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13 FILOSOFIA MEDIEVAL I: FILOSOFIA

SANTO AGOSTINHO

A RELAÇÃO ENTRE A FILOSOFIA E O e aristotélicas, a busca pela verdade sobre a realidade para melhor
guiar as ações individuais. Porém, sua filosofia também possui
CRISTIANISMO elementos do cristianismo, como a centralidade da ideia de Deus,
a busca pela compreensão de conceitos cristãos como a Trindade,
O Cristianismo estabeleceu contato com a Filosofia por
a problematização da relação entre a fé e a razão.
volta do Século II d.C. Cabe destacar que, apesar de ser possível
encontrar traços de uma lógica filosófica em fragmentos de textos Sua filosofia influenciou profundamente não apenas o
sagrados, a religião cristã e a Filosofia se mantiveram em posições pensamento teórico posterior, mas toda a cristandade e, por
opostas. A dicotomia se assentava em o cristianismo ser entendido consequência, toda a Europa. Por ter estudado várias filosofias
como religião, portanto, baseado na crença e fé para professar gregas, Agostinho utilizou a argumentação filosófica para defender
dogmas e apresentar salvação para o indivíduo. Por outro lado, a as ideias cristãs.
Filosofia era pautada em uma lógica essencialmente contrária sob Agostinho possui uma preocupação em tentar argumentar os
um ponto de vista do questionamento, da dúvida permanente e da dogmas do cristianismo, não baseando-se somente na fé, mas se
argumentação como método para entender e explicar o mundo. adequando aos argumentos racionais. Buscando explicar a origem
Entretanto, com a transição da Antiguidade para a Idade Média, do mal, Agostinho aponta Deus como ser benevolente e criador
a Filosofia e o Cristianismo se encontraram e esse encontro deu de todo o universo, criando um embate em ter sido o criador do
origem ao que os estudiosos chamam de Filosofia Medieval. mal. Argumenta que o mal nada mais é do que a ausência de bem,
não sendo uma criação de Deus. O mal nasce do livre-arbítrio do
Desse modo, a Filosofia Medieval é marcada por um processo
homem que escolhe ir contra a vontade de Deus. A argumentação
de junção entre instrumentos da fé e da razão, visões que,
de Agostinho é uma demonstração clara dos interesses da filosofia
como vimos, sempre foram entendidas como completamente
cristã, comprovar dogmas e visões da Igreja Católica.
dicotômicas, mas que foram moldadas em um período que
conhecemos como Idade Média. Importante lembrar que a Idade
Média se refere a um período de forte influência da Igreja, com
entendimento teocêntrico do mundo. Toda e qualquer relação
social era moldada e formada pela instituição católica, sendo
assim, era viável uma compreensão religiosa da economia, da
política, da sociedade e da vida cotidiana.
Em resumo, a Filosofia Medieval é o uso por parte da Igreja
Católica de instrumentos filosóficos como fundamentos para
a fé cristã. Foram utilizados instrumentos racionais para tentar
explicar tanto dogmas do cristianismo, como uma tentativa de
comprovação da existência de Deus, através de argumentações
filosóficas. Essa filosofia vai apresentar escolas e correntes
de pensamento distintos ao longo da história. A primeira que
estudaremos será a chamada Patrística.

PATRÍSTICA
Chama-se literatura patrística, em sentido lato, ao conjunto
das obras cristãs que datam da idade dos padres da Igreja; mas
nem todas têm como autores os padres, e esse título mesmo não
é rigorosamente preciso.
Num primeiro sentido, ele designa todos os escritores
eclesiásticos antigos, mortos na fé cristã e na comunhão da Igreja;
em sentido estrito, um padre (ou pai) da Igreja deve apresentar
quatro características: ortodoxia doutrinal, santidade de vida,
aprovação da Igreja, relativa à antiguidade (até fins do século III
aproximadamente). Outra marca importante do período é a forte
influência do pensamento platônico.

SANTO AGOSTINHO
Santo Agostinho. Por Philippe de Champaigne.1645
Um dos principais representantes da Patrística é Agostinho de
Hipona (354 - 430). Nascido em Hipona, no norte da África, filho de https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/ea/Saint_Augustine_by_Philippe_
pai pagão e mãe cristã, estudou várias correntes filosóficas de seu de_Champaigne.jpg
tempo, como o neoplatonismo e o maniqueísmo.
Outra parte fundamental da obra Agostiniana é sua Teoria da
Sua obra contém elementos da filosofia helênica, como a
Iluminação em que argumenta que o verdadeiro conhecimento
argumentação racional sobre conceitos, o uso de noções platônicas
só é encontrado na iluminação oriunda de Deus. Esse movimento
de Agostinho é uma clara influência platônica, ao separar o
conhecimento em sensorial, razão inferior e aquele baseado na
iluminação divina. Vamos aprofundar:

