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2.

O alargamento do conhecimento do mundo

2.1. O contributo português

1. Resume os progressos náuticos e cartográficos dos séculos XV e XVI


Os principais progressos náuticos e cartográficos resultaram do aperfeiçoamento de técnicas muito antigas,
difundidas por Árabes e Judeus:
1. A bússola ou agulha de marear, de origem chinesa, foi importada pelos Árabes, sendo usada na navegação por
rumo (desde finais do século XII era usada para traçar linhas de rumo nas cartas-portulano).
2. O astrolábio, de origem grega, mas também difundido pelos Árabes, permitia, tal como o quadrante, fazer a
navegação astronómica (orientada pela medição da altura dos astros).
3. A balestilha, inventada pelos Portugueses, media a altura dos astros, contribuindo, assim, para a navegação
astronómica.
4. O leme montado no cadaste (peça da popa) permitia mudar de direção mais rapidamente. A tábua quadrienal de
declinação solar permitia a obtenção da latitude.
5. A caravela portuguesa (resultante, provavelmente, do cáravo mourisco) tornou-se na embarcação ideal das viagens
de exploração costeira, enquanto a nau e o galeão se impuseram nas viagens de longo curso.
6. Os guias náuticos e os roteiros resumiam os dados mais relevantes para a navegação (ventos, correntes, etc.).
7. As cartas-portulanos eram mapas onde se assinalavam os portos e as rotas de navegação obtidas por meio da
bússola.

2. Relaciona esses progressos com a apropriação do espaço planetário proporcionado pela expansão marítima

1. As viagens de expansão marítima colocaram problemas novos aos marinheiros: no tempo do infante D. Henrique,
a navegação era ainda costeira, porém, deparava-se com ventos e correntes no regresso da Guiné. A caravela,
navio veloz e manobrável, permitia navegar à bolina (com ventos contrários) graças às suas velas triangulares ou
latinas.
2. As viagens de longo curso, até ao Oriente e à América, exigiam navios maiores (para transportar grandes
quantidades de mercadoria) e mais resistentes (para evitar os naufrágios). A nau e o galeão foram as embarcações
adotadas para esse fim.
3. Para tornar mais fácil a navegação com ventos contrários, abandonou-se a navegação costeira no regresso da
Guiné. Contudo, para a navegação no mar alto a bússola não era suficiente, pois apenas permitia calcular, por
estimativa, as distâncias percorridas (navegação por rumo e estima). Os Portugueses recorreram ao astrolábio e
ao quadrante (que simplificaram) e inventaram a balestilha: estes três instrumentos, associados às tábuas de
declinação solar, eram utilizados para medir a altura dos astros, inaugurando, cerca de 1480, a nova técnica de
navegação: a navegação astronómica.
4. Durante as viagens marítimas eram feitas anotações que deram origem aos guias náuticos e roteiros, os quais
estabeleciam, pela primeira vez, uma base de dados de apoio à navegação fundamentada na experiência direta.
5. Até às viagens de descoberta, a cartografia existente (com origem na Antiguidade e na Idade Média) era errónea:
- os planisférios T-0 representavam a Terra com apenas três continentes (Ásia, Europa e África) num disco plano;
- o planisfério ptolomaico, baseado nas ideias de Ptolomeu, do século II, ainda era usado no século XV como
verdadeiro, apesar de representar erradamente a configuração da África e do Oriente.

6. As viagens de descoberta revelaram a invalidade dos mapas anteriores, substituindo-os por: - cartas-portulanos
da bacia mediterrânea, mais fiáveis e minuciosas;
- cartas com escala de latitudes (a primeira, de Jorge Reinei, data de 1504);
- planisfério de Henricus Martellus (1489): este cartógrafo alemão representou, pela primeira vez, o cabo da Boa
Esperança, em resultado da viagem de Bartolomeu Dias (1487-88);
- planisfério de Cantino (1502): já representa uma parte do litoral brasileiro (que os Portugueses descobriram em
1500) e a África aparece representada com bastante exatidão.

