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Um Tratado Sobre o Evangelho

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Um Tratado Sobre o Evangelho

SUMÁRIO

1 DEUS EXISTE?........................................................................................3
1.1 A REVELAÇÃO GERAL......................................................................3
1.2 A REVELAÇÃO ESPECIAL...............................................................10
2 OBSERVAÇÕES IMPORTANTES.........................................................14
3 QUEM É DEUS?.....................................................................................15
4 O EVANGELHO......................................................................................20
5 PARA REFLETIR....................................................................................34

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1 DEUS EXISTE?

1.1 A revelação geral

Qualquer pessoa que tenha algum senso de realidade ou desejo de


saber mais a respeito de si e do mundo que a cerca já deve ter se perguntado
sobre a origem de todas as coisas. Qualquer pessoa que já tenha olhado para
uma linda árvore frutuosa, um mar sem fim, as estrelas, ou para uma simples
chuva que cai em meio a relâmpagos e trovões, certamente se questionou
como e de onde surgiu tudo isso. E é justamente isso o que move muitos
cientistas às investigações: o Gênesis. Mas ao mesmo tempo em que muitos
têm dedicado suas vidas a desvendar estes mistérios cosmológicos, outros
simplesmente olham para tudo isso e assumem que um Ser Superior criou, e
ponto final.
Nesta linha de entendimento cosmológico, denominada criacionismo,
não se encontra apenas o grupo chamado cristão. Os cristãos olham para a
Bíblia Sagrada, a qual creem que é constituída das próprias palavras do
Criador, e, lendo os seus capítulos iniciais, aceitam o fato de que Deus trouxe a
existência todas as coisas. Porém, o número de pessoas que creem na
existência de um Ser Superior, que criou tudo o que há, é muito maior do que o
número de pessoas ditas cristãs. De fato, o criacionismo é uma teoria científica,
a qual argumenta que o Universo fora criado em um ponto da história, e que
isso não foi fruto do acaso. Certamente podemos observar que a quantidade de
pessoas que creem na existência de um Criador Supremo é significativamente
superior àquelas que não creem. Há pouco tempo vi que uma determinada
pesquisa publicada pelo instituto Gallup Internacional, que entrevistou mais de
50 mil pessoas em 57 países entre 2005 e 2011, concluiu que o índice de
pessoas que não creem na existência de um Criador, que era de 3%, passou
para 13% da população mundial. Todos nós sabemos que todos os povos e
culturas possuem algum tipo de devoção a algum deus, ou deuses, no qual
creem ser superior a eles. Eu mesmo já ouvi muitos casos de descobertas de
novas tribos, em lugares remotos, as quais possuíam a sua devoção a alguma
divindade.

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Porém, as estatísticas tem mostrado que o percentual de ateus tem


crescido à medida que cresce o nível de educação da população. Isso, como
será comentado mais adiante, está em plena concordância com as afirmações
da Bíblia Sagrada: quanto mais sábio se diz o homem, mais distância se quer
do conhecimento de Deus, devido sensação de pecaminosa autossuficiência.
De fato nós cristãos, ao conhecermos a Bíblia, que entendemos ser a
revelação especial e pessoal desse Criador, percebemos que toda a ordem
criada mostra que há um Criador e Sustentador. A Escritura nos mostra que
toda a criação aponta para o Criador. Ela mostra que a criação, seja a natureza
ou mesmo as pessoas, revela a existência de um Criador. Revela a Deus. É
por isso que, na teologia, essa área de estudo é chamada de Revelação Geral
de Deus. Trata-se de uma revelação indireta para todos. A beleza, a
complexidade, a organização da criação só podem demostrar que um Ser
Inteligente a criou, e não o acaso.
Outra coisa que podemos notar, sobre a qual se desconhece a origem, é
a qualidade moral da humanidade. Existe em qualquer lugar, em qualquer
cultura, um discernimento do que seja certo ou errado, mesmo que isso varie
de lugar para lugar. Por exemplo, matar é algo repudiado em qualquer dos
lugares conhecidos. Para os animais isso é indiferente, o que importa é
sobreviver. Pode-se dizer o mesmo sobre mentir, trair e roubar. Portanto, de
onde vêm essas características morais dos seres humanos? Todos possuem
um juiz interno julgando as suas próprias atitudes. São coisas que não provém
do ser humano, apontando, assim, para um Criador. De fato, a esmagadora
maioria dos ideais morais que o mundo carrega está contida nas Sagradas
Escrituras. Deus, por meio delas, nos fala que Ele mesmo gravou esses ideais
morais no coração humano. Assim as Escrituras dizem: a lei moral de Deus
está “gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os
seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se” (Romanos
2.15). Porém, devido a corrupção e depravação interior do homem, há a
rejeição dessa lei interna, de modo que ele passa então a entregar-se
deliberadamente a uma vida completamente contrária à essa lei. Assim, com a
mente cauterizada, eles acostumam-se em transgredi-la, não tendo mais a
mente como acusadora.

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A revelação geral é Deus comunicando a respeito de si mesmo a todas


as pessoas de todos os tempos e de todos os lugares. Por isso chama-se
Revelação Geral: é para todos. Porém, mesmo diante de todas essas questões
que eu levantei aqui, as quais apontam para a sua existência, muitos tem
tentado explicar o surgimento de tudo à parte de Deus. No entanto, até hoje, e
certamente nunca, ninguém conseguiu comprovar algo do tipo. Pelo contrário,
todas as descobertas têm apontado para um Criador Soberano. Até mesmo as
hipóteses levantadas por aqueles que querem negar a ação de Deus na
criação têm contribuído para afirmar que Ele existe. O exemplo mais famoso é
a Teoria do Big Bang, a qual defende a existência inicial de uma partícula
extremamente densa que veio a explodir, produzindo, com o passar do tempo,
o universo que temos hoje, com toda a sua complexidade, organização e
beleza. Mesmo que suponhamos que esta seja a verdade, pois é apenas uma
teoria não comprovada, ainda assim não conseguiríamos explicar de onde veio
esta partícula primeira.
Por um longo período de tempo, muitos cientistas afirmaram que o
mundo e tudo o que nele há sempre existiu, porém essa teoria foi derrubada
por uma grande verdade física: a entropia. Assim como existe o centímetro
para medir distância, como existe o grau Celsius para medir temperatura, a
Entropia é um valor de medida para o grau, ou índice, de desordem de um
determinado sistema físico. Inclusive, particularmente, estou acostumado a
usar a entropia em questões da engenharia. A ciência comprovou que todas as
coisas, sem exceção, caminham para um nível de maior desordem. Se você
tomar um homem para observá-lo, verá que ele está caminhando para um nível
maior de deterioração. Se avaliar ao longo do tempo um quarto fechado, ele
estará caminhando para um nível maior de deterioração também. Isso não é
teoria, é fato comprovado por cientistas no final do século 19.
Essa descoberta levou todos os cientistas a um seguinte raciocínio: se
tudo caminha para uma situação pior, a terra está em processo de
deterioração; portanto se pudéssemos voltar um pouco no tempo,
encontraríamos uma terra um pouco melhor; então, se pudéssemos voltar no
tempo o suficiente para chegarmos ao início do universo, encontraríamos a
terra em seu estado de perfeição. Portanto, partindo-se do conhecimento da
entropia, compreendeu-se que houve um momento na história do universo no

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qual ele foi criado, e que foi criado perfeito. E quando olhamos para as
primeiras páginas das Sagradas Escrituras, é exatamente esse conhecimento
que recebemos: o Criador o criou perfeito (Gênesis 1 e 2). Portanto, devemos
ficar muito atentos a tudo o que ouvimos de cientistas. Existem muitas coisas
hoje sendo ensinadas nas escolas que não são comprovadamente verdades.
Olha só o que o grande astrônomo americano Robert Jastrow disse em seu
livro “Deus e os Astrônomos”, referindo-se a ineficácia da explicação dada pela
teoria do Big Bang: "O Cientista escala finalmente a montanha da ignorância,
está prestes a chegar ao pico mais alto; e, quando vence o último obstáculo,
ele é recebido por um punhado de teólogos; que já estão sentados, ali no topo,
há séculos.". Certamente a única conclusão possível que se pôde obter de tal
explicação da origem de tudo é que de fato houve um criador.
Apenas para reforçar a existência de muitas falácias científicas, quero
registrar um trecho de uma entrevista realizada com o professor de engenharia
e ciência nuclear Ian Hutchinson, do MIT:

“os cientistas sabem muito sobre o mundo e a natureza, sabem como o


universo se comporta naquilo que a ciência pode apreender, mas eles vêm
extrapolando e dando opinião sobre assuntos que estão fora de seu campo de
conhecimento, nem sempre deixando claro que se trata de mera opinião: às
vezes eles jogam nessas opiniões seu peso como cientistas, mas quase nunca
as afirmações têm base em descobertas científicas. É importante ser cético
quando um cientista fala sobre religião, filosofia, política ou sobre como a
sociedade devia ser organizada, porque nisso o cientista não tem nenhuma
vantagem em termos de conhecimento; a opinião dele vale tanto quanto a de
qualquer outra pessoa. Há, portanto, o perigo de superestimar a credibilidade
do que os cientistas dizem para além de seu campo. Não quero dar uma visão
negativa de ciência; ela é incrivelmente poderosa, eu sou cientista e sei que os
cientistas realmente sabem muito, mas o problema é extrapolar as coisas de
forma ilegítima, e por isso precisamos ser cuidadosos, tanto os que falam
quanto os que ouvem.”

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Voltando à questão tratada anteriormente, percebemos que há muitas


coisas que apontam para a existência de um Criador Supremo, mas que nada
é plenamente conclusivo. São inferências com base em deduções, pois não
temos a oportunidade de ver outro mundo ser criado para comprovar que é
Deus quem o fez. E o fato de não podermos comprovar que existe um criador,
um ser completamente maior do que nós, um Deus, é simples: não podemos
provar a existência de um Ser infinito a partir da existência de um universo
finito. De fato, o homem nem compreende ao certo o significado do termo
“infinito”. No entanto, o que a Bíblia nos mostra (especialmente em Romanos
1.18-20) é que a criação revela claramente a existência de seu Criador. E que,
inclusive, fornece uma apresentação de seus “atributos invisíveis”: sua
“divindade” e “eterno poder”. Não possuímos condições de provar a existência
de Deus, porém a grande verdade Bíblica é que não deveríamos sequer ter
essa presunção. Deveríamos vislumbrar toda a ordem criada e
automaticamente enxergar um Criador divino, alguém infinitamente superior às
coisas criadas, e que as planejou de forma extremamente meticulosa e
perfeita. Uma simples pessoa que por um momento pare para contemplar a
grandeza do céu e de suas estrelas, assim como um estudante de medicina
que disseca um corpo e percebe a extraordinária complexidade que ele possui,
deveria chegar à conclusão de que houve alguém que planejou e criou tudo
isso, e não imaginar que tudo surgiu do nada e por um acaso. Ao chegar à
casa de sua mãe, encontrando um lindo bolo preparado para a sua recepção,
irá você inferir que aquele bolo surgiu por um acaso? Certamente que não,
automaticamente compreenderá que ele fora feito por mãos mui cuidadosas.
Mas porque essa conclusão aparentemente tão óbvia não nos ocorre?
Por que existem tantas pessoas que insistem em negar a existência de um
Criador e Mantenedor Supremo? Por que é tão difícil olharmos para a natureza
e naturalmente buscar conhecer o seu Criador? A Bíblia não hesita em
responder: por causa do pecado.
O pecado, encalcado na natureza humana por ocasião do pecado
cometido pelo primeiro casal criado (que veremos posteriormente) e que ainda
está tomando conta do interior de muitas pessoas, tem dois efeitos sobre a
eficácia da revelação geral de Deus. Por um lado, o pecado deforma o
testemunho da revelação geral: toda a ordem criada está sob a maldição do

