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ROTEIRO N.

º 069

LEIS NATURAIS,
CONSCIÊNCIA, MORAL E
SENSO MORAL

COLABORADORES RESPONSÁVEIS: UM PROJETO GRATUITO:


TEMA

LEIS NATURAIS, CONSCIÊNCIA, MORAL E SENSO MORAL

OBJETIVO GERAL
Compreender que leis naturais, moral, consciência, e senso moral formam a base para o
progresso do Espírito.

CARGA HORÁRIA
2 horas e 30 minutos (150 minutos)

OBJETIVOS ESPECÍFICOS
1. Explicar que existem leis estabelecidas por Deus para reger o universo, tanto nas
questões da matéria como nas do Espírito.
2. Definir a função da consciência.
3. Explicar a relação entre moral e leis divinas.
4. Entender a importância do senso moral na geração de remorso, fundamental para o
arrependimento.

Palavras-chaves: arrependimento; leis morais; progresso; remorso.

Na questão 625 de “O Livro dos Espíritos”, os Espíritos superiores disseram a Kardec


que Jesus é o ser que devemos aprender a imitar e seguir:

O Livro dos Espíritos > Parte terceira — Das leis morais > Capítulo I — Da lei divina ou natural > Conheci-
mento da lei natural > 625
625. Qual o tipo mais perfeito que Deus já ofereceu ao homem para lhe servir de guia e
modelo?
Jesus.”

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Esta resposta nos indica a nossa meta a seguir; mas, e quando erramos no caminho?
Como atua a justiça divina? Será que Deus fiscaliza constantemente o universo, conferindo
como tudo está funcionando e como todos estão agindo?

Não; Deus rege o universo através de leis naturais, às quais tudo está submetido. Assim
sendo, é importante que entendamos o que é a lei natural:

O Livro dos Espíritos > Parte terceira — Das leis morais > Capítulo I — Da lei divina ou natural > Caracteres
da lei natural > 614
614. Que se deve entender por lei natural?
A lei natural é a lei de Deus. É a única verdadeira para a felicidade do homem. Indica-lhe o
que deve fazer ou deixar de fazer, e ele só é infeliz quando dela se afasta.”

Os amigos espirituais já nos deixam uma informação segura: quem quiser ser feliz deve
seguir as leis naturais. Mas as leis naturais regem o quê?

O Livro dos Espíritos > Parte terceira — Das leis morais > Capítulo I — Da lei divina ou natural > Caracteres
da lei natural > 617
617. As leis divinas, que é o que compreendem no seu âmbito? Concernem a alguma
outra coisa, que não somente ao procedimento moral?
Todas as leis da natureza são leis divinas, pois que Deus é o autor de tudo. O cientista es-
tuda as leis da matéria, o homem de bem estuda e pratica as da alma.”

Comentário de Kardec:
Entre as leis divinas, umas regulam o movimento e as relações da matéria bruta: as leis
físicas, cujo estudo pertence ao domínio da Ciência.
As outras dizem respeito especialmente ao homem considerado em si mesmo e nas suas
relações com Deus e com seus semelhantes. Contêm as regras da vida do corpo, bem
como as da vida da alma: são as leis morais.

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Então as leis morais contêm as regras que devem reger o comportamento do homem
em relação a Deus, aos outros e a si mesmo. Será que essas leis mudam no tempo?

O Livro dos Espíritos > Parte terceira — Das leis morais > Capítulo I — Da lei divina ou natural > Caracteres
da lei natural > 615
615. É eterna a lei de Deus?
Eterna e imutável como o próprio Deus.”

Fica bem claro que as leis divinas são sempre as mesmas no universo, e veremos adian-
te que elas são apropriadas ao grau de desenvolvimento dos mundos. Um mundo ditoso tem
regras próprias para esse mundo, não sendo mais necessárias leis morais semelhantes às
nossas para esse mundo, já que para entrar em um mundo ditoso é necessário ter todas as
virtudes e, portanto, eles já seguem essas leis que nós, de um planeta de provas e expiações,
ainda estamos aprendendo. Os Espíritos e Kardec abordam esse assunto no item 618 de “O
Livro dos Espíritos”:

O Livro dos Espíritos > Parte terceira — Das leis morais > Capítulo I — Da lei divina ou natural > Caracteres
da lei natural > 618
618. São as mesmas, para todos os mundos, as leis divinas?
A razão está a dizer que devem ser apropriadas à natureza de cada mundo e adequadas
ao grau de progresso dos seres que os habitam.”

