Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
(*) Notas de Aula escrita com consultas a diversas páginas da Wikipedia e em diversas ocasiões.
1
Com dezesseis anos Tycho foi para Leipzig, na Alemanha, a pedido do tio para continuar seus estudos
de Direito. Ele foi acompanhado de um tutor, de nome Anders Vedel, de 20 anos, que veio a se tornar
famoso por ser o primeiro grande historiador da Dinamarca.
Entretanto, desde o evento do eclipse Tycho era obcecado por Astronomia e, escondido de seu tutor,
ele comprava livros e instrumentos astronômicos e passava grande parte das noites observando as
estrelas. Aos dezessete anos, ele observou um evento especial em 17 de agosto de 1563, data em que
os planetas Júpiter e Saturno passaram muito próximos um do outro – uma conjunção planetária. Ao
verificar as tabelas, ele descobriu que as Tabelas Alfonsinas estavam erradas em um mês na previsão
deste evento, e as tabelas de Copérnico estavam erradas por vários dias. Tycho imaginou que tabelas
melhores poderiam ser construídas apenas com observações mais precisas das posições dos planetas
durante um longo período de tempo. Ele então decidiu que era isto o que ele faria.
Vedel estava convencido que Tycho não se dedicaria ao Direito e desistiu de tentar continuar a ser seu
tutor em Direito.
Em 1565, seu tio, Jorgen Brahe, morreu de pneumonia,
em virtude de Jorgen ter resgatado o rei da Dinamarca
do afogamento em águas muito frias. Nesta época
Tycho se acompanhava de alguns jovens astrônomos
amadores e ricos em Augsburg. Ele os convenceu da
necessidade de terem melhores instrumentos de
observação.
Como os instrumentos eram ainda rudimentares eles
necessitavam de melhores e maiores quadrantes para
obter linhas de visada das estrelas mais precisas.
Assim, eles construíram um grande quadrante de
madeira com parte de uma circunferência com raio
de dezenove pés (5,8 m), como mostrado ao lado. A sua
montagem necessitou de vinte homens e ele foi
graduado em sessenta avos de um grau. Foi aí que ele
desenvolveu muitas de suas ideias para a construção de
grandes equipamentos para obter linhas de visadas das
estrelas. Este foi o grande início das observações
precisas de Tycho.
Tycho era um jovem muito impetuoso, além de gostar
muito de cerveja, e, ainda estudante na Alemanha, ele
perdeu a paciência em uma briga com outro aluno sobre Quadrante
quem era o melhor matemático dinamarquês. Tal dis
cussão provocou um desafio a um duelo de espada em que parte do nariz de Tycho foi cortada e o
pedaço perdido foi substituído por uma prótese de uma liga de ouro e prata, e Tycho sempre carregava
consigo uma caixa metálica contendo um "unguento colante" que ele frequentemente esfregava no
nariz, para manter a peça presa.
De 1568 a 1570, o pai de Tycho pagou suas despesas educacionais e de viagem. No início da década
de 1570, ele viveu e trabalhou com seu tio materno, Steen Bille, que fundou a primeira fábrica de
papel e vidro na Dinamarca. Steen tinha um laboratório de alquimia instalado na Abadia de Herreved,
e foi o único membro da família que aprovou a observação das estrelas por Tycho. Por este apoio,
2
Steen Bille foi hostilizado por sua família. Eles desprezaram as observações das estrelas realizadas por
Tycho Brahe e o culparam por Tycho ter abandonado os estudos de Direito.
________________________________________________________________________________
Até final do século XV eram comuns as estranhas práticas médicas, a exemplo da prática das curas
simpáticas: uma planta com uma folha em forma de coração era considerada ser boa para tratar doenças
cardíacas; ou um machado que corta a mão de uma pessoa ser enfaixado, e também enfaixar a mão, já que
era impossível determinar se foi a mão ou o machado que se extraviou e ambos podem precisar de cura.
No o início do século XVI, Theophrastus Paracelcus(*), por ser um homem devotado à Medicina,
redirecionou a alquimia. Paracelso teve a ideia de observar cuidadosamente um paciente doente e, em
seguida, prescrever curas com base nessas observações. Desta forma, a Medicina foi revolucionada.
