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INTRODUÇÃO À

ANTROPOLOGIA

AULA 1

VINÍCIUS PEDRADA
Sejam bem-vindos ao curso de
Introdução à Antropologia!
Meu nome é Vinícius Pedrada Coutinho.
Nesse curso nós vamos estudar a respeito
do que a Bíblia diz sobre o ser humano. Esse
é um curso oferecido pelo Teologia Online,
do Seminário Batista Reformado em Vila
Velha.

Vamos lá?
BIBLIOLOGIA

Aula 1
Bibliologia por Vinícius Pedrada Coutinho.
Esses são os tópicos que serão estudados ao longo desse curso.
Cada tópico será abordado em uma aula. Nós teremos 4 aulas,
sendo uma a cada semana. São os tópicos:

1 | A criação e a origem do homem: Na aula inicial, vamos


apresentar o conceito de antropologia, abordar a doutrina da
criação e tratar da origem do homem.

2 | Origem das almas e Imago Dei: Na segunda parte, vamos


expor as teorias sobre a origem da alma e estudar a doutrina da
imago Dei.

3 | O homem no estado de pecado: Na terceira aula, vamos


abordar os diferentes estados do homem, explicar os pactos
bíblicos e tratar das consequências do pecado na natureza humana.

4 | O homem no estado de graça: Nesta aula, vamos aprender


como o homem recupera a imagem de Deus em seu estado final.

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Introdução
Apresentação
Nesta aula, vamos começar estudando a
doutrina da criação e o estado original no
qual o ser humano foi criado.
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ANTROPOLOGIA

O que é antropologia?
De maneira geral, antropologia é definida como a ciência que se
ocupa de estudar o homem como ser biológico, social e cultural.
Ela surgiu como ciência em meados do século 19 com o objetivo
de investigar os diversos aspectos da vida social em diferentes
culturas ou sociedades humanas.

Mas como estamos em curso de Teologia, e cremos na Bíblia


como revelação infalível e inerrante de Deus, nossa fonte de
conhecimento principal será a Sagrada Escritura. Por conta
disso, adicionaremos uma esfera fundamental nesse estudo que
faremos sobre o ser humano: o âmbito espiritual.

Deste modo, nos debruçaremos sobre aquilo que a Bíblia nos


revela ser o homem, pois é somente a partir do conhecimento da
revelação especial que podemos ter acesso ao conhecimento
verdadeiro sobre Deus, a criação e nós mesmos.

A antropologia é mais uma das ramificações da Teologia


Sistemática, que estuda as doutrinas bíblicas de forma ordenada
e separada. Desta vez, "a gaveta que iremos abrir" é a do ser
humano. Nela, nós entenderemos tudo o que precisamos saber
sobre o que a Bíblia diz sobre o ser humano.

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ANTROPOLOGIA

Deus e a criação: duas realidades

No princípio, Deus criou


os céus e a terra.
(Gênesis 1:1)

O cristianismo, ou a visão cristã de mundo, que existe a partir da


Bíblia, concebe a realidade como dualista. Isso quer dizer que
tudo o que é ou que existe pode ser "separado" em duas
categorias: Deus e a criação.

Pense em qualquer coisa. Um esquilo, talvez. Em qual categoria


ele se encaixa? Criação, obviamente. Que tal a lua, Plutão e os
buracos negros? Também fazem parte da criação. Satanás e
seus demônios? Eles também são criaturas de Deus. Cristo
Jesus? Ele sim é Deus, assim como o Pai e o Espírito Santo.

O primeiro versículo da Bíblia nos deixa isso muito claro. Ele não
nos diz que Deus foi criado, mas pressupõe a existência dele e
indica que tudo o que existe foi criado. O termo "céus" pode
indicar a realidade espiritual onde os anjos habitam e "terra", o
nosso planeta em estado embrionário. Mas a expressão "céus e
terra" também pode indicar todo o universo, já que os hebreus
não tinham uma palavra grega como "cosmos" para designar to-

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da a ordem criada.

