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Plinio Corrêa de Oliveira

Ação de Graças

São Paulo – Abril/2011

Sumário
Uma ação de graças por meio de Maria .................................................. 1
Nosso Senhor, Maria e nós, na Sagrada Comunhão .............................. 2
Adoração e agradecimento ...................................................................... 2
Ardorosa reparação ................................................................................. 3
Petições repassadas de zelo ................................................................... 3
Pelos amigos e também pelos inimigos ................................................... 4
Caminho para a devoção eucarística....................................................... 5
Mane nobiscum, Domine .......................................................................... 5
Ação de graças por meio de Maria .......................................................... 5
Servir-se das moções espirituais na preparação para a Comunhão ....... 6
Aridez e consolação: benefícios distintos, porém, eficazes! .................... 7
Aproveitando as perspectivas angustiosas... ........................................... 8
Desenvolver a ação de graças em função das necessidades diárias...... 9

Uma ação de graças por meio de Maria


A melhor maneira de reverenciar, louvar e pedir graças a Jesus
enquanto Este se encontra presente em nosso interior, após a Sagrada
Comunhão, é fazê-lo por meio de Maria. “Um Rei entra em nossa casa —
diz Dr. Plinio — e temos algo em comum com Ele: a mesma Mãe!”

Segundo uma prática piedosa mais que recomendável, quando


recebemos Nosso Senhor eucarístico — cuja presença dentro de nós se
estenderá por algum tempo — convém nos dirigirmos a Jesus pelas
mãos de Maria Santíssima, Mãe d’Ele e nossa, cogitando, por exemplo,
no seguinte:
“Sinto em meu interior algo que me diz: ‘Deus está aqui’, e duas
impressões se apoderam de meu espírito. Primeiro, a de ser um sacrário
no qual se acha Aquele que eu julgava inatingível. Oh! honra! Oh!
maravilha! Mas, em segundo lugar, a noção de que eu conheço esse
sacrário... Lembro-me de quantas vezes fui infiel e dos defeitos com os
quais convive minha pobre alma. E este homem ingrato, ser tabernáculo
d’Aquele que é infinitamente santo, perfeito, meu Senhor, meu Criador!
Eu não existia e Ele me tirou do nada, deu-me a vida. Ecce enim in
peccato concepit me mater mea (cf. Sl 50, 7) — eis que no pecado me
concebeu minha mãe, devem dizer todos os homens, filhos de Adão e
Eva, porque nasceram com o pecado original, raiz de nossas faltas
pessoais. Não sou digno de recebê-Lo! Preciso ter uma ponte com esse
Rei que entrou em minha casa. Há algo em comum entre Ele e eu: temos
a mesma Mãe!”

Nosso Senhor, Maria e nós, na Sagrada Comunhão


Ela é a mais perfeita das meras criaturas, ornada de todos os dons
necessários para ser a Mãe do Verbo Encarnado. Concebida imaculada,
Virgem antes, durante e depois do parto, em todos os instantes de sua
vida não cessou de corresponder à graça de Deus, atingindo uma
insondável elevação de virtude, até o momento bendito em que o
Redentor resolveu colhê-La da Terra e levá-La para o Céu.
Ora, essa excelsa criatura é também nossa Mãe, e a verdadeira mãe
nutre ternuras e compaixão até pelo filho mais esfarrapado, torto e
desarranjado que seja. Então devemos nos voltar a Ela e dizer: “Minha
Mãe, aqui está Plinio. Como sempre o fizestes, mais uma vez tende pena
de mim. Nunca recebemos uma graça que não seja a vosso rogo. Se
estou comungando a Ele, é porque Vós me obtivestes de seu Filho esta
dádiva, pedistes a Ele que entrasse numa cabana tão indigna chamada
Plinio. Purificai-a, ordenai-a, enfeitai-a para que seja do agrado d’Ele.”
Nossa Senhora ornando minha alma, o Rei do Céu e da Terra olhará
para mim com satisfação, e dirá: “Aqui me encontro com gosto, porque
minha Mãe querida está ordenando sua alma”.

