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O contributo português
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O saber português do século XV e XVI contribuiu para o exercício do espírito crítico que se
encontra nas raízes do pensamento moderno. Os novos conhecimentos, derivados do
experiencialismo, resumiram-se, na maior parte dos casos, a observações e descrições da
Natureza.
Leonardo da Vinci teve um papel precursor na afirmação de uma nova mentalidade científica.
Nicolau Copérnico negou Ptolomeu e expôs a sua teoria na obra “De Revolutionbus Orbium
Coelestium”. Defende que o Sol está no centro do universo (teoria heliocêntrica) e todas as
esferas celestes, incluindo a Terra, giram ao seu redor, num movimento chamado translação,
tal como giram em torno do próprio centro, num movimento de rotação.
As repercussões culturais das conclusões de Copérnico não foram sentidas. No entanto, outros
continuaram o caminho iniciado por ele. Outros sábios, com as suas teorias explicativas e os
seus dados experimentais, abalaram o universo geocêntrico de Ptolomeu e a doutrina da
Igreja. Inicia-se uma verdadeira revolução das conceções cosmológicas.
Estas novas descobertas foram perseguidas pela Inquisição e muitas das obras publicadas que
defendiam as teorias heliocêntricas foram colocadas no Índex (lista de livros publicada pela
Igreja Católica, cuja leitura era proibida aos católicos).
A PRODUÇÃO CULTURAL
Os séculos XV e XVI foram conhecidos por um grande crescimento económico. As elites sociais,
ou cortesãs, onde se misturavam nobres e burgueses ligados ao comércio e à finança,
enriqueceram. Desenvolvem formas de exteriorizar a sua riqueza e ascensão social: luxo,
conforto, festas. As elites rodeavam-se de luxo e ostentação, com vestes sumptuosas, ricos
palácios e solares, banquetes faustosos. Praticavam o mecenato (proteção da arte e da
cultura) ao investir na aquisição de obras de arte e no reforço das suas bibliotecas.
Às elites se deve a criação de famosas cortes, como a dos Médicis em Florença ou a dos
duques de Urbino. As cortes constituíram um circulo privilegiado da cultura e da sociabilidade
renascentistas. Fomentaram a erudição humanista e os talentos artísticos, pelo que se
converteram em focos de poderoso mecenato.
A vida quotidiana das elites cortesãs era condicionada por exigentes regras de comportamento
social conhecidas por civilidade. Instruíam sobre o modo como se deveria comer, vestir,
cumprimentar, falar, estar e, ainda, sobre preceitos de higiene pessoal.
O estatuto social do artista e do intelectual torna-se mais importante, vistos com prestígio e
consideração por parte do Renascentismo.
Patrocinaram grandes obras arquitectónicas, levadas a cabo nos mosteiros da Batalha e dos
Jerónimos, na Torre de Belém ou no Convento de Cristo em Tomar.
Quanto às festas realizadas, ficou famosa a boda celebrada em Évora, em 1490, do príncipe D.
Afonso, filho de D. João II, com a princesa D. Isabel, filha dos Reis Católicos.
Pico Della Mirandola foi um dos primeiros humanistas, conhecido por ter escrito uma das mais
belas páginas sobre a dignidade do Homem.
Em Portugal, Luís de Camões cantou, em Lusíadas, a glórias dos feitos heróicos portugueses,
tal como, Virgílio fizera, na Eneida, com o povo romano. Verificou-se um movimento de
afirmação das línguas nacionais, que adquiriram regras gramaticais mais precisas,
uniformidade ortográfica e um vocabulário elegante.
Os humanistas escreveram grande parte da sua obra nas respetivas línguas nacionais, o que
permitiu que mais pessoas lessem as suas obras.
Esta consciência da modernidade levou aos humanistas a entenderem o estudo dos clássicos
não como um fim, mas antes como um instrumento formativo que possibilita ao indivíduo o
desenvolvimento das suas capacidades intelectuais e morais e o auxilia a conhecer-se a si
próprio e ao mundo.
O Renascimento assistiu a uma autêntica revolução no campo da arte. A nova estética irradiou
da Itália e apresentou-se marcada pelo classicismo.