Continuemos com Kardec:

O Livro dos Espíritos > Parte terceira — Das leis morais > Capítulo I — Da lei divina ou natural > Caracteres
da lei natural > 616
616. Será possível que Deus em certa época haja prescrito aos homens o que noutra
época lhes proibiu?
Deus não se engana. Os homens é que são obrigados a modificar suas leis, por serem imper-
feitas. As de Deus, essas são perfeitas. A harmonia que reina no universo material, como no
universo moral, se funda em leis estabelecidas por Deus desde toda a eternidade.”

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Essas informações são de extrema utilidade para descartarmos com segurança algumas
afirmações que são frequentes: que a moral muda, por exemplo. Não existe evolução da
moral, que é sempre a observância da lei de Deus. O que muda é o grau de desenvolvimento
moral do indivíduo, ou seja, o quanto ele conhece da lei e o quanto a pratica. Mas será que
a todos foi dado conhecer a lei moral?

O Livro dos Espíritos > Parte terceira — Das leis morais > Capítulo I — Da lei divina ou natural > Conheci-
mento da lei natural > 619
619. A todos os homens facultou Deus os meios de conhecerem sua lei?
Todos podem conhecê-la, mas nem todos a compreendem. Os homens de bem e os que
se decidem a investigá-la são os que melhor a compreendem. Todos, entretanto, a com-
preenderão um dia, porquanto forçoso é que o progresso se efetue.”

Comentário de Kardec:
A justiça das diversas encarnações do homem é uma consequência desse princípio, visto
que em cada nova existência sua inteligência se acha mais desenvolvida, e ele compreen-
de melhor o que é bem e o que é mal.
Se numa só existência tudo lhe devesse ficar ultimado, qual seria a sorte de tantos mi-
lhões de seres que morrem todos os dias no embrutecimento da selvageria, ou nas trevas
da ignorância, sem que deles tenha dependido o se esclarecerem?

Todos podem conhecer a lei de Deus, mas nem todos a compreendem. Como já dissemos
anteriormente, o indivíduo pode conhecer a lei, mas não entender por que deve tomá-la como
padrão de comportamento em sua vida. Veremos mais à frente o que seja senso moral, mas
comecemos a entender aqui: o fato de conhecer uma lei não implica em sentir a necessidade
de praticá-la. O ladrão sabe que não deve roubar, mas o faz; o político corrupto sabe que não
deve ficar com dinheiro público, mas fica; o assassino sabe que não deve matar, mas mata. En-
tão, pode existir uma distância entre saber o que deve ser feito e aquilo que se faz, associado
ao que se sente.

Mas os Espíritos dizem também que o homem de bem e os que estudam as leis as com-
preendem. Quem são esses?

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O Evangelho segundo o Espiritismo > Capítulo XVII — Sede perfeitos > O homem de bem > 3
O verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na
sua maior pureza.

É preciso estudar, aprender a lei para poder vivê-la plenamente, caso contrário ficare-
mos no grupo que a conhece, mas não a toma como guia para a própria vida. Nós não ini-
ciamos a nossa jornada evolutiva sabendo as leis de Deus, logo, nas nossas primeiras encar-
nações, fomos aprendendo-as. Precisamos compreender definitivamente que o verdadeiro
homem de bem não é aquele que apenas conhece a lei, mas sim aquele que cumpre toda a
lei divina, expressa resumidamente na lei de justiça, amor e caridade.

Kardec questiona os Espíritos:

O Livro dos Espíritos > Parte terceira — Das leis morais > Capítulo I — Da lei divina ou natural > Conheci-
mento da lei natural > 621
621. Onde está escrita a lei de Deus?
Na consciência.”
a) Visto que o homem traz em sua consciência a lei de Deus, que necessidade havia de
lhe ser ela revelada?
“Ele a esquecera e desprezara. Quis então Deus lhe fosse lembrada.”

Se tivesse seguido em suas diferentes reencarnações apenas cumprindo a lei de Deus,


o Espírito teria se tornado um Espírito bom, sem a necessidade de expiações, apenas cum-
prindo provas (ver roteiro “Escala Espírita: O caminho reto para Espírito bom”). Mas, ao se
perder nas paixões durante as encarnações, tornou-se infrator à lei, ingressando na condição
de Espírito imperfeito, habitante de mundos de provas e expiações (ver roteiro “Escala Espí-
rita: Espíritos Imperfeitos”).