Adoração e agradecimento
Ao ser objeto de mais essa bondade, minha primeira atitude deve ser
de adoração. Ou seja, depois de reconhecer minha pequenez e
indignidade insondáveis, devo reconhecer também a infinita perfeição de
Nosso Senhor. E estando a Santíssima Virgem — espiritual e não
realmente — presente em mim, não tenho receio e Lhe digo: “Minha
Mãe, fazei com que eu voe para Deus!”
Sorrindo, com muito afeto, Nosso Senhor fala no meu íntimo: “Tu és
um filho amado por Maria, minha Mãe. Ela quis que Eu aqui viesse.
Pede-me o que quiseres”. Digo-Lhe, então: “Senhor, antes de pedir, eu
Vos agradeço tanta bondade e misericórdia”. Em seguida, dirigindo-me a
Nossa Senhora: “Mãe e Rainha do Céu, agradecei por mim, porque a
minha ação de graças é insuficiente.”

Ardorosa reparação
E sempre por meio de Maria, acrescento: “Senhor Jesus, sei que
pequei e preciso Vos pedir perdão de minhas faltas. O mundo inteiro
peca contra Vós, Senhor. Sois a própria bondade e tão clemente para
comigo, como posso, a menos que seja irremediavelmente vil, não me
indignar diante de tantas ofensas de que sois alvo?
“Contristam-me, Senhor, os pecados cometidos por mim e pelos
outros contra Vós. Perdão, Senhor! Cordeiro de Deus que tirais os
pecados do mundo, tende compaixão de nós. Senhor, podeis tornar
limpo quem é asqueroso, desde que este corresponda à graça. Mais uma
vez, tende compaixão do mundo, e de mim, pelos rogos de Maria!
E se houver pessoas que continuem infiéis, aceitai como reparação
minha atitude indignada. Sabeis — pois vosso olhar penetra até o fundo
de nossas almas — que eu gostaria de estar em todos os lugares do
mundo ao mesmo tempo, censurando os impenitentes e combatendo o
mal com a força de invectiva que Vós me concederíeis.
“Não me é dado estar em toda parte, porém aceitai esse desejo que
vossa graça infunde no meu coração, e não pode ser inútil. Fazei,
Senhor, que em todos os lugares onde sois ofendido, minha alma de
certa forma ali esteja, admoestando e fazendo recuar os fautores do mal.
“Terminada essa prece, começarei a laborar no apostolado ao qual
me destinastes: acolho um, falo com outro, sorrio para um terceiro, tomo
uma deliberação, atendo um telefonema, leio uma revista, um jornal, um
livro. Rezo. Tomai, Senhor, cada uma dessas ações como se eu as
estivesse praticando no mundo inteiro, junto a todas as almas, diante de
todos os sacrários da Terra, suplicando-Vos graças para todos os
homens, falando no interior de cada um deles.”