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FILOSOFIA 13 FILOSOFIA MEDIEVAL I: SANTO AGOSTINHO

TEORIA DO CONHECIMENTO DE SANTO poderá apreendê-lo, mesmo com o pensamento, para proferir uma
palavra acerca dele? Que realidade mais familiar e conhecida do
AGOSTINHO que o tempo evocamos na nossa conversação? E quando falamos
• O conhecimento sensível é obtido pelos sentidos e dele, sem dúvida compreendemos, e também compreendemos,
acessível a todos os homens. quando ouvimos alguém falar dele. O que é, pois, o tempo? Se
• O conhecimento científico é obtido pela razão e acessível ninguém mo pergunta, sei o que é; mas se quero explicá-lo a
a todos os homens, uma vez que se encontra no plano quem mo pergunta, não sei: no entanto, digo com segurança que
material. sei que, se nada passasse, não existiria o tempo passado, e, se
nada adviesse, não existiria o tempo futuro, e, se nada existisse,
• O conhecimento divino é obtido pela razão superior e é não existiria o tempo presente. De que modo existem, pois, esses
acessível somente a alguns homens, os iluminados. dois tempos, o passado e o futuro, uma vez que, por um lado, o
passado já não existe, por outro, o futuro ainda não existe? Quanto
TEXTO COMPLEMENTAR ao presente, se fosse sempre presente, e não passasse a passado,
já não seria tempo, mas eternidade. Logo, se o presente, para ser
Eis a minha resposta a quem diz: Que fazia Deus antes de fazer tempo, só passa a existir porque se torna passado, como é que
o céu e a terra? Não lhe dou aquela resposta que alguém, segundo dizemos que existe também este, cuja causa de existir é aquela
se diz, terá dado, iludindo com graça a violência da pergunta. porque não existirá, ou seja, não podemos dizer com verdade que o
Preparava, disse, a geena para aqueles que perscrutam questões tempo existe senão porque ele tende para o não existir?
tão profundas. Uma coisa é ver, outra coisa é rir. Esta não é a minha
resposta. Preferiria responder: ‘‘Não sei o que não sei’’, em vez de Permite-me, Senhor, ir mais longe na minha procura, ó minha
dar uma resposta que pusesse a ridículo quem formulou questão esperança; e não se distraia a minha atenção. Se existem coisas
tão profunda e gabasse quem respondeu erradamente. Mas eu futuras e passadas, quero saber onde estão. Mas se isso ainda não
afirmo, ó nosso Deus, que tu és o criador de toda a criatura e, se sob me é possível, sei, todavia, que onde quer que estejam, aí não são
a designação de ‘‘céu e terra’’ se entende toda a criatura, não hesito futuras nem passadas, mas presentes. Na verdade, se também aí
em afirmar: ‘‘Antes de Deus fazer o céu e a terra, não fazia coisa são futuras, ainda lá não estão, e se também aí são passadas, já lá
alguma’’. Com efeito, se fazia alguma coisa, que coisa fazia senão não estão. Por conseguinte, onde quer que estejam e quaisquer que
a criatura? E oxalá assim eu possa saber tudo aquilo que, utilmente, sejam, não existem senão como presentes.
desejo saber, tal como sei que não estava criada nenhuma criatura Ainda que se narrem, como verdadeiras, coisas passadas, o
antes de ser criada alguma criatura. que se vai buscar à memória não são as próprias coisas que já
Mas se algum sentido volúvel vagueia pelas imagens dos passaram, mas as palavras concebidas a partir das imagens de
tempos anteriores à criação e se admira de que tu, Deus onipotente, tais coisas, que, ao passarem pelos sentidos, gravaram na alma
e criador e sustentáculo de todas as coisas, artífice do céu e da terra, como que uma espécie de pegadas. Até a minha infância, que já
durante inumeráveis séculos te abstiveste de tão grande obra, antes não existe, existe no tempo passado, que já não existe; mas vejo
de a fazeres, ele que desperte e repare que se admira de coisas a sua imagem no tempo presente, quando a evoco e descrevo,
falsas. Com efeito, como podiam ter passado inumeráveis séculos, porque ainda está na minha memória. Se é semelhante a
que tu próprio não tinhas feito, sendo tu o autor e criador de todos explicação também da predição do futuro, de tal forma que sejam
os séculos? Ou que tempos teriam existido que não tivessem sido tornadas presentes, como já existentes, as imagens das coisas que
criados por ti? Ou como podiam ter passado se nunca tivessem ainda não existem, confesso-te, meu Deus, que não sei. Há uma
existido? Sendo tu o obreiro de todos os tempos, se existiu algum coisa que eu sei: a maior parte das vezes, nós premeditamos as
tempo antes de fazeres o céu e a terra, por que motivo se diz que nossas ações futuras e essa premeditação é presente, ao passo
tu te abstinhas de agir? De fato, tu tinhas feito o próprio tempo, e que a ação que premeditamos ainda não existe, porque é futura;
os tempos não puderam passar, antes de tu fazeres os tempos. Se, quando a empreendermos e começarmos a realizar aquilo que
no entanto, não existia nenhum tempo antes do céu e da terra, por premeditávamos, então essa ação existirá, porque então já não
que razão se pergunta o que fazias então? Na realidade, não havia será futura, mas presente.
‘então’, quando não havia tempo. Assim, qualquer que seja a natureza deste misterioso
E tu não precedes os tempos com o tempo: se assim fosse, não pressentimento do futuro, não se pode ver senão o que existe. Ora,
precederias todos os tempos. Mas precedes todos os pretéritos o que já existe não é futuro, mas presente. Por isso, quando se diz
com a grandeza da tua eternidade sempre presente, e superas que se veem coisas futuras, não se veem essas mesmas coisas,
todos os futuros porque eles são futuros, e quando eles chegarem, que ainda não existem, ou seja, que hão de existir, mas sim as suas
serão pretéritos; tu, porém, és o mesmo e os teus anos não têm causas ou, talvez, os seus sinais; estes já existem: por isso, não são
fim. Os teus anos não vão nem vêm: os nossos vão e vêm, para futuros, mas já presentes para os que os veem, e, a partir deles, são
que todos venham. Os teus anos existem todos ao mesmo tempo, preditas as coisas futuras concebidas no espírito.
porque não passam, e os que vão não são excluídos pelos que As imagens dessas coisas, por sua vez, já existem, e veem-
vêm, porque não passam: enquanto os nossos só existirão todos, nas como presentes, dentro de si, aqueles que predizem tais
quando todos não existirem. Os teus anos são um só dia, e o teu coisas. Ofereça-me um exemplo a imensa variedade das coisas.
dia não é todos os dias, mas um ‘‘hoje’’, porque o teu dia de hoje Contemplo a aurora: preanuncio que o sol vai nascer. O que vejo é
não antecede o de amanhã; pois não sucede ao de ontem. O teu presente, o que preanuncio é futuro: não é o sol, que já existe, que
hoje é a eternidade: por isso, geraste coeterno contigo aquele a é futuro, mas sim o seu nascimento, que ainda não existe: todavia,
quem disseste: Eu hoje te gerei. Tu fizeste todos os tempos e tu és mesmo o próprio nascimento, se não o imaginasse no meu espírito,
antes de todos os tempos, e não houve tempo algum em que não como agora quando estou a falar dele, não o poderia predizer. Mas
havia tempo. Não houve, pois, tempo algum em que não tivesses aquela aurora que vejo no céu não é o nascimento do sol, embora
feito alguma coisa, porque tinhas feito o próprio tempo. E nenhuns o preceda, nem aquela imagem que está no meu espírito: ambas
tempos te são coeternos, porque tu permaneces o mesmo; ora, se são vistas claramente como presentes, a ponto de se poder dizer
os tempos permanecessem os mesmos, não seriam tempos. antecipadamente aquele futuro. Portanto, as coisas futuras ainda
Não houve, pois, tempo algum em que não tivesses feito alguma não existem e, se ainda não existem, não existem, e, se não existem,
coisa, porque tinhas feito o próprio tempo. E  nenhuns tempos te não podem ser vistas de forma alguma; mas podem ser preditas a
são coeternos, porque tu permaneces o mesmo; ora, se os tempos partir das coisas presentes, que já existem e se veem.
permanecessem os mesmos, não seriam tempos. Que é, pois, o Uma coisa é agora clara e transparente: não existem coisas
tempo? Quem o poderá explicar facilmente e com brevidade? Quem futuras nem passadas; nem se pode dizer com propriedade: há três

