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Inabaláveis

Mauro Estival

Quando o pastor Aluízio nos convocou para ministrar

na conferência, fiquei meditando sobre o tema, e ra-

pidamente me veio ao coração uma palavra que pre-

guei no início deste ano, sobre que este seria um ano inabalável.

Quando preguei essa palavra, mal sabia o que tínhamos

pela frente, uma pandemia que veio sobre todos, mas com

uma força descomunal sobre a igreja. Digo isso porque o

nosso modelo de igreja, mesmo sendo em células, não estava

preparado para esse tipo de ambiente.

Somado à pandemia, tivemos todos os tipos de calúnias e

mentiras sobre a nossa liderança e ministério, tivemos perdas

e crises, mas hoje estamos aqui inabaláveis no fim do ano.

O que nos faz inabaláveis? Estar firmados na palavra, no

poder do evangelho. Mas estar firmados na palavra nos faz

inabaláveis sobre o quê? Jesus encerrou o Sermão do Monte

com a história das duas casas, a qual nos mostra os três níveis

de demanda que temos.

Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras

e as pratica será comparado a um homem prudente

que edificou a sua casa sobre a rocha; e caiu a chuva,

transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com

ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora

edificada sobre a rocha. E todo aquele que ouve estas

minhas palavras e não as pratica será comparado a um

homem insensato que edificou a sua casa sobre a areia; e

caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos

e deram com ímpeto contra aquela casa, e ela desabou,

sendo grande a sua ruína. (Mt 7.24-27)


O texto é muito claro: a casa aqui é a nossa vida. Jesus disse

que, quando o espírito imundo sai de uma pessoa, ele anda por

lugares áridos e, se não encontrar morada, volta para a “casa” de

onde saiu, e o estado da pessoa se torna pior do que o anterior.

Quando o espírito imundo sai do homem, anda por

lugares áridos procurando repouso, porém não encontra.

Por isso, diz: Voltarei para minha casa donde saí. E, tendo

voltado, a encontra vazia, varrida e ornamentada. Então,

vai e leva consigo outros sete espíritos, piores do que ele, e,

entrando, habitam ali; e o último estado daquele homem

torna-se pior do que o primeiro. Assim também acontecerá

a esta geração perversa. (Mt 12.43-45)

Nós somos a casa, que pode estar edificada sobre a ro-

cha ou sobre a areia. Aqueles que estão sobre a areia serão

abalados e cairão, mas aqueles que estão sobre a rocha

serão inabaláveis.

Temos um ataque que vem de cima, um que vem de

baixo e outro que vem dos ares. Um do céu, outro da terra

e o último dos ares. Um de Deus, um do homem e um do

diabo. Entretanto, o mais interessante é que, no fim, tudo é

proveniente da chuva que vem de Deus. E se você observar

a aplicação disso em nossa vida, perceberá que o homem está

em evidência em cada uma deles.

1. Caiu a chuva

[...] e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram

os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa,

que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha.

(Mt 7.25, grifo nosso)

A chuva vem de cima, do céu, isso aponta para Deus.

Mas a pergunta é: Deus nos ataca? Sim, às vezes Ele nos

pede coisas, pois quer trabalhar em nossa vida, e isso de-


manda uma certa guerra. Às vezes, temos muitas demandas

com Deus.

Precisamos compreender que Deus tem os seus cami-

nhos, e eles não são como os nossos. Deus quer o nosso

crescimento e, se o propósito de Deus não acabou, se Ele

precisa que avancemos para lugares que estão no centro da

sua vontade, então permitirá que certas situações aconte-

çam conosco.

Eu creio que a Nova Aliança começou quando Jesus ceou

com os seus discípulos. Assim, veja se eu estou certo, o que

aconteceu com Jesus após a ceia não acontecerá conosco,

pois foi a substituição, mas o que aconteceu com Ele antes

da ceia, isso também acontecerá conosco:

a) Jesus foi perseguido;

b) Jesus foi traído;

c) Jesus foi deixado;

d) Jesus foi caluniado;

e) Jesus foi confrontado;

f) Jesus foi medido como louco.

Essas situações, porém, são opróbrio do ministério, elas

não são ataques sobre a nossa vida.

Há, todavia, situações que são provenientes de Deus,

não adianta orar para ficar livre delas, pois fazem parte de

um processo de Deus em nós. E, mesmo que elas venham

com a figura de um homem na frente, nossa demanda é

com Deus.

Quando José recebeu o sonho de que seria engrandeci-

do acima de sua família, ele foi odiado por seus irmãos a

ponto de quererem matá-lo, e seu livramento foi o poço.

