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Apesar dos nossos defeitos, o Senhor espera-nos em Belém.

Limpeza para recebê-lo


na Comunhão eucarística.
1° de dezembro de 1981

Acaba de começar o Advento e, uma vez mais, a Santa Igreja mostra-nos na liturgia o modo
de percorrer com fruto estas semanas que precedem a Natividade do Senhor.
Ó Deus todo-poderoso, concedei a vossos fiéis o ardente desejo de possuir o reino celeste,
para que, acorrendo com as nossas boas obras ao encontro do Cristo que vem, sejamos
reunidos à sua direita na comunidade dos justos.
Ao longo destes dias, voltaremos a escutar as vozes dos Profetas que, há séculos,
anunciaram a vinda do Redentor.
Reviveremos com alegria a expectativa e a esperança de todos os justos da antiga Lei, a fé
dos que presenciaram mais de perto tão grande acontecimento - São José, João Batista,
Isabel, Zacarias - e, de modo especialíssimo e único, a humildade, a fé e o amor de Maria,
que com a sua entrega tornou possível a Encarnação do Filho de Deus.
Minhas filhas e meus filhos, vamos ao encontro do Redentor do mundo. Ponhamo-nos a
caminho mais uma vez, com renovado amor nos nossos corações, com luz nova nos
nossos olhos, com mais vigor nas nossas almas, fortalecidas com o alimento diário da
Sagrada Eucaristia.
Lancemos fora os fardos - as nossas pequenas concessões ao comodismo, ao egoísmo, ao
amor-próprio - que talvez tornem menos leve o nosso passo e retardam a nossa ida para
Deus. Com a ajuda do Espírito Santo, podemos!
Devemos fazê-lo com a intercessão da nossa doce Mãe
Maria, que do Céu nos traz, neste Advento, uma nova graça para renovarmos a nossa
entrega a fundo.
O convite de olhar para a Virgem Maria, de ponderar na nossa oração os sentimentos de
que transbordava o seu coração, de procurar imitá-la constantemente é uma recomendação
do Magistério da Igreja que se reveste de uma atualidade particular nestas semanas. A
atitude e as respostas de Maria Santíssima - já antes do anúncio do Arcanjo e,
principalmente, durante os meses transcorridos entre a Encarnação e o Nascimento do
Salvador - são a melhor escola para que nós, os cristãos, nos preparemos para o
nascimento espiritual de Cristo nas nossas almas, que Deus deseja renovar em cada Natal.
Demos graças por este dom infinito à Santíssima Trindade, e também agradeçamos ao
nosso Padre pela sua fiel e heroica correspondência, com a qual nos ajudou a descobrir a
felicidade incomparável - até mesmo do ponto de vista humano - de deixarmos Cristo
nascer nas nossas vidas, de pertencermos tão intimamente à Família de Nazaré.
Neste Advento, oxalá o Senhor nos conceda - assim o peço, cheio de confiança - encarnar
de tal forma o espírito da sua Mãe Santíssima que se cumpra em nós aquela afirmação de
um Padre da Igreja, que o nosso Fundador considerou muitas vezes, com tanta alegria:
«Que a alma de Maria esteja em cada um de vós para louvarmos o Senhor; que o espírito
de Maria esteja em cada um de vós para vos alegrarmos em Deus. Segundo a carne, uma
só é a Mãe de Cristo; segundo a fé, Cristo é fruto de todos nós»'.
