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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CAMPUS PROFESSOR ALBERTO CARVALHO

DEPARTAMENTO DE LETRAS

INTRODUÇÃO A FILOSOFIA

Itabaiana - SE

2019
RIVAN MENEZES GAMA

Trabalho apresentando como requisito de atividade sobre


a ideia de Deus para Agostinho e Tomás de Aquino. Disciplina
Filosofia, ministrada pelo Prof. PAULO SERGIO
MARCHELLI, do 4º período do Curso de Letras-português.

Itabaiana – SE

2019
A ideia de deus por Santo Agostinho e Tomás de Aquino:

Para agostinho nunca foi questionada a existência de Deus. O que lhe inquietava era
o que é Deus. Ele ignorava se Deus era ou não o governador de todas as coisas,
desconhecendo o caminho que leva até o Deus, ele mesmo afirmara em suas confissões:

Por isso nunca deixei de acreditar na vossa existência, a pesar de ignorar o que
éreis e desconhecer que os governos das coisas humanas vos pertencem. (...),
porém, sempre acreditei que existíeis e cuidáveis de nós, não obstante ignorar o
que de via pensar da vossa substância, ou que caminho nos levaria ou
reconduziria a Vós (AGOSTINHO, 1984).

Em seus comentários no livro de Salmos, Agostinho se refere a deus como “ a quem


ninguém consegue conhecer, e a quem não é permitido a alguém ignorar”. É possível
interpretar que ele quis dizer, mesmo nós não podendo conhecer a substância do que é Deus
nesta vida, a sua existência se manifesta a todos, por tudo aquilo que foi criado. Ele mesmo
argumenta sobre em sua obre A Trindade:

A existência de Deus não é proclamada somente pela autoridade dos livros


santos, mas toda a natureza que nos cerca e à qual pertencemos, proclama que
reconhece a existência de um Criador excelso (AGOSTINHO, 1994).

A partir do momento que o homem conhece Deus, seja através da fé que ele prega,
ou pela razão que demonstra tal conhecimento, está em sua memória a chave para reavivar
um reencontro e assim lembrar-se dele, e conhecer o Belo de forma verdadeira
(AGOSTINHO, 1984).

Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu te amei!
Eis que habitavas dentro de mim e eu te procuravas do lado de fora! Eu,
disforme, lançava-me sobre as belas formas das tuas criaturas. Estavas
comigo, mas eu não estava contigo. Retinham-me longe de ti as tuas
criaturas, que não existiram se em ti não existissem. Tu me chamaste, e
teu grito rompeu a minha surdez. Fulguraste e brilhaste e tua luz
afugentou a minha cegueira. Espargiste tua fragrância e, respirando-a,
suspirei por ti. Eu te saboreei, e agora tenho fome e sede de ti. Tu me
tocaste, e agora estou ardendo no desejo de tua paz (AGOSTINHO, 1984,
p.295).
No trecho descrito acima, Agostinho estava unido a Deus com todo seu ser, sem
mais questionamentos e tinha agora vida plena. Porém em sua mente ainda se passava a
lembrança de que por trinta anos buscara Deus fora de si, embora Deus estivesse dentro
dele todo este tempo. Assim, continuava a invocar deus, para ele o criador de toda a beleza:

Eu te invoco “meu Deus, misericórdia minha”, que me criaste e não te


esqueceste daquele que se esqueceu de ti. Eu te chamo à minha alma, que
preparas para te receber, inspirando-lhe este desejo. Não desampares
aquele que te invoca, tu que te antecipaste, antes que eu te invocasse
(AGOSTINHO, 1984, p.399, grifos do autor).

Agostino diz ainda que, o caminho da existência é facilmente compreendido. É


somente necessário um termo, a saber, encontrar algo que seja superior à nossa razão, seja
ele Deus, ou a verdade. Percorremos a seguinte via para tal constatação: do que é exterior
passamos ao que nos é interior.

Com isso, pelos motivos que mencionamos, constatamos em nosso íntimo, segundo
Agostinho, o que nos é superior. Desta forma, encontramos Deus. Isso posto, ao menos em
âmbito natural, não importa se a presença do Divino em nós se dê apenas pela iluminação
de regras internas, o fato é que, se provada uma vez a existência de algo superior a nossa
razão, é comprovada demonstrativamente, a existência de Deus.

Agora quanto o que pensava e afirmava, Tomás de Aquino, dizia que a existência de
Deus não parece ser tão evidente, o mesmo diz que: “como não conhecemos a essência de
Deus, esta proposição não é evidente para nós” (Suma Teológica I, q.2, a.1. RESP.).

Essa afirmação deixa evidente a relação de proximidade entre a existência e a


essência de Deus, visto que pelo que afirmou Tomás, é exatamente por não se conhecer a
essência de Deus que não é possível também afirmar de forma evidente a sua existência.
Entretanto, Tomás não se satisfaz com a ideia de que a existência de Deus não é evidente e
busca então provar sua existência, ao dizer que “Pode-se provar a existência de Deus, por
cinco vias. ” (TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica I, q.2, a.3. RESP).

