Você está na página 1de 6

14 FILOSOFIA MEDIEVAL II: FILOSOFIA

SÃO TOMÁS DE AQUINO

SÃO TOMÁS DE AQUINO E A 3. Tudo o que é em outro segue aquilo em que é; se pois
a verdade fosse primeiramente na alma, então o juízo
ESCOLÁSTICA sobre a verdade seria segundo a afirmativa da alma,
e assim ressurgiria o erro dos antigos filósofos que
A ESCOLÁSTICA possui uma origem aristotélica, além disso
diziam que é verdadeiro tudo o que alguém opinava
é uma corrente com grande influência das universidades cristãs
com o intelecto, e que duas coisas contraditórias são
que surgiam na Europa ao final da idade média. O maior nome da
simultaneamente verdadeiras, o que é absurdo.
escolástica vai ser São Tomás de Aquino, com suas cinco vias, que
vão buscar demonstrar e comprovar a existência de Deus. 4. Se a verdade é primeiramente no intelecto, é necessário
que na definição de verdade haja algo pertencente ao
Aquino (1225 - 1274), nascido na comuna de Roccasecca, Itália,
intelecto. Mas Agostinho reprova definições tais como:
tem sua trajetória plenamente centrada no século XIII, e não apenas
“Verdadeiro é aquilo que é como aparece”, porque deste
do ponto de vista cronológico: todas as significativas novidades
modo não seria verdadeiro aquilo que não aparece, o que
culturais desse tempo mantêm estreita relação com sua vida e lutas.
é evidentemente falso se consideramos as mais ocultas
Ao contrário do clichê que o apresenta como uma época de paz e
pedras nas vísceras da terra. Analogamente reprova e
equilíbrio harmônico, esse século é um tempo de agudas contradições,
confuta esta outra definição: “É verdadeiro aquilo que é
tanto no plano econômico e social como no do pensamento.
assim como aparece ao cognoscente, caso queira e possa
conhecer”, porque então uma coisa não seria verdadeira no
CINCO VIAS caso que o cognoscente não quisesse e pudesse conhecer.
A mesma razão valeria para qualquer definição contendo
1. O primeiro motor - Tudo está em constante movimento,
algo pertencente ao intelecto; portanto, a verdade não é
mas necessita de algum movimento inicial. É preciso que
primeiramente no intelecto.
uma força externa coloque outra em movimento, que por
sua vez é movida por outra ainda. Na origem de tudo está
Deus, que é o motor inicial, imutável e eterno. Em contrário:
2. A causa eficiente - Tudo que é, é causa ou efeito. Deus é 1. O Filósofo [Aristóteles] diz: “O falso e o verdadeiro não são
a causa 1ª. nas coisas, mas na mente”.
3. Ser necessário e ser contingente - Tudo que existe no 2. “A verdade é a adequação da coisa do intelecto”, mas esta
mundo sensível está em movimento. A sua existência, adequação só pode ser no intelecto; portanto, a verdade é
porém, não é necessária, mas necessita de outra para só no intelecto.
existir, sendo assim, Deus é a existência primeira, que deu
origem as demais. Solução:
4. Os graus da perfeição - O julgamento humano ocorre com Quando predicados dizem-se primeiramente de uma coisa e
referências que não existem em si. Somos imperfeitos, posteriormente de outras, não é necessário que aquela coisa que
porém julgamos a partir da ideia de perfeito. Assim, for causa das outras receba por primeiro a predicação comum, mas
apesar de não conhecermos a perfeição, reconhecemos aquela em que está primeiramente a noção comum completa, como
sua existência. A perfeição é Deus. “sadio” diz-se primeiramente do animal, no qual a noção perfeita de
5. Governo Supremo - Tudo tem uma finalidade, um saúde encontra-se em primeiro lugar, ainda que o remédio diz-se
propósito. Essa finalidade está sendo organizada por sadio enquanto proporciona saúde; e assim, dado que o verdadeiro
alguma instância, que para Aquino é Deus. diz-se antes de uma coisa e depois de outras, é necessário que se
diga antes de tudo aquilo em que se encontra primeiramente a noção
completa de verdade. O complemento de qualquer movimento ou
operação está em seu término. O movimento pois da faculdade
TEXTO COMPLEMENTAR: cognoscitiva termina na alma – é preciso efetivamente que o
“Se a verdade encontra-se antes no intelecto do que nas coisas. conhecido seja no cognoscente segundo o modo do cognoscente –,
Parece que não.” enquanto o movimento da faculdade apetitiva termina na coisa: por
isso o Filósofo [Aristóteles] estabelece um certo círculo nos atos da
alma: a coisa fora da alma move o intelecto, a coisa entendida move
Objeções: o apetite, o apetite tende à coisa da qual o movimento principiou.
1. O verdadeiro, como foi dito, é convertível com o ente; mas E como o bem, como se disse, indica o ajustar-se do ente ao apetite,
o ente encontra-se antes nas coisas do que na alma, o verdadeiro, do ente ao intelecto, o Filósofo diz que o bem e o mal
portanto também o verdadeiro. são nas coisas, o verdadeiro e o falso porém na mente. Ora, uma
2. As coisas são na alma não por essência, mas por suas coisa só se diz verdadeira enquanto é adequada ao intelecto, pelo que
espécies, como diz o Filósofo [Aristóteles]; se pois a o verdadeiro encontra-se nas coisas posteriormente, primariamente
verdade encontra-se principalmente na alma, então não pois no intelecto.
será a essência da coisa, mas sua semelhança e espécie, (TOMÁS DE AQUINO. Verdade e Conhecimento)
e o verdadeiro será uma espécie do ente existente fora
da alma. Mas uma espécie da coisa existente na alma
não se predica da coisa fora da alma, como também
não é convertível com a mesma: ser convertível é pois
predicar-se reciprocamente; portanto, nem o verdadeiro é
convertível com o ente, o que é falso.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 41
FILOSOFIA 14 FILOSOFIA MEDIEVAL II: SÃO TOMÁS DE AQUINO

