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“Em nenhuma outra época desde a fundação das sociedades o círculo das idéias se
ampliou de forma repentina e maravilhosa, no que se refere ao mundo exterior e às
relações de espaço. Jamais se sentiu com tanta veemência a necessidade de
observar a Natureza em latitudes diferentes e em diversos graus de altitude do
nível do mar, nem de multiplicar os meios cuja virtude pode obrigá-la a revelar
seus segredos”.2
Não cabe nenhuma dúvida sobre a profunda novidade que implicou o esforço de
integração de fenômenos diversos de caráter humano e natural nessas obras que
contribuíram decisivamente para sistematizar e difundir as notícias do Novo Mundo
e que, ao mesmo tempo, puderam converter-se também em modelos de uma nova
forma de descrever o mundo. Sem dúvida, é surpreendente que esses autores
puderam converter um gênero historiográfico tão tipicamente medieval como as
crônicas num instrumento moderno de organização de conhecimentos e de reflexão
científica do mundo geográfico.
Situadas nessa tradição, as crônicas, essas “histórias nas quais se observa a ordem
dos tempos” incluíam frequentemente na Idade Média preâmbulos geográficos e
podiam também se referir a aspectos tais como o caráter dos povos, os
monumentos, as letras ou os homens ilustres, a explicação do mundo natural
através dos seis dias da criação, a descrição de todo orbe terrestre ou de territórios
particulares. A crônica trazia uma tradição, cujas raízes eram antigas, e que
conduzia facilmente à integração entre a Geografia e a História. Não somente a
História Geral, mas também os sucessos particulares como as conquistas de
territórios. Os cronistas de um rei ou reino, historiadores tinham a obrigação de
relatar os sucessos do reinado, a preocupação de mostrar as origens desses fatos,
o que os levava a compilar em materiais diversos, desde anais históricos até
poemas e lendas populares, passando por notícias de escritores sagrados e
clássicos. Desde a Idade Média existia tanto o cargo de cronista como a capacidade
deles para observar lucidamente os acontecimentos contemporâneos, e por sua
vez, sistematizar, com maior ou menor crítica, os materiais provenientes de
diferentes fontes.
No que diz respeito à percepção favorável do meio natural, o padre Las Casas foi
um continuador da visão otimista transmitida pelos primeiros descobridores, visão
iniciada por Colombo, que apresentou uma imagem paradisíaca das terras por ele
descobertas. Em Las Casas, isso se converteu numa afirmação dos efeitos
favoráveis da natureza americana sobre os habitantes, apoiando a sua tese
político-antropológica em defesa da dignidade dos indígenas. Por seus objetivos e
conclusões sua obra é verdadeiramente excepcional.
Quadro 1
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Referências
Benavente (Motolinia), Fray Toribio de. Historia de los Índios de la Nueva España
(1541). Madrid: Alianza Editorial, 1988.
Las Casas, Bartolomé de, Historia de las Índias. Mexico. Fondo de Cultura
Económica, 1951.
Mariño De Lobera, Pedro. Cronica delReino de Chile, escrita por el Capitan dirigida
al Excelentisimo Sr. D. García Hurtado de Mendoza, marqués de Cañete ...
Biblioteca de Autores Españoles, Tomo CXXXI, Madrid: Atlas, 1960.
Zarate, Agustín de, Historia del Descubrimiento y Conquista de la Provincia del Perú
y de las Guerras y Cosas en ella Acaecidas Hasta el Vencimiento de Gonzalo Pizarro
y de sus Secuaces, que en Ella se rebelaron Contra su Majestad, Por... Contador de
Mercedes de la Majestad Cesárea (Amberes, 1555), en Historiadores Primitivos de
Índias, II, (Biblioteca de Autores Españoles, tomo XXVI), Madrid: Atlas, 1947.
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Notas
1 O artigo original no qual este se baseia foi publicado sob o título Naturaleza y
Cultura: América y el Nacimiento de la Geografia Moderna, na coletânea História da
Ciência: o mapa do conhecimento, organizada por Ana Maria Alfonso-Goldfarb e
Carlos A. Maia. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura/São Paulo: Edusp, 1995. p. 247-
306.
3 Outros exemplos podem ser citados como São Isidoro (Isidoro de Sevilha) que
escreveu De Natura Rerum que podia ser lida como uma introdução às suas duas
grandes obras históricas – Chronicon e Historia Regibus Gothorum, Wandalorum et
Suevorm