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13 FILOSOFIA MEDIEVAL I: SANTO AGOSTINHO FILOSOFIA

tempos, o passado, o presente e o futuro; mas talvez se pudesse 04. (UFU) A Patrística, filosofia cristã dos primeiros séculos, poderia
dizer com propriedade: há três tempos, o presente respeitante ser definida como
às coisas passadas, o presente respeitante às coisas presentes, a) retomada do pensamento de Platão, conforme os modelos
o presente respeitante às coisas futuras. Existem na minha teológicos da época, estabelecendo estreita relação entre
alma estas três espécies de tempo e não as vejo em outro lugar: filosofia e religião.
memória presente respeitante às coisas passadas, visão presente
respeitante às coisas presentes, expectação presente respeitante b) configuração de um novo horizonte filosófico, proposto por
às coisas futuras. Se me permitem dizê-lo, vejo e afirmo três Santo Agostinho, inspirado em Platão, de modo a resgatar a
tempos, são três. Diga-se também: os tempos são três, passado, importância das coisas sensíveis, da materialidade.
presente e futuro, tal como abusivamente se costuma dizer; diga- c) adaptação do pensamento aristotélico, conforme os moldes
se. Pela minha parte, eu não me importo, nem me oponho, nem teológicos da época.
crítico, contanto que se entenda o que se diz: que não existe agora d) criação de uma escola filosófica, que visava combater os
aquilo que está para vir nem aquilo que passou. Poucas são as ataques dos pagãos, rompendo com o dualismo grego.
coisas que exprimimos com propriedade, muitas as que referimos
e) filosofia que relaciona a fé cristã com Aristóteles.
sem propriedade, mas entende-se o que queremos dizer.
(Agostinho. Confissões)
05. (UFU) Segundo o texto abaixo, de Agostinho de Hipona (354-
430 d. C.), Deus cria todas as coisas a partir de modelos imutáveis e
eternos, que são as ideias divinas. Essas ideias ou razões seminais,
EXERCÍCIOS como também são chamadas, não existem em um mundo à parte,