Vendido como escravo, foi comprado por Potifar, leva-

do à prisão por causa da sua esposa e depois chegou ao


trono. Tudo que ele viveu em sua vida antes do trono foi

consequência das atitudes de seus irmãos. Com 17 anos,

ele ficou só, sem os pais, passando por situações terríveis,

como anos dentro de uma prisão. E tudo foi consequência

das atitudes dos irmãos.

Entretanto, quando José estava no Egito e recebeu seus

irmãos, ele revela o que entendeu no fim de tudo, e é isso

que precisamos compreender também.

Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos irriteis con-

tra vós mesmos por me haverdes vendido para aqui;

porque, para conservação da vida, Deus me enviou

adiante de vós. Porque já houve dois anos de fome na

terra, e ainda restam cinco anos em que não haverá

lavoura nem colheita. Deus me enviou adiante de

vós, para conservar vossa sucessão na terra e para vos

preservar a vida por um grande livramento. Assim,

não fostes vós que me enviastes para cá, e sim Deus,

que me pôs por pai de Faraó, e senhor de toda a sua

casa, e como governador em toda a terra do Egito.

(Gn 45.5-8, grifo nosso)

Quando a agenda era atingir Jesus, até os inimigos se

uniram. Mas a questão é: eles podem fazer algo contra

você? Podem. Eles podem ser instrumentos para o cum-

primento do propósito de Deus em sua vida. Paulo diz

isso claramente.

Levantaram-se os reis da terra, e as autoridades

ajuntaram-se à uma contra o Senhor e contra o seu

Ungido; porque verdadeiramente se ajuntaram nesta

cidade contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste,

Herodes e Pôncio Pilatos, com gentios e gente de Israel,

para fazerem tudo o que a tua mão e o teu propósito


predeterminaram. (At 4.26-28, grifo nosso)

A única coisa que os nossos inimigos podem fazer é con-

tribuir para que o propósito de Deus se cumpra em nós.

Se você olhar para a história de Ana, perceberá que, mes-

mo que ela tivesse um homem em evidência, que no seu

caso era uma mulher, ela tinha uma demanda com Deus. O

sonho de Ana era ter um filho, e, por mais que Penina fosse

o instrumento de crise em sua vida, o Senhor é que a havia

tornado estéril.

A Ana, porém, dava porção dupla, porque ele a amava,

ainda mesmo que o SENHOR a houvesse deixado estéril.

(A sua rival a provocava excessivamente para a irritar,

porquanto o SENHOR lhe havia cerrado a madre.).

(1 Sm 1.5-6)

Deus concede a Ana não só um filho, mas sete. É visível

que ela cresceu durante essa demanda com Deus. No capítulo

2 de Samuel, está registrado o canto de Ana, e lá ela diz que

não há outro como o nosso Deus, que é Ele quem levanta e

abate. Ana cresceu, e isso ficou bem nítido.

Essas demandas de Deus conosco vêm por diversos

motivos:

a) para o nosso crescimento;

b) para tratar coisas em nossa vida;

c) para mudar-nos de estágio;

d) para iniciarmos coisas relevantes em Deus.

2. Transbordaram os rios

[...] e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram

os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que

não caiu, porque fora edificada sobre a rocha. (Mt

7.25, grifo nosso)

Os rios vêm de baixo, da terra, eles apontam para o ataque


das pessoas à nossa volta. Teremos ataques de Deus e precisa-

mos saber lidar com eles, mas teremos ataques dos homens

e precisamos também saber lidar com eles.

Jesus é o nosso modelo, e Ele teve ataques o tempo todo de

pessoas à sua volta, principalmente dos religiosos. Precisamos

aprender a lidar com as pessoas, porque, por intermédio de-

las delas, somos muito abençoados ou muito prejudicados.

Uma das estratégias mais terríveis usadas pelos homens são

as críticas, e quem vive refém delas sofre muito e perde a paz.

Li uma história e creio que ela pode ser muito útil para nós.

Um homem ia com o filho levar um burro para vender

no mercado.

– O que você tem na cabeça para levar um burro estrada

afora sem nada no lombo enquanto você se cansa? – disse

um homem que passou por eles.

Ouvindo aquilo, o homem montou o filho no burro, e

os três continuaram o seu caminho.

– Ô rapazinho preguiçoso! Que vergonha deixar o seu

pobre pai, um velho, andar a pé enquanto vai montado! –

disse outro homem com quem cruzaram.

O homem tirou o filho de cima do burro e montou ele

mesmo. Passaram duas mulheres, e uma disse à outra:

– Olhe só que sujeito egoísta! Vai no burro e o filhinho

a pé, coitado!