Temos então, duas realidades distintas, e uma delas depende da


outra: a criação, pois Deus não depende de nada nem ninguém.
Como na disciplina de Teontologia estudaremos o ser de Deus,
nosso propósito nessa matéria será olhar para a realidade da
criação, da qual o ser humano faz parte.

Criação ex-nihilo
Diferentemente do que a ciência já propôs no passado, o
universo não é eterno, isto é, ele não existe desde sempre, mas
teve um começo. Isso já é aceito hoje por grande parte da
comunidade científica, que argumenta com base em evidências
que o cosmos se originou de um único ponto chamado de
"singularidade" e se expandiu - e permanece se expandindo -
segundo uma teoria científica chamada de "Big Bang".

Entretanto, a teoria do "Big Bang" não se ocupa em investigar o


que havia antes do universo, mas em como o universo em que
vivemos hoje se tornou o que é ao longo de um processo
estimado em 13,7 bilhões de anos.

Essa informação, sobre o que havia antes, nos é dada pela Bíblia.
Ela nos diz que o universo não é eterno, nem autocriado, mas

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que ele teve um princípio a partir do qual surgiu o espaço-tempo,


tendo vindo à existência por meio da palavra de Deus. Isso é o
que chamamos de creatio ex-nihilo. Essa expressão significa
"criação do nada" e nos ensina que Deus criou tudo o que existe
a partir do nada. Isto é, ele não utilizou algo de si mesmo para
criar, mas criou a partir de algo inexistente. Isso é incrível, não é
mesmo? Esse é um poder exclusivo de Deus. Nós, seres
humanos, podemos criar coisas, mas sempre a partir uma
matéria-prima, como R.C. Sproul nos ilustra:

Um artista pode pegar um bloco quadrado de


mármore e dar-lhe a forma de uma linda estátua
ou pegar uma tela plana e transformá-la por
dispor pigmentos de tinta em um lindo padrão,
mas não foi assim que Deus criou o universo.
Deus chamou o mundo à existência, e sua
criação foi absoluta no sentido de que ele
simplesmente não remodelou coisas que já
existiam. A Escritura nos dá a mais breve
descrição de como Deus fez isso. Achamos na
Escritura o “imperativo divino” ou o “fiat divino”,
pelo qual Deus criou pelo poder e autoridade de
seu comando. Deus disse: “Haja luz...” e houve luz.
Esse é o imperativo divino. Nada pode resistir ao
comando de Deus, que trouxe à existência o
mundo e tudo que nele há.

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ANTROPOLOGIA

O mecanismo da criação
O ponto pacífico dentro da cristandade é que Deus criou. Ele é a
origem de tudo o que existe e é quem teve a iniciativa de trazer
esse universo à existência. Porém, uma questão de debate e
discordância é como Deus criou. Sobre isso, há controvérsias
sustentadas por argumentos tanto teológicos como científicos
em 4 diferentes visões.

Visões sobre a criação


Existem quatro visões principais sobre a criação. São elas:
Criacionismo de Terra Jovem, Criacionismo de Terra Antiga,
Design Inteligente e Criacionismo Evolutivo. Essas visões não
são monolíticas, ou seja, mesmo dentro de cada visão há
pessoas com alguns pontos de vista diferentes.

De uma certa maneira todos são criacionistas, pois creem não


somente que Deus criou, como também continua sustentando e
se envolvendo com sua criação. A discordância está no
processo por meio do qual Deus fez todas as coisas.

Entre elas, a visão evolutiva é a mais polêmica, pois muitos


cristãos que assumem a visão criacionista clássica confundem a
evolução vista como processo biológico com a visão de mundo
evolucionista, que rejeita haja um direcionamento divino e um
propósito para toda a criação.

