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NOÇÕES GERAIS SOBRE A

REVELAÇÃO NO TEÍSMO

PRESSUPOSIÇÕES DA REVELAÇÃO
As várias fontes e campos da
Revelação
• O homem pode receber revelação sobre a
natureza, sobre si próprio e sobre Deus, vinda
dessas três mesmas fontes. Van Till apresenta
estas fontes de revelação ao homem de uma
maneira esquemática, como se segue abaixo:
• Sobre a natureza: 1. da natureza ‐ através da
física; 2. do eu ‐ através da psico‐físico; 3. de
Deus ‐ através da Física‐Teológica.
CONTINUAÇÃO
• Sobre o homem: 1. da natureza ‐ através da
psicologia física; 2. do eu ‐ através da
psicologia propriamente; 3. de Deus ‐ através
da psicologia teológica
• Sobre Deus: 1. da natureza ‐ através da
Teologia Natural; 2. do eu ‐ através da
Teologia Racional; 3. de Deus ‐ através da
Teontologia.
CONTINUAÇÃO
• Todo esse esquema acima refere‐se
a ambas as revelações: Geral e
Especial. Este estudo é uma
tentativa de analisar essas duas
revelações de Deus, a não‐verbal e a
verbal, sobre a natureza, sobre nós
mesmos e sobre o próprio Deus
Revelação sobre a Natureza
• Vinda da própria Natureza – Física: Quando estudamos física,
normalmente não pensamos sobre o fato de estarmos
tratando com matéria da própria revelação. Estudamos os
objetos individuais do universo físico, e os analisamos de
acordo com as leis através das quais eles operam. A mente
humana procura obter informações do próprio objeto do seu
conhecimento. É a relação sujeito‐objeto do conhecimento.
Deus criou não somente os fatos ou eventos, mas também as
leis da existência física. Além disso, Deus adaptou os objetos
ao sujeito do conhecimento. Isto significa que as leis de nossa
mente e as leis dos fatos entram em um contato mutuo. Essa
é uma obra da criação e da providência de Deus, pelas quais
todas as cousas são mantidas em sua existência e em sua
operação na relação de uns para com os outros, isto é, sujeito
do conhecimento e objeto do conhecimento.
CONTINUAÇÃO
• As leis da matemática são modos do universo criado. Elas não
existem independentes de Deus. Alguns teólogos, seguindo o
pensamento de Platão, têm crido que as leis da matemática são
algo existindo desde toda a eternidade, juntamente com Deus. O
que é dito a respeito de matemática, também é dito a respeito do
tempo. Como estudiosos da verdade, cremos que tanto as leis da
matemática como a noção de tempo, estão vinculados à idéia de
criação. Elas fazem parte da criação de Deus. Portanto, visto que é
impossível ter todas as cousas existentes como independentes de
Deus, temos que entender que todas as cousas existentes, mesmo
os objetos mais simples do universo físico, estão baseados numa
atividade revelacional de Deus. Todas elas revelam o caráter
inteligente de quem as fez.
CONTINUAÇÃO
• Vinda do Eu ‐ Psico‐Física: O que sustentamos a
respeito da Física, mutatis mutandi, também
sustentamos do conhecimento que podemos obter a
respeito da natureza por compará‐la conosco
mesmos. Na verdade, o único modo que podemos
obter conhecimento a respeito da natureza é por uma
espécie de antropomorfismo. Quando estudamos a
conduta animal, falamos da atividade delas em
termos de intelecto, vontade e emoções. De um
modo semelhante, quando estudamos a respeito dos
objetos inanimados, usamos a mesma linguagem
metafórica emprestada de uma linguagem parabólica
CONTINUAÇÃO
• Quando Jesus Cristo falou da videira e dos ramos, ele não hesitou
em usar aquela figura como simbólica da relação de si próprio
com a Igreja. É de grande interesse e de grande importância
perguntarmos a nós mesmos sobre que base Cristo foi capaz
de fazer isso. Cristo não foi apenas um ser humano esperto
que percebeu paralelos interessantes da experiência humana
com a natureza. Cristo foi o Logos da criação assim como o
Logos da redenção. As coisas da natureza foram adaptadas
por ele próprio para as coisas do Espírito. O mais baixo foi
feito para o que é superior. As coisas mais baixas não existem
independentemente das mais altas. E porque todas as coisas
foram feitas por Deus, através do Logos, também podemos
usar o simbolismo e a analogia para conhecer a natureza.