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pecado (Gênesis 3.17-19); Paulo diz em Romanos 8.18-25 que a criação ficou
sujeita a futilidade (aquilo que é destituído de verdade e conveniência, que está
sob a ação da vaidade, perversidade e depravação) e que está aguardando o
dia de sua libertação. Com isso, o seu testemunho, a sua capacidade de
mostrar o seu Criador, é deficiente. Apesar de ser criação de Deus e, dessa
forma, continuar testemunhando a seu respeito, ela não é mais o que era
quando surgiu das mãos do Autor. É uma criação estragada. O testemunho
acerca do Autor está “borrado”.
Por outro lado, o efeito mais sério do pecado e da queda recai sobre os
próprios homens, tornando-os indiferentes às revelações naturais do Senhor.
Paulo, em Romanos 1.21-22, afirma: “tendo conhecimento de Deus, não o
glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em
seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato.
Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos”. O que ainda se é possível
conhecer de Deus por intermédio da criação é deliberadamente ignorado pelos
homens. Devido a nossa corrupção interna, rejeitamos esse conhecimento, nos
afundando em raciocínios vazios, tendo as nossas mentes obscurecidas e
nossos olhos impedidos de enxergar plenamente o Deus revelado pela
natureza. Isso acontece porque todos estão sob o poder do pecado,
completamente inundados por ele e incapazes de responder à sua revelação.
Porém, a revelação está aí, e todos são indesculpáveis por não
renderem graças a esse Deus. Todos tem a opção de buscar conhecimento a
seu respeito, porém, ao invés de fazê-lo, preferem permanecer se afundando
cada vez mais em seus pecados. Permanecem negando a existência de
Alguém para o qual haverão de prestar contas de seus atos um dia. Aliás,
muitos que se dizem crer em Deus continuam o negando pelas suas formas
fúteis de viver. Negam a Deus por não viverem conforme os Seus preceitos. “A
ira de Deus se manifesta do céu contra toda impiedade e injustiça dos homens,
que com a injustiça sufocam a verdade” (Romanos 1.18). Em Romanos 3.9-
18 temos uma clara descrição do que se tornaram os seres humanos ao
negarem a Supremacia do Senhor Deus:

“Não há homem justo, não há um sequer. Não há homem sensato, não


há quem busque a Deus. Todos se desviaram, e juntos se corromperam; não

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há quem faça o bem, não há um sequer. A garganta deles é um túmulo aberto,


com a língua planejam trapaças; em seus lábios há veneno de cobra. Sua boca
está cheia de maldições e de amargor. Seus pés são velozes para derramar
sangue; ruína e desgraça enchem seus caminhos. Não conhecem o caminho
da paz, e não aprenderam a temer a Deus.”.

A leitura dos três primeiros capítulos dessa carta fornecerá uma clara
apresentação dessas questões. Ali temos claras descrições de pessoas que
simplesmente escolhem negar o nosso Senhor: “Dizendo-se sábios, tornaram-
se loucos”, “trocaram a glória do Deus imortal por imagens feitas segundo a
semelhança do homem mortal, bem como de pássaros, quadrúpedes e
repteis”; possuindo “desejos pecaminosos” em seu coração “trocaram a
verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram a coisas e seres criados,
em lugar do Criador”. Simplesmente “desprezaram o conhecimento de Deus” e
“tornaram-se cheios de toda sorte de injustiça, maldade, ganância e
depravação. Estão cheios de inveja, homicídio, rivalidade, engano e malícia
(...). São caluniadores, inimigos de Deus, insolentes, arrogantes e
presunçosos; inventam maneiras de praticar o mal”.
Assim, ninguém conhece plenamente o Senhor do universo
simplesmente olhando para as coisas criadas por Ele, pois o pecado nos
impede. Portanto, o próprio Deus vem de encontro e se revela às suas
criaturas das quais quer se tornar conhecido. Para conhecermos a Deus,
precisamos que Ele se revele a nós de maneira pessoal e especial, doutra
sorte jamais o conheceríamos. De fato, sendo os seres humanos finitos e
Deus, infinito (tudo nEle é imensurável), não podemos conhecer a Deus, a
menos que ele se revele, de forma compreensível, a nós. Precisamos de Sua
revelação especial.

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1.2 A revelação especial

A revelação especial de Deus vem a ser a auto manifestação de Deus


para certas pessoas em tempos e lugares definidos, permitindo que tais
pessoas entrem num relacionamento redentor com Ele.
Deus se manifestou de diversas maneiras no decorrer de toda a história:
falando diretamente ao homem (como podemos ver em Gênesis 12.1 e Êxodo
20.1-18), se comunicando através de sonhos (como em Gênesis 20.3), por
visões (como Isaías 2.1), e, ainda, por meio da mensagem escrita que outrora
tivera dado para uma pessoa escrever (Êxodo 34.27 e Apocalipse 1.11). Pelo
testemunho bíblico, entendemos que as formas de revelações especiais
extraordinárias de Deus (como visões, sonhos, teofanias e inspiração pessoal)
chegaram ao fim uma vez que a sua revelação escrita se deu por completo,
culminando na Bíblia Sagrada. De fato toda a Escritura (a Bíblia Sagrada) é
uma revelação especial de Deus aos homens. Podemos ler: “Toda a Escritura
é inspirada (soprada) por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a
correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja
perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (1Timóteo 3.16-17).
Desse modo, a Bíblia Sagrada é suficiente para guiar o homem a uma fé
genuína e o tornar sábio para a salvação de sua alma. A Bíblia é a revelação
especial de Deus.
Por quase dois mil anos Deus se propôs a produzir um compêndio de
registros ao Seu respeito e de seus próprios discursos e instruções: a Sua
Palavra. E, uma vez registrada a mensagem divina, é por meio dela, e
unicamente, que Deus tem se apresentado e salvado homens desde há muito
tempo. É por meio da proclamação dela que ele se revela.
Podemos demonstrar isso por diversas maneiras. Primeiro, o próprio
Livro reivindica ser de autoria divina (2Timóteo 3.16). Segundo, ele possui
grandes profecias e predições de acontecimentos históricos dados muito antes
de virem a ocorrer (como sobre o surgimento e queda dos reinos Babilônico,
Medo-Persa, Grego e Romano, encontrada no livro de Daniel). Isaías, o
profeta de Deus, profetizou o surgimento do império persa de Ciro, o Grande,
mais de um século antes de ele vir a ocorrer. Da mesma maneira, encontramos
diversas profecias historicamente comprovadas, como o exílio que o povo de

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Israel passaria, sua libertação após setenta anos de cativeiro e o levante do


reino assírio. Apesar de não possuir uma finalidade histórica, a Bíblia não
possui erros históricos. Pelo contrário, possui narrativas de fatos importantes e
precisos (como encontramos nos livros de Samuel, Reis, Esdras e Neemias)
que têm sido comprovados com o passar do tempo por meio da arqueologia e
de documentos históricos. Como exemplo, por séculos os críticos duvidaram da
existência da cidade chamada pela Bíblia pelo nome de Jericó, afirmando
jamais ter havido uma cidade com tais descrições. Descoberta no século 20,
hoje não há dúvidas de que ela realmente existiu. De fato, nenhuma das
descrições históricas da Bíblia já fora provada estar errada.
É simplesmente um Livro que possui escritos de quase três mil anos de
idade, mas que permanece como o mais lido e influente de todos os tempos
(por ser a revelação de Deus, certamente o Senhor se certifica de que muitos
tenham acesso a ele). Foi escrito dentro de um período de 1500 anos e em três
idiomas diferentes (hebraico, aramaico e grego). Ainda, sua composição conta
com cerca de 40 autores diferentes, os quais viveram em épocas e culturas
diferentes e distantes, mas que não se contradizem em nada. Na verdade,
todos os escritos desses autores formam uma unidade, tendo todos um só
foco: mostrar que o Deus Santo, o Criador de todas as coisas, está salvando
pecadores por meio de Jesus Cristo, e transformando-os de inimigos para
filhos. E é imensurável a quantidade de vidas transformadas por meio das
Sagradas Escrituras.
Muitos têm questionado a fidelidade de nossa atual Bíblia com relação
aos escritos originais, e aqui vale alguns comentários. É simplesmente
impressionante a prova bibliográfica a respeito das Escrituras. Para se ter uma
ideia, é bem sabido da autenticidade de documentos históricos como os de
Teucídides e de Heródoto, dos quais possuímos apenas 8 manuscritos datados
de cerca de 900 d.C, quase 1300 anos depois da redação original. Aristóteles
escreveu sua Poética em torno de 343 a.C, porém a cópia mais antiga que os
historiadores possuem data de 1100 d.C, e possuindo apenas 49 exemplares.
Na verdade, em suma, toda a nossa literatura clássica é baseada em não
muitas cópias. E as que possuímos, são ainda temporalmente distantes dos
escritos originais. Apesar disso, nenhum historiador sensato irá questionar a

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autenticidade de tais cópias. Não há dúvidas quanto a veracidade de suas


histórias narradas.
O interessante, no mínimo curioso, é que quando o documento antigo
em questão é a Bíblia, muitos permanecem a duvidar de sua autenticidade.
Muitos são velozes em dizer “a igreja católica manipulou os escritos”, ou ainda
“não há como saber se ela é autêntica”. Tais afirmações, no entanto, são o
resultado de mentes céticas, são afirmações sem qualquer base científica, são
levadas apenas pela vontade que o próprio indivíduo possui de que a Bíblia
não seja verdadeira. Ora, apenas quem pode responder se as Escrituras que
temos em mãos hoje são fiéis aos escritos originais e verdadeiras em suas
afirmações é a Prova Bibliográfica e a Manuscritologia, assim como para
qualquer outro documento antigo. Basicamente, afirmam os profissionais da
área (como o historiador militar Chauncey Sanders), para que a autenticidade
de um documento antigo seja verificada ele deve passar pelos testes de prova
bibliográfica, prova de evidência interna e prova de evidência externa. E são
assombros os resultados que obtemos ao submeter as Escrituras a tais testes.
Nenhum outro documento clássico obtém tanta aprovação. Com base nas
avaliações via métodos científicos, se não pudermos acreditar na Bíblia
Sagrada, não podemos acreditar em nenhum outro documento antigo.
Avaliando a prova bibliográfica, se olharmos apenas para o Novo Testamento,
por exemplo, já podemos nos deparar com a existência de mais de 20 mil
manuscritos, encontrados até hoje, que comprovam a sua autenticidade. Veja
que a veracidade da Ilíada, de Homero, se sustenta sobre apenas 643
manuscritos. Ainda, mesmo sob as provas de coerência interna (que verifica se
as afirmações contidas no documento são dignas de confiança) e externa (que
verifica se outros materiais históricos confirmam ou negam o testemunho
interno) o conteúdo bíblico permanece inatingível. A Bíblia Sagrada realmente
possui bases reais para que haja confiança tanto na sua autenticidade aos
originais quanto nas suas proposições.
Porém, muitos, sem ao menos considerar essas questões, não tardam
em proferir blasfêmias contra as Sagradas Letras. Assim, torna-se claro o que
já mencionei anteriormente: o pecado, a corrupção do homem, o impede de
enxergar Deus, inclusive em sua revelação especial. De fato, o homem natural
sem experimentar a transformação da alma ocasionada pelo próprio Espírito de

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Deus, jamais irá contemplar as Escrituras como verdadeiramente a Palavra de


Deus. Assim elas afirmam a respeito do homem natural: “Porquanto a
inclinação da carne [homem natural, sem o conhecimento de Deus] é inimizade
contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem em verdade o pode ser.”
(Romanos 8.7). O pecado obscurece não somente a revelação geral do
Senhor do universo, mas também a sua revelação especial (a qual,
racionalmente, é incontestável), impedindo o homem de se aproximar dEle.
Nós cristãos recebemos a incumbência, da parte de Jesus Cristo (Mateus
28.18-19), de tornar a revelação especial de Deus conhecida a todos os
homens da face da terra, para que eles possam enxergar a Deus e serem
atraídos por ele para uma vida eterna, com Ele, sendo salvos da condenação
que virá sobre todos aqueles que nunca encontraram o Salvador. Porém, se
não houver a atuação de Deus no interior da pessoa que recebe a mensagem,
dando-a fé para crer na mensagem bíblica, ela não irá responder de forma
positiva, mas permanecerá afundada em sua natureza pecaminosa. Mesmo
estando diante de provas infindáveis e incontestáveis, o pecador permanecerá
negando o seu criador. A menos que Deus o transforme, o regenere, ele
permanecerá correndo para longe, trilhando outros caminhos e seguindo as
vãs filosofias e ideologias.
Sendo assim, todos os homens precisam daquilo que João Calvino, o
grande reformador de Genebra do século VI, chamou de “os óculos da fé”. Os
homens, pecadores como são, são como pessoas com problemas de visão.
Eles veem os objetos, as coisas que apontam para Deus, mas de forma
imprecisa e pouco clara. Assim, os pecadores não reconhecem Deus. Mas
quando colocam os “óculos” da fé, os quais são dados pelo próprio Deus, a
vista é aperfeiçoada, e eles conseguem ver Deus e se aproximar dEle em
adoração.