A pintura
Na Flandres, século XV, Jan van Eyck inventa a técnica do óleo. Realizada sobre madeira ou
tela, a pintura de óleo conheceu uma grande aceitação, não só pela sua durabilidade e
possibilidades de retoque, mas também na possibilidade de realizar velaturas (transparências),
empates (grande espessura de tinta), gradações cromáticas e a elaboração de modelados
(técnica para obter, por meio de gradações cromáticas, a ilusão de volume).
No século XVI, Leonardo da Vinci tornou-se um grande teórico da perspectiva aérea, onde
utilizava igualmente o sfumato, gradação ou esbatimento da luz e da cor.
Relacionado com o novo olhar que a Humanidade tinha do Mundo, a perspectiva representou
uma autêntica desmontagem do conceito medieval de espaço.
Para a composição das cenas, os pintores renascentistas adotaram formas geométricas, com
preferência pela piramidal. Considera-se que perspectiva e geometria foram os grandes
fundamentos da composição artística no Renascimento.
A procura da proporção entre as dimensões preocupava. A verdade é que só no Renascimento
o espaço pictórico foi construído com um rigor matemático, indo-se ao ponto de o projetar a
partir de uma medida-padrão (módulo), que servia de referência para as diferentes dimensões.
A escultura
A arquitetura
Para além dos aspetos estruturais, a influência da Antiguidade fez-se também sentir na adoção
da gramática decorativa greco-romana:
Pela Europa fora, os palácios italianos serviram de modelo a reis, príncipes e elites sociais. Em
França, por exemplo, o castelo do Vale do Loire, erguidos nas primeiras décadas do século XVI,
testemunham o gosto francês pela arte italiana.
Desde o século XIX, o Manuelino foi considerado um estilo artístico vincadamente português,
com fortes ligações às Descobertas marítimas. O Manuelino é uma arte heterogénea e
manifesta-se na arquitetura e na decoração arquitectónica e nele se misturam:
Do ponto de vista estrutural, o estilo gótico foi mantido, embora se introduzissem algumas
alterações. Os arcos quebrados associam-se a uma profusão de arcos de carena ou conopiais,
de asa de cesto, abatidos, tri e polilobados, de ferradura, redondos. As abóbadas apresentam
redes complexas de nervuras, algumas delas curvas, denominadas “combados”. A abóbada
rebaixada surge como um avanço tecnológico relativamente ao Gótico, estando na origem da
chamada igreja-salão, que se espalhará pelo século XVI. João de Castilho deixou-nos um
exemplar na Igreja do Mosteiro dos Jerónimos.
Quanto à arquitetura civil, destacamos a Casa dos Bicos, em Lisboa, e o Palácio da Quinta da
Bacalhoa, em Azeitão. João de Castilho, seu irmão Diogo de Castilho, Miguel de Arruda e Diogo
de Torralva contam-se entre os arquitetos que mais se esforçaram por aplicar o Classicismo
entre nós.
Entre fins do século XV e a primeira metade do século XVI, fala-se num surto escultório, seja na
decoração de púlpitos, pias batismais, seja na estatuária de túmulos, portais e altares. A artista
nacionais e estrangeiros devemos uma obra multifacetada, de crescente capacidade técnica,
onde o Gótico, o Manuelino e o Classicismo se fundem harmoniosamente. Nomes famosos da
escultura foram os de:
Diogo Pires, o Moço;
João de Castilho e Diogo de Arruda;
Nicolau Chanterenne, João de Ruão e Filipe Hodarte, os três de nacionalidade
francesa.
Entre meados do século XV e a primeira metade do século XVI, verifica-se uma renovação na
pintura portuguesa, que se aproxima do Renascimento europeu. A tal facto não foram alheios
os contactos culturais, patrocinados pela dinastia de Avis, com a Flandres, a Itália e a
Alemanha.
Nuno Gonçalves e a sua oficina destacaram-se, no século XV, pela aplicação dos valores
renascentistas na pintura portuguesa. Pintor régio de D. Afonso V, a sua atividade estendeu-se
ao longo da segunda metade de Quatrocentos. Os famosos Painéis de S. Vicente testemunham
a abertura da nossa abertura da nossa pintura à inovação pictórica do tempo.