Discorrendo sobre a “possibilidade de descobrir a verdade divina”,


EXERCÍCIOS ele diz que há duas modalidades de verdade acerca de Deus. A
PROTREINO primeira refere-se a verdades da revelação que a razão humana não
consegue alcançar, por exemplo, entender como é possível Deus
ser uno e trino. A segunda modalidade é composta de verdades que
01. Aponte a corrente da Filosofia Medieval a qual São Tomás de a razão pode atingir, por exemplo, que Deus existe.
Aquino pertencia.
A partir dessa citação, indique a afirmativa que melhor expressa o
02. Aponte as principais características da Escolástica. pensamento de Tomás de Aquino.
03. O que são as Cinco Vias? a) A fé é o único meio do ser humano chegar à verdade.
b) O ser humano só alcança o conhecimento graças à revelação
04. Aponte o “primeiro motor” para Tomás de Aquino.
da verdade que Deus lhe concede.
05. Apresente o principal elemento da via número 5. c) Mesmo limitada, a razão humana é capaz de alcançar certas
verdades por seus meios naturais.
d) A Filosofia é capaz de alcançar todas as verdades acerca de Deus.
e) Deus é um ser absolutamente misterioso e o ser humano nada
EXERCÍCIOS pode conhecer d’Ele.

PROPOSTOS 05. (UFU) A teologia natural, segundo Tomás de Aquino (1225-


1274), é uma parte da filosofia, é a parte que ele elaborou mais
01. (ESPM) Seu principal objetivo era demonstrar, por um raciocínio profundamente em sua obra e na qual ele se manifesta como um
lógico formal, a autenticidade dos dogmas cristãos. A filosofia gênio verdadeiramente original. Se se trata de física, de fisiologia ou
devia desempenhar um papel auxiliar na realização deste objetivo. dos meteoros, Tomás é simplesmente aluno de Aristóteles, mas se
Por isso a tese de que a filosofia está a serviço da teologia. se trata de Deus, da origem das coisas e de seu retorno ao Criador,
(Antonio Carlos Wolkmer – Introdução à História do Pensamento Político) Tomás é ele mesmo. Ele sabe, pela fé, para que limite se dirige,
contudo, só progride graças aos recursos da razão.
O texto deve ser relacionado com: GILSON, Etienne. A Filosofia na Idade Média,
São Paulo: Martins Fontes, 1995, p. 657.
a) a filosofia epicurista.
b) a filosofia escolástica. De acordo com o texto acima, é correto afirmar que
c) a filosofia iluminista. a) a obra de Tomás de Aquino é uma mera repetição da obra de
d) o socialismo. Aristóteles.
e) o positivismo. b) Tomás parte da revelação divina (Bíblia) para entender a
natureza das coisas.
02. (UFU) O filósofo grego que maior influência exerceu sobre c) as verdades reveladas não podem de forma alguma ser
Santo Tomás de Aquino foi compreendidas pela razão humana.
a) Platão. d) Heráclito. d) é necessário procurar a concordância entre razão e fé, apesar
da distinção entre ambas.
b) Aristóteles. e) Parmênides.
c) Sócrates. 06. (UFU) Considere o seguinte texto sobre Tomás de Aquino
(1226-1274).
03. (UFU) Com efeito, existem a respeito de Deus verdades que
Fique claro que Tomás não aristoteliza o cristianismo, mas
ultrapassam totalmente as capacidades da razão humana. Uma
cristianiza Aristóteles. Fique claro que ele nunca pensou que, com
delas é, por exemplo, que Deus é trino e uno. Ao contrário, existem
a razão se pudesse entender tudo; não, ele continuou acreditando
verdades que podem ser atingidas pela razão: por exemplo, que
que tudo se compreende pela fé: só quis dizer que a fé não estava
Deus existe, que há um só Deus etc.
em desacordo com a razão, e que, portanto, era possível dar-se ao
AQUINO, Tomás de. Súmula contra os Gentios. Capítulo Terceiro:
A possibilidade de descobrir a verdade divina. Tradução de Luiz João Baraúna. São
luxo de raciocinar, saindo do universo da alucinação.
Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 61. Eco, Umberto. “Elogio de santo Tomás de Aquino”.
In: Viagem na irrealidade cotidiana, p.339.
Para São Tomás de Aquino, a existência de Deus se prova
É correto afirmar, segundo esse texto, que:
a) por meios metafísicos, resultantes de investigação intelectual.
a) Tomás de Aquino, com a ajuda da filosofia de Aristóteles,
b) por meio do movimento que existe no Universo, na medida em conseguiu uma prova científica para as certezas da fé, por
que todo movimento deve ter causa exterior ao ser que está exemplo, a existência de Deus.
em movimento.
b) Tomás de Aquino se empenha em mostrar os erros da filosofia
c) apenas pela fé, a razão é mero instrumento acessório e de Aristóteles para mostrar que esta filosofia é incompatível
dispensável. com a doutrina cristã.
d) apenas como exercício retórico. c) o estudo da filosofia de Aristóteles levou Tomás de Aquino a
rejeitar as verdades da fé cristã que não fossem compatíveis
04. (UFU) A grande contribuição de Tomás de Aquino para a vida com a razão natural.
intelectual foi a de valorizar a inteligência humana e sua capacidade
d) a atitude de Tomás de Aquino diante da filosofia de Aristóteles
de alcançar a verdade por meio da razão natural, inclusive a respeito
é de conciliação desta filosofia com as certezas da fé cristã.
de certas questões da religião.

