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A IMPLEMENTAÇÃO DA TECNOLOGIA DE PASTEFILL NA MINERAÇÃO

CARAÍBA BAHIA – BRASIL

Silvano Andrade, Mineração Caraíba, Chefe do Setor de Desenvolvimento e Geotecnia


disum@mineracaocaraiba.com.br
Paulo Henrique P. de Almeida, Mineração Caraíba, Gerente de Produção de Concentrado
dipom@mineracaocaraiba.com.br
David Landriault, Golder Associates, Presidente
Douglas Morrison, Golder Associates Brasil, Especialista Sênior Mineração

RESUMO

Para implementar seu projeto de aprofundamento da mina subterrânea de cobre, a


Mineração Caraíba decidiu introduzir backfill em sua operação de lavra. Foram estudados os
métodos de enchimento hidráulico, com rocha (rockfill) e com pasta (pastefill), sendo este
último o escolhido. São mostrados neste trabalho o projeto da planta e sistema de
distribuição no subsolo, as características do rejeito da mina e sua adequação ao processo,
os testes preliminares feitos para seleção de equipamentos e definição de parâmetros
operacionais, bem como a rotina de operação da planta e as melhorias implantadas. Além
disso, são discutidos os parâmetros de transportabilidade e características da pasta, seus
limites de resistência, porcentagem de cimento, tipos de barricadas usadas, bem como os
principais problemas e soluções adotadas.

Palavras Chaves: Pastefill, Backfill, enchimento com pasta, Mineração Caraíba

ABSTRACT

In order to implement the deepening of the underground copper mine at Caraíba, it was
decided to introduce backfill into the mining operation. After studying the options of hydraulic
slurry, rock fill and paste fill, the latter was chosen. The following aspects of this
implementation process will be discussed; the underground distribution system, the essential
characteristics of the tailings needed for the process, the preliminary tests done to make the
equipment selection and define the operational parameters. These will be presented as part
of the routine operation and improvement of the plant. Also, the transportation parameters,
the paste characteristics, strength properties, percentage cement, type of barricades used
will be discussed along with the major problems and solutions.

Key words: Paste fill, Back fill, backfill as paste, Caraíba Mine.
INTRODUÇÃO

A Mineração Caraíba iniciou em 1995 o estudo de viabilidade técnica e econômica para


aprofundar sua mina subterrânea de cobre, localizada em Jaguarari, estado da Bahia, Brasil.
O objetivo principal deste projeto era dar continuidade às suas operações, já que a exaustão
das reservas da mina a céu aberto e da primeira etapa do projeto da subterrânea estava
prevista para 1998. Foi cubada a continuidade do corpo em profundidade, resultando em
uma reserva geológica de 14 milhões de toneladas, com teor médio de 2,5% de cobre. A
partir de 1998 a mina subterrânea passou,então, a produzir 1,2 milhões de toneladas de
minério de cobre por ano.

O projeto para a continuidade da lavra subterrânea sofreu transformações significativas,


principalmente a modernização e aquisição de novos equipamentos, a modificação do
método e concepção de lavra e a introdução de backfill. Como método de enchimento foram
comparados o enchimento hidráulico, enchimento com rocha (rockfill) e enchimento com
pasta (pastefill), sendo que este último foi o implantado. Por ser uma tecnologia de uso
recente na mineração e sendo esta a primeira planta na América Latina, foi contratada a
Golder Pastetec Technology (Canadá) para assessoria na implementação da planta e do
sistema de distribuição da pasta no subsolo.

Inicialmente previsto como meio de elevar o aproveitamento da reserva lavrável, de 45%


para 80%, o enchimento dos realces lavrados com pasta de rejeito da flotação (pastefill) se
mostrou como condição técnica fundamental para a estabilidade geral das escavações
subterrâneas. Desta forma se implantou um sistema de lavra totalmente novo e com reflexos
positivos em outras áreas do empreendimento.