A lei de Deus está gravada na consciência; mas o que é a consciência? Vejamos duas
referências em Kardec:

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O que é o Espiritismo? > Capítulo III — Solução de alguns problemas pela Doutrina Espírita > O homem
durante a vida terrena > 127
127. Qual a origem do sentimento a que chamamos consciência?
É uma recordação intuitiva do progresso feito nas precedentes existências e das resolu-
ções tomadas pelo Espírito antes de encarnar, resoluções que ele, muitas vezes, esquece
como homem.

Então a nossa consciência tem registrados todos os conhecimentos que adquirimos em


nossas vidas, como também as resoluções que tomamos quando fizemos nossas escolhas
para a reencarnação.

A segunda referência sobre consciência vem do “Evangelho Segundo o Espiritismo”:

O Evangelho segundo o Espiritismo > Capítulo XVII — Sede perfeitos > O homem de bem > 3
3. O verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade,
na sua maior pureza. Se ele interroga a consciência sobre seus próprios atos, a si mesmo
perguntará se violou essa lei, se não praticou o mal, se fez todo o bem que podia, se des-
prezou voluntariamente alguma ocasião de ser útil, se ninguém tem qualquer queixa dele;
enfim, se fez a outrem tudo o que desejara lhe fizessem.

Aqui vemos reafirmado que a consciência tem gravados em si todos os nossos atos, e
podemos encontrar nela os atos que praticamos conforme as leis de Deus, e aqueles que as
contrariaram. Mas, como isso aconteceu? Conforme fomos adquirindo conhecimentos em
nossas muitas encarnações, dentre os quais os relacionados às leis Morais, todos esses co-
nhecimentos foram sendo gravados em nossa consciência.

A vida em sociedade foi exigindo regras para a convivência pacífica entre seus mem-
bros, e Deus sempre enviou mensageiros que vieram ensinar as leis morais. Talvez o mais
antigo que conhecemos, pelo período da História, foi Moisés, que trouxe as Dez leis de Deus,
a lei mosaica. Os dez mandamentos de Moisés teriam sido trazidos há quase 4 mil anos, ou
seja, quase dois mil anos antes de Cristo! E lá estão as leis morais integralmente. Jesus não
modificou essas leis, reafirmou-as considerando Deus como pai, como amor.

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O Livro dos Espíritos > Parte terceira — Das leis morais > Capítulo I — Da lei divina ou natural > Conheci-
mento da lei natural > 622
622. Confiou Deus a certos homens a missão de revelarem a sua lei?
Indubitavelmente. Em todos os tempos houve homens que tiveram essa missão. São Espí-
ritos superiores, que encarnam com o fim de fazer progredir a humanidade.”

Então, Deus enviou em todas as épocas e em todas as regiões do mundo Espíritos su-
periores que revelaram as suas leis, com o objetivo de ajudar a humanidade a evoluir. Assim,
devido às inúmeras reencarnações que já tivemos, nós temos na alma o conhecimento das
leis divinas, e não se pode alegar má conduta moral por ignorar as leis de Deus. Mas Kardec
insiste nesse assunto, tão importante para nos convencermos de que erramos conscientes
do erro, e não por ignorância da lei:

O Livro dos Espíritos > Parte terceira — Das leis morais > Capítulo I — Da lei divina ou natural > Conheci-
mento da lei natural > 626
626. Só por Jesus foram reveladas as leis divinas e naturais? Antes do seu aparecimento,
o conhecimento dessas leis só por intuição os homens o tiveram?
Já não dissemos que elas estão escritas por toda parte? Desde os séculos mais longínquos,
todos os que meditaram sobre a sabedoria têm podido compreendê-las e ensiná-las. Pe-
los ensinos, mesmo incompletos, que espalharam, prepararam o terreno para receber
a semente. Estando as leis divinas escritas no livro da natureza, possível foi ao homem
conhecê-las, logo que as quis procurar. Por isso é que os preceitos que consagram foram,
desde todos os tempos, proclamados pelos homens de bem; e também por isso é que
elementos delas se encontram, se bem que incompletos ou adulterados pela ignorância,
na doutrina moral de todos os povos que já saíram da barbárie.”

Os Espíritos superiores dizem “Na doutrina moral de todos os povos que já saíram da
barbárie”: mas o que é moral?

O Livro dos Espíritos > Parte terceira — Das leis morais > Capítulo I — Da lei divina ou natural > O bem e
o mal > 629
629. Que definição se pode dar da moral?

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A moral é a regra de bem proceder, isto é, a distinção entre o bem e o mal. Funda-se na
observância da lei de Deus. O homem procede bem quando tudo faz pelo bem de todos,
porque então cumpre a lei de Deus.”

Assim, agimos moralmente quando o fazemos seguindo as leis de Deus, e visamos o


bem de todos. Quando nossos atos estão de acordo com as leis de Deus, isto é moral.