PROTREINO
independentes de Deus, mas residem na própria mente do Criador,
[...] a mesma sabedoria divina, por quem foram criadas todas as
coisas, conhecia aquelas primeiras, divinas, imutáveis e eternas
01. Apresente as principais características da Filosofia Medieval. razões de todas as coisas, antes de serem criadas [...].
Sobre o Gênese, V
02. Apresente as principais características da Patrística.
03. Aponte o principal pensador da Patrística. Considerando as informações acima, é correto afirmar que se pode
perceber:
04. Apresente as principais influências de Santo Agostinho.
a) que Agostinho modifica certas ideias do cristianismo a fim de
05. Apresente a principal teoria do conhecimento de Santo Agostinho. que este seja concordante com a filosofia de Platão, que ele
considerava a verdadeira.
b) uma crítica radical à filosofia platônica, pois esta é contraditória
com a fé cristã.
c) a influência da filosofia platônica sobre Agostinho, mas esta é
EXERCÍCIOS
modificada a fim de concordar com a doutrina cristã.
PROPOSTOS d) uma crítica violenta de Agostinho contra a filosofia em geral.
e) Santo Agostinho não considera que a visão divina gera
01. (UEG) Os primeiros séculos da era cristã são os da constituição conhecimento.
dos dogmas cristãos. A tarefa da filosofia desenvolvida pelos
padres da Igreja nesta época é a de encontrar justificativas
06. (UFU)
racionais para as verdades reveladas, ou seja, conciliar fé e razão.
Santo Agostinho é o principal representante deste período que “Assim até as coisas materiais emitem um juízo sobre as suas
ficou conhecido como formas, comparando-as àquela Forma da eterna Verdade e que
intuímos com o olhar de nossa mente.”
a) racionalismo. d) patrística.
(Sto. Agostinho, A Trindade, Livro IX, Capítulo 6. São Paulo, Paulus, 1994. p. 299)
b) escolástica. e) sofistas.
c) fideismo. Esta frase de Sto. Agostinho refere-se à
a) teologia mística de Agostinho, que se funda na experiência
02. (UNCISAL) A filosofia de Santo Agostinho é essencialmente imediata da alma humana com Deus.
uma fusão das concepções cristãs com o pensamento platônico. b) moral agostiniana que propõe ao homem regras para uma vida
Subordinando a razão à fé, Agostinho de Hipona afirma existirem santa e ascética, apartada do mundo.
verdades superiores e inferiores, sendo as primeiras compreendidas
c) doutrina da iluminação que afirma que o conhecimento
a partir da ação de Deus. Como se chama a teoria agostiniana que
humano é iluminado pela Verdade Eterna, isto é, Deus.
afirma ser a ação de Deus que leva o homem a atingir as verdades
superiores? d) estética intelectualista de Agostinho, que consiste num
profundo desprezo pela sensibilidade humana.
a) Teoria da Predestinação. d) Teoria da Emanação.
e) A crença da não existência de conhecimento divino na razão
b) Teoria da Providência. e) Teoria da Iluminação.
humana.
c) Teoria Dualista.
07. (UFU) Leia o trecho extraído da obra Confissões.
03. (UFU) Para Santo Agostinho, o homem chega à verdade
Quem nos mostrará o Bem? Ouçam a nossa resposta: Está
a) apenas pela fé em Deus. gravada dentro de nós a luz do vosso rosto, Senhor. Nós não somos
b) pelo método alegórico aplicado à interpretação da Bíblia. a luz que ilumina a todo homem, mas somos iluminados por Vós.
c) pela iluminação divina. Para que sejamos luz em Vós os que fomos outrora trevas.
SANTO AGOSTINHO. Confissões IX.
d) pela recordação da alma que estava junto a Deus. São Paulo: Nova Cultural,1987. 4, l0. p.154.
Coleção Os Pensadores
e) pelos sentidos e pelo intelecto.

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FILOSOFIA 13 FILOSOFIA MEDIEVAL I: SANTO AGOSTINHO

Sobre a doutrina da iluminação de Santo Agostinho, marque a sermões de Ambrósio, influenciados por Plotino, que Agostinho
alternativa correta. venceu suas últimas resistências (de tornar-se cristão).
a) A irradiação da luz divina faz com que conheçamos PEPIN, Jean. Santo Agostinho e a patrística ocidental. In: CHÂTELET, François
imediatamente as verdades eternas em Deus. Essas verdades, (org.) A Filosofia medieval. Rio de Janeiro Zahar Editores: 1983, p. 77.
necessárias e eternas, não estão no interior do homem, porque
seu intelecto é contingente e mutável. Apesar de ter sido influenciado pela filosofia de Platão, por meio
dos escritos de Plotino, o pensamento de Agostinho apresenta
b) A irradiação da luz divina atua imediatamente sobre o intelecto muitas diferenças se comparado ao pensamento de Platão.
humano, deixando-o ativo para o conhecimento das verdades
eternas. Essas verdades, necessárias e imutáveis, estão no Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, uma dessas