Nos fins da época medieval, a radicalização de posições levou à rutura teológica de Lutero e
Calvino. As grandes calamidades dos séculos XIV e XV (fomes, guerras e pestes) desenvolveram
nas pessoas um clima de pessimismo. Acreditava-se na presença de um Deus castigador dos
pecados dos homens.
Para agravar a situação, a Igreja está dividida. Entre 1378 e 1417, o Cisma do Ocidente
manteve a Cristandade dividida na obediência a dois papas: um em Roma e outro em Avinhão
(cidade francesa). Os papas renascentistas levavam uma vida um pouco condizente com as
ideias cristãs, tal que não foram modelos de virtudes nem de discórdia. Os maus exemplos
abundavam em toda a hierarquia católica. Na igreja abundava o abandono espiritual dos fiéis,
o absentismo do clero e a dissolução dos costumes.
Serve de exemplo, Júlio II imiscuiu-se nas guerras de Itália, desejoso de aumentar o poderio
temporal no Vaticano e Leão X escandalizou com o luxo da sua corte.
As práticas religiosas
Por outro lado, protagonizaram práticas de novas formas de piedade mais intimistas e
individualistas, como a Devotio Moderna, nos Países Baixos, que defendia uma vida humilde,
de devoção a Deus e a prática da solidariedade. Na obra “Imitação de Cristo”, escrita em língua
vulgar, o monge alemão, Thomas Kempis defende os princípios da Devotio Moderna. Exerceu
uma forte influência no individualismo religioso do século XV.
As críticas à Igreja
As críticas à Igreja começaram por assumir uma faceta herética. John Wiclif, professor em
Oxford, põe em dúvida a utilidade do clero e a validade dos sacramentos. Apelou ao estudo
direto da Bíblia que considerava a única fonte de Fé e, assim, associada a esta heresia, esteve o
movimento dos lolardos, padre pobres que se associavam aos camponeses na sua luta contra
os senhores.
Jan Huss, reitor da Universidade de Praga, apoiou as ideias de Wiclif e ainda defendeu a
criação de uma Igreja Nacional, desligada da obediência ao Papa. Savonarola, monge italiano,
denunciou os vícios do clero e do Papa Alexandre VI, bem como instigou à revolta contra a
família Médicis. Muitos destes homens foram condenados pelo tribunal da Inquisição e
morreram na fogueira.
Muitos humanistas, como Erasmo de Roterdão, criticaram as práticas da Igreja, a corrupção e a
hipocrisia do clero em geral. Todas estas polémicas e contestações abriram caminho à
Reforma.
A Reforma da Igreja concretizou-se no século XVI devido à ação de Martinho Lutero, monge
agostinho, dotado de elevada espiritualidade e desejoso do contacto próximo com Deus,
colocava a si próprio permanentemente a questão: “Como pode alguém levar uma vida
perfeita perante Deus?”.
Surge uma verdadeira rutura teológica no seio do cristianismo, tal ficou conhecido por
Reforma Protestante e foi despoletada pela Questão das Indulgências. Em 1515, o Papa Leão
X, na necessidade de dinheiro para obras na Basílica de São Pedro (Vaticanos), autorizou a
pregação de venda de indulgências.
Contra isto se revoltou Lutero quando, no dia 31 de Outubro de 1517, afixou na porta da
Catedral de Wittenberg as “85 Teses Contra as Indulgências”, onde acusava o papa e os
dogmas da Igreja, pois afirmava que a salvação depende da Fé e não de boas obras.
A Igreja considerou estas novas ideias uma heresia e, em 1521, Lutero foi excomungado e
expulso do Império. No entanto, reuniu forças e impôs uma doutrina – o Luteranismo.
O Luteranismo
A imprensa, invenção alemã, contribuiu para a divulgação da nova Fé. Muitos humanistas
justificaram as ideias luteranas, como o teólogo Philipp Melacnhton que redigiu o credo
protestante conhecido por “Confissão de Augsburgo”. Artistas, como Durer ou os Carnach,
colocaram os seus talentos ao serviço da propaganda luterana.
O calvinismo
Em 1536, João Calvino fixou-se em Genebra, onde publicou a tradução francesa de “Da
instituição da religião cristã”, onde defende a sua doutrina, o calvinismo.
Quanto ao papel da Bíblia como única fonte de Fé, Calvino defendeu só a ele competir
interpretação do Evangelho. Quanto aos sacramentos, reconheceu o Batismo e a Eucaristia,
esta com simples presença espiritual de Cristo.
