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Como entendemos os astros?

Geocentrismo x Heliocentrismo
12 de agosto de 2021 por Cristiane Pinheiro, UFGRS.

É da natureza humana o questionamento e a


busca por explicações. Isso não foi diferente com o
movimento dos astros, os períodos de dia e noite, as
fases da lua etc. Para esses questionamentos surgiram
diversos mitos, explicações baseadas em crenças
religiosas e teorias científicas, formuladas com base em
observações da natureza. Na cultura Greco-Romana,
por exemplo, havia deuses que representavam
diferentes fenômenos naturais e diferentes astros, dos
quais eram responsáveis por seus movimentos. O deus
grego Hélios, filho dos titãs Hipérion e Téia,
representava o Sol. Ele era retratado na forma de um
jovem, com a cabeça coroada com raios dourados.
Conduzia o Sol pelo céu dirigindo uma carruagem de
fogo, constituindo assim, o nascimento e o fim do dia. Figura 1. Métopa do Templo de Atena em Tróia,
representando Hélios montado em seus cavalos.
Já no contexto científico, surgiram duas teorias para
Localizado no Museu de Pérgamo, Berlim.
explicar os movimentos dos astros do nosso sistema
solar: o Geocentrismo e o Heliocentrismo.
O termo geocentrismo deriva da palavra “geo”, cujo significado é “terra” (do grego gê), e
“centrismo”, cujo radical é “centro” (do latim centrum). Nessa concepção, o planeta Terra está fixo no
centro do Universo, e todos os demais astros, como o Sol, a Lua e as estrelas, se deslocam à sua
volta. Aristóteles (384-322 a.C.), nascido na Macedônia, então sob influência grega, era adepto do
geocentrismo. O filósofo sustentava, com base nos corpos celestes conhecidos até então, que nove
esferas giravam em torno da Terra. A primeira esfera seria a da Lua, na sequência Mercúrio, seguido
de Vênus, Sol, Marte, Júpiter e Saturno, respectivamente. Por fim, havia a esfera que delimitava o
próprio universo, na qual assentavam-se as estrelas.

Foi Cláudio Ptolomeu (90-168 d.C.), astrônomo grego, quem, com grande conhecimento
matemático, consagrou essa teoria na obra Almagesto. No seu modelo cosmológico as estrelas
estariam fixadas em uma esfera celeste que girava em torno da Terra. Já os outros astros como os
planetas, a Lua e o Sol, se moveriam em órbitas circulares ao nosso redor. No Sistema Ptolomaico
as posições planetárias estavam sujeitas às velocidades angulares dos planetas em relação às
estrelas. Por sua vez, as órbitas dos planetas foram descritas com uma combinação de círculos:
os “deferentes” e os “epiciclos”. Essa inovação possibilitou explicar o movimento retrógrado dos
planetas, ou seja, quando um planeta é observado movendo-se em sentido contrário aos demais
corpos celestes. A obra também descrevia as mudanças nas posições dos planetas no Zodíaco e
as órbitas de Mercúrio e Vênus com incertezas matemáticas. Em virtude disso, o Modelo
Geocêntrico Ptolomaico foi o mais aceito e difundido, estendendo-se por treze séculos. Os estudos
de Ptolomeu acerca do movimento planetário serviram por um longo período como instrumento de
navegação de forma relativamente eficaz. Ademais, o respaldo da Igreja Católica ao Geocentrismo
fundamentou e prolongou o uso do modelo. O apoio Católico decorreu do fato que a teoria
outorgava os textos bíblicos. Teologicamente a figura central da criação divina são os seres
humanos. Estando nós na Terra, logo, a Terra teria que estar no centro do Universo.

Entre os séculos XVI e XVII a Astronomia, bem como a física em geral, foram revolucionadas.
O astrônomo polonês, Nicolau Copérnico (1473-1543), concebeu o chamado sistema
Heliocêntrico, que mudaria sensivelmente toda a astronomia conhecida até então.
Assim como Geocentrismo, o termo Heliocentrismo trata-se de uma composição por junção
da palavra “Hélio”, nome do deus romano do Sol, e “centrismo”. Nesse modelo cosmológico o Sol
está no centro do universo, fixo e imóvel, à sua volta orbitariam os, até então conhecidos, seis
planetas. No que se refere à Terra, ela rotacionaria no próprio eixo num período de 23 horas e 56
minutos. O decurso dos dias e das noites seria resultado desse movimento de rotação. Já a Lua
circuitaria a Terra, enquanto ambas orbitariam o Sol. O período de translação, ou seja, o tempo que
um planeta leva para completar uma volta no Sol, seria diferente para cada um dos planetas. Quanto
mais longínquo do Sol, maior será o tempo de translação. A Teoria Copernicana possibilitou
calcular, com grande precisão, as distâncias planetárias e o tempo de translação.

A teoria Heliocêntrica contradizia as doutrinas


Cristãs, por efeito, temendo a condenação por heresia,
Copérnico preferiu não divulgar o manuscrito. A obra
Copernicana, divulgada postumamente, foi condenada
pela Santa Inquisição. Seus apoiadores eram perseguidos
e condenados, tal qual o filósofo italiano Giordano
Bruno (1548-1600), morto na fogueira em 1600 por heresia.
Mesmo cientificamente, o Heliocentrismo não era aceito
na época. No entanto, no século XVII, Galileu Galilei (1564-
1642), astrônomo italiano, analisou empiricamente, isto é,
com base em observações, ser esse um modelo mais
adequado para explicar as órbitas dos planetas e demais
eventos celestes. Galileu foi coagido a retratar-se perante
a Igreja para evitar a execução. Ainda assim, foi
sentenciado à prisão domiciliar, morrendo em cárcere.

Contudo, astrônomos e cientistas como Johannes


Kepler (1571-1630), que também acreditava ser o Sol o
centro do Universo, e Isaac Newton (1642-1727)
aperfeiçoaram
Figura 2. Mapa Planetário dos Sistemas cada vez mais o
Geocêntricos Ptolomaico e Tychônico modelo, tornando-
se um modelo
descritivo mais aceito pela comunidade científica. Ainda
que Newton defendesse o Heliocentrismo, já em meados de
1680, reconheceu o “desvio do Sol” em relação ao centro de
gravidade do Sistema Solar. Para Isaac Newton, não era o
centro do Sol ou o centro de qualquer outro corpo que
pudesse ser considerado em repouso, mas, em suas
palavras, “o centro de gravidade comum da Terra, do Sol e
de todos os planetas deve ser estimado como o Centro do
Mundo” e esse centro de gravidade “está em repouso ou
avança uniformemente em linha reta”. A Igreja Católica, no
que lhe concerne, aceitou o modelo Heliocentrista apenas
em 1922. Hoje sabe-se que o Sol também não se encontra
no centro do Universo, até mesmo o conceito de centro do
Universo perdeu o sentido com as descobertas
contemporâneas.

Figura3. Foto do livro De revolutionibus orbium coelestium, de


Nicolau Copérnico, representando o Mapa Planetário do Sistema
Heliocêntrico.

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