O Livro dos Espíritos > Parte terceira — Das leis morais > Capítulo I — Da lei divina ou natural > O bem e
o mal > 630
630. Como se pode distinguir o bem do mal?
O bem é tudo o que é conforme à lei de Deus; o mal, tudo o que lhe é contrário. Assim,
fazer o bem é proceder de acordo com a lei de Deus; fazer o mal é infringi-la.”

É possível distinguir o bem e o mal sem conhecer as leis? Alguém que não recebeu na
atual encarnação qualquer educação e orientação, estará isento de responder pelos atos
contrários à lei de Deus?

O Livro dos Espíritos > Parte terceira — Das leis morais > Capítulo I — Da lei divina ou natural > O bem e
o mal > 631
631. Tem meios o homem de distinguir por si mesmo o que é bem do que é mal?
Sim, quando crê em Deus e o quer saber. Deus lhe deu a inteligência para distinguir um
do outro.”

Assim, com a inteligência aliada à consciência, que, como vimos na questão 127, é
“uma recordação intuitiva do progresso feito nas precedentes existências e das resoluções
tomadas pelo Espírito antes de encarnar”, temos condições de distinguir o bem do mal.

E Kardec insiste para que os Espíritos tornem a mais clara possível nossa responsabi-
lidade:

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O Livro dos Espíritos > Parte terceira — Das leis morais > Capítulo I — Da lei divina ou natural > O bem e
o mal > 632
632. Estando sujeito ao erro, não pode o homem enganar-se na apreciação do bem e do
mal, e crer que pratica o bem quando em realidade pratica o mal?
Jesus disse: vede o que quereríeis que vos fizessem ou não vos fizessem. Tudo se resume
nisso. Não vos enganareis.”

Assim, é só analisar as consequências do que se quer fazer e nos colocarmos no lugar


do outro, para distinguirmos o bem do mal. Retornamos à resposta da questão 625: Jesus
deve ser nosso modelo e guia!

Mas, tendo inteligência e consciência, por que o homem não escolhe sempre o bem?
Conhecer não implica fazer o que conhece, como dissemos acima. Apesar dos conhecimen-
tos acumulados na consciência, o homem tem a liberdade de segui-los ou não, uma vez que
tem a liberdade de escolha, o livre arbítrio. É importante destacar que, ao escolher a opção
errada, o homem sabe as consequências que advirão de sua escolha, sabe se prejudicará ou
não outro indivíduo. Mas tem a liberdade de decidir.

Depois de adquirirmos o livre arbítrio, há muito e muito tempo, houve momentos em


que, tendo que escolher entre seguir a lei de Deus ou desfrutar da matéria, agarrar-se às pai-
xões, optou-se pela matéria (ver a série de roteiros “Ganhar a vida e perder a alma”). Mas,
então, quem se desviou das leis divinas segue indefinidamente pelo caminho do mal, sem
que nada seja feito para trazê-lo de volta? Não é assim.

Cada vez que erra o homem recebe um castigo ou a consequência de sua escolha,
como Paulo de Tarso bem define na questão 1009 de “O Livro dos Espíritos”:

O Livro dos Espíritos > Parte quarta — Das esperanças e consolações > Capítulo II — Das penas e gozos
futuros > Duração das penas futuras > 1009
“Quem é, com efeito, o culpado? É aquele que, por um desvio, por um falso movimento
da alma, se afasta do objetivo da criação, que consiste no culto harmonioso do belo, do
bem, idealizados pelo arquétipo humano, pelo Homem Deus, por Jesus Cristo.

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“Que é o castigo? A consequência natural, derivada desse falso movimento; uma certa
soma de dores necessária a desgostá-lo da sua deformidade, pela experimentação do so-
frimento. O castigo é o aguilhão que estimula a alma, pela amargura, a se dobrar sobre si
mesma e a buscar o porto de salvação. O castigo só tem por fim a reabilitação, a redenção.
Querê-lo eterno, por uma falta não eterna, é negar-lhe toda a razão de ser.”

O castigo visa a despertar no homem a necessidade de seguir as leis de Deus, de seguir


sua consciência. Essa necessidade de seguir o bem e rejeitar o mal é o senso moral, um sen-
timento que, quando o indivíduo erra, imediatamente o acusa, causando dor moral. Vamos
entender as diferenças:

Apenas conhecer a lei moral: de alguma forma o indivíduo aprendeu, então ele sabe
separar o certo do errado, o bem do mal. Quando alguém faz o errado, sabe que está errado,
mas isso não lhe causa conflito interno, não altera seus sentimentos, não abala seu mundo
íntimo. As leis morais não afetam seu comportamento e seus sentimentos. O político que é
corrupto, o ladrão, quem se aproveita do erro de outro, quem leva vantagem em prejuízo de
alguém, etc.