INTRODUÇÃO DO BACKFILL NA LAVRA

A mina subterrânea foi lavrada inicialmente pelo método sub-level stopping (lavra por sub-
níveis) com realces mantidos abertos e pilares com escavações da ordem de 30 m de
largura, 60 a 100 m de comprimento e 95 m de altura, cada realce. Como suporte adicional
eram usados cable bolting nas paredes e ocasionalmente nos tetos. Os realces eram
dispostos longitudinalmente na direção NS, que coincide com a direção do corpo
mineralizado. Um overbreak de cerca de 30% influía negativamente, causando diluição do
minério. Havia também uma forte relação entre o tempo de lavra e a estabilidade dos
realces. Foi constatado um contínuo e acentuado desplacamento nos tetos de alguns
realces mantidos abertos ao longo do tempo com altura de até 100 m, o que culminou com o
comprometimento do crown pillar que separa as minas a céu aberto e a subterrânea.

Isto chegou a paralisar temporariamente a produção da mina a céu aberto (por estar sob a
rampa principal de acesso e de produção), enquanto se determinava a extensão real do
desplacamento. Para a estabilização do pilar foi feito um levantamento da cavidade usando-
se um aparelho a laser com varredura automática, projetada e executada uma chaminé que
foi usada para enchimento da cavidade com o próprio estéril da mina. Nesta ocasião foram
levantados todos os tetos dos realces abertos já lavrados no painel 1 da mina (abaixo da
mina a céu aberto). Ficou evidente a incompatibilidade entre as dimensões usadas nesses
realces e as condições do maciço rochoso para manter a estabilidade das escavações.

Em função disto, a utilização do enchimento dos realces tornou-se obrigatória, do ponto de


vista técnico e econômico, sem os quais os problemas de estabilidade não permitiriam a
lavra segura e econômica dos painéis inferiores.

No projeto de aprofundamento da mina subterrânea, além do enchimento com pasta, outras


modificações foram introduzidas para otimizar a extração, tais como:
 redução nas dimensões dos realces para 20 m de largura, 30 m de comprimento e 60 m
de altura.
 mudança na direção dos mesmos, de longitudinal para transversal, mais favorável tanto
do ponto de vista estrutural quanto em relação às tensões, e com uma menor exposição
de paredes em contato com o estéril.
 Alteração do método de lavra principal para VRM – Vertical Retreat Mining, diminuindo o
tempo de lavra, acelerando o desmonte e a extração.

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE OS MÉTODOS DE ENCHIMENTO

Uma vez decidido pela utilização de backfill, foi feito um estudo comparativo entre os três
métodos mais comumente utilizados: enchimento hidráulico, enchimento com rocha (rockfill)
e enchimento com pasta (pastefill), sendo este último o escolhido.

O enchimento hidráulico tem o inconveniente de se ter obrigatoriamente uma boa drenagem


dentro do realce durante o enchimento e ainda ter que bombear de volta a água captada na
parte inferior do mesmo. Além disso é mais indicado nos métodos de corte e enchimento,
onde serve como piso para o próximo corte, mas não têm exposição das paredes do
enchimento.

O enchimento com rocha teria um custo de investimento menor que com pasta, mas o custo
operacional seria cerca de 50% maior, o que não recomendou sua adoção após análise do
fluxo de caixa (Golder, 1996). Outras desvantagens seriam a necessidade do aumento da
frota de caminhões circulando na mina para transporte do enchimento, o que demandaria
um incremento na necessidade de ventilação e um maior trânsito de equipamentos,
interferindo na produtividade dos equipamentos de produção.

Desse modo ficou decidido pela construção de uma planta para produção de pasta,
aproveitando os rejeitos espessados da flotação.

ESTUDOS DE CARACTERIZAÇÃO DA PASTA

A fim de selecionar os equipamentos e determinar os parâmetros de operação, foram


realizados os seguintes testes com os rejeitos da flotação (Golder, 1997):

Distribuição Granulométrica

Foi feita para verificar se a granulometria era adequada para produzir a pasta. O ideal é uma
distribuição regular com pelo menos 25% abaixo de 20 micra. O rejeito Caraíba pode ser
considerado grosso quando comparado com outras minas e isto exigirá cuidados na
preparação da pasta.

