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O alargamento do conhecimento do Mundo

O contributo português
❖ Inovação nas técnicas náuticas
Quando iniciaram a expansão marítima, os portugueses já possuíam um conjunto de
conhecimentos e técnicas de navegação, legadas por Árabes e Judeus. Elas eram o
lemo fixo à popa (imerso e preso ao cadaste com dobradiças; mais fácil de manobrar
e permitindo rápidas mudanças de direção); a bússola (invenção chinesa que séculos
antes permitira o traçado de linhas de rumo nas cartas-portulanos – misto de mapa e
roteiro
com as mais variadas informações); o astrolábio (instrumento de orientação
astronómica de origem grega). Técnicas complementadas com estudos de
matemáticos, astrónomos e geógrafos.

→ Os progressos na construção naval


- A necessidade de navegar à bolina motivou mudanças estruturais na construção
de barcos – surge a Caravela, um barco de porte pequeno, leve e veloz.
- O recurso à vela triangular que permitia navegar com ventos contrários e com
maior segurança.
- A construção de naus e galeões, com casco em U, velas quadrangulares (redondas)
e boa capacidade de artilharia.
→ As técnicas de navegação
- A generalização do uso da bússola.
- O aperfeiçoamento dos portulanos – dando origem às cartas náuticas.
- O recuso à navegação astronómica a partir da observação dos astros e sem
qualquer referência terrestre. Recorrendo a diversos instrumentos de orientação,
como o astrolábio, o quadrante, a balestilha, os marinheiros aprenderam a medir a
altura do sol e determinar a latitude do ponto em que o barco se encontrava. A
declinação do sol passou
a ser calculada para períodos de 4 anos e registadas nas tábuas de declinação solar.
- A elaboração de cartas de marear, formas aperfeiçoadas das cartas-portulano já
muito próximas dos mapas traçados cientificamente.

→ Cartografia medieval
Era incipiente e simplista. Exemplos
disso são o planisfério T-O (em que a
terra aparecia apresentada como um dico
plano, com 3 continentes rodeados por
um oceano); aqueles planisférios que
decompunham a terra em zonas; e ainda
aquelas representações influenciadas
pelas conceções de Ptolomeu (que não
admitiam a comunicabilidade entre o
oceano Atlântico e o Índico).

→ Cartografia moderna
Os contornos de mares e terras
adquirem um traço mais rigoroso. As
distâncias em escala aproximam-se da
realidade. Os mapas passam a ter escalas
e latitudes, planos hidrográficos e
informações sobre etnias, fauna e flora.
Traçado correto do Equador, paralelos e
Meridianos.

→ Os novos conhecimentos
Ao terminar o século XVI, graças ao movimento das descobertas portuguesas,
imagem que o ocidente tinha do Mundo foi radicalmente transformada:
• -Os continentes são traçados com uma correção muito próxima da realidade;
• Confirma-se a comunicabilidade dos oceanos e os continentes deixam de ser
mundos isolados;
• Demonstra-se a esfericidade da Terra e dissipam-se os velhos conceitos de
“fim do mundo”;
• Alarga-se o horizonte intelectual, pelo conhecimento de novos espaços, com
novos climas, novas redes hidrográficas, correntes marítimas, regimes de
ventos, movimento de astros;
• Conhece-se novas paisagens, plantas e animais;
• Descobrem-se novas raças humanas e novas civilizações;
• A tradicional perspetiva mediterrâneo-continental do Globo cede lugar a uma
perspetiva oceânica e pluricontinental.
❖ As origens da ciência moderna
Os novos conhecimentos abalaram todos os fundamentos da sabedoria tradicional.
O que era dogmaticamente tido como certo passa a ser criticamente tico como
errado e nada mais pode ser aceite pela inteligência humana sem resultar da
observação e da experiência. É um novo saber que está em formação – o
experiencialismo. Seria esse o único método que não engana e permite sem erro
chegar à verdade. Como dizia Duarte Pacheco Pereira, “A experiência é madre de
todas as cousas e por ela soubemos radicalmente a verdade”.
Deste modo, ficava bem evidenciada a superioridade dos modernos e a falibilidade
do saber antigo, livresco, tradicional, bem como o do clássico.
Todavia, os conhecimentos derivados do Experiencialismo resultavam da
observação e descrição empírica da Natureza, não sendo o resultado de experiências
feitas propositadamente para a verificação de hipóteses.
Mas, embora ainda não se possam considerar científicos, em virtude do seu carácter
empírico, estes estudos contribuíram de modo irreversível para a consolidação do
espírito critico, base e raiz do pensamento moderno.

❖ O conhecimento científico da Natureza


→ A revolução das conceções cosmológicas
Científico já se pode considerar o novo conhecimento do Universo assente na
teoria heliocêntrica de Nicolau Copérnico (1473-1543).
Segundo Aristóteles e Ptolomeu, a Terra situava-se, imóvel, no centro de um
universo fechado e finito em que todos os planetas e estrelas giravam
eternamente à sua volta não conseguindo, todavia, encontrar explicações
rigorosas para o movimento dos elementos celestes.
Eram as teorias geocêntricas.

→ A revolução coperniciana
Em 1531, Copérnico retomou opiniões de outros pensadores gregos, como Heraclito,
que já punham em causa o geocentrismo, e colocou em duvida aquela teoria. Depois
de formular as suas hipóteses e de as experimentar aturadamente, conclui e
anunciou que:
- A Terra não é um planeta imóvel. Ela move-se em torno de si própria e move-se em
torno do Sol;
- Imóvel é o Sol e o seu movimento não é mais do que uma ilusão para quem s
encontra na Terra;
- A Terra não pode ser, por conseguinte, o centro do Universo. O centro do Universo
só pode ser o Sol.
Os estudos de Copérnico prosseguiam com as observações de outros estudiosos,
como Tycho Brahe (1546-1601) que, apetrechadas como novas tecnologias de
observação astronómica, chegou à conclusão de que as orbitas dos corpos celestes
não são circulares. Nos seus movimentos de traslação, os planetas descrevem uma
elipse, ora se aproximando, ora se afastando do Sol.
Ainda no seculo XVI, Giodano Bruno (1548-1600), na sua obra Del Universo
Infinito Et Mondi, acrescenta aos conhecimentos anteriores da teoria que o
Universo era infinito, povoado por milhares de sistemas solares onde coexistiam
outros planetas com vida inteligente.
Já no século XVII, Johannes Kepler (1571-1630), que chegou a trabalhar com Brahe,
desenvolveu de tal modo os estudos sobre o Universo que veio a ser considerado um
dos grandes fundadores da Astronomia moderna.
Contemporâneo de Kepler, Galileu (1564-1642), considerado um dos maiores génios
da Humanidade, inventou o primeiro telescópio e, com ele, chegou a novas
descobertas sobre o Universo, como as montanhas da Lua, os satélites do Júpiter,
as manchas solares e planetas até então desconhecidos; dissipou todas as dúvidas
que ainda persistiam sobre o heliocentrismo.
Estas descobertas vieram não só abalar o conhecimento antigo, mas também pôr
em causa a autoridade da Igreja, pois muitos dos seus princípios doutrinários tinham
como funcionamento o geocentrismo ptolomaico.
Formulava-se um novo saber que sobrepunha o conhecimento com base na razão
ao conhecimento com base na fé.

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