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2 Observações importantes

Uma vez entendido o que foi posto até aqui, a saber, que a Bíblia
Sagrada é a única revelação especial de Deus e o único meio de se obter
conhecimento a respeito de Deus, do homem (sua origem, o seu presente
estado e o seu futuro) e de como Deus se relaciona com o homem, o passo
seguinte natural é estudá-la, é conhecê-la. De fato ela é o que há de mais
importante na vida de um cristão verdadeiro. Como já mencionei, o crente é
convocado pelo Senhor a anunciar a mensagem contida nas Escrituras, ou
seja, o evangelho: a boa notícia de que Deus, o único Deus, o qual é
perfeitamente Santo, está salvando pecadores, e isto por meio de Jesus Cristo.
Um cristão não deve desviar a sua mensagem, ela deve ser unicamente
centrada nas Escrituras; ele deve ser apenas o porta voz da Palavra de Deus
escrita. A grande confusão que vivemos no cristianismo moderno é ocasionada
tão somente pelo distanciamento da Palavra por parte dos pregadores, de
modo que os tais não são proclamadores do evangelho do Senhor Jesus, mas
usam as Escrituras para finalidades pessoais. Com isso, a maioria das pessoas
que atualmente se chamam cristãs, na verdade nunca tiveram uma revelação
especial da parte do Senhor, permanecendo, assim, em seu estado de
corrupção original.
Ninguém se torna cristão simplesmente por ter feito uma “oração”
“aceitando” a Jesus, ou dizendo sim para o apelo de um pastor ou evangelista.
A conversão a Cristo é ocasionada por uma transformação interior da pessoa,
que é realizada pelo próprio Espírito de Deus; um verdadeiro cristão é aquele
que passou por aquilo que Jesus chamou de “novo nascimento” (Evangelho
de João, capítulo 3). A conversão a Cristo é acompanhada de uma completa
mudança de caráter, de estilo de vida, de gostos, de valores e tudo o mais que
seja contrário a Deus, passando-se a moldar aos padrões Bíblicos. Ao se
converter, se ganha uma nova vida. Assim diz a Palavra do Senhor sobre isso:
“porque Deus não nos chamou para a impureza, e sim para a santificação”
(1Tessalonicenses 4.7). Portanto, devido ao fato de as “igrejas” estarem
repletas de pessoas não transformadas por Deus, a verdadeira igreja do
Senhor tem sido envergonhada, sendo motivo de desprezo por muitos. Vale
dizer aqui que igreja, biblicamente falando, não diz respeito a uma construção,

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templo ou denominação: o termo “igreja” é usado pelas Escrituras Sagradas


para se referir ao povo de Deus, para se referir àqueles que verdadeiramente
possuem fé em Cristo.
Esclarecidos alguns pontos, e visto a extraordinária importância do
Sagrado Livro, passemos, portanto, a estudar o que as Escrituras contêm. O
que ela afirma sobre Deus? E sobre as pessoas? E quanto à vida após a
morte? Qual a sua mensagem central?

3 QUEM É DEUS?

Comecemos pelo início: Deus. Logo no início da Bíblia, em Gênesis 1.1,


lemos a seguinte sentença: “no princípio, Deus criou...”. Não existia céu e nem
terra, apenas Deus. Lemos por vezes que Deus é um ser eterno (Isaias 40.28;
Jeremias 10.10), e que, portanto, nunca houve um tempo em que ele não
existisse. Ele é o criador de tudo e todos (Gênesis, capítulos 1 e 2). No
princípio não havia nada, nem ninguém, senão Deus. E isso não por um ou
dois dias, mas por toda a eternidade passada, antes da criação. Deus não foi
criado, ele simplesmente é. Deus é Deus desde sempre.
Moisés, ao receber uma revelação sobrenatural do Senhor, perguntou
quem ele era, e Ele simplesmente respondeu: Eu sou (Êxodo 3.14). A
formação dessa afirmação do Senhor em nossa língua não é muito comum,
mas é bastante clara. A palavra “existir”, em seu sentido original, do latim,
refere-se à existência de algo a partir de outro. Quando dizemos “aquele
cachorro existe”, subtende-se que ele existe porque foi criado. Porém outra
formação poderia ser feita: “aquele cachorro é”. Ao colocar dessa maneira, a
mensagem original passada é a de que o cachorro existe sem nenhuma
dependência de um criador, referindo-se a uma existência absoluta, uma auto
existência. Porém, sabemos que esta afirmação é falsa. Podemos
imediatamente inferir que a sua mãe, a cadela, o gerou, ou, ainda, inferir que o
Criador formou o primeiro cão. Ele, o cachorro, não possui uma existência
absoluta. Somente Deus, o Deus eterno possui uma existência absoluta,
independente de um criador. De fato, Deus não existe, mas Deus é. E era isso
o que Deus estava falando para Moisés quando aplicou o verbo na primeira

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pessoa do singular: “Eu Sou”. (Algumas traduções dos escritos originais trazem
“Eu Sou o Que Sou”).
Jamais houve um tempo em que Ele não era, um tempo onde não havia
Deus. Jamais virá tempo em que Ele deixará de ser, em que deixará de haver
Deus. Com isso, outra preciosa informação a respeito de Deus que
encontramos nas Escrituras é: Deus não é somente eterno, mas eternamente o
mesmo. Ele é um ser imutável: o que ele era ontem, ele é hoje, e será amanhã
(Tiago 1.17). E isso, no sentido mais amplo o possível. Deus nunca muda, seja
em se tratando de seu ser, seja em se tratando de seus propósitos e decretos.
Deus não muda sequer de opinião ou vontade. Deus não evoluiu, nem cresceu,
nem melhorou. Tudo o que Ele é hoje, sempre foi e sempre será. Ele mesmo
declarou “(...) eu, o Senhor não mudo (...)” (Malaquias 3.6). Ele não pode
mudar para melhor, pois é perfeito, e sendo perfeito, não pode mudar para pior.
Ele é absolutamente livre do curso do tempo.
Deus sempre esteve revestido de glória e poder, e mesmo durante toda
a eternidade anterior a criação (tanto dos homens quanto dos seres celestiais),
quando esteve só, ainda era completo, suficiente e satisfeito em Si mesmo, de
nada necessitando. O universo, os anjos e os seres humanos nada
acrescentaram a Deus essencialmente. A glória de Deus não pode ser
aumentada, pois ela já é plena por natureza. A criação não foi um ato por
necessidade de glorificação, de prestígio ou adoração, mas para simples
manifestação do seu poder. O Todo Poderoso simplesmente quis criar e
revelar-se. E resolver fazê-lo foi um ato puramente soberano de Sua parte, não
sendo influenciado por nada alheio a Si próprio; não determinado por nada,
senão por sua própria vontade. O Senhor Deus “faz todas as coisas segundo o
concelho de sua vontade” (Efésios 1.11). Somente a sua própria vontade é sua
conselheira, somente ela dita o seu procedimento. Deus é suficiente em Si
mesmo. Veja as palavras que se encontram em Romanos 11.34-36: “Quem,
pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem
primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? Porque dele, e por meio
dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente!”.
Deus poderia ter permanecido eternamente só, sem a necessidade de
dar a conhecer a Sua glória a qualquer criatura; porém, sua soberana vontade,
determinou criar. E como criaturas que entenderam o lugar que o Senhor

16
Um Tratado Sobre o Evangelho

ocupa, devemos nos render e nos humilhar diante de tamanho poder,


clamando por misericórdia por nossas vidas, pois ele é o único que possui o
poder de dar a vida, assim como de tirá-la (Jó 1.21). Deus é Deus, ele é
supremo sobre tudo e todos, e age simplesmente segundo a sua própria
vontade (1Crônicas 29.11-13; 2Crônicas 20.6). Não há quem possa escapar
da vontade do Todo Poderoso Criador (Jó 23.13). Deus não é um falso
monarca, nem um mero soberano imaginário, mas Rei dos reis e Senhor dos
senhores, e detém todo o poder em suas mãos. Tudo o que designou fazer, Ele
o faz. Realiza tudo quanto decretou (Salmo 115.3).
Ele abriu um mar ao meio para que seu povo o atravessa-se à seco
(Êxodo, capítulo 14); a terra se abriu para que os rebeldes fossem tragados
vivos pelo abismo (Números 16.31-33); Ele parou o movimento de rotação da
terra (Josué 10.12) enquanto Josué guerreava; ordenou que os pássaros
alimentassem o seu servo Elias e eles o fizeram (1Reis 17.3); manteve mansos
os leões famintos que seriam usados para provocar a morte de seu servo
Daniel (Daniel 6.16-22); e mesmo lançados em uma fornalha de fogo ardente,
Deus impediu que seus filhos fossem queimados (Daniel 3.21-28).
Deus tem todo o poder sobre a criação, pois é tudo fruto de suas mãos.
Ainda, não caiamos no grande erro popular de pensar que Deus não pode
interferir em nossas vidas pessoais, ele não só pode como o faz (Êxodo 9.12;
Filipenses 2.13). Como esses dois textos nos mostram, ele pode tanto nos
deixar afundar cada vez mais nos nossos pecados quanto provocar em nós
amor por Ele e desejo de conhecê-lo e servi-lo, e isso por meio da
transformação do nosso ser. Ele não tem somente poder sobre as coisas que
nos acometem, mas também sobre o que pensamos, desejamos e fazemos.
Ele é o dono de nossa vida e de tudo o que nos cerca. Rendamo-nos, portanto,
perante a majestade e poder de nosso Deus!
Mesmo que muitos possam se jactar, crescer em autoafirmação de que
são agentes livres e com vontade própria para qualquer coisa, sem qualquer
intervenção Divina, e de que têm liberdade de fazer o que bem entendem de
suas vidas, tudo o que vierem a realizar só será possível se assim Senhor
Deus o quiser. Por isso, não devemos procrastinar o nosso clamor por
misericórdia e por transformação do nosso espírito. Ao entendermos isso,
clamemos sem demora com o salmista: “Quem pode discernir os próprios