Composição Química e Mineralógica

Para verificar a existência de componentes que poderão favorecer ou prejudicar o efeito


catalizador do cimento. No nosso caso o alto teor de Al2O3 poderia elevar o tempo de cura.
Por outro lado, o alto teor de Fe2O3 poderia compensar parcialmente o efeito negativo do
Al2O3 , e para verificar a tenacidade dos minerais que compõem a pasta.

Reologia da Pasta

Ensaio realizado para verificar as condições do transporte por gravidade da pasta. Quanto
tempo poderá ficar a coluna de pasta estacionada na linha sem risco de entupimento? Qual
slump (norma ASTM 305 mm) ideal para transporte da pasta? No caso da Caraíba,
verificou-se que pequenas variações na percentagem de sólidos (apenas 2%) poderão gerar
grandes variações no slump (de 10” a 7”). Esta informação indicou que precisaríamos ter um
controle muito preciso na preparação da pasta e que deveríamos adotar um sistema de
transporte de pasta seguro o suficiente para não permitir em hipótese alguma a interrupção
do fluxo por mais de 15 minutos, além de orientar a escolha do processo de preparação da
pasta (contínuo ou por batelada).

Sedimentação e Filtragem

Uma vez que o rejeito da flotação era espessado até atingir o percentual de sólidos de 45%
e em seguida enviado para deposição em barragem e a pasta requeria um percentual de
sólidos de 78 a 80% fez-se necessário redefinir todo o processo de preparação até o ponto
de adição do cimento.

A elevação do percentual de sólidos de 30 a 80% através do uso de apenas equipamentos


de decantação (uso do PPSM – Paste Production and Storage Mechanism) não foi
recomendada. A alternativa escolhida foi a elevação do percentual de sólidos de 30 a 64%
nos atuais espessadores e posteriormente até 85% via filtragem em filtros de disco. Estes
estudos permitiram a adaptação dos espessadores de rejeito e o dimensionamento da
planta de filtragem do rejeito.

Resistência à Compressão do Enchimento

A fim de determinar o percentual de cimento ideal para a pasta e consequentemente o


impacto do principal item de custo do pastefill foram realizados vários ensaios para
determinar a resistência à compressão uniaxial em função da percentual de cimento, slump
e tempo de cura. A receita ideal indicou um percentual de cimento médio de 3,5 , slump de
8” para um tempo de cura de 28 dias. Este valor médio de 3,5% corresponderia a 5% para
os realces e 1,5% para os pilares. O impacto do gasto com cimento implica em 70% do
gasto total do pastefill.

Bombeamento da Pasta

A simulação do transporte da pasta foi fundamental para a conclusão dos estudos e assim
possibilitou a conclusão da engenharia do projeto. Foi construída uma linha de 6” com 218,6
metros e realizados dois testes em circuito fechado. Foi determinada a perda de carga por
metro em função do slump. Os dados levantados permitiram definir a localização da planta
de modo a possibilitar o transporte por gravidade para qualquer ponto na mina e o slump na
faixa de 8”a 9”. Confirmaram a necessidade de lavagem da linha com água e ar toda vez
que ocorresse uma parada do fluxo acima de 15 minutos.

PROJETO DA PLANTA

A empresa canadense encarregada do projeto já tinha desenvolvido outro projeto similar na


Austrália. A fim de reduzir custos e o tempo de elaboração do projeto, a Caraíba optou por
adquirir o projeto australiano e adaptá-lo às suas condições. Para tanto foi contratada uma
empresa de engenharia nacional que junto com a equipe da Caraíba realizou a adequação.
O trabalho de adequação além de compreender o ajuste do projeto aos padrões brasileiros
envolveu a especificação de todos os materiais para compra e a simplificação de vários
processos que refletiram na redução do custo de implantação previsto.
Os pontos mais importantes foram os seguintes:

 controle da operação: opção por um sistema utilizando tecnologia de PLC’s, inversores