A solenidade da Imaculada Conceição, que celebraremos no dia 8 de dezembro, é outro
esplêndido pórtico do Advento. Detenhamo-nos a considerar a figura puríssima de Nossa
Senhora, concebida sem mancha de pecado original em atenção aos méritos de Cristo,
cheia de todas as graças e virtudes. Para ajudar-nos a fazer propósitos eficazes, o nosso
Fundador nos convidava a examinar a nossa consciência. «É assim que Jesus Cristo ama a
sua Mãe», dizia há muitos anos, depois de enumerar as graças e privilégios com que a
Bondade divina enriqueceu Maria. E continuava: «E tu, como honras a Senhora? Que lhe
ofereces? Quantas jaculatórias lhe diriges ao longo do dia? Como consegues dominar as
tuas pequenas misérias, recordando que és filho de uma mãe tota pulchra, puríssima,
imaculada?»6
Dentre as principais características do tempo litúrgico em que nos encontramos, está o
convite imperioso a purificar-nos dos nossos pecados e a preparar uma morada digna para
Jesus nas nossas almas. Como o nosso Padre nos pedia nestas datas, devemos caminhar
durante a etapa do Advento «tentando construir com o coração um presépio para o nosso
Deus». Embora sejamos tão pouca coisa, o Senhor não se recusa a abrigar-se nos nossos
pobres corações se dispusermos tudo com carinho, da melhor maneira que pudermos. Há
vinte séculos, quando veio ao mundo, que comodidades encontrou em Belém?
Nasceu numa gruta paupérrima, porque não havia lugar para eles na pousada", mas
rodeado do imenso amor de Maria e de José, que limpariam e arrumariam o melhor
possível aquele estábulo para que recebesse a Deus. Mas, acima de tudo, viviam uma
vigilância amorosa que os levava a rejeitar toda imperfeição, por menor que fosse, e a
corresponder à graça com todo o seu ser, de modo que nem o mais tênue distanciamento
os separasse desse Deus que se entregava a eles feito Criança.
Embora estejamos cheios de defeitos e de misérias, Ele também não nos rejeita, se lutamos
cada dia e procuramos conservar bem limpas as nossas almas. Por isso, como é lógico, e
de modo especial nestes dias, cuidaremos da Confissão: do exame de consciência, da dor
pelas nossas ofensas, dos propósitos! E, junto com a recepção frutuosa do sacramento da
Penitência, cuidaremos da penitência generosa pelos nossos pecados e pelos do mundo
inteiro; ofereceremos ao Senhor com alegria as contrariedades e as pequenas mortificações
que a vida cotidiana traz consigo, bem como o lógico cansaço de um trabalho profissional
exigente... Minhas filhas e meus filhos, esforcemo-nos por cumprir com amor aquilo que
mais agrada a Jesus em cada instante, por meio de uma luta operativa.
Tudo isso é possível - vocês têm a mesma experiência que eu - graças às virtudes que o
próprio Deus infundiu nas nossas almas com o Batismo - a fé, a esperança e a caridade -,
que são virtudes teologais que crescem em nós especialmente mediante a recepção da
Eucaristia. Cada vinda de Jesus à nossa alma e ao nosso corpo, na Sagrada Comunhão,
significa uma nova semeadura, abundante, dessas sementes divinas destinadas a dar fruto
de vida eterna na contemplação e na alegria da Santíssima Trindade. O nosso Padre
confiou-nos aquilo que dizia a Jesus Sacramentado nos seus «delírios de amor» a Ele,
transbordando de reverência e adoração: «Bem-vindo!» E mantinha uma atitude vigilante
para crescer em finuras de amor para com esse «nosso Deus, Pérola preciosíssima, que se
digna descer até esta esterqueira que sou eu».
*Permita-me, minha filha, meu filho, que lhe pergunte: como você se prepara para receber a
Sagrada Comunhão cada dia? Seguindo os conselhos do nosso Padre, você procura ter «
limpeza nos teus sentidos, um por um; adorno nas tuas potências, uma por uma; luz em
toda a tua alma»"? Recorre à sua Mãe - à nossa Mãe - para suplicar-lhe ardentemente que
o ajude a receber o Senhor com aquela pureza, humildade e devoção com que Ela o
acolheu no seu corpo e na sua alma puríssimos?
