréscimo da taxa diária relativa de novos casos nos
seis países. A taxa diária de casos cai a cerca de dez por centos (10%) na quinta (5ª) semana. Este
decréscimo da taxa é mais uma indicação de que o crescimento da contaminação do novo
coronavírus não é exponencial.
Então, qual é o comportamento do contágio?
Na Figura 5 ao lado é mostrado o gráfico com
o número de casos diários (eixo vertical) em
função da data a partir da qual foram
registrados os primeiros de casos de infecção
pelo SARS-CoV-2.
Nesta Figura 5, a linha em azul representa os
dados reais de casos diários no Brasil,
enquanto a linha preta é o ajuste matemático
da curva de casos reais, com um nível de
concordância entre as curvas maior que 94%.
O ajuste matemático da curva de casos
diários para o Brasil é uma função polinomial
de segundo grau.
Que comportamento matemático os dados
dos demais países segue? Esses países
também seguem o comportamento
polinomial?
Antecipamos a resposta: os demais países analisados também mostram o mesmo comportamento
polinomial que no Brasil. Para exemplificar as Figuras 6 (Canadá), 7 (Israel), 8 (Reino Unido) e 9
(França) mostram as correspondentes curvas de casos diários e ajustes polinomiais
correspondentes.
RESPOSTA DA PERGUNTA 1.
O crescimento da contaminação diária por SARS-CoV-2 no Brasil, e
também nos outros onze países analisados, não se comporta
exponencialmente; o seu crescimento se processa de acordo com
uma função polinomial de segundo grau, significando que no início
há um rápido crescimento, reduzindo a taxa de crescimento à
medida que se aproxima do pico.

2. EM QUANTO TEMPO SE DÁ O PICO DE CASOS E MORTES DA COVID-19?


Iniciaremos com um esclarecimento sobre o que significa pico da epidemia. Aqui esta palavra não
tem o mesmo significado que em Matemática, onde pico é o ponto de valor maior que seus vizinhos,
os anteriores e os posteriores. Em se tratando de epidemia o pico é um período de tempo em que os
casos e as mortes não crescem substancialmente, mas oscilam. Um termo mais apropriado a usar
seria “patamar da epidemia”. Neste trabalho usaremos o termo “intervalo de pico”.
Vamos iniciar a análise considerando o comportamento de novos casos e mortes diários que
ocorrem no Brasil.
As Figuras 10 e 11 abaixo mostram a evolução diária dos casos e mortes confirmados para o Brasil.

Os dois conjuntos de dados são bem ajustados com funções polinomiais de segundo grau, que
apresentam um nível de concordância maior que 94%. Em ambas as curvas há inicialmente um
rápido crescimento de novos casos e mortes diários que vai diminuindo à medida que o tempo
transcorre. Observamos que na sétima (7ª) semana os novos casos diários crescem com menor
incremento para o intervalo de pico da curva (Fig.10.), semelhantemente as novas mortes diárias
também tendem para o intervalo de pico da curva na sexta (6ª) semana.
Agora outra pergunta: qual foi o comportamento dos casos e mortes diários nos demais países
analisados?
Observamos nos países que analisamos o mesmo comportamento polinomial. As Figuras 12(a) e
12(b) mostram o comportamento de casos e mortes diários nos Estados Unidos; as Figuras 13(a) e
13(b) na Espanha e as Figuras 14(a) e 14(b) na Suécia.
Para estimar em que dia ocorre o intervalo de pico dos casos, ou de mortes é suficiente
determinarmos o dia em que a curva de ajuste polinomial muda a sua taxa de crescimento de
positiva para negativa, ou seja, o dia em que o número de casos e mortes diários começa a diminuir,
ao invés de continuar a crescer. Na verdade, como referido antes, não se observa um pico em dado
dia, mas um intervalo de dias em que o número de casos e de mortes oscila formando um patamar
aproximadamente constante. Este patamar oscilante está presente em todos os países.
Nos Estados Unidos o intervalo do pico se estendeu em torno de 18-19 de abril (aproximadamente
sete semanas do início dos registros de casos) e apresentou neste intervalo uma “oscilação” com
tendência de decrescimento, em ambos, nos novos casos e novas mortes. O intervalo de pico das
mortes nos EUA ocorreu cerca de uma semana depois. Na Espanha o intervalo de pico foi mais
longo que o dos EUA, mas apresentou uma maior tendência oscilante de queda no número de casos
e de mortes. Na Espanha os intervalos de pico de casos e mortes aconteceram quase
simultaneamente e se iniciaram seis semanas após o início dos casos. O comportamento de casos e
mortes na Suécia seguiu o mesmo padrão, com a diferença que os seus intervalos de pico de casos
e mortes diários foram um mais longos. Os resultados da Itália, não mostrados por razões de espaço,
seguem o padrão polinomial e o seu intervalo de pico foi atingido em cinco semanas.
Da análise realizada uma característica comum aos doze países se destaca: não houve um aumento
substancial no crescimento do número diário de mortes, uma vez iniciado o intervalo de pico. Ao
invés disso, observou-se que as mortes diárias crescem até atingirem o intervalo de pico e, uma vez
alcançado este patamar, o número de mortes para de crescer e evolui com pequenas oscilações. Foi
observado que o intervalo de pico de mortes diárias se estende de uma a duas semanas.