de frequência para motores, válvulas pneumáticas, sensores de nível, células de carga e
software supervisório
 capacidade da planta: definida uma capacidade em que todo o rejeito produzido na
flotação seria transformado em pasta. Três pontos justificaram esta opção:
1. Questão ambiental: possibilidade de filtragem de todo o rejeito e deposição na cava
da mina a céu aberto exaurida em novembro de 1998, possibilitando a recuperação
imediata de toda área degradada pela deposição dos rejeitos.
2. Questão técnica/econômica: apenas 50% do rejeito seria aproveitado no backfill ,
isto exigiria enviar para a barragem, distante 4 km, apenas metade do rejeito. Para
mantermos a elevada recuperação de água obtida com a filtragem do rejeito seria
necessário implantar um novo sistema de bombeamento com investimento muito
mais elevado que o previsto para bombear todo o rejeito com a mesma recuperação
d’água.
3. Rapidez no enchimento dos realces: ponto muito positivo para a estabilidade das
escavações. Uma vez concluída a lavra de um realce quanto mais cedo realizar o
seu enchimento melhor.

 redução da capacidade dos silos de cimento e tanque pulmão de rejeito:


proximidade com os fabricantes de cimento viabilizou um esquema just in time para
entrega de cimento. Novo sistema de bombeamento de rejeitos permitiu a redução à
metade do tanque pulmão junto à planta de pastefill.
 eliminação de bombas e tanques de água de processo: a topografia e localização
dos atuais reservatórios de água bruta permitiram o envio de água bruta por gravidade a
partir dos mesmos.
 eliminação de diversas válvulas e equipamentos stand-by: o regime de operação
intermitente facilitou a manutenção eliminando uma série de equipamentos.
 uso de filtros de discos : possibilidade de intercambialidade de peças com os
equipamentos em operação na planta de produção de concentrado de cobre.
 uso de compressor refrigerado a ar: eliminando necessidade de construção de linhas
de água de resfriamento até a planta de pastefill, distante 1000 metros das instalações
de tratamento de minério.

Na figura 1 abaixo, apresentamos o fluxograma do processo. Os equipamentos mais


importantes são:

 espessador de rejeito – já existente, readaptado


 tanque pulmão com agitador - nacional
 filtros de disco - nacional
 condicionador de pasta – importado
 misturador – importado
 compressor – nacional
 silos de cimento e transportadores de rosca –nacional
filtros
de disco

silos de
cimento correia tanque de
200 t reversível estocagem

homogenei
zador

balança de
balança pasta
de barragem de
cimento rejeitos

186 t/h
64%
Misturador sólidos
210 t/h 78%
sólidos

espessadores
de rejeito

silo de
descarga

Equipamentos auxiliares:

01 compressor de 1200 cfm


02 bombas de vácuo
02 bombas verticais
02 bombas horizontais
03 bombas d’água

realces/pilares
mina subterrânea

Figura 1 – Fluxograma de preparação da pasta e enchimento de realces


IMPLANTAÇÃO

A montagem mecânica e civil foi terceirizada. A nova linha de bombeamento de rejeitos para
a barragem e para a planta de pastefill foi montada pelo fornecedor dos tubos de PEAD. A
fiscalização das obras também foi contratada. A montagem da rede de distribuição de
energia e equipamentos elétricos ficou por conta da Caraíba, bem como toda a adaptação
dos espessadores de rejeito.

O software para controle da operação foi implantado pela empresa canadense responsável
pelo projeto, contando também com o apoio da equipe de manutenção eletrônica da
Caraíba. O capital inicial previsto foi de US$5 milhões, sendo que o gasto total realizado
ficou em US$4,8 milhões.

START-UP

O treinamento dos operadores e start-up foi coordenado por técnico da empresa


responsável pelo projeto. Ponto importante no start-up foi a checagem de todo o sistema de
controle da planta que também tinha sido adaptado, mas que precisou de vários ajustes
durante o início da operação. Todos estes ajustes foram realizados pela equipe da
instrumentação da Caraíba. Este fato, não previsto, permitiu o domínio das operações e um
acúmulo de conhecimento significativo por parte da equipe de instrumentação.

As primeiras “bateladas” de pasta foram enviadas sem a adição de cimento. Somente após
a confirmação do perfeito funcionamento do sistema de transporte é que se iniciou a
dosagem de cimento.