Ouvindo aquilo, o homem fez o menino montar no burro

na frente dele. O primeiro viajante que apareceu na estrada

perguntou ao homem:

– Esse burro é seu?

O homem disse que sim. O outro continuou:

– Pois não parece, pelo jeito como o senhor trata o bicho.

Ora, o senhor é que devia carregar o burro em vez de fazer


com que ele carregasse duas pessoas.

Na mesma hora, o homem amarrou as pernas do burro

num pau, e lá se foram pai e filho aos tropeções carregando

o animal para o mercado. Quando chegaram, todo mundo

riu tanto que o homem, enfurecido, jogou o burro no rio,

pegou o filho pelo braço e voltou para casa.

Aqueles que querem agradar a todos no fim não agradam

a ninguém e ainda desagradam a Deus.

Jesus tinha oposições de diversos seguimentos religiosos,

mas também teve oposições e crises com pessoas próximas,

como Pedro, o jovem rico e Nicodemos.

Veja, quando Deus quer lhe dar algo, coloca uma

pessoa ao seu lado. Mas o diabo, quando quer lhe retirar

algo, coloca também uma pessoa ao seu lado. Por quê?

Porque relacionamentos não são neutros. Então, tudo

tem a ver com pessoas. Depois de Deus, o mais impor-

tante são as pessoas.

O que fazer sobre as pessoas à minha volta? Aprenda a

lidar com elas.

• Eu preciso perdoá-las, pois elas não sabem o que fazem.

• Eu preciso me posicionar em relação a elas.

• Eu preciso deixá-las. Deus nunca nos cobrou gostar de

todos, e sim amar a todos.

3. Sopraram os ventos

[...] e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram

os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa,

que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha.

(Mt 7.25, grifo nosso)

os ares. Estes últimos são ataques malignos, ataques de de-

mônios. Você tem ataques que são de Deus, ataques que são

dos homens, mas há ataques que vêm do inferno.


Jesus teve ataque que veio de Deus, Ele disse: “Deus meu,

Deus meu, por que me desamparastes?”(Mt 27.46); teve ata-

que que veio dos homens, os fariseus eram os principais que

se levantavam contra Ele; e também teve ataque que veio do

diabo, no deserto, durante quarenta dias.

Existem momentos em que há um investimento do in-

ferno para destruir a nossa vida. Como ele faz isso? Ele ten-

ta nos tirar da posição que Jesus conquistou e nos deu por

herança. Nós mesmos não fazemos guerra contra o diabo,

mas ele faz contra nós.

Quantas vezes os irmãos ficam iludidos com demônios

que se manifestam nos encontros em pessoas recém-che-

gadas à vida da igreja! Esses demônios são fracos e sem

poder. Os ataques que podem lhe destruir são aqueles que

podem roubar a sua posição, retirá-lo do lugar que Jesus

conquistou para você.

Todas as peças da armadura de Efésios 6 não são para ata-

que, e sim para defesa. O cinturão, a couraça, os calçados, o

escudo, o capacete e a espada são todos para nos defender.

Por quê? Porque não precisamos atacar para conquistar nada,

tudo já foi conquistado na cruz, e a nós hoje cabe permanecer

inabaláveis em nossa posição.

Diante dos ataques, precisamos resistir ao inimigo; fa-

zendo isso, ele fugirá. Na maioria dos momentos de ataques

malignos, você não precisa fazer nada, apenas permanecer

na posição. Toda resistência será apenas para tirá-lo da po-

sição correta, então permaneça inabalável nela e verá a sua

grande vitória no fim.

Ser inabalável depende de onde você está posicionado. Não

estamos livres de ataques de nenhuma natureza, sejam eles de

Deus, sejam dos homens ou mesmo do diabo. Mas o que fará


diferença em sua vida é a palavra na qual você está firmado.

Diante de Deus, nos humilhamos; diante dos homens,

perdoamos; e, diante do inimigo, resistimos. Fazemos tudo

isso baseados na Palavra de Deus.

Algumas casas estão firmadas sobre pedras, muitas pe-

dras humanas que formam a areia, as quais sempre cairão;

mas aqueles que estão firmados sobre a rocha da Palavra

serão inabaláveis.

Nós temos pregado a graça por anos, essa palavra é o nosso

alicerce. Ainda que o mundo se levante contra nós, sempre

meditaremos naquilo que Deus disse a nosso respeito: “Eu

sou um filho amado”.

Batizado Jesus, saiu logo da água, e eis que se lhe abri-

ram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como

pomba, vindo sobre ele. E eis uma voz dos céus, que

dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.

(Mt 3.16-17, grifo nosso)

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