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O Verdadeiro Conceito de Lei 1

O VERDADEIRO CONCEITO DE LEI

O LIVRO todo patenteia que o autor ignora crassamente a crença dos


Adventistas do Sétimo Dia em relação à lei. Se ele se tivesse
abalançado a conhecer a nossa doutrina no tocante ao padrão moral
estabelecido por Deus, como está expressa, por exemplo, no preâmbulo
do Year Book (Anuário) ou na nossa literatura de estudos, por certo não
teria escrito os despautérios que escreveu. Em vez de citar fontes nossas,
legítimos escritos de procedência adventista, nossa declaração de fé,
preferiu encastelar-se nas tendenciosas assertivas do inconseqüente
Canright. Resultado: caiu numa situação ridícula ou quixotesca,
investindo furiosamente contra moinhos de vento. As suas clivagens não
nos atingem, nem de leve. Açoitou no ar.
Para ele, as Dez Mandamentos são peremptos, caducos, judaicos,
abolidas formalmente por Jesus e, ipso facto, não constituem lei de Deus.
Mas para pulverizar esse conceito blasfemo, o maior teólogo batista – o
fundamentalista e credenciado A. H. Strong – classifica a lei moral de
Deus em duas partes: a lei elementar e a lei preceituada. E esta –
segundo ele – compreende o Decálogo, embora nela inclua também o
sermão do monte. (1) E também distingue as leis cerimoniais
transitórias. E diz em outra parte de seu tratado teológico que Cristo não
cravou na cruz nenhum mandamento da Decálogo." (2)
Deus não pode exigir contas de Seus filhos, no dia do juízo, senão
daquilo que foi promulgado e tornado conhecido como norma de
conduta. E tudo o que Deus requer, em matéria e ética, está
consubstanciado nos Dez Mandamentos.
Verdade é que em outras partes da Bíblia se encontram preceitos
morais. Mas, devidamente analisadas, não são novos preceitos nem
suplementação ou complementação do padrão máximo. São meras
derivações do decálogo – repetição de enunciadas nele contidos implícita
ou explicitamente. É a lei que se esparrama em quase todos os livros das
Escrituras, que poreja aqui e ali, ora na advertência inflamada de um
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profeta, ora no suspiro sentimental do salmista, ara para profligar atos
ímpios de um rei, ora para contrastar a impiedade de Jerusalém, ora na
admoestação apostólica a irmãos carnais. São citações oportunas. É a
aplicação do padrão divino. Mas em tudo isso a decálogo está imanente,
é o núcleo em torno do qual gravitam estas enunciações. O sermão da
montanha é uma lente sobre o decálogo. Pelo menos três dos seus
preceitos são nele comentados por Jesus, com amplitude de sentido: o
"não matarás," o "não adulterarás" e o "não perjurarás." Se devessem ser
abolidos na cruz, não teriam sido base para um tema do Mestre dos
mestres ainda no início de Sen ministério.
O decálogo é a "matriz" da lei moral preceituada. "Matriz"
fabricada pelo próprio Deus. Não o foi por Moisés. E é pena que os que
nos combatem prefiram inutilizar a "matriz" e ficar com citações
esparsas da lei moral, aqui e ali. É uma incongruência dizerem que a
"matriz" é imperfeita, falha, superada etc. É incrível!
Há ainda outra idéia cavilosa a respeito da lei. É a dos que querem
que Deus formule um mandamento específico para cada tipo de pecado e
que havendo pecados que não estão nominalmente citados no decálogo,
isto indica que o mesmo é falho. Os que assim pensam querem perverter
a revelação divina. O preceito é o resumo de toda uma classe de pecados.
E estes – segundo o critério divino – se classificam em dez grupos:
quatro classes denunciadas para com Deus e seis de natureza ética para
com os homens. Só muita abtusidade poderia exigir preceitos diretivos,
individualizados, feitos sob medida, como – à guisa de exemplo – "não
fumarás," "não te suicidarás," "não sejas ingrato, avarento, orgulhoso,
invejoso, irado etc."
No entanto, com um pouco de percepção que o Espírito nos dá, ver-
se-á que tudo isso se enquadra em preceitos do decálogo. João declarou
que quem aborrece a seu irmão, é transgressor da sexto mandamento, (I