Ter senso moral: O indivíduo que desenvolveu o senso moral sempre colhe uma con-
sequência emocional de suas ações. Quando segue a lei moral tem um retorno bom, de
alegria, felicidade; se a contraria sofre uma dor moral, remorso, arrependimento. O desen-
volvimento do senso moral torna o Espírito suscetível de sofrimento ao ofender a Deus com
ações erradas. O senso moral vai se desenvolvendo no indivíduo, às vezes muito lentamente,
mas sempre se desenvolverá, uma vez que todos deverão chegar à perfeição.

Vejamos exemplos:

Revista espírita, jornal de estudos psicológicos — 1867 > Agosto > Jean Ryzak, a força do remorso
Se o remorso já é um suplício na Terra, quão maior não será no mundo dos Espíritos, onde
não é possível subtrair-se à vista daqueles a quem se ofendeu. Felizes os que, tendo repa-
rado já nesta vida, poderão sem receio enfrentar todos os olhares no mundo onde nada
é oculto.

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O remorso é uma consequência do desenvolvimento do senso moral; ele não existe onde
o senso moral ainda se acha em estado latente. É por isto que os povos selvagens e bárba-
ros cometem sem remorso as piores ações. Aquele, pois, que se pretendesse inacessível
ao remorso assimilar-se-ia ao bruto. À medida que o homem progride, o senso moral tor-
na-se mais apurado; ofusca-se ao menor desvio do reto caminho. Daí o remorso, que é o
primeiro passo para o retorno ao bem.

O remorso é uma dor moral intensa que inunda a consciência do Espírito que infrin-
ge uma lei divina, e o senso moral o acusa. Pode estar encarnado ou errante, a dor não o
abandona. Desencarnado, fixa-se na cena do crime e em suas vítimas, que formam quadros
que perduram muito tempo em sua visão. Indivíduos com senso moral pouco desenvolvido
cometeriam o mesmo crime, e não seriam incomodados pela consciência, o que leva ao acú-
mulo de erros e dívidas por até várias encarnações.

Revista espírita, jornal de estudos psicológicos — 1867 > Agosto > Jean Ryzak, a força do remorso.
“A consciência produz dois efeitos diferentes: a satisfação de haver agido bem, a paz que
deixa o sentimento do dever cumprido; e o remorso que penetra e tortura quando se
praticou uma ação reprovada por Deus, pelos homens ou pela honra. É, propriamente
falando, o senso moral. O remorso é como uma serpente de mil voltas, que circula em
redor do coração e o devasta; é o remorso que sempre vos faz ouvir os mesmos brados e
vos grita: Fizeste uma ação má; deverás ser punido; teu castigo não cessará senão depois
da reparação.
“Crede-me, escutai sempre essa voz que vos adverte quando estais prestes a falir; não a
abafeis pela revolta do vosso orgulho, e se falirdes, apressai-vos em reparar o mal, pois
do contrário o remorso seria vossa punição. Quanto mais tardardes, mais penosa será a
punição e mais prolongado o suplício.” — Um Espírito.

Compreender a extensão do mal que fez, perceber o quanto era ignóbil, desprezível,
desperta o arrependimento, e a dor. No entanto, o Espírito arrependido ainda pode retornar
ao erro. Vejamos um trecho do caso Jacques Latour:

LEIS NATURAIS, CONSCIÊNCIA, MORAL E SENSO MORAL 12


Revista espírita, jornal de estudos psicológicos — 1864 > Novembro > Um criminoso arrependido (Con-
tinuação). Jacque Latour
O guia espiritual do médium dita o seguinte:
“Não tomes os primeiros gritos do Espírito que se arrepende como sinal infalível de suas
resoluções. Ele pode estar de boa-fé em suas promessas, porque a primeira impressão que
ele sente ao se ver mergulhado no mundo dos Espíritos é de tal modo fulminante que, ao
primeiro testemunho de caridade que recebe de um Espírito encarnado, entrega-se às efu-
sões do reconhecimento e do arrependimento. Mas, por vezes, a reação é igual à ação, e
muitas vezes esse Espírito culpado, que a um médium ditou tão boas palavras, pode voltar à
sua natureza perversa, a seus pendores criminosos. Como uma criança que tenta caminhar,
ele precisa ser ajudado para não cair.”