17
Um Tratado Sobre o Evangelho

erros? Purifica-me tu [Senhor] dos que me são ocultos.” (Salmo 19.12). Não
deixe que o seu preconceito fale mais alto e te afaste ainda mais do Soberano.
Saiba que ainda que você possa evitar pensar nessas questões, ainda que
cresça em ignorância e passe a crer piamente que tudo isso não passa de um
conto, elas ainda assim permanecerão firmes e intactas, pois são de fato a
única Verdade. O Senhor Deus reina, crendo as pessoas ou não. O Senhor
governa a história, e tem todo o poder sobre ela, crendo as pessoas ou não.
Todas as coisas, e pessoas, pertencem ao Senhor “Porque dele, por ele, e
para ele, são todas as coisas” (Romanos 11.36). Ou seja, ele é a Fonte, o
Meio e a Finalidade de todas as coisas. Como diz o teólogo A. W. Pink, “A
nossa vida não é nem o produto do destino cego, nem resultado do acaso
caprichoso, mas todas as suas minudências foram prescritas desde toda a
eternidade e agora são ordenadas por Deus que vive e reina”.
Poderia discorrer muito mais sobre os maravilhosos atributos do Senhor,
porém quero fazer apenas mais duas colocações a Seu respeito. Primeiro, e
rapidamente, as Escrituras afirmam que Ele é onipotente, possuindo todo o
poder, como já colocado, mas que também é onisciente, sabendo e
conhecendo todas as coisas (no sentido máximo da expressão), mesmo antes
de virem a acontecer (isso é um tanto lógico, pois Ele é o autor de toda a
história!). Isso permanece verdade no que diz respeito às pessoas,
pessoalmente: mesmo que ninguém mais saiba a respeito de seus atos, nada
fica encoberto diante dos olhos do Senhor. Neste ponto, quero deixar apenas
alguns textos para reflexão: “Tu [Deus] conheces o meu sentar e o meu
levantar; de longe entendes o meu pensamento. [...]. Sem que haja uma
palavra na minha língua, eis que, ó Senhor, tudo conheces” (Salmos 139.2-6);
“E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão
nuas e expostas aos olhos daquele a quem havemos de prestar contas.”
(Hebreus 4.13).
Segundo, e por último, quero tratar da santidade de Deus. Somente Ele
é independente, infinita e imutavelmente Santo. Muitas vezes Ele é intitulado
“O Santo” nas Escrituras. Sim, porque nEle se acha a soma total de todas as
excelências morais. A santidade é a excelência propriamente dita da natureza
divina: o grande Deus é “glorificado em santidade” (Êxodo 15.11). Ele não tem
parte alguma com o mal moral do homem (Habacuque 1.13). Assim como o

18
Um Tratado Sobre o Evangelho

poder de Deus é o oposto da fraqueza da criatura, como a Sua sabedoria é


contrastada com o ínfimo entendimento humano, assim a Sua santidade é a
própria antítese de toda mancha ou corrupção moral. A Sua santidade é a mais
exaltada dentre todas as suas características em toda a Bíblia. “Santo, Santo,
Santo é o Senhor...”, bradam os seres celestiais (Isaias 6.3). A santidade de
Deus é expressa na sua Lei. Essa Lei proíbe o pecado em todas as suas
variantes, e está expressa por toda a Escritura Sagrada. Posto isso, Ele odeia
toda e qualquer manifestação de pecado. Ira-se contra qualquer espécie de
depravação moral, contra tudo o que caminha no sentido contrário do seu
caráter. Ele ama tudo quanto está em conformidade com as Suas leis, e
detesta tudo que é contrário a elas. Quando se apresentou a Moisés, não
tardou em expressar a sua perfeita pureza: “o lugar em que estás é terra santa
[onde o Senhor lhe aparecera]” (Êxodo 3.5); Josué rapidamente tratou dessa
questão com o seu povo: “Não podereis servir ao Senhor, porquanto é Deus
santo, Deus zeloso” (Josué 24.19); o profeta Isaías se desesperou diante da
visão do Deus Santo: “ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios
impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram
o Rei, o Senhor dos Exércitos!” (Isaías 6.5). De fato, “o perverso é abominação
para o Senhor” (Provérbios 3.32) e “Abomináveis são para o Senhor os
pensamentos do mau” (Provérbios 15.26). Segue-se, portanto, que Ele
necessariamente pune o pecado. Ele nunca tem o culpado por inocente (Naum
1.3).
O “deus” que a imensa maioria das pessoas professa crer é visto como
alguém muito parecido com um velhinho indulgente, que pessoalmente não
tem prazer na maldade dos homens, mas que tolerantemente fecha os olhos
para o mal, procurando enxergar apenas o bem que fazem. Assim, muitos
colocam Deus na obrigação de perdoá-los. Atentemo-nos para as Escrituras e
conheçamos quem de fato é o Senhor! “Deus é um Juiz justo, um Deus que se
ira todos os dias” (Salmos 7.11). As Escrituras afirmam sobre os culpados
perante Deus: “por causa da sua teimosia e do seu coração obstinado, você
está acumulando ira contra si mesmo, para o dia da ira de Deus, quando se
revelará o seu justo julgamento. Deus retribuirá a cada um conforme o seu
procedimento” (Romanos 2.5-7). Ainda que muitos vivam as suas vidas sem
ter qualquer preocupação com a punição proveniente de Deus, ou mesmo sem

19
Um Tratado Sobre o Evangelho

lhe dar crédito, o Senhor tem um dia marcado, o dia do “justo juízo”, no qual
todos serão julgados, recebendo a sua devida recompensa: vida eterna ou
sofrimento eterno. Ainda que falem que estão em paz, “a destruição virá sobre
eles de repente, como as dores de parto à mulher grávida; e de modo nenhum
escaparão” (1Tessalonicenses 5.3). Com isso, tem-se também aqui
apresentado outro majestoso atributo do Senhor: a sua santa Justiça (a justa
punição daquilo que é contrário a Sua santidade).

4 O Evangelho

Antes de darmos início, gostaria que o leitor lesse os três primeiros


capítulos da Bíblia. Feito isso, comecemos por Gênesis 1.26-27
:
“E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa
semelhança; domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre
os animais domésticos, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se arrasta
sobre a terra.
Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem
e mulher os criou. Então Deus os abençoou e lhes disse: Frutificai e
multiplicai-vos; enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar,
sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra.

Para esse texto, muitas pessoas têm definições variadas para o termo
“imagem”. Muitos patriarcas têm opiniões diferentes acerca dele. Porém, eu
sou levado a concordar com algumas afirmações de dois grandes teólogos:
João Calvino e Martinho Lutero. Calvino diz que o termo imagem se refere a
todas as características que diferenciam os homens dos animais. Porém, ele
ainda entra mais fundo, dizendo que o principal significado do termo “imagem”
está ligado ao estado original de pureza e perfeição do homem. E isso é bem
claro quando olhamos passagens como Efésios 4.24 e Colossenses 3.10.
Lutero certa vez falou que, devido ao pecado, os seres humanos se tornaram
quase como animais, faltando pouca coisa que os diferem entre si (basta
assistir um pouco ao jornal para verificar isso!).
A utilização do termo “semelhança” traz o seguinte entendimento: é um
sinônimo de imagem, mas que ressalta o fato de que não somos iguais a Deus

20
Um Tratado Sobre o Evangelho

(ou seja, divinos). Estou falando isso pra ressaltar que quando a Bíblia fala que
fomos criados “à imagem e semelhança” de Deus ela está nos dizendo, em
última análise, que fomos criados Puros e Santos assim como Deus o é.
Fomos criados perfeitamente capazes de ter comunhão com o nosso Criador.
Quando da criação, o primeiro casal foi presenteado pelo Pai com um
grande, lindo e perfeito Jardim. Tinham à sua disposição todos os mais belos,
saborosos e saudáveis frutos para se alimentarem. E, mais
extraordinariamente, possuíam excepcional liberdade para contatar o seu
Criador. Em verdade, o Criador caminhava com eles pelo jardim, e gozavam
plenamente de sua Santa presença. Estavam sob apenas uma proibição
(Gênesis 2.16):

“De toda árvore do jardim podes comer livremente; mas da árvore do


conhecimento do bem e do mal, dessa não comerás; porque no dia em que
dela comeres, certamente morrerás.”

Com as palavras de Eva, encontradas mais adiante no texto Bíblico,


podemos nos aperceber de que a árvore do fruto proibido se encontrava “no
meio do jardim” (Gênesis 3.3). Portanto, estava bem definido de qual árvore
eles deveriam manter distância dos seus frutos. Porém, por instigação de
Satanás, o anjo de Deus expulso da habitação do Senhor por conta da
corrupção encontrada no seu coração, o casal escolheu comer daquele fruto.
Quando o homem foi criado, puro, inocente, santo, ele só conhecia o
bem. Porém, ao comer do fruto proibido, ele se tornou réu da sentença “se
comeres certamente morrerás” (Gênesis 2.17). Essa sentença foi executada
totalmente em cima de Adão e de toda a sua descendência, pois todos são
seus herdeiros. Podemos ler em Romanos 5.12: "Portanto, assim como por um
só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a
morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram.”. Se
considerarmos a natureza espiritual de Adão, imediatamente após cometer a
desobediência ao Senhor Deus, sua imagem, seu espírito, que era santo, e sua
justiça original morreram, de fato se perderam. Se considerarmos a natureza
física, sua desobediência trouxe também consigo o homem para um estágio de
degradação, passando a caminhar para a morte, e morrer de fato. Assim
também, por causa da desobediência do homem, toda a ordem criada entrou

21
Um Tratado Sobre o Evangelho

num processo de degradação. Surge aqui aquilo que os físicos chamam de


entropia, sobre a qual comentei anteriormente. Não somente o homem, mas
toda a ordem criada foi manchada pelo pecado e sujeita às suas
consequências.
O grande problema, e é o que marca a entrada do pecado na natureza
humana, é que ao comer da árvore do conhecimento do bem e do mal,
desobedecendo assim ao Criador Supremo, o homem não somente conheceu
o mal, mas foi completamente atraído por ele, passando a desejar tão somente
ele. Após esse episódio do Éden, a Bíblia nos revela que o homem se tornou
completamente corrompido, de fato, depravado, com todas as suas faculdades
mentais danificadas. Este episódio marca a entrada do pecado na natureza
humana. Neste episódio, o mais triste de toda a Escritura, é onde claramente a
Bíblia nos mostra a danificação da imagem que o homem possuía de seu
Criador. E, como podemos ver em Colossenses 3.10, a regeneração (a
conversão do pecador a Deus, por meio de Cristo) consiste numa reconstrução
dessa imagem, capacitando o homem a desfrutar novamente da comunhão
com o Criador.
Uma verdade bíblica claramente difundida por toda a Escritura é a de
que todos os seres humanos já nascem com essa natureza corrompida, a qual
foi adquirida por Adão no Éden. O salmista muito bem afirmou essa realidade
ao seu próprio respeito: “Eis que eu nasci em iniquidade, e em pecado me
concebeu minha mãe.” (Salmo 51.5).
É curioso o fato de psicanalistas se questionarem a respeito do motivo
da maldade encontrada mesmo em bebês: Freud afirmou que meninas bebês
desenvolvem ódio pela mãe e que meninos o desenvolvem pelo pai; Melanie
Klein afirma que desde recém-nascido o bebê deseja machucar a mãe, quando
ela não satisfaz suas necessidades. É claramente anunciado no Sagrado Livro
que todos nós nascemos com inclinações ou desejos por tudo aquilo que é
contrário a Deus. E uma vez que isso é verdade, não há nenhum se quer que
faça o que é bom diante de Deus, não há nenhum sequer que busque a Deus.
Vejamos o texto de Romanos 3.10-8:

“Não há justo, nem sequer um. Não há quem entenda; não há quem
busque a Deus. Todos se extraviaram; juntamente se fizeram inúteis. Não há
22
Um Tratado Sobre o Evangelho

quem faça o bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepulcro aberto;
com as suas línguas tratam enganosamente; peçonha de áspides está debaixo
dos seus lábios; a sua boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés
são ligeiros para derramar sangue. Nos seus caminhos há destruição e miséria;
e não conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante dos seus
olhos.”

