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22/08/2018 O Cristão e a Lei - Gordon Haddon Clark

O Cristão e a Lei
por

Gordon Haddon Clark

Não somente as denominações diferem em suas interpretações de várias


doutrinas bíblicas, mas dentro de cada denominação os membros
individuais também têm suas peculiaridades pessoais. Portanto, quando os
ministros se reúnem para um seminário tranqüilo ou quando os estudantes
universitários se ajuntam para uma discussão em grupo amigável, e surge
uma doutrina bíblica, a discussão está destinada a se tornar interessante.

Nos dois anos passados dois de tais encontros aconteceram; um formado


quase que exclusivamente de ministros e professores, o outro quase que
exclusivamente de estudantes. Pode ser que não seja tão surpreendente
que o assunto da direção divina e da conduta correta foi levantado em
ambos encontros, mas é digno de nota que no primeiro encontro um
ministro, de uma denominação litúrgica bastante formal, e no segundo
encontro alguns estudantes, de grupos muito mais informais, expressaram
sentimentos similares sobre a relação do cristão para com a lei de Deus.
Pode ser digno de nota também que poucos dos ministros concordam com o
ministro, enquanto a maioria dos estudantes concordaram com o
estudante.

Os sentimentos aos quais se faziam referência enfatizavam a salvação pela


graça e a proximidade de Deus da alma humana; mas esta ênfase chegava
até ao ponto de negar que os mandamentos de Deus, os quis, certamente,
são lei, tivessem para a vida cristã. Não estamos debaixo da lei, mas
debaixo da graça, diziam; e tendo começado no Espírito, somos agora
aperfeiçoados na carne? A lei não é da fé. Quando estávamos na carne, as
paixões pecaminosas, que eram através da lei, faziam com que nossos
membros produzissem fruto para morte; mas agora temos sido libertos da
lei, para que sirvamos em novidade de espírito e não na antigüidade da
letra. Pois a letra mata, mas o Espírito dá vida.

O oposto deste repúdio da lei é que nossas decisões diárias devem ser
dirigidas imediatamente pelo Espírito. O novo nascimento nos deu uma
nova natureza, e nesta nova natureza o Espírito nos instrui o que fazer.O
Senhor nos guiará com a Sua vista, e nem a lei do Antigo Testamento, nem
os mandamentos do Novo Testamento, nos impõe qualquer obrigação. Nem
são eles pré‑requisitos para a salvação, nem orientação para a vida. Esta
era, basicamente, e sem exagero, a posição mantida.

Em mais de uma ocasião e em mais de um tema, homens devotos têm


expressado opiniões das quais outros têm derivado posteriormente
conclusões penosas. Eu conheço um homem que tomou tal visão da direção
divina tão seriamente que uma tarde ele permaneceu por uma hora em seu
galinheiro esperando que o Espírito lhe dissesse se tinha ou não que
alimentar as galinhas. Tenho escutado rumores de pessoas que oram
pedindo direção se devem ou não desobedecer algum mandamento bíblico.
Nas épocas anteriores da história da igreja (e.g., os primeiros gnósticos)
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um repúdio da lei que leva à pecado grosseiro. Alguns têm caracterizado


este antinomismo por meio de uma paródia de um hino evangélico: “Livre
da lei, ó bendita condição; eu posso pecar o quanto quiser e ainda ter
remissão”.

Tal conclusão não era intenção do ministro e dos estudantes acima


mencionados; mas ainda que se achasse longe de sua intenção, cada um de
nós deve determinar se esta visão da lei e da direção divina conduz ou não,
de maneira lógica, ao que é absurdo e pecaminoso. Cada um de nós deve
também determinar que significado os Dez Mandamentos e os vários
mandamentos e diretrizes do Novo Testamento têm para nós.

Talvez um ponto de acordo geral do qual podemos começar é o ensino


bíblico de que Cristo nos salva não somente da penalidade da lei, mas do
próprio pecado. “Ele morreu para que pudéssemos ser perdoados; Ele
morreu para nos fazer bons”. Ou, em linguagem escriturística,
“Permaneceremos no pecado, para que a graça seja mais abundante?”
“Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal”. “Porque somos
feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras”.

Se houve acordo sobre isto, se todos admitimos que já não devemos ser
servos do pecado, mas que devemos apresentar nossos membros como
instrumentos de justiça para Deus, a seguinte pergunta lógica é: O que é
pecado? O que são boas obras? O que é justiça? Queremos fazer boas obras?
Desejamos evitar as más obras; mas, como podemos diferenciar entre elas?

É necessário que não haja conjecturas vagas quanto às respostas a estas


perguntas. A Escritura fala de forma mui definitiva. A Escritura diz
precisamente o que é o pecado. “O pecado é a transgressão da lei” (1 João
3:4) “Onde não há lei também não há transgressão” (Romanos 4:15). “Pela
lei vem o conhecimento do pecado” (Romanos 3:20). Deveria ser claro,
então, que o pecado é sempre definido pela lei. A menos que alguém
comece com a lei de Deus, não pode saber o que é errôneo, mal ou
pecaminoso.