O sofrimento moral intenso pode levar o Espírito a se arrepender de ter errado, mas
pode ocorrer-lhe ter o senso moral ainda pouco desenvolvido, e quando a dor passar o indi-
víduo pode voltar ao mesmo erro.

Outros há que, mesmo sob dores morais angustiantes, não se curvam diante de Deus,
mantêm-se insubmissos, e sofrem constantemente. É o caso de Lapommeray, como comen-
tam Espíritos protetores:

O Céu e o Inferno ou a justiça divina segundo o Espiritismo > Segunda parte — Exemplos > Capítulo VII —
Espíritos endurecidos > Lapommeray
“Os Espíritos na erraticidade estão evidentemente, do ponto de vista das existências, ina-
tivos e à espera; porém, eles podem expiar, desde que seu orgulho, a tenacidade formidá-
vel e renitente de seus erros não os retenham, no momento de sua ascensão progressiva.
Tendes um exemplo terrível disso na última comunicação desse criminoso endurecido se
debatendo contra a justiça divina que o constrange após a justiça dos homens. Então, neste
caso, a expiação, ou antes o sofrimento fatal que os oprime, em vez de lhes trazer proveito
e fazê-los sentir o profundo significado das suas penas, exalta-os na revolta, e fá-los lançar
esses murmúrios que as Escrituras, na sua poética eloquência, chamam ranger de dentes;
imagem por excelência! Sinal do sofrimento abatido, mas insubmisso! Perdido na dor, mas
cuja revolta é ainda bastante forte para recusar reconhecer a verdade da pena e a verdade
da recompensa!”

LEIS NATURAIS, CONSCIÊNCIA, MORAL E SENSO MORAL 13


E outros não se animam a fazer alguma coisa para sair do sofrimento, são preguiçosos.
Não têm iniciativa, falta-lhes energia para romper a lassidão a que se entregam. Sofrerão,
até decidirem-se:

O Céu e o Inferno ou a justiça divina segundo o Espiritismo > Segunda parte — Exemplos > Capítulo VII
— Espíritos endurecidos — Angèle
Um Espírito se apresenta espontaneamente ao médium sob o nome de Angèle.
Vós vos arrependeis de vossas faltas?
“Não.”
Então por que vindes a mim?
Para fazer uma tentativa.
Então não sois feliz?
“Não.”
Estais sofrendo?
“Não.”
O que vos falta então?
“A paz.”
Observação: Certos Espíritos não consideram como sofrimentos senão os que lhes lem-
bram as dores físicas, embora convindo que seu estado moral é intolerável.
Como pode faltar-vos a paz na vida espiritual?
“Um arrependimento do passado.”
O arrependimento do passado é um remorso; vós vos arrependeis então?
“Não; é por temor do futuro.”
Que temeis vós?
“O desconhecido.”
Como se passou vossa vida?
“A divertir-me enquanto solteira, a aborrecer-me casada.”
Quais eram vossas ocupações?
“Nenhuma.”

LEIS NATURAIS, CONSCIÊNCIA, MORAL E SENSO MORAL 14


Então quem cuidava de vossa casa?
“A doméstica.”
Não é nessa inutilidade que é preciso procurar a causa de vossos arrependimentos e de
vossos temores?
“Talvez tenhas razão.”
Não basta convir. Quereis, para reparar essa existência inútil, ajudar os Espíritos culpa-
dos que sofrem à vossa volta?
“Como?”
Ajudando-os a se aperfeiçoarem pelos vossos conselhos e vossas preces.
“Não sei rezar.”
Nós o faremos juntos, aprendereis; quereis?
“Não.”
Por quê?
“Fadiga.”

Instrução do guia do médium:

“Nós damos-te instruções pondo-te sob os olhos os diversos graus de sofrimento e de


posição dos Espíritos condenados à expiação em consequência de suas faltas.”
“Angèle era uma dessas criaturas sem iniciativa, cuja vida é tão inútil para os outros quan-
to para elas mesmas. Amando apenas o prazer, incapaz de procurar no estudo, no cum-
primento dos deveres da família e da sociedade essas satisfações do coração que são as
únicas que podem dar encanto à vida, porque pertencem a todas as idades, ela não pôde
empregar seus jovens anos senão em distrações frívolas; depois, quando os deveres sé-
rios chegaram, o mundo havia feito o vazio em torno dela, porque ela havia feito o vazio
no seu coração.”

Há também aqueles que gastam o tempo na erraticidade atrás dos prazeres materiais,
como o Baltazar, um glutão despreocupado com o futuro, sem senso moral.