42 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
14 FILOSOFIA MEDIEVAL II: SÃO TOMÁS DE AQUINO FILOSOFIA

07. (UFU) As cinco vias consistem em cinco grandes linhas de b) Para Santo Tomás, os objetos inanimados movem-se por si
argumentação por meio das quais se pode provar a existência mesmos e esse fenômeno demonstra a existência de Deus.
de Deus. Sua importância reside sobretudo em que supõe a c) A demonstração do primeiro motor não recorre à sensibilidade,
possibilidade de se chegar no entendimento de Deus, ainda que de
dispensando toda e qualquer observação da natureza, uma vez
forma parcial e indireta, a partir da consideração do mundo natural,
que sua fundamentação é somente racional.
do cosmo, entendido como criação divina.
MARCONDES, D. Textos básicos de filosofia: dos pré-socráticos a
d) Conforme o argumento da primeira via podemos concluir que
Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999. p. 67. Deus é o motor imóvel, o qual move todas as coisas, mas não
é movido.
A partir do texto, marque a alternativa correta.
a) As cinco vias são argumentos diretos e evidentes da existência 10. (UPE) A religião teve importância para a Idade Média em amplos
de Deus. aspectos da sua vida social. Além do seu destaque político, merece
ressaltar figuras, como Tomás de Aquino, pensador influente, que,
b) Tomás de Aquino formula as cinco vias da prova da existência
no período Medieval,
de Deus, utilizando, sistematicamente, as passagens bíblicas
para fundamentar seus argumentos. a) foi um crítico dos costumes da época, sendo partidário de
heresias que incomodavam o clero secular.
c) As cinco vias partem de afirmações gerais e racionais sobre a
existência de Deus, para chegar a conclusões sobre as coisas b) se firmou como um dos pensadores importantes da Igreja
sensíveis, particulares e verificáveis sobre o mundo natural. Católica, embora tivesse ligações filosóficas com Aristóteles.
d) Tomás de Aquino formula as argumentações que provam c) negou a necessidade de acreditar em Deus de forma
a existência de Deus sob a influência do pensamento de institucional, defendendo o pensamento de santo Agostinho.
Aristóteles, recorrendo não à Bíblia, mas, sobretudo, à d) influenciou as ideias da Igreja no período da Alta Idade Média,
Metafísica do filósofo grego. com sua exaltação da fé individual.
e) se tornou o centro do pensamento cristão no Ocidente,
08. (UFU) Sobre Tomás de Aquino, considere o seguinte trecho, construindo uma reflexão a partir de Platão e dos pré-socráticos.
extraído de uma conhecida História da Filosofia.
“O sistema tomista baseia-se na determinação rigorosa das 11. (ENEM PPL) Enquanto o pensamento de Santo Agostinho
relações entre a razão e a revelação. Ao homem, cujo fim último representa o desenvolvimento de uma filosofia cristã inspirada
em Platão, o pensamento de São Tomás reabilita a filosofia de
é Deus, o qual excede toda a compreensão da razão, não basta a
Aristóteles – até então vista sob suspeita pela Igreja –, mostrando
investigação filosófica baseada na razão. Mesmo aquelas verdades
ser possível desenvolver uma leitura de Aristóteles compatível com
que a razão pode alcançar sozinha, não é dado a todos alcançá-las, a doutrina cristã. O aristotelismo de São Tomás abriu caminho
e não está livre de erros o caminho que a elas conduz. Foi, portanto, para o estudo da obra aristotélica e para a legitimação do interesse
necessário que o homem fosse instruído convenientemente e com pelas ciências naturais, um dos principais motivos do interesse por
mais certeza pela revelação divina. Mas a revelação não anula Aristóteles nesse período.
nem torna inútil a razão: ‘a graça não elimina a natureza, antes a MARCONDES, D. Textos básicos de filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
aperfeiçoa’. A razão natural subordina-se à fé tal como no campo
prático as inclinações naturais se subordinam à caridade.” A Igreja Católica por muito tempo impediu a divulgação da obra de
Aristóteles pelo fato de a obra aristotélica
ABBAGNANO, Nicola. História da Filosofia .
Lisboa: Presença, 1978, p. 29-30, Vol. IV. a) valorizar a investigação científica, contrariando certos dogmas
religiosos.
Com base no texto, é correto afirmar que Tomás de Aquino b) declarar a inexistência de Deus, colocando em dúvida toda a
a) rejeitava as verdades da fé cristã que não pudessem ser moral religiosa.
explicadas plenamente pela razão humana. c) criticar a Igreja Católica, instigando a criação de outras
b) desprezava, por serem inúteis, as tentativas racionais em instituições religiosas.
compreender as verdades da fé cristã. d) evocar pensamentos de religiões orientais, minando a
c) buscava conciliar as verdades da fé cristã com as exigências expansão do cristianismo.
da razão humana.
e) contribuir para o desenvolvimento de sentimentos
d) subordinava a fé à razão natural, só sendo digno de crença o antirreligiosos, seguindo sua teoria política.
que pudesse ser cientificamente comprovado.
12. (ENEM) Ora, em todas as coisas ordenadas a algum fim, é
09. (UFU) Santo Tomás de Aquino, nascido em 1224 e falecido em preciso haver algum dirigente, pelo qual se atinja diretamente
1274, propôs as cinco vias para o conhecimento de Deus. Estas o devido fim. Com efeito, um navio, que se move para diversos
vias estão fundamentadas nas evidências sensíveis e racionais. lados pelo impulso dos ventos contrários, não chegaria ao fim de
A primeira via afirma que os corpos inanimados podem ter destino, se por indústria do piloto não fosse dirigido ao porto; ora,
movimento por si mesmos. Assim, para que estes corpos tenham
tem o homem um fim, para o qual se ordenam toda a sua vida
movimento é necessário que algo os mova. Esta concepção leva à
e ação. Acontece, porém, agirem os homens de modos diversos
necessidade de um primeiro motor imóvel, isto é, algo que mesmo
em vista do fim, o que a própria diversidade dos esforços e
não sendo movido por nada pode mover todas as coisas.
ações humanas comprova. Portanto, precisa o homem de um
Sobre a primeira via, que é a do movimento, marque a alternativa dirigente para o fim.
correta.
AQUINO. T. Do reino ou do governo dos homens: ao rei do Chipre. Escritos políticos de
a) Para que os objetos tenham movimento é necessário que São Tomás de Aquino. Petrópolis: Vozes, 1995 (adaptado).
algo os mova; dessa forma, entende-se que é necessário
um primeiro motor. Logo, podemos entender que Deus não é
necessário no sistema.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 43
FILOSOFIA 14 FILOSOFIA MEDIEVAL II: SÃO TOMÁS DE AQUINO