É errado adorar Maria e de ajoelhar diante dos anjos? É errado pegar


mercadorias de uma loja de bugigangas? É errado trabalhar no Dia do
Senhor? Não precisamos ficar num galinheiro esperando uma resposta para
estas perguntas. A direção divina é uma coisa maravilhosa, mas mais
maravilhoso é o fato de que Deus já nos deu Sua direção em sentenças
facilmente compreensíveis.

O contrário também é certo. Se o pecado é o que a lei de Deus proíbe, as


boas obras são aquelas que a lei ordena. Não é necessário conjecturas. As
Escrituras dizem com exatidão o que são as boas obras. As boas obras são
unicamente aquelas que Deus ordenou em Sua Santa Palavra, e não
aquelas que carecem de uma justificação bíblica, que são concebidas por
homens a partir de um zelo cego ou por qualquer pretensão de boas
intenções. Aqueles que adoram a Deus de maneira vã, ensinando como
sendo doutrinas os mandamentos de homens, podem ter um certo zelo,
mas não segundo o conhecimento. “Ele tem te mostrado, ó homem, o que
é bom”. Portanto, deveria ser evidente que o bem e o mal são definidos
unicamente pela lei de Deus.

Esta conclusão é reforçada pela severidade com a qual Deus impõe a


obediência. “Este é o caminho, andai nele, sem vos desviardes nem para a
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direita nem para a esquerda”. “E não te desviarás de todas as palavras que


hoje te ordeno, nem para a direita nem para a esquerda”. Não se deveria
pensar que estes princípios do Antigo Testamento não se aplicam a nós,
nem deveria alguém supor que tudo isto é inconsistente com a graça. A
salvação é a doutrina do Antigo Testamento: Paulo a tomou de Habacuque.
A regeneração, da qual Nicodemus deveria ter conhecimento, é explicada
em Ezequiel 36. Portanto, se a graça e a lei não são incompatíveis no
Antigo Testamento, a priori, não há uma razão pela qual elas devam ser no
Novo Testamento.

Contudo, para deixar duplamente certo e não confiar unicamente no


Antigo Testamento, algumas passagens do Novo Testamento podem ser
aduzidas. Jesus disse: “Se me amardes, guardareis os meus
mandamentos”. E mais adiante: “Aquele que diz: Eu conheço‑o e não
guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade...E
aquele que guarda os seus mandamentos nele está, e ele nele...Nisto
conhecemos que amamos os filhos de Deus: quando amamos a Deus e
guardamos os seus mandamentos. Porque esta é a caridade de Deus: que
guardemos os seus mandamentos”.

Tais declarações específicas deveriam ser aceitas como decisivas.

Há um ponto final que deve ser feito. Alguém pode agora admitir que
estamos debaixo da obrigação de obedecer aos mandamentos de Deus,
porém pode argumentar que em adição à Bíblia, necessitamos de uma
direção adicional. A Bíblia está correta em tudo quanto diz, mas a vida
cristã é mais ampla do que a Bíblia; nos deparamos com situações que os
mandamentos da Bíblia não cobrem, de modo que devemos buscar a Deus
solicitando informação adicional sobre o que fazer. Depois de tudo, há
algum dano em se adicionar algo à Bíblia, desde que não subtraiamos nada
dela?

Contudo, este tipo de argumento contradiz a declaração expressa da


Escritura, e portanto, desonra a Deus. Sem dúvida estamos familiarizados
com a frase: “Toda Escritura é dada por inspiração de Deus”, mas temos
lido cuidadosamente o que se segue? Certamente, a Escritura é proveitosa
para a doutrina, e para a instrução na justiça; mas com que propósito?
Note o verso seguinte: “para que o homem de Deus seja perfeito [ou,
aperfeiçoado] e perfeitamente instruído [completamente instruído, ou
equipado] para toda boa obra [para cada boa obra] ”. A declaração é
abrangente: ela inclui cada boa obra. Não há boa obra para a qual a
Escritura não nos prepare perfeitamente. É a lei de Deus declarada nas
Escritura que define o pecado e as boas obras.

Deus nos tem dado toda a direção que necessitamos. Não precisamos da
tradição Católica Romana; não precisamos de visões místicas; não
precisamos de revelações adicionais. Mas precisamos, e precisamos
urgentemente, de uma grande quantidade de estudo da Bíblia. Na Bíblia,
se somente na Bíblia, encontramos as normas para a vida.

P.S. Se você tem galinhas, um cavalo, ou um cachorro de estimação, leia


Êxodo 20:10; 23:5, 12; Deuteronômio 25:4; Provérbios 12:10; Mateus
12:11; e alimente‑os.

Reimpresso por permissão da revista HIS, publicação estudantil da Inter‑


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Varsity Christian Fellowship. Copyright 1957

Março 1979

Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto


Cuiabá‑MT, 09 de Junho de 2005.

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Este site da web é uma realização de


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