3. Sintetiza os grandes contributos da expansão marítima, nomeadamente da portuguesa, nos domínios da


Geografia física e humana, da Botânica, da Zoologia e da Cosmografia
Os Portugueses operaram uma verdadeira revolução nos conhecimentos, descobrindo, nomeadamente, que as regiões
equatoriais eram habitáveis e que a comunicação entre os oceanos Atlântico e índico era possível. Graças à navegação
astronómica, a cartografia registou um grande avanço, com base em informações exatas quanto aos contornos
geográficos e às distâncias.
O encontro com outros povos e regiões deu a conhecer novas culturas, novas faunas (por exemplo, o elefante e a girafa
eram, anteriormente, animais desconhecidos dos Europeus) e novas floras (plantas como o ananás ou a manga),
provocando a surpresa tanto nos povos descobridores como nos "descobertos" (basta lembrar o espanto e o receio dos
índios do Brasil ao verem as galinhas trazidas da Europa pelos Portugueses, numa cena que Pêro Vaz de Caminha tão
bem descreveu na sua Carta de Pêro Vaz de Caminha a E/-Rei D. Manuel).
Por último, no que diz respeito à cosmografia, as viagens de descoberta tornaram impossível sustentar as antigas
noções sobre o universo, muito em especial no que diz respeito à teoria geocêntrica.

2.2. O conhecimento científico da Natureza

4. Sublinha o carácter experiencialista deste novo saber proporcionado pela Expansão


Enquanto o saber medieval era baseado na autoridade dos antigos, cujos escritos constituíam verdades
inquestionáveis, na Idade Moderna, em virtude do contacto direto com outros continentes aquando da Expansão
ultramarina, privilegia-se um novo tipo de saber, a que chamamos experiencialista, ou seja, baseado na observação e
descrição direta da Natureza.
Na defesa deste saber empírico salientaram-se D. João de Castro, que reuniu nos seus Roteiros informações
geográficas e cosmográficas precisas, e Duarte Pacheco Pereira, geógrafo e cosmógrafo que mostrou a evidência dos
enganos dos autores antigos, afirmando explicita- mente que "a experiência é madre das cousas”.

Paralelamente ao experiencialismo, afirmou-se, a pouco e pouco, uma mentalidade quantitativa: para que a observação
se tornasse objetiva, era fundamental recorrer ao número.

5. Distinguir o experiencialismo da ciência moderna


O experiencialismo, apesar do seu contributo para o espírito crítico, não era, ainda, o espírito científico na medida em
que se baseava mais nos sentidos e no bom senso do que em hipóteses verificadas pela experiência. A ciência só
nasceria, verdadeiramente, no século XVII.

6. Interpretar a revolução cosmológica coperniciana, completada por Galileu, como uma manifestação da
ciência moderna
O nascimento da ciência moderna é indissociável da afirmação da Matemática como linguagem científica universal.
Leonardo da Vinci, em Itália, já defendia a verificação matemática das hipóteses; em Portugal, Pedro Nunes defendia,
igualmente, as demonstrações matemáticas.
Um dos aspetos que gerou mais polémica na Idade Moderna, e no qual a Matemática teve um papel decisivo, foi a
questão da visão cosmológica (do universo). A teoria aceite desde os antigos (Aristóteles e Ptolomeu) era geocêntrica,
o que agradava à Igreja católica por colocar no centro do Universo a Terra, imóvel, e com ela os homens, criação de
Deus.
No entanto, Nicolau Copérnico concluiu, no século XVI, a partir da observação astronómica, que o Sol era o centro do
Universo, à volta do qual girariam as esferas celestes, incluindo a Terra. A teoria heliocêntrica resultou, em grande
parte, de cálculos matemáticos, e viria a provocar uma verdadeira revolução cosmológica, cujos efeitos se sentiram,
sobretudo, no século XVII: depois das formulações de Tycho Brahe (dinamarquês) e de Kepler (alemão), o italiano
Galileu Galilei inaugurou o pensamento científico moderno. Este assentava na realização de experiências com
telescópio (a luneta astronómica, por ele inventada), na utilização da Matemática como linguagem universal e num
profundo espírito crítico que, arriscando a própria vida, não o impediu de divulgar a teoria heliocêntrica. Apesar da
perseguição movida pela Inquisição, as ideias de Galileu (de que se destacam, além da teoria heliocêntrica, a
descoberta da lei da queda dos corpos, das fases da Lua, dos anéis de Saturno, dos satélites de Júpiter, das manchas
solares) impuseram-se pela demonstração dos factos, nascendo, assim, a ciência moderna

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