No trecho citado, Tomás de Aquino justifica a monarquia como o 15. (UNIFESP) Terminada a Antiguidade, havia à disposição do
regime de governo capaz de Ocidente medieval duas concepções filosóficas fundamentais e
a) refrear os movimentos religiosos contestatórios. distintas: a visão grega (resumida por Aristóteles) de que o homem
foi formado para viver numa cidade, e a visão cristã (resumida
b) promover a atuação da sociedade civil na vida política. por Santo Agostinho) de que o homem foi formado para viver em
c) unir a sociedade tendo em vista a realização do bem comum. comunhão com Deus. Nos últimos séculos da Idade Média, com
d) reformar a religião por meio do retorno à tradição helenística. relação a essas duas filosofias, é correto afirmar que:
a) foram reconciliadas por São Tomás de Aquino ao unir razão
e) dissociar a relação política entre os poderes temporal e espiritual.
(livre-arbítrio) com revelação (fé).
13. (UFU) “Em sua teoria do conhecimento, Tomás de Aquino b) entraram em conflito e deram lugar a uma nova visão, elaborada
substitui a doutrina da iluminação divina pela da abstração, de por frades beneditinos e dominicanos.
raízes aristotélicas: a única fonte de conhecimento humano seria a c) continuou a prevalecer a visão grega, como se pode ver nos
realidade sensível, pois os objetos naturais encerrariam uma forma escritos de Abelardo a Heloísa.
inteligível em potência, que se revela, porém, não aos sentidos que d) sofreram um processo de adaptação para justificar a primazia
só podem captá-la individualmente - mas ao intelecto.” do poder temporal ou secular.
INÁCIO, Inês C. e LUCA, Tânia Regina de. e) passou a predominar a visão cristã, depois de uma longa
O pensamento medieval. São Paulo: Ática, 1988, p. 74. hegemonia da visão grega.