Já na iminência do Natal, a última semana do Advento convida-nos a aprofundar nos
propósitos e desejos que preenchiam o ânimo de Nossa Senhora. As leituras evangélicas
incitam-nos a considerar a fé e a humildade de Maria, a sua pureza sem mancha, a sua
entrega absoluta e sem demoras ao Senhor, a sua rendida obediência, o seu espírito de
serviço...: virtudes que todos nós, os cristãos, devemos esforçar-nos em praticar, se de
verdade queremos que as nossas almas, tal como a de Nossa Senhora, se tornem
habitação da divindade, inundada pela luz do Espírito Santo' Meus filhos, poderíamos
passar horas e horas aprofundando nas lições que descobrimos na atitude constante da
nossa Mãe. O Santo Evangelho nos mostra como ela é rica de conteúdo divino! Mas são
cada uma e cada um de vocês, nos seus momentos de oração durante o tempo litúrgico
que agora começa, que devem - devemos - comparar a sua existência cotidiana com a de
Nossa Senhora, a fim de aprender dEla a dispor-se do melhor modo possível para o Natal.
Neste caminho que tem a sua meta em Belém, não se esqueçam de São José, nosso Pai e
Senhor. Seguindo o nosso Fundador, que tanto carinho teve e tem pelo Santo Patriarca,
aproximem-se dele, peçam-lhe que os ensine a relacionar-se com a sua Esposa Imaculada
com um amor transbordante de ternura e de respeito, de delicadeza e de confiança. Esse
homem justo"', em quem Deus se apoiou para levar a termo o seu desígnio redentor,
ensinar-nos-á a conversar com a Virgem Maria com mais intimidade; e, na companhia de
Maria e de José, chegaremos à Noite
Santa com a impaciência sobrenatural e humana de acolher o Menino Deus nos nossos
corações.
E que diremos a Jesus, quando o virmos deitado sobre as palhas do presépio?
Procuraremos «encobrir o silêncio indiferente dos que não o conhecem ou não o amam
entoando canções de Natal, essas músicas populares que crianças e adultos cantam em
todos os países de velha tradição cristã». Cada um fará essa confidência de um modo muito
pessoal, com as palavras e os afetos que saírem do seu coração; mas todos nós pediremos
pela Igreja, pelo mundo, pelas almas, com o afã ardente de que os frutos da Redenção -
que Ele trouxe em plenitude à terra há já tanto tempo - se estendam mais e mais por todo o
mundo.
No Natal, o nosso Fundador sabia introduzir-se no presépio de Belém como um
personagem mais. Por vezes, imaginava que era um pastorzinho que se aproximava de
Jesus com confiança, oferecendo-lhe um pequeno presente; outras vezes, escolhia o lugar
daquele outro que, de joelhos perante o Menino Deus, só sabe adorar; e até mesmo
ocupava o lugar da mula e do boi, que, com o seu alento, contribuíram para dar calor ao
Recém-nascido; ou o de um cãozinho fiel que fica de guarda junto do presépio... Eram as
pequenas loucuras de uma alma enamorada; e cada um de nós bem pode seguir esse
exemplo, recordando o conselho do nosso Padre: «Ao vos relacionardes com Jesus, não
sintais vergonha, não segureis o afeto. O coração é louco, e essas loucuras de amor à
maneira divina fazem-nos muito bem, porque terminam em propósitos de melhora, de
reforma, de purificação da vida pessoal. Se não fosse assim, não serviriam para nada»13.
Minhas filhas e meus filhos, que essa intimidade com o nosso Deus e nosso Rei que acaba
de nascer os ajude a intensificar as suas orações pelas minhas intenções. Peçam-lhe com
confiança que nos escute. Recorro à intercessão do nosso queridíssimo Fundador, que
tanto amou a Sagrada Família - a Trindade da terra -, para que as suas filhas e os seus
filhos no Opus Dei, as pessoas que se beneficiam do trabalho apostólico da Prelazia, os
cristãos e todos os homens de boa vontade queiram dar guarida a Cristo nas suas almas,
Aquele que vem ao nosso encontro para acolher-nos muito dentro do seu Coração, e para
apresentar-nos a Deus Pai pela ação do Espírito Santo.

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