interior do homem. diferenças.
c) A metáfora da luz significa a ação divina que nos faz recordar as a) Para Agostinho, é possível ao ser humano obter o conhecimento
verdades eternas que a alma possuía antes de se unir ao corpo. verdadeiro, enquanto, para Platão, a verdade a respeito do
mundo é inacessível ao ser humano.
d) A metáfora da luz significa a ação divina que nos faz recordar as
verdades eternas que a alma possuía e que nela permanecem b) Para Platão, a verdadeira realidade encontra-se no mundo das
mediante os ciclos da reencarnação. Ideias, enquanto para Agostinho não existe nenhuma realidade
além do mundo natural em que vivemos.
c) Para Agostinho, a alma é imortal, enquanto para Platão a alma
08. (UFU) A teoria da iluminação divina, contribuição original de
não é imortal, já que é apenas a forma do corpo.
Agostinho à filosofia da cristandade, foi influenciada pela filosofia
de Platão, porém, diferencia-se dela em seu aspecto central. d) Para Platão, o conhecimento é, na verdade, reminiscência, a
alma reconhece as Ideias que ela contemplou antes de nascer;
Assinale a alternativa abaixo que explicita esta diferença.
Agostinho diz que o conhecimento é resultado da Iluminação
a) A filosofia agostiniana compartilha com a filosofia platônica do divina, a centelha de Deus que existe em cada um.
dualismo, tal como este foi definido por Agostinho na Cidade
de Deus. Assim, a luz da teoria da iluminação está situada no 11. (UFU) Agostinho, em Confissões, diz: "Mas após a leitura
plano suprassensível e só é alcançada na transcendência da daqueles livros dos platônicos e de ser levado por eles a buscar a
existência terrena para a vida eterna. verdade incorpórea, percebi que 'as perfeições invisíveis são visíveis
em suas obras' (Carta de Paulo aos Romanos, 1, 20)".
b) A teoria da Iluminação, tal como sugere o nome, está
Agostinho de Hipona. Confissões, livro VII, cap. 20, citado por: MARCONDES, Danilo.
fundamentada na luz de Deus, luz interior dada ao homem interior Textos Básicos de Filosofia.
na busca da verdade das coisas que não são conhecidas pelos Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2000. Tradução do autor.
sentidos; esta luz é Cristo, que ensina e habita no homem interior.
Nesse trecho, podemos perceber como Agostinho
c) Agostinho foi contemporâneo da Terceira Academia,
a) se utilizou da Bíblia para conhecer melhor a filosofia platônica.
recebendo os ensinamentos de Arcesilau e Carnéades, o que
resultou na posição dogmática do filósofo cristão quanto b) utiliza a filosofia platônica para refutar os textos bíblicos.
à impossibilidade do conhecimento da verdade, sendo o c) separa nitidamente os domínios da filosofia e da religião.
conhecimento humano apenas verossímil. d) foi despertado para o conhecimento de Deus a partir da
d) A alma é a morada da verdade, todo conhecimento nela filosofia platônica.
repousa. Assim, a posição de Agostinho afasta-se da filosofia e) foi despertado para o conhecimento de Deus a partir da
platônica, ao admitir que a alma possui uma existência anterior, filosofia de Aristóteles.
na qual ela contemplou as ideias, de modo que o conhecimento
de Deus é anterior à existência. 12. (UNESP) Não posso dizer o que a alma é com expressões
materiais, e posso afirmar que não tem qualquer tipo de dimensão,
não é longa ou larga, ou dotada de força física, e não tem coisa
09. (UFU) Agostinho formula sua teoria do conhecimento a partir alguma que entre na composição dos corpos, como medida e
da máxima “creio tudo o que entendo, mas nem tudo que creio tamanho. Se lhe parece que a alma poderia ser um nada, porque não
conheço”. A posição do autor não impede que cada um busque a apresenta dimensões do corpo, entenderá que justamente por isso
sabedoria com suas próprias forças; o que ainda não é conhecido ela deve ser tida em maior consideração, pois é superior às coisas
pode ser revelado mediante a consulta da verdade interior. Com materiais exatamente por isso, porque não é matéria. É certo que
base neste argumento, assinale a alternativa correta. uma árvore é menos significativa que a noção de justiça. Diria que a
a) É incorreto afirmar que a verdade interior que soa no íntimo das justiça não é coisa real, mas um nada? Por conseguinte, se a justiça
pessoas seja o Cristo; e o arbítrio humano é consultado sobre não tem dimensões materiais, nem por isso dizemos que é nada. E a
o que não se conhece. alma ainda parece ser nada por não ter extensão material?
b) As coisas que ainda não conhecemos só podem ser percebidas (Santo Agostinho. Sobre a potencialidade da alma, 2015. Adaptado.)