Considerando o trecho citado, assinale a alternativa verdadeira. 16. (ENEM 2018) Desde que tenhamos compreendido o significado
a) O texto faz referência à influência de Aristóteles no pensamento da palavra “Deus”, sabemos, de imediato, que Deus existe. Com efeito,
de Tomás de Aquino, que se opõe, em muitos pontos, à tradição essa palavra designa uma coisa de tal ordem que não podemos
agostiniana, que tinha influência de Platão. conceber nada que lhe seja maior. Ora, o que existe na realidade e
no pensamento é maior do que o que existe apenas no pensamento.
b) O texto expõe a doutrina da iluminação, formulada por Tomás
Donde se segue que o objeto designado pela palavra “Deus”, que
de Aquino para explicar a origem de nosso conhecimento. existe no pensamento, desde que se entenda essa palavra, também
c) Para Tomás de Aquino, a realidade sensível é apenas uma existe na realidade. Por conseguinte, a existência de Deus é evidente.
cópia enganosa da verdadeira realidade que se encontra na TOMÁS DE AQUINO. Suma teológica. Rio de Janeiro: Loyola, 2002.
mente divina.
O texto apresenta uma elaboração teórica de Tomás de Aquino
d) Tomás de Aquino substitui a doutrina da iluminação pela teoria
caracterizada por
da abstração aristotélica, a fim de mostrar que a fé em Deus é
incompatível com as verdades científicas. a) reiterar a ortodoxia religiosa contra os heréticos.
b) sustentar racionalmente doutrina alicerçada na fé.
14. (UFU) Em O ente e a essência, Tomás de Aquino argumenta c) explicar as virtudes teologais pela demonstração.
sobre a existência de Deus, refutando teses de outras doutrinas da d) flexibilizar a interpretação oficial dos textos sagrados.
filosofia escolástica. Com este propósito ele escreveu:
e) justificar pragmaticamente crença livre de dogmas.
“Tampouco é inevitável que, se afirmarmos que Deus é
exclusivamente ser ou existência, caiamos no erro daqueles que
17. (ENEM PPL) Tomás de Aquino, filósofo cristão que viveu no
disseram que Deus é aquele ser universal, em virtude do qual todas
século XIII, afirma: a lei é uma regra ou um preceito relativo às nossas
as coisas existem formalmente. Com efeito, este ser que é Deus ações. Ora, a norma suprema dos atos humanos é a razão. Desse
é de tal condição, que nada se lhe pode adicionar. (...) Por este modo, em última análise, a lei está submetida à razão; é apenas uma
motivo afirma-se no comentário à nona proposição do livro Sobre formulação das exigências racionais. Porém, é mister que ela emane
as Causas, que a individuação da causa primeira, a qual é puro ser, da comunidade, ou de uma pessoa que legitimamente a representa.
ocorre por causa da sua bondade. Assim como o ser comum em GILSON, E.; BOEHNER, P. História da filosofia cristã. Petrópolis: Vozes, 1991 (adaptado).
seu intelecto não inclui nenhuma adição, da mesma forma não
inclui no seu intelecto qualquer precisão de adição, pois, se isto No contexto do século XIII, a visão política do filósofo mencionado
acontecesse, nada poderia ser compreendido como ser, se nele retoma o
algo pudesse ser acrescentado.” a) pensamento idealista de Platão.
AQUINO, Tomás. O ente e a essência. Trad. de Luiz João Baraúna. b) conformismo estoico de Sêneca.
São Paulo: Nova Cultural, 1988, p. 15. Coleção “Os Pensadores”. c) ensinamento místico de Pitágoras.
d) paradigma de vida feliz de Agostinho.
Tomás de Aquino está seguro de que nada se pode acrescentar a
Deus, porque e) conceito de bem comum de Aristóteles.
a) sua essência composta de essência e existência é
18. (PUCPR 2009) Em relação ao sentido que São Tomás de Aquino
autossuficiente para gerar indefinidamente matéria e forma,
aplica à virtude da Prudência, considere as seguintes afirmações:
criando todas as coisas.
I. A grande contribuição desse texto de São Tomás é
b) sua essência simples é gerada incessantemente, embora não
apresentar a ideia de Prudência como aquela que passou
seja composta de matéria e forma, multiplica-se em si mesmo
a ser entendida desde então como cautela, que tem como
na pluralidade dos seres.
base o sentimento de cada indivíduo.
c) é essência divina, absolutamente simples e idêntica a si mesma,
II. Para esse pensador medieval, a prudência é a reta razão
constituindo-se, necessariamente, uma essência única.
aplicada ao agir, ou seja, uma virtude que possibilita ao ser
d) é ser contingente, no qual essência e existência não dependem humano encontrar, em cada decisão a ser tomada, aquela
do tempo, por isso, gera a si mesmo eternamente, dando que indica o “caminho certo”.
existência às criaturas.
III. Prudência, para São Tomás, é uma virtude especial que
nem todos os homens possuem, pois depende de uma
capacidade intuitiva.

