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aparências dos planetas”. André de Avelar que, pelos argumentos matemáticos, a di-
escreveu também uma Apostillæ, seu Expo- vergência estabelecida se tornava impro-
sitio in Theorias Septem Planetarum, et Octa- fícua, uma vez que tanto um como outro
væ Purbachii. Também analisou o sistema descreviam adequadamente todas as ob-
heliocêntrico, para o rejeitar, embora te- servações dos astros.
nha louvado Copérnico pelo seu esforço Ainda em meados do séc. xviii, havia
para “salvar as aparências celestes com autores que mostravam alguma relutân-
subtilíssimas demonstrações e observa- cia na adoção do heliocentrismo. No seu
ções exatas” (OSÓRIO, 1986, 120). Compendio dos Elementos de Mathematica, no
Ao longo do séc. xvii foram publica- capítulo intitulado “Elementos de esfera
das em Portugal diversas obras de astro- e astronomia”, Inácio Monteiro afirmava
nomia, entre as quais se encontram As- que a Providência tinha colocado o ho-
tronomia Moderna, de Francisco de Melo mem no meio de uma máquina prodigio-
e Torres, editada em Lisboa em 1637, sa, composta com artifício mais do que
Sphæra Artificial e Natural e o Tratado sobre humano e constituída por inumeráveis
a Teórica dos Planetas, de Simão Falónio, e prodigiosas peças. Quanto às hipóteses
que entre cerca de 1635 e 1652 ensinou para o sistema do mundo, afirmava que
Astronomia, Agrimensura, Astrologia e numa destas “se viu a Terra arremessada
Cosmografia no Colégio de S.to Antão, e por um alemão, o excelente Nicolau Co-
que viria a ser nomeado, por D. João IV, pérnico”, desde o centro do firmamento
engenheiro‑mor do reino. Falónio refe- até à eclíptica, na qual girava à roda do
riu-se à teoria de Copérnico, descreven- Sol. Este era o sistema “de quase todos os
do‑a sumariamente e rejeitando‑a como Astrónomos deste tempo”. Sobre este sis-
doutrina definitivamente comprovada, tema afirmava que nenhuma razão, física
para aceitar como verdadeira a hipótese ou matemática, o convencia da sua falsi-
tychonica, a qual salvava as “novas apa- dade, “nem havia argumentos de causas
rências”, ou seja, através do sistema pro- naturais que o impugnasse, com vigor”
posto pelo Dinamarquês explicavam‑se as (MONTEIRO, 1756, 125-133). Contudo a
fases de Mercúrio e de Vénus, bem como obediência à Congregação do Santo Ofí-
as variações das distâncias dos planetas à cio impedia a sua defesa como tese, por
Terra. ser heresia, i.e., uma doutrina contrária à
Entre 1678 e 1680, António Tomás, na- ensinada pelo magistério romano.
tural de Namur, na Bélgica, ensinou Ma-
temática no Colégio das Artes, destinado
aos candidatos da missão da China. Estas Bibliog.: LEITÃO, Henrique, “Uma nota sobre
lições foram publicadas sob o título Sinop- Pedro Nunes e Copérnico”, Gazeta de Matemá-
sis Mathematica, onde o autor expunha, tica, n.º 143, 2002, pp. 60-64; MAURÍCIO,
Domingos, “Os Jesuítas e o ensino das mate
com algum pormenor, o sistema de Co-
máticas em Portugal”, Brotéria, vol. xx, fasc. 3,
pérnico, declarando‑se também um se- mar. 1935, pp. 189-205; MONTEIRO, Inácio,
guidor do sistema tychonico. Não deixou, Compendio dos Elementos de Mathematica, t. ii,
no entanto, de notar que se, por um lado, Coimbra, Real Collegio das Artes da Com
as observações astronómicas se mostra- panhia de Jesus, 1756; OSÓRIO, J. Pereira,
vam em concordância com este sistema, Sobre a História e Desenvolvimento da Astronomia
também o estavam com o sistema coper- em Portugal, Lisboa, Academia das Ciências de
niciano; e justificando a sua preferência Lisboa, 1986.
pelo sistema de Tycho Brahe afirmando Décio Ruivo Martins