Segundo Aquino, as cinco vias são dividias em:

 Primeiro motor imóvel: A primeira via supõe a existência do movimento no


universo. Um ser não move a si mesmo, só podendo, então, mover outro ou por
outro ser movido, assim, se retroagirmos ao infinito, não explicamos o movimento
se não encontrarmos um primeiro motor que move todos os outros, que seria Deus.
 Primeira causa eficiente: a segunda via fala sobre o efeito que este motor imóvel
acarreta. A percepção da ordenação das coisas em causas e efeitos permite averiguar
que não há efeito sem causa. Sendo assim, igualmente retrocedendo ao infinito, não
poderíamos senão chegar a uma causa eficiente que dá início ao movimento das
coisas.
 Ser necessário e os seres possíveis: a terceira via faz comparação entre os seres que
podem ser e não ser. A possibilidade destes seres implica que alguma vez este ser
não foi e passou a ser e ainda vem a não ser novamente. Mas do nada, nada vem e,
por isso, estes seres possíveis dependem de um ser necessário para criar suas
existências;
 Graus de Perfeição: a quarta via trata dos graus de perfeição, em que comparações
são constatadas a partir de um máximo (ótimo) que na verdade contém o verdadeiro
ser;
 Governo Supremo: a quinta via fala da questão da ordem e finalidade que a suprema
inteligência governa todas as coisas (já que no mundo há ordem!), dispondo-as de
forma organizada racionalmente, o que evidencia a intenção da existência de cada
ser.

Passada a questão da existência de Deus, como demonstrada pelas cinco vias,


Tomás sente a necessidade de discorrer sobre a essência de Deus. Uma pergunta que se faz
neste momento é se em Deus a existência precede a essência ou a essência precede a
existência.

Tomás entende que Deus é ato puro de existir, sendo simples e não composto de
nada. Primeiramente Tomás busca expressar que em Deus não existe um corpo. O próprio
Tomás (Suma Teológica I, q.3, a.1, RESP.), sobre essa questão, assim afirma que: “É
preciso dizer de modo absoluto: Deus não é um corpo”. E para completar, Tomás afirma ao
dizer da impossibilidade de em Deus existir uma composição de matéria e forma, dizendo
que: “É impossível haver em Deus alguma matéria. 1. Porque a matéria é o que está em
potência. Já se demonstrou que Deus é ato puro” (Suma Teológica I, q..3, a.2, RESP).

Tomás de Aquino acredita que, em Deus não há uma anterioridade nem da


existência e nem da essência, mas sim uma coincidência. Visto que Deus é ato puro de
existir, não havendo nele composição, somente “afirmando a completa identidade entre
essência e existir em Deus, que alcançaremos a absoluta simplicidade divina. ” (SOUZA,
p.6-7). Sendo assim, percebe-se que somente partindo pelo caminho percorrido por Tomás,
de afirmar a identidade da existência e da essência de Deus é que se pode esclarecer a
condição de ato puro de ser de Deus. Tomás em O ente a essência 61, afirma que: “há algo,
como Deus, cuja essência é seu próprio ser”. Em outra passagem, Tomás (Suma Teológica
I, q.3, a.4, RESP.) diz que “Deus não somente é sua essência, como foi demonstrado, mas
também seu ser”.

Ao afirmar que em Deus a essência e existência coincidem, Tomás busca ainda


mostrar as razões pelas quais formula sua ideia. Ele tenta mostrar que precisamente em
Deus a essência e existência precisam coincidir.
O que existe em algo que não pertence à sua essência tem de ser causado ou
pelos princípios da essência […] ou por algo exterior […]. Portanto, se o
próprio ser de uma coisa é distinto de sua essência, é necessário que este ser
seja causado ou por algo exterior ou pelos princípios essenciais dessa coisa.
É impossível, no entanto, que o ser seja causado apenas pelos princípios
essenciais da coisa; […]. É preciso, pois, que o que tem o seu ser distinto de
sua essência, o tenha causado por um outro. Ora, não se pode dizer isso de
Deus, porque dizemos que Ele é a causa eficiente primeira. Logo, é
impossível que em Deus uma coisa seja o ser e outra a essência. (TOMÁS
DE AQUINO, Suma Teológica I, q.3, a.4, RESP)

Tomás ainda discorre sobre a participação no ser. Para ele, Deus é o ser e não um
ente por participação. Caso Deus fosse um ente por participação ele não seria um ente por
essência. “Se [Deus] não fosse seu próprio ser, Ele seria um ente por participação, e não por
essência. Não seria então o primeiro ente, o que é um absurdo. Logo, Deus é o seu ser, e
não apenas sua essência” (TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica I, q.3, a.4, RESP)

Por fim, é notável que Tomás de Aquino realiza um esforço racional para solucionar
o problema da existência e da essência de Deus. O modo como Tomás responde a esse
problema é bastante coerente com todo o seu pensamento.
REFERÊNCIAS

AGOSTINHO, Santo. A trindade. Trad. e introd. de Agustinho Belmonte. São Paulo:


Paulus, 1994.

AGOSTINHO. Confissões. Trad: Maria Luiza Jardi m A marante; Ver.: Antônio


da Silveira Mendonça. – São Paulo: Ed. Paulinas, 1984.

AQUINO, Tomás. O ente e a essência. Tradução Carlos Arthur do Nascimento.


Petrópólis: Vozes, 1995.

AQUINO. Suma Teológica. Trad. Aimom- Marie Roguet et al. São Paulo: Loyola, 2001.
v. I.

PEREIRA, Roberto. A existência de Deus segundo Santo Agostinho. Disponível em:


http://www.recantodasletras.com.br/artigos/3704816. Acesso em 17/09/2017.

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