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ANTROPOLOGIA

Além disso, por terem uma leitura mais literal dos primeiros
capítulos iniciais de Gênesis, tendem a pensar que aqueles que
entendem que Deus utilizou o processo evolutivo pala criar,
rejeitam a inspiração das Escrituras e o poder de Deus, o que
não é verdade.

Todas as visões possuem argumentos do ponto de vista


teológicos e científicos e também abrigam cristãos fervorosos e
verdadeiros.
Criacionismo da Terra Jovem
Esse ponto de vista, bastante tradicional e comum entre os
cristãos, alega que Deus criou o mundo em seis dias literais, de
aproximadamente 24h, cerca de 6 mil anos atrás. Como já
dissemos, essa visão é baseada em uma leitura bastante literal
do relato da criação dos primeiros capítulos do livro de Gênesis.
Os defensores dessa teoria argumentam que essa foi a visão da
igreja por cerca de 1800 anos, até que surgissem
questionamentos dessa perspectiva em consequência da
geologia de milhões de anos e a teoria de Darwin no século 19.
Em razão disso, os criacionistas da Terra Jovem não aceitam as
alegações da ciência moderna.

Criacionismo (Progressivo) da Terra Antiga


Os defensores do Criacionismo da Terra Antiga, também
chamado de Criacionismo Progressivo, aceitam as conclusões
da ciência em relação à idade da Terra e do universo, mas rejei-
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ANTROPOLOGIA

tam a alegação de que a vida surgiu de um ancestral comum a


todos os seres vivos. Eles defendem que Deus foi introduzindo
progressiva e sucessivamente formas cada vez mais complexas
de vida na natureza. Entre as principais interpretações dessa
visão, há o entendimento que os seis dias da criação em
Gênesis podem se referir a longos períodos do tempo, a dias de
24 horas intercalados por grandes lapsos temporais, ou mesmo
serem dias literais após um intervalo de tempo entre os versos 1
e 2 do primeiro capítulo de Gênesis.

Design Inteligente
Essa visão, diferentemente das demais, possui adeptos em
todas as outras correntes anteriores, mas seu objetivo consiste
em defender que certas características do universo e dos seres
vivos são mais bem explicadas por uma causa inteligente ao
invés de um processo não direcionado. Essa teoria tem como
pressuposto a literatura do relato da criação, mas se baseia em
descobertas científicas recentes que apontam para uma causa
inteligente no surgimento da vida. Assim, o design inteligente não
parte da interpretação do texto bíblico, mas infere a existência
de uma causa inteligente - não necessariamente Deus, ou o
Deus da Bíblia - a partir de evidências científicas.

Criacionismo evolutivo
Os partidários dessa visão entendem que Deus criou a partir do
modelo científico do "Big Bang" e estabeleceu a evolução como

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processo para a diversificação das formas de vida. Ainda


segundo essa perspectiva, as conclusões da ciência moderna
podem ser aceitas sem nenhum prejuízo à leitura do texto
bíblico, inclusive com relação ao relato da criação. A razão para
isso é que os defensores dessa visão entendem que a narração
da criação dos céus e terra se enquadra em um gênero
denominado de "história teológica", segundo a qual o autor
descreve o princípio do universo utilizando uma linguagem mítica
semelhante a outras literaturas do seu tempo da região do
Antigo Oriente Próximo.

No princípio
Entendemos que cada uma dessas visões pode ser aceita por
um cristão sem que haja prejuízo para qualquer doutrina bíblica
fundamental. Porém, independentemente de qual visão é
assumida por você, leitor e aluno, três pontos que são afirmados
pela Escritura Sagrada precisam ser muito bem estabelecidos:

1 - Houve um princípio

2 - Há um Deus

3 - Há uma criação

Tendo instituído tais tópicos, vamos avançar para o estudo da


criação do homem e os elementos que o constituem.