S. João 3:15). Jesus enquadrou na sétimo mandamento a impureza de
pensamento em relação a mulher. (S. Mat. 5:28.) Por isso Paulo averbou
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a lei divina de "espiritual" (Rom. 7:14), porque penetra nos meandros
mais íntimos da personalidade.
Uma falsa imputação, em torno da qual gira toda a desastrada
dialética do autor, é a de que os adventistas se justificam pela
observância da lei. À pág. 50 há essa injusta acusação, repetida em
outros lagares. Repelimos, com veemência, essa monstruosidade que – a
ser verdadeira – afrontaria o plano de Deus, reduziria a nada a sacrifício
de Cristo, pisotearia a graça e tornaria profano o sangue do concerto
eterno, além de atribuir ao homem caído capacidade para salvar-se por
méritos próprios. Inteiramente gratuita! Inverídica! Caluniosa! Afrontosa
até! Seria um uso ilegítimo da lei. (I Tim. 1:8.) Veio, porém, com
endereço errado, porque jamais ensinamos esse disparate: justificação
pelas abras da lei. Pode-se reptar a quem quer que seja a provar que esse
seja o nosso ensino ou a nossa crença. E a vasta bibliografia adventista
pode ser posta à disposição dos interessados. Jamais atribuímos à lei um
uso ilegítimo, função salvadora. Ela apenas revela o pecado e nos conduz
aos pés dAquele que pode salvar: o Filho de Deus. Mas, depois de salvo,
o homem renascido pelo poder de Deus viverá em harmonia com os
divinos preceitos da lei do Céu. É fruto da salvação.
Em primeiro lugar, reportemo-nos à nossa declaração de fé. Do
Year Book da nossa denominação, capítulo "Crenças Fundamentais dos
Adventistas do Sétimo Dia," extraímos:
"Item 6 – Que a vontade de Deus relativamente à conduta moral se
acha compreendida em Sua lei dos dez mandamentos; que estes são
grandes preceitos morais, imutáveis, obrigatórios a todos os homens, em
todas as épocas."
"Item 8 – Que a lei dos dez mandamentos revela o pecado, cuja
penalidade é a morte. A lei não pode salvar do pecado o transgressor,
nem lhe comunicar o poder que a guarde de pecar." "O homem é
justificado, não pela obediência à lei, mas pela graça que há em Cristo
Jesus... Aquele que levou sobre Si os pecados, introduzindo o crente na
comunhão do novo concerto, sob o qual a lei de Deus lhe é escrita no
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coração, e pelo poder que lhe comunica o Cristo que nele habita, sua
vida (do crente) é posta em conformidade com os preceitos divinos. A
honra e o mérito dessa maravilhosa transformação pertencem
inteiramente a Cristo."
Outra fonte denominacional autorizada é o livreto O Que Crêem os
Adventistas do Sétimo Dia. Do título: "A Lei Moral – o Decálogo," à
pág. 6, item 15, destacamos o seguinte trecho:
"– Que a lei moral não foi dada como um meio de salvação, pois
'nenhuma carne será justificada diante dEle pelas obras da lei', mas que
seu objetivo primordial é fornecer-nos uma divina regra de conduta e
definir o pecado." E à pág. 8: "Cremos que Cristo, e Ele tão-somente, por
Sua morte substituinte, fez expiação pelos pecados dos homens..."
Aí está a crença oficial dos adventistas do sétimo dia. Onde a
indiciada justificação pela lei? Onde o seu uso ilegítimo? Só a má fé ou a
ignorância a poderão apontar em nosso currículo doutrinário. Só o desejo
premeditado de confundir ou malquistar-nos com a opinião religiosa em
geral nos poderia averbar de judaizantes.
Fazemos coro com o apóstolo: "Separados estais de Cristo vós os
que vos justificais pela lei; da graça tendes caído." Gál. 5:4. A lei não
justifica; revela o pecado e condena.
O que cremos concorda com o que escreveu Calvino: "Onde há uma
entrega a Cristo, há primeiramente que encontrar nEle a perfeita justiça
da lei, que nos é imputada, tornando-se nossa; e depois há a santificação,
pela qual os nossos corações são preparados para guardar a lei." (3)
(Grifos nossos).
Concorda com o artigo de fé sob N.º XII da Confissão Batista, que
reza: "Cremos que a lei é a base eterna e imutável de Seu governo
moral... que um dos principais objetivos do evangelho é o de libertar os