Muita atenção se voltou para os remédios, principalmente a busca pelo elixir da vida.
Do convívio com seu tio, que tinha um laboratório de alquimia, Brahe estudou as obras de
Paracelso e estava constantemente tentando fazer remédios. Algumas dessas misturas foram listadas na
farmacopeia oficial dinamarquesa. Uma vez que Paracelso teve uma grande influência sobre Brahe, é
razoável acreditar que essa foi a fonte do seu interesse em observações cuidadosas e tediosas.
Tycho foi um alquimista convicto e capaz. E, àquela época, ser alquimista era um elogio supremo! Apesar
de adorar Matemática e Astrologia, ele também buscava a Pedra Filosofal, mas não motivado pela busca
de mais fortuna pessoal. Em vez disso, seu esforço foi direcionado mais para os desenvolvimentos
medicinais e místicos da alquimia. Como exemplo do meticuloso trabalho de Tycho, um de seus
assistentes passou oito anos no laboratório acendendo uma fogueira para destilar suavemente dois mil
ovos de galinha. Acredita-se que isto foi feito para criar um reagente forte para uso em remédios, mais
que na descoberta da pedra filosofal. Tycho Brahe não precisava de riqueza pessoal – na década de 1580,
estima-se que ele detinha 1% de todo o valor da Dinamarca.
(*) Paracelso, pseudônimo de Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von
Hohenheim, (Einsiedeln, 1493 — Salzburgo, 1541) foi um médico, alquimista, físico,
astrólogo e ocultista suíço-alemão. A ele também é creditado a criação do nome do elemento
zinco, chamando-o de zincum. Ele é considerado por muitos como um reformador do
medicamento. Também é aclamado por suas realizações em Química e como fundador da
Bioquímica e da Toxicologia.
________________________________________________________________________________
Em 1572, um novo evento astronômico ocorreu que mudou ainda mais a vida de Tycho. Em 11 de
novembro, voltando do laboratório de Alquimia de seu tio Steen, Tycho notou uma nova estrela no céu
que era mais brilhante do que Vênus. Ele não acreditou em seus olhos. Ele chamou a testemunha
de alguns criados, alguns camponeses, para assegurar-lhe de que ela realmente existia e estava lá.
A nova estrela era tão brilhante que podia ser vista à luz do dia. Esse fenômeno durou dezoito meses.
Tal fenômeno é o que agora é chamado de o aparecimento de uma supernova, um evento raro.
A questão crucial do ponto de vista astronômico e teológico era, onde exatamente estava essa nova
estrela? Foi um evento na atmosfera superior, isto é, abaixo da Lua, o que então se denominou na
região sublunar? Se fosse assim, não haveria problema porque essa região, abaixo da Lua, era onde a
mudança e a decadência ocorriam – de acordo com Aristóteles!
Por outro lado, se estivesse lá fora na oitava esfera, as estrelas fixas, na borda do céu, isto contradizia o
dogma aristotélico e cristão, porque aquela esfera permanecera inalterada desde o dia da criação, e
deveria permanecer assim.
3
Astrônomos importantes nos diversos lugares tentaram detectar o movimento na nova estrela
alinhando-a com as estrelas fixas conhecidas, usando como direcionadores fios esticados. Eles não
conseguiram ver qualquer movimento da nova estrela.
Por outro lado, Tycho pode pesquisar o movimento da nova estrela, com o uso de um novo
instrumento que ele acabara de construir. Tratava-se de um novo sextante, com braços de 1,5 metros
de comprimento, uma enorme dobradiça de bronze, uma escala metálica calibrada em minutos
(sessenta avos de grau) e uma tabela de correções para os pequenos erros restantes no instrumento. A
sua tecnologia estava muito à frente da concorrência – que usavam fios esticados alinhados às estrelas
– e ele foi capaz de resolver a discussão.
A nova estrela não se moveu em relação às estrelas fixas. E ela estava além da Lua, na oitava esfera!
Tycho publicou um relato detalhado de seus métodos e descobertas no ano seguinte. Ele hesitou algum
tempo antes de publicar, porque escrever livros parecia um pouco indigno para um nobre. Da mesma
forma, quando alguns dos outros jovens nobres lhe pediram para dar um curso de astronomia, ele
recusou e só mudou de ideia quando o rei lhe disse para fazê-lo.
