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TEODICEIA
INTRODUÇÃO
1. – Teodiceia, que por alguns foi acostumada a ser chamada de
Teologia Natural, é aquela parte da Filosofia que investiga e demonstra a
existência que Deus e das suas altíssimas perfeições pelo lume da razão.
À medida em que é parte da Filosofia, compete a ela a razão de verdadeira
ciência. Pois a Filosofia, em todas as suas partes, é ciência verdadeira. À
medida em que é versada acerca de Deus e de suas excelsas perfeições, é
discriminada pelas restantes partes da Filosofia; pois toda ciência aceita
por seu próprio objeto a sua razão. À medida em que, finalmente, investiga
as suas verdades pelo lume da razão, é distinguida da Teologia: já que esta
examina a natureza e os divinos mistérios de Deus sob um lume da fé e da
revelação sobrenatural mais elevado.
2. – Não há por que digamos uma só palavra sobre a nobreza da
Teodiceia. Pois consta que aquela é o que é máximo, porque esta ciência é
versada acerca do objeto mais nobre. A ordem, porém, das coisas que
serão trazidas será esta: primeiro provaremos a existência de Deus, e então
examinaremos ser aduzidos os argumentos habituais por meio de coisas
em prol dos que devem ser provados, e ventilaremos questões esperando
um conhecimento de Deus; donde, porém, provaremos a natureza de Deus,
e então os seus atributos particulares para os homens.
CAPÍTULO PRIMEIERO
DA EXISTÊNCIA DE DEUS
ARTIGO PRIMEIRO
1
Santo Agostinho, Da Doutrina Cristã, livro I, capítulo 6-7.
2
São Tomás, Suma Teológica, I. p. q. 2, art. I.
PROPOSIÇÃO
Resolvem-se as dificuldades.
3
Cf. São Tomás de Aquino, Suma Teológica I. p. q. 2, ar. 1; também Contra os Gentios I. cap. 10-11.
9. – Obj. II. Ninguém pode conceber Deus sem conceber que existe;
pois a existência é de sua essência. Por onde, aquilo que ninguém pode
conceber corretamente, sem conceber que exista, é manifestadamente
existente. Portanto.
Resp. – Dist. maj. – Ninguém pode conceber a Deus, sem conceber
pela concepção meramente apreensiva que existe, Conc.; sem cogitar pela
concepção judicativa que existe, Neg. E contradist. min. neg. cons.
Ninguém pode conceber Deus através da simples apreensão, sem
representa-lo si como existente; porque a existência é de sua razão formal.
Mas podemos conceber Deus sem jugarmos que existe: pois há e sempre
houve homens ateus, que concebem a existência de Deus, embora neguem
que Deus exista.
10. Obj. III. O conhecimento de Deus a partir do uso da primeira
razão é necessário aos homens para uma operação honesta. Portanto, antes
do primeiro uso da razão, a existência de Deus já deve ser manifesta para
aqueles.
Resp. – I.º Neg. ant. – Pois os princípios da moralidade bastam para
os homens para que agissem honestamente: deve-se fazer o bem, porém
fugir do mal; os quais são imediatamente evidentes, e não incluem o
conhecimento de Deus, sob a razão salva da formalidade da Divindade.
Resp. – 2º Trans. ant. et. dist. cons. – Antes do primeiro uso da
razão, a existência de Deus já deve para os homens ser manifesta através
do magistério externo, Trans.: através da evidência imediata, Neg. De
acordo com a providência ordinária de Deus, os homens vêm ao
conhecimento de Deus pela via da autoridade e do magistério, antes que
através de sua razão possa descobri-Lo: pois na sociedade, eles nascem e,
pelos seus pais, na infância mesmo, tomam conhecimento de Deus. Por
onde, Deus já providencia aos homens a natureza média de adquirir
conhecimento d’Ele, sem ser necessária que Sua existência seja conhecida
per se e imediatamente.
II. – Obj. IV. Dentre tudo, naturalmente e sem qualquer discurso,
notamos existir, à parte as coisas, algum objeto, por cuja posse podemos
ser felizes. Mas este objeto somente Deus é. Portanto, dentre tudo,
naturalmente e sem qualquer discurso, notamos que Deus existe.
Resp. – Conc. maj. et. min., dist. cons. – Dentre tudo, naturalmente
e sem qualquer discurso, notamos existir Deus sob a razão geral da
beatitude objetiva, Conc.: sob a razão especial e própria de Deus, Neg.
Conhecer a Deus sob a razão geral da beatitude objetiva não é
propriamente conhecer a Deus; porque não é per se conhecido nem
evidente a todos os homens que a nossa beatitude objetiva pode ser posta
somente em Deus.
12. – Obj. V. É per se conhecida esta proposição: O ente péssimo
não existe. Portanto, deve ser per se conhecida esta oposta: O ente ótimo
existe. Mas o ente ótimo é Deus. Portanto.
Resp. – Conc. ant. ac nego. cons. Et. parit. – O ente péssimo é
manifestadamente contraditório. Do contrário, a existência do ente ótimo
carece de demonstração; porque não é claro ser per se algum ente possível,
no qual se encontram reunidas simultaneamente todas as perfeições dos
restantes entes inferiores, embora o qual seja expresso através da razão
foram do ente ótimo.
13. – Obj. VI. Foi introduzida a cada homem, pela natureza mesma,
a ideia da existência divina. Donde, por causa disto, a Sagrada Escritura
diz que Deus assignou sobre nós o lume do seu vulto4: e os Santos Padres
da Igreja ensinam que o conhecimento de Deus é uma doutrina natural,
congênita e ingênita à consciência.
Resp. – Dist. maj. – Foi introduzida a cada homem, pela natureza
mesma, a ideia da existência divina, à medida em que podem, por um
discurso muito fácil, pela sua razão natural, conhecer a Deus a partir das
criaturas, Conc.; Do contrário, Neg. Donde dist. pariter min. A natureza
apenas introduz conhecimentos per se evidentes por um discurso muito
estrito, Conc.; por um menos estrito, Nego. E sob dat. dist. neg. cons. Não
somente os conhecimentos imediatamente evidentes, mas também aqueles
que, pelo discurso muito fácil a partir dos imediatamente evidentes são
inferidos, são ditos serem introduzidos pela natureza mesma. Pois a
natureza nos fez todos racionais: onde todos aqueles discursos, que sem
qualquer trabalho humano estiveram em nós assim como pelo movimento
da natureza mesma, são chamamos justamente de optimamente naturais.
Desta maneira, porém, é o discurso, pelo qual todos os homens a partir do
conhecimento deste mundo sensível belíssimo facilmente ascendem ao
conhecimento de seu autor, conduzidos sem qualquer trabalho e por quase
instintiva natureza. E somente isto é que a Escritura e os Padres querem
4
Salmos IV, v. 7.
dizer, quando dizem que o conhecimento da existência divina é para nós
ingênito e introduzido naturalmente.
ARTIGO SEGUNDO
PROPOSIÇÃO PRIMEIRA
É completamente falso que a revelação divina é absolutamente necessária
para que a mente humana, pelo lume da razão natural a partir das coisas,
possa conhecer certamente a Deus.