pelos sentidos do corpo e podem ser comunicadas facilmente


por intermédio das palavras. No texto de Santo Agostinho, a prova da existência da alma
c) A verdade interior está à disposição de cada um e a) desempenha um papel primordialmente retórico, desprovido
encontra-se armazenada na memória, de modo que o uso de pretensões objetivas.
da memória dispensa a contemplação da luz interior. b) antecipa o empirismo moderno ao valorizar a experiência
d) A verdade interior só pode ser percebida pelo homem como origem das ideias.
interior, que é iluminado pela luz desta verdade interior, que é c) serviu como argumento antiteológico mobilizado contra o
contemplada por cada um. pensamento escolástico.
d) é fundamentada no argumento metafísico da primazia da
10. (UFU) A filosofia de Agostinho (354 – 430) é estreitamente substância imaterial.
devedora do platonismo cristão milanês: foi nas traduções de e) é acompanhada de pressupostos relativistas no campo da
Mário Vitorino que leu os textos de Plotino e de Porfírio, cujo ética e da moralidade.
espiritualismo devia aproximá‑lo do cristianismo. Ouvindo

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13 FILOSOFIA MEDIEVAL I: SANTO AGOSTINHO FILOSOFIA

13. (ENEM PPL) Se os nossos adversários, que admitem a existência agir corretamente, mas também para pecar. Na verdade, por que
de uma natureza não criada por Deus, o Sumo Bem, quisessem admitir deveria ser punido aquele que usasse da sua vontade para o fim
que essas considerações estão certas, deixariam de proferir tantas para o qual ela lhe foi dada?
blasfêmias, como a de atribuir a Deus tanto a autoria dos bens quanto AGOSTINHO. O livre-arbítrio. In: MARCONDES, D.
dos males. Pois sendo Ele fonte suprema da Bondade, nunca poderia Textos básicos de ética. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
ter criado aquilo que é contrário à sua natureza. Nesse texto, o filósofo cristão Agostinho de Hipona sustenta que a
AGOSTINHO. A natureza do Bem. Rio de Janeiro: Sétimo Selo, 2005 (adaptado).
punição divina tem como fundamento o(a)
Para Agostinho, não se deve atribuir a Deus a origem do mal porque a) desvio da postura celibatária.
a) o surgimento do mal é anterior à existência de Deus. b) insuficiência da autonomia moral.
b) o mal, enquanto princípio ontológico, independe de Deus. c) afastamento das ações de desapego.
c) Deus apenas transforma a matéria, que é, por natureza, má. d) distanciamento das práticas de sacrifício.
d) por ser bom, Deus não pode criar o que lhe é oposto, o mal. e) violação dos preceitos do Velho Testamento.
e) Deus se limita a administrar a dialética existente entre o bem
e o mal. 17. (ENEM) Não é verdade que estão ainda cheios de velhice
espiritual aqueles que nos dizem: “Que fazia Deus antes de criar o
céu e a terra? Se estava ocioso e nada realizava”, dizem eles, “por
14. (UECE) “O maniqueísmo é uma filosofia religiosa sincrética e
que não ficou sempre assim no decurso dos séculos, abstendo-se,
dualística fundada e propagada por Manes ou Maniqueu, filósofo
como antes, de toda ação? Se existiu em Deus um novo movimento,
cristão do século III, que divide o mundo simplesmente entre Bom,
uma vontade nova para dar o ser a criaturas que nunca antes
ou Deus, e Mau, ou o Diabo. A matéria é intrinsecamente má e o
criara, como pode haver verdadeira eternidade, se n’Ele aparece
espírito, intrinsecamente bom. Com a popularização do termo,
uma vontade que antes não existia?”
maniqueísta passou a ser um adjetivo para toda doutrina fundada
AGOSTINHO. Confissões. São Paulo: Abril Cultural, 1984.
nos dois princípios opostos do Bem e do Mal.”
Wikipédia. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Manique%C3%ADsmo. A questão da eternidade, tal como abordada pelo autor, é um
exemplo da reflexão filosófica sobre a(s)
Contra o maniqueísmo, Agostinho de Hipona (Santo Agostinho)
a) essência da ética cristã.
afirmava que
b) natureza universal da tradição.
a) Deus é o Bem absoluto, ao qual se contrapõe o Mal absoluto.
c) certezas inabaláveis da experiência.
b) as criaturas só são más numa consideração parcial, mas são
boas em si mesmas d) abrangência da compreensão humana.
c) toda a criação era boa e tornou-se má, pois foi dominada pelo e) interpretações da realidade circundante.
pecado após a Queda.
d) a totalidade da criação é boa em si mesma, mas singularmente 18. (ENEM)
há criaturas boas e más. TEXTO I
Anaxímenes de Mileto disse que o ar é o elemento originário de
15. (UFU) Considere o trecho abaixo. tudo o que existe, existiu e existirá, e que outras coisas provêm de sua
“Quando, pois, se trata das coisas que percebemos pela mente descendência. Quando o ar se dilata, transforma-se em fogo, ao passo
(...). estamos falando ainda em coisas que vemos como presentes que os ventos são ar condensado. As nuvens formam-se a partir do ar
naquela luz interior da verdade, pela qual é iluminado e de que frui por feltragem e, ainda mais condensadas, transformam-se em água.
o homem interior." A água, quando mais condensada, transforma-se em terra, e quando
Santo Agostinho. Do Mestre. São Paulo: Abril Cultural. 1973. p. 320. (Os Pensadores) condensada ao máximo possível, transforma-se em pedras.
BURNET, J. A aurora da filosofia grega. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2006 (adaptado).
Segundo o pensamento de Santo Agostinho, as verdades contidas
TEXTO II
na filosofia pagã provêm de que fonte? Assinale a alternativa
correta. Basílio Magno, filósofo medieval, escreveu: “Deus, como criador
de todas as coisas, está no princípio do mundo e dos tempos. Quão
a) De fonte diferente de onde emanam as verdades cristãs, pois
parcas de conteúdo se nos apresentam, em face desta concepção,
há oposição entre as verdades pagãs e as verdades cristãs.
as especulações contraditórias dos filósofos, para os quais o mundo
b) Da mesma fonte de onde emanam as verdades cristãs, pois se origina, ou de algum dos quatro elementos, como ensinam os
não há oposição entre as verdades pagãs e cristãs. Jônios, ou dos átomos, como julga Demócrito. Na verdade, dão a
c) De Platão, por ter chegado a conceber a ideia Suprema do Bem. impressão de quererem ancorar o mundo numa teia de aranha”.
GILSON, E.; BOEHNER, P. História da Filosofia Cristã. São Paulo: Vozes, 1991 (adaptado).
d) De Aristóteles, por ter concebido o Ser Supremo corno primeiro
motor imóvel.
Filósofos dos diversos tempos históricos desenvolveram teses para
e) Da mesma fonte de onde emanam as verdades cristãs, pois há explicar a origem do universo, a partir de uma explicação racional.
oposição entre as verdades pagãs e cristãs. As teses de Anaxímenes, filósofo grego antigo, e de Basílio, filósofo
medieval, têm em comum na sua fundamentação teorias que
16. (ENEM) De fato, não é porque o homem pode usar a vontade a) eram baseadas nas ciências da natureza.
livre para pecar que se deve supor que Deus a concedeu para
isso. Há, portanto, uma razão pela qual Deus deu ao homem esta b) refutavam as teorias de filósofos da religião.
característica, pois sem ela não poderia viver e agir corretamente. c) tinham origem nos mitos das civilizações antigas.
Pode-se compreender, então, que ela foi concedida ao homem d) postulavam um princípio originário para o mundo.
para esse fim, considerando-se que se um homem a usar para
e) defendiam que Deus é o princípio de todas as coisas.
pecar, recairão sobre ele as punições divinas. Ora, isso seria injusto
se a vontade livre tivesse sido dada ao homem não apenas para

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 37
FILOSOFIA 13 FILOSOFIA MEDIEVAL I: SANTO AGOSTINHO

19. (UECE) Em diálogo com Evódio, Santo Agostinho afirma:


“parecia a ti, como dizias, que o livre-arbítrio da vontade não devia EXERCÍCIOS DE
nos ter sido dado, visto que as pessoas servem-se dele para pecar.
Eu opunha à tua opinião que não podemos agir com retidão a não
APROFUNDAMENTO
ser pelo livre-arbítrio da vontade. E afirmava que Deus no-lo deu,
sobretudo em vista desse bem. Tu me respondeste que a vontade 01. (UFU) "Creio tudo o que entendo, mas nem tudo que creio
livre devia nos ter sido dada do mesmo modo como nos foi dada também entendo. Tudo o que compreendo conheço, mas nem tudo
a justiça, da qual ninguém pode se servir a não ser com retidão”. que creio conheço."
(Agostinho. De Magistro. São Paulo: Abril Cultural, 1973. p. 319.
AGOSTINHO. O livre-arbítrio, Introdução, III, 18, 47.
Coleção "Os Pensadores").