A natureza humana está tão corrompida que não tem nem o querer nem
o poder retornar ao seu Criador. Aqui eu posso trazer uma comparação:
imagine que alguém se aproxime de uma mulher com um bebê em seu colo,
lhe dê uma faca e a ordene que apunhale o seu filho. Certamente ela irá
declarar com muita veemência que não o pode fazer. Veja que apesar de ela
possuir condições físicas para cometer o ato, apesar de passar em sua cabeça
a possibilidade de fazê-lo, mentalizando as implicações que isso teria, ela não
pode cometer tal ação. A sua natureza de mãe não lhe permite fazer algo
contra o qual toda a sua alma se revolta. Simplesmente por ela ser mãe, essa
ação é algo tão odioso para ela que simplesmente não o pode fazer. Da
mesma maneira, a Escritura afirma, ocorre com o pecador: o vir a Deus e a
Jesus Cristo é algo tão odioso para a sua natureza que ele simplesmente não
pode e, na verdade, não o quer fazer. De fato, ninguém pode vir a Cristo e
depositar sua fé nele se Deus não o levar até ele (João 6.44). Isso reafirma o
já mencionado fato de que o homem precisa que Deus transforme o seu ser
para que possa enxergar o seu Soberano Criador.
Vamos observar mais alguns textos. João 5.40: “vocês não querem vir a
mim para terem a vida eterna”. Jesus, nesta ocasião de seu ministério, está
falando para os judeus que apesar de todas as evidências de que Ele é o
Salvador, mesmo assim não querem ir até ele para obterem vida. Veja agora
Romanos 8.7-8: “porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus,
pois não é sujeita à Lei de Deus, nem em verdade o pode ser”. Aqui o apóstolo
Paulo nos fala que o que é natural para o homem, o que é seu desejo
verdadeiro, é inimizade contra Deus e, de fato, nunca poderá agradar a Deus.
Olhe agora 1Coríntios 2.14: “ora, o homem natural não aceita as coisas do
Espírito de Deus, porque para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque
elas se discernem espiritualmente.”. Esse texto mostra que há no homem não

23
Um Tratado Sobre o Evangelho

somente a indisposição para ser salvo, mas também a impotência espiritual


para isso.
Vimos até aqui que a vontade natural do homem é sempre e totalmente
contrária à vontade de Deus. Com isso, eu trago mais uma passagem da
Escritura que fechará bem essa questão, Filipenses 2.13: “porque Deus é
quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa
vontade.”. Ou seja, se Deus não efetuar em nós tamanha obra de modo a nos
atrair, colocar em nós o querer o Cristo e poder vir a Cristo, nada há que
possamos fazer. “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem
de vós; é dom de Deus.” (Efésios 2.8-9). A salvação não depende de nós, ela
toda pertence a Deus, não depende de nossas ações. Nós não somos salvos
da ira de Deus por causa de nossas obras, mas por causa das obras que Cristo
realizou em nosso favor, a qual é imputada a nós por meio da fé que Deus nos
concede nesta Verdade.
As obras de Jesus Cristo, o Filho de Deus, são creditadas a nós quando
depositamos nossa fé nesta Verdade: “Cristo morreu, uma única vez, pelos
pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus”(1Pedro 3.18). Jesus
Cristo de Nazaré, nascido da virgem Maria, “foi entregue à morte pelos nossos
pecados e foi ressuscitado para nos tornar justos” perante o Santo Deus
(Romanos 4.25). Olhe só mais um texto: “assim, pois, não depende de quem
quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia” (Romanos
9.16). Aqui Paulo está nos mostrando que a salvação não depende de nossas
ações, mas de Deus usar sua misericórdia e revelar o seu Filho a nós. Essa é a
maravilha do evangelho, essa é a graça (favor imerecido) de Deus. “Nisto
consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele
nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados”
(1João 4.10). E não foi um amor com base num afeto que ele teve por nós,
devido à alguma característica nossa, mas com base exclusiva em sua livre
escolha de nos amar e nos salvar, segundo o seu propósito soberano.
Propiciação significa dizer que o sacrifício de Cristo, providenciado pelo próprio
Deus, tornou Deus favorável a nós.
Após discorrer sobre toda essa ação soberana de Deus salvando
pecadores, Paulo pôde declarar “Ó profundidade da riqueza, tanto da
sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus

24
Um Tratado Sobre o Evangelho

juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos” (Romanos 11.33). As ações


do nosso Soberano e Santo Deus salvando pecadores e o seu propósito com
tudo isso é simplesmente maravilhoso e profundo demais para que possamos
entender. Mas jamais podemos deixar a nossa incapacidade de compreender a
mente de Deus nos afastar dessa maravilhosa verdade bíblica: a salvação não
depende em nada do homem, mas toda do próprio Deus. A confissão universal
de todo verdadeiro crente é “eu sei que se Jesus não tivesse ido me buscar eu
ainda estaria perdido, aguardando a chegada dos tormentos eternos”.
Falando agora aos que já desfrutam de uma conversão genuína,
pergunto: nunca oraram pedindo a Deus “ajuda-me na minha incredulidade”?
ou “Ajuda-me a matar esse pecado”? ou “ajuda-me, Senhor, pois não sei como
orar”? Vocês, verdadeiros cristão, nunca desejaram servir perfeitamente a
Deus e ainda assim tem falhado? Todos nós conhecemos as palavras de Paulo
quando diz que por vezes faz justamente o que odeia (Romanos 7.14-25).
Mesmo nós, convertidos, em comunhão com o Cristo, passamos por
dificuldades em nossa devoção a Deus. Agora pense comigo: se até o cristão
mais maduro na fé, depois de 30 ou 40 anos de caminhada com o Senhor,
pode se encontrar com desejos contrários a Deus, e necessita constantemente
do tratamento de Deus, imagine a situação de um pobre pecador que ainda
não creu e não recebeu de Deus o querer e nem o realizar? É simplesmente
impossível que o tal venha a Deus. A Palavra diz que o homem em seu estado
sem Cristo se encontra morto em seus delitos e pecados (Efésios 2.1).
Certamente alguém morte, um cadáver, é totalmente indisposto quanto incapaz
de realizar qualquer ação, a não ser que seja primeiramente vivificado pelo
Espírito do Senhor (o homem sem Deus é descrito pelas Escrituras como um
“morto espiritualmente”). Daí o homem precisar do “novo nascimento” (João
3.7).

Todo homem se encontra na posição de inimigo de Deus, até que seja


reconciliado com Deus por meio Cristo. A “amizade do mundo [conjunto de
ideais morais contrários a Deus] é inimiga de Deus” (Tiago 4.4). Uma
ilustração: um cachorro bravo morde você, você se aproxima novamente para
fazer carinho, e novamente ele te morte. É essa a relação que Bíblia mostra
que há entre o homem e Deus. Sem que o homem tenha os seus valores

25
Um Tratado Sobre o Evangelho

transformados, ele sempre irá rejeitar e abominar a aproximação de Deus. Com


isso, o único fim que aguarda o cachorro bravo (o homem não regenerado peso
Espírito Santo) é a morte, na verdade, um sofrimento eterno, uma vez que a
nossa natureza é eterna. Deus se ira e condena todos os que são rebeldes à
sua Lei e contrários à sua santa presença. A ira de Deus é uma simples reação
da sua santidade (como vimos anteriormente), de fato, a sua repulsão do mal.
O mal consiste de tudo que é contrário a sua santa Lei, a qual encontramos
descrita por toda a Sagra Escritura. Por isso precisamos buscar sempre
crescer no conhecimento Bíblico, para que possamos conhecer de forma cada
vez mais completa qual é a vontade de Deus para a nossa vida e conduta.
Olha agora para o texto de Efésios 2.3: “entre os quais [não
regenerados] também todos nós [cristãos] andamos outrora, segundo as
inclinações da nossa carne [natureza pecaminosa], fazendo a vontade da carne
e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os
demais.”. Aqui é relatada a situação de uma pessoa que não teve a revelação
do Filho de Deus, que não recebeu a maravilhosa ação do Espírito Santo. Todo
homem possui uma condição natural de “filho da ira”, uma figura de linguagem
para se referir àqueles que receberão sobre si a ira de Deus. Em Mateus 18.9,
Jesus mostra o destino dos que “tropeçam”, ou seja, pecam contra Deus: o
inferno de fogo. Em Mateus 25.30, Jesus diz que o “servo mau”, figurando os
inimigos de Deus, será lançado nas trevas, onde haverá choro e ranger de
dentes. É um lugar de sofrimento eterno (Marcos 9.48). Essa é a verdade mais
terrível de toda a Bíblia. Muitos a veem como algo tão distante que não
conseguem enxergar que a todo o momento Deus tem levado pessoas para
esse lugar de sofrimento terrível. Muitos hoje caminham sobre uma corda em
meio a um abismo, podendo perder o equilíbrio facilmente e despencar. É triste
saber que existem pessoas que estão hoje entre nós mas que amanhã, ou
semana que vem, ou ano que vem, estarão ardendo no fogo do inferno. Essa
condenação que vimos aqui é a simples retribuição por nossas ações
contrárias ao Santo. Uma inimizade constante contra o Deus eterno acarretará
uma condenação constante e eterna. O Senhor declara em Deuteronômio
32.35: “A mim me pertence a vingança, a retribuição, a seu tempo, quando
resvalar o seu pé; porque o dia da sua calamidade está próximo, e o seu
destino se apressa em chegar.”. Esse texto mostra que, apesar de muitos

26
Um Tratado Sobre o Evangelho

estarem confiantes com suas vidas, apesar de ignorarem essa verdade Bíblica,
um dia o seus pés resvalarão e eles despencarão no dia da vingança do
Senhor. O dia da calamidade, da aflição está próximo. A morte é apenas a
porta que separa esta vida daquela que está por vir: vida e paz eternas, ou
sofrimento e tormentos eternos. Por favor, você que ainda não encontrou o
Salvador, não veja isso como algo distante, isso pode acontecer antes mesmo
de você terminar a leitura desse texto. Não hesite em clamar a Deus o quanto
antes por misericórdia, pedindo que Ele abra os seus olhos e te dê fé no
Senhor e Salvador Jesus Cristo!
“Quando andarem dizendo: Paz e segurança, eis que lhes sobrevirá
repentina destruição, como vem as dores de parto à que está para dar à luz; e
de nenhum modo escaparão.” (1Tessalonicenses 5.3). Quando a Bíblia fala
sobre pecado, ela o coloca como proveniente da falta de conhecimento de
Deus, de modo que o homem passa a viver para si próprio e de acordo com os
seus valores, os quais estão sempre a sofrer modificações no decorrer da
história. Pecado é a perversão ou corrupção do caráter do homem, que antes
era à imagem e semelhança de Deus. A corrupção do coração do homem foi
adquirida na ocasião da primeira rebelião contra Deus (o episódio do Éden), de
modo que desde aquele momento a raça humana adquiriu aversão ao seu
Criador.
Hoje muito se fala sobre justiça, porém não existe um parâmetro
absoluto para se medir o nível de justiça. O parâmetro correto seria o conjunto
de leis de um país? Mas cada país possui as suas próprias leis. Alguns
executam pena de morte, já outros rejeitam ferrenhamente. Qual o padrão
universal? Muitos declaram a uma só voz: não há! Porém as Escrituras dizem
que “há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem
existimos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas”
(1Coríntios 8.6). Jesus Cristo é “o Senhor dos senhores e o Rei dos Reis”
(Apocalipse 17.14). “Reina o Senhor”, foi Ele quem “Firmou o mundo” (Salmo
93.1). Dessa forma, o único parâmetro absoluto possível é a lei do próprio
Criador, Lei esta que surge de seu próprio caráter. Sem que a Lei do Senhor
seja a sua regra de fé e conduta, o homem permanecerá caminhando
provocando a ira de Deus. Permanecerá caminhando em rebeldia contra o Pai.
Sem a intervenção Divina, transformando o coração e a mente do homem, este