homens do pecado e restaurá-los em Cristo a uma obediência sincera
dessa santa lei ..." (4). (Grifos nossos.)
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Concorda também com a autorizada citação evangélica: "Somos
salvos, não porque guardamos a lei, mas a fim de que guardemos a
lei."(5) (Grifos nossos)
Os nossos acusadores poderão interpelar um adventista batizado se
ele crê que é salvo pela lei ou pela fé no Filho de Deus. É só
experimentarem... Há perto de 100.000 adventistas do sétimo dia em
nosso país. Seria mais decente fazer um teste sobre a nassa crença do que
espalhar, pela imprensa e pela tribuna, aos quatro pontos cardeais, essa
deslavada mentira de que nos justificamos pela lei e rejeitamos a graça.
Afirma o líder adventista Nichol: "Conquanto nós não ensinemos
que se guardem os mandamentos a fim de ser salvo, positivamente
ensinamos que aquele que é salvo torna evidente a sua salvação
guardando os mandamentos de Deus. Embora não haja salvação em
guardar a lei, há condenação em não guarda-la." (6) Poderia alguém
contestar essa verdade?
O autor batista Broadus cita Henry, com referência ao Decálogo: "É
coisa perigosa, em doutrina ou prática, anular o menor dos mandamentos
de Deus; ou diminuir a sua extensão, ou enfraquecer as obrigações que
eles impendem." (7)
Outra fonte nossa: "A lei não pode salvar o pecador, mas estabelece
uma norma para a vida do pecador salvo. Mostra ao transgressor o seu
crime, mas não o salva. O espelho revela a mancha do rosto, mas não a
remove; é a água que tira a impureza que o espelho revelou. A lei
descobre o pecado e o sangue de Cristo lava o arrependido pela fé, das
manchas da pecado." (8)
"Talvez o fato do divino espelho revelar demasiado, seja a razão por
que alguns se recusam a olhá-lo de novo, ou vão mesmo ao ponto de
denunciar a lei e reunir argumentos com os quais possam votá-la ao
desprezo." (9)
Diz a Escritura: "Onde não há lei, também não há. transgressão."
Rom. 4:15. Se não há transgressão, não há condenação e, portanto, não
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há necessidade de graça. Se a lei está abolida, não há pecado a revelar, e
todos se salvarão, porque "o pecado não é imputado, não havendo lei."
J. Bryan, Hon. Wm., certa vez, em uma das suas conferências
declarou que "se sentiria muito inseguro em deixar sua carteira em
alguma parte entre cristãos que não criam na autoridade e na vigência
dos mandamentos de Deus, consubstanciados no Decálogo."
Disse um pensador: "O Decálogo se vincula às nossas relações para
com Deus e para com o próximo. Essas relações existirão sempre
enquanto Deus for Deus e o homem, homem. Enquanto existirem essas
relações permanecerá também a lei procedente das mesmas. Ver-se-á,
pois, que, para abolir a lei, temas de primeiro abolir estas relações. Mas
para tanto, precisamos abolir Deus e destruir todas as criaturas. Isto é
impossível. Permanece, pois para sempre a verdade de que é mais fácil
passar o céu e a Terra do que cair um til da lei. S. Luc. 16:17. Graças a
Deus, Seu governo continuará e "para sempre permanecerão os Seus
mandamentos" – mesmo que alguns o não queiram. Porque "a boca do
Senhor o disse." (10)
O comentador batista J. Broadus cita e endossa o que o 
refere sobre o gênesis: "Tudo tem o seu fim, o céu e a Terra têm o seu
fim, só uma coisa não tem fim, que é a lei." "Os preceitos morais deviam
ser obedecidos de geração em geração. Até que isto aconteça nem a
menor partícula da lei seria anulada." (11)
O maior desastre que sobreveio entre os professos cristãos, tem sida
a negação da vigência do padrão moral de Deus.
O anominianismo – tese que sustenta a ab-rogação da lei divina –
teve desenvolvimento acentuado a partir de 1816, sob a influência
notória de Alexandre Campbell, que rejeitava toda a autoridade do Velho
Testamento e fazia tábua rasa da lei, tachando-a de velharia sem valor.
Fora ele batista e, vendo malogrados os seus esforços para unificar o
protestantismo, fundou a igreja "Discípulos de Cristo". A sua nuance
teológica, notadamente o antinomismo, foi inspiração para alguns