PROPOSIÇÃO SEGUNDA
5
Concil. Vatic. Constit. Dei Filius, cap. 2.
Deus nem é conhecido por nós em si mesmo imediatamente por qualquer
intuição nem por algum sentimento da mente
PROPOSIÇÃO TERCEIRA
Resolvem-se as dificuldades.
ARTIGO TERCEIRO
Sobre o argumento à priori em prol da existência de Deus costumeiro
de ser aduzido por alguns.
PROPOSIÇÃO PRIMEIRA
PROPOSIÇÃO SEGUNDA
Resolvem-se as dificuldades.
ARTIGO QUARTO
9
Pois, como foi dito antes, “pois repugna a causa primeira existir, se enquanto isso ela não existe”.
Dos argumentos pelos quais a existência de Deus à
posterioristicamente é verdadeiramente provada.
PROPOSIÇÃO
Resolvem-se as dificuldades.
13
Cf. S. Tom. Sum. Teol. I. p. q. 2, a 3.; item cont. gent. lib. 2, cap. 15. Cf também Suarez, Metaphys disp. 29, sec. I.
34. – Obj. II. No segundo e no terceiro argumento transitou-se do
sentido distributivo ao coletivo. Mas esta transição não é permitida.
Portanto, ambos os argumentos não tem nenhum valor.
Resp. – Conc. maj. et. dist. min. – A transição predita não é
permitida quando no caso das coisas acidentais ou das que são afirmadas
precisamente pela razão da distribuição, Conc.: quando o discurso é sobre
as coisas essenciais, ou sobre aquelas completamente à parte da
distribuição e da coleção, Neg. Assim, sub data distictione nego
consequentiam. Nos dois argumentos é tratado de coisas essenciais e que
são à parte da distribuição: consequentemente, o que é depreendido convir
à cada uma das partes da coleção, justamente é concedido à coleção
mesma nelas.
Inst. – Embora as coisas factíveis sejam infinitas, não é por essa
razão que pode existir uma multidão de coisas feitas atualmente infinitas.
Portanto, por igual razão, embora cada um dos entes sejam contingentes;
não é por essa razão lícito concluir que toda a coleção deles possam não
ser.
Resp. – Neg. parit. – Mais é requirido para existir que para não
existir: por onde, à medida em que não possa ser suposto atualmente
existente a multidão infinita das coisas factíveis, pode ser suposto não
existente toda a multidão infinita dos entes contingentes. Além disso, na
coleção infinita atualmente existente encontram-se algumas
inconveniências surgiram das coisas atualmente existentes: ainda assim, na
coleção dos entes contingentes que tem o estado de pura possibilidade,
nada inconveniente pode originar das coisas, porque aquela coleção não
está em nada fora do intelecto. Portanto, é evidente que nada há de igual
no argumento feito.
35. – Obj. III. Suposto um processo ao infinito nas causas causadas,
nenhuma tem necessidade de admitir uma causa não causada; porque
qualquer uma delas terá sua causa pela qual foi produzida. Mas esse
processo pode ser realizado, ao menos provavelmente: pois São Tomás
afirma que somente pela revelação pode ser conhecido com certeza que
não existiu no mundo uma série de geração infinita ou eterna14. Portanto.
Resp. – Neg. maj. – Para a razão aduzida dist. assert.: Qualquer
uma daquelas causas causadas terá sua causa inadequada, Conc.:
14
Cf. São Tomás Suma Teológica I. p. q. 46. art. 2.
adequada, Neg. Se cada uma das causas fosse suposta ser produzidas, toda
a coleção delas também será essencialmente produzida; porque o que
convém essencialmente às partes, essencialmente também convém ao todo.
E assim, qualquer uma daquelas causas causadas, com toda a série infinita
das causas precedentes, não contém senão aquela razão inadequada do
efeito produzido por ela; e a razão adequada só pode ser vista no concurso
dela e da causa primeira.
36. – Obj. IV. O argumento tomado da diversidade dos graus
existentes nos entes deste mundo, na verdade não vale nada. Pois: I.º
Diríamos sem qualquer fundamento que o homem perfeitíssimo é a causa
de todos os homens, ou que todas as plantas se desenvolvem a partir da
planta perfeitíssima, origem de todas elas: portanto, sem qualquer
fundamento seria dito que o perfeitíssimo em qualquer gênero é a causa de
todos os que estão no mesmo gênero. 2.º Se o argumento valesse,
restauraria as formas platônicas per se subsistentes: pois em qualquer
gênero dos entes deveria ser sustentado algo ótimo per se subsistente que é
a causa de tudo que pertence aquele gênero. Portanto.
Resp. – Neg. ant. – Ad rat. 1.am Conc. ant. et neg. conseq. Quando é
dito que o perfeitíssimo em qualquer gênero é causa das outras coisas que
pertencem ao mesmo gênero, isto deve ser entendido não dos graus
acidentais por causa daqueles indivíduos que se distinguem entre se, mas
dos graus substanciais; que são o subsistir nos minerais, o viver nas plantas
e o inteligir no homem. Pois por conta dos graus acidentais que vagam
fora da essência, um homem não é mais homem que o outro, nem uma
planta participa mais da razão de planta que outra. Porém, falando dos
graus substanciais, é verdadeiro dizer que qualquer um dos subsistenciais
tem seu ser substancial por aquilo que subsiste ao máximo, e qualquer um
dos inteligentes por aquilo que é inteligente ao máximo: porque os
superiores não devem recebem dos inferiores, mas estes daqueles.
Ad. rat. 2.am Nego assertum cum ejus probatione. Pois aquilo que é
ao máximo15, é também ao máximo subsistente, e também ao máximo
vivente, e ao máximo inteligente: e assim, não se segue do argumento
nenhuma necessidade de suportar muitos per se subsistentes, mas, do
contrário, é necessário admitir um somente.
15
I. e. No grau máximo.
37. – Obj. V. Se segue, a partir dos argumentos aduzidos, que deve
ser admitido algum ente absolutamente necessário e per se, a partir do qual
todas as coisas sensíveis se segue; no entanto, não que este ente é uno em
número. Contudo, enquanto é demonstrada a unidade de Deus, não é
demonstrada a sua existência, porque o Deus verdadeiro só é um em
número. Portanto.
Resp. – Dist. maj. – Dos argumentos etc. não se segue
imediatamente o ente absoluto, necessário, a partir da qual procederam as
coisas sensíveis, que é um em número, Conc.: não se segue de qualquer
modo, nem também remotamente, Neg. Donde, contrad. min., neg. conseq.
Para demonstrar a existência de Deus, basta que demonstramos algum
atributo próprio e exclusivo da Divindade; porque já é virtualmente
manifestada toda a essência de Deus, uma vez que todos os seus atributos
se incluem mutuamente. Além de que, se para demonstrar a existência de
Deus é necessário demonstrar sua unidade, por igual razão será necessário
dizer que a existência de Deus não é demonstrada a menos que todos os
seus atributos sejam expressamente demonstrados. Pois o Deus verdadeiro,
não somente é numericamente uno, ou único, mas também simples,
omnipotente, onisciente, livre, etc. e está em si mesmo. No entanto,
nenhum filósofo exige isso: portanto, o mesmo deve ser dito deste caso.