Abaixo são mostrados diagramas no livro de Tycho Brahe de 1573, "De Nova Stella", mostrando a
posição da estrela supernova de 1572 em relação às estrelas brilhantes na constelação de Cassiopea. A
falta de paralaxe detectável forçou Brahe a localizar a nova estrela além da esfera da Lua, ou seja, no
reino celestial, que era supostamente inalterável de acordo com a doutrina aristotélica.
Na verdade Tycho testemunhou a explosão de uma supernova, a Supernova SN 1572: uma supernova
do tipo Ia, na constelação de Cassiopeia, uma das oito supernovas visíveis a olho nu registradas na
4
história da Astronomia. A explosão da supernova foi observada em novembro de 1572 e foi descoberta
independentemente por vários outros astrônomos.
A consequência do trabalho de Tycho foi uma grande fama na Europa e em 1575 ele embarcou em
uma viagem para visitar astrônomos em muitas cidades. Então, ele decidiu se mudar para a Basiléia, na
Suíça, uma cidade bela, encantadora e civilizada. O rei Frederico II da Dinamarca (cuja vida havia sido
salva pelo seu tio) ficou muito apreensivo com a ideia de perder seu melhor astrônomo (e também
astrólogo) e, após a recusa de alguns castelos para colocar seu laboratório, Tycho Brahe aceitou
toda uma ilha, plana com penhascos brancos, com cerca de três milhas de comprimento (~5 km),
chamada Hveen, em Hamlet.
Quadrante de parede
6
altitude, medidas com os instrumentos de Tycho, foram convertidas nas coordenadas celestes
convencionais usadas para registrar as posições estelares e planetárias.
7
1577 – O Grande Sextante
Este é o grande sextante que Tycho Brahe
construiu e usava em suas observações. Este
equipamento não tem qualquer relação com o
instrumento moderno de navegação que
conhecemos com o nome de sextante.
Na verdade, o equipamento de Tycho Brahe
correspondia a 1/6 de um círculo, daí o seu nome de
"sextante", que era conectado a um pedestal por uma
junta universal que permitia que ele girasse em
qualquer direção.
Usando esses equipamentos Tycho Brahe
observou, em 1577, um cometa. As medições de
paralaxe feitas por ele demonstraram que estes
objetos estavam além da Lua. Brahe começou a
escrever um livro sobre este cometa mas nunca o
terminou. Grande Sextante
Nas figuras abaixo, à direita está uma representação do cometa de 1577 observado por Tycho, que
permaneceu visível de novembro de 1577 a janeiro de 1578. As suas observações não revelaram
nenhuma paralaxe mensurável, o que implica que o cometa estava localizado além da esfera da Lua.
Sua reconstrução da trajetória orbital do cometa (à esquerda), do clareamento e escurecimento e
deslocamento em relação às estrelas de fundo, indicou que o cometa se moveu através das esferas
cristalinas planetárias concêntricas. Isso apoiava a noção de um "céu fluido" e contradizia a realidade
física dessas esferas como conchas esféricas reais, duras, transparentes e contíguas.
O caminho do cometa é traçado dentro do sistema planetário de Tycho, onde todos os planetas orbitam
ao redor do Sol, com este orbitando uma Terra fixa, conforme visto na Figura a seguir.
8
Observe que a trajetória do cometa atravessa
inúmeras esferas planetárias, a partir das quais
Tycho concluiu que as ditas esferas não poderiam
ser objetos sólidos e cristalinos como Considerado
por Aristóteles. (Figura ao lado)
Semelhantemente a Nicolaus Copernicus e outros
astrônomos anteriores, Tycho agarrou-se
firmemente à noção de órbitas perfeitamente
circulares para todos os corpos celestes.
A imagem ao lado
compara os modelos
cosmológicos de
Ptolomeu, Copérnico
e Tycho Brahe.