44 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR
14 FILOSOFIA MEDIEVAL II: SÃO TOMÁS DE AQUINO FILOSOFIA

Assinale a alternativa verdadeira: Responda:


a) Apenas afirmação II está correta. Como poderão as realidades sensíveis auxiliar a razão humana a
b) As afirmações I e II estão corretas. conhecer a existência de Deus?
c) As afirmações I e III estão corretas.
03. (UFU) Considere o trecho abaixo.
d) Nenhuma afirmação está correta.
“Se é verdade que a verdade da fé cristã ultrapassa as
e) Apenas a afirmação III está correta. capacidades da razão humana, nem por isso os princípios inatos
19. (UFF) Na Idade Média, se considerava que o ser humano podia naturalmente à razão podem estar em contradição com esta
alcançar a verdade por meio da fé e também por meio da razão. Ao verdade sobrenatural”.
mesmo tempo, o poder religioso (Igreja) e o poder secular (Estado) AQUINO, Tomás de. Suma contra os gentios.
São Paulo: Abril Cultural. v. VIII. 1973. p. 70. (Os Pensadores)
mantinham relacionamento político tenso e difícil. O filósofo Tomás
de Aquino desenvolveu uma concepção destinada a conciliar FÉ e Responda:
RAZÃO, bem como IGREJA e ESTADO.
a) Por que, segundo Tomás de Aquino, os princípios da razão não
De acordo com as ideias desse filósofo, podem contradizer as verdades da fé?
a) o Estado deve subordinar-se à Igreja. b) Havendo conflito entre os princípios da razão e as verdades da
b) a Igreja e o Estado são mutuamente incompatíveis. fé, como se deve resolver tal conflito?
c) a Igreja e o Estado devem fundir-se numa só entidade.
d) a Igreja e o Estado são, em certa medida, conciliáveis. 04. (UFU) Considere o trecho abaixo, extraído da Suma de Teologia
de Tomás de Aquino (1224-1274), texto em que ele apresenta uma
e) a Igreja deve subordinar-se ao Estado. das célebres cinco vias pelas quais se pode provar a existência de
20. (UEPB) A questão central que vai atravessar todo o pensamento Deus.
filosófico medieval é a harmonização de duas esferas: a fé e a razão. “A quinta via é assumida a partir do governo das coisas.
Assinale a alternativa correta: Vemos, com efeito, que aquilo que carece de inteligência, ou seja,
a) A partir de Agostinho e da introdução do aristotelismo, a Igreja os corpos naturais, opera em vista de um fim, o que se percebe
tem uma teologia e uma filosofia que privilegiam a fé em pelo fato de sempre ou frequentemente operarem do mesmo
detrimento da razão, gerando o conflito entre ciência e religião. modo a fim de atingir o que é o melhor. Daí fica claro que não é
por acaso, e sim intencionalmente que atingem este fim. Mas o
b) Tomás de Aquino, influenciado pela visão platônica do mundo,
que não tem inteligência não tende a um fim se não for dirigido por
demonstrou que o caminho de Deus se dá apenas pela intuição.
algo cognoscente e inteligente, assim como a flecha pelo arqueiro.
c) O teocentrismo é a concepção segundo a qual o homem é o Portanto, há algo inteligente pelo qual todas as coisas naturais são
centro do universo: tudo foi criado para ele. ordenadas a seu fim, e este dizemos que é Deus.”
d) Agostinho defende maior autonomia da razão na obtenção de AQUINO, Tomás de. Suma de Teologia, questão 2, artigo 3.
respostas e nega a subordinação desta em relação à fé.
a) Segundo Tomás de Aquino, a prova sobre a existência de Deus
e) O pensamento de Agostinho, século V, reconhecia a importância
não é uma demonstração de fato (caso em que seria evidente),
do conhecimento, mas defendia uma subordinação maior da
e sim uma prova a partir dos efeitos. Explique por que essa
razão em relação à fé, por acreditar que esta última pudesse
quinta via é uma prova a partir dos efeitos.
restaurar a condição decaída da razão humana.
b) Descreva como Tomás de Aquino se utiliza da filosofia de
Aristóteles na elaboração dessa prova.
EXERCÍCIOS DE
APROFUNDAMENTO
05. (UNESP)
TEXTO 1
Para santo Tomás de Aquino, o poder político, por ser uma
01. (UFU) "Para que, pois, a salvação dos homens seja
instituição divina, além dos fins temporais que justificam a ação
alcançada de maneira mais conveniente e segura foi necessário
política, visa outros fins superiores, de natureza espiritual. O Estado
que fossem instruídos a respeito das coisas divinas, pela divina
deve dar condições para a realização eterna e sobrenatural do
revelação. Donde a necessidade de uma ciência sagrada,
homem. Ao discutir a relação Estado-Igreja, admite a supremacia
obtida pela revelação, além das disciplinas filosóficas que são
desta sobre aquele. Considera a Monarquia a melhor forma de
investigadas pela razão. Por isso, nada impede que as mesmas
governo, por ser o governo de um só, escolhido pela sua virtude,
coisas de que tratam as disciplinas filosóficas, na medida em
desde que seja bloqueado o caminho da tirania.
que são cognoscíveis pela luz da razão natural, sejam tratadas
por outra ciência, na medida em que são conhecidas pela luz da TEXTO 2
revelação divina". Maquiavel rejeita a política normativa dos gregos, a qual, ao
(Tomás de Aquino - Suma Teológica, I Q.I, art.1., Porto Alegre, Ed. Sulina) explicar “como o homem deve agir”, cria sistemas utópicos. A
nova política, ao contrário, deve procurar a verdade efetiva, ou seja,
O texto acima de Tomás de Aquino refere-se ao problema da relação “como o homem age de fato”. O método de Maquiavel estipula a
entre revelação (fé) e Filosofia (razão). Explicite, a partir do texto, qual é a observação dos fatos, o que denota uma tendência comum aos
posição de Tomás de Aquino sobre o referido problema. pensadores do Renascimento, preocupados em superar, através da
experiência, os esquemas meramente dedutivos da Idade Média.
02. (UFU) Leia com atenção a citação da obra de Tomás de Aquino.
Seus estudos levam à constatação de que os homens sempre
“Para quem reflete, torna-se claro que as realidades sensíveis agiram pelas formas da corrupção e da violência.
em si mesmas, que fornecem à razão humana a fonte do (Maria Lúcia Aranha e Maria Helena Martins.
conhecimento, conservam nelas um certo vestígio de semelhança Filosofando, 1986. Adaptado.)
com Deus, embora se trate de um vestígio tão imperfeito, que é
incapaz de exprimir a substância de Deus.” Explique as diferentes concepções de política expressadas nos
dois textos.
AQUINO, Tomás de. Súmula contra os gentios.
São Paulo: Nova Cultural, 1988. Coleção “Os Pensadores”. p. 67.

PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 45
FILOSOFIA 14 FILOSOFIA MEDIEVAL II: SÃO TOMÁS DE AQUINO

05. A primeira concepção é por princípio uma concepção política teológica. O poder
GABARITO político é instituído por Deus e a finalidade da ação política é a salvação. O Estado, por
conseguinte, deve se conformar de tal maneira que permita, ou melhor, condicione
EXERCÍCIOS PROPOSTOS o homem a viver em função do fim maior, em função da eternidade representada na
salvação. São Tomás é evidentemente um católico, considerando a primazia de sua
01. B 05. D 09. D 13. A 17. E
religião sobre quaisquer necessidades mundanas, organizando o poder político e a ação
02. B 06. D 10. B 14. C 18. A do cidadão de tal maneira que reflita apropriadamente os dogmas da Igreja.
03. B 07. D 11. A 15. A 19. D A segunda concepção é por princípio uma concepção política moderna, ou pré-
04. C 08. C 12. C 16. B 20. E moderna. A primeira superação perpetrada por Maquiavel é a superação do discurso
antigo a respeito da necessidade do homem manter um hábito guiado pelas virtudes
EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO cardiais: sabedoria, coragem, temperança e magnanimidade. Não que o homem não
deva possuir tais características, todavia elas não devem de modo algum impedi-lo de
01. Primeiramente, Santo Tomás afirma que a conveniência e a segurança da salvação do realizar uma ação cruel se assim se demonstrar útil para que ele efetive o seu poder. A
homem dependiam de uma instrução sobre as coisas divinas. Segundamente, para que segunda superação perpetrada por Maquiavel é a superação do discurso escolástico que
esta instrução se efetivasse foi necessária uma divina revelação. Terceiramente, desta predispunha o começo, meio e fim das coisas a partir da certeza da palavra revelada. O
revelação surge a ciência sagrada, ou a Teologia, através da qual se instruía o homem mundo da experiência é guiado pela fortuna e não se faz sentido impedir que certas ações
para que ele fosse salvo de modo mais conveniente e seguro. Portanto, a Teologia é uma se realizem, pois circunstancialmente elas podem ser as melhores.
ciência sobre coisas sagradas obtida através da luz divina que serve para salvar da melhor
maneira possível a alma do homem. Evidentemente, Santo Tomás não está colocando a ANOTAÇÕES
Teologia atrás da Filosofia, muito ao contrário a primeira tem absoluta primazia, pois versa
sem a menor dúvida sobre coisas muitíssimo mais elevadas e importantes. Muito menos
a Filosofia incomodaria, ou deveria incomodar, a Teologia, afinal ela seria uma obtenção
da luz da razão natural, algo subordinado a luz da razão divina. Sendo assim, a Teologia e
a Filosofia diferem e convivem, porém a primeira tem primazia e a segunda é subordinada.
“Foi sobretudo em Paris que Tomás de Aquino viveu intensamente os conflitos
intelectuais, típicos de sua época, que opunha o conhecimento pela razão, a teologia à
filosofia, a crença na revelação bíblica às investigações dos filósofos gregos. Em Paris
esses conflitos ganhavam dramaticidade mais intensa do que em qualquer outra parte da
Europa, pois a cidade era a capital do mais poderoso reino da Europa e polo de atração
de estrangeiros de todas as procedências. O papado não abria mão de seus direitos de
organização da universidade e procurava fazê-lo no sentido de combater a predominância
dos dialéticos (como eram então chamados os professores de filosofia) sobre os teólogos,
isto é, os expositores e comentadores das Sagradas Escrituras. A dialética não deveria ser
mais do que instrumento auxiliar e os mestres de teologia não deveriam fazer “ostentação
de filosofia”, determinava uma disposição papal de 1231”.
Mattos, C. L. de. Sto. Tomás – Vida e Obra. In: Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril
Cultural, 1979
02. O conhecimento da existência de Deus mediante a realidade sensível ocorre através