Petições repassadas de zelo


Como nos ensina a Santa Igreja, os atos de piedade são: adoração,
ação de graças, reparação e petição. Assim, depois de oferecermos a
Nosso Senhor os três primeiros, vem o momento de Lhe apresentarmos
nossas súplicas, dirigidas a Ele pelas mãos da Virgem Santíssima.
“Devo, Senhor, pedir coisas para mim, para aqueles a quem estimo e
até pelos que não conheço. Antes de tudo, rogo-Vos que em todo cargo
da Sagrada Hierarquia eclesiástica — desde o sólio de São Pedro até
uma simples paróquia — haja fervorosos apóstolos de Maria, ardorosos
escravos d’Ela segundo o método de São Luís Grignion de Montfort, em
toda a força do termo.”
É o intenso desejo do Reino de Maria que surge no fundo de nossas
almas. Com efeito, além das necessidades da Igreja, nos é dado
conhecer as da sociedade temporal. Amamos todas as nações da Terra,
e quereríamos que Nossa Senhora as fizesse florescer, no maior
esplendor de sua piedade, para dar glória a Ela e a seu Divino Filho,
numa nova e mais luminosa Cristandade. Poderíamos compor uma
ladainha enumerando todos os países e, a propósito de cada um,
suplicar graças específicas.
“Senhora, Vós pusestes em minha alma tanto amor por tal nação;
tornai-a inteiramente vossa. E tais povos, raças, culturas, civilizações... Ó
minha Mãe, intercedei por tudo isso junto a Deus, e obtende que
desabrochem no vosso Reino, para a glória de Cristo Senhor nosso!”
Temos também obrigações especiais para com os que nos são mais
próximos. Ou seja, em certo sentido, nossos irmãos de vocação,
sobretudo pelos que nos mantêm, pelo seu exemplo e seu impulso, nos
caminhos da Santa Igreja. Com não menos solicitude devemos rezar por
aqueles que nos parecem em dificuldades na vida espiritual: “Minha Mãe,
notei, pela fisionomia, que tal filho vosso se acha muito provado.
Socorrei-o! Outro vai bem, mas precisa melhorar. Ajudai-o!
“Agradou-me ver um terceiro progredindo; minha Mãe, não permitais
que ele esmoreça na virtude!”
Como se nota, quase que instintivamente nos dirigimos a Nossa
Senhora, embora estejamos fazendo uma ação de graças após
comungar o Corpo e o Sangue de Jesus. Compreende-se, pois é por
meio d’Ela que nossas preces chegam mais segura e rapidamente ao
Altíssimo.
Rezemos, em seguida, pelos nossos mais chegados quanto ao
vínculo de sangue; aqueles dos quais nascemos, nossos irmãos segundo
a carne, nossos familiares. Devemos querê-los segundo o amor de Deus
e, portanto, ter para com eles, ao mesmo tempo, todo o afeto e o
desapego preceituados pelos mandamentos da Lei divina. Peçamos que
eles amem a Deus acima de todas as coisas, e nos queiram a nós
também por amor ao Criador. Assim, pelas mãos de Maria Santíssima,
estaremos rezando pelo bem da alma deles, e este é o maior tesouro
que podemos lhes oferecer.

Pelos amigos e também pelos inimigos


Rezaremos pelos nossos amigos, mais próximos ou distantes, nas
mesmas intenções. E, por fim, uma prece por aqueles que porventura
alimentem injusta hostilidade em relação a nós; desejando que a
clemência e a misericórdia infinitas de Nosso Senhor toquem os seus
corações e os conduzam ao arrependimento e proporcionada penitência.
Para estes, poderíamos dizer a Nossa Senhora: “Minha Mãe, na
medida de vossa compaixão, rogai a Deus que não os castigue nem
nesta vida nem na outra; sobretudo, o que Vos peço é que os salveis,
pela glória da Igreja. Dai-lhes tudo o que de Vós os aproximam e tirai-
lhes tudo o que de Vós os afastam.”
Deste modo terão passado os minutos do convívio com Jesus
Eucarístico em nosso interior, e estará feita nossa ação de graças pelas
mãos de Maria Santíssima. (RDP 99, 24)
Caminho para a devoção eucarística
O devoto da Santíssima Virgem encontrará no Coração de Maria o
próprio Coração de Jesus, naquilo que este Coração tem de mais
amoroso, mais terno e mais compassivo. Ora, onde mais se manifestam
as finezas do Coração de Jesus é na Sagrada Eucaristia.
Assim, a devoção a Nossa Senhora leva natural e espontaneamente
à devoção eucarística. E é aí — neste culto à Eucaristia, que só pode ser
plenamente fervoroso com o culto mariano, pelo culto mariano e no culto
mariano — que os católicos encontrarão o alimento de sua vida
espiritual. (RDP 99, 36).