Com base nessa passagem acerca do livre-arbítrio da vontade, em A citação de Agostinho refere-se à relação entre fé e razão. Explique
Agostinho, é correto afirmar que como este filósofo concebe esta relação.
a) o livre-arbítrio é o que conduz o homem ao pecado e ao
afastamento de Deus. 02. (UFU) Segundo Agostinho de Hipona (354-430), as ideias ou
b) o poder de decisão – arbítrio – da vontade humana é o que formas originárias de todas as coisas, razões estáveis e imutáveis
permite a ação moralmente reta. das coisas de nosso mundo, estão contidas na mente divina
e não nascem nem morrem, e tudo o que, em nosso mundo,
c) é da vontade de Deus que o homem não tenha capacidade de nasce e morre é formado a partir delas. Essas ideias eternas não
decidir pelo pecado, já que o Seu amor pelo homem é maior do são criaturas, antes, participam da Sabedoria eterna, mediante
que o pecado. a qual Deus criou todas as coisas e são idênticas a Ele. Assim,
d) a ação justa é aquela que foi praticada com o livre-arbítrio; conhecemos verdadeiramente quando nos voltamos para tais
injusta é aquela que não ocorreu por meio do livre-arbítrio. ideias; sendo o fundamento da natureza das coisas são também o
fundamento para o conhecimento dessas mesmas coisas; assim,
20. (ENEM PPL 2015) por meio delas podemos formar juízos verdadeiros sobre elas.
INÁCIO, Inês. C. & LUCA, Tânia R. de. O Pensamento Medieval.
TEXTO I São Paulo, São Paulo: Ática, 1988, p. 26.
Não é possível passar das trevas da ignorância para a luz da
ciência a não ser lendo, com um amor sempre mais vivo, as obras Levando em consideração o texto acima e a teoria da iluminação
dos Antigos. Ladrem os cães, grunhem os porcos! Nem por isso de Agostinho, responda:
deixarei de ser um seguidor dos Antigos. Para eles irão todos os O que são as ideias eternas? Qual o seu papel ou função em nosso
meus cuidados e, todos os dias, a aurora me encontrará entregue conhecimento do mundo?
ao seu estudo.
BLOIS, P. Apud PEDRERO SÁNCHEZ, M. G. História da Idade Média: 03. (UFU) A fé ajuda o conhecimento e o amor de Deus, não no
texto e testemunhas. São Paulo: Unesp, 2000. sentido de que no-lo faça conhecer e amar porque antes de fato não
o conhecíamos ou não o amávamos, mas nos ajuda a conhecê-lo de
TEXTO II modo mais luminoso e a amá-lo com amor mais firme.
A nossa geração tem arraigado o defeito de recusar admitir Agostinho, A Trindade, VIII, 9, 13.
tudo o que parece vir dos modernos. Por isso, quando descubro
a) Para Agostinho, a fé não tem um caráter a-racional ou
uma ideia pessoal e quero torná-la pública, atribuo-a a outrem e
metarracional, e sim um preciso valor cognoscitivo. Assim,
declaro: – Foi fulano de tal que o disse, não sou eu. E para que
qual é, para ele, a relação entre razão e fé?
acreditem totalmente nas minhas opiniões, digo: – O inventor foi
fulano de tal, não sou eu. b) Em qual teoria Agostinho se baseia para afirmar os critérios
BATH, A. Apud PEDRERO SÁNCHEZ, M. G. História da Idade Média: texto e testemunhas. de conhecimento imutáveis e necessários que vêm de Deus?
São Paulo: Unesp, 2000.
04. (UFU) Leia com atenção o texto abaixo em que o autor comenta
Nos textos são apresentados pontos de vista distintos sobre e cita Santo Agostinho, e, em seguida, responda as questões
as mudanças culturais ocorridas no século XII no Ocidente. apresentadas.
Comparando os textos, os autores discutem o(a) “Deus cria as coisas a partir de modelos imutáveis e eternos,
a) produção do conhecimento face à manutenção dos que são as ideias divinas. Essas ideias ou razões não existem em
argumentos de autoridade da Igreja. um mundo à parte, como afirmava Platão, mas na própria mente ou
b) caráter dinâmico do pensamento laico frente à estagnação dos sabedoria divina, conforme o testemunho da Bíblia.”
estudos religiosos. “Que a mesma sabedoria divina, por quem foram criadas todas
c) surgimento do pensamento científico em oposição à tradição as coisas, conhecia aquelas primeiras, divinas, imutáveis e eternas
teológica cristã. razões de todas as coisas antes de serem criadas, a Sagrada
Escritura dá este testemunho: No princípio era o Verbo e o Verbo
d) desenvolvimento do racionalismo crítico ao opor fé e razão.
estava junto de Deus e o Verbo era Deus. Todas as coisas foram
e) construção de um saber teológico científico. feitas pelo Verbo e sem Ele nada foi feito. Quem seria tão néscio a
ponto de afirmar que Deus criou as coisas sem conhecê-las? E se
as conheceu, onde as conheceu senão em si mesmo, junto a quem
estava o Verbo pelo qual tudo foi feito?"
(Santo Agostinho, Sobre o Gênese, V, 29).COSTA, José Silveira da. A Filosofia Cristã. In:
RESENDE, Antônio. Curso de Filosofia.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar/SEAF, 1986, p. 78, capítulo 4.

a) Explique a relação, sugerida neste texto, entre a teoria das


Ideias de Platão e o pensamento de Agostinho.
b) Explique como Agostinho usa essa teoria para explicar
o conhecimento humano, na sua conhecida Doutrina da
Iluminação Divina.