Sem a noção de revelação de Deus em todas as coisas,
qualquer tipo de simbolismo que usamos pode falhar
CONTINUAÇÃO
• Vinda de Deus ‐ Física Teológica: Obviamente, o
termo “Física Teológica” não é comum, mas ele
se encaixa bem no pensamento cristão. Quando
estudamos este assunto, temos que fazer uma
distinção entre o pensamento do crente e o do
incrédulo. O primeiro crê na possibilidade e na
realidade da revelação da parte de Deus, com
respeito aos eventos físicos, enquanto que o
segundo não crê. No éden houve uma física
teológica quando Deus revelou sua vontade com
respeito à árvore do conhecimento do bem e do
mal.
CONTINUAÇÃO
• O homem não podia saber da própria natureza
nem da parte de si próprio qual seria o resultado
de comer daquela árvore. Aqui podemos falar
antes de uma revelação positiva que natural. Não
foi a natureza que revelou a conseqüência do
comer da árvore. Foi uma revelação direta da
parte de Deus. Essa já foi uma revelação
sobrenatural, em adição a outras revelações da
natureza, mas sem o caráter verbal ou
proposicional. É este tipo de revelação que o Dr.
Geerhardus Vos chama de “revelação pré‐
redentiva especial
CONTINUAÇÃO
• É importante que, mesmo no paraíso, o homem estudou a
natureza, observando‐a, mas sempre em conexão com a
revelação sobrenatural dada por Deus. A natureza nunca
pode ser observada na sua exatidão, como ela é, sem que
seja por meio de uma revelação sobrenatural. Este é o
pensamento dos pressuposicionalistas (fideístas). Os
evidencialistas, conversamente, diriam que a natureza
pode ser devidamente observada mesmo pelos incrédulos,
porque a queda não produziu efeitos noéticos que tenham
eliminado essa capacidade de conhecimento através de
observação no homem. Os pressuposionalistas enfatizam
os efeitos noéticos do pecado, enquanto que os
evidencialistas falam mais na corrupção da vontade ética
do homem.
CONTINUAÇÃO
• Contudo, é na Escritura que os homens encontram uma melhor
revelação de Deus sobre a natureza. A revelação
especial dá‐nos uma noção bem melhor qualificada
daquilo que a natureza é. A revelação especial,
mesmo depois da queda, lança uma luz maior sobre a
revelação geral. Muito mais coisas viemos a saber
sobre a natureza através da Santa Escritura. O
começo da narrativa do Gênesis mostra uma física
teológica, isto é, uma noção da natureza através da
revelação divina. Todas as cousas relacionadas à
criação podem ser melhor entendidas à luz da
Revelação Especial. Contra isso alguns evidencialistas
se insurgiram, mas esta é uma verdade da qual
dificilmente podemos fugir
Revelação sobre o homem
• Vinda da Natureza ‐ Psicologia Física:A revelação que o
homem recebe sobre si próprio da parte da natureza é
apenas o reverso da revelação que ele obtém de si mesmo
sobre a natureza. Aprendemos muito sobre os nossos corpos
do estudo dos elementos físicos que existem independentes
de nossos corpos. Isso é assim porque nos é dito na Escritura
que somos formados do pó. A química pode nos ajudar muito
no conhecimento e no entendimento das nossas reações
físico‐biológicas. Se o homem tem que aprender alguma coisa
sobre si próprio, ele deve estudar a natureza, pois ele não
somente é parte da criação divina, mas ele é feito
parcialmente dos elementos da natureza. Contudo, o
conhecimento melhor que o homem pode ter de si mesmo
vem da Revelação Especial, diretamente de Deus.
CONTINUAÇÃO
• Vinda do Próprio Homem: É importante
ressaltar a diferença de conhecimento que
existe no homem da parte do próprio homem
entre o crente e o incrédulo. A visão que
ambos tem de si mesmos é diferente por
causa do background religioso que possuem.
Não podemos negar que o cristão é
altamente influenciado pela antropologia
cristã.
CONTINUAÇÃO
• A consciência de atividade de pensamento foi revelacional
orginariamente no paraíso no sentido de que todo o
universo criado por Deus é revelação de Deus. Estamos
tratando aqui com o sujeito do conhecimento humano,
isto é, com a mente que conhece. Como já observamos, a
relação da mente humana aos objetos de seu
conhecimento está fundada no Logos da criação.
Devemos observar, em adição a isto, que o homem foi
criado como o único interprete auto‐consciente da
revelação divina. O homem foi criado para interpretar o
que Deus havia depositado no universo, que era o reflexo
de si próprio, revelando em parte o que ele era .