A descarga de pasta dentro dos realces exige acompanhamento permanente por um


operador no subsolo, se comunicando via rádio com o operador da planta, ou na ausência
do operador no subsolo, utiliza-se uma câmera de vídeo colocada junto à descarga com
sinal na sala de controle. A planta só opera sob uma destas condições. Isto se deve ao fato,
já comentado anteriormente que, ocorrendo uma interrupção de fluxo maior do que 15
minutos se faz necessário a limpeza da linha, imediatamente, a fim de evitar o seu
entupimento. Este aspecto aliado ao ajuste correto do slump e da dosagem de cimento se
constitui em fator fundamental para uma produção com qualidade.

DESEMPENHO DA PRODUÇÃO

No gráfico abaixo apresentamos a produtividade da planta. A partir do mês de setembro de


1999 verificamos uma melhoria significativa da produtividade, isto foi devido à melhoria do %
de sólidos no underflow do espessador de rejeito. A boa produtividade da planta depende
da produtividade dos filtros, que está relacionada à percentagem ótima de sólidos nos
espessadores. A queda de produção verificada em fevereiro e março de 2000 se deve à
baixa t/h na moagem.
240
220
200
180
t/h

160
140
120
100

out

nov
jul
jun
fev

fev
ago
mai
abr

abr
mar

mar
dez
jan

jan
set
Gráfico nº1 – Produtividade da planta de Pastefill – Jan/99 a abr/00

Inicialmente tivemos dificuldades em conciliar a percentagem de sólidos no espessador com


uma operação sem sobrecargas. Isto só foi conseguido após novos ajustes no sistema de
bombeamento do underflow. A dosagem de floculante é imprescindível para evitar
sobrecarga.

O percentual ótimo de sólidos também depende da tonelagem horária processada pelo


moinho, baixa t/h reduz a percentagem de sólidos no underflow do espessador, reduzindo a
t/h de pasta para a mina subterrânea.

Outro ponto importante na melhoria da produtividade foram as modificações mecânicas


efetuadas no condicionador de pasta:
 substituição da bomba hidráulica por outra de maior vazão
 substituição dos acoplamentos
 remontagem do redutor do transportador da descarga
 implantação de um sistema automatizado de lubrificação

No gráfico abaixo verificamos o desempenho dos custos. A partir de julho/99 reduzimos o


percentual de cimento de 5 para 4%. Neste ano a alta do preço do cimento, acima da
variação cambial tende a elevar os custos. O previsto no projeto foi de US$2,99/ t de rejeito,
a média acumulada está na faixa de US$2,38/t.

4
US$/t de pasta

0
out

nov
jun

jul
fev

fev
mai

ago
mar

abr

mar

abr
dez
jan

jan
set

Gráfico nº2 – Custo de produção de pastefill – jan/99 a abr/00


PERSPECTIVAS DE MELHORIAS

Somente um ponto na planta não é automatizado; o controle da densidade da pasta na


descarga do condicionador. Pelo projeto este controle manual era realizado por um operador
que trabalhava full time junto ao equipamento. Posteriormente foi substituído por controle
feito pelo operador da sala de controle via câmera de vídeo e válvula de controle de adição
de polpa no condicionador. O próximo passo é a automação completa deste processo, via
determinação on line da densidade da pasta na descarga do condicionador controlando a
adição de polpa no mesmo.

Outro ponto diz respeito ao gasto com energia. Em função dos atuais níveis de
produtividade passaremos a paralisar a planta diariamente no horário de pico de consumo
de energia, desta forma vamos reduzir 600 KW na demanda.

A busca de alternativas de substituição ou redução do consumo de cimento deverá ser


objeto permanente da equipe de geotecnia e de processo, em função do alto peso do gasto
de cimento nos custos do enchimento dos realces.

SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO DA PASTA NO SUBSOLO

A pasta produzida na planta é transportada gravitacionalmente para todos os pontos de


enchimento da mina. A via de transporte é composta de furos na rocha conjugados com
tubulações instaladas nas galerias no subsolo. A parte do sistema de distribuição composta
por furos na rocha, tanto o que vai da superfície ao subsolo, quantos os que interligam os
níveis no subsolo são duplos – um em operação e o outro stand-by, para evitar interrupções
prolongadas, caso algum problema de entupimento da linha venha a ocorrer.
O primeiro tramo do furo, a partir da superfície, foi feito com o diâmetro de 12¼” e revestido
com uma tubulação com 8” de diâmetro e schedule 100. O segundo tramo também é de
12¼”, mas não tem revestimento. A necessidade de se revestir o primeiro tramo do furo foi
em função de água no maciço em quantidade que prejudicaria a operação normal do
sistema.

Os furos internos, entre níveis são de 6½” de diâmetro, sem revestimento, e a tubulação nos
níveis são de 8”, schedule 80, de aço carbono e PEAD.

O transporte da pasta é feito por gravidade e a garantia do fluxo contínuo é dada pela
diferença positiva entre o total de carga vertical e a perda de carga por atrito nos trechos
horizontais. Apesar da planta alimentar o sistema de distribuição em bateladas, o fluxo de
pasta na extremidade da linha é contínuo, e o nível estático da mesma dentro do trecho
vertical depende dessa relação entre diferença de cota e comprimento horizontal, além do
slump da pasta.

O cálculo para ver se vai haver fluxo por gravidade em determinado local da mina e onde vai
ficar o nível estático é feito utilizando uma planilha onde se verifica a comparação entre a
carga vertical e a perda de carga horizontal para determinadas características de fluxo, tais
como densidade da pasta e taxa de alimentação. Os parâmetros de resistência (perda de
carga por metro) da pasta para estes cálculos foram extrapolados do teste de bombeamento
em circuito fechado, feito durante a fase de projeto, para se definir as características de
transporte na mina em escala operacional. Atualmente já existem sensores de pressão que,
instalados na linha, informam esses valores continuamente para a sala de controle,
permitindo um melhor controle do sistema de distribuição como um todo.
Tabela 1 - Planilha típica de cálculo de fluxo de pasta.

Densidade da pasta 2,08 t/m3 - Slump 8" - % de sólidos78,00 - Densidade (sólidos) 3,00 t/m3
Taxa de alimentação = 192 tph (sólidos) = 246 tph ou 118 m3/h (pasta)

Perda de carga em furo com 12 ¼" = 6,83 kPa/m


Perda de carga em tubulação de 8" = 8,47 kPa/m
Perda de
Ponto de Cota Vertical Comprim Pressão Carga Disponível Pressão
Distribuição (m) (m) (m) (kPa) (kPa) Excedente
De Para Início Fim Início Fim Início Fim (kPa)
RE 05 -100 * Acesso -100 -96,0 -96,0 0,0 103,0 0 872 0 0 -872
Acesso -100 Acesso -78 -96,0 -75,0 21,0 21,0 872 1.050 0 429 -622
Acesso -78 2º tramo fim -75,0 -75,0 0,0 100,0 1.050 1.897 429 429 -1.469
2º tramo fim 2º tramo início -75,0 85,2 160,2 229,0 1.897 3.461 429 3.697 236
2º tramo início 1º tramo fim 85,2 91,2 6,0 6,0 3.461 3.512 3.697 3.820 307
1º tramo fim 1º tramo início ** 91,2 446,1 354,9 383,0 3.512 6.756 3.820 11.061 4.305

* = Ponto de descarga da pasta no realce


** = Superfície
Ponto de impacto da pasta = 200 m acima do 2º tramo início

O valor positivo no final da coluna de pressão excedente significa que haverá fluxo
gravitacional.

A tubulação de distribuição da pasta no subsolo é posicionada lateralmente, próximo ao teto


das galerias, sustentada por tirantes resinados, dispostos aos pares e distantes 3 m cada
seção. A tubulação é suportada por uma placa metálica presa aos tirantes e fixada com um
grampo de fixação. Além disso a tubulação é acunhada ao teto da galeria para evitar
oscilação durante a operação. Os tubos são unidos através de acoplamentos especiais com
capacidade de resistência à pressões superiores a 100 Kgf/cm2. A cada intervalo de
aproximadamente 50 m é instalado uma saída lateral em forma de “Y” para auxiliar na
limpeza da pasta em possíveis casos de entupimento da linha.