27
Um Tratado Sobre o Evangelho

é o estado natural em que todos se encontram e permanecerão. Dessa forma,


após a nossa morte física, que marca o final da oportunidade de se aproximar
do Senhor, apenas nos restaria uma coisa: punição, a justa retribuição. É
nesse contexto que a Bíblia fala sobre o Lago de Fogo, o lugar preparado para
a punição do Diabo e seus demônios (Leia Mateus 25.41 e Marcos 9.47-48).
Todos naturalmente estão destinados a esse mesmo local de punição, uma vez
que, assim como Satanás, agem em rebelião contra Deus. De fato a Bíblia nos
mostra que os homens estão em constante revolta e agressividade contra
Deus, se portando como inimigos de Deus (Tiago 4.4; Romanos 5.10). E o
grande problema aqui é que Deus se tornou inimigo dos homens (Romanos
1.18). O Senhor virá sobre os seus inimigos “em chama de fogo, tomando
vingança contra os que não conhecem a Deus e contra os que não obedecem
ao evangelho de nosso Senhor Jesus. Estes sofrerão penalidade de eterna
destruição, banidos da face do Senhor e da glória do seu poder”
(2Tessalonicenses 1.8-9). Quando a Bíblia fala sobre a inimizade e hostilidade
humana para com Deus ela está falando dos dois lados. A barreira entre o
homem e Deus é retratada tanto por nossa rebeldia a ele quanto por sua ira
sobre nós. Emil Brunner expressou-se com precisão sobre esse assunto: A
reconciliação pressupõe inimizade entre dois partidos. Dizendo-o mais
acuradamente: a reconciliação, a reconciliação genuína, um ato objetivo de
reconciliação, pressupõe inimizade de ambos os lados; isto é, que o homem é
o inimigo de Deus e que Deus é o inimigo do homem. Brunner prossegue
explicando que a nossa inimizade para com Deus é vista em nossa
inquietação, que vai da frivolidade à renúncia aberta e ao ódio de Deus, ao
passo que a inimizade dele para conosco é a sua ira. Além do mais, uma
rejeição constante e eterna a Deus traz como consequência uma condenação
constante e eterna sobre o homem.
Não há conhecimento de Deus da parte do homem sem que o
evangelho o atinja, e sem conhecimento todo homem vai permanecer
caminhando sem Deus e vai seguir por esse caminho para todo o sempre.
Todo homem é filho da ira, está condenado a receber sobre si a ira de Deus, a
não ser que creia verdadeiramente que Jesus é o Cristo, o único caminho para
a salvação da punição de Deus sobre o pecado. Esperança de salvação só há
em Cristo Jesus. Mas por quê encontramos salvação somente em Jesus?

28
Um Tratado Sobre o Evangelho

A Bíblia é bastante clara quando nos fala que, mesmo o homem se


encontrando na situação descrita, Deus ainda está separando um povo para si
mesmo, ele ainda deseja levar pessoas para desfrutar de uma vida com ele por
toda a eternidade futura, assim como era no início. Deus está a restaurar a sua
imagem em muitos homens. Mas como que um Deus perfeitamente Santo, que
possui grande inimizade contra o pecador, que de fato condena o pecador, iria
simplesmente leva-lo para viver novamente com ele? O que a Bíblia mostra é
que não há nada que nós possamos fazer para evitar a condenação. É por isso
que a única esperança de salvação da ira e condenação de Deus está em
Cristo, o qual é anunciado por meio do evangelho. O evangelho é justamente a
resposta a esse questionamento. O evangelho é o anúncio da ação do Santo
Deus salvando pecadores perdidos, e isto por meio de Jesus Cristo. Vejamos
1Pedro 3.18: “Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o
justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus”. Jesus morreu pelos nossos
pecados para poder nos conduzir a Deus. Como eu muito já comentei, o
pecado é o que sempre causou e vai causar a separação entre o homem e
Deus.
A morte de Jesus fez, para aqueles que têm fé nele, a quebra dessa
barreira, de modo que todos os que creem no seu poder salvador não serão
mais condenados, pois ele irá conduzir esses pecadores a Deus. Jesus foi
enviado por Deus para ser sacrificado, receber a punição, em nosso lugar. Ao
invés de nós recebermos a devida punição por nossos pecados, Cristo o fez.
Ao contrário daquilo que muitos pensam, Deus não inocenta o culpado, o seu
erro é retribuído com a devida punição. Porém, no caso daqueles que tem fé
em Jesus, fé na sua obra salvadora, estes não mais receberão a punição sobre
si, pois Deus a aplicou completamente sobre Cristo. Jesus teve uma vida
perfeita, cumprindo todos os preceitos da Lei de Deus, em nada pecando. O
único homem inculpável, sem qualquer pecado, carregou o pecado de muitos.
A sua pureza e perfeição foi justamente o que o qualificou para sofrer uma
morte substitutiva, em prol dos filhos de Deus. De fato, Jesus é o próprio Deus
encarnado, em forma humana (Filipenses 2.5-11 e Colossenses 1.19). Jesus
é o Deus-homem. Ambas as naturezas, Divina e Humana, residem em seu ser.
Apenas um mediador Deus-Homem poderia reconciliar Deus com o homem.

29
Um Tratado Sobre o Evangelho

Ele é verdadeiramente Deus (veja João 5.17-18, João 20.28 e Tito 2.13) e
verdadeiramente homem (veja 1João 4.2, Filipenses 2.5-8 e 1Timóteo 2.5-6).
O grande problema se encontra na relação entre Deus e o homem,
sendo Jesus o único mediador desse conflito cósmico, trazendo a reconciliação
entre ambos (2Coríntios 5.18). A morte de Cristo foi providenciada por Deus
para nos livrar da condenação eterna, declarando-nos não culpados. Isto é, o
fato de termos fé em Cristo consiste em Deus atribuir a Ele, Jesus, os nossos
pecados, no qual eles recebem a devida punição. A cruz de Cristo foi a
manifestação tanto da justiça quanto do amor de Deus. A cruz manifestou a
sua justiça, pois ali vemos o pecado de seu povo sendo punido. Manifestou o
seu amor, pois ele mesmo se fez maldito em nosso lugar, recebendo a punição
por nossos pecados, para que nós fôssemos salvos de tal condenação
(Gálatas 3.13). O que recebe a benção divina de ter fé no Senhor Jesus Cristo
tem os seus pecados atribuídos a Jesus, e a Justiça dEle atribuída a si. Isto é,
para aqueles que creem verdadeiramente que Ele é o único mediador entre
Deus e o homem e que tem o poder para salvar pecadores. E esta fé resulta
numa vida moldada por essa convicção.
A cruz de Cristo nos justificou (Gálatas 2.16). O teólogo Emil Brunner
expressou-se muito claramente quanto ao significado da justificação que temos
em Cristo: “A justificação significa este milagre: que Cristo toma o nossa lugar e
nós tomamos o seu”. Justificação é o ato de Deus de nos tornar justos, e isso
numa linguagem judicial. Significa perdoado, aceito, certo com Deus. Ser
tornado justo, pela justificação de Cristo, não significa que adquirimos de
imediato um caráter justo e uma conduta perfeitamente correta diante de Deus,
mas que fomos declarados “não culpados”. Mas essa declaração de Deus a
nosso respeito dá início a um processo de transformação, chamado de
santificação (2Tessalonicenses 2.13 e 1Tessalonicenses 4.3). Uma
verdadeira conversão é sempre acompanhada de uma mudança de
mentalidade (Romanos 12.2). Acompanhada de uma nova vida (João,
capítulo 3). Essa nova vida estará cada vez mais em conformidade com a
vontade de Deus, que se encontra revelada nas Sagradas Escrituras. Creio
que vale citar aqui as mais belas demonstrações de reconhecimento dessa
maravilhosa dádiva de Deus aos homens, a justificação:

30
Um Tratado Sobre o Evangelho

“A obra do Filho por nós é a justificação. Justificação é um ato de justiça de


Deus, é o seu modo justo de justificar o injusto. Justificação é a obra graciosa
de Deus de conceder aos pecadores culpados uma justificação justificada,
inocentando-os no tribunal do céu sem prejuízo à sua justiça como o juiz deles”
(J.I. Packer).

“Não precisamos de nenhum conhecimento a não ser este: que o homem


pecou e Deus sofreu; que Deus se fez a si mesmo o pecado dos homens, e
que os homens são feitos a justiça de Deus.” (Richard Hooker)

“Ó doce troca! Ó operação inescrutável! Ó benefícios que ultrapassam todas as


expectativas! Que a impiedade de muitos fosse oculta em apenas Um Justo, e
que a justiça de Um justificasse a muitos transgressores.” (Epístola a
Diognetos)

“Aprenda a conhecer a Cristo, e ele crucificado. Aprenda a cantar a ele e dizer:


„Senhor Jesus, tu és a minha justiça, e eu o teu pecado. Levaste sobre ti o que
era meu; mas depuseste sobre mim o que era teu. Tu te tornaste o que não
eras, para que eu pudesse me tornar o que eu não era‟”. (Martinho Lutero)

A ira de Deus foi satisfeita, a condenação do mal foi realizada. A isso, a


bíblia denomina propiciação. Jesus foi a propiciação pelos nossos pecados
(Romanos 3.23-25). O sacrifício de Cristo desviou de sobre nós a ira de Deus
levando-a para sobre si. Propiciar significa apaziguar ou acalmar, por meio de
uma satisfação. Deus se irou contra o mal do homem, e o resultado da ira é a
punição desse mal. Uma vez que Cristo Jesus a recebeu sobre si, propiciou a
ira de Deus. Assim, não mais recairá sobre nós, os que temos fé no Senhor e
Salvador Jesus Cristo. Porém, àqueles que não depositarem a sua fé no
Salvador, ainda hão de receber a sua devida punição. Para estes, não houve
propiciação da ira de Deus. Já para os que estão em Cristo Jesus, não há mais
nenhuma condenação (Romanos 8.1). Ainda, Jesus é a nossa redenção (veja
Colossenses 1.13-14). Redenção significa, literalmente, “comprar, ou comprar
de volta, por meio de um pagamento custoso”. Jesus pagou o preço,

31
Um Tratado Sobre o Evangelho

entregando a si mesmo, para nos resgatar de toda a impiedade, trazendo-nos o


perdão de nossos pecados. Os que estão em Cristo não mais são escravos do
pecado, agora podem dizer não aos desejos que são contrários a Deus
(1Coríntios 10.13). Jesus morreu para pagar pelos nossos pecados, mas
ressuscitou para demonstração do seu poder sobre a morte e de seu poder
salvador (1Coríntios 15.3-5). Jesus morreu, a nossa morte, mas ressuscitou
para nos dar vida. A ressurreição de Cristo foi a prova de que a sua morte foi
eficaz; a ressurreição, de fato, mostra o poder dEle sobre a morte, podendo
nos livrar dela. Veja a Sua declaração a João em Apocalipse 1.18: eu sou
“aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos
séculos e tenho as chaves da morte e do inferno.”. Quem está em Cristo,
“ainda que morra, viverá” (João 11.25).
A ressurreição de Cristo é um fato histórico facilmente verificado. Todos
os discípulos de Jesus se encontravam entristecidos e desanimados no
período que se seguiu após a morte de seu Senhor. Porém, ao verem o Cristo
ressurreto, se tornaram grandes pregadores da mensagem do seu Senhor.
Todos eles morreram martirizados (segundo dados históricos, não bíblicos) por
pregarem a ressurreição de Jesus. E não foram poucas as pessoas que viram
Jesus após a sua morte: ele apareceu a todos os seus discípulos (1Coríntios
15.5), e apareceu, numa outra situação, diante de mais de 500 pessoas
(1Coríntios 15.6). Neste versículo, o autor afirma que, neste tempo que ele
escreveu esta carta, muitos dos que haviam visto Jesus ressurreto ainda
estavam vivos. E é esse o grande “bum” inicial para o crescimento da igreja
nos seus primórdios, pois havia muitas pessoas que podiam confirmar a
mensagem dos discípulos de Jesus. Fatos históricos apontam para essa
verdade bíblica. O corpo de Jesus nunca foi encontrado. Todos os outros
personagens bíblicos estão em seus túmulos até os dias de hoje (Alguns, em
Jerusalém, inclusive se tornaram pontos turísticos). Porém o local onde Jesus
fora enterrado está hoje identificado, em Jerusalém, com as seguintes
palavras: “HE IS NOT HERE – FOR HE IS RISEN”, ou seja, “Ele não está aqui,
pois ressuscitou”.
A maior incógnita que desperta a curiosidade de muitos historiadores
devotos chama-se Saulo de Tarso. Este homem, tanto a bíblia quanto registros
históricos afirmam, era um dos judeus mais devotos de sua época a sua