38 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
13 FILOSOFIA MEDIEVAL I: SANTO AGOSTINHO FILOSOFIA

05. (UFJF) Observe a ilustração e leia a citação abaixo. Em seguida, b. Com relação ao conceito de ideias eternas na filosofia de Agostinho, podemos dizer
que as ideias eternas são os modelos ou formas originárias a partir das quais Deus
responda ao que se pede. cria todas as coisas; elas mesmas, porém, não são criadas por Deus nem têm uma
existência independente dEle, mas são coeternas com Ele, estão na mente divina.
Com relação à função dessas ideias em nosso conhecimento, podemos afirmar
que, sendo os modelos para a criação das coisas, as ideias eternas também são os
modelos para o nosso conhecimento; assim, nós conhecemos as coisas voltando-
nos para essas ideias, que contemplamos em nós por causa da iluminação divina.
A teoria agostiniana é influenciada, podemos dizer de modo geral, pelo pensamento
de Platão e dos filósofos neoplatônicos.
04.
a. O pensamento filosófico de Santo Agostinho está muito relacionado com o de
Platão. Platão considera que existe um mundo das ideias e que elas são imutáveis
e eternas. Santo Agostinho adapta essa concepção, afirmando que tais ideias eram
conhecidas por Deus, único ente eterno, imutável e criador.
b. Enquanto Platão considera que os homens aprendem a partir da reminiscência ou
lembrança daquilo que a alma conheceu no mundo das ideias, Santo Agostinho
afirma que o conhecimento humano é fruto da iluminação divina. Sendo assim,
as verdades eternas não podem ser conhecidas pelo homem sem que haja uma
iluminação de Deus que torna o intelecto do homem capaz de pensar corretamente.
05.
a. O estudante poderá destacar, dentre outras: que a Igreja era um poderoso senhor
feudal e, nesta condição, administrava vastos territórios (senhorios e cidades),
exercendo a justiça e cobrando impostos. Essa situação refere-se às terras
pertencentes à Igreja Católica, na qual trabalhavam servos, como em um feudo
privado. Quanto aos reinos, havia forte relação entre os reis – principalmente os
francos – e a Igreja, que interferia na administração na medida em que muitos
conselheiros e ministros do Rei eram membros do alto clero.
b. O estudante poderá destacar, dentre outros elementos: a formação e envio de
religiosos para promover a conversão de pagãos; a organização e participação no
movimento cruzadístico para combater os infiéis. Se remontarmos a formação do
Reino Franco e de seu primeiro rei, Clóvis, percebemos a aliança com a Igreja e
o combate a outros povos não cristãos como apoio ao Papa. A mesma aliança
foi reforçada pelo líder franco mais importante, o Imperador Carlos Magno, como
Nascida nos quadros do Império Romano, a Igreja ia aos poucos demonstra a ilustração acima, coroado no dia de natal do ano 800 pelo próprio
preenchendo os vazios deixados por ele até, em fins do século IV, Papa.
identificar-se com o Estado, quando o cristianismo foi reconhecido
ANOTAÇÕES
como religião oficial. (...) Estreitavam-se, portanto, as relações
Estado-Igreja. (...) No Império Carolíngio, a aliança entre os reis e a
Igreja foi fundamental para a consolidação de ambos os poderes e,
por vezes, a Igreja assumia funções que hoje consideramos ser do
Estado e este por sua vez interferia nos assuntos religiosos.
FRANCO JÚNIOR, Hilário. A Idade Média. Nascimento do Ocidente.
São Paulo: Brasiliense, 2001. p.67,71

Sobre as relações entre Estado e Igreja, no período medieval,


responda:
a) Qual a importância da Igreja Católica na administração dos
reinos e impérios?
b) De que maneira o poder régio contribuiu para a expansão da
fé cristã?

GABARITO
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
01. D 05. C 09. D 13. D 17. D
02. E 06. C 10. D 14. B 18. D
03. C 07. B 11. D 15. B 19. B
04. A 08. B 12. D 16. B 20. A

EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO
01. A citação de Agostinho demonstra como, para ele, a fé é superior à razão. Ele
afirma que se pode crer em algo sem entender. Isso acontece uma vez que se pode
crer nas verdades da fé sem as compreender. Entretanto, o inverso não é possível. Algo
compreensível é algo necessariamente crível (é por isso que ele afirma “creio tudo o que
entendo”), e é por isso que a razão se submete à fé.
02. Com relação ao conceito de ideias eternas na filosofia de Agostinho, podemos dizer
que as ideias eternas são os modelos ou formas originárias a partir das quais Deus cria
todas as coisas; elas mesmas, porém não são criadas por Deus nem têm uma existência
independente dEle, mas são coeternas com Ele, estão na mente divina.
Com relação à função dessas ideias em nosso conhecimento, podemos afirmar que,
sendo os modelos para a criação das coisas, as ideias eternas também são os modelos
para o nosso conhecimento; assim, nós conhecemos as coisas voltando-nos para essas
ideias, que contemplamos em nós por causa da iluminação divina.
03.
a. A fé, para Agostinho, é consolidada e feita inteligível pela razão, e a razão é
orientada e feita compreensão pela fé. Para o filósofo cristão, o mais importante
era que a fé fosse a principal busca da razão, que o homem acreditasse realmente
para, então, poder compreender.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 39
FILOSOFIA 13 FILOSOFIA MEDIEVAL I: SANTO AGOSTINHO

ANOTAÇÕES

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