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ANTROPOLOGIA

A criação do homem
Após Deus haver feito todas as outras criaturas,
Ele criou o homem, macho e fêmea, com almas
racionais e imortais, e os tornou aptos à vida para
Deus, para o que eles foram criados, tendo sido
feitos segundo a imagem de Deus, em
conhecimento, retidão e verdadeira santidade;
tendo a lei de Deus escrita em seus corações, e
poder para cumpri-la; e ainda assim, estavam sob
a possibilidade de transgressão, sendo deixados
à liberdade da sua própria vontade, que era
sujeita à mudança. (Confissão de Fé Batista de
1689)

Ao olharmos para o relato bíblico, percebemos aspectos que


tornam o ser humano um ser singular. Ele é o clímax da criação.
Como último a ser criado, tudo o que havia sido originado antes
parece ter sido feito para que servisse de habitat e usofruto dos
seres humanos. Como diz o teólogo Herman Bavinck, ''essa
especial atenção dedicada à origem do homem, serve como
evidência de que o homem é o propósito e o fim, o cabeça e a
coroa de toda a obra da criação".

Existe uma espécie de ajuste fino em todo o cosmos que


permite que o universo exista - e continue existindo - que torna

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possível a existência da vida em nosso planeta. Alguns fatores


como a velocidade do movimento de rotação e a inclinação do
eixo da Terra, a composição de nossa atmosfera e o nível de
oxigênio parecem estar regulados com extrema precisão para
que a vida fosse possível na Terra. Quer um exemplo? Se a
força gravitacional de nosso planeta fosse alterada em apenas
0,00000000000000000000000000000000000001 por
cento, o nosso sol não teria existido e, consequentemente, o ser
humano também não.

Acerca desse ajuste ultrafino, O físico e ganhador do prêmio


Nobel Arno Penzias diz:

A astronomia nos leva a um acontecimento único,


um Universo que foi criado do nada e
cuidadosamente equilibrado para prover com
exatidão as condições requeridas para a
existência da vida. Na ausência de um acidente
absurdamente improvável, as observações da
ciência moderna parecem sugerir um plano por
trás de tudo ou, como alguém poderia dizer, algo
sobrenatural.

Todas essas evidências apenas confirmam aquilo que a Bíblia


nos diz a respeito do Deus que é o Criador de todas as coisas.
Um Deus que não somente cria, mas mantém a sua criação pelo

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seu poder através da obra da providência.

Pela fé, entendemos que o universo foi


formado pela palavra de Deus, de
maneira que o visível veio a existir das
coisas que não são visíveis. (Hebreus
11:3)

O ser humano é distinto das outras criaturas

Para além de todo o espaço que foi concedido ao homem, o ser


humano é distinto de outras criaturas por possuir características
ontológicas, morais e funcionais do seu Criador: ele foi feito um
ser pessoal, racional, moral, espiritual e em retidão, para dominar
sobre as coisas criadas.

Quais elementos constituem o homem?


Uma questão importante que foi motivo de debate em toda a
história da igreja é a que trata dos elementos essenciais que
constituem a natureza humana. O homem é composto de corpo,
alma e espírito ou apenas de corpo e alma?

Para responder a essa pergunta, diferentes filósofos, teólogos,


pais da igreja e reformadores apresentaram seus argumentos,
tanto bíblicos como filosóficos. A seguir, apresentaremos três
pontos de vista diferentes.

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Tricotomismo
Segundo essa posição, sustentada por filósofos e alguns pais da
Igreja, tais como Irineu, Clemente de Alexandria, Orígenes e
Gregório de Nissa, o ser humano seria composto de três
elementos essenciais: corpo, alma e espírito. O teólogo e
professor Paulo Anglada, citando J. Greshan Machen, resume
assim o pensamento de alguns dos tricotomistas:

Algumas dessas pessoas concebem o corpo


como o elemento material, a alma como o
princípio de vida 'animal', e o espírito como o
elemento racional e imortal. Outros sustentam
que a alma compreende as faculdades
distintivamente humanas do intelecto, sentimento
e vontade, enquanto o espírito incluiria uma
faculdade mais elevada, que capacita o homem a
entrar e manter comunhão com Deus.