32
Um Tratado Sobre o Evangelho

religião. Saulo era o pior inimigo da igreja, pois esta era vista como uma
religião blasfema pelos judeus. Saulo chegou a matar vários cristãos. Porém,
de repente, este homem se converte ao cristianismo e torna-se o seu maior
representante. Cerca de metade dos escritos que compõe o Novo Testamento
é de sua autoria. Os historiadores nunca conseguiram explicar o motivo de uma
mudança de mentalidade tão drástica e repentina. Nós, porém, temos a
resposta no texto Bíblico de Atos 9.1-8. Saulo viu o Jesus ressuscitado,
comprovando, assim, que Jesus de fato era Senhor, conforme a mensagem
dos discípulos. A reposta a esta visão foi imediata: “preciso me submeter ao
Cristo enviado por Deus e proclamá-lo”. Saulo, posteriormente chamado de
Paulo, também pagou com a sua vida o preço por anunciar a ressurreição de
Jesus: foi decapitado em Roma, por volta de 60 d.C., durante o reinado do
imperador Nero.
As Escrituras registram historicamente a vida, ministério, morte e
ressurreição de Jesus. Não é um conjunto de afirmações religiosas infundadas
de modo a promover a religião cristã. Isso é inclusive verificado pela prova de
evidência interna, do método científico aplicado ao estudo de registros
históricos. Por exemplo, se os registros Bíblicos tivessem sido escritos de
modo a promover a religião de Cristo, jamais haveriam colocado uma mulher
como a primeira pessoa a ver e anunciar o Cristo ressurreto. O testemunho de
uma mulher no primeiro século não era válido. Ainda, se o objetivo fosse fazer
um marketing, jamais haveriam registrado os erros e problemas dos autores,
como de fato se encontra na Bíblia (Pedro e Paulo, por exemplo).
Portanto, creiamos no evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, que
possui todo o poder de nos libertar do pecado e de sua condenação. Ele é a
nossa única esperança. Ele é o único caminho para nos achegarmos a Deus
(João 14.6). A fé, a convicção verdadeira de que Jesus é o Filho de Deus, no
qual residiu toda a plenitude da Divindade (Colossenses 2.9), convicção esta
que deve moldar o seu modo de pensar e viver; buscando ser um imitador de
Cristo e submisso aos seus mandamentos; essa fé é a forma de nosso Santo
Deus salvar pecadores. Não somos salvos por boas obras (Efésios 2.8-9), mas
pela fé na obra de Jesus Cristo. E não existe fé em Cristo, sem submissão ao
Cristo. Não existe fé, quando não há mudança de mentalidade. A fé, a fé
genuína, produz essas maravilhas em nossa vida.

33
Um Tratado Sobre o Evangelho

5 PARA REFLETIR

Nesta última seção, gostaria de levantar alguns questionamentos com


vistas a demonstrar tamanha incoerência e grande falta de avaliação crítica da
parte daqueles que insistem em negar a veracidade e autoridade das Sagradas
Escrituras e a Divindade do Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus.
Com relação às Sagradas Escrituras, não me delongarei em palavras,
pois já tratei desse assunto no tópico A Revelação Especial, a partir da página
10. Mostrei para o leitor que existem técnicas científicas para o tratamento com
documentos antigos. Tais técnicas visam verificar a autenticidade e veracidade
dos escritos. Como demonstrei, não exaustivamente, mas em poucas palavras
(não é o objetivo desse tratado ser uma apologética Bíblica), a Bíblia vem a ser
o livro, ou conjunto de livros, que mais aprovação possui. De fato, muitos
historiadores chegaram a concluir que se a Bíblia não puder ser considerada
um documento confiável, nenhuma literatura clássica conhecida o poderá.
O que desejo argumentar sobre as Escrituras é o fato de achar curioso o
fato de muitas religiões as usarem em suas liturgias. Mesmo que a Bíblia
condene a prática de tal religião (pois ela condena qualquer que não seja a
cristã), esta insiste em utilizá-la. Essas pessoas aleatória e deliberadamente
escolhem passagens Bíblicas que se “encaixem” no seu culto. Determinam
quais textos contém verdades e quais não contém. Qual é o critério? Ao que
parece, simplesmente procuram nas Escrituras algo relacionado àquilo que já
creem de antemão. Como podem se utilizar de um documento que consideram
ser inverdades algumas passagens? Ora, se numa parte há falta de verdade,
quem garante que na passagem escolhida para o culto a verdade esteja
presente? Ou, se alguma parte do documento possui erro, (seja histórico,
científico, moral ou qualquer que seja) quem garante que a passagem
selecionada não possui? Percebe a falta de coerência e de fundamentação que
aprove tal prática? Ou a Escritura Sagrada é considerada verdadeira, autêntica,
infalível e inerrante, ou deverá ser completamente rejeitada. Deus nos deu Sua
Palavra para ser nossa regra absoluta de fé e vida, e nos proporciona diversos
meios racionais para verificarmos sua confiabilidade. Não possuímos um
padrão de verdade se não crermos que a Palavra de Deus o é. Assim, sem um
padrão absoluto, quem garante que estaremos fazendo a seleção de um texto

34
Um Tratado Sobre o Evangelho

da Bíblia que contenha de fato a verdade, uma vez que nos baseamos
simplesmente e totalmente em nossas próprias convicções pessoais? Perceba
que os argumentos que se seguirão, relacionados a Pessoa de Jesus, são
também aplicados para essa questão da utilização das Escrituras.
Com relação a Pessoa de Jesus Cristo, o famoso Homem de Nazaré,
muitos se dão por satisfeitos em afirmar ser ele simplesmente um bom ou
grande Mestre ou um Profeta de Deus, ou um homem de energia superior aos
demais. Com isso, insistem em negar ser o Cristo o próprio Deus, negando
também a sua ressurreição corpórea dos mortos. Bom, avaliemos os fatos.
Segundo as Escrituras e outros documentos antigos (por exemplo, os
escritos de Eusébio de Cesaréia e do governador romano Plínio, o Jovem, que
perseguira os cristãos), Jesus dizia ser Deus e, para ele, era de total
importância que seus seguidores cressem que ele realmente era quem dizia
ser. Ele não deixou espaço para que nos esquivássemos da questão: ou
cremos nele, ou não cremos. Como bem disse C. S. Lewis: Afirmar ser Jesus
apenas um grande Mestre moral “é algo que simplesmente não podemos dizer.
Um homem que fosse apenas homem e dissesse a espécie de coisa que Jesus
disse não seria um grande mestre moral. Ele seria lunático (...) ou então, seria
o próprio diabo do inferno. Você tem de fazer uma escolha. Este homem era, e
é, o Filho de Deus, ou então era louco ou algo ainda pior”. Não há meio termo.
F. J. A. Horte, que passou vinte e oito anos fazendo um estudo crítico do texto
do Novo Testamento, escreve: “As palavras de Cristo foram de tal forma parte
e expressão dele mesmo que não possuem significado se tomadas apenas
como declarações abstratas da verdade, ditas por ele na condição de oráculo
divino ou profeta. Se ele for excluído (sua identidade divina) do assunto
principal de cada uma de suas declarações, todas elas desmoronarão”.
Dessa maneira, levanto os seguintes argumentos: Se, ao afirmar sua
Divindade, Jesus soubesse que de fato não era Deus, ele seria um mentiroso
que enganava propositadamente. E, se era mentiroso, era também hipócrita,
uma vez que ensinava que a sinceridade e a verdade deveriam ser seguidas.
Ele disse que deveríamos confiar a Ele o nosso destino eterno, já pensou na
perversidade dessas palavras se Ele fosse um mentiroso? E digo mais, ainda
por cima seria um tolo, pois foram suas declarações de que era Deus que
justamente o levaram para a cruz (ele poderia as ter desmentido na última hora

35
Um Tratado Sobre o Evangelho

para se salvar!). Pergunto como ele poderia ser um mestre bom e moral se
enganasse propositadamente as pessoas na questão mais importante de seu
ensino – sua própria identidade?
Porém, “como poderia ele [Jesus] ser um entusiasta ou um louco se
jamais perdeu o equilíbrio da mente, que pairou serenamente sobre todos os
problemas e perseguições como o sol acima das nuvens, se sempre dava a
resposta mais sábia às perguntas tentadoras, se calma e deliberadamente
predisse sua morte sobre a cruz, sua ressurreição no terceiro dia, o derramar
do Espírito Santo, a fundação de sua Igreja, a destruição de Jerusalém –
predições que foram cumpridas literalmente? Um caráter, uma personalidade
tão completa, tão uniformemente coerente e perfeita, tão humana, no entanto,
tão acima de toda grandeza humana, não poderia ser fraude nem ficção. Como
disse bem o poeta, neste caso seria maior do que o herói. Seria necessário
mais que um Jesus para inventar um Jesus.” (Philip Schaff). Em outra ocasião
Schaff diz: “Como, em nome da lógica, do bom senso e da experiência, poderia
um impostor – ou seja, um homem enganador, egoísta, depravado – ter
inventado e mantido consistentemente, do começo ao fim, o caráter mais puro
e nobre conhecido na história, com o mais perfeito ar da verdade e realidade?
Como poderia ter ele concebido e desempenhado um plano de beneficência
sem paralelos, magnitude moral e sublimidade, sacrificando a sua própria vida
por isso, em face dos mais fortes preconceitos do seu povo e de sua espécie?”.
Mentiroso? Acredito que não.
Se você considera inconcebível que Jesus fosse um mentiroso,
acreditando que ele apenas estava errado em acreditar ser Deus, posso citar
outra saída para conciliá-lo com suas declarações: ele era um lunático. Josh
McDowel, em seu livro Mais que um Carpinteiro, declara: “devemos lembrar
que, para alguém achar enganosamente que é Deus, especialmente no
contexto de uma cultura fortemente monoteísta, e dizer às pessoas que o
destino eterno dependia de crerem nele (como sendo Deus), isso não se
trataria de um pequeno desvio delas de imaginação, mas das ilusões e dos
desvarios de um completo lunático.”. De fato, como trataríamos alguém nos
dias de hoje que aparecesse afirmando ser o próprio Deus?
Porém, na verdade, sabemos que jamais poderíamos atribuir tal adjetivo
a Cristo. Em Jesus, não se observa qualquer anormalidade ou desequilíbrio.