das cinco vias, segundo a acepção de Tomás de Aquino. Segundo o filósofo, ainda que a
interpretação realidade sensível seja incapaz de exprimir a substância de Deus, ela acaba
por provar a Sua existência. Isso porque a lei da causalidade exige um primeiro motor
imóvel, uma primeira causa eficiente, bem como uma inteligência ordenadora das coisas
e um ser necessário e perfeito acima dos demais.
03.
a. Segundo Tomás de Aquino, não se pode pensar que Razão e Fé sejam antagônicas.
Segundo ele, os princípios da razão não podem contradizer as verdades da fé
porque ambos buscam encontrar a mesma verdade. Tal verdade encontra seu
princípio em Deus, que é a origem e o motor de todas as coisas. Assim sendo, os
princípios da razão também encontram sua origem em Deus, e por isso não podem
contrariar as verdades da fé.
b. Como já foi dito, segundo Tomás de Aquino não há contradição entre os princípios
da razão e as verdades da fé. Entretanto, uma vez que as verdades da fé estão
acima da razão, pode acontecer que existam erros filosóficos que façam com que
pareça existir um conflito. Além disso, há verdades da fé que a razão não pode
compreender (como a questão de Deus ser Uno e Trino). Nesse sentido, sempre
que houver tal conflito, significa que a ideia advinda da razão é falsa e deve ser
refutada, de forma a aperfeiçoar a própria razão.
04.
a. “Há duas espécies de demonstração. Uma, pela causa, pelo por que das coisas, a
qual se apoia simplesmente nas causas primeiras. Outra, pelo efeito, que é chamada
a posteriori, embora se baseie no que é primeiro para nós; quando um efeito nos
é mais manifesto que a sua causa, por ele chegamos ao conhecimento desta.
Ora, podemos demonstrar a existência da causa própria de um efeito, sempre que
este nos é mais conhecido que aquela; porque, dependendo os efeitos da causa, a
existência deles supõe, necessariamente, a preexistência desta. Por onde, não nos
sendo evidente, a existência de Deus é demonstrável pelos efeitos que conhecemos.”
(Tomás de Aquino, Suma Teológica, questão 2, Art. 2). Assim, a quinta via toma
como princípio a finalidade dos seres, ou seja, o fato de que tudo o que carece de
inteligência opera em vista de um fim, que busca alcançar o que é o melhor. Essa
finalidade não pode ser alcançada sem que haja uma intenção ou causa. Para Tomás
de Aquino, pensar que essa finalidade possa ser alcançada sem que haja uma causa
anterior é tão absurdo como querer que uma flecha possa alcançar o alvo sem ser
antes arremessada por um arqueiro. Partindo-se desse princípio, o filósofo afirma
que o correto uso do entendimento pode conduzir o raciocínio ao conhecimento de
uma causa anterior e sucessiva, até que não se possa afirmar nenhuma outra que
não seja a primeira causa, ou seja, Theós (Deus). Por isso, afirma-se que a quinta via
é uma prova a partir dos efeitos, pois é a partir do conhecimento da natureza criada
que podemos conhecer algo a respeito do Criador.
b. De acordo com Aristóteles (Metafísica, Livro V, 1013 a 24), entende-se por causa “aquilo
de que como um material imanente provém o ser de uma coisa”. Assim, é inconcebível
que um ser imanente seja ele próprio a sua própria causa, dependendo ele de uma causa
anterior que fundamente a sua existência. Da mesma maneira, o pensamento aristotélico
valoriza a experiência como forma de acesso ao conhecimento; e a experiência nos
mostra coisas múltiplas que se harmonizam ou buscam se harmonizar em vistas de um
fim comum. Para Aristóteles, é forçoso que exista uma ordem anterior e primeira à qual
ele denomina de primeiro motor imóvel. Portanto, tomando o estagirita como referência,
e acrescentando os fundamentos da sua teologia e filosofia cristã, segundo as quais
a Alma é conhecida pelos seus atos, Tomás de Aquino afirma que Deus é essa causa
primeira que ordena as coisas para que elas possam realizar o seu fim.

46 PROENEM.COM.BR PRÉ-VESTIBULAR

Você também pode gostar