LEIS NATURAIS, CONSCIÊNCIA, MORAL E SENSO MORAL 15


Revista espírita, jornal de estudos psicológicos — 1860 > Novembro > Palestras familiares de além-túmulo
— Baltazar, o Espírito gastrônomo
Vedes outros Espíritos mais felizes do que vós?
“Sim. Vejo alguns cuja felicidade consiste em louvar a Deus. Ainda não conheço isto. Meus
pensamentos roçam pela Terra.”
Compreendeis as causas que os tornam mais felizes do que vós?
“Eu ainda não as aprecio, como aquele que não sabe o que é um bom prato e não o apre-
cia. Talvez chegue a isso. Adeus. Vou à procura de um jantarzinho muito delicado e muito
suculento.”
Observação: Este Espírito é um verdadeiro fenômeno. Ele faz parte dessa classe numerosa
de seres invisíveis que não se elevaram em nada acima da condição da humanidade. Só tem
de menos o corpo material, mas as suas ideias são exatamente as mesmas. Este não é um
mau Espírito. Ele não tem contra si senão a sensualidade, que, ao mesmo tempo, é para ele
um suplício e um gozo. Como Espírito, não é, pois, muito infeliz; é até feliz ao seu modo. Mas
Deus sabe o que o espera em nova existência! Uma triste volta poderá fazê-lo bem refletir e
desenvolver o senso moral, ainda abafado pela preponderância dos sentidos.

A observação no trecho acima é bastante oportuna: “poderá fazê-lo bem refletir e de-
senvolver o senso moral, ainda abafado pela preponderância dos sentidos”. A importância
que o Espírito dá aos sentidos acaba por dificultar o desenvolvimento do senso moral.
Voltando ao caso Latour, Kardec destaca que o arrependimento levará o criminoso a uma
nova vida, moralmente melhor.

Revista espírita, jornal de estudos psicológicos — 1864 > Novembro > Um criminoso arrependido (Con-
tinuação)
Em sua existência precedente, ele deve ter sido pior que nesta, porque se se tivesse arre-
pendido como faz agora, sua vida teria sido melhor. As resoluções que ele toma agora in-
fluirão sobre sua futura existência terrena. A que ele acaba de deixar, por mais criminosa
que tenha sido, marcou-lhe uma etapa do progresso. É mais do que provável que antes de
iniciá-la ele fosse, na erraticidade, um desses maus Espíritos rebeldes, obstinados no mal,
como se veem tantos.

LEIS NATURAIS, CONSCIÊNCIA, MORAL E SENSO MORAL 16


Finalmente, devemos acreditar que todos desenvolverão o senso moral, e, um dia, to-
marão a decisão forte de seguir para o Pai, e retomarão o caminho do bem. E, por já conhe-
cerem as consequências da prática do mal, não se apegarão mais às ilusões da matéria, e
rapidamente chegarão ao desenvolvimento espiritual.

O Céu e o Inferno ou a justiça divina segundo o Espiritismo > Segunda parte — Exemplos > Capítulo IV —
Espíritos sofredores — Claire
Esses Espíritos, quando estão desencarnados, não podem adquirir instantaneamente a
delicadeza do sentimento, e, durante um tempo mais ou menos longo, ocuparão os lu-
gares mais miseráveis do mundo espiritual, como ocuparam os do mundo corpóreo; aí
ficarão enquanto forem rebeldes ao progresso; mas com o tempo, com a experiência, as
atribulações, as misérias das encarnações sucessivas, chega um momento em que eles
concebem algo melhor do que aquilo que têm; suas aspirações elevam-se; eles começam
a compreender o que lhes falta, e então fazem esforços para o adquirir e elevar-se. Uma
vez nessa via, caminham por ela com rapidez, porque provaram uma satisfação que lhes
parece bem superior, perto da qual as outras, não sendo senão grosseiras sensações, aca-
bam por lhes inspirar repugnância.

Tenhamos Jesus como nosso guia, ou seja, sigamos sua doutrina tal qual ele no-la en-
sinou, tomando-a como bússola de nossas vidas, fonte única para nossas escolhas, e nos
perguntemos sempre: Jesus faria essa escolha que estou fazendo?