Mane nobiscum, Domine


A Sagrada Eucaristia constituiu um dos principais pilares da
espiritualidade de Dr. Plinio. Inaugurando a seção “Ardoroso devoto da
Eucaristia”, procuraremos dar a lume o amor que transbordava de sua
alma: “A boca fala do que transborda o coração!” No presente artigo, Dr.
Plinio nos ensina a bem nos prepararmos para a Sagrada Comunhão.
Para compreender a variedade de métodos e modos que há para realizar
a ação de graças e a preparação para a Comunhão, é necessário
compreender o modo pelo qual a graça trabalha as almas.
O Apóstolo São Paulo afirma que stella differt Stella (I Cor 15, 41) — uma
estrela é diferente da outra. Desta forma, não existem dois santos iguais,
pois cada qual tem sua vida espiritual própria, com características
inconfundíveis.
E, como não pode deixar de ser, a graça guia cada alma no caminho da
virtude de acordo com seus desígnios, proporcionando atrativos, ou
também aversões, que modelam o espírito e indicam o itinerário que a
alma deve seguir.
Portanto, não se pode dizer que um método de preparação para a
Comunhão é igualmente válido a todas as almas.
Entretanto, São Luís Maria Grignion de Montfort possui um ponto de
vista marial para a Comunhão, onde ele coloca Nossa Senhora como
mediadora entre Deus e quem recebe a Eucaristia. Isto sim é valido para
todos os católicos, em todos os tempos e lugares. Sendo a variedade de
métodos imensa, descreverei, então, um que possa ser benéfico a todos.

Ação de graças por meio de Maria

Sendo Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, Maria Santíssima é


perfeita. Ele A criou com tudo quanto Ela deveria possuir para ser sua
Mãe. Concebida sem pecado original desde o primeiro instante de seu
ser; Virgem antes, durante e depois do parto, de tal forma perfeita, que
em todos os instantes de sua vida nunca deixou de corresponder
inteiramente à graça de Deus, estava numa altura inimaginável de virtude
quando chegou o momento bendito em que Deus resolveu colhê-La da
Terra para o Céu!
Nossa Senhora é também Mãe de todos nós, e a Mãe tem sempre
pena do filho mais esfarrapado, mais torto e mais desarranjado. Quanto
pior o filho, mais Ela se compadece.
Devemos, pois, ao receber a Eucaristia, nos colocar na presença
d’Ela como filhos necessitados, implorando que Ela tenha pena de nós.
Naturalmente, Ela sempre se compadecerá em relação aos seus filhos. E
quando o Divino Filho d’Ela vier a nós na Comunhão, será por sua
intercessão.
Contudo, o pedido feito por Maria a seu Divino Filho, é que Ele entre
na “cabana” que é a alma de cada um de nós. Mas essa “cabana” pode
ser ordenada e enfeitada por Nossa Senhora, para que esteja agradável
a Ele. E, como a intercessora é a própria Mãe d’Ele, Nosso Senhor se
sentirá comprazido.
Por isso devemos pedir que Nossa Senhora esteja espiritualmente
presente em nossa comunhão a fim de que preencha, de algum modo, o
infinito espaço que nos separa de seu Divino Filho, o qual nos acolherá
satisfeito por havermos recorrido à sua Mãe. Ele então nos dirá: “Tu és
um filho de Maria, minha Mãe; pede-me o que queres.” Ao que devemos
responder: “Senhor, antes de pedir, eu Vos agradeço! Quanta bondade,
quanta misericórdia! Mas, como agradecer-Vos suficientemente? Suplico,
pois, à Vossa Mãe — que também é minha — que agradeça por mim.”