modernistas. Influenciou também Canright durante a sua apostasia.
O Verdadeiro Conceito de Lei 7
Ainda hoje a sua tese é emprestada aos ataques contra "os que guardam
os mandamentos de Deus e a fé de Jesus."
Pedimos aos nossos leitores que meditem nesta verdade: se a lei de
Deus – padrão de conduta, aferidora do pecado e norma de juízo –
pudesse ser abolida, não seria necessário ter vindo Cristo ao mundo,
como "Varão de dores" e dar a Sua preciosa vida, morrendo por nossos
pecados; bastaria abolir-se a lei, ou pôr de lado os mandamentos
transgredidos pelo homem. Morrendo na cruz em nosso lugar, Cristo nos
redimiu, não da obrigação de obedecer ao Decálogo, porém "da maldição
da lei" (Gál. 3:15) que é a morte. Ao invés de revogar ou anular os Dez
Mandamentos, o sacrifício de Cristo na cruz os confirmou em sua
imutabilidade e em sua universalidade.
A cruz do Calvário é o irrespondível argumento de que a lei de
Deus não pode ser abolida. Pagaria Jesus a pena imposta por uma lei ab-
rogável? Morreria Ele na cruz para satisfazer as exigências de uma lei
imperfeita, falha, impotente, inútil, que estivesse para ruir? Ter-se-ia
Cristo imolada para salvar o pecador de uma lei precária, só para judeus?
Eu não sou judeu, mas creio que Cristo me resgatou da maldição da lei.
"Pela lei vem o conhecimento do pecado" (Rom. 3:20) – escreveu
Paulo várias dezenas de anos após a morte de Jesus. E entre os pecados
de sua experiência pessoal que a lei revelara, cita o "não cobiçarás" do
decálogo. "Pecado É transgressão da lei" I S. João 3:4. (Consultem-se as
traduções Almeida revisada, Rohden, King James, Authorized Version,
Giovanne Diodati, Lois Segand, Casidoro de Reina, etc.) "Pecado é
quebramento da lei" – diz a tradução portuguesa Trinitária. Note-se que
esta declaração escrita quase quarenta anos após a crucifixão não diz que
o pecado era transgressão da lei, mas que É. Que lei? Certamente não se
referia ao cerimonialismo judaico, já perempto, mas à lei moral, cuja
súmula é o decálogo.
E o teólogo batista é decisivo na sua definição: "Pecado é qualquer
falta de conformidade com a lei moral de Deus... (12)
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Mas se a lei foi abolida... nem pecado existe mais (porque não se
pode transgredir o que não existe).
Seria a lei de Cristo diferente e contrária à lei de Deus? Ter-se-ia
Ele rebelado contra o Pai, anulando-Lhe a lei, ou substituindo-a por
outra? Isto será o assunto de outro artigo, onde estudaremos o "novo
mandamento' e as sínteses da lei na Novo Testamento.
Seria o "novo nascimento" coisa diversa do que nortear a vida do
salvo por Jesus, pelo caminha dos mandamentos? O convertida, o
nascido de novo pela operação do Espírito, o salvo pela graça, seria
capaz de se tomar idólatra, profano, desobediente, homicida, adúltero,
mentiroso, perjuro e cobiçoso? Não, porque agora o "novo homem" está
em harmonia com a lei que condena estes pecados. Ele observa estes
mandamentos, por isso "nenhuma condenação há para os que estão em
Cristo Jesus."
Tal é a função da lei, como cremos. E os oponentes sinceros devem
concordar com esta verdade. Devem admitir que ela não se distancia de
autorizadas definições de fonte batista. Devem aceitar o fato de que
fazemos um uso legítimo da lei e não – como deplora o pastor batista S.
Gingsburg – "pregar a mentira de que a lei foi abolida."

Referências:

(1) A. H. Strong, Systematic Theology, pág. 545


(2) Ibidem, pág. 409.
(3) John Calvin, Commentary, comments on Rom. 3:31
(4) Manual das Igrejas Batistas, ed. 1949, pág. 178 e O. C. S.
Wallace, O que Crêem os Batistas, pág. 9
(5) Sunday School Times, ed. 30 de maio de 1931
(6) F. D. Nichol, Objeções Refutadas, pág 1
(7) J. Broadus, Comentário do Evangelho de S. Mateus, vol. I, pág.
173.
(8) G. Storch, Salvação, pág. 3.
O Verdadeiro Conceito de Lei 9
(9) Exaltai-O, C. P. B, pág. 225.
(10) A Lei de Deus, série V. B., pág. 3.
(11) J. Broadus, op. cit., pág. 166.
(12) A. H. Strong, op. cit., pág. 549.

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