OBRAS UTILIZADAS
1. O Céu e o Inferno ou a Justiça Divina segundo o Espiritismo
2. O Evangelho Segundo o Espiritismo
3. O Livro dos Espíritos
4. O que é o Espiritismo
5. Revista Espírita, Jornal de estudos psicológicos — 1860
6. Revista Espírita, Jornal de estudos psicológicos — 1864
7. Revista Espírita, Jornal de estudos psicológicos — 1867

LEIS NATURAIS, CONSCIÊNCIA, MORAL E SENSO MORAL 17


REFERÊNCIAS E LINKS PARA ACESSO NA KARDECPEDIA
O Livro dos Espíritos > Parte terceira — Das leis morais > Capítulo I — Da lei divina ou natural > Conhecimento
da lei natural > 625
O Livro dos Espíritos > Parte terceira — Das leis morais > Capítulo I — Da lei divina ou natural > Caracteres
da lei natural > 614
O Livro dos Espíritos > Parte terceira — Das leis morais > Capítulo I — Da lei divina ou natural > Caracteres
da lei natural > 617
O Livro dos Espíritos > Parte terceira — Das leis morais > Capítulo I — Da lei divina ou natural > Caracteres
da lei natural > 615
O Livro dos Espíritos > Parte terceira — Das leis morais > Capítulo I — Da lei divina ou natural > Caracteres
da lei natural > 618
O Livro dos Espíritos > Parte terceira — Das leis morais > Capítulo I — Da lei divina ou natural > Caracteres
da lei natural > 616
O Livro dos Espíritos > Parte terceira — Das leis morais > Capítulo I — Da lei divina ou natural > Conhecimento
da lei natural > 619
O Evangelho segundo o Espiritismo > Capítulo XVII — Sede perfeitos > O homem de bem > 3
O Livro dos Espíritos > Parte terceira — Das leis morais > Capítulo I — Da lei divina ou natural > Conhecimento
da lei natural > 621
O que é o Espiritismo? > Capítulo III — Solução de alguns problemas pela Doutrina Espírita > O homem du-
rante a vida terrena
O Livro dos Espíritos > Parte terceira — Das leis morais > Capítulo I — Da lei divina ou natural > Conhecimento
da lei natural > 622
O Livro dos Espíritos > Parte terceira — Das leis morais > Capítulo I — Da lei divina ou natural > Conhecimento
da lei natural > 626
O Livro dos Espíritos > Parte terceira — Das leis morais > Capítulo I — Da lei divina ou natural > O bem e o
mal > 629
O Livro dos Espíritos > Parte terceira — Das leis morais > Capítulo I — Da lei divina ou natural > O bem e o
mal > 630
O Livro dos Espíritos > Parte terceira — Das leis morais > Capítulo I — Da lei divina ou natural > O bem e o
mal > 631
O Livro dos Espíritos > Parte terceira — Das leis morais > Capítulo I — Da lei divina ou natural > O bem e o
mal > 632
O Livro dos Espíritos > Parte quarta — Das esperanças e consolações > Capítulo II — Das penas e gozos futuros
> Duração das penas futuras > 1009
Revista espírita, jornal de estudos psicológicos — 1867 > Agosto > Jean Ryzak, a força do remorso

LEIS NATURAIS, CONSCIÊNCIA, MORAL E SENSO MORAL 18


O Céu e o Inferno ou a justiça divina segundo o Espiritismo > Segunda parte — Exemplos > Capítulo VII —
Espíritos endurecidos > Lapommeray
O Céu e o Inferno ou a justiça divina segundo o Espiritismo > Segunda parte — Exemplos > Capítulo VII —
Espíritos endurecidos > Angèle — Nulidade sobre a terra
Revista espírita, jornal de estudos psicológicos — 1860 > Novembro > Palestras familiares de além-túmulo
— Baltazar, o Espírito gastrônomo
Revista espírita, jornal de estudos psicológicos — 1864 > Novembro > Um criminoso arrependido (Continu-
ação)
O Céu e o Inferno ou a justiça divina segundo o Espiritismo > Segunda parte — Exemplos > Capítulo IV —
Espíritos sofredores > Claire

ROTEIRISTAS
Rui Gomes Carneiro, Engenheiro Agrônomo pela ESALQ, USP, Mestre em Agronomia pela Uni-
versidade Federal de Viçosa, Doutor em Agronomia pela USP. Pesquisador aposentado do Insti-
tuto de Desenvolvimento Rural do Paraná — IAPAR-EMATER. Presidente da Casa Espírita Fabia-
no de Cristo, em Londrina. Participante do IDEAK.
Solange Monteiro de Toledo Piza Gomes Carneiro, Engenheira Agrônoma pela ESALQ, USP,
Mestre e Doutora em Agronomia pela USP. Pesquisadora do Instituto de Desenvolvimento Ru-
ral do Paraná — IAPAR-EMATER. Secretária da Casa Espírita Fabiano de Cristo, em Londrina.
Participante do IDEAK.

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