2.1. O CASO BRASIL


Tomando como base os resultados de países que já passaram pelo intervalo de pico – ou nele se
encontram – vamos inferir o início do intervalo de pico para o Brasil e sua duração.
Na Figura 10 observamos que o crescimento no número de casos diários no Brasil evolui a taxas
cada vez menores que nos demais países, por isso ocorreu um longo tempo para alcançar o
intervalo de pico do contágio. Apesar deste retardo, o comportamento polinomial do número de casos
diários é semelhante ao que ocorreu nos demais países o que nos permite inferir que estamos
adentrando o intervalo de pico dos casos diários.
Do gráfico de mortes diárias para o Brasil (Figura 11), semelhantemente ao gráfico de casos diários,
observa-se que também ocorreu um alongamento do tempo, o que nos permite inferir, a partir do
comportamento polinomial semelhante aos demais países que o Brasil está adentrando o intervalo
de pico de mortes diárias, após quase sete semanas, desde as primeiras mortes ocorridas.

RESPOSTA DA PERGUNTA 2.
O intervalo de pico da epidemia é alcançado, na média, em seis
semanas após o início dos primeiros casos da Covid-19, enquanto
o corresponde às mortes ocorrem na média em cinco semanas.
No caso do Brasil, os resultados da análise de semelhança do
comportamento polinomial em todos os doze países indicam inferir
que o intervalo de pico de novos casos e novas mortes iniciou
neste fim de semana. Em média o intervalo de pico tem sido de
duas a três semanas, com tendência de decréscimo em torno do
décimo dia.

Um aspecto relevante da análise é que o padrão polinomial de casos e mortes diários não é
exclusivo de um determinado país, mas parece ser um fenômeno mundial, cujo padrão de
comportamento é polinomial de grau dois.
E mais surpreendente é que este padrão polinomial independe de adoção ou não de medidas de
bloqueio e isolamento: a Itália, onde foi imposto um bloqueio severo apresenta o mesmo padrão
polinomial que a Suécia, onde não houve qualquer bloqueio.
3. EM QUANTO TEMPO A EPIDEMIA SE EXTINGUE?
A resposta a esta pergunta segue a mesma análise realizada para determinar o intervalo de pico.
Devido o caráter simétrico do comportamento polinomial de grau dois podemos inferir que o ocaso da
epidemia se daria no dobro do tempo que levou para atingir o pico. Ocorre, conforme já explicado na
análise da pergunta dois, que o comportamento da pandemia não é simétrico em relação a um pico
pontual (um dado dia), mas um intervalo de tempo onde os novos casos e mortes oscilam em torno
de um patamar praticamente constante.
A partir dessas considerações e das observações do comportamento polinomial podemos inferir que
o ocaso da pandemia ocorrerá no mesmo número de semanas que levou para atingir o intervalo de
pico, a partir do final desse intervalo. Ou seja, ocorre o crescimento polinomial até atingir o intervalo
de pico, que se mantem aproximadamente constante, para em seguida ocorrer o decréscimo
polinomial simétrico ao crescimento – o formato da curva é semelhante ao contorno de uma tigela
emborcada!

RESPOSTA DA PERGUNTA 3.
Considerando análise baseada no comportamento polinomial do
crescimento do número de novos casos e novas mortes, na quase
estabilização dos casos e mortes no intervalo de pico, assim como
o caráter simétrico do decrescimento de novos casos e mortes, o
Brasil estará “livre” desta epidemia na primeira quinzena de junho.

(1) A ideia deste estudo foi inspirada em reportagem do jornal Time of Israel que entrevistou o
Professor e Matemático Isaac Ben-Israel sobre o seu trabalho relacionado à expansão e extinção da
epidemia do novo coronavírus. O trabalho do Professor Isaac Ben me pareceu utilizar conceitos
matemáticos mais sofisticados que aqueles utilizados em meu trabalho, que faz uso apenas de
Matemática elementar.
https://www.timesofisrael.com/top-israeli-prof-claims-simple-stats-show-virus-plays-itself-out-after-70-days/
https://www.timesofisrael.com/the-end-of-exponential-growth-the-decline-in-the-spread-of-coronavirus/
(2) https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019/situation-reports/

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