Não aceitou a ideia de Lutero da chefia da Igreja ser entregue aos chefes de Estado, pelo
contrário, defendeu a supremacia da Igreja sobre o Estado. Assim, levou a transformar
Genebra numa sociedade teocrática dirigida por um consistório eclesiástico, através do qual
perseguia católicos e protestantes.
O Anglicanismo
O rei inglês, Henrique VIII solicitou ao Papa Clemente VII a anulação do matrimónio, que este
recusou. Face à recusa, o monarca proclamou o Ato da Supremacia (1534) que o tornou o
chefe supremo da Igreja Inglesa. Henrique autorizou a tradução da Bíblia e secularizou os bens
das ordens religiosas mas manteve-se fiel à doutrina católica.
No reinado do seu filho, Eduardo VI, a igreja inglesa identificou-se com o calvinismo, ao
contemplar apenas os sacramentos do Batismo e da Eucaristia (com presença espiritual de
Cristo), ao proibir o culto das imagens e suprimir os altares.
O Concílio do Trento
Em 1545, reuniu-se o Concílio de Trento, convocado pelo Papa Paulo III, que pretendia debelar
a crise da Cristandade. Terminou os seus trabalhos em 1563, com uma condenação inequívoca
do protestantismo.
O Concílio de Trento pôs em prática uma reforma disciplinar. Para o efeito decretou:
Pio V, Gregório XIII e Sisto V foram três grandes papas reformadores a quem coube a
implementação das decisões do Concílio. Entre as medidas tomadas, publicou-se um
Catecismo, com a compilação dos princípios doutrinais decididos em Trento, de um breviário e
de um missal, destinados a regular a oração e o culto.
O Índex
Os fiéis católicos deveriam ser afastados das heresias e por isso deveriam ser proibidos de ler
os livros que colocavam a Fé católica em causa. Obras dos escritos dos reformados e de
conteúdo humanístico e científico deveriam passar pela prevenção e vigilância intelectual da
Cristandade.
Em 1543, foi criada a Congregação do Índex para elaborar a lista das obras consideradas
perigosas para a ortodoxia católica, esta conhecida pelo nome de Índex. Esta lista teve
consequências culturais perniciosas para o desenvolvimento cultural dos países do espaço
católico, e fomentaram o atraso em relação ao mundo protestante. Muitos dos livros que
foram colocados no Índex diziam respeito a publicações filosóficas e científicas, de autores
como Galileu, Descartes, Newton e Leibniz.
A Inquisição
A Inquisição (Santo Ofício) tinha sido criada em 1231, passava de um tribunal religioso criado
para combater as heresias que assolavam a Europa católica. A sua reativação foi considerada
uma forma de combater o protestantismo.
A Companhia de Jesus foi uma das muitas congregações religiosas que, surgidas no contexto
da Contrarreforma, contribuíram para a renovação do catolicismo.
Nasceu em Paris, em 1534, por iniciativa de Inácio de Loyola. O seu proselitismo contribuiu
para a expansão do catolicismo. A Companhia de Jesus funcionava como uma organização
militar, era dirigida por um general ou geral, que superintendia nas províncias. Submetidos a
uma rigorosa disciplina, os jesuítas eram considerados “Soldados de Cristo”, acrescentando
aos três votos tradicionalmente mencionados (pobreza, castidade, obediência ao superior),
proclamavam, ainda, a obediência incondicional ao Papa.
Como missionários, chegaram aos confins da Ásia, América e da África. Como professores, os
jesuítas distinguiram-se pela sua rede de colégios que forneciam um excelente ensino
secundário e uma sólida formação civil, o que permitiu uma ascendência sobre a juventude.
Como pregadores, desenvolveram a arte da oratória nos seus sermões.
O Concílio de Trento e a Companhia de Jesus
A Inquisição e o Índex
Portugal via-se mergulhado na inveja, denúncia e intriga. A Inquisição deixou marcas terríveis
na sociedade portuguesa contribuindo para o atraso do país. Impôs severos padrões morais e
doutrinais, que modelaram as consciências e os comportamentos. Inculcou um angustiante
sentimento de pecado e da culpa. Instalou o medo da punição, terrestre e divina.