RESUMO
Tycho Brahe (1546-1601): nobre dinamarquês; astrônomo brilhante e excepcional construtor de
instrumentos; admirador de Copérnico como matemático; critico da ideia de uma Terra em
movimento. Ele foi um excepcional observador que acumulou mais de 20 anos de dados planetários
precisos. Tycho era um homem brilhante, obstinado e combativo, além de inveterado apreciador de
cerveja.
A estrela Nova de 1572: em novembro de 1572, Tycho notou uma nova estrela brilhante na
constelação de Cassiopeia. Ele realizou medições detalhadas ao longo dos 16 meses seguintes: suas
medições falharam em medir uma paralaxe, concluindo que a nova estrela estava no reino celestial
além da Lua. Isso fato foi um golpe para o sistema ptolomaico.
Ao colocar a nova estrela além da Lua, que era uma região celestial estável e livre de mudança, ele se
colocava em séria contradição com o ideal aristotélico de perfeição celestial. O evento estimulou os
11
interesses astronômicos de Tycho e marcou o início de seus esforços ao longo da vida para
desenvolver seu próprio "Sistema Tychonico", um híbrido dos sistemas copernicano e ptolomaico.
O Sistema Tychonico (Sistema Híbrido Geocêntrico/Heliocêntrico):
A Terra está no centro;
A Lua e o Sol orbitam a Terra;
Os planetas orbitam o Sol;
Os epiciclos continuam a ser utilizados como forma fazer com que tudo funcione em detalhes;
Da mesma forma que Copérnico, ele não utiliza os Equantes;
As ideias de uma Terra imóvel e de movimentos circulares uniformes são preservadas.
O laboratório de Uraniborg
Com o apoio da coroa dinamarquesa, ele construiu "Uraniborg" (Castelo Celestial) em Hven, uma
pequena ilha no estreito de Øresund, entre a Dinamarca e a Suécia:
O castelo estava equipado com os melhores instrumentos que ele pode projetar;
Ele obteve uma precisão de medição sem precedentes de 1 a 2 minutos de arco;
O laboratório era o principal centro de pesquisa astronômica da Europa.
20 anos de trabalho de Tycho (de 1577 a 1597) produziram dados planetários precisos que
formavam o maior Banco de dados astronômico existente em todo o mundo;
Posições de 777 estrelas com precisão de 1 a 2 minutos de arco;
O Grande Cometa de 1577 (o cometa estava mais longe do que a Lua e orbitando o Sol);
Observação intensiva de Marte (ele tentou, mas falhou em observar a paralaxe de Marte);
Acumulou dados precisos sobre as oposições de Marte;
As observações cuidadosas de Marte (e também dos outros planetas) que se mostrariam de uma
importância fundamental, que iam muito além de sua própria imaginação (ou intenções).
Todas essas observações atestam não apenas as habilidades consideráveis de Tycho, mas também
contêm os ingredientes para a contestação da visão aristotélica do mundo, que afirmavam que cometas
e estrelas novas (os últimos agora entendidos como explosões estelares) eram considerados fenômenos
atmosféricos, pois uma mudança não poderia ocorrer no reino celestial supralunar. Adicionalmente, ele
demonstrou que o centro de movimento do Grande Cometa de 1577 era o Sol e não a Terra: este fato
foi um golpe mortal no amago do ponto de vista geocêntrico.
Tycho teve um desentendimento com o novo rei dinamarquês, deixando a Dinamarca em 1597.
Em 1599 ele foi nomeado Matemático Imperial em Praga;
Em 1600 ele contratou Johannes Kepler como seu assistente;
Em 1601 ele morreu em Praga, Kepler o substituiu na direção do laboratório e também como
astrólogo;
Tycho Brahe realizou duas contribuições essenciais para a ciência:
1. Ele adquiriu os melhores dados a olho nu sobre estrelas e planetas e
2. Ele contratou Johannes Kepler para analisar esses dados.
Relatos contemporâneos registram que as últimas palavras de Tycho foram "Não me parece que vivi
em vão".
Seu desejo era que Kepler usasse seus dados para provar que o seu sistema Tychonico era verdadeiro.
Contudo, como veremos mais adiante, o seu desejo não se efetivou, pois Kepler conseguiu algo bem
diferente. Mas, com certeza ele entendeu Kepler, afinal de contas Tycho Brahe foi um excepcional
observador.
12