Servir-se das moções espirituais na preparação para a


Comunhão

Ao nos prepararmos para a Sagrada Comunhão, devemos também


rememorar alguns momentos do dia que tivemos, como também as
perspectivas do dia que ainda teremos diante de nós. Não me refiro aos
problemas corriqueiros, mas sim, aos de nossa vida espiritual.
Supondo que se faça uma Comunhão vespertina, devo me perguntar
como foi meu dia em matéria de vida espiritual: o que necessito, o que
desejo, desejo, o que mais profundamente tocou
minha alma e o que a atraiu mais durante o dia. Isto mais facilmente
nos estimulará a um ato de amor, de louvor e de reparação mais
perfeitos.
Caso haja um pensamento que considere ser mais fecundo para
minha alma, é louvável concentrar nele minha atenção. Muitas vezes
esses pensamentos correspondem a um atrativo especial da graça à
alma.
Podemos também apanhar uma invocação de alguma ladainha que
tenha tocado mais especialmente, por exemplo, a do Sagrado Coração
de Jesus, e meditar sobre ela. Este é um modo muito vivo — e para
muitas etapas da vida espiritual, excelente — de nos preparar bem. Uma
das invocações muito bonitas nesse sentido é: “Coração Eucarístico de
Jesus”. Meditando nesta jaculatória, adoramos Nosso Senhor enquanto
tendo o desejo de instituir a Eucaristia, movido por aquele amor especial
que Ele demonstrou na última ceia: “Desejei ardentemente comer
convosco esta ceia.”
O Coração Eucarístico de Jesus, transbordante de misericórdia, vem
a nós na Comunhão; peçamos então que o Imaculado Coração de Maria
nos prepare para bem recebê-Lo, a fim de que na Sagrada Eucaristia
recebamos especialmente as graças que dizem respeito ao cumprimento
de nosso chamado individual.
Este é um modo bonito e lícito de variar as ações de graças e as
preparações para a Comunhão, quase ao infinito, de acordo com a
inclinação e as aspirações da alma.

Aridez e consolação: benefícios distintos, porém, eficazes!


Haverá também ocasiões onde nossas Comunhões — segundo a
linguagem muito adequada da piedade católica — serão áridas. Assim
como a terra árida não produz fruto, temos, muitas vezes, a impressão
da aridez em nossa alma: comungamos e não sentimos nada.
Reza-se e pede-se, mas tem-se a sensação de que nossas súplicas
foram meros termos piedosos sem nenhuma profundidade.
Nessa situação, qual o valor de aproximar-se do sacramento da
Eucaristia? A pergunta que parece ser tão razoável, quando bem
analisada mostra-se infantil.
Seria como a pergunta de uma pessoa que toma um remédio
cientificamente certo de produzir um bem incalculável. Após a ingestão, e
nos dez minutos que se seguem, não se sente melhora alguma. Neste
caso, diríamos que tal medicina é ineficaz? Claro que não: seus efeitos
se prolongarão no decurso dos dias, e até dos anos. Só então sentir-se-á
a melhora desejada.
Algo parecido dá-se, sem dúvida, com a Sagrada Comunhão. Muitas
vezes comungamos, mas a ação de graças é árida; abrimos um livro de
piedade, mas o livro não nos inspira nada; temos impressão de que não
adiantou rezar. Ora, Deus visitou minha alma, mas a presença d’Ele foi
inútil? Aquele que é Todo-Poderoso, Criador do Céu e da Terra, de todas
as maravilhas, esteve presente em mim, e não me fez um bem sequer?
Devemos ter presente que, não raras vezes, a Comunhão inteiramente
árida traz, em si, mais vantagens para a alma do que aquela que nos dá
consolações inúmeras. Isto porque Nossa Senhora e Nosso Senhor
querem, como homenagem, que peçamos ainda quando não
percebemos como nossa oração Lhes é grata. Ou seja, Ele não desejou
que este contato fosse sensível, para que minha Fé crescesse. Pois
muitas vezes Ele nos prova a fim de verificar se somos daquela espécie
de almas que só creem quando sentem: “Tomé, tu creste porque viste;
bem-aventurados os que não viram, mas creram!”
São Francisco de Sales, exímio nas comparações encantadoras, tem
um magnífico exemplo: Dois cantores apresentam-se sucessivamente ao
rei. Um deles é normalmente constituído em sua natureza física, e,
enquanto canta, vê a fisionomia de encantamento do rei ao ouvi-lo. Ele
ouve sua própria voz, nota como ela é bela, compreende como o rei se
deleita com seu cântico, e, enfim, contenta-se em ver o rei comprazido.
Este homem possui duas alegrias: de ver o encanto do rei, e de ouvir a
sua própria voz. O outro cantor, por sua vez, é cego e surdo! Ele não vê
o rei, contudo sabe que o rei está lá; não ouve sua própria voz, mas diz
ao rei: “Senhor, eu estou aqui por obediência. Na minha ‘noite’, eu não
vejo onde estais; na minha surdez, não ouço minha voz; mas para fazer
a vossa vontade eu cantarei, encantado de saber que minha voz também
vos agradou!”
Qual dos dois músicos dá maior prova de amor ao rei? Pois bem,
muitas de nossas Comunhões são as do “cego e do surdo”. Não vemos,
nem sequer sentimos a presença de Nosso Senhor em nós. Não
percebemos como é bela a nossa súplica, nem como Ele se encanta com
ela. Mas, pela Fé, cremos que estamos em estado de graça, e que Ele
se alegra de estar em nós, ao ponto de dizer: “Minhas delícias consistem
em estar com os filhos dos homens.”
Ele estará realmente presente em mim, embora na aridez. Nestas
horas, será de grande benefício lembrarmo-nos disso.