38. – Obj. VI. Mas cético Kant diz: O ente absolutamente
necessário, que é deduzido na demonstração cosmológica do princípio da
causalidade, se opõe ao princípio da causalidade; pois este ente existe sem
causa. Portanto.
Resp. – Neg. ant. – À razão aduzida, neg. conseq. O princípio da
causalidade não diz que todo ente tem uma causa, mas somente que todo
ente produzido, ou todo efeito: o ente absolutamente necessário, porém,
não é um efeito. Portanto, é fútil a argumentação kantiana.
39. – Obj. VII. Novamente o mesmo filósofo diz: O argumento
ontológico, que da ideia de Deus é inferida a sua existência, não é nada.
Contudo, na argumentação pela qual é inferida a partir da absoluta
necessidade de existir a perfeição infinita do ente absolutamente
necessário, encontra-se o mesmo paralogismo que no argumento
ontológico. Portanto. Prob. min. Aquela argumentação se toma assim: O
ente absolutamente necessário é o ente per se: o ente per se é
infinitamente perfeito: portanto, o ente absolutamente necessário é
absolutamente perfeito. Ora, a menor deste silogismo é a proposição
mesma das coisas que vêm ao argumento ontológico ou à demonstração a
priori: pois pode ser invertido deste modo: O ente infinitamente
perfeitíssimo é o ente per se, ou, necessariamente existe. Portanto.
Resp. – Conc. maj. et. neg. min. – Ad prob. conc. maj. et dist. min.
A menor do silogismo predito é a mesma etc. e é realizada por diversas
circunstâncias, Trans.: e é assumida pelas mesmas circunstâncias, Neg.
Neste silogismo já é suposta como demonstrada a existência, e assim
também, a possibilidade do ente absolutamente necessário; o que não
acontece quando no argumento ontológico pretendem alguns demonstrar a
existência de Deus somente a partir da ideia abstrata do ente realíssimo.
PROPOSIÇÃO
16
Santo Tomás, Suma Teológica, I. p. q. 2, art. 3.
incompreensível: pois é tal e tanta, que nenhuma das filosofias do nosso
tempo poderá a explicar, nem, pensando bem, explicará depois. Portanto.
Resolvem-se as dificuldades.
PROPOSIÇÃO.
17
Plutarco, Contra Coloten Epicur.
senão na natureza racional do homem. Pois somente aquela tem as
condições da universalidade, constância e uniformidade que convém à esta
persuasão; e, por outro lado, todas as outras causas, que são o medo, a
fraude dos legisladores, a dor dos sacerdotes e outras do mesmo tipo que
são solicitadas serem assignadas pelos ateus, são meramente particulares e
transitórias, e, por conta disso, absolutamente impotente para produzir
universalmente, constantemente e uniformemente o efeito expressado. c)
Por fim, esta persuasão fundada na natureza racional do homem demonstra
manifestamente a existência de Deus. Pois natureza humana não tende pela
sua liberdade senão para a verdade: donde tudo que, nas coisas,
especialmente as morais, é tomado do gênero humano em geral conforme
o verdadeiro e santo, necessita que existe aquilo que é verdadeiro e santo.
Portanto. Assim, diz Túlio: “Visto que não por algum hábito, ou costume,
ou lei que a opinião é constituída e é mantido um consenso firme entre
todos, é necessário ser entendido que há deuses, por conta de que temos
conhecimentos inserido ou inatos deles”18, e Sêneca: “Nos acostumamos a
dar muito valor à presunção de todos os homens: para nós, é um
argumento verdadeiro algo ser visto por todos: por exemplo, consideramos
que os deuses assim existem, porque em todos há implantada alguma
opinião sobre eles, e nem qualquer povo é projetado fora das leis e dos
costumes que não cria em certos deuses”19. E Cícero também observa:
“aquilo ao qual todos consentem pela natureza, é necessariamente
verdadeiro”20. E Aristóteles: “O que é natural, é comum. Pois tudo que os
homens julgam quase que pelo instinto, é algo naturalmente justo ou
injusto”. E é por esta causa que tal julgamento sempre permanece um e o
mesmo. Pois, como diz Cícero: “O tempo apaga as invenções das opiniões,
mas confirma os julgamentos da natureza”21.
Resolvem-se as dificuldades.
18
Cícero, De natura deorum, lib. I. cap. 17.
19
Sêneca, epist. CXVII.
20
Cícero, loc. cit.
21
Cícero, De natura deorum, lib. 2, cap. 2.
46. – Obj. I. O testemunho do gênero humano neste assunto não é
de nenhum valor: pois do contrário, do mesmo modo se provaria que
devem ser admitidos muitos deuses. Portanto.
Resp. – Neg. ant. cum ejus probatione. – O testemunho do gênero
humano na ordem para a pluralidade dos deuses não tem as aquelas
condições que devem estar nele para que possa ser critério de verdade.
Pois não foi universal, porque tanto o povo hebreu quanto quase todos os
filósofos declaravam a unidade de Deus; nem constante, porque o
cristianismo adveniente impeliu o politeísmo de todo o globo; nem nasceu
por uma reta razão, porque sua origem é devida às deformes paixões dos
homens; nem, finalmente, nem é confirmado pelo processo das ciências,
porque mais ensinam as ciências, e principalmente a filosofia, que o
politeísmo deve ser computado como um dentre grandes erros. Por outro
lado, é assignado acerca da simples existência de Deus o testemunho do
sentido comum por todas as características da infabilidade, porque o
sentido comum neste assunto é universal, constante, originado de uma
recta razão e confirmado pela cultura das ciências.
47. – Obj. II. O sentido comum acerca da simples existência de
Deus carece do caráter da universalidade; pois em todos os tempos
existiram ateus, que registram a opinião concernente a existência de Deus
uma entre as vãs credulidades. Portanto.
Resp. – Neg. ant. – Para a razão aduzida, dist. assert. Em todos os
tempos existiram ateus, poucos homens em número e de nenhuma
autoridade, que, por onde, abandonaram o consenso absolutamente
integro moralmente unanime dos povos ao admitir a existência de Deus,
Conc.: muitos em número e tais que desestabilizavam o consenso predito,
Neg. Em todos os tempos os ateus foram poucos em número e, assim
como os monstros da natureza, sempre habitaram entre os homens: donde
o consenso do gênero humano acerca da existência de Deus numa pôde ser
perturbado por eles.
48. – Obj. III. Quanto mais cresce entre os povos a cultura das
ciências e dais artes, mais fracos ficam nas virtudes religiosas. Portanto, o
julgamento do sentido comum acerca da existência de Deus deve ser dito
não ser firmado no processo das ciências, mas enfraquecido por elas.
Resp. – Dist. ant. – Quanto mais etc., mais fracos ficam nas virtudes
religiosas pela razão dos vícios, aos quais se trazem ordinariamente,
Conc.: pela razão das mesmas ciências e artes, Neg. Os homens alcançam
pela cultura das ciências e das artes coisas mediante as quais tanto
adquirem para si riquezas quanto aduzem a si maiores gozos: como sendo
um resultado se inclinar a coisas pouco religiosas e buscarem bens
sensíveis mais ardentes. Em verdade, as ciências mesmas, e principalmente
a Filosofia, não enfraquecem a virtude da religião, mas, do contrário,
colaboram com ela; e, quanto mais forte, mais plenamente e perfeitamente
são possuídas.
49. – Obj. IV. A ideia de Deus se deve à ignorância das causas
naturais. Pois visto que os homens viam os movimentos ordenados deste
mundo sensível, mas não podiam os explicar por causas naturais, fugiam à
causa sobrenatural por costume dos poetas, que, assim como aduziam
deuses ex machina na cena22.
Resp. – Neg. ant. – À razão aduzida dist. assert. De tal maneira
que, raciocinando, discorreram sabiamente, Conc: tolamente, Neg. O
povo discorre muito mais sabiamente a existência do divino Artífice ao
desconhecer o magnífico artefato dele que os ateus ao ao atribui-lo ao
acaso e ao concurso furtuito dos átomos: nem o povo nesta ignorância
deve ser culpado, mas sim os ateus, que não elevar seus olhos para além
das coisas sensíveis, oprimidos pelos seus vícios.
50. – Obj. V. O medo gera nos homens a ideia de Deus. Pois, uma
vez se percebendo imbecis e enfermos, inventaram facilmente algumas
naturezas intelectuais e invisíveis, das quais pelo seu arbítrio é regido todo
o mundo; e chamaram estas naturezas de deuses, e por obséquio e
adoração se aplicaram a cultua-los. Assim, diz o célebre Lucrécio: Os
primeiros no globo temiam os deuses. Portanto.
Resp. – I.º Trans. ant. et neg. conseq. Ainda que os ateus digam que
fora pelo medo que os primeiros homens foram induzidos a aceitar uma
opinião sobre Deus, em verdade eles não fazem completamente nada. Pois
este medo, juma vez universal e absolutamente conforme à razão humana,
deverá ser dito ser impresso pela natureza reta mesma aos homens; e
assim, o julgamento ao qual ela impele as mentes de todos os homens
22
Como Lucrécio escreve no lib. 5, V. 1182.
Praetera coeli rationes ordine certo
Et varia annorum cernebant tempora verti.
Nec poterant quibus id fieret cognoscere causis.
Ergo perfugium sibi habebant, omnia divis
Tradete, et illorum mutu facere omnia flecti.
necessariamente será tomado como verdadeiro, porque a natureza reta não
pode impelir de si ao falso.
Resp. – 2.º Neg. ant. cum ratione pro eo allata. De fato, se fosse do
medo que a ideia de Deus tivesse nascido nos homens, eles cogitariam um
Deus truculento e terrível, não, porém, amável e sumo bondoso. No
entanto, o que acontece é o contrário. Pois os homens sempre imaginaram
Deus como alguma natureza plenamente boa e extremamente louvável,
amigo dos justos, e hostil com os criminosos. A saber, pelo óptimo
concílio, conduzidos pela natureza, os homens defendiam que este
belíssimo mundo não pode existir sem algum autor, assim como o relógio
não pode existir sem o relojeiro; mas, por outro lado, que tanto o mundo
quanto estes homens descendem desta bondosa Divindade.
51. – Obj. VI. A opinião do povo sobre a existência de algum Deus
é devida à invenção dos primeiros legisladores. Pois estes julgaram que
isto é uma para manter os povos sujeitos a eles em seu ofício, e tentaram
persuadi-los por meio da existência de alguma divindade. Portanto.
Resp. – Neg. ant. – Os legisladores antigos buscaram confirmar as
suas leis com a ajuda da religião porque viam que seus súditos já eram
afetados pela religião e veneravam algum Deus supremo: donde a ideia de
Deus nos povos é mais antiga que os legisladores. Contudo, se
consultarmos as histórias, veremos facilmente que ele tomavam caso desta
maneira. Pois Amósis e Mnévis diziam que as suas leis eram aceitadas
pelos egípcios por conta de Hermes, Zoroastro entre os bactrianos e
Zalmoxis entre os getas pela deusa Vesta, Zaratustra nos arimaspos pelo
bom gênio, Radamanto e Minos entre os cretentes por Júpiter, Triptolemo
entre os atenienses por Cerere, Pitágoras e Zaleuco entre os crotoniatas e
os locrenses por Minerva, Licurgo entre os lacedemones por Apólino,
Rômulo pelo deus Conso, Númia pela ninfa Egéria, e Sertório entre os
hispanos por Diana. Porém nem podia ser outra coisa: pois, do contrário,
seria completamente difícil persuadir seu povo à existência deste Deus
destituídos totalmente da ideia da divindade; e seria ainda mais difícil
persuadir os homens ateus, que são monstros horrendos da natureza, à
opinião concebida de Deus.
Inst. – Como, portanto, pode acontecer que cada povo tivesse seus
deuses, se isto não é devido às diversas índoles dos legisladores?
Resp. – Originou-se da inconstância deste povo: o qual pouco
valorizava ter um Deus, pai comum de todos os homens e que governava
pela providência geral todas as coisas do gênero humano; mas quis ter
deuses indígenas e locais, os quais zelariam especialmente por si e por
suas coisas. Contudo, os povos conduzidos por esta vanidade
gradualmente declinaram do monoteísmo ao politeísmo: pois as origens
dos povos anunciam não obscuramente que os teístas foram os primeiros
homens em todas as gentes.
ARTIGO QUINTO
Dos ateus.
PROPOSIÇÃO PRIMEIRA
PROPOSIÇÃO TERCEIRA.
PROPOSIÇÃO QUARTA
59. – Prob. I.ª p. – Quem pode perceber a força das razões pelas
quais é levado a negar a existência de Deus, poderá muito mais perceber a
força dos argumentos que suportam a existência de Deus. Portanto, os
ateus positivos podem escapar de sua ignorância e conhecer o verdadeiro
Deus. No entanto, é impossível que até agora não tenham tocado nestes
argumentos; porque, por impulso da natureza, são oferecidos a qualquer
um, como foi dito na proposição precedente. Portanto, esta ignorância será
culpável; porque à medida em que são tocados por aqueles argumentos,
não podem não sentir em si mesmos uma obrigação da consciência em
buscar a Deus por meio de seus anúncios.
60. – Prob. 2.ª p. – É moralmente impossível que alguém, adepto ao
uso da razão, passe por um longo tempo sem algum conhecimento de
Deus. E por conta disso, naturalmente origina-se nele um conhecimento da
obrigação pela qual toma ciência do que fazer enquanto conhece
certamente o verdadeiro Deus. Donde pode adquirir a si esta certeza, se
aplicar uma consideração medíocre. Porque os argumentos pelos quais
Deus é demonstrado como criador e governante deste universo sensível
são fáceis de serem entendidos e óbvios para todos os homens. Portanto, a
23
Cf. Lucrécio, de rerum natura, Lib. 3. V. 50 et seqq.
ignorância do verdadeiro Deus nos ateus é vencível e culpável. – Ainda
assim, em alguns muito fortemente rudes, esta culpa não é senão venial;
em razão do fato de que há pessoas que, por toda a sua vida, não são
plenamente capazes de discernir moralmente entre o bem e o mal, elas
têm, de algum modo, uma inteligência meio adormecida. De fato, os
missionários tomaram de todas as tribos americanas uma opinião de que
estes omnes selvagens viviam em séculos passados.
PROPOSIÇÃO QUINTA
PROPOSIÇÃO SEXTA
O ateísmo espolia a natureza humana de seus bens mais preciosos e torna
impossível a sociedade civil.
ARTIGO PRIMEIRO
PROPOSIÇÃO PRIMEIRA
Deus pode, de fato, ser nomeado por nós; não, porém, por nomes que
exprimem a sua essência exatamente como é em si.
66. – Prob. I.ª p. – Tudo o que nós de algum modo conhecemos,
podemos nomear; pois as palavras são os sinais das ideias. Ora,
conhecemos, à certa medida, Deus, visto que ascendemos através da
consideração das criaturas a algum conhecimento seu. Portanto, podemos
nomear a Deus.
67. – Prob. 2.ª p. – Nós só podemos nomear algo pelo modo que o
conhecemos; no entanto, nós não podemos conhecer a essência de Deus
por meio das forças naturais senão enquanto observando as suas perfeições
nas criaturas, visto que não pertence a nossa natureza um conhecimento
direto e imediato d’Ele (17). Mas nenhuma criatura exprime plenamente
todas as perfeições da essência divina, já que todo artefato criado, sendo
finito, infinitamente dista da essência infinita de Deus, cuja perfeição de
algum modo imita. Portanto, não podemos, através de nenhum nome,
exprimir a essência de Deus assim como ela é em si, mas somente como
ela dita ordem às criaturas.
68. – COROLLARIUM. – Portanto, não podemos ver a divina
essência em nenhuma espécie assim como no objeto conhecido. É evidente
a consequência: pois toda espécie criada é algum artefato da omnipotência
divina que, não sem imperfeição, representa a essência divina. Portanto,
não podemos ver nela, [senão minimamente], assim como na especulação
ou objeto visto, a essência divina.
PROPOSIÇÃO SEGUNDA.
PROPOSIÇÃO QUARTA
Não somente proposições negativas, mas também afirmativas podem ser
anunciadas de Deus.
ARTIGO SEGUNDO
Resolvem-se as dificuldades.
25
São Tomás, Suma Teológica, I. p. q. 13, art. 11. “pos
78. – Obj. I. O nome Deus é, entre todos, o mais próprio; pois foi
instituído expressamente para designar a natureza divina incomunicável a
qualquer outra. Portanto.
Resp. – Neg. ant. – À razão aduzida, dist. assert. O nome Deus foi
instituído para designar a natureza divina, não obstante menos
perfeitamente que o nome Aquele que É, Concor.: do contrário, Neg. O
nome Aquele que É designa mais perfeitamente a natureza divina a partir
da Sua instituição que o nome Deus. Pois segundo este, significa a
natureza divina partir da instituição primária, assim como dita ordem às
criaturas, das quais gera providência: porém aquele primeiro foi instituído
para significar a natureza divina singular, assim como é em si mesma e
sem relação às criaturas. Nem enquanto significa Deus absolutamente
como em si, mas somente enquanto por alguns conceitos abstratos ele pode
ser percebido por nós: pois nós não podemos de nenhuma maneira intuir
Deus como em si mesmo (67).
79. – Obj. II. A nomeação de bom é excelentemente reveladora de
todas as procissões de Deus, como otimamente diz o autor ‘Dos nomes
Divinos, capítulo 3. Mas a Deus convém maximamente o ser o primeiro
princípio das coisas. Portanto, o nome bom é, antes de todas as coisas,
próprio de Deus.
Resp. – Conc. maj. et dist. min. – A Deus convém maximamente o
ser o primeiro princípio das coisas: segundo algo e à medida em que é
considerado como causa, Conc.: simplesmente e à medida em que é
considerado como ente, Neg. Para o fato, São Tomás: “Este nome, “bem”,
é nome principal de Deus à medida em que é causa; não, porém,
simplesmente, pois antes é inteligido o ser absoluto da causa”26. Assim,
sob dada distinção, nego a consequência.
80. – Obj. III. Todo nome divino implica em relação com as
criaturas; pois Deus não é conhecido por nós senão pelas criaturas. Mas o
nome Aquele que É não implica em relação com as criaturas. Portanto, não
é próprio de Deus.
Resp. – Dist. maj. – Todo nome divino implica uma relação com as
criaturas: considerada a sua imposição para significar, Conc.:
considerada sua significação precisa, Neg. E contradist. min., neg.
26
São Tomás, Suma Teológica, I. p. q. 13, art. 11, ad 2.um.
conseq. A imposição considerada dos nomes pelos quais nomeamos a
Deus implicam, absolutamente todos, uma relação com as criaturas; pois a
razão da imposição deles é sempre alguma perfeição das criaturas
produzida por Deus. No entanto, considerada a significação mesma dos
nomes, não é necessário que todos ditem esta relação: porque pode ser
algo que designe a natureza divina representada sob um conceito absoluto.
Para isso, o Doutor Angélico: “Não é necessário que todos os nomes
divinos importem alguma relação com as criaturas; mas basta que sejam
impostos pelas perfeições que procedem de Deus às criaturas; entre as
quais a primeira é o ser mesmo, pela qual é tomado este nome: “Aquele
que É””27.
ARTIGO SEGUNDO
PROPOSIÇÃO PRIMEIRA
27
São Tomás, idem in resp. ad 3.um.
tudo que do ente Ele tenha a razão. Mas a essência metafísica de Deus não
pode ser reposta formalmente na coisa que exprime todos os seus
atributos: pois as propriedades que fluem da essência são concebidas por
nós somente enquanto virtualmente contidas nela, não, porém, enquanto
partes constitutivas dela ou algo formalmente identificado com ela.
Portanto.
Resolvem-se as dificuldades.
Resolvem-se as dificuldades.
PROPOSIÇÃO TERCEIRA
Resolvem-se as dificuldades.
28
São Tomás, Suma Teológica, I. p. q. 13, art., 11.
29
Ibid.
30
São Bernardo, de Considerat. Lib. 5, cap. 6.
31
São Tomás, loc. cit.
nós o que Deus é, mas somente de onde e quem é. Portanto, a essência
metafísica de Deus não pode ser reposta nesta noção.
Resp. – Conc. et neg. min. – A noção predica abertamente indica,
não por meio de onde e quem é Deus, mas também o que é a sua natureza:
pois nos diz que a essência de Deus é existir, ou ser a pura existência
destituída de toda capacidade de ser atualizada e, assim, que possui
plenissimamente a razão do ente ou existente.
95. – Obj. II. As definições das coisas não devem ser feitas através
do remoto, mas do próximo. Mas ao dizer que a essência metafísica de
Deus consiste na asseidade que tem a plenitude do ser, definimos Deus
pelo gênero remotíssimo, o qual é o ente. Portanto.
Resp. – Dist. maj. As definições das coisas não devem ser feitas
através do gênero remoto, quando com respeito aos entes contidos dentro
de gêneros, Conc.: quando com respeito ao ente constituído acima de
todos os gêneros, o qual Deus é Neg. E concessa min., neg. conseq. sub.
dist. data. Deus está acima de todos os gêneros: logo, como algum modo
de sua natureza, deve ser definido através da diferença remotíssima,
porque assim é distinguido de todos os que existem sob um gênero. No
entanto, esta diferença é a asseidade que exprime formalmente a plenitude
de ser.
96. – Obj. III. O simples existir é adicionado formalmente aos
atributos singulares de Deus; pois todos são entes por essência e não por
participação. Ora, a essência metafísica não deve ser formalmente
adicionada às propriedades, porque estas concebidas emanarem daquela.
Portanto.
Resp. – Dist. maj. – O simples existir é adicionado formalmente aos
atributos singulares de Deus como algo determinado e informado de algum
modo por eles, Conc.: como algo identificado com respeito a todos eles,
Neg. E contrad. min. neg. conseq. À razão aduzida, dist. assert. Todos os
atributos de Deus são por essência segundo algo, Conc.: simplesmente,
neg. O ser é absolutamente inteligido em Deus antes que todos os
atributos, e assim é distinguido formalmente de todos eles assim como o
indeterminado por suas determinações. Porém os atributos de Deus
somente são entes por essência à medida em que se identificam realmente
com o ser de Deus: donde não simplesmente, mas segundo algo devem ser
chamados de tais, no que são suficientemente distinguidos do ser simples
ou da essência.
97. – Obj. IV. A noção da plenitude do ser flui para a essência
metafísica de Deus: pois basta a asseidade para exprimi-la. Portanto.
Resp. – Neg. ant. cum ejus probatione. “O nome do ente por si”,
como optimamente nota P. Kleutgen, “não indica proximamente a não ser
que Deus é por virtude própria: porque, assim como o fundamento e raiz
de todas as perfeições mais se concebe aquela plenitude da essência a qual
compreende todo o Ser”32. Donde, P. Marin: “O bem assumido como cheio
de toda perfeição é o mais excelente predicado de Deus: porque
formalmente tanto é o ente per se, quanto explica aquilo que formalmente
diz o ente per se com alguma confusão”33. Assim, para que seja claramente
expressa a noção da essência metafísica de Deus, deve ser aduzida a
plenitude de ser.
32
Klautgen, Instit. Theolog. – De Deo uno, n. 217.
33
Marin, Theol. Specul. Et Moral. – De Deo uno, tratado I, disputa 1, seção VI, n. 67.
98. – Depois que tratamos da essência metafísica de Deus, devemos
tratar dos seus atributos divinos. No entanto, porque são plurais e diversos,
postulam para si uma tratação separada; e por conta disso tratamos delas
por capítulos distintos. Antes que, porém, comecemos a dizer sobre as
absolutas, fazemos um certo juízo anterior sobre todas em geral.
ARTIGO PRIMEIRO
ARTIGO SEGUNDO
Da simplicidade de Deus.
PROPOSIÇÃO
35
São Tomás, Suma Teológica, I. p. q. 3, art. 7.
potencialidade essencial da matéria; c) da composição de matéria e
suposto; pois o primeiro ente por força de sua essência é determinado a
subsistir em si mesmo e não em outro, já que é essencialmente
independente do outro tanto no modo de ser quanto no ser mesmo; d) da
composição de essência e existência; pois o primeiro ente existe por força
de sua essência sem que possa ser produzido por outro ou por si mesmo: e
assim sua essência é o seu existir; e) da composição de sujeito e acidente;
tanto porque o sujeito de si está em potência aos acidentes, no entanto
Deus repugna toda potencialidade; tanto também “porque Deus é o seu
ser”, como Boécio diz no livro 'De Hebdomadibus36, “e embora aquilo que
é possa ter outra coisa adjunta, ainda assim o ser mesmo não pode ter nada
adjunto: assim como o que é cálido pode ter algo de estranho que não o
calor, como a brancura; mas o calor mesmo nada pode ter além do calor”.
E além desta composição real, nenhum outro gênero pode ser concebido
por nós; seria adicionado em vão algum outro gênero, porque não há nada
que seja absoluto fundamento para conceber outro. Portanto.
104. – COROLLARIUM. – Portanto, os atributos de Deus se
identificam realmente com a Sua essência. Evidente a consecução: porque,
do contrário, seriam acidentes naturais à essência, e atualizarem ela, por
informando-a, produziriam um ente composto; o que é absurdo. Pois os
atributos são alguma determinação da essência e com ela constituem um
ente uno. – Ainda assim, deve ser admitida uma distinção entre os
atributos divinos; virtualmente, como evidente, ou racionalmente. Pois a
natureza divina, por uma razão múltiplos e diversos efeitos que dela
emanam, proveu a nós um fundamento para que a concebamos por
diversos conceitos. No entanto, esta distinção dos atributos não deve ser
chamada de virtual maior, mas menor (O. 13). Pois, como escreve o ótimo
Suarez: “Assim os atributos divinos são comparados entre si, como todos o
são em relação à razão essencial de qualquer um, e toda a essência de Deus
em relação à razão dos singulares”37; assim como no conceito formal
explícito dos singulares todos os outros formalmente são implicitamente
representados, porque qualquer um daqueles é o ente de si necessário e o
ser mesmo por essência.
Resolvem-se as dificuldades.
36
Ibid. art. 6. Cfr. também com o Santo Doutor, de Potentia, q. 7.
37
Suarez, Metaphys. disp. 30, sect. 6, n. 10.
105. – Obj. I. As coisas que são por Deus, o imitam. Mas nas coisas
criadas, nada há de completamente simples. Portanto.
Resp. – Dist. maj. – As coisas são por Deus, porque o imitam assim
como causa primeira e equívoca, Conc.: assim como qualquer causa e
unívoca, Neg. Donde conc. min. et neg. cons. sob a dada distinção.
Qualquer ente criado essencialmente se difere de Deus e infinitamente da
perfeição dele, porque é em si dependente de outro, sendo finito e mutável.
Assim, nenhuma coisa criada pode imitar a Deus senão como causa
primeira e equívoca; e, por conta disso, a sua natureza, em qualquer modo
que seja composto, de nenhuma maneira demonstra qualquer composição
em Deus.
106. – Obj. II. Do completamente simples, o múltiplo e o variado
não pode proceder. Mas as criaturas que procedem de Deus são múltiplas e
variadas. Portanto.
Resp. – Dist. maj. – Do completamente simples, o múltiplo e o
variado não pode proceder, se é a causa unívoca ou a necessidade da
natureza que opera, Conc.: se é a causa equívoca e pela liberdade que
age, Neg. Assim, concordada com a menor, neg. cons. Porque os efeitos
são deficientes na representação da sua causa, é necessário que aquilo que
é unido na causa, seja multiplicado nos efeitos. No entanto, as coisas
criadas, à medida em que são multiplicadas, sempre são defeituosas na
representação da causa primeira, que é de virtude infinita.
107. – Obj. III. De Deus são predicadas coisas diversas, como justo,
sábio, misericordioso, etc. Mas coisas diversas não podem ser predicadas
senão do ente composto. Portanto.
Resp. – Dist. maj. – De Deus são predicadas coisas diversas
virtualmente, Conc.: diversas realmente, subd.: sob diversas razões
formais, Conc.: sob as mesmas, Neg. E contrad. min., neg. conseq. Da
coisa simples sob razões formais, até conceitos contraditórios podem ser
predicados. Assim, do um e do mesmo ponto, que é simples sob diversos
conceitos, podemos afirmar que ele é tanto o princípio quanto o fim da
linha. O mesmo, portanto, acontece em ordem à essência divina.
108. – Obj. IV. Em Deus se dão três pessoas realmente distintas.
Mas a pluralidade conduzida à unidade sem a união real dos distintos não
pode ser concebida. Portanto, em Deus se dá uma união real dos distintos
e, assim, real composição.
Resp. – Dist. maj. – Em Deus se dão três pessoas realmente
distintas, embora identificadas realmente com a essência, Conc.: do
contrário, Neg. E contrad. min. neg. conseq. As pessoas divinas não estão
em Deus mutuamente unidas, mas simplesmente relativamente opostas:
pois qualquer uma delas realmente se identifica com a essência divina,
embora realmente se distinga das outras. Mas sobre este assunto trata a
Teologia, não a Teodiceia.
ARTIGO TERCEIRO
PROPOSIÇÃO PRIMEIRA
PROPOSIÇÃO SEGUNDA
39
“Dupla é a forma”, observa sabiamente Cardeal Toledo (Comm. in I.am D. Thom. q. 7, art. I, pag. 116). “Uma que
inclui em sua razão a limitação e alguma espécie ou gênero: como o fogo, a alma, e outros semelhantes; o branco, a cor
e os acidentes. Outra é a que tem, de si, nenhuma limitação, como o ser: pois o ser declara todo o ato e de que gênero e
espécie é, e não tem de si limitação: donde acontece que, se é tomado segundo a si, o ato restringe simplesmente a
infinidade”.
causa eficiente, porque é per se; nem é recebido de algum modo em algum
sujeito, porque Deus é a sua essência mesma40. Portanto. 2.º O ente per se
goza da virtude criativa para produzir o mundo, já que as coisas deste
mundo foram produzidas do nada por algum ente per se, como é
demonstrado no Cosmologia. Portanto, pertence naturalmente a Deus, à
medida em que é ente, um tipo de virtude. Ora, esta virtude é
simplesmente infinita: tanto porque o efeito surge, entre todas as potências,
a partir de uma remotíssima, o produzindo a partir do nada; tanto porque
opera com toda independência; tanto porque atinge diretamente e
formalmente a razão mesma do ente factível, enquanto tal; o que é próprio
do ente per se, como tal, ou do que tem a plenitude do ser; tanto porque,
enfim, se estende absolutamente a todas as coisas criadas, pois requer
somente a não-repugnância de ser, da parte do objeto, a qual é comum a
todas as coisas criadas. Portanto, Deus é simplesmente infinito na
perfeição, porque é absurdo a infinita perfeição no agir sem a infinita
perfeição no ser. 3.º Todos os filósofos, tanto os antigos quanto os recentes,
convêm a esta infinidade de Deus ao conhece-la, porque veem que o
primeiro princípio de todas as coisas não pode carecer dela. Portanto,
como coisa per se manifesta, deve ser considerada por todos: pois do
contrário, seria impossível tal consenso41.
Resolvem-se as dificuldades.
ARTIGO QUARTO
PROPOSIÇÃO PRIMEIRA.
PROPOSIÇÃO SEGUNDA
45
São Tomás, Suma Teológica, I. p. q. 9, art. I.
imperfeição real. Ora, a Deus repugna absolutamente toda imperfeição, já
que é absolutamente perfeito. Portanto.
Resolvem-se as dificuldades.
ARTIGO QUARTO
Deus é imenso.
Resolvem-se as dificuldades.
46
São Tomás, Suma Teológica, I. p. q. 13, art. 7.
que nas criaturas. “Pois, assim como a forma, enquanto é forma, requer ao
seu efeito formal a união e a indistância com a matéria; não poderia forma
alguma, à medida em que fosse suposta infinita, dar seu efeito sem
qualquer proximidade; ou assim como a causa final para a sua causalidade
requer proximidade através do conhecimento, nem pode de outro modo
exercê-la, ainda que fosse maximamente infinita; assim o agente, enquanto
agente, requer para agir proximidade e imediação com a paixão ou o
efeito; sem a qual não pode agir, ainda que fosse infinito. Adiciono que
muito menos isso pode convir aquele agente de virtude; porque agir à
distância, ainda que possa ser visto em algum agente como uma perfeição,
não pode ser, não obstante a isso, simplesmente perfeição, mas suposta
pela imperfeição: ainda assim, é absolutamente muito melhor ter, enquanto
se dista completamente do seu efeito, suma perfeição no agir e sumo
domínio nele, não somente a partir da virtude da ação, mas também a
partir do modo e da disposição ou da proximidade”47.
PROPOSIÇÃO SEGUNDA
Deus é eterno.
Resolvem-se as dificuldades.
47
Suarez, Metaphys. disp. 30, sect. 7, n. 13.
Resp. – Conc. maj. et dist. min. – a sucessão pertence à razão da
duração mutável, Conc.: à razão da duração imutável, Neg. E sob dada
distinção, neg. cons.
136. – Obj. II. A eternidade tem parcialmente duração, já que é
maior que o tempo. Portanto, não é totalmente simultânea.
Resp. – Dist. ant. – A eternidade tem partes virtuais da duração,
Conc.: reais, Neg. A eternidade é, de fato, maior que o tempo; mas não
pode ser comensurada pelo tempo, já que é completamente de outra ordem
e existe acima de qualquer tempo.
137. – Obj. III. Se a eternidade é totalmente simultânea, qualquer
instante do tempo coexiste com toda a eternidade. Mas isto não pode ser
admitido, porque do contrário o instante do tempo seria igualado com a
eternidade. Portanto.
Resp. – Dist. maj. – Qualquer instante do tempo coexiste com a
eternidade, enquanto partícula do tempo, a qual dista infinitamente da
eternidade, Conc.: como algo na duração que se adequa à eternidade,
Neg. A eternidade está para os pontos tempo assim como o centro está
para os pontos de alguma circunferência: pois contém em si, por sua
simplicidade e imobilidade, todas as coisas, sem ter em si tempo ou
sucessão.
ARTIGO SEXTO
Da unidade de Deus.
48
São Tomás, Suma Teológica, I. p. q. 11, art. 3.
supremo na forma e na razão, e na potência e no poder. Ora, já que todos
concordam neste ponto (porque ninguém negaria que Deus é, num sentido,
o magno supremo, exceto o homem que só pronunciaria a opinião oposta
a fim de negar a Deus, roubando d’Ele o atributo divino), qual deve ser a
condição do sumo magno? Claramente deve ser que nada é igual a Ele, isto
é, que não há outro magno supremo; porque, se houvesse, Ele teria um
igual; e se ele tivesse um igual, Ele não mais seria o magno supremo, dado
que a condição e (por assim dizer) nossa lei, a qual não permite que nada
seja igual ao magno supremo, é subvertida. Que este ente, então, que é o
magno supremo, deva ser único, não tendo nada de igual, e assim não
deixando de ser o magno supremo”49.
4.º Além disso, o mesmo é demonstrado a partir da unidade do
mundo. “Pois todas as coisas que existem são vistas serem ordenadas
mutuamente, enquanto algumas servem a outras. No entanto, não
conviriam em uma ordem coisas diversas a menos que sejam ordenadas
por algo uno, pois é melhor que sejam trazidas muitas coisas a uma ordem
por uma coisa una, que por muitas coisas; porque o uno é causa do uno per
se, porém o múltiplo não é causa do uno a menos que per acidente, a saber,
enquanto é, de algum modo, uno. Visto que aquilo que é primeiro é
perfeitíssimo e per se, não per acidentes, é necessário que o primeiro que
reduz todas as coisas em uma ordem seja somente uno. E este é Deus”50.
5.º E finalmente, o mesmo se prova a partir do consenso comum dos
sábios. Pois logo em cima vimos com Suarez que todos os sábios gentios
conheciam a unidade de Deus (20). Portanto.
PROPOSIÇÃO SEGUNDA
140. – Prob. I.ª p. – O princípio mal por sua natureza é dito tal
absolutamente ou relativamente. Ora: a) O princípio ser absolutamente em
si mal é pura imaginação; pois todo ente é algo absolutamente bom (O.
219); b) No entanto, o primeiro princípio ser mal por sua natureza no
49
Tertuliano, Contra Marcião, lib. I, cap. 3.
50
São Tomás, loc. cit.
segundo tipo de mal é contraditório; visto que é da razão do ente per se ter
a plenitude do ser, e assim ser naturalmente benéfico. Portanto.
141. – Prob. 2.ª p. – Estes princípios ou são postos com igual
virtude, ou desigual. Se o primeiro: não poderá haver nada de bom no
mundo. Pois seriam como duas forças iguais e contrárias, as quais colidem
por sua própria natureza; e assim, tudo que uma faz, é, pela necessidade de
sua natureza, destruído pelo outra. Se o segundo; não poderia haver no
mundo nenhuma mistura do bem e do mal; pois o que for mais forte não
poderá não impedir, por necessidade de sua natureza, o efeito do outro.
Portanto.
Resolvem-se as dificuldades.
51
Ou seja, o famoso paradoxo do “Epiruco”.
em algumas coisas particulares para que um bem perfeito do universo não
seja impedido. Pois se impedisse todos os males, o universo perderia
muitas coisas boas: pois o leão morreria se não houvesse a morte de outros
animais; nem haveria a paciência dos mártires, se não houvesse a
perseguição dos tiranos”52.
ARTIGO PRIMEIRO
Do intelecto divino.
PROPOSIÇÃO PRIMEIRA
52
São Tomás, Suma Teológica, I. p. q. 22, art. 2.
146. – Prob. I.ª p. – I.º Em Deus não pode haver nenhuma
potencialidade, porque Ele é ato puríssimo. Mas haveria n’Ele alguma
potencialidade se o Seu intelecto fosse verdadeira potência atualizável, e
não ato. Portanto. 2º Se o intelecto divino fosse alguma potência
atualizável da mesma maneira que o nosso, haveria uma aquisição de
ciência ao conhecer, já que transitaria da potência ao ato. Mas isto não
pode ser admitido, já que o intelecto divino é, de si, perfeitíssimo.
Portanto.
147. – Prob. 2.ª p. – Se o intelecto divino fosse verdadeiramente e
propriamente determinado ao conhecimento pelos objetos, o mesmo, de si,
estaria em potência ao conhecimento deles; pois precisaria ser atualizado
pelos mesmos. Mas isto foi demonstrado ser falso na primeira parte da
proposição. Portanto.
148. – Diz São Tomás: “Porque Deus não tem nenhuma
potencialidade, mas é ato puro, é necessário que n’Ele o intelecto e o
inteligido sejam o mesmo de todos os modos, de modo que, a saber, não
careça de nenhuma espécie inteligível, assim como o nosso intelecto
quando intelige em potência; nem a espécie inteligível é outra que não a
substância do intelecto divino, assim como acontece no nosso intelecto
quando intelige em ato: mas a espécie mesma do inteligível é o intelecto
divino mesmo”53. Ainda assim, é dito ser determinado por objetos
logicamente, à medida em que estes objetos são termos objetivos diversos
do intuito divino, uno e simplíssimo.
149. – COROLLARIUM. – I.um Portanto, o intelecto divino não
recebe as espécies das coisas as quais conhece; mas o mesmo, a partir de
sua perfeição intrínseca, é determinado a representa-las através do
conhecimento. É evidente a consecução: pois receber as espécies das
coisas não é senão ser determinado pelas mesmas à representação delas.
Assim, as coisas conhecidas pelo intelecto divino não são senão puros
termos objetivos que simplesmente terminam a ciência divina; e, da parte
delas, somente é requisitado que sejam em si inteligíveis, pois este
intelecto, de si, é essencialmente determinado a representar tudo
representável.
150. – COROLLARIUM. – II.um Portanto, o intelecto divino nem
por sua própria essência divina recebe propriamente a sua espécie; mas a
53
São Tomás, loc. cit. Q. 14, art. 2.
partir da sua perfeição intrínseca é essencialmente determinado a
representa-la idealmente. Pois o intelecto divino, à medida em que a
virtude é cognoscitiva, é, de si, ato puríssimo, contudo não admite em si
nenhuma potencialidade. Donde, como sabiamente conclui São Tomás: “a
espécie mesma do inteligível é o intelecto divino mesmo, e assim, intelige
a si mesmo através de si mesmo”.
PROPOSIÇÃO SEGUNDA
54
Discorrer, de “discurso”.
PROPOSIÇÃO TERCEIRA
PROPOSIÇÃO SEGUNDA
PROPOSIÇÃO TERCEIRA.
Deus conhece desde a eternidade não somente as coisas presentes, mas
também as passadas e as futuras.
Resolvem-se as dificuldades.
55
Cfr. Molina em Concordia liberi arbitrii cum gratiae donis q. 14, d. 48.
todos os tempos por seu simplíssimo intuito, tempos estes nos quais as
coisas existem em ato.
170. – IV. Deus não conhece os futuros livres das criaturas nos seus
decretos que determinam absolutamente e eficazmente a vontade delas a
uma parte da contradição. A razão é: porque desta maneira os decretos
são: a) injuriosos a Deus, uma vez que determinam a vontade das
criaturas, não somente às boas, mas também às intrinsecamente desonestas
e pecaminosas: b) eversiva à liberdade humana; uma vez que assimilam a
predeterminação física baneziana ou outra equivalente a ela, pelas quais a
liberdade humana é destruída, como será evidente pelo que será dito; c)
supérflua, porque a predeterminação física assimilada naquelas é
absolutamente supérflua aos fins intendidos pelos baneziados, como consta
do que será dito.
171. – V. Deus conhece estas coisas futuras tanto em si mesmas,
quanto também no decreto pelo qual o livre arbítrio nesta ou naquela
ordem das coisas e de circunstâncias