36
Um Tratado Sobre o Evangelho

Não há meios de se chegar a conclusão de que ele fosse mentalmente


perturbado. Pelo contrário, Jesus foi o homem que disse algumas das palavras
mais profundas já documentadas; e suas instruções têm libertado muitas
pessoas de prisões mentais em toda a história pós Cristo.
Assim tratou a questão Clark H. Pinnock: “Seria Jesus um iludido quanto
à própria grandeza, um paranoico, um enganador involuntário, um
esquizofrênico? A habilidade e a profundidade de seu ensino somente apoiam
a proposta de total sanidade. Quem dera fôssemos sãos como ele!”. O
psicólogo Gary Collins explica: “Jesus era amoroso, mas não permitia que sua
compaixão o imobilizasse; não possuía um ego inflamado, mesmo que muitas
vezes estivesse cercado de multidões que o adoravam; mantinha o equilíbrio,
apesar de ter um estilo de vida extremamente exigente; sempre sabia o que
estava fazendo e para onde ia; importava-se profundamente com as pessoas,
incluindo mulheres e crianças, que naquele tempo não eram vistas como
importantes; era capaz de aceitar as pessoas mesmo conhecendo seus
pecados; respondia aos indivíduos de acordo com a situação na qual eles se
encontravam e aquilo de que necessitavam. Em suma, não vejo sinal algum de
que Jesus sofresse de alguma doença mental conhecida... ele era muito mais
saudável do que qualquer outra pessoa que eu conheça, incluindo eu mesmo!”.
O psiquiatra J. T. Fisher sentia a profundidade dos ensinos de Jesus: “Se
pudéssemos somar todos os artigos relevantes escritos pelos mais eminentes
psicólogos e psiquiatras sobre o assunto de saúde mental – e, se pudéssemos
combinar, resumir e eliminar todo o palavreado excessivo – se pegássemos
toda a carne e eliminássemos a salsinha, ficando apenas com pedaços de puro
conhecimento científico, não adulterados, expressos concisamente pelo mais
capaz entre os poetas vivos, restaria apenas um resumo desajeitado e
incompleto do Sermão do Monte, e que sofreria muito na comparação. Há
quase dois mil anos o mundo cristão tem em mãos a resposta completa aos
seus anseios inquietos e infrutíferos. Aqui... está o projeto para a vida humana
bem sucedida, com otimismo, saúde mental e contentamento.”. Lunático?
Acredito que não.
Se você não considerar alguma das duas opções anteriores, mentiroso
ou lunático, como sendo apropriada para descrever a Pessoa de Jesus Cristo,
não há, portanto, nenhuma outra opção senão que ele era, e é, de fato, o

37
Um Tratado Sobre o Evangelho

Cristo, o Filho de Deus, o próprio Deus encarnado, conforme ele mesmo dizia.
Quando questionado a respeito do Messias, Jesus respondeu: “Eu o sou, eu
que falo contigo.” (João 4.26); afirmou “Eu e o Pai somos um” (João 10.30), o
que levou os judeus a pegarem em pedras para apedrejá-lo, pois, assim, ele
fazia-se igual a Deus; Ele disse “se não crerdes que EU SOU, morrereis nos
vossos pecados” (João 8.24), sendo que EU SOU, como comentei no início
deste tratado, refere-se ao nome do próprio Deus; quando Tomé, um dos
discípulos, encontrou com Jesus após sua ressurreição, declarou “Senhor meu
e Deus meu!” (João 20.28); o apóstolo Paulo nos ensina a permanecer firmes
na fé “aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso
grande Deus e Salvador Cristo Jesus, o qual a si mesmo se deu por nós, a fim
de remir-nos de toda iniquidade e purificar, para si mesmo, um povo
exclusivamente seu, zeloso de boas obras.” (Tito 2.13-14). Quando atribuía a
si mesmo a designação de Filho de Deus, Jesus estava afirmando
essencialmente isso: assim como o Pai é Deus, eu também sou Deus. Enfim,
são muitas as afirmações Bíblicas a respeito da Divindade do Senhor Jesus
Cristo.
O fato histórico indiscutível é: Jesus de Nazaré, profeta judeu que dizia
ser o Cristo profetizado pelas Escrituras judaicas, foi preso, julgado como
criminoso político e crucificado. Três dias após sua morte e seu sepultamento,
algumas mulheres foram ao túmulo e o encontraram vazio. Os discípulos de
Cristo disseram que Deus o havia ressuscitado da morte e que Jesus lhes
aparecera muitas vezes, durante 40 dias, antes de ascender ao céu, inclusive,
numa ocasião, para mais de 500 pessoas. Quanto a essas afirmações, não há
o que se discutir. O que muitos persistem em colocar em xeque é a veracidade
da ressurreição. Do meu ponto de vista, o argumento máximo para tal fato
consiste no túmulo vazio. Até os dias de hoje é bem sabido em qual túmulo
havia Jesus sido sepultado, mas que desde aquele terceiro dia permanece
vazio. E, como se tornou um ponto turístico, possui uma placa dizendo “Ele não
está aqui, pois ressuscitou”. Com base em inquestionáveis evidências
históricas, os cristãos creem que Jesus ressuscitou fisicamente, em tempo e
espaço real, pelo poder sobrenatural de Deus. Podem ser grandes as
dificuldades em crer, mas os problemas inerentes à descrença são ainda
maiores. Como explicar o túmulo vazio?

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Um Tratado Sobre o Evangelho

Alguns, tentando negar o fato da ressurreição afirmam “as mulheres e os


discípulos se dirigiram ao túmulo errado, o encontrando vazio”. Respondo que
o túmulo de Jesus estava sendo guardado por uma guarda romana fixa para
evitar que o corpo fosse roubado (pois eles sabiam que Jesus, antes da
crucificação, afirmou que iria ressuscitar). Se o túmulo vazio não fosse o que
outrora Jesus havia sido sepultado, porque as autoridades judaicas e romanas
não apresentaram o corpo de Jesus imediatamente, apagando qualquer rumor
sobre a ressurreição?
Outros poderiam dizer “na verdade Jesus não morreu, ele apenas
desmaiou de cansaço e perda de sangue. Mais tarde, então, recuperou a
consciência e os discípulos acharam que tivesse ressurgido da morte”.
Respondo que essa afirmação se fundamenta numa falta de conhecimento dos
procedimentos que englobavam todo o processo de crucificação que o império
romano infligia sobre o condenado. Alexander Metherell, doutor em Medicina
pela Universidade de Miami e em Engenharia pela Universidade de Bristol,
avaliando a etapa dos açoites, afirma: “os soldados usavam um chicote de
couro trançado com bolas de metal entrelaçadas nas tiras. Quando o chicote
batia contra a carne, essas bolas causavam profundos ferimentos ou
contusões, que rompiam com mais açoites. O chicote tinha também pedaços
de estilhaços de osso que cortavam profundamente a carne. As costas ficavam
tão retalhadas que, às vezes, parte da espinha ficava exposta pelos
profundíssimos cortes. A fustigação teria passado dos ombros por todas as
costas, pelas nádegas e pela parte de trás das pernas. Era simplesmente
terrível. (...) Sabemos que muitas pessoas morriam devido a essa espécie de
flagelação antes mesmo de serem crucificadas.”. Se este argumento não lhe é
suficiente, trago as palavras do teólogo alemão David Friedrich Strauss, ele
mesmo descrente na ressurreição: “Seria impossível alguém sair, semimorto do
sepulcro, rastejando, fraco e doente, carente de atenção médica, necessitando
curativos, fortalecimento e tolerância, e se tivesse entregado, finalmente, a
seus padecimentos, dando a seus discípulos a impressão de ser o
Conquistador da morte e do túmulo, o Príncipe da Vida – impressão que
fundamentaria todo o ministério futuro desses discípulos. Tal ressurgimento só
teria enfraquecido a influência que Jesus teve sobre eles em sua vida e morte,
oferecendo, no máximo, uma voz lamentosa, mas não transformando sua

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Um Tratado Sobre o Evangelho

tristeza em entusiasmo, elevando seu respeito e tornando-o em adoração.”. E é


bem sabido que todos os discípulos morreram como mártires, morreram
decapitados, queimados e crucificados por pregarem com convicção a
ressurreição de Cristo. Como já mencionei, até os dias de hoje os historiadores
não possuem respostas adequadas para a repentina mudança da postura de
Saulo de Tarso, passando de maior perseguidor dos cristãos para o maior
representante da fé cristã. Mas nós sabemos: ele viu o Cristo ressurreto.
Para finalizar esta apresentação do Evangelho do Senhor Jesus Cristo,
gostaria de enfatizar algo que considero de suma importância. O objetivo dos
comentários de cunho apologético que lancei mão neste tratado (como as
demonstrações lógicas e científicas da veracidade, infalibilidade, inerrância e
origem Divina das Sagradas Escrituras, assim como as demonstrações a
respeito da Divindade e ressurreição literal/histórica do Senhor Jesus Cristo) foi
unicamente o de mostrar para o leitor que a fé cristã não é uma fé cega. O
Cristianismo é uma religião fundamentada em fatos históricos, em evidências
científicas e em raciocínios lógicos. Não é fideísmo. Fé constitui-se em crer
naquilo para o qual as evidências apontam. No entanto, é certo o que
mencionei anteriormente: os homens “detêm a verdade pela injustiça”
(Romanos 1.18). O que esse texto Bíblico quer dizer é que o homem, antes de
ter os seus olhos abertos pelo próprio Deus, impede a verdade de se
sobressair, emitindo um falso julgamento (juízo de valor) sobre o que seja a
verdade. Apesar das claras e inquestionáveis evidências a respeito de Deus,
sua revelação e suas obras, as pessoas as preferem substituir por suas
próprias convicções infundadas sobre o tema. Qualquer pessoa só irá
considera-las, e vir a crer nelas, quando o Espírito Santo de Deus a convencer
disso. Não que as evidências sejam poucas, fracas ou incompletas, mas que o
homem em seu estado natural sem Deus está naturalmente fechado a elas.
Portanto, julgue por si mesmo, caro leitor, e reconheça que se persistir
em negar a fé cristã não o estará fazendo com base numa razão bem
fundamentada, mas em seus valores pessoais inimigos de Deus e desejosos
de negar a verdade, suprimindo-a pela mentira. Não simplesmente cremos nos
escritos de um homem ou mulher a respeito de uma religião, como acontece
com todos os demais seguimentos religiosos. Muitos apenas leem os escritos
do(s) fundador (es) de uma determinada religião e, se ocorrer uma identificação

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Um Tratado Sobre o Evangelho

e/ou simpatia, a seguem, crendo ser aquilo a verdade. Seus seguidores dizem
ser aquilo o que melhor explica sua história de vida ou que melhor explica
experiências pessoais já ocorridas. Dizem ser todas as religiões verdadeiras,
bastando cada um descobrir em qual se encaixa melhor. O fundamento de todo
esse raciocínio consiste num horrível antropocentrismo, de modo a pensarem
que o homem é quem deve definir como se aproximar de deus. Coloquei deus
com inicial minúscula propositadamente, pois um trajeto antropocêntrico só
poderá nos levar a um deus fruto da imaginação do homem, e não ao único
Deus verdadeiro, o Todo Poderoso, Criador de todas as coisas, “quem a todos
dá vida, respiração e tudo mais” (Atos 17.25). Não, Ele não é um de nós, não
está a nossa altura, ele está “assentado sobre o globo da terra” (Isaías 40.22),
e quem quiser se aproximar Dele deverá fazer isso prostrado, com intimidação
e temor, em humilhação e seguindo o caminho que Ele mesmo determinou:
Jesus Cristo.
Se com as palavras deste tratado o leitor não foi convencido a se
aproximar de Deus por meio de Jesus Cristo, clamando por misericórdia e
graça, insisto em que apenas reconheça que está deliberadamente rejeitando a
verdade. Reconheça que lhe foi posto argumentos contundentes sobre a
veracidade das Escrituras (a revelação especial de Deus) e a veracidade da
Divindade de Jesus Cristo. Reconheça que está por si mesmo, baseado
unicamente em suas paixões pessoais, negado o caminho que o próprio Deus
nos deu para nos aproximarmos de sua Santa Presença e sermos
reconciliados com Ele.

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