Entre os argumentos que são utilizados para defender essa


perspectiva, está o de que a Escritura utiliza termos diferentes
para denominar a parte imaterial do homem (alma e espírito), e o
uso desses termos numa mesma passagem, indicando a
natureza tricotômica do ser humano, como no caso da epístola
aos Tessalonicesses:

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O mesmo Deus da paz os santifique em


tudo. E que o espírito, a alma e o corpo
de vocês sejam conservados íntegros e
irrepreensíveis na vinda de nosso
Senhor Jesus Cristo. (1 Tessalonicenses
5:23)

O problema com essa visão é que além de quebrar a unidade do


ser humano e dividí-lo em três partes, os versículos que são
utilizados para dar base a essa posição não tem um caráter
antropológico. Ou seja, eles não estão tratando da composição
do ser humano.

Além de que, o uso de termos diferentes não significa


necessariamente que se refiram à unidades essenciais
diferentes.

Caso isso fosse verdade, o texto de Hebreus 4:12 estaria


propondo que o ser humano fosse repartido em pelo menos 4
partes:

Porque a palavra de Deus é viva e eficaz,


e mais cortante do que qualquer espada
de dois gumes, e penetra até o ponto de
dividir alma e espírito, juntas e
medulas, e é apta para julgar os
pensamentos e propósitos do coração.

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Dicotomismo
Sob outra perspectiva, outros pais da igreja, teólogos latinos em
geral, reformadores e a maioria dos teólogos reformados
defendiam a ideia de que o ser humano é composto apenas de
dois elementos: corpo e alma. O corpo seria o elemento material
e a alma, o elemento imaterial.

Para contrapor à visão tricotomista, os proponentes dessa tese


argumentam que o relato bíblico da criação não faz nenhuma
distinção entre alma e espírito e que o termo espírito seria
apenas um termo sinônimo para alma utilizado para expressar
um aspecto específico da parte imaterial do homem: a
capacidade do ser humano de se relacionar com Deus.

Pessoa total
Uma terceira posição, que parece ser mais coerente com o
ensino bíblico, é a que propõe a unidade do ser humano, sem
fracioná-lo em partes, embora reconheça que ele possui uma
parte física e uma parte não-física. Segundo essa concepção, no
lugar de dicotomia, prefere-se falar em unidade psicossomática
do homem. Isto porque, a Bíblia sempre enfatiza a unidade
orgânica do ser humano ou a sua totalidade.

Desse modo, quando a Escritura utiliza diferentes termos para


se referir ao ser humano, ela não está tratando de partes que o
compõem, mas de diferentes aspectos pelos quais ele pode ser

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visto em sua inteireza.

Entre esses termos hebraicos utilizados no texto dos livros do


Antigo Testamento para se referir ao ser humano, estão:

‫[ ֶנֶפ ׁש‬néfesh] O ser humano necessitado


Essa palavra normalmente é traduzida em nossas Bíblias para
alma, mas o seu significado é muito mais amplo. Esse termo
designa a garganta, ou o pescoço, orgãos ou partes por onde
ingerimos os alimentos, representando a saciedade. Esse termo
descreve o ser humano do ponto de vista de sua necessidade,
faminto e sedento, como ser que respira e anseia por algo.

Pois saciou a alma [ ‫ ]ֶנֶפ ׁש‬sedenta e


encheu de bens a alma [ ‫ ]ֶנֶפ ׁש‬faminta.
(Salmo 107:9 NAA)

‫[ ָּב ָׁש ר‬basar] O ser humano efêmero


Esse termo é utilizado para se referir somente aos seres
humanos e aos animais e é comumente traduzido por carne ou
corpo, algo que é comum a ambos. É uma palavra utilizada para
designar a parte visível do corpo, ou mesmo todo o corpo
humano do aspecto da sua fraqueza e fragilidade diante da
inevitabilidade da velhice e da morte, podendo também se referir
ao ser humano do seu aspecto de suscetibilidade ao pecado.