Aproveitando as perspectivas angustiosas...


Quando o meu dia não tenha contribuído para a sensibilidade
eucarística, mas, pelo contrário, tenha sido um dia de luta, o qual deixa
prever que o dia seguinte será angustioso, é louvável fazer que minha
Comunhão centre-se nessa dificuldade, dizendo: “Senhor, em vossa
agonia no Horto, quando suastes sangue, Vós fizestes a seguinte
oração: ‘Pai, se for possível, afaste-se de mim esse cálice, mas faça-se a
vossa vontade e não a minha’; Senhor, eu temo o que vai me suceder, e
estremeço de terror diante de uma hipótese que me gela até os ossos.
Peço-Vos, através de vossa Mãe Santíssima, que afasteis de mim essa
provação, mas, se essa não for a vossa vontade, faça-se a vossa e não a
minha. E Vos peço que isso concorra para o bem de minha alma.”
Podemos rezar repetidas vezes nesse sentido, no momento em que se
recebe a Eucaristia: “Senhor, Vós estais presente em minha alma, com
inteira intimidade. E não pode haver intimidade maior que a vossa,
quando, através da Sagrada Comunhão, Vos fazeis presente numa alma.
Neste momento de dificuldade, Vos peço que ouçais o brado de angústia
vindo de minha alma. Quantos Salmos inspirados por Vós foram também
brados de angústia! Aqui está também o meu: Tende pena de mim, e
atendei-me.”
Desenvolver a ação de graças em função das necessidades
diárias

Muitas vezes, para bem nos prepararmos para o divino encontro


com Jesus na Eucaristia, bastará nos lembrarmos de algo que lemos em
algum livro de piedade, que nos marcou profundamente, ou então de
alguma graça que recebemos no decorrer do dia.
Às vezes, algum aspecto novo de Nossa Senhora nos impressiona.
Neste caso, nossa preparação poderá ser: “Nossa Senhora é Mãe de
Nosso Senhor; Ele concedeu a Ela tal privilégio que eu não conhecia.
Vou pedir a Ela que me obtenha na Sagrada Eucaristia tal favor que
necessito.” A propósito de qualquer movimento de piedade durante o dia,
pode-se articular a Comunhão e depois a ação de graças. Caso
tenhamos um dia de grande alegria, e essa alegria tenha sido um sinal
manifesto da bondade de Nossa Senhora e de Deus Nosso Senhor para
conosco, podemos fazer a ação de graças tomando em consideração
esta graça recebida.
Quem recebe uma manifestação da bondade de Deus, deve
contemplá-Lo como Ele se mostra: sorridente, afável, manifestando afeto
e desejo de proteger-me. Neste caso, quando recebê-Lo, devo adorar
n’Ele a bondade, o amor especial que Ele me tem, o encorajamento que
Ele quis me dar em meu apostolado ou em minha vida interior.
Ubi Spiritus, ibi libertas, onde está o Espírito Santo, aí sopra a
liberdade. Enfim, há uma tal variedade de movimentações das almas,
que é impossível descrever todos os métodos que cabem para alguém
fazer a Sagrada Comunhão. Aqui ficam, entretanto, algumas sugestões.
(Extraído de conferências de 28/3/1967 e 4/2/1984) RDP 143, pgs.
16 a 19

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