CONTINUAÇÃO
• A revelação de Deus foi depositada na criação
toda, mas somente à mente do homem foi dada
essa revelação, a ponto dele poder interpretá‐la.
O homem foi o re‐intérprete de Deus, isto é, o
profeta de Deus na terra. O homem, por causa de
sua constituição, tem sido capaz de obter
informação de si mesmo pelo estudo dos seus
semelhantes. Todo o conhecimento genuíno que
o homem tem de si próprio é produto da
Revelação Geral de Deus, pois toda a criação
revela quem ele é e o que ele fez.
CONTINUAÇÃO
• Vinda de Deus ‐ Psicologia Teológica: Quando o homem
estuda sobre si mesmo é uma introspeção, mas uma
introspeção nunca levaria o homem a ter um
conhecimento completo e definitivo sobre si próprio. O
homem pode falhar na concepção sobre a sua própria
natureza. Muitos conceitos emitidos pela psicologia não
refletem a natureza humana que leva em conta o pecado.
Por essa razão, é necessário que a idéia sobre a natureza
humana venha de alguém que o conheça muito melhor. É
preciso que idéias de fora venham sobre o homem para
que o seu conhecimento sobre si mesmo seja altamente
aceitável e corresponda com a realidade. Quando a opinião
sobre o homem vem daquele que o criou, a idéia que se
pode ter do homem é, obviamente, muito mais confiável.
CONTINUAÇÃO
• Os que não crêem em Deus, sempre terão
como ponto de partida a informação que o
próprio homem tem de si próprio, a
psicologia puramente. Mas para que se tenha
um real conhecimento do homem, o cristão
deve partir da revelação divina. O que Deus
pensa do homem é fundamental para o
estudo da natureza humana e de tudo o que
está relacionado com o homem.
CONTINUAÇÃO
• O cristão e o não‐cristão partem de perspectivas diferentes
sobre a natureza humana, porque o primeiro crê na
revelação divina e o segundo não. Isto faz uma enorme
diferença. Após a queda o homem ficou inabilitado a emitir
um juízo correto sobre o que aconteceu à sua própria
natureza em suas capacidades emocionais, volitivas e
intelectuais. Após a queda o homem não tem condição de
interpretar‐se a si mesmo ao ponto de corresponder
plenamente à realidade. Por essa razão, é necessário que
Deus dê a conhecer ao homem as coisas relativas a si
próprio. Para que o homem tenha um conhecimento real
de si mesmo, é necessário que ele leve em conta as
informações reveladoras sobre si da parte de Deus, em sua
Palavra. Esta é a psicologia teológica.
Revelação sobre Deus
• Vinda da natureza ‐ Teologia Natural:Aqui está o
grande divisor dentro da Teologia Reformada. Os
evidencialistas acham possível a formulação de uma
Teologia natural, enquanto que os
pressuposionalistas o negam. Os
pressuposionalistas crêem que o conhecimento de
Deus que o homem teve através das obras da
natureza antes da queda, tornava possível a
elaboração de conceitos corretos sobre Deus, pois a
razão funcionava corretamente. Os conceitos que
Adão emitiria sobre Deus com base na observação
das obras da natureza combinariam claramente com
a realidade de Deus.
CONTINUAÇÃO
• Contudo, após a queda, não somente o
entendimento do homem foi prejudicado, como
também as obras da criação foram afetadas pela
maldição de Deus. A natureza hoje não é
exatamente a mesma da de antes da queda, e o
ser humano não a pode contemplar como ela
originariamente era. Portanto, com os efeitos
noéticos do pecado e com a natureza prejudicada
pela queda, tornam impossível ao homem a
elaboração de uma Teologia natural, pois o
homem sem a Revelação Especial, não pode ter
uma noção adequada sobre quem Deus é.
CONTINUAÇÃO
• Se o homem não pode ter uma noção correta
sobre si próprio através da
observação de si próprio, como ele
pode ter um conhecimento correto
do Deus criador através das obras
da criação se tanto a criação como a
mente do homem foram
prejudicadas pelo pecado?
CONTINUAÇÃO
• Os evidencialistas, contudo, como veremos mais
tarde, crêem que o homem pode ter um
conhecimento correto de Deus, porque afirmam
que a mente do homem não foi afetada ao ponto
de impossibilitá‐lo a ver o criador nas obras da
natureza, e possuem argumentos na Escritura
que justificam o seu posicionamento. É
importante lembrar que os evidencialistas
entendem que a Teologia natural tem como base
não simplesmente a razão, mas especialmente a
revelação da criação. Não existe Teologia natural
à parte da Revelação Natural.