Na base dos realces, nos pontos de extração, são construídas barricadas para retenção da
pasta dentro do mesmo. A barricada é construída sobre uma pilha de rocha estéril
proveniente do desenvolvimento, que serve para reduzir a seção de barricada construída.

Inicialmente as barricadas eram construídas com concreto projetado, formando uma parede
de cerca de 10 cm de espessura, armada com telas metálicas. Atualmente as barricadas de
concreto projetado foram substituídas por paredes de alvenaria de pedra catada na própria
mina, por ser esta mais econômica e de fácil execução, podendo inclusive sua construção
ser terceirizada.

CARACTERÍSTICAS DE RESISTÊNCIA DA PASTA

Após a lavra, enchimento e cura de dois realces consecutivos, o pilar entre eles fica liberado
para desmonte e entrada em produção. Cada realce tem dimensões típicas de 20 m de
largura, 60 m de altura e 30 a 40 m de comprimento. Os pilares têm a mesma dimensão
com exceção da largura que é de 15 m. Isto significa que quando do desmonte e retirada do
pilar ficarão expostas duas paredes de 60 m x 35 m, uma de cada lado.
Para auto-sustentação dessa parede é necessário se ter uma pasta com resistência de 0,55
MPa, o que é atingido após 28 dias de cura com um teor de 4% de cimento, em peso, do
material seco do enchimento. Quando se varia as dimensões da parede que ficará exposta
após a lavra dos pilares, essa resistência necessária é recalculada.

Os principais fatores que influenciam na resistência à compressão da pasta são o teor de


cimento, o slump e o tempo de cura. Assim, quanto menor o slump, para a mesma
percentagem de cimento, maior a resistência da pasta, para o mesmo tempo de cura.

Quando do dimensionamento inicial da resistência necessária da pasta, durante a fase de


projeto, foi estabelecido um percentual de 5% de cimento para os realces primários, com as
dimensões típicas citadas acima. Logo quando foi iniciada a operação da planta e o
enchimento dos primeiros realces, foi iniciado um programa de redução da quantidade de
cimento, conduzindo-se ensaios de laboratório e verificando-se os resultados no campo. Já
foi reduzido a quantidade de cimento de 5 para 4% e atualmente está sendo estudado uma
nova redução para 3,5%, mantendo-se os requisitos necessários à resistência necessária.

CONCLUSÃO

A planta de pastefill está em operação contínua há 20 meses e já produziu mais de


870.000 t de pasta que foram depositadas em 20 diferentes realces primários e secundários
(pilares).

A adoção da técnica de enchimento com pasta proporcionou várias vantagens quando da


implementação do projeto de aprofundamento da mina subterrânea, sendo que merecem
maior destaque as relacionadas abaixo:

 Controle da estabilidade regional da mina, evitando o contínuo desplacamento de


realces, outrora mantidos abertos, viabilizando tecnicamente a lavra em profundidade.
 Aumento substancial da recuperação da reserva, por possibilitar a lavra dos pilares entre
realces (rib pillars) e entre painéis (sill pillars), viabilizando economicamente a lavra em
profundidade.
 Previsibilidade na operação de enchimento por causa da continuidade operacional da
planta e do sistema de distribuição no subsolo quando em operação, sem nenhuma
interferência com equipamentos ou trânsito dentro da mina.
 Redução do impacto ambiental na superfície gerado pela grande redução da
necessidade de deposição de rejeitos em barragem.
 Maior recuperação de água usada na usina de beneficiamento, com conseqüente
redução da necessidade de adução de água, que é feita no Rio São Francisco a cerca
de 80 Km da mina, com redução de custos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Golder Associates (1997) Preliminary Engineering, Flow Loop Testing and Laboratory
Evaluation of Caraíba Mine Tailings for Use as a Paste. Relatório Interno, 17 p.

Golder Associates (1996) Conceptual Design and Cost Estimates for Rockfill System at
Caraíba Mine, Brazil. Relatório Interno, 13 p.

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