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Lembra-se de que eles são carne [‫]ָּב ָׁש ר‬,


vento que passa e já não volta. (Salmo
78:39 ARA)

‫[ רּוַח‬rur ah] O ser humano autorizado


Geralmente traduzido por vento, respiração ou espírito, essa
palavra qualifica a força vital do ser humano, como ar em
movimento, fruto do sopro divino. É o homem que recebe de
Deus a respiração e a força de vontade para despertar ou
levantar. É o ser humano descrito como criatura que recebe de
Deus o fôlego de vida para viver.

Sai-lhes o espírito [ ‫]רּוַח‬, e eles voltam ao


pó; nesse mesmo dia, acabam todos os
seus planos. (Salmos 146:4 NAA)

‫ֵלָֽבב‬/‫[ ֵלב‬lebab/leb] O ser humano sensato


Essa é a palavra mais importante da gramática da antropologia
do Antigo Testamento. Ela é geralmente traduzida por coração,
mas não no sentido que utilizamos atualmente. Ela pode se
referir ao sentimento, desejo, razão ou decisão da vontade do
ser humano. Tudo aquilo que nós atribuímos ao cérebro, como o
raciocínio, compreensão, a capacidade de entender e de tomar

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conhecimento, memória e juízo é a maneira como o Antigo


Testamento faz referência ao coração. Portanto, diz respeito a
tudo aquilo que se contrapõe à aparência externa.

Deus com certeza saberia, pois ele


conhece os segredos de cada coração
[‫]ֵלב‬. (Salmo 44:21 NVT)

O ser humano sob diferentes ângulos


O campo de significado de cada uma dessas expressões acima
é bastante amplo e pode ter o seu sentido mudado dependendo
de seu contexto. Mas o mais importante é entendermos que a
Bíblia não segmenta o homem em diferentes partes, mas usa
termos diferentes para se referir a diferentes aspectos de sua
existência.

Todos essas expressões, apesar de tratarem o ser humano de


uma perspectiva específica, descrevem o homem em sua
unidade e totalidade.

De todo modo, não é errado adotarmos a perspectiva


dicotômica empregando os termos "corpo" e "alma" para
descrevermos a parte física e não física do ser humano. Para tal,
é necessário que sempre tenhamos em mente que a Escritura
sempre trata o ser humano em sua completude.

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Conclusão

Nessa primeira aula, apresentamos a você o conceito de


antropologia e como iremos trabalhá-lo ao longo desta
disciplina, sempre à luz das Escrituras. Expomos também como
devemos olhar para a realidade que nos está posta como
composta de apenas duas categorias: Deus e a criação.

Em seguida, demonstramos como tudo o que existe provém de


Deus e que Ele tem o poder de trazer tudo à existência a partir
do nada.

Apresentamos os diferentes pontos de vista em relação a como


Deus criou todas as coisas e mostramos como qualquer uma
das perspectivas podem ser aceitas sem que nenhuma doutrina
bíblica fundamental seja afetada.

Tratamos de como a criação foi preparada para o ser humano e


como ele se distingue de outras criaturas, pois possui
características exclusivas do seu Criador.

Por último, abordamos as principais teorias a respeito da


composição essencial do ser humano e argumentamos em
defesa da unidade psicossomática do ser humano,
apresentando quatro principais termos antropológicos
empregados no texto do Antigo Testamento. Com isso, nosso

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objetivo foi demonstrar que as Escrituras sempre enfatizam a


unidade orgânica do homem.

Na próxima aula, nós vamos abordar a origem das almas e


também estudar a doutrina da Imago Dei.

Espero você lá! Até a próxima aula!

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