CONTINUAÇÃO
• Vinda do Homem ‐ Teologia Racional: O ponto
precedente ajuda a formular este ponto,
especialmente se olharmos da perspectiva do
pressuposicionalismo. Segundo esta corrente, o
homem pode saber pouco a respeito de Deus através
das obras da natureza, à parte da Revelação Especial.
Uma outra razão pela qual o homem não pode ter um
conhecimento correto de Deus na natureza é porque
esta é impessoal e não auto‐consciente. Os
pressupocionalistas ainda crêem que o ser humano
no estado em que se encontra não pode raciocinar
corretamente para formular conceitos válidos sobre
Deus.
CONTINUAÇÃO
• Contra os pressuposicionalistas, os
evidencialistas corretamente afirmam que a
criação revela corretamente quem Deus é, e
os homens, segundo a Escritura, podem vir a
ter um conhecimento de Deus, porque eles
podem ser intérpretes corretos da obra da
criação, mesmo levando em conta a queda no
éden. O problema do homem após a queda
foi ético, não noético.
CONTINUAÇÃO
• Vinda do próprio Deus – Teontologia: Os
pressuposionalistas diriam que a Teologia natural e
racional nunca poderiam existir, mesmo no paraíso, à
parte da Teontologia, isto é, da revelação que o
próprio Deus faz de si mesmo na Revelação Especial.
Os evidencialistas, contudo, pensam de modo
diferente, aceitando a possibilidade da Teologia
natural, onde o uso da razão é evidente, mesmo à
parte da Revelação Especial. Contudo, como os
pressuposionalistas, crêem que a noção qualificada
maior de Deus vem através da revelação que Deus faz
de si próprio na Escritura.
CONTINUAÇÃO
• Certamente a revelação que Deus faz de si
mesmo está claramente evidenciada pelas
obras da criação e pela Escritura Sagrada.
Este é o ponto da Revelação Geral é bastante
provocante e desafiador. Não podemos
ignorar o conhecimento que os antigos
filósofos tiveram da divindade, nem fechar os
olhos às suas idéias, que pressupõem algum
tipo de conhecimento de Deus que não pode
ser negado.
A NATUREZA DA REVELAÇÃO GERAL
• A Revelação Geral é a revelação não‐verbal de
Deus como criador, especialmente com respeito
à sua glória, seus atributos e sua divindade. Isto
está claro em Rm 1.18. Esta revelação é
manifestada aos homens universalmente, e é
uma revelação continuada, porque ela não se
limita simplesmente ao ato criador terminado,
mas também à sua providencia e ao seu governo,
assim como à própria natureza constitucional do
homem.
CONTINUAÇÃO
• Em sua última edição das Institutas, Calvino
fala de um duples cognitio Dei. Esse
conhecimento duplo de Deus vem através da
Revelação Natural e da Revelação Especial.
Esta última está vinculada à Escritura Sagrada,
enquanto que a primeira tem a ver com o
“conhecimento de Deus naturalmente
implantado”.
CONTINUAÇÃO
• Cronologicamente falando a Revelação Geral
(ou revelação da criação) precede a revelação
redentiva, ao mesmo tempo em que a
acompanha através dos atos providenciais da
história. A abordagem da Revelação Geral
pode ser antes ou depois do estudo da
Revelação Especial. Tudo depende de qual
epistemologia assumimos.
CONTINUAÇÃO
• Os defensores do pressuposionalismo, por
questões pedagógicas e teológicas,
estudariam a Revelação Geral depois da
Especial, porque partem do pressuposto que
o pecado impediu o homem de ver nas obras
da natureza o Deus criador. O homem precisa
da revelação redentiva para que seja
redirecionado ao mundo que Deus criou.
CONTINUAÇÃO
• Os defensores do evidencialismo estudariam
a Revelação Geral primeiro, partindo, em
seguida, para o estudo da Revelação Especial.
Suas razoes também são teológicas e
pedagógicas. Este estudo obedecerá, neste
particular, o raciocínio do evidencialismo,
porque cremos que a Revelação Geral não se
vê apenas no ato criador de Deus, nem
somente nos atos providenciais, mas também
na constituição da natureza humana.
CONCLUSÃO

• QUE O SENHOR
NOS AJUDE NA
NOSSA
CAMINHADA E

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