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AULA 3: A SUBJETIVIDADE MODERNA: História da Psicologia

A AFIRMAÇÃO DO SUJEITO ATRAVÉS DA RAZÃO. Professora Dr.ª Rejane A. Ribeiro


S A N T I ( 1 9 9 8 ) - C A P, 7 , 8 E 1 2 14/03/2024
A Subjetividade Moderna: A afirmação do sujeito através da razão

O DISCURSO DO MÉTODO – CAPÍTULO 7

• Pormeio de Descartes refletiremos como o eu chega a seu ponto de máxima


afirmação no séc. XVII.
• Ao eu será atribuída uma posição transcendente ao mundo material; com isso
nascerá o projeto da produção de um conhecimento objetivo, neutro,
independente da subjetividade: a ciência.
• Tentativa de organizar racionalmente a desordem anterior.
• Procura-se criar um método para a compreensão do mundo em sua
totalidade.
•Para isso, o mundo será dividido, analisado, hierarquizado metodicamente.
(controlar a desordem)
Professora Dr.ª Rejane A. Ribeiro
A Subjetividade Moderna: A afirmação do sujeito através da razão

O DISCURSO DO MÉTODO – CAPÍTULO 7

✓ Cenário de vida de Descartes (nascido em 1596)


• Com 10 anos ingressou em um colégio de jesuítas (sob orientação dos
pensamentos de Santo Inácio).
• Passou boa parte da vida em busca de uma referência confiável, sem
encontrar;
• Cada filósofo dizia uma coisa, sem entrar em um consenso;
• Livros informações diferentes; cada cultura tinha suas leis próprias (certeza
relativa);
• Tudo o que via era desordem e dúvida.
• Percepção de mundo não difere ao ceticismo de Montaigne
Professora Dr.ª Rejane A. Ribeiro
A Subjetividade Moderna: A afirmação do sujeito através da razão

O DISCURSO DO MÉTODO – CAPÍTULO 7

✓ Cenário de vida de Descartes (nascido em 1596)


• Solução encontrada por ele: iniciar um processo de dúvida metódica (refletir
sobre cada coisa que há no mundo), procurando saber se ela lhe poderia
fornecer uma verdade segura;
• Método semelhante ao da matemática e da geometria, firmando um ponto
de referência, buscando deduções.
• Busca por ideias claras e distintas (princípios: falso = falso; incerto = falso.
O Certo seria algo realmente seguro de certeza).
• Não podendo contar com certezas externas: Opiniões duvidosas (pessoas
comuns e de especialistas); variabilidade das leis e regras morais.
Professora Dr.ª Rejane A. Ribeiro
A Subjetividade Moderna: A afirmação do sujeito através da razão

O DISCURSO DO MÉTODO – CAPÍTULO 7

• Não podendo contar com certezas externas, passa a interrogar a si mesmo


(passagem da Idade Média ao renascimento) – Averiguou se seus órgão do
sentido lhe proporcionava informações seguras (conclusão negativa)...
Averiguou seus sentimentos (nada objetivo). E se perguntou se a sua certeza
sobre algo garantia a verdade correspondente (conclusão negativa)...
• Ceticismo absoluto de Montaigne??? “pulo do gato”:
• Depois de duvidar de todas as coisas, algo parecia certo, enquanto
duvidava:
• Seguramente existia ao menos a atividade de duvidar

Professora Dr.ª Rejane A. Ribeiro


A Subjetividade Moderna: A afirmação do sujeito através da razão

O DISCURSO DO MÉTODO – CAPÍTULO 7

• Seguramente existia ao menos a atividade de duvidar (havia ação)


• E por isso, deveria ter um sujeito, um “eu pensante”.
• Conclusão de Descartes: “Diante de toda a dúvida do mundo, o único ponto
de segurança e referência que temos é o de um “eu”, não enquanto corpo,
pois sua existência também foi colocada em dúvida, mas um eu puramente
pensante, uma alma racional capaz de produzir representações corretas do
mundo. Daí a famosa frase “Je pense, donc je suis” (eu penso, logo existo).
P.61

Professora Dr.ª Rejane A. Ribeiro


A Subjetividade Moderna: A afirmação do sujeito através da razão

O DISCURSO DO MÉTODO – CAPÍTULO 7

▪ O ponto máximo do humanismo enquanto valor do homem no mundo e sua


posição enquanto centro.
• * O homem já era reconhecido como centro do mundo; agora ele mesmo tem
um centro, sua razão, sua autoconsciência. *
• A partir do “eu” se deduz a existência do corpo, e dos demais “eus”
• Deduzirá a própria existência de Deus (causa necessária).

Professora Dr.ª Rejane A. Ribeiro


A Subjetividade Moderna: A afirmação do sujeito através da razão

O DISCURSO DO MÉTODO – CAPÍTULO 7

✓ Montaignee Descartes iniciam o pensamento de forma semelhante e


acabam de forma radicalmente distintas
• Montaigne Descartes
A incerteza sem fim e a necessidade de A dúvida é superada pela suposição de
construir continuamente um eu existência prévia de um eu absoluto, um
sujeito que subjaz a tudo

Agostinho Descartes
Deus = a verdade existe Deus já não é o fim do caminho, mas um
passo do meu cainho. A verdade é
definitivamente interna. É no eu que tudo se
encerra

Professora Dr.ª Rejane A. Ribeiro


A Subjetividade Moderna: A afirmação do sujeito através da razão

O DISCURSO DO MÉTODO – CAPÍTULO 7

Santo Inácio de Loyola Descartes


Acreditam que o caminho para a verdade é acessível a qualquer um, desde que todos
são livres para dirigir sua vontade ao caminho correto
Verdade = Deus Verdade enquanto tal
Caminho é a meditação Caminho encontra-se no correto uso das
leis matemáticas e geométricas

• A evidência do eu como única referência estável dará origem a todo o projeto científico;
• O homem passa a ter segurança quanto à sua possibilidade de alcançar um
conhecimento objetivo do mundo;
• A verdade já não será mais procurada nas escrituras sagradas ou em iluminações
místicas;
• Só poderá ser considerado verdadeiro algo que tenha passado pelo crivo da
observação e racionalidade humanas.
Professora Dr.ª Rejane A. Ribeiro
A Subjetividade Moderna: A afirmação do sujeito através da razão

O DISCURSO DO MÉTODO – CAPÍTULO 7

✓ Esse pensamento apresentado na arte:


▪ Caravaggio (Seu trabalho exerceu influência importante no estilo barroco,
estilo do qual foi o primeiro grande representante.)

▪ Uso da luz e sombras


▪ Visão mais obscura e realista das escrituras sagradas
▪ Natureza morta, temas profanos e temas quotidianos

Professora Dr.ª Rejane A. Ribeiro


A Subjetividade Moderna: A afirmação do sujeito através da razão
Fonte fotos: https://pt.wikipedia.org/wiki/Caravaggio

O DISCURSO DO MÉTODO – CAPÍTULO 7

✓ Esse pensamento apresentado na arte:


▪ Caravaggio

Enterro de Jesus 1602-1603


Judite e Holofernes 1598-1599
Professora Dr.ª Rejane A. Ribeiro
A Subjetividade Moderna: A afirmação do sujeito através da razão
Fonte fotos: https://pt.wikipedia.org/wiki/Caravaggio

O DISCURSO DO MÉTODO – CAPÍTULO 7

Pequeno Baco Doente (1593-1594)

Salomé com a cabeça de São João Batista


Professora Dr.ª Rejane A. Ribeiro
A Subjetividade Moderna: A afirmação do sujeito através da razão

O DISCURSO DO MÉTODO – CAPÍTULO 7

✓Música: Música sacra e ópera


- Música barroca altamente intelectualizada e elitizada
▪Johann Sebastian Bach (XVIII)
Retrato
- Representa o início da modernidade recentemente
descoberto
- Vozes rígidas e matematicamente dispostas (fugas) por Towe e
proposto como
- Mantem a tradição de música polifônica século XVII autêntico

- Além de um grande dom para a melodia, suas harmonias são ricas,


audaciosas e sutis, e ele tinha um poderoso senso de arquitetura e forma.

Professora Dr.ª Rejane A. Ribeiro


A Subjetividade Moderna: A afirmação do sujeito através da razão

O DISCURSO DO MÉTODO – CAPÍTULO 7

▪Johann Sebastian Bach (XVIII)


- Completamente diferente do mito romântico que temos do artista, não
possuindo nada de atormentado ou louco.
Ele era um burocrata da música, um funcionário da igreja Retrato
recentemente
sem afetações – o que não impediu de criar uma obra descoberto
por Towe e
proposto como
grandiosa, plena da retórica protestante. autêntico

“Se não se acredita em Deus ouvindo Bach, não se acreditará de outra


maneira” (p.67)

Professora Dr.ª Rejane A. Ribeiro


A Subjetividade Moderna: A afirmação do sujeito através da razão

O DISCURSO DO MÉTODO – CAPÍTULO 7


Tocata e Fuga em Ré Menor, BWV 565- de Bach (peça escrita entre 1703 e 1707)

https://www.youtube.com/watch?v=drD3ob2SYz8 Professora Dr.ª Rejane A. Ribeiro


A Subjetividade Moderna: A afirmação do sujeito através da razão

O EU E O NÃO EU – CAPÍTULO 8

•Aafirmação do eu dá-se às custas de uma sombra projetada. Surge uma


zona de exclusão representável pela loucura ou pela natureza animal do
homem.
• A história da loucura (Foucault)
- No século XVII surgiu uma nova forma de relação com a loucura

Professora Dr.ª Rejane A. Ribeiro


A Subjetividade Moderna: A afirmação do sujeito através da razão

O EU E O NÃO EU – CAPÍTULO 8

-No século XVII surgiu uma nova forma de relação com a loucura
-Até o séc. XVII, a perda da razão por um homem não produzia o efeito de
medo que passou então a gerar.
Loucura: Até o séc. XVII No século XVII, após as ideias de Descartes
Não havia o medo que temos hoje do louco Afastamento do louco do convívio social
Não havia a ideia de doença Não há perspectiva de tratamento (isolamento por medo
de contágio)
Não havia a ideia de que ele devesse ser afastado do Primeiros hospícios foram os antigos leprosários
convívio social e isolado num hospício remanescentes da Idade Média
Variava culturalmente: - visionário, vidente, demoníaco, O louco será tratado como um animal, como alguém que
bobo perdeu a alma.
Não se pode pensar em um eu louco. Se há loucura, o eu
submergiu
Professora Dr.ª Rejane A. Ribeiro
Visão da loucura: Até o séc. XVII
Na arte – Bosch
A Nave dos Loucos (1490-1500)
Fonte foto: https://pt.wikipedia.org/wiki/Navio_dos_Loucos

Professora Dr.ª Rejane A. Ribeiro


A Subjetividade Moderna: A afirmação do sujeito através da razão

O EU E O NÃO EU – CAPÍTULO 8
OBS: Pelo lugar de exclusão que assume, não há música que represente a loucura do séc. XVII.
(ela é dominada pela racionalidade matemática).

Fonte foto: https://www.cursosaprendiz.com.br/historia-psiquiatria-brasil-mundo/ Professora Dr.ª Rejane A. Ribeiro


A Subjetividade Moderna: A afirmação do sujeito através da razão

O EU E O NÃO EU – CAPÍTULO 8

- No mundo medieval a garantia sobre a ordem eram dadas ao próprio


homem (Deus). A loucura não ameaçava a crença em Deus (questão pessoal).
- Desde então, a única garantia e ponto de referência do homem é sua crença
em um “eu pensante” objetivo e consciente.
- Qualquer coisa que pudesse pôr em questão a lucidez e a estabilidade do
eu, seria tomada como altamente ameaçadora.
- Agora toda a estabilidade do mundo que está em jogo na identidade do eu.
É preciso criar mecanismos para afirma-lo e defende-lo.

Professora Dr.ª Rejane A. Ribeiro


A Subjetividade Moderna: A afirmação do sujeito através da razão

O EU E O NÃO EU – CAPÍTULO 8

- Concluindo...
O nascimento de nossa representação moderna da loucura é contemporânea e
correlato ao momento de maior afirmação do eu, enquanto sujeito consciente e
livre para conhecer a verdade.

Professora Dr.ª Rejane A. Ribeiro


A Subjetividade Moderna: A afirmação do sujeito através da razão

O EU E O NÃO EU – CAPÍTULO 8

- Thomas Hobbes (filósofo)


- Leviathan (1651) – Tentou sintetizar ideias a respeito da natureza humana e
do Estado.
- Assim como Descartes, ele acredita que o homem deve seguir o caminho da
racionalidade;
- O eu social impõe-se sobre a natureza humana, que deve ser dominada
totalmente. Visão “naturalista”

Professora Dr.ª Rejane A. Ribeiro


A Subjetividade Moderna: A afirmação do sujeito através da razão

O EU E O NÃO EU – CAPÍTULO 8

- Thomas Hobbes (filósofo)


- Busca de um bem para si (ser egoísta pela busca do prazer e fuga dos
perigos da morte)
- Ser violento que entra em guerra impondo-se sobre os demais. (alguns
permissivos).
- Surgindo o conflito e a vontade de se ferir;
- Eterna guerra contra todos. Assegurar de manter seu maior bem: a vida
- Eterna inclinação de ampliar o poder. Sobreviver x Desejo de apropriar-se
de tudo por vangloria. Tirar proveito dos outros; vulgar, imprudente.
Professora Dr.ª Rejane A. Ribeiro
A Subjetividade Moderna: A afirmação do sujeito através da razão

O EU E O NÃO EU – CAPÍTULO 8

- Thomas Hobbes (filósofo)


- Convite (apelo ao leitor): quais motivos levam os homens ao convívio social?
Conclusão 1- A sociabilidade não faz parte da natureza humana;
2- Sociedades provém do medo recíproco e não da boa vontade.
3- Deve-se buscar a paz, caso contrário a sobrevivência da espécie entra em
risco, devendo nos preparar para a guerra.
“O ato de dois ou mais que mutuamente se transferem direitos chama-se
contrato” -> preocupação, ainda egoísta, de sobreviver.

Professora Dr.ª Rejane A. Ribeiro


A Subjetividade Moderna: A afirmação do sujeito através da razão

O EU E O NÃO EU – Capítulo 8

Para garantir a paz entre alguns =contrato


Para garantir a paz generalizada = Estado Civil

Para este, é preciso que uma maioria significativa


transfira seu direito natural a um soberano, que
definirá o que é bom/mau e o que cabe a cada homem.
Leis = regras autorizadas
Hobbes x Descartes: Hobbes não despreza a animalidade do homem.
Hobbes X Descartes: Crença na possibilidade de um autodomínio completo pela razão.

Professora Dr.ª Rejane A. Ribeiro


A Subjetividade Moderna: A afirmação do sujeito através da razão

A AUTOCRÍTICA DA RAZÃO – Capítulo 12

- No interior do próprio iluminismo, surge um movimento de autocrítica às


possibilidades da razão alcançar o conhecimento pleno;
XVIII – se inicia um processo de crise da noção de subjetividade até o séc. XIX;
-A razão será tomada como objeto de investigação e suas pretensões quanto à
possibilidade de alcançar a verdade plena será posta em cheque.
- Immanuel Kant – o próprio pensamento será tomado como objeto de investigação
- Trata-se de investigar os limites da razão, impostos por sua própria constituição (a
razão pensa sobre si própria)

Professora Dr.ª Rejane A. Ribeiro


A Subjetividade Moderna: A afirmação do sujeito através da razão

A AUTOCRÍTICA DA RAZÃO – Capítulo 12

▪ Crítica da razão pura


▪ Pensar é organizado por categorias, estruturas que organizam tudo o que nos
chega do mundo. (ex: a categoria relação causa-efeito)
▪ Todo o conhecimento sobre o mundo seria condicionado e “formatado” por
nossas estruturas cognitivas.
▪ Assim, nunca temos acesso as coisas em si, mas apenas à fenômenos.
▪ Ou seja, ao mundo tal como somos capazes de apreende-lo, como se dá pra
nos.
▪Existe as coisas em si, exteriores, mas o eu pensante não pode ter acesso a elas

Professora Dr.ª Rejane A. Ribeiro


A Subjetividade Moderna: A afirmação do sujeito através da razão

A AUTOCRÍTICA DA RAZÃO – Capítulo 12

▪ A razão, então, não é inútil ela deve aprender a manter-se em seus limites,
podendo produzir conhecimento confiável;
▪A razão deve abster-se de questões transcendentais, tais como a existência de
Deus, da alma o da liberdade. (discussão interminável e inconclusiva);
▪ Área de ação: deve procurar produzir hipóteses, modelos teóricos através dos
quais seja possível organizar e dar sentido aos fenômenos;
▪Assim, toda teoria é necessariamente uma criação humana, provisória, num
movimento infinito;
▪ Não há perspectiva de que se chegue a uma teoria que coincida com o mundo

Professora Dr.ª Rejane A. Ribeiro


A Subjetividade Moderna: A afirmação do sujeito através da razão

A AUTOCRÍTICA DA RAZÃO – Capítulo 12

▪ O pensamento de Kant (na sequência das ideias de Descartes) será um das


principais influências no modo de se produzir ciência no séc XIX.

▪O trabalho do pensamento deve seguir do particular para o universal


▪Princípios relativos (sem caráter absoluto), provisórios, e apontam para um limite
circunstancial da razão, que poderão ser abandonados e ultrapassados.
▪ São “princípios” para novos avanços da razão em seu progresso incessante.
▪O eu encontra-se com uma visão positiva de suas possibilidades, mas já não
onipotente.

Professora